segunda-feira, 17 de março de 2008

Guine 63/74 - P2655: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (7): No corredor de Guiledje, com o Dauda Cassamá (I)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém > Simpósio Internacional de Guiledje > Visita ao sul > 3 de Março de 2008 > Dauda Cassamá, um Combatente da Liberdade da Pátria, convidado pela organização do Simpósio Internacional de Guiledje... Passámos um fim-de-semana juntos...


Guiné > Região de Tombali > Guileje > 3 de Março de 2008 > O ex-guerrilheiro Dauda Cassamá no antigo aquartelamento de Guileje... Recordando um das muitas batalhas de uma guerra...

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Faro Stachuma (que fica perto de Mejo, a oeste) > 3 de Março de 2008 > Dauda Cassamá, numa paragem do nosso jipe, quando regressávamos, nós, a Bissau (eu, o Nuno Rubim e as respectivas esposas), e ele, à sua tabanca, cujo nome não fixei (entre Guileje e Gandembel).





Guiné-Bissau > Região de Tombali > Corredor de Guiledje > Simpósio Internacional de Guiledje > Visita ao sul > 1 de Março de 2008. Microfilme: 4' 10''. Alojado na conta You Tube > Nhabijoes.

Fotos, vídeo e legendas: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.
Neste primeiro microfilme, vemos o Pepito, o nosso anfitrião e cicerone, a explicar a importância, que teve no passado da luta de libertação, o corredor de Guiledje, o qual passava exactamente pelo sítio onde a caravana parou, por volta das 12h00, vinda de Gandembel a caminho de Guileje (1)...

O estudioso do corredor do Guiledje é o historiador Leopoldo Amado que, no momento, não estava ali... Meteram-se à conversa, ainda, o Coronel Coutinho e Lima, uma senhora deputada e antiga guerrilheira, cujo nome não retive e que acompanha a Senhora Isabel Buscardini, mas também eu próprio, o José Rocha, o Zé Teixeira...
(LG)

Continua

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Nota de L.G.:

(1) Vd. postes anteriores desta série:

8 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2618: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (1): Regresso a Bissau, quatro décadas depois...

9 de Março de 2008> Guiné 63/74 - P2620: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (2): O Hino de Gandembel, recriado pelos Furkuntunda

9 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2621: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (3): Pequeno-almoço no Saltinho, a caminho do Cantanhez

11 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2625: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (4): Na Ponte Balana, com Malan Biai, da RTP África

14 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2640: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (5): Um momento de grande emoção em Gandembel

16 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2650: Uma semana involvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (6): No coração do mítico corredor de Guiledje

Guiné 63/74 - P2654: As nossas mulheres (3): A Mutilação Genital Feminina na Voz da América, por Nelson Herbert (Virgínio Briote)

1. Reportagem de Nelson Herbert, da Voz da América - Serviço Português, que esteve recentemente, na Guiné-Bissau, a cobrir o Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008) e que acaba de entrar para a nossa Tabanca Grande (1):

Guiné- Bissau: Prática Ancestral Reacende Debate
Por Nelson Herbert 06/03/2008

Lucínia Silva - Download (MP3) (11' 52'')

Lucínia Silva - Ouvir (MP3) (11' 52")




Uma bajuda guineense do nosso tempo... São as populações islamizadas (fulas, mandingas, beafadas...) do interior da Guiné-Bissau, mas também da cidade, que ainda estão fortemente arreigadas à prática ancestral, anterior ao Islão, do fanado da mulher... Invocar a autoridade do Profeta para justificar a MGF é uma falácia teológica, além de um anacronismo...
Foto: © Foto Brigadeiro de Farim (adquirida por Carlos Silva). Direitos reservados.


Sinopse:

A prática da Mutilação Genital Feminina (MGF) - - circuncisão feminina ou simplesmente fanado da mulher - está aumentar, na Guiné-Bissau, e atingiu, no ano passado, cerca de quatro mil mulheres, só na região periférica à cidade capital. A revelação foi recentemente feita pela presidente do Instituto da Mulher e da Criança, Lucínia Silva.

Enraízada, sobretudo, entre as etnias islamizadas em África, estima-se que a MGF afecte entre um a dois milhões de mulheres e crianças em, pelo menos, 28 países do continente africano, incluindo a Guiné- Bissau, país onde um activismo em prol da criminalização dessa prática cultural ancestral entre os muçulmanos, nas áreas rurais, tem animado um debate nacional (2).

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Notas de vb:
(1) Vd. poste de 16 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2652: Guineenses da diáspora (3): Nelson Herbert, o nosso Correspondente nos EUA (Virgínio Briote)
(2) Vd. postes sobre a MGF - Mutilação Genital Feminina publicados no nosso Blogue:

23 de Fevereiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2575: Estórias do Juvenal Amado (4): A pequena e adorável Mariama que eu conheci no reordenamento de Bengacia (Juvenal Amado)

30 de Novembro de 2007>
Guiné 63/74 - P2316: E as Nossas Palmas Vão Para... (2): Os que lutam, na Guiné-Bissau, contra a Mutilação Genital Feminina (MGF)

25 de Setembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2131: Mutilação Genital Feminina: É crime, diz explicitamente o novo Código Penal (A. Marques Lopes / Luís Graça)

10 de Março de 2007 >
Guiné 63/74 - P1580: Fanado ou Mutilação Genital Feminina: Mulher e direitos humanos: ontem e hoje (Luís Graça / Jorge Cabral)

15 de Maio de 2006 >
Guiné 63/74 - DCCLVI: Conferência sobre a Mutilação Genital Feminina (Luís Graça)

14 de Maio de 2006 >
Guiné 63/74 - DCCLVII: A festa do fanado ou a cruel Mutilação Genital Feminina (Jorge Cabral)

3 de Fevereiro de 2006 >
Guiné 63/74 - CDXCVII: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto)(5): ecumenismo e festa do fanado

4 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XII: O silêncio dos tugas face à MGF (Mutilação Genital Feminina)

Vd. também o dossiê do Público sobre a MGF... A jornalista Sofia Branco tem feito uma excelente trabalho de investigação e divulgação sobre a MGF na Guiné-Bissau.

Guiné 63/74 - P2653: O regresso dos mortos (A. Marques Lopes)

2.º Sargento Justino Teixeira da Mota, pai do António Teixeira Mota

1.
Vem a propósito do P2651 "História de Vida (11): A luta incessante de António Teixeira Mota", recuperar um texto que o nosso camarada António Marques Lopes nos enviou em fins do ano passado.

Com as devidas desculpas ao nosso camarada, algumas partes foram retiradas uma vez que foram afloradas no post já publicado.
Fica a certeza que o mais importante está aqui, assim como os seus comentários sentidos e oportunos.
C.V.

2. Dizia Marques Lopes em mensagem de 21 de Novembro de 2007

Estive hoje (20 de Novembro) com o António Teixeira da Mota no restaurante Bajú, em Leça do Balio.

As lágrimas soltaram-se-me, não tenho vergonha, ao ouvir a narração de um filho que fez todos os esforços para devolver o corpo do seu pai, morto na guerra colonial, à família e à sua terra.

Teve a circunstância de um amigo em posição privilegiada para o ajudar, o então Coronel João Afonso Bento Soares (agora Brigadeiro reformado). Gastou do seu bolso várias centenas de dólares, mas conseguiu-o com o seu esforço.

Um exemplo de dedicação pessoal de um filho, uma chapada na falta de esforço e dedicação das entidades oficiais que nada fazem para trazer os nossos mortos (nem os de antes nem os de agora).

Como diz a contra-capa do livro: "Luta Incessante" é a história da determinação de um filho na busca da memória do pai. Uma história em torno das facetas menos conhecidas da vida dos militares portugueses nas ex-colónias.

É a luta de quem recuperou os restos mortais de um Sargento falecido e sepultado em Angola no ano de 1962, e que encontrou pelo caminho inúmeras contrariedades, mas também a solidariedade de novos amigos, de antigos combatentes do Ultramar e de muitos que desinteressadamente apenas o quizeram ajudar.

Um relato forte, como só o pode ser as palavras de um filho que, finalmente, reencontrou seu pai.

É um caso em Angola, mas podia ser o caso dos quase trezentos que ficaram sepultados na Guiné, ou perdidos nas suas matas e nos seus rios, alguns até no Senegal (em Cumbamori) ou na República da Guiné (em Conakry). Toca-nos a todos, a nós ex-combatentes, mas não aos governantes.

(...) 10 contos em 1962 era para brincar com a pobreza do povo e para evitar as trasladações que agitariam as mentalidades em relação à guerra. Mas agora? Porquê? Talvez a espectativa que o esquecimento lance uma poeira sobre ao passado.(...)

Quantos filhos e esposas de mortos na Guiné não desejariam ter os seus pais e esposos sepultados onde os pudessem afagar com flores... e lágrimas também? Mas há muitos que não têm esse benesse. Porque alguém não se esforça, ou não se interessa, porque é passado e não valerá a pena...


Segue-se um poema do António Teixeira Mota

Procurei...

Nos caminhos onde andaste
Nas paradas onde formaste
Nas avenidas onde desfilaste
Também andei, formei e desfilei...

Nas casernas onde moraste
Nas camas onde deitaste
Nos objectos onde tocaste
Também morei, deitei e toquei...

Nos sítios onde pisaste
Nos bancos onde sentaste
Nas árvores onde descansaste
Também pisei, sentei e descansei...

Naquelas paragens eu fui...
Andei, formei, desfilei
Morei, deitei, toquei
Pisei, sentei, descansei
Procurei... procurei... procurei...

Naquelas paragens eu fui
Atrás de ti, para te buscar...
Sinais de ti, eu descobri
Mas a ti, já não consegui encontrar...


Vou ler o livro

O António Mota conhece uma senhora que lhe pediu para saber da sepultura de um irmão que lá ficou na Guiné.

Eu dei-lha, do livro da CECA:

José Maria Fernandes Carvalho, Soldado da CCAÇ 1566, morreu a 25 de Agosto de 1966 em S. João por doença, natural de Aião, Felgueiras. Sepultado no Cemitério de Bolama, Campa 25, Guiné

A. Marques Lopes

domingo, 16 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2652: Guineenses da diáspora (3): Nelson Herbert, o nosso correspondente nos EUA, e novo membro da Tabanca Grande (Virgínio Briote)

O Simpósio de Guiledje na Voz da América


Apresenta-se Nelson Herbert, jornalista-editor da Voz da América.

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Guiledje 35 anos depois

Por Nelson Herbert
16/03/2008


Voz da América ▪ Portuguese


Osvaldo Lopes da Silva, um antigo comandante de artilharia da guerrilha do PAIGC, na Guiné-Bissau aborda, 35 anos depois e em exclusivo à VOA, aspectos operacionais da pressão militar montada por aquela guerrilha independentista contra o destacamento militar de Guiledje, que culminaria, em 1973, no seu abandono pela então tropa portuguesa.

Osvaldo Lopes da silva - Download (Real) Osvaldo Lopes da silva - Ouvir (Real)


Na mensagem que nos enviou, Nelson Herbert diz:

São matérias produzidas e emitidas pelo serviço em Português da Voz da América, no âmbito da cobertura do recente Simpósio alusivo a Guiledje e que cedemos a essa vossa Tabanka Grande, da qual me sinto também parte, já que apesar da vivência de muitos anos nos Estados Unidos da América,  nasci nessa Terra a que todos nos sentimos profundamente ligados. E diria que Tabanka Grande (também), de que sou um frequentador assíduo.

Parabéns pela iniciativa. Saudações.

Nelson Herbert
Journalist-Editor
African-Division-VOA

Washington DC, USA

Ps: VOA emite a partir de Washington en 56 línguas distintas, incluindo o Português para a África, Brasil e Timor-Leste.


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Nasci em Bissau, a 16 de Setembro de 1962, (filho) de mãe guineense e pai cabo-verdiano.


Sou da mesma geração do historiador Leopoldo Amado, um amigo e colega de infância e das lides académicas em Bissau e universitárias em Portugal.

Vivi e cresci defronte à messe dos sargentos da Força Aérea em Bissau.
Cenário nos anos 70 de um atentado bombista (seria esse o termo nessa época) que acabou felizmente por não provocar vítimas, uma vez que o autocarro-alvo da Força Aérea que deveria levar os militares para a habitual sessão de cinema na Base Aérea de Bissalanca, contrariando o habitual, saiu minutos mais cedo.

Um ataque atribuído às células clandestinas do PAIGC em Bissau, que conhecia a rotina da concentração de oficiais e militares defronte do edifício da messe, para as habituais sessões de cinema na base em Bissalanca.

Estudei em Bissau, onde vivi toda a minha infância e adolescência. Licenciei-me em Comunicação Social, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, com a defesa de uma monografia versando os mascarados rituais africanos, com incidência nos Kankurans (os mascarados da cerimónia da circuncisão masculina na Guiné e Casamance, uma abordagem semiótica).

Parti nos anos 90 para os Estados Unidos, para a frequência universitária, mestrado e especialização, país cuja nacionalidade acabei por adoptar há vários anos e onde desde então me radiquei.

Nelson Herbert num campo de minas, no Planalto Central de Angola.


Como editor e jornalista da VOA, cobri a guerra em Angola, país onde fui durante muitos anos o delegado da Voice of America para a região. Por coincidência a minha missão em Angola culminou com a morte de Jonas Savimbi em combate – facto curioso, a única fotografia que existe de um jornalista – estrangeiro – junto ao corpo daquele líder rebelde, publicado na altura pelos jornais portugueses e mundiais é precisamente uma em que apareço ao lado do corpo de Savimbi, no cenário dos combates que o vitimou.

Fui o enviado especial da VOA ao conflito civil na Guiné-Bissau em 1998/99 e na região senegalesa do Casamance.

(…) e diga-se, sou um apaixonado pelo capítulo da guerra colonial ou de libertação, capítulo esse a que me tenho debruçado como jornalista, com vários artigos e reportagens. Anos antes, a convite do Governo de Cabo Verde saído das primeiras eleições democráticas no arquipélago, assumi num período em que tive que fixar residência em Cabo Verde, a direcção geral da Televisão Nacional de Cabo Verde.

Cumprida essa etapa regressei aos Estados Unidos e desde então sou editor sénior da divisão para a África da Voz da América, Serviço em Português, com incidência para a África Ocidental, em particular para nossa Guiné.

Aqui em Washington já é um pouco mais da meia-noite, pelo que amanhã logo cedo, envio-lhe uma fotografia minha.

Mantenhas,
Nelson Herbert

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Nota de vb:

Obrigado pelas informações que nos tens enviado. Não nos conhecemos pessoalmente (quando de lá saí, tinhas pouco mais de 4 anos). Mas estamos ligados por um sentimento, que ainda que não se veja, tem o cheiro e as imagens de uma Terra que nunca vamos esquecer.

Caro Nelson, esta Tabanca para os Guineenses não tem portas. Passas doravante a fazer parte integrante do nosso blogue e da nossa tertúlia.


ver artigos de:

Guiné 63/74 - P2651: História de vida (10): A Luta Incessante de António Teixeira Mota (Carlos Vinhal)


António Teixeira Mota
Autor do livro Luta incessante
Edição de autor no ano de 2005
Neste livro, conta como conseguiu trazer de Angola para Portugal o corpo de seu pai



Algumas notas pessoais:

Curso Superior de Engenharia de Máquinas nos Pupilos do Exército,
Pós-Graduado em Marketing pelo Instituto Português de Administração de Marketing e em Master in Business Administration (MBA) pela Universidade Fernando Pessoa.
Trabalha desde 1988 numa empresa multinacional petrolífera.


A luta incessante de António Teixeira da Mota

Por Carlos Vinhal

Quando tanto se fala da trasladação dos nossos camaradas mortos em campanha, que por diversos motivos ficaram sepultados em terras africanas, vem a propósito falar de um caso exemplar, tanto a nível de acção como de concretização.

Justino Teixeira da Mota, 2.º Sargento de Transmissões embarcou no navio Vera Cruz, com destino a Angola, em 12 de Agosto de 1961, integrado na CCAÇ Esp. 266. Era casado, pai de um menino com dois meses de vida (o António) e de uma menina um pouco mais velha. Quis o destino que num acidente de viação, em 18 de Outubro de 1962, perto de Maquela do Zombo, perdesse a vida.



2.º Sargento de Transmissões Justino Teixeira da Mota da CCAÇ Esp 266




Em 27 de Outubro de 1962, o Comandante da CCAÇ 266, então capitão Ramiro Alves Correia de Oliveira, escreve à família comunicando o triste desenlace e após as palavras de circunstância, diz ficar a aguardar ordem da família para proceder à trasladação do corpo.

Entretanto, em 23 de Outubro já o Ministério do Exército através do Depósito Geral de Adidos (DGA)–Serviço de Passagens e Embarque avisava a família dos trâmites legais para habilitação a pensão de preço de sangue e trasladação do corpo.

Aqui começavam os problemas, pois num telegrama do mesmo Comandante do DGA, com data de 27 de Outubro, era pedido à família que para se proceder à trasladação, era necessário que fosse efectuado um depósito de 10 contos ou indicar um fiador idóneo. Que faz uma viúva com dois filhos de tenra idade nos braços? Por carência económica da família esta não procede à respectiva trasladação.


Recorte de um jornal que noticiava a morte do 2.º Sargento Mota




Telegrama onde a família é avisada de que terá de fazer um depósito de 10 contos para se proceder à trasladação do corpo



Passaram anos, o pequenino António faz-se rapazinho e, sendo filho de um Sargento, entra nos Pupilos do Exército onde se faz homem.

Lá, é contactado (reconhecido pelo nome e apelido que exibe na sua roupa) pelo então Sargento Velez, que lhe diz ter sido companheiro de seu pai na Campanha da Índia.

O Sargento Velez foi para o António, nas suas próprias palavras, durante algum tempo, o pai que nunca teve e que nunca conheceu.

Seguindo o percurso normal da vida, sai dos Pupilos e mais tarde cumpre o serviço militar como Aspirante a Oficial Miliciano. Nestes anos todos de convivência militar, conhece muita gente e movimenta-se com à vontade neste meio.

A vida foi correndo, enquanto o António mantinha um desejo secreto de recuperar o corpo de seu pai. Em 1995 a família recebe um convite, extraordinário, para participar no 13.º almoço/convívio da CCAÇ 266 a realizar em Lagoa no Algarve, nesse ano aberto aos familiares dos camaradas falecidos.

Em conversa telefónica com o capitão Fernando Brito Ramos, antigo companheiro de quarto de seu pai, recebe a confirmação de que o seu progenitor tinha sido encerrado, aquando da sua morte, numa urna de chumbo, para a eventualidade da sua trasladação imediata. Que estava sepultado no cemitério de Maquela do Zombo. Mais ficou a saber que os camaradas tinham mandado fazer uma lápide em mármore para identificar a sepultura, onde constava o seu nome e as datas de nascimento e de falecimento e as palavras “Homenagem de seus Camaradas”.

O António fez saber ao capitão Brito Ramos o desejo antigo de trazer para Portugal o corpo de seu pai. Precisava da sua ajuda. Foi-lhe respondido que o melhor seria pedir ajuda ao antigo Comandante da CCAÇ 266, o agora Coronel Ramiro de Oliveira.

No dia do convívio, o António em conversa com o antigo Comandante da CCAÇ Esp 266, ficou a saber que nunca os camaradas de seu pai tiveram conhecimento de que a trasladação não se tinha efectuado por dificuldades económicas da família. Tinha ficado no ar, entre eles, a ideia de que esta, pura e simplesmente, se tinha desinteressado.

Desconhecia o Coronel Ramiro de Oliveira também a existência do tal telegrama que exigia os 10 contos, pois se disso tivesse conhecimento na altura, entre os militares da Companhia teriam arranjado o dinheiro suficiente para o transporte dos restos mortais do Sargento Teixeira da Mota para a Metrópole.

Naquela hora ficou decidido tudo se fazer para se proceder à trasladação.

Para iniciar o processo, era preciso confirmar no cemitério de Maquela do Zombo se a campa estava em bom estado de conservação e devidamente assinalada, mas isto passa-se no auge da guerra civil em Angola entre o Governo regular e o movimento da UNITA, sendo que Maquela do Zombo era área controlada por este movimento.

Para não alongar muito a narrativa, conseguiu-se através de meios militares, contactar um Major búlgaro, de nome Alexander Alexandrov, comandante do Destacamento de Observadores Locais das Nações Unidas de Maquela do Zombo, integrado na UNAVEM (Missão de Verificação das Nações Unidas em Angola), que se deslocou ao cemitério local para identificar e localizar a sepultura.

Assim o fez, elaborando e enviando relatório pormenorizado, acompanhado do mapa da cidade, planta do cemitério com o túmulo assinalado e algumas fotografias ao então Coronel João Afonso Bento Soares, seu superior hierárquico e Comandante da UNAVEM, que por sua vez encaminhou estes elementos para Lisboa.




Nesta foto o CEM da UNAVEM Coronel João Afonso Bento Soares junto à campa de Justino Teixeira da Mota, acompanhado de autoridades civis e militares de Maquela do Zombo.


Em 13 de Maio de 1995, António encontra-se de novo com o Coronel Ramiro de Oliveira e inteira-se dos elementos enviados a partir de Angola.
Daqui até ao Natal nada se fez.

Com a vinda a Portugal do Coronel Bento Soares, na quadra natalícia, acertaram-se os pormenores incluindo a entrega de uma procuração da família para a este Oficial Superior poder actuar livremente em Angola.

No dia 9 de Março de 1996 procedeu-se finalmente à exumação dos restos mortais do Sargento Justino Teixeira da Mota, que ficaram em Luanda, na Igreja do Carmo, até ao regresso definitivo a Portugal no dia 10 de Abril.

Finalmente, em 16 de Abril de 1996, quase 35 depois de ter embarcado para Angola, o Sargento Justino Teixeira da Mota regressa à sua terra natal, Amarante, onde o seu corpo finalmente repousa em paz no cemitério de Travanca.

Na freguesia onde nasceu, tem o seu nome registado em toponímia, tendo sido dado a um largo existente, o nome “Largo Sargento Justino Teixeira da Mota”, numa homenagem da Junta de Freguesia de Mancelos e da Câmara Municipal de Amarante.

Sua esposa, seus filhos, outros familiares e amigos poderão agora visitá-lo sempre que queiram.

Abstive-me de contar os pormenores que dão ao livro o seu principal interesse. Muita Fé, coincidências e ajudas inesperadas, de tudo é composta esta história que foi a concretização do sonho do António.

Hoje com mais de quarenta anos de idade, com família constituída, transmite a quem com ele fala, um sentimento de paz e harmonia interior, próprio de quem concretizou um sonho de menino.

Nem todos os sonhos são possíveis de realizar. Este, felizmente foi.



Capa do livro "Luta Incessante" onde António Teixeira Mota conta em pormenor como conseguiu resgatar o corpo de seu pai

Fotos (e legendas): © António Teixeira Mota  (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


António não quis guardar só para ele tanta alegria. Assim publicou em 2005 o livro "Luta Incessante" onde narra, ao pormenor, o seu esforço e o das pessoas que o ajudaram a trazer o seu pai para junto da família.

Parte da sua própria vida enquanto aluno dos Pupilos do Exército é também aflorada.

No fim presenteia o leitor com belíssimos poemas dedicados a seu pai que calam fundo a quem os lê, porque o sentimento de tristeza e saudade que emanam, não deixam ninguém indiferente. Deixo ao acaso, porque a escolha é difícil, quatro poemas.

Luta incessante

Nesta luta incessante
De te procurar
Também luto contra moinhos de vento,
Também com a minha espada
Desfaço castelos que existem no ar...
Nesta luta incessante
De te procurar
Vou continuar de luto
Até vencer
A minha luta de te encontrar...

Se pudesse

Se pudesse
Fazer a vida voltar atrás
E fazer com que tudo fosse diferente...
Se pudesse
Manter aquele barco parado no cais
Anular a tua viagem a Maquela
E não deixar tudo aquilo acontecer...
Ah, se pudesse
E se me fosse possível alterar o teu destino;
Regressava de novo ao ventre dela
E voltaria a nascer
Para ser outro menino.

Os teus amigos

Os teus amigos
Aqueles que te conheceram
Possuem de ti, algo para me dar.
Eu vou guardando dos teus amigos
As palavras, que me ajudam a ver
E a te encontrar.

A tua estátua

Fecho os olhos,
E com o que guardo do teu espólio
Com as palavras que ouvi
Ditas por outros,
Com o pouco que tenho
Com tudo aquilo que nunca vi;
Fecho os olhos
E faço uma estátua de ti...


Foi para mim um privilégio conhecer pessoalmente e conversar com o António Teixeira da Mota.
Li o seu livro, que aconselho vivamente, e fiquei mais rico interiormente.

Obrigado António

Carlos Vinhal

Guiné 63/74 - P2650: Uma semana involvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (6): No coração do mítico corredor de Guiledje


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Corredor de Guiledje > Tabanca (nova) de Gandembel > Visita dos participantes do Simpósio Internacional de Guiledje > 1 de Março de 2008 > 

Um grupo de mulheres nalus, várias delas com os filhos às costas, deram-nos as boas vindas... Já ultrapassava o meio-día, quando aqui chegámos, perto do cruzamento para Guileje, vindos de da estrada Quebo-Gandembel (1). No tempo da guerra, não havia aqui qualquer povoação. O Corredor de Guiledje neste sítio era sinalizado por um enorme poilão, hoje baptizado como o poilão Aureolino Cruz.

Fotos, vídeo e texto: © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados

No tempo da guerra, não havia aqui nenhuma tabanca. O local é referenciado por um enorme poilão que hoje leva o nome de um dos combatentes do PAIGC, caído em combate na região, Aureolindo Cruz (a sua sepultura iremos visitá-la amanhã, no acampamento Osvaldo Vieira, no Cantanhez)

A estrada atravessa a aldeia. Chama-se Gandembel. Não confundir com o antigo aquartelamento das NT. No centro pode ler-se, espetada numa árvore, uma placa com os seguintes dizeres: "À memória da luta de libertação nacional, Viva o PAIGC, Viva Amílcar, Viva João B. Vieira, Vivam os Combatentes da Liberdade da Pátria"....

A placa tem todo o ar de ter sido aqui posta para os ilustres visitantes...

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Corredor de Guiledje > Tabanca (nova) de Gandembel > 1 de Março de 2008 > 

Estamos no coração do corredor de Guiledje, também conhecido como Caminho do Povo ou Caminho da Liberdade: vinha da Guiné-Conacri (Candiafra, Simbel e Tarsaiá) e entrava pela Guiné-Bissau (Gandembel, Balana, Salancaur e Unau). Por aqui passaram milhares e milhares de homens e mulheres com armas, munições, medicamentos, equipamentos e mantimentos para as diferentes frentes de guerrilha, incluindo a frente norte e a frente leste... Na foto, as viaturas estão colocadas no sentido norte-sul.



Como o Senegal não autorizava ao PAIGC o trânsito de armamento, o grosso das colunas logísticas fazia-se a partir da Guiné-Conacri, através do Corredor do Povo. Aqui travaram-se muitos combates e morreu muita gente...



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Corredor de Guildje > Embora o Cantanhez seja, tradicionalmente, chão nalu, esta etnia é hoje minoritária, face aos movimentos migratórios que se deram nos Séc. XIX e XX... Representará cerca de 10% do total da população do Cantanhez, estimada em cerca de 20 mil (em 1991).


Animistas, homens da floresta, escultores, bebedores de vinho de palma, os Nalus acabaram por ser islamizados, por influência dos Fulas e dos Sossos, no início do Séc. XX. O seu modo de vida tradicional, a sua arte e os seus ritos religiosos entraram em decadência. Há tentativas, hoje, para recuperar a sua escultura, outrora famosa, em especial as suas excepcionais máscaras de madeira.

Os Fulas, provenientes do Futa Djalon, chegaram ao Cantanhez na segunda metade do Séc. XIX, tendo escorraçado os Nalus para a extremidade da península. Representarão hoje também cerca de 10% da população do Cantanhez. A sua influência é forte na região, devido a um conjunto de pontos fortes que os distinguem de outros grupos étnico-linguísticos (tolerância em relação às práticas animistas, domínio da escrita, forte organização social, controlo dos circuitos comerciais).

Também os Balantas, nomeadamente oriundos da região de Mansoa, vieram para o sul, à procura de terras para o cultivo do arroz e para fugir ao trabalho forçado (construção de estrada Bissau-Mansoa). É uma imigração mais recente, do princípio do Séc. XX. Representam 60% da população local.  Foram eles que fizeram das margens do Rio Cumbijã o celeiro de arroz da Guiné-Bissau, até ao início da luta de libertação. Nalus e balantas foram aqui a grande base social de apoio do PAIGC.

Devido à sua riqueza piscícola, a região de Cantanhez também foi procurado, mais recentemente, por gente da Guiné-Conacri, Serra Leoa e arquipélago dos Bijagós, que se dedica à pesca, e que vem pôr novas pressões e ameaças ao equilíbrio deste complexo e delicado sistema socioecológico, dotado de grandes potencialidades para um desenvolvimento integrado, sustentado e participado...

A alegria de miúdos e graúdos quando um dos visitantes abre a mala do carro e começa a distribuir pequenas lembranças: camisolas, balões, esferográficas...




Isabel Buscardini, a senhora Ministra dos Combatentes da Liberdade da Pátria, e em segundo plano Patrick Chabal, o melhor biógrafo de Amílcar Cabral que, como engenheiro agrónomo, nos anos anso 50, conheceu profundamente as terras e as gentes de Tombali, em especial dos actuais sectores de Bedanda e de Cacine.




Dois historiadores guineenes, recém-doutorados por Universidades Portuguesas: èsquerda, Julião Soares Sousa (Universidade de Coimbra, 2008); à direita, Leopoldo Amado (Universidade de Lisboa, 2007). Este último irá fazer, no âmbito do Simpósio Internacional de Guiledje, no painel 1, dia 4 de Março uma comunicação subordinada ao tema "Génese e evolução do sentido estratégico-militar do corredor de Guiledje no contexto da guerra de libertação nacional". O Doutor Julião Sousa, por sua vez, irá falar no Painel 3, dia 5 de Março, sobre "Fundamentos e originalidade táctico-estratégicos da acção político-militar de Amílcar Cabral e do PAIGC no contexto dos movimentos de libertação do Terceiro Mundo".

(Continua)_________

Nota de L.G.:

(1) Vd. postes anteriores desta série:

8 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2618: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (1): Regresso a Bissau, quatro décadas depois...

9 de Março de 2008> Guiné 63/74 - P2620: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (2): O Hino de Gandembel, recriado pelos Furkuntunda

9 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2621: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (3): Pequeno-almoço no Saltinho, a caminho do Cantanhez

11 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2625: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (4): Na Ponte Balana, com Malan Biai, da RTP África

14 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2640: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (5): Um momento de grande emoção em Gandembel

Guiné 63/74 - P2649: Fórum Guileje (7): A importância do Caminho do Povo (Paulo Santiago)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cananime, frente a Cacine > Simpósio Internacional de Guiledje > 2 de Março de 2008 > O nosso camarada Paulo Santiago. Em segundo plano, do lado direito, a Catarina Ribeiro Schwarz da Silva, filha do Pepito e da Isabel Lévy Ribeiro; à esquerda, o Álvaro Basto.

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados


1. Texto do Paulo Santiago:

As mensagens de alguns camaradas, já aqui publicadas (1), deixaram-me perplexo e com alguma mágoa, senti estar a ser criticado por ter participado no Simpósio Internacional de Guiledge. Muito bem, participei, e ainda bem.

Depreende-se das críticas que os participantes teriam feito frete a alguém, que se pretendeu a honorificação de Guiledje. Alvitram outros nomes para o Simpósio (por ex. , Madina do Boé ).

Não esqueçamos: foram os guineenses da AD - Acção para o Desenvolvimento que escolheram o tema do Simpósio, penso que bem, como tentarei demonstrar. Mas, antes de entrar no Simpósio, lembremos: correu muito sangue no Corredor de Guiledje, português e guineense, incluindo, caso único, dois capitães mortos em combate, o pára-quedista Tinoco de Faria e o ranger Almeida e Silva.

Voltemos ao tema do Simpósio. Porquê Guiledje ?

Fiquei a saber,com mais pormenor, que o Corredor de Guiledje, Corredor da Morte, Caminho do Povo, foi extremamente importante para toda a manobra do PAIGC. Não só importante para o Sul da Guiné, mas para toda a Colónia. Por ali entrava tudo, armamento, alimentos, medicamentos, distribuídos posteriormente por todas as FARP que combatiam no
interior da Guiné.

Desde o começo da luta era este caminho, a boca, chamemos-lhe assim, que alimentava toda a
guerrilha. Só terá perdido alguma importância ( ex-comandante Manecas dixit ) nos últimos tempos da guerra,quando o PAIGC já se movimentava com todo o avontade na fronteira do Senegal.
Mas o Simpósio não tratou exclusivamente Guiledje. Uma das intervenções mais importantes e esclarecedoras, para mim, foi feita pelo Ten-Cor Sandji Fati (também licenciado em Direito ). Intitulava-se: "A organização das FARP durante a Luta de Libertação Nacional-1964-74".

Outro exemplo: o Prof. Costa Dias fez uma interessante intervenção, cujo tema era "Papel e influência das dinâmicas sócio-religiosas e políticas nos movimentos de libertação nacional na África Ocidental :o caso da Guiné-Bissau".

Concluindo, o Simpósio não serviu para glorificar ninguém, nem qualquer das partes em conflito, nem qualquer local específico. Serviu, sim, como local de confraternização entre camaradas de armas que noutros tempos se encontravam em campos opostos de batalha. Serviu, a nós portugueses, para conhecermos melhor o outro lado da guerra. Sem polémicas, abraço para todos os camaradas do nosso Blogue.

Paulo Santiago
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Nota de L.G.:

(1) Vd. postes desta série:






Guiné 63/74 - P2648: Notícias da Associação Humanitária Memórias e Gente (Rui Fernandes/Carlos Marques dos Santos)


1. Mais uma alerta do Rui Fernandes:

Caro Virgínio Briote,

Aqui vai mais um vídeo da RTP África, desta vez relacionado com os expedicionários de Coimbra/Porto, com entrevista ao José Moreira presidente da Associação Humanitária Memórias e Gente.

http://ww1.rtp.pt/multimedia/?tvprog=10184&idpod=12386 de 13-3-2008 aos 15,40 minutos

Obrigado pelas palavras simpáticas que me dirigiu no blogue.

Quanto ao mail, estou convosco porque também concordo plenamente com este diálogo dos dois lados. Ainda existem muitos ex-combatentes nossos com dificuldades em libertarem-se do passado e já lá vão tantos anos.

Num mail que lhe escrevi anteriormente mencionei o facto de alguns que conheço terem dificuldade em se abrirem. Está lá bem presente mas tentam colocar no fundo embora não consigam. Se exteriorizassem seria como que um escape dessa tensão permanente.
Nem todos somos iguais e há que respeitar.

Quanto à AD, que direi? Aquela máquina, a avaliar pelo feedback do Simposium.
Um abraço,

Rui Fernandes
2. E do Carlos Marques dos Santos
Anexo recorte de notícia de hoje, 14 de Março, de o Diário as Beiras - Coimbra, sobre a expedição a Bissau



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Fixação de texto: vb

Guiné 63/74 - P2647: Bibliografia (27): Imagens da apresentação do Diário da Guiné, 1968-1969: Na Terra dos Soncó, do Mário Beja Santos (Virgínio Briote)

Mais Imagens da apresentação do Diário da Guiné, do Mário Beja Santos

O Tino Neves, o Fernando Chapouto, o Fernando Franco e o Helder Sousa na sala do restaurante da Casa do Alentejo.



Um grupo de Camaradas troca impressões, já com os pés debaixo da mesa.



Da direita para a esquerda, o Ten Cor Helder Pereira (Cmd na Guiné), o Helder Sousa, o F. Franco e o F. Chapouto aguardam o bacalhau.


Enquanto o Mário Beja Santos conversa com o Carlos Vinhal, o António Abreu dedica o seu Diário da Guiné, Sangue, Lama e Água Pura ao Albano Costa.



O General Pezarat Correia a ser recebido pelo Mário Beja Santos.



Ainda o Mário e o General Pezarat Correia.


O António Graça de Abreu, um orador que dá gosto ouvir.



No Gabinete da Direcção da Sociedade de Geografia de Lisboa, o Carlos Cardoso, o Carlos Vinhal, a Dina, sua mulher, a Susana do projecto Ignara que nos honrou com a siua presença, o António Santos e a Eduarda, mulher do Albano Costa.



O Albano Costa (de Guidage e de Guifões) com a Eduarda.



A Susana do Projecto Ignara explica ao Rui Alexandrino Ferreira as razões e o interesse do Projecto de que é protagonista.


A ouvirmos com toda a atenção as explicações que iam sendo amavelmente prestadas por uma Senhora da Sociedade de Geografia de Lisboa.


o Mário estava assim.

Camaradas das Terras dos Soncó. Mexia Alves, Beja Santos e Jorge Cabral, em primeiro plano. Mais atrás, o Rui Fonseca (Sargento-Mor), o Helder Pereira (Ten Cor) e o João Parreira, três Comandos.


Os três não se largavam. Falariam de quê?


Aspecto da sala onde se procedeu à apresentação oficial do Diário da Guiné, Na Terras dos Soncó. A fila para as assinaturas rapidamente tomou forma, mesmo antes do início da cerimónia.


Na mesa de honra o General Lemos Pires preparava-se para a apresentação do Diário do M. Beja Santos.



A Dina, mulher do Carlos Vinhal, a Susana do Projecto Ignara e a Eduarda, mulher do Albano Costa.



O Beja Santos e o Albano com um Camarada que não consigo identificar. No canto da sala, atrás, repousa o primeiro padrão colocado em terras da Guiné por Nuno Tristão.


No Gabinete da Direcção da Sociedade de Geografia, o Beja Santos dá-nos algumas informações sobre a Sociedade, tendo à sua direita um elemento da Direcção da Sociedade de Geografia. O Helder Sousa, o Tino Neves, o Carlos Cardoso e o F. Franco.




O Helder Sousa com o João Parreira e o Artur Conceição.

Fotos: © Mário Fitas (2008). Direitos reservados.

sábado, 15 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2646: A Guiné, a Guerra Colonial e o 25 de Abril. Comentários e Nota do Coronel Gertrudes da Silva (Virgínio Briote)

Apresentação do Diário da Guiné, Na Terra dos Soncó, na Sociedade de Geografia de Lisboa. Mário Beja Santos, Jorge Cabral, Henrique Matos e Joaquim Mexia Alves, Comandantes do Pel Caç Nativos 52.

Foto: © Mário Fitas (2008) . Direitos reservados.

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A nossa História recente em debate, sem outra precaução que não seja o respeito pela opinião do outro.
Destaques da responsabilidade de vb.
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A Guiné, a Guerra Colonial e o 25 de Abril de 1974

Comentários ao artigo publicado pelo Coronel D. Gertrudes da Silva

1. de Henrique Matos:

Porque será que se omite que o movimento dos capitães tem a sua génese na contestação dos oficiais do quadro permanente ao diploma - DL 353/73 - que colocava oficiais milicianos no posto de capitão sem passar pela Academia.

2. de Joaquim Mexia Alves

A visão aqui expressa da guerra do ultramar/colonial/África, é uma visão um pouco pessoal e em certos pontos não retrata a realidade. Basta dizer, por exemplo, que ao afirmar que em Angola, também pelo facto de ali lutarem contra nós e por vezes entre si três movimentos de libertação, a situação apresentava um certo equilíbrio, se está completamente fora da realidade.

Em Angola a guerra só muito esporádicamente e por conta da UNITA, tinha alguma actividade.

3. Nota do Coronel D. Gertrudes da Silva ao comentário do Henrique Matos, enviada ao co-editor:

Mando-lhe isto a si.
Faça-lhe o que entender, mas eu tinha que reagir.
Mas não estou zangado, não.

Um abraço.

O João Parreira e o Artur Conceição, do BArt 733 (Mansoa, Bissorã, Farim, Cuntima, Jumbembem, Canjambari...), em primeiro plano na cerimónia de apresentação do Diário da Guiné, do M. Beja Santos. Na 2ª fila, o Coronel D. Gertrudes da Silva (sorridente).
Foto: © Mário Fitas (2008). Direitos reservados.

A UM ANÓNIMO

Se não se apresentasse sem dizer o nome, já que mais não fosse por razões de pertença, dirigir-me-ia a si como caro ou até como amigo ou camarada (da tropa, naturalmente). Mas aí vai.

Eu não omiti nada no escrito (*) que alguém com esse direito tratou de publicar no, já agora, nosso blogue. Não me propunha aí falar propriamente do 25 de Abril, e tão só no enquadramento desse facto (marco) histórico no contexto da Guerra Colonial.
Aliás, se se desse (ou der) ao cuidado – pode não ter tempo … ou disposição – de ler o que muitos militares que participaram no 25 de Abril escreveram sobre esse incontornável evento da história contemporânea portuguesa, se tivesse esse cuidado, prazer ou maçada, veria que nunca omitem esse determinante facto dos decretos.

Só a título de exemplo, e por de memória os ter aqui mais à mão, convido-o a passar uma vista de olhos por qualquer um dos seguintes escritos publicados:

- “Origens e Evolução do Movimento dos Capitães”, de Dinis de Almeida;
- “Alvorada em Abril”, de Otelo Saraiva de Carvalho;
(Para se conhecer tem de se ler de tudo …)
- “História Contemporânea de Portugal”, (vários), Vol. II.


E, já agora, e passe a publicidade, o livrito do autor destas pouco cuidadas linhas com “Quatro Estações em Abril” de nome de baptismo.
Porque isto não é três ou quatro mânfios, desculpe-me a expressão, marcarem um encontro no café da esquina, trocarem para ali uns blá-blá e pronto, vamos fazer um 25 de Abril.


O Capitão Gertrudes da Silva, Cmdt da CÇAÇ 2781. (Guiné, 1970/72).
Foto: © Gertrudes da Silva. Direitos reservados.

É claro que a questão dos decretos é muito importante e até determinante porque, por boas ou menos boas razões, marca o arranque do “Movimento dos Capitães”, porque levou os capitães a juntarem-se e falarem, assim uma coisa, mal comparada, com o que agora leva à rua os professores.

Diga-se ainda que o protesto dos capitães (do quadro) não era contra os capitães milicianos, mas tão só contra o Governo que pretendia resolver os engulhos em que se metera com a teimosia da Guerra Colonial, a tal “Magna Questão”, à custa dos capitães.
E também lhe posso dizer que para além do grosso das tropas, que era constituído por praças, das centenas de cabos, furriéis, sargentos, aspirantes e subalternos milicianos, também os tais capitães (milicianos) acabaram por tomar parte no Movimento Militar do 25 de Abril.


A mim, por exemplo, competia-me comandar o Agrupamento November que integrava tropas de Viseu, Guarda, Aveiro, Figueira da Foz e um grupo de capitães de Águeda. Pois, olhe, depois de abordarmos o Forte-Prisão de Peniche e continuarmos, não em direcção de Fulacunda mas de Lisboa, ficou a tomar conta daquela fortaleza uma Companhia de Atiradores reforçada com peças de artilharia comandada por um desses capitães milicianos.
Não, não é gente chegar aqui e vamos fazer um 25 de Abril, não.
Quando o capitão Vasco Lourenço e mais alguns camaradas andavam por aí a recolher as assinaturas para o telegrama a enviar ao Congresso dos Combatentes, ainda não se tratava de decretos e não tinha de certeza em mente o 25 de Abril.
Quando uns meses mais tarde, em 09Set73 cerca de centena e meia de capitães se juntaram num monte alentejano nas proximidades de Évora para discutirem as formas de atalharem às consequências dos ditos decretos, o que dali saiu foi um requerimento por todos assinado, em que veementemente protestavam junto do Governo da Nação.

Ainda muita coisa se viria a passar, muita reunião, até à que foi realizada em S. João do Estoril, em 24Nov73, em que por impulso do Sr. Ten. Coronel Ataíde Banazol, que estava para embarcar com um Batalhão (e embarcou), o Movimento resolveu avançar para o projecto de derrubar o Regime através de uma acção militar.

Por fim, que se diga aqui também que não foi por medo que estes capitães enveredaram por este radical caminho.
Ninguém poderá negar – discordar, sim – que os que naquela noite saíram das suas casas corriam grandes perigos. Medo, nos lugares, nos momentos e em tempo de medos, todos nós tínhamos. O que era decisivo, disso todos nós sabemos, não era a questão de ter ou não ter medo, mas de se ser ou não capaz de o superar.

Depois do 25 de Abril, os capitães a quem competia por escala continuaram a ser mobilizados, alguns deles para viverem bem piores momentos do que os que já antes tinham suportado em plena Guerra Colonial.

E não me levem a mal por vir para aqui defender com alguma paixão a minha dama.
Viseu,14 de Março de 2008
Gertrudes da Silva
Cor.Ref.


(*) Texto para intervenção no encontro do Blog “Luís Graça & Camaradas da Guiné”, que teve lugar em Lisboa, em 06Mar2008.
__________

Nota de vb: ver artigo de

13 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2632: Coronel Gertrudes da Silva: A Guiné, a guerra colonial e o 25 de Abril (Virgínio Briote)

Guiné 63/74 - P2645: Fórum Guileje (6): Antes que se esgote... Gandembel (Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil Av Al III, BA12, Bissalanca, 1968/70)



Cópia de duas páginas da caderneta de voo do Alf Mil Piloto Aviador de Helicóptero Alouette III, Jorge Félix (Guiné, BA12, 1968/70).

1. Duas mensagens do Jorge Félix (1), com data de ontem:


(i) Caro Luís, o nosso Blogue entranha-se. Já é um vício com muitas horas de leitura.

Antes que se esgote Gandembel (2), gostaria de entrar em contacto com o Idálio Reis, morador em Gandembel numa altura em que lá fui.

Vou juntar umas fotos da minha caderneta de voo onde se podem ver as duas evacuações [ TEvs] que fiz, nos dias 20 de Outubro de 68 e 29 de Outubro 68. No dia 10 fui duas vezes a Gand [embel] e no dia 19 de Outubro voltei a fazer TGer [Transporte Geral].

Gostaria de com ele trocar umas falas sobre estas datas para ver se se recorda de alguma coisa, antes que Gandembel acabe.

Um abraço
Jorge Félix




(ii) Luís, não fui ao Guileje, mas mato saudades de outro modo. Moro em Gaia onde há uma Rua da Guiné. Gosto daquela Rua. Segue testemunho.

Jorge Félix

Fotos: © Jorge Félix (2008). Direitos reservados.

2. Comentário de L.G.:

O Idálio Reis vai adorar falar contigo. Ele vive em Cantanhede. Não pôde ir connosco ao Simpósio Internacional de Guiledje por razões de saúde. Manda-lhe um email, a pedir mais detalhes sobre essas datas em que foste lá... Sei que os páras (o Bação Lemos, o Avelar de Sousa, o Almeida Martins, o Terras Marques e outros....) andaram por lá, em Agosto / Setembro de 1968, e houve porrada da grossa... É que Gandembel / Balana ficava mesmo em pleno corredor do povo (ou da morte, como dizíamos nós), o que não dava muito jeito ao PAIGC... Não sei se em Outubro os páras ainda lá estavam.

O Idálio e os seus Dragões Dourados (a CCAÇ 2317) estiveram menos de nove meses em Gandembel e no destacamento da Ponte Balana, de Abril de 1968 a Janeiro de 1969, como tu sabes. Não tenho tido notícias dele. De qualquer modo, ficamos todos muito sensibilizados com a informação que nos mandas e que publicamos de imediato. Gandembel, seguramente, que não se vai esgotar tão cedo... E a propósito, já ouviste o Hino de Gandembel ? Um dia destes tens que conhecer a Casa Teresa, em Matosinhos, junto ao Porto de Leixões, que tem funcionado como sede da minitertúlia do Norte...

Um Alfa Bravo. Luís

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Notas de L.G.:

(1) Vd. postes anteriores:

28 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2592: Voando sob os céus de Bambadinca, na Op Lança Afiada, em Março de 1969 (Jorge Félix, ex-Alf Pil Av Al III)

12 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2627: Vídeos da Guerra (8): Nha Bolanha (Jorge Félix, ex-Alf Mil Piloto Aviador, 1968/70)

(2) Vd. poste de 14 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2640: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (5): Um momento de grande emoção em Gandembel