quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20390: Jorge Araújo: ensaio sobre as mortes de militares do Exército no CTIG (1963/74), Condutores Auto-Rodas, devidas a combate, acidente ou doença - Parte V


Foto 1 – Uma mina A/C (ao centro) e três minas A/P. Foto do P15813, de José Manuel Lopes, ex-fur mil da CART 6250/72, Mampatá, 1972/74, com a devida vénia.

Na legenda desta foto pode ler-se: "Das dezenas que o Vilas Boas e o Fernandes levantaram. Ainda hoje me interrogo como só tivemos uma baixa em minas, além dos seis trabalhadores que foram vítimas de uma mina A/C ao beber água de um carro cisterna que molhava a terra da estrada acabada de terraplanar para lhe dar consistência. A picagem era mesmo um trabalho bem planeado e bem feito, onde o método, o rigor e a paciência, eram fundamentais. A pica era mesmo o sexto sentido dos soldados da CART 6250."

A propósito desta rotina, com a qual o contingente da CART 6250 teve de conviver durante a sua missão no CTIG, José Manuel Lopes (Josema) escreveu, para memória futura, o seguinte poema:





O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, 
CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, 
indigitado régulo da Tabanca de Almada; 
tem 230 registos no nosso blogue.


ENSAIO SOBRE AS MORTES DE MILITARES DO EXÉRCITO, NO CTIG (1963-1974), DA ESPECIALIDADE DE "CONDUTOR AUTO RODAS": COMBATE, ACIDENTE, DOENÇA – PARTE V


1. – INTRODUÇÃO

Este quinto fragmento da temática em título continua a unir o interesse pessoal com a procura de outros (novos) elementos historiográficos emergentes na natureza da guerra. Deste modo, prosseguimos com a divulgação e análise de mais alguns resultados apurados, tendo por objecto de estudo o universo das "baixas em campanha" de militares do Exército, e como amostra específica os casos de mortes de "condutores auto rodas", ocorridas durante a guerra no CTIG (1963-1974), identificados na literatura "Oficial" publicada pelo Estado-Maior do Exército.


2. - ANÁLISE DEMOGRÁFICA DAS MORTES DE MILITARES DO EXÉRCITO, NO CTIG (1963-1974), DA ESPECIALIDADE DE "CONDUTOR AUTO RODAS": COMBATE-ACIDENTE-DOENÇA (n=191)

Como temos vindo a referir, a análise demográfica incluída nesta investigação, e as variáveis com ela relacionada, foi feita a partir dos casos de mortes de militares do Exército durante a guerra no CTIG (1963-1974), da especialidade de "condutor auto rodas", identificados nos "Dados Oficiais", elaborados pela Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974), 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II, Guiné; Livros 1 e 2; 1.ª Edição, Lisboa (2001).



Quadro 1 – Distribuição de frequências das variáveis categóricas "em combate" ("contacto", "minas" e "ataque ao aquartelamento"), segundo a «Estação Seca», considerada entre 1 de Maio e 15 de Outubro.




Quadro 2 – Distribuição de frequências das variáveis categóricas "em combate" ("contacto", "minas" e "ataque ao aquartelamento"), segundo a «Estação das Chuvas», considerada entre 16 de Outubro e 30 de Abril.


3. – MAIS ALGUNS EPISÓDIOS E CONTEXTOS ONDE OCORRERAM MORTES DE CONDUTORES AUTO RODAS ["CAR"] POR EFEITO DE REBENTAMENTO DE "MINAS"

Neste ponto, continuamos a respeitar um dos principais objectivos deste trabalho onde, para além dos números, se recuperam algumas memórias, sempre trágicas, quando estamos em presença de perdas humanas. Serão mais quatro "casos" (de um total de trinta e três), enquadrados pelos contextos conhecidos. Como principal fonte de consulta, foi utilizado o espólio do blogue, ao qual adicionámos, ainda, outras informações obtidas em informantes considerados privilegiados.


3.13 – 25 DE AGOSTO DE 1966: A QUARTA BAIXA DE UM "CAR" POR MINA - O CASO DO SOLDADO FRANCISCO ANTÓNIO FERNANDES LOPES, DA CCAÇ 1566, ENTRE S. JOÃO E NOVA SINTRA

A quarta morte de um condutor auto rodas, do Exército, em "combate", por efeito do rebentamento de uma mina (fornilho), foi a do soldado Francisco António Fernandes Lopes, natural de Estômbar, Lagoa, ocorrida no dia 25 de Agosto de 1966, 5.ª feira, por volta das 18:00h, no regresso de uma actividade operacional na sua zona de acção, no itinerário entre S. João e Nova Sintra, a cerca de mil metros do aquartelamento.

O condutor Francisco Lopes pertencia ao 1.º Gr Comb da CCAÇ 1566 [26Abr66-23Jan68, do Cap Mil Inf António dos Santos Paula (1.º); Alf Mil Inf Vladimiro de Pinho Brandão (2.º) e Cap Inf Adolfo Melo Coelho de Moura (3.º)], unidade que, após a sua chegada a Bissau, substituiria a CART 676 [13Mai64-27Abr66, do Cap Art Álvaro Santos Carvalho Seco (Pirada, Bajocunda e Paunca)] que de imediato embarcou no N/M «UÍGE», por ter concluído a sua comissão.

Durante a sua curta permanência em Bissau, na dependência do BCAÇ 1876 [26Jan66-04Nov67; do TCor Inf Jacinto António Frade Júnior], a CCAÇ 1566 teve por missão a segurança e protecção das instalações e das populações da área, efectuando, simultaneamente, a instrução de adaptação operacional na região de Mansoa.

Em 30Abr66, cedeu, temporariamente, um Gr Comb para reforço da guarnição de Pelundo, na dependência do BCAV 790 [28Abr65-08Fev67; do TCor Cav Henrique Alves Calado (1920-2001)] e depois do BCAÇ 1877 [08Fev66-06Out67; do TCor Inf Fernando Godofredo da Costa Nogueira de Freitas] e onde se manteve até 26Jun66.

Em 30Mai66, iniciou o deslocamento dos seus efectivos para Jabadá, tendo seguidamente rendido a CCAÇ 797 [28Abr65-19Jan67; do Cap Inf Carlos Alberto Idães Soares Fabião (1930-2006) - Militar de Abril], assumindo, em 03Jun66, a responsabilidade do subsector de S. João, incluindo o destacamento de Jabadá e ficando integrada no dispositivo e Manobra do BCAÇ 1860 [23Ago65-15Abr67; do TCor Inf Francisco da Costa Almeida] e depois do BART 1914 [13Abr67-03Mar69; do TCor Art Artur Relva de Lima (1.º).

A partir de 28Nov66, a sede do subsector passou para Jabadá, ficando o 1.º Gr Comb a guarnecer um destacamento em S. João, sob o comando do Alf Mil José Inácio Leão Varela. Em 11Jan68, o Gr Comb em S. João foi substituído pela CART 1802 [02Nov67-23Ago69; do Cap Mil Art António Nunes Augusto (1.º) e em 13Jan68, dois Grs Comb da CART 1743 [30Jul67-07Jun69; do Cap Mil Inf José de Jesus Costa (1.º)] passaram a guarnecer a povoação de Jabadá, tendo a subunidade recolhido a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso. [Ceca; 7º vol. p 354]



Foto 2 - S. João (1967) - O 1.º Gr Comb da CCAÇ 1566, do Alf Mil Leão Varela - P14007
Após confirmado o óbito do soldado "CAR" Francisco António Fernandes Lopes ocorre, no aquartelamento, uma segunda baixa, a do soldado José Maria Fernandes Carvalho, natural de Aião, Felgueiras, devido a paragem cardiorrespiratória.

Os corpos dos malogrados Francisco Lopes e José Carvalho seriam, no dia seguinte, inumados no cemitério de Bolama, em campas uma ao lado da outra [poste P3421].

Na caixa de comentários ao poste P3389, Leão Varela deixou a seguinte mensagem:

"Caros amigos e camaradas: acabo de ler o relato dos falecimentos dos nossos saudosos camaradas José Maria Fernandes Carvalho e Francisco António Fernandes Lopes que, naturalmente, me deixou bastante comovido pela recordação do momento mais triste que tive na Guiné. Um daqueles momentos que jamais esquecemos mas que nos custa reviver. Ia de imediato relatar-vos [29Jan2015] como as tristes ocorrências se passaram. Mas não fui capaz… quase que as lágrimas me rompiam.

"Na verdade, trata-se dos dois camaradas que pertenciam ao 1.º Pelotão que eu comandava… que dia triste. Por isso, não consigo escrever mais… desculpem-me… mas hoje não dá para ir mais longe… deve ser por causa das muitas luas que já passaram por mim. Dentro de alguns dias voltarei aqui, ou por mail, para vos descrever como tudo se passou. Até lá aqui fica o meu abraço para todos e os meus sentimentos para os familiares destes dois saudosos amigos e camaradas. Que descansem em paz. Leão Varela (ex-Alf Mil)." [Poste P3389]


3.14 - O CASO DO SOLDADO 'CAR' VÍTOR MANUEL RIBEIRO LOPES, DO PEL REC DAIMLER 2045, EM 01.NOV.1968, ENTRE CATIÓ E CUFAR

A morte em "combate" do soldado condutor auto rodas Vítor Manuel Ribeiro Lopes, natural de São Sebastião da Pedreira, Lisboa – a vigésima primeira de um "CAR" –, ocorreu no dia 01 de Novembro de 1968, 6.ª feira, por efeito do rebentamento de uma mina anticarro, no itinerário Catió e Cufar, durante a realização de uma coluna auto.

O condutor Vítor Lopes pertencia ao Pelotão de Reconhecimento Daimler 2045 [Pel Rec Daimler  2045], uma unidade mobilizada pelo Regimento de Cavalaria 6 [RC6], do Porto, tendo desembarcado em Bissau a 07Mai68, e o seu regresso a verificar-se a 10Mar70. Após a sua chegada a Bissau, a unidade comandada pelo Alf Mil Cav Alfredo Cardoso seguiu para Catió, a fim de substituir o PRecD 1132 [Ago66-Mai68], onde permaneceu durante os vinte e dois meses da sua comissão. Em Fev70, foi rendida pelo PRecD 2205.

Perante a não existência de referências históricas no blogue relacionadas com cada um dos três Pel Rec Daimler  acima identificados: "1132", "2045" e "2205", a concretização do principal objectivo deste trabalho ficou dependente do que, eventualmente, pudesse encontrar ao longo da pesquisa. No final, podemos dizer que tivemos algum sucesso, pouco, é certo, mas foi o possível.

Localizámos uma notícia publicada no «Mafra Hoje» online, do dia 20 de Setembro de 2011, a propósito da inauguração de um Monumento aos Combatentes da Freguesia de Azueira (Mafra) que tombaram na Guerra do Ultramar. Trata-se de uma revista com 4 páginas, onde em cada uma delas se dá conta dos conteúdos expressos nas diferentes intervenções previstas para esta cerimónia pública.



Na terceira e quarta página, O Alf Mil Cav Alfredo Cardoso, Cmdt do Pel Rec Daimler 2045, faz uma alusão à morte em combate do soldado "CAR" Vítor Manuel Lopes, referindo:

"Embarcámos em Abril de 1968 [chegada a 7 de Maio de 1968 e regresso a 10 de Março de 1970] no navio «Niassa», rumo à Guiné onde o pelotão [PRecD 2045] permaneceu cerca de dois anos. Infelizmente o Vítor Manuel não teve a sorte de estar connosco até ao fim da Comissão de Serviço porque uma mina traiçoeira, rebentando debaixo da viatura Daimler que conduzia, pôs fim à sua vida promissora passados apenas seis meses após a nossa chagada à Guiné. O Vítor Manuel como homem e como militar foi sempre, em todos os momentos, um exemplo de colega respeitador, voluntarioso, dedicado e sempre amigo de todos os colegas e seus superiores, tendo sempre desempenhado as suas funções com empenho e dedicação. Por tais motivos acho de toda a justiça esta homenagem que a Associação de Ex-Combatentes do Ultramar, os seus amigos, familiares e conterrâneos resolveram prestar-lhes." 

Fonte:
https://www.yumpu.com/pt/document/read/12731083/monumento-aos-combatentes-freguesia-de-azueira-ultramar


3.15 - O CASO DO SOLDADO 'CAR' MANUEL DA COSTA SOARES, DA CCAÇ 12, EM 13.JAN.1971, EM NHABIJÕES (BAMBADINCA)

A morte em "combate" do soldado condutor auto rodas Manuel da Costa Soares, natural de Palmaz, Oliveira de Azeméis – a vigésima sétima de um "CAR" –, ocorreu no dia 13 de Janeiro de 1971, 4.ª feira, por volta das 11:25h, por efeito do rebentamento de uma mina anticarro, à saída do reordenamento de Nhabijões, um aglomerado populacional de maioria balanta, situado nos arredores de Bambadinca [Sector L1].

O condutor Manuel da Costa Soares pertencia à CCAÇ 2590 [CCAÇ 12, desde 18Jan70], uma subunidade constituída por quadros e especialistas metropolitanos a que se juntaram outros elementos de recrutamento local, da etnia Fula.

Este colectivo efectuou a 2.ª fase da instrução de formação em Contuboel, entre 02Jun69 e 12Jul69. Em 18Jul69, foi dada como operacional, sendo colocada em Bambadinca, como força de intervenção de reserva do Agr 2957 [15Nov68-19Ago70; do Cor Inf Hélio Augusto Esteves Felgas (1920-2008)], na zona Leste [com sede em Bafatá, e abrangendo os sectores de Bambadinca, Bafatá e Nova Lamego], ficando adida ao BCAÇ 2852 [30Jul68-16Jun70; do TCor Inf Manuel Maria Pimentel Bastos (1.º) e TCor Cav Álvaro Nuno Lemos de Fontoura (2.º)]. Em 07Jun70, foi rendido no sector [L1] pelo BART 2917 [25Mai70-24Mar72; do TCor Art Domingos Magalhães Filipe (1.º) e TCor Inf João Polidoro Monteiro]. 

A CCAÇ 2590/CCAÇ 12, por períodos variáveis, destacou forças para guarnecerem diversos destacamentos em Sinchã Mamajã, Sare Gana, Sare Banda e Ponte do Rio Udunduma, colaborando ainda, de Nov69 a Jul70, na construção do reordenamento de Nhabijões. Em 18Jan70, a subunidade passou a designar-se CCAÇ 12, sendo considerada subunidade da guarnição normal, desde aquela data. (Ceca; 7º vol. p 380).

Quanto à descrição da ocorrência é de relevar o testemunho singular de quem nela esteve envolvido, neste caso, o Alf Mil Sap da CCS/BCAÇ 2917, Luís Rodrigues Moreira.

No poste  poste P10936, o camarada Luís Moreira, em narrativa enviada para publicação titulada «Efemérides: Nhabijões, 13 de Janeiro de 1971, morte na picada» refere:

"Passam hoje quarenta e dois anos [1971-2013] sobre aquele fatídico dia em que, no destacamento de Nhabijões bem no centro da Guiné-Bissau e cerca das 11:25 horas, faleceu um jovem pai de seu nome [Manuel da Costa] Soares, condutor auto rodas da CCAÇ 12, destacado naquele reordenamento juntamente com outros camaradas da mesma companhia e ainda alguns camaradas sapadores da CCS do BART 2917 e eu Alf Mil Sapador do mesmo Batalhão que comandava aquela força há pouco menos de um mês, vítima de uma mina anticarro quando nos conduzia, a mim, ao furriel Fernandes da CCAÇ 12 e ainda a um jovem africano com menos de 10 anos de idade e não me recordo se mais alguém; à sede do Batalhão em Bambadinca onde eu iria almoçar e presumo que o mesmo iria fazer o Fernandes, regressando depois o Soares com o Unimog 411 que lhe estava distribuído e o almoço para os restantes camaradas que aguardavam no destacamento.

"Não tenho nenhuma memória dos factos que se sucederam excepto daqueles que me contaram os camaradas que nos socorreram e, saiba-se lá porquê, das últimas palavras que o Soares proferir: "vamos fazer gincana, meu alferes".

E explico a razão das suas palavras:

"A estrada por onde circulámos era de terra batida como a maioria das estradas da Guiné naquele tempo. No lado esquerdo da estrada e no sentido em que seguíamos, portanto em contramão para nós, havia um enorme buraco, em diâmetro, não muito fundo mas que todas as viaturas que por ali passavam evitavam até porque a maioria delas passava carregada de bidões de água que iam buscar à Ponte do Rio Udunduma, a alguns quilómetros de distância, e não convinha partir alguma peça da viatura ou perder alguma água com os solavancos. - Ao dizer estas palavras, o Soares desviou a viatura do trajecto normal para descer e subir aquele obstáculo. Foram as suas últimas palavras já que dentro do buraco estava dissimulada uma mina anticarro que rebentou sob o rodado do lado do condutor, deixando o Unimog 411 reduzido a um monte de escombros como se pode ver na foto 3 abaixo." [ver, também, P5717, P11508 e P12139].

Quanto ao camarada Alf Luís Moreira, que ficara gravemente ferido, foi evacuado para o HM 241, em Bissau, onde permaneceu até ser considerado apto. Após reavaliação clínica, foi reclassificado para "serviços auxiliares", tendo passado o restante tempo da sua comissão no CTIG, cerca de dezasseis meses, agora no Batalhão de Engenharia (BENG 447) - poste P10936.


Foto 3 – Estado em que ficou o Unimog 411, depois de accionar uma mina anticarro à saída do reordenamento de Nhabijões, em 13 de Janeiro de 1971, onde tombou o condutor auto rodas Manuel da Costa Soares, da CCAÇ 12. Foto de Humberto Reis, com a devida vénia.



3.16 - O CASO DO SOLDADO 'CAR' ANTÓNIO LUÍS DO COUTO TOSTE PARREIRA, DA CCAÇ 3414, EM 29.MAI.1973, ENTRE BINTA E GUIDAGE


A última referência que elegemos para incluir nesta quinta narrativa, de um quadro de trinta e três casos onde se verificaram mortes em "combate" de "condutores auto rodas" provocadas por engenhos explosivos (minas), tem por contexto as movimentações militares realizadas pelas NT em Maio de 1973, na região de Guidage (Sector Oeste), cujos episódios ficarão gravados, para sempre, na historiografia da Guerra, como «O Cerco de Guidage».

Estão nesta circunstância as ocorrências que determinaram a morte em combate do soldado "CAR" António Luís do Couto Toste Parreira, da CCAÇ 3414 [02Jul71-23Set73; do Cap Inf Manuel José Marques Ribeiro de Faria], natural de Ribeirinha, Angra do Heroísmo, Ilha Terceira (Açores).
Para a elaboração deste ponto foram utilizadas as seguintes fontes históricas:

«P9972: … A coluna do dia 29 de maio de 1973: a participação da 38.ª CCmds (Pinto Ferreira / Amílcar Mendes / João Ogando»;

«Os Marados de Gadamael e os dias da Batalha de Guidage, do Fur Mil Daniel Rosa de Matos (1950-2011), da CCAÇ 3518 [Gadamael, 24Dez71-28Mar74, do Cap Mil Inf Manuel Nunes de Sousa]»;

«https://pt.slideshare.net/ Cantacunda/cercados-em-guidage» e «P6201» e

«https://www.cmjornal.pt/mais-cm/ domingo/detalhe/mata_me_acaba_com_esta_agonia».

Das análises realizadas, retivemos as seguintes:


[…] "À hora aprazada do dia 29/05/1973 [3.ª feira], a coluna saiu de Binta pela seguinte ordem: à frente um grupo/secção de Picadores, depois a 38.ª CCmds a 3 grupos, com uma viatura de Engenharia e outras duas viaturas, uma delas com o Morteiro 81. A seguir, ia a Companhia de Cavalaria do Cap Cav Fernando José Salgueiro Maia (1944-1992), [CCAV 3420; 09Jul71-03Out73] e na rectaguarda a do Cap Inf Manuel José Marques Ribeiro de Faria [CCAÇ 3414; 02Jul71-23Set73], que fechava a coluna.

"Verificando-se que alguns Picadores tinham dificuldades em avançar, passámos a deslocarmo-nos ao lado deles no sentindo de lhes levantar o moral. Por esse facto, os elementos da 1.ª Equipa do Gr Comb da 38.ª CCmds, que seguia na frente, acabaram por se juntar a nós. Entre eles encontrava-se o Furriel Ludgero Sequeira e o 1.º Cabo "Barbeiro" ["Bombeiro" (?), alcunha de Luís Alberto Costa, CAR da CCS/BCAÇ 4512, in: https://www.cmjornal.pt/mais-cm/domingo/detalhe/mata_me_acaba_com_esta_agonia.

"Depois de nos deslocarmos durante algum tempo nestas circunstâncias, fomos surpreendidos por uma forte explosão. Inicialmente pensou-se que seria mais um ataque, mas olhando para trás, verificou-se que um dos Picadores fora projectado pelos ares. Também o Furriel Sequeira estava gravemente ferido no rosto.

"A evacuação não poderia ser feita por via aérea, pois aquela explosão seria o sinal para o inimigo aparecer. Passado algum tempo acercou-se de nós o Cap. Salgueiro Maia, ao qual foi pedido que, com as suas forças se deslocasse para Binta, para a execução de uma evacuação, através de meios navais, pelo Rio Cacheu.

"Resolvido o problema da evacuação, os elementos da 38.ª CCmds passaram para a frente abrindo uma nova picada. Reiniciou-se o deslocamento da coluna, de modo a afastarmo-nos da zona de minas ao mesmo tempo que se salvaguardava uma maior capacidade de reacção ao provável ataque dos grupos do PAIGC.

"Mal se tinha reiniciado a marcha, fomos fortemente atacados sobre o flanco direito. As forças que aí estavam (um Gr Comb da 38.ª CCmds e os restantes elementos da coluna dessa zona) responderam com serenidade ao fogo inimigo. (…)

"A partir da posição Pára, a progressão tornou-se muito difícil, pois o terreno estava cheio de espinheiros muito cerrados, que impediam a passagem das viaturas. Decidimos pois voltar à picada, assumindo o risco de haver mais minas. Contudo, já não estávamos longe do Quartel…
Infelizmente o primeiro Unimog da Cª. do Cap. Ribeiro da Fonseca acabou por rebentar uma mina. Por simpatia, explodiu uma granada de lança roquetes o que veio somar à morte do condutor, vários feridos com estilhaços entre os homens da 38.ª CCmds. Logo de seguida um Milícia pisou uma mina antipessoal, ficando sem o pé e parte da perna. Como estávamos já perto de Guidage, a evacuação teria de ser feita por lá."

Ainda sobre esta missão, o Fur Mil Daniel de Matos (1950-2011), no seu livro: «Os Marados de Gadamael e os dias da Batalha de Guidage", pp 59-60, refere:




Foto 4 – «Operação Ametista Real»; o "Levantar do Cerco". In: Nuno Mira Vaz. Guiné - 1968 e 1973 - Soldados uma vez, sempre Soldados! Tribuna da História. Lisboa, 2003, pp 75-91; de autor desconhecido, com a devida vénia.



Foto 5 - Berliet destruída numa das colunas entre Binta e Guidage em Maio de 1973, com a devida vénia, publicada em 07Set2014 no Correiro da Manhã.

Outras viaturas destruídas deste contexto em P11516: «Álbum fotográfico de Carlos Fraga (ex-alf mil 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1973».

(Continua)

Fontes Consultadas:

- Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2001); pp 23-569.

- Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 2; 1.ª edição, Lisboa (2001); pp 23-304.

-  Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

03Nov2019
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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de outubro de  2019 > Guiné 61/74 - P20283: Jorge Araújo: ensaio sobre as mortes de militares do Exército no CTIG (1963/74), Condutores Auto-Rodas, devidas a combate, acidente ou doença - Parte IV

Guiné 61/74 - P20389: Historiografia da presença portuguesa em África (188): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (4): "Portugueses e Espanhóis na Oceânia", por René Pélissier (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Janeiro de 2019:

Queridos amigos,
O historiador René Pélissier procede a uma comparação de duas colonizações ibéricas, face às resistências armadas em duas ilhas da Oceânia: Timor para os portugueses, Ponape para os espanhóis, contextualiza os dois impérios na curva descendente, a tentativa expansionista da Espanha nas Filipinas e a atitude portuguesa, de manutenção defensiva, Lisboa não podia ir mais longe, o foco vital, naquela altura, era a África e a situação financeira mantinha-se caótica. O historiador desvela o modo distinto como procederam os colonizadores espanhóis e portugueses, evidentemente a Espanha veio a perder as Filipinas, Guan e as Antilhas espanholas, o Timor português permaneceu incólume, a atitude da repressão portuguesa foi suficientemente brutal a ponto dos poderes gentílicos terem ficado definitivamente erodidos.
Uma obra para ler cuidadosamente, dá para entender esta faceta tão cara ao colonialismo português: as alianças gentílicas contra o insurreto, transformado em inimigo do colonizador e dos outros régulos.

Um abraço do
Mário


A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (4)

Beja Santos

René Pélissier
O mais recente livro de René Pélissier em Portugal intitula-se “Portugueses e Espanhóis na Oceânia, duas formas de resolver insurreições”, Principia / Tribuna da História, 2018. O autor justifica assim a substância do seu trabalho: “Trata-se de examinar e comparar, durante um curto período (1887-1899), as atitudes e atividades militares de duas colonizações ibéricas, face às resistências armadas e rebeliões de sociedades ou autoridades indígenas que pretenderam subjugar em duas ilhas da Oceânia: Timor para os portugueses, Ponape para os Espanhóis”. Como é óbvio, o foco desta leitura passa pela questão colonizadora, os métodos usados para a pacificação de gente insubmissa. O autor compara o potencial militar espanhol e português no Pacífico, as duas potências coloniais estavam na curva descendente, com as finanças praticamente falidas, a Espanha sonhava com a expansão, Portugal com a retenção, os seus efetivos tinham recrutamentos diferentes, O efetivo português era multifacetado em termos de origem (muito poucos metropolitanos, indiano ou sino-portugueses de Macau e, após 1878, algumas tropas africanas vindas de Moçambique). O jogo de alianças tinha a ver com o génio colonial português baseado na manipulação dos chefes gentílicos, em caso de necessidade pagava-se ao inimigo dos insurretos nesta ou naquela ocasião, compensava-se o aliado com o saque, assim se procedia com os guerreiros das montanhas, os régulos (“liurais”) e os seus nobres, hostes sempre provisórias. René Pélissier lembra que na época Timor era uma ilha de cortadores de cabeças inveterados que adoravam bater-se pelo saque e guarnecer de crânios as fortificações das suas aldeias. A administração podia reunir, sob a sua bandeira, 15 ou mesmo 20 régulos, qualquer coisa como 10 mil homens armados, mais o milhar de moradores de choque e uma escassa centena de soldados regulares de apoio (moçambicanos e artilheiros). Para quem já estudou as campanhas de pacificação do Capitão Teixeira Pinto, há pouca novidade.

O governo português vivia num período singularmente crítico, tinha-se perdido o Brasil e a quase totalidade do seu primeiro império, o Oriental (salvo os entrepostos da Índia, Macau e uns pequenos retalhos na Insulíndia), apostava-se decididamente em África, ainda houve o sonho de criar um território homogéneo de Angola a Moçambique, mas a Grã-Bretanha lançou o Ultimato, encurtou-se o sonho para Angola e Moçambique. Os espanhóis sentiam-se inquietos com a presença britânica e alemã na vizinhança, houve mesmo um contencioso com Berlim, quando esta anunciou a posse das Carolinas, Madrid reagiu e mandou ocupar, assim se criou Ponape. Observa o autor: “Sem o saber, o governador das Carolinas Orientais tinha acabado de desembarcar num vespeiro a 3800 km de Manila, ou seja, a 15 dias de distância por navio-correio a vapor. A distância até à capital das Filipinas é quase igual à que separa Timor de Macau: aproximadamente 3600 km”.

1887 foi um ano sangrento para os governadores espanhol e português. A 3 de março de 1887, o governador de Timor foi morto pelos seus auxiliares, em Dili; a 4 de julho do mesmo ano o governador espanhol das Carolinas Orientais foi abatido pelos seus novos colonizados. Recorde-se a existência de diferenças nos dois processos coloniais. Em Ponape, a colónia era de fresca data, havia a ingerência de estrangeiros, desde os baleeiros aos comerciantes, contenda entre capuchinhos e missionários metodistas, era um poder colonial frágil que obrigou à mobilização de efetivos para um regresso em força. O novo governador de Timor, o Capitão-de-Fragata Rafael Jácome Lopes de Andrade possuía apenas um vapor em mau estado, duas companhias de soldados africanos, alguns soldados europeus e maratas (de Goa), num efetivo total provável de 250 homens. Empreendeu uma pequena campanha vitoriosa na Costa Norte e tomou medidas promissoras de apaziguamento, perdoou a vários régulos insubmissos. Em Ponape, andava-se a ferro e fogo, os governadores de Timor envolveram-se em companhas, agregaram auxiliares indígenas, intimidaram, incendiaram, usaram os métodos mais radicais. Em Lisboa, numa década de desespero financeiro, em que se chegou a pensar em confiar Timor a uma companhia majestática segundo o modelo moçambicano, seguia-se com admiração o que os governadores obtinham, a preços low cost.

René Pélissier desvela dois modelos militares e coloniais antagónicos, em Ponape uma política colonial amorfa ou inibida, em Timor um modelo de conquista impiedoso. E fala de José Celestino da Silva, um coronel de Cavalaria, como o grande obreiro desse processo de pacificação, um governador que se tornaria “rei de Timor”, uma invejável longevidade de governação, queria ser obedecido por todos, obrigar a população a produzir café, e foi bem-sucedido. O autor dá-nos um relato desenvolvido das campanhas, uma sequência de sucesso até se chegar ao maior desastre dos portugueses, o aniquilamento da coluna do Capitão Câmara, em 1895, o autor observa que foi o maior desastre dos portugueses na Oceânia e provavelmente de todos os exércitos coloniais do Pacífico Sul antes da II Guerra Mundial: 5 oficiais e 4 sargentos decapitados, juntamento com 19 soldados brancos, indianos ou africanos, uma boa centena de moradores e um número desconhecido de auxiliares deixaram igualmente os crânios no terreno, perderam-se espingardas, três canhões, um obus e muito mais. Celestino da Silvo recompôs-se e limpou a honra, foi implacável na punição. No ano seguinte obteve-se autonomia administrativa, Lisboa decretou que Timor passaria a ser um distrito autónomo separado de Macau, embora Macau continuasse a pagar um forte subsídio a Dili, o défice orçamental timorense era catastrófico.

A Espanha envolveu-se em mais guerras, os EUA deram-lhe o golpe de misericórdia, em dado momento, Madrid vendeu o que restava dos seus arquipélagos na Oceânia aos alemães por 25 milhões de pesetas, perdera as Filipinas, Guan e as Antilhas espanholas. O novo colonizador de Ponape revelou-se tão brutal como os portugueses em Timor. No somatório destas insurreições juguladas, tanto em Ponape como em Timor, os chefes gentílicos saíram diminuídos, o sistema quase feudal das duas ilhas não voltaria a erguer-se. O método de alianças e a brutalidade na repressão foram ingredientes da colonização portuguesa, os timorenses acataram a soberania e a bandeira, ficarão do lado português quando os japoneses ocuparem Timor, em fevereiro de 1942.
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Nota:
Informação do tradutor Daniel Gouveia:
A Editora Tribuna da História/Principia pode enviar por correio todas as encomendas com 10% de desconto e oferece os portes a quem encomendar indicando que vem da parte de Daniel Gouveia.
O procedimento é o seguinte: os interessados enviam um email para principia@principia.pt a dizer que têm interesse em comprar o livro “Portugueses e Espanhóis”, na sequência da informação que receberam de Daniel Gouveia. A Principia responde enviando as informações para pagamento por transferência bancária ou por Multibanco e pedindo a morada para envio. O preço do livro será 9€ sem mais custos.
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20366: Historiografia da presença portuguesa em África (187): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (3): "Racismos, Das Cruzadas ao Seculo XX", por Francisco Bethencourt (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20388: Recortes de imprensa (106): Anúncios ("O Arauto", 27/7/1967) de casas de Bissau especializadas em ostras: Casa Afonso (chão de papel) e Hotel e Restaurante Miramar, frehte à Casa Pintosinho (Bissau Velho) (Benito Neves, ex-fur mil at cav, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67)



Guiné > Bissau > O Arauto, 27 de Julho de 1967 > Anúncios de duas casas especializadas em ostras, em Bissau : Casa Afonso, no Chão de Papel; e o Miramar, que vendia uma travessa gigante de ostras (da rocha!) por 20 pesos... Dois anos depois ainda eram ao mesmo preço.


Guiné > Bissau > Cabeçalho de O Arauto, Diário da Guiné Portuguesa. Ano XXV - Nº 6242. Preço: 1$00. Director e editor: José Maria da Cruz. Quinta-feira, 27 de Julho de 1967. Era o único jornal diário da província. Cópia de exemplar gentilmente enviado pelo ex-furriel mil atir cav,   CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67). Mora em Abrantes.  (*)

(...) "Comprei momentos antes de entrar para o Uíge, no dia 27/07/67, dia em que embarquei de regresso à Metrópole. Já no barco, ao folhear o jornal, fui surpreeendido com a notícia publicada na página 4, sobre o fim da comissão de serviço da CCAV 1484, a que eu próprio pertenci. E bem ao lado desta notícia, cá estão elas, as ostras, publicitadas". (**)

Fotos (e legendas): © Benito Neves (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Croqui  da parte oriental da Bissau Velha, entre a Avenida da República (hoje, Av Amílcar Cabral) e a fortaleza da Amura. No 15 ficava o Hotel Miramar / Cais Bar... A antiga Rua Olivera Salazar é hoje a Rua Mendes Guerra.  O Miramar ficava em frente à Casa Pintosinho (2, no croqui). Era que, em 1969/71, comíamos ostras, a 20 pesos cada travessa, quando vínhamos a Bissau... (LG)

Fonte: Adapt de António Estácio, em "Nha Bijagó: respeitada personalidade da sociedade guineense (1871-1959)" (edição de autor, 2011, 159 pp., il.).

Guiné 61/74 - P20387: Agenda cultural (715): Mesa redonda sobre “Arquivos e Fontes para o Estudo dos Contextos Coloniais”, organização do Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa (CEI-IUL) e do Centro de História da Universidade de Lisboa (CH-ULisboa), hoje dia 27 de Novembro, pelas 17h00, com a participação de Mário Beja Santos

C O N V I T E




Mesa-redonda: Arquivos e Fontes para o Estudo dos Contextos Coloniais

O Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa (CEI-IUL) e o Centro de História da Universidade de Lisboa (CH-ULisboa) organizam, no próximo dia 27 de Novembro, uma mesa redonda sobre “Arquivos e Fontes para o Estudo dos Contextos Coloniais”.

Partindo do debate sobre a utilização, por Mário Beja Santos, no seu livro “Os Cronistas Desconhecidos do Canal de Geba: O BNU da Guiné” (Edições Humus, 2019), dos relatórios dos gerentes da filial do BNU na então Guiné Portuguesa, esta mesa redonda alarga o âmbito da discussão e procura pôr em confronto virtualidades de diferentes tipos de arquivo, nomeadamente as que advém da riqueza própria das fontes neles guardadas.

A mesa redonda contará com a participação dos especialistas em arquivos e fontes Ana Canas (AHU e CH-ULisboa), Augusto Nacimento (CH-ULisboa e CEI-IUL), João Figueiredo (CEDIS, FD-UNL), Maria João Vaz (CIES-IUL, ISCTE-IUL) e Mário Beja Santos, e será moderada por Carlos Almeida (CH-ULisboa) e Eduardo Costa Dias (CEI-IUL, ISCTE-IUL).

A sessão será de entrada livre, na sala C1.01 (Ed. II, ISCTE-IUL), pelas 17h00.

OBS: - Com a devida vénia ao Centro de Estudos Internacionais - ISCTE-IUL
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20362: Agenda cultural (714): 26 de novembro, 3ª feira, na Livraria-Galeria Municipal Verney, Oeiras, lançamento da 10ª edição do livro "Longas Horas do Tempo Africano", de Manuel Barão da Cunha. Prefácio de Isaltino Morais, presidente da CM Oeiras

Guiné 61/74 - P20386: (De)Caras (143): Eu e o saudoso Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019), prontos para ir a Nhacra, de motorizada, comer umas ostras (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)


Guiné > Bissalanca > BA 12 > s/d > c. 1973/74 > O Eduardo Jorge Ferreira, alf mil da Polícia Aérea, à porta dos seus aposentos, pronto para partir para Nhacra,  para comer umas ostras, à civil, de sandálias, e com capacete de segurança, conduzindo a sua motorizada, de 50 cm3 (?), Yahama, matrícula G5907, e levando à boleia o seu amigo Jorge Pinto, alf mil, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74)... 


 Pormenor digno de registo: o Jorge Pinto, também à civil, de sapatinho de vela, meiinha branca, leva um capacete de segurança pouco ortodoxo: um capacete, branco, da polícia aérea... A ideia só podia ser do nosso saudoso Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019), um homem prático e desenrascado...


Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Mensagem de Jorge Pinto, ex-mil, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74); tem cerca de 40 referências no nosso blogue:



Luís, eu é que fico agradecido pela iniciativa de aproveitares o meu texto. (*)

Para o ilustrar, lembrei-me hoje de procurar uma velhinha foto, tirada à porta dos aposentos dele, na base de Bissalanca, sentados na motoreta, prontos a partir para Nhacra, onde íamos saborear as referidas ostras.


Tem muito pouca qualidade esta foto mas para mim, passou a ter muito significado, como podes imaginar. Podes usá-la também se achares conveniente. (Segue em anexo : Eu e Eduardo)

A ideia de já teres marcado encontro para outubro 2020, é esplêndida. É uma forma muito bonita de o homenagearmos, valorizando todo o empenho, generosidade e alegria que ele depositava em iniciativas deste género e que nós tanto admiramos.

Quanto às fotos do porco no espeto (*), lembro-me perfeitamente. Foi mais uma das iniciativas sociais que ele promoveu, em que até os filhos dele, a esposa e pessoal da terra também se envolveram.


Resto boa noite para ti. Forte abraço.

Jorge Pinto


Guiné > Bissalanca > c. 1972/74 > O então ten pilav António Martins de Matos com a sua potente Yamaha, de 200 cm3, a 2 tempos,matrícula G-6388,  comprada numa loja da Av da República (hoje, Av Amílcar Cabral) por 16 contos da metrópole (em 1972 era o equivalente hoje a 3.807,75 €). 

Diz ele que havia 4 motos destas na Base. Pormenor curioso: comparando as matrículas da motorizada do Eduardo (G5907) com a moto do António (G6388), a do Eduardo parece ser mais antiga...possivelmente tendo sido comprada em segunda mão. (Mas não sabemos em que data, exatamente, foi comprada a moto do António, terá sido seguramente entre 1972, 1973 ou 1974).

Foto (e legenda): © António Martins de Matos (2015). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Bissau > Carta de Bissau (1949) > Escala de 1/50 mil > Posição relativa de Bissau, Bissalanca, Safim, Nhacra... De Nhacra a Bissau eram cerca de 20 km. De Bissalanca a Nhacra, por Safim, devia ser um pouco mais... E não havia problemas de segurança na região de Bissau, até ao fim da guerra... Decididamente o PAIGC nunca optou pela guerrilha urbana...

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019).




Guiné >  Região de Bissau > Bissau > c. 1967/69 >  O alf mil SAM Virgílio Teixeira, CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), de motorizada às portas de Bissau, na estrada para o aeroporto de Bissalanca.





Guiné > Região de Bissau > O alf mil SAM Virgílio Teixeira,  de motorizada, em Safim, a caminho de Nhacra. Em Safim, havia um cruzamento: para norte seguia-se para João Landim e Bula; para leste, seguia-se para Nhacra e depois Mansoa.



Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20385: (De)Caras (142): O Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019) ou a arte do dom: "um homem não bebe um copo sozinho" (Luís Graça / Jorge Pinto)


Lourinhã > Vimeiro > Convívio de ex-seminaristas do Oeste > 28 de junho de 2014 > O Eduardo Jorge  Ferreira (1952-2019) e o Jorge Pinto (Sintra)


Lourinhã > Vimeiro > Convívio de ex-seminaristas do Oeste > 28 de junho de 2014 > O Fernando Policarpo  (Lisboa) e o Eduardo Jorge: ambos estiveram na Guiné na mesma altura (1973/74). O Policarpo prometeu-me, ontem, no cemitério do Vimeiro que vai integrar a nossa Tabanca Grande em homenagem ao amigo e camarada Eduardo. O Policarpo tem pelo menos 6 referências no nosso blogue.


Lourinhã > Vimeiro > Convívio de ex-seminaristas do Oeste > 28 de junho de 2014 >  O Eduardo Jorge, à direita, o organizador: era sempre o último a sentar-se à mesa, zelando pelo bem-estar de todos os convivas...


Lourinhã > Vimeiro > Convívio de ex-seminaristas do Oeste > 28 de junho de 2014 > Sempre proativo, o Eduardo Jorge era sempre quem fazia o papel "chato" nestes encontros, que ninguém gosta de fazer: o de receber a massa e pagar a conta... 



Lourinhã > Vimeiro > Convívio de ex-seminaristas do Oeste > 28 de junho de 2014 > A nossa querida São mais o marido... Em segundo plano, o João Baptista (Óbidos). Inspetora do trabalho, ainda no ativo, a São não podia, muitas vezes, acompanhar-nos... a não ser aos fins-de-semana.



Lourinhã > Vimeiro > Convívio de ex-seminaristas do Oeste > 28 de junho de 2014 > A nossa querida São mais o marido... A São viveu e cresceu em Bissau: o pai era funcionário dos CTT... Mas ela e o Eduardo conheceram-se cá. Têm dois gémeos, o João (Lisboa) e o Rui (Londres).



Lourinhã > Vimeiro > Convívio de ex-seminaristas do Oeste > 28 de junho de 2014 > O Jorge Pinto e a esposa, Ana.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados[Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



O Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019) 
e a arte do dom

por Luís Graça

Contou-me uma vez o Eduardo a seguinte história: o pai, que deve ter nascido nos anos 20 do século passado, tinha uma junta de bois e costumava deslocar-se na região para comprar vinho a granel. No carro, devia levar um ou mais pipas. Ia muitas vezes do Vimeiro à Moita dos Ferreiros, via Marteleira e Miragaia, no concelho da Lourinhã.  A Moita dos Ferreiras era uma freguesia de grande produção vinícola, nessa época (anos 50/60). Pelas estradas de hoje, são cerca de 15 quilómetros. Com o carro de bois, deviam ser umas duas horas e meia ou três. 


Chegava lá cansado, e com sede. Parava numa tasca, para beber um copo. Mas sabia por experiência própria que um homem não bebe um copo de vinho sozinho. Se há gente na tasca, oferece-se de beber a toda a gente. Era a tradição, era a cultura de convivialidade da terra (e em geral da região). Um homem que entrasse numa tasca, pedisse e bebesse sozinho um copo de vinho,  era um homem “marcado”. Para a próxima poderia vir a ter encontros desagradáveis… e os negócios podiam vir a correr mal. 

O pai do Eduardo, que já não é vivo, tal como de resto toda a família (mãe e irmãos), aprendeu, portanto, cultivar a “arte do dom”, a arte de dar, receber e retribuir… E transmitiu isso ao filho...

O Eduardo era daquelas pessoas que, numa época de forte individualismo como a nossa (em que o dinheiro é que define o estatuto social da pessoa), recebeu do pai (e do “caldo de cultura” da sua região) esta tradição do dom, esta arte do dom: um copo de vinho não se bebe sozinho, partilha-se…

Um dos seus traços de carácter mais sublinhados, nestes dias, em que a família e os amigos lhe fizeram a “última despedida”,  foi justamente a sua “generosidade”, “amabilidade”, “dedicação ao bem comum”, “solidariedade”, "empatia" (*)…

Escreveu, na sua página do Facebook,  a Associação Memória da Batalha do Vimeiro de que ele foi cofundador e dirigente: 


“Hoje perdemos um amigo, um companheiro que pertencia à categoria rara das pessoas que irradiam simpatia, dedicação e generosidade.”

Contou um dos filhos gémeos, ontem, na igreja do Vimeiro, nas bonitas, singelas e comovidas palavras que disse do pai, numa igreja completamente cheia de familiares, vizinhos e amigos, a seguinte história: 

“O meu pai era um homens de valores e princípios. Num dia de Natal, celebrámos o dia e almoçámos juntos. Ainda éramos pequenos. Depois, ele levantou-se e disse que tinha que ir a Alcoentre acompanhar um amigo que tinha o pai na prisão. Era Natal e esse filho também tinha o direito que estar com o pai”.

Dos vários testemunhos (incluindo o meu próprio) que foram partilhados na igreja (*), antes do saída do caixão para o cemitério, ressalta a ideia que o Eduardo Jorge era um homem com um coração grande, daqueles corações que não cabem no peito. Ele cultivava, por excelência, a arte do dom: por isso tinha muitos amigos, e amigos sinceros.

O Jorge Pinto, nosso camarada de armas, que se deslocou também ao Vimeiro, para o “último adeus” ao Eduardo, escreveu o seguinte, como comentário ao poste P20382 (*).

“Hoje foi um dia muito triste. Fui ao funeral do Eduardo Jorge, meu amigo e colega de longa data. Durante a cerimónia religiosa foram proferidas palavras que me fizeram reviver muitos momentos… mas a recordação que mais me assaltava à memória relacionava-se com Bissau: Quando, eu todo mordido pelos mosquitos e suado até ao tutano, chegava de Fulacunda na Dornier do nosso saudoso comandante Pombo e o Eduardo Jorge, ainda no aeroporto Bissalanca, pegava em mim e me levava para os seus aposentos na Base Aérea. Ligava o ar condicionado e dizia: 'pá, agora, já te podes coçar à vontade e tomar banho, porque aqui a guerra é outra'...Depois, passado uma hora pegava na motoreta e levava-me até Nhacra comer umas ostras… Era assim o Eduardo Jorge, generoso, ativo, pensando sempre no bem dos outros. Hoje é um dia muito triste”…


Não sou desse tempo, de Bissalanca, sou um amigo mais recente. Já nem recordo quando e quem mo apresentou. Talvez num dos convívios anuais que ele organizava, por ocasião da festa anual de Ribamar, e cuja origem remontava ao ano de 1994, fez agora 25 anos (vd. poste P20380).

Começamos a conviver mais quando ele se reformou em 2009. No blogue está registada a data de 16 de agosto de 2011. Num comentário ao poste P8694 (**), eu deixo um agradecimento, entre outros amigos e camaradas da região do Oeste,  "também ao Eduardo Jorge (professor de educação física, também já aposentado; antigo presidente da assembleia de freguesia do Vimeiro); e ao João Tomás Gomes Baptista, natural das Gamelas/Bombarral, empresário agro-turístico, que nos proporcionou uma tarde maravilhosa em Óbidos"... 

Deve ter sido nessa semana que nos conhecemos, e eu fiquei a saber que tinha estado na Guiné em 1973/74, tendo-o convidado a inscrever-se na nossa Tabanca Grande, o que ele fez no final desse mês (***). 

O nosso convívio intensificou-se a partir daí, tendo o Eduardo sido o primeiro lourinhanense a participar num Encontro Nacional da Tabanca Grande, o VII, em Monte Real, em 21/4/2012. 

Depois disso, começamos a conviver muito mais regularmente, nomeadamente no Vimeiro e em Porto Dinheiro / Ribamar. O primeiro convívio da Tabanca de Porto Dinheiro / Lourinhã terá sido em 12/7/2015, com a presença do João Crisóstomo e do Horácio Fernandes,entre outros (****). Descobrimos, entretanto, que o João era seu vizinho, de Paradas, A-dos-Cunhados, embora vivesse em Nova Iorque desde 1975. O Eduardo, por sua vez, apresentou-nos o Rui Chamusco, seu colega do Agrupamento de Escolas de Ribamar.

A morte, inesperada, traiçoeira, veio interromper este tão saudável convívio, dentro e fora da Tabanca Grande (*****). Mas, no dia 12 de outubro de 2020, se formos vivos, lá estaremos na festa de Ribamar para lhe fazer uma pequena homenagem, a ele e à  São, a mulher da sua vida. Todos sentimos, os que o amavam e estimavam, que com a sua morte, todos perdemos: "quando um de nós morre, também morremos todos um pouco", lembrei ontem na hora da despedida (*).


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Momte Real > VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 21 de Abril de 2012 > Dois homens da FAP e de Bissalanca, BA 12: O António Martins de Matos (Lisboa) e o Eduardo Ferreira, lourinhanense, que vive em A-dos-Cunhados, Torres Vedras, uma das "caras novs" do encontro deste ano. "Um foi um dos melhores pilotos de Fiat G91, de toda a guerra da Guiné; o outro foi alferes mil da polícia aérea... Ambos da mesma altura (1972/74, o António Martins de Matos); 1973/74, o Eduardo Jorge Ferreira).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados[Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Lourinhã > Ribamar > Tabanca de Porto Dinheiro > 12 de julho de 2015 > Restaurante O Viveiro > A "bajuda do Enxalé", Maria Helena Carvalho (que adotou - e foi adotada por - o pessoal da CCAÇ 1439), e o Eduardo Jorge Ferreira, o organizador do convívio. O Eduardo anda tão entusiasmado com a reconstituição histórica da batalha do Vimeiro, de 17 a 19 deste mês, na sua terra, que até conseguiu convencer o Álvaro Carvalho a fazer a cobertura fotográfico do evento!...





Lourinhã > Ribamar > Tabanca de Porto Dinheiro > 12 de julho de 2015 > Da esquerda para a direita, (i) primeira fila, António Nunes Lopes (ex-fur mil, CCAÇ 1439); João Crisóstomo (ex-alf mil, CCAÇ 1439); Vilma Crisóstomo; Luís Graça; Helena Carvalho (, filha do Pereira do Enxalé, que morreu em Bissau, em agosto de 1974); (ii) segunda fila, Maria Alice Carneiro, Dina (esposa do Jaime), e Álvaro Carvalho; (terceira fila, Eduardo Jorge Ferreira (ex-alf mil, PA, Bissalanca, 1973/74); Alexandre Rato, presidente da junta de freguesia de Ribamar (que, apanhado à boa fila, teve a gentileza de se juntar a foto de grupo "para mais tarde recordar"; Jaime Bonifácio Marques da Silva (ex-alf mil PQ, BCP 21, Angola, 1970/72); Horácio Fernandes (ex-alf mil capelão, de rendição individual, Catió e Bambadinca, 1967/69) e esposa, Milita.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados[Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

25 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20382: In Memoriam (356): Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019): elegia fúnebre para um amigo e camarada: quando morre um de nós, também morremos todos um pouco (Luís Graça)

25 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20380: In Memoriam (355): Um alfabravo (ABraço), Eduardo, até qualquer dia!

24 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20379: In Memoriam (354): Eduardo Jorge Pinto Ferreira (1952 - 2019), ex-alf mil, Polícia Aérea, BA 12, Bissalanca, 1972/74, régulo da Tabanca de Porto Dinheiro / Lourinhã: o funeral é amanhã, 2ª feira, no Vimeiro, às 14h00


(...) Camarada (de várias frentes!) Luís Graça:

Pois conforme o prometido, aqui estou a inscrever-me no magnífico blogue que em boa hora criaste e que com os contributos dos muitos aderentes se tem continuado a afirmar como espaço de partilha e de amizade entre aqueles que tiveram (e tem) a Guiné como cenário de passagem.

Confesso que fiquei maravilhado e entusiamado com o (ainda pouco) que li e vi no blogue do qual desconhecia a (já sua longa) existência. (...)



(****) 13 de julho de  2015 > Guiné 63/74 - P14872: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (2): Convívio da Tabanca de Porto Dinheiro, 12 de julho de 2015 (Parte I): organização 'impex' do Eduardo Jorge Ferreira (ex-1º cabo inf, do exército luso-britânico que se cobriu de glória na batalha no Vimeiro, em 21/8/1808; ex-alf mil, PA, Bissau, Bissalanca, BA 12, 1973/74)


(*****) Último poste da série > 14 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20343: (De)Caras )115): "Nha Maria Barba" ou Maria da Purificação Pinheiro (Boavista, 1900 - Bissau, 1975): expoente máximo da morna e da morabeza da Boavista, esteve no Porto, no Palácio de Cristal, em 1934, na 1ª Exposição Colonial Portuguesa: notas de leitura de um trabalho de pesquisa biográfica, feita por Antonio Germano Lima, da Universidade de Cabo Verde

Guiné 61/74 - P20384: Efemérides (315): Relembrando a sangrenta Op Abencerragem Candente (subsetor do Xime, 25-26 de novembro de 1970) e homenageando o 1º comandante da CART 2715 (Xime, 1970/72), Vitor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014)


Vitor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014)


1. Vitor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014), cor art ref, DFA, ex-cmdt CART 2715 (Xime, 1970/72).  Membro da Tabanca Grande, nº 781, a título póstumo, entrado em 26/11/2018, 48 anos depois da trágica Op Abencerragem Candente (sobre a qual temos 20 referências no nosso blogue).

Faltava-nos as duas fotos da praxe, uma do Vitor como militar no CTIG, e outra mais recente, digamos dos últimos 10/20 anos. O Benjamim Durães mandou-nos há dias  esta, que reproduzimos acima. 

O Vitor Manuel Amaro dos Santos tem uma dezena de referências no nosso blogue.

Recorde-se o que aqui dissemos sobre o falecido cor art ref, DFA, Vítor Manuel Amaro dos Santos (Lousã, 22/11/1944- Coimbra, 28/2/2014), ex-cmdt da CART 2715 (Xime, 1970/72):

(i) em 2012 falei, em vida,com ele  ao telefone algumas diversas vezes (, primeira, em 13/1/2012);

(ii) ele mandou-me também diversas mensagens de telemóvel que já transcrevi, em grande parte, no nosso blogue, em que ele me falava do pesadelo do "inferno do Xime" (sic), um pesadelo que ele ainda vivia ao fim destes anos todos;:

(iii) ao mesmo tempo, procurava defender não apenas o seu bom nome e honra, como militar, mas também a memória dos mortos e feridos da sua companhia. 

Esta operação ditou o fim da sua comissão de serviço no TO da Guiné. Um mês e pouco depois, por razões de saúde,  é evacuado para o HM 241, em Bissau, e substituído pelo alf mil art José Fernando de Andrade Rodrigues, também já falecido. (*)

2. Da Op Abencerragem Candente, há 49 anos atrás (**),  a mais sangrenta (para as NT) operação no subsetor do Xime, durante a guerra colonial,  de que temos registo e memória, resultaram pesadas baixas: 6 mortos e 9 feridos graves, do nosso lado... Não nos cansamos de os relembrar:

(i) Da CCS/BART 2917, ao serviço da CCAÇ 12: guia e picador SECO CAMARÁ, assalariado; está sepultado em Nova Lamego:

(ii) Da CART 2715 / BART 2917 (Xime, 1970/72):

- Furriel Mil Mec Auto JOAQUIM ARAÚJO CUNHA 14138068; sepultado em Barcelos;

- 1º Cabo Atirador JOSÉ MANUEL RIBEIRO 18849069; sepultado em Lousada.

- Soldado Atirador FERNANDO SOARES 06638369; sepultado em Fafe;

- Soldado Atirador MANUEL SILVA MONTEIRO 17554169; sepultado em em Condeixa-a-Nova;

- Soldado Atirador RUFINO CORREIA OLIVEIRA 17563169; sepultado em Oliveira de Azeméis...

Dos feridos graves (9), helievacuados, não temos infelizmente registo dos seus nomes, tirando o Sold Sajuma Jaló (apontador de bazuca do 4º GR Comb/CCAÇ 12, onde eu ia integrado, como comandante de secção). 

A emboscada, em L, apanhou na "zona de morte"  os 3 Gr Comb do Agr C [ CART 2715] e 1 Gr Comb (4º) do Agr B [CCAÇ 12]. Estiveram envolvidos nesta operação 3 agrupamentos, 8 grupos de combate, cerca de 250 homens em armas.

"O ataque durou cerca de 20 minutos, sendo a retirada do IN apoiada com tiros de mort 82 e canhão s/r (!) que incidiram sobre a antiga estrada Xime-Ponta do Inglês, e especialmente sobre os 2 últimos Gr Comb (1° e 2º) da CCAÇ 12, assim como rajadas enervantes de pistola-metralhadora, de posições que ainda não se haviam revelado, nomeadamente de cima das árvores." (Fonte: poste P1318).

3.  A CART 2715, sita no Xime, teve os seguintes comandantes:

(i) cap art Vitor Manuel Amaro dos Santos;

(ii)  alf mil art José Fernando de Andrade Rodrigues;

(iii) cap art Gualberto Magno Passos Marques;

(iv)  cap inf Artur Bernardino Fontes Monteiro;

(v)  cap inf José Domingos Ferros de Azevedo.

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Notas do editor LG: