Guiné > Região de Tombali > Posição relativa de Cacine, Gadamael e Guileje, na bacia hidrográfica do Rio Cacine, junto à fronteira sul com a Guiné-Concacri (pormenor). Topónimos assinalados a verde.
Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Cacine > Simpósio Internacional de Guileje > Visita dos participantes ao Cantanhez > 2 de Março de 2008 > Cais de Cacine, ao fim da tarde... Cacine é hoje uma povoação decadente... Por aqui passaram importantes contingentes das tropas portugueses, e nomeadamente tropas especiais, como os fuzileiros e os pára-quedistas, nomedamente em Maio, Junho e Julho de 1973, quando o PAIGC lançou uma grande ofensiva contra as nossas posições no sul, em especial no corredor de Guileje: Iemberém, Guileje, Gadamael...
Foto (e legenda): © Luís Graça (2008). Direitos reservados.
Capa do livro de Carmo Vicente - Gadamael: memórias da guerra colonial. 2ª ed. Lisboa: Caso. 1985. 110 pp. Prefácio de Manuel Geraldo (*).
Foto: © Jorge Santos (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do Leopoldo Amado, datada de 7 de Abril de 2008:
Lendo hoje algo sobre Gadamael, apressei-me a reencaminhar-vos o texto de Vicente Carmo que em tempos enviei ao Pepito e que penso que deve ser publicado, pelo menos rcialmente, no nosso blogue, pois dá uma ideia do que foi Gadamael, depois de Guiledje. Leopoldo Amado
2. Mensagem de Leopoldo Amado, de 17 de Outubro de 2007, enviado ao Pepito:
Assunto: Gadamael, de Carmo Vicente
Caro Pepito,
Segue em anexo o prometido texto de Carmo Vicente, inquestionavelmente, dos autores mais ousados da grande gama de literatura de guerra existente sobre a Guiné. Ainda há dias, li uma outra coisa dele sobre os crimes de guerra e fiquei estarrecido.
O texto dele traz-nos inclusivamente alguns nomes que nos são familiares como o do nosso compatriota D... (provavelmente parente do jovem sportinguista e Director da Escola de Formação Profissional da AD, esqueço-me do nome) e ainda do nosso Coutinho e Lima [ex-comandante do COP3, à data do abandono de Guiledje, em 22 de Maio de 1973].
Lamento não o conhecer pessoalmente o Carmo Vicente, pois seria uma presença necessária no Simpósio [Internacional de Guiledje], até pela sua frontalidade e sensatez.
Tentei em vão pôr-me em contacto com ele e descobri, através de uma pequena pesquisa na NET, que o homem é agora empresário do sector da construção civil, possuindo, inclusivamente, uma ou várias empresas que laboram no sector do fornecimento de pedras diversas.
Para além de ser extremamente factual, o texto que agora envio é de tal acutilância que também dá uma ideia aproximada da determinação com que o PAIGC, no Sul, teria conduzido o processo que visava desalojar o Exército português de todo o corredor fronteiriço com a República da Guiné.
Não seria provavelmente má ideia colocar este no blogue [Luís Graça & Camaradas da Guiné] e ficar a espera de reacções que certamente enriqueceriam ainda mais os testemunhos sobre o Sul em geral e sobre Guiledje, Balana e Balana Cinho, em particular.
Talvez devêssemos e pudéssemos criar no site do Simpósio uma secção com textos afins, à semelhança, por exemplo, de alguns outros de Idálio Reis, e a transcrição da entrevista de um ou outro ex-combatente do PAIGC (Umaro Djalo, por exemplo), os quais poderiam ir ajudando a balizar as intervenções, tornando-as mais ricas, na medida em que, a partir daí, certamente os intervenientes teriam de fazer um maior esforço para se distanciarem das evidências e dos lugares-comuns.
Abraço,
Leopoldo Amado
3. 1. Extracto de VICENTE, Carmo - Gadamael. Cacém: Edições Ró. 1982, 1ª ed., pp. 97-105. .
Com devida vénia ao autor e à editora. Revisão e fixação do texto, comentários e subtítulos: LG.
Aviso à navegação:
Chega-nos às mãos, graças ao nosso historiador e amigo Leopoldo Amado, mais uma peça para o dossiê Gadamael... Temos aqui falado muito de Guileje e até de Guidaje, mas pouco de Gadamael.
Este testemunho sobre os acontecimentos de Gadamael são de um 1º sargento paraquedista, Vicente Carmo, da CCP 122/BCP 12 (Guiné, Bissalanca, 1972/74).
Ainda não tive acesso ao livro do Vicente Carmo, Gadamael - Memórias da guerra colonial. A última edição, a 2ª, é de 1985 (Editora Caso, Lisboa). Não faço, por isso, uma recensão do livro que não li, limito-me apenas a rever e a fixar o texto que me chegou, e a torná-la mais legível, através da inserção de subtítulos.
Agradeço ao Leopoldo Amado a sugestão bibliográfica. Devo apenas corrigir uma informação (errónea) que ele nos transmite: a empresa Carmo Vicente Lda, com sede no concelho de Santarém, não tem naada a ver com o nosso camarada paraquedista, cujo paradeiro desconheço. Sei que é DFA. Conforme confirmei pessoalmente, o fundador e sócio-gerente desta firma é um homem muito mais novo (na casa dos 40), que nunca esteve na Guiné e muito menos nos paraquedistas.
O testemunho do Carmo Vicente deve ser lido como mais um contributo, em primeira mão, para o conhecimento de um dos momentos cruciais da Guerra na Guiné, a ofensiva do PAIGC contra o corredor de Guileje, e que começou com a Op Amílcar Cabral, levando à retirada de Guileje pelas NT em 22 de maio de 1973.
Gadamael (bem como Guidaje, a norte) vergaram, mas não caíram. É nosso dever lembrar aqui os combatentes, de um lado e de outro, que morreram nestes ferozes combates... A defesa de Gadamael terá custado cerca de meia centena de mortos, para além de dezenas feridos.
Recorde-se o que na badana do livro, acima citado, se pode ler (*):
"Carmo Vicente é [era em 1985] 1º sargento pára-quedista, tem 38 anos, e participou em 3 comissões de serviço nas frentes de combate da Guiné e Moçambique. Gadamael é uma narrativa apaixonada, mas profundamente crítica, dessa experiência, constituindo mais uma achega importante para a construção histórica do itinerário colonial de parte significativa da juventude portuguesa, entre 1961 e 1975.
"Sobre Carmo Vicente escreve em prefácio Manuel Geraldo: Ao contrário de vários autores que até agora se debruçaram sobre o mesmo tema, Carmo Vicente possui a vantagem de ter sido mobilizado pela 1ª vez como soldado, acabando por chegar a 1973 na situação de 1º sargento, no comando de um pelotão, precisamente em Gadamael. Logo, viveu o conflito em toda a sua plenitude, como 'actor' em escalões progressivos e com graus de sensibilidade diversa. Embarcado para a Guiné em 1966, com a mentalidade de 'cruzado', Carmo Vicente acabaria por descobrir a verdadeira face dos interesses em jogo e do papel que lhe tinham reservado no palco das operações"..
Na página não oficial do Batalhão de Caçadores Pára-quedistas nº 12 – Unidade e Luta (que ironia: era uma expressão muito querida a Amílcar Cabral...), pode entretanto ler-se o seguinte excerto relativamente à actividade operacional das três CCP, no sul da Guiné, no período em referência:
(...) "Apesar dos esforços a situação na Guiné continua a degradar-se. A pressão que os guerrilheiros vinham exercendo sobre os aquartelamentos no Sul do território começou a dar resultados. Em Maio de 1973 os guerrilheiros desencadeiam fortes ataques a Guileje, obrigando mesmo ao abandono do aquartelamento dos militares do Exército. Nas proximidades, Gadamael Porto fica em posição delicada com flagelações frequentes de armas pesadas.
"A 2 de Junho as CCP 122 e CCP 123 são enviadas para Gadamael, seguindo-se no dia 13 a CCP 121. O próprio comandante do BCP 12, Tenente-Coronel Araújo e Sá, tinha assumido o comando das forças que com a guarnição do Exército constituiram o COP 5.
"A posição de Gadamael Porto é organizada defensivamente com abrigos, trincheiras e espaldões, simultaneamente são desencadeadas acções ofensivas sobre os guerrilheiros. A resistência e a determinação das Tropas Pára-quedistas acabaram por surtir efeito e o ímpeto inimigo foi quebrado - Gadamael Porto não caiu.
"A 7 de Julho as CCP 121 e 122 regressam a Bissau e a 17 é a vez da CCP 123, a operação DINOSSAURO PRETO tinha terminado" (...).
Neste excerto sobre Gadamael, da autoria de Carmo Vicente, fala-se também das misérias e grandezas dos nossos paraquedistas... que não eram deuses nem super-homens, eram apenas homens com o resto das NT (os arre-machos, a tropa-macaca...) e os guerrilheiros do PAIGC. Noutro poste publicaremos algumas mensagens, sobre o livro e o seu autor, que nos mandaram alguns dos nossos camaradas da Tabanca Grande (a começar pelos ex-paraquedistas do BCP 12, o Victor Tavares e o Manuel Rebocho), a quem pedi conselho nestes termos:
"Junto vos envio um excerto do livro do Vicente Carmo sobre Gadamael. É já antigo, esse livro. Chegou-me às mãos, ou melhor, foi-me enviado por e-mail pelo Leopoldo Amado, com a sugestão de ser publicado, no todo ou em parte, no nosso blogue... Acontece que tenho reservas, devido à críticas, muito pessoais, que o autor faz ao comandante do seu batalhão (BCP 12) e a alguns dos seus camaradas... Não sei se são justas ou não... Mas vão contra o espírito do nosso blogue.
"Não conheço o livro nem o autor (de quem já publicámos em 11 de Fevereiro de 2007 uma versão sobre os distúrbios ocorridos em Bissau, em Janeiro de 1968). Gostava de ouvir a opinião dos nossos páras, o Victor e o Rebocho, nossos camaradas do BCP 12 (o Vicente era sargento da CCP 122), mas também daqueles que conheceram, de perto, Gadamael, na época em causa (Maio/Julho de 1973): caso do Casimiro Carvalho, do Jorge Canhão, do Hugo Guerra, do Coutinho e Lima... Mas também do Pedro Lauret... Enfim, também solicito o parecer do A. Marques Lopes e do Nuno Rubim, nossos assessores, bem como do Leopoldo, e dos meus queridos co-editores.
"Interessa-me sobretudo o relato (objectivo, isento ?...) sobre os acontecimentos de Gadamael, e não propriamente os juízos de valor sobre os homens... Podem-me dar-me uma ajuda ?"
Acabei por decidir publicar este excerto, em duas partes, omitindo apenas os nomes dos camaradas (do BCP 12) que são alvo de crítica do autor. Segui, no essencial, os preciosos conselhos dos camaradas a quem pedi opinião (incluindo o Victor Tavares e o Manuel Rebocho, que pertenceram a essa unidade e foram dois valorosos combatentes e orgulhosos pára-quedistas).
O depoimento de Carmo Vicente, em livro sob a forma memorialística, é demasiado precioso e importante para ficar por aí, perdido, nas prateleiras de algumas bibliotecas públicas ou nos armazéns dos alfarrabistas. Divulgando este pequeno excerto, homenagemos o autor, os paraquedistas e os demais combatentes, de um lado e de outro, que estiveram na batalha de Gadamael. E sobretudo os mortos, todos os militares e civis que lá perderam a vida, portugueses e guineenses...
Espero que o autor e o editor sejam condescentes connosco e que aceitem a nossa sugestão de uma nova edição. A 2ª edição remonta a 1985. Sugere-se uma 3ª edição, revista e melhorada. A 1º edição tinha diversos erros e gralhas, por falta de um bom revisor de texto. Gralhas, erros ortográficos e pontuação foram agora corrigidos, nesta versão bloguística (mais uma vez, com a devida vénia...). Uma 3ª edição teria seguramente o apoio do nosso blogue.
Segundo o Victor Tavares, o Carmo Vicente terá sido ferido em Gadamael. Ele leu o livro, mas não conheceu operacionalmente o seu camarada, que pertencia a outra companhia do batalhão (a CCP 122). Não estiveram juntos em Gadamael na mesma altura [a CCP 122 e a CCP 123 foram a 2 de Junho de 1973, partindo de Cacine; a CCP 121 foi mais tarde, a 13; e possivelmente cada companhia do BCP 12 ia com missões distintas].
Se alguém souber do paradeiro do Carmo Vicente, que nos contacte.
Titulo do livro: Gadamael
Autor: Carmo Vicente
Editora: Edições Ró
Ano de Publicação: 1982
Local de publicação: Cacém
Páginas referentes ao extracto (I e II Partes), enviado pelo Leopoldo Amado.: pp. 97 à 105.
Gadamael (**) era uma pequena aldeia, situada ao sul da Guiné-Bissau, entre Cacine e Guileje, a escassos três quilómetros da fronteira com a Guiné Conacri. Todo o aldeamento era fortificado. Fora construído pelas forças ocupantes, com a finalidade de controlar a população que, assim, ficava a fazer parte do quartel e sujeita a um regulamento rigoroso, quase militar.
À noite, ninguém podia sair ou entrar no aldeamento. O recolher obrigatório era permanente e começava ao anoitecer, para só acabar com a manhã. Nesse espaço de tempo, quem se aproximasse, podia ser morto, por ser considerado inimigo.
Era, por assim dizer, uma população resignada à sua sorte. Permanecia ali, porque sabia por experiência própria que a vida lhes era mais fácil apesar de tudo, ali do que no mato, onde toda a gente era considerada inimigo, sujeitando-se a ver destruídos os seus haveres, ou ser queimada pelo napalm, que os aviões despejavam todos os dias, sobre a terra mártir da Guiné.
Para além disso, se caíssem prisioneiros, iam sem dúvida parar as mãos da PIDE, coisa nada agradável, pois o tratamento dado por aquela polícia aos prisioneiros era simplesmente brutal.
O facto de se sujeitarem à protecção da tropa, não os transformava contudo em gente dócil e de maneira nenhuma conivente com ela. E muitas vezes era através da população civil que o PAIGC tomava conhecimento de todos os nossos movimentos: saídas para patrulhamentos, efectivos existentes, armamento usado, nomes dos militares mais graduados e por vezes, até, a sua situação familiar.
Quando em abril de 1973 [lapso de memória do autor, deve ser junho de 1973] cheguei a Gadamael, integrado na Companhia de Caçadores Paraquedistas n.º 122, toda a população tinha fugido para o mato ou talvez, e isso é o mais plausível, para a vizinha Guiné, abandonando o aldeamento-quartel, devido aos bombardeamentos constantes do PAIGC. No quartel haviam ficado apenas os militares que constituíam o batalhão ali destacado: uns duzentos homens, entre combatentes e pessoal dos serviços.
Era assim Gadamael Porto. Um local nada agradável, onde eu e mais algumas centenas de camaradas passámos os quarenta mais longos dias, das nossas vidas. Onde muitos caíram para nunca mais se levantarem e outros se estropiaram física e moralmente para o resto dos seus dias.
A minha companhia tinha regressado de uma missão de combate que durara três meses. Em Cabochanque e Cadique tínhamos sofrido alguns mortos e feridos enquanto fazíamos a protecção dos trabalhadores que construíam a nova estrada asfaltada entre Cadique e Jemberém. Uma distância de pouco mais de treze quilómetros que nos ficou à razão de um morto por quilómetro. Ali, vários bons camaradas pagaram, com a vida, aquela obra de fachada estratégica mais que duvidosa, de Spínola.
Entre os mortos, contava-se o meu amigo Teixeira, de Carrazedo de Montenegro [ Valpaços, Vila Real] [...] (***).
Encontrávamo-nos terrivelmente cansados, depois daqueles três meses de mato e como seria lógico iríamos descansar. Era o que nós pensávamos. Porém, não era o que pensava o nosso comandante de Batalhão [...].
Quando chegamos a Bissau, encontramos o comandante à nossa espera. Disse-nos sem grandes rodeios, que nos preparássemos para ir imediatamente para Gadamael Porto. A tropa ali estacionada precisava de nós e não podíamos, nem devíamos, regatear essa ajuda.
Sabíamos o que se estava a passar em Gadamael Porto. Depois da queda da nossa posição fortificada de Guileje, o PAIGC, explorava agora aquele ponto, tentando varrer-nos progressivamente daquela zona que considerava libertada.
Sabíamos que Guileje tinha caído. Nem um só dos nossos homens o ignorava, apesar das informações nesse sentido serem o mais camufladas possível. Sabíamos que o major [ Coutinho e Lima,] que comandava a força ali estacionada, depois de várias apelos a Spínola para lhe mandar ajuda e ter recebido deste, apenas negativas e porque verificou que se ficasse mais um dia que fosse, naquele local, seria massacrado inutilmente, resolveu por sua conta e risco poupar a vida dos seus homens e a sua, abandonando aquela zona, transportando consigo apenas o material de guerra que uma tropa arrasada física e moralmente podia humanamente transportar, através de uma mata rasteira e extremamente cerrada.
Todos os militares que na Guiné davam o corpo ao manifesto apoiaram moralmente a atitude corajosa do comandante do aquartelamento do Guileje. No entanto, Spínola parece não ter sido da mesma opinião, ao mandar prender aquele militar que mais não fez do que livrar de morte certa ou do aprisionamento os militares que comandava, não os deixando morrer pela pátria, nem entrar na galeria dos heróis mortos e esquecidos.
Guiné >Região de Tombali > Gadamael - Porto > s/d [anterior ou posterior a Maio/Junho/Julho de 1973 ? ] > Tabanca, reordenada pelas NT.
Foto: Autores desconhecido. Álbum fotográfico Guiledje Virtual. Gentileza de: © AD -Acção para o Desenvolvimento (2007).
Era realmente necessário, ajudar de qualquer maneira, os nossos camaradas de Gadamael. Tinham sofrido já vários mortos e feridos que era preciso evacuar o mais rápido possível. Nós sabíamos tudo isso e não podíamos, como militares e combatentes que éramos, negar-lhes essa ajuda. [...]
Ninguém de entre nós, estava esclarecido politicamente, o estritamente necessário, para esboçar sequer o mais leve indício de recusa. Todos os camaradas tinham mais medo da prisão do que dos guerrilheiros do PAIGC. Apesar de com estes terem mais probabilidades de morrer, havia sempre a possibilidade de escapar e com a PIDE, nunca se sabia, o que poderia acontecer. Era deste medo colectivo, de desobedecer a uma hierarquia retrógrada, que os grandes senhores se iam governando. Aumentando louvores e galões de mistura com cruzes de guerra e torres espadas, que ultimamente eram distribuídas a indivíduos que nunca tinham posto uma mochila às costas e nunca saíram do ar condicionado dos quartéis-generais.
Guiné > Bissau > A LGF Lira > Os danos no convés, no rufo da casa das máquinas e nos botes de borracha (zebros) dos Fuzileiros... "Em 13 de Janeiro de 1968, a LFG Lira que escoltava a LDG Alfange, depois de ter transportado 3 companhias de FT de S. Vicente para Binta, foi violentamente atacada no Tancroal com RPG, sendo atingida na ponte e no rufo (cobertura) da casa das máquinas. O resultado, além dos estragos materiais, foi dramático: 1 morto e 8 feridos, alguns deles em estado grave, sendo 2 evacuados de helicóptero e 3 de Dornier" (MLS).
Foto e legendas: © Manuel Lema Santos (2007). Direitos reservados.
Saímos de Bissau, numa lancha de desembarque grande (LDG) com rumo a Cacine. Levámos connosco apenas o equipamento necessário para quatro dias. Tempo previsto para a operação que, segundo nos informaram à partida, se destinava a evacuação de toda a tropa e equipamento existente em Gadamael Porto. Tínhamos, segundo a voz do comando, que aguentar a segurança do aquartelamento até a completa retirada do último soldado do Exército. Findo esse trabalho, regressaríamos a Bissau e poderíamos então descansar.
Poucos de nós, acreditavam ainda, nas lindas promessas que nos vinham de cima e na parte que me toca, confesso, que não acreditava mesmo nada. [...] Por isso também daquela vez, não acreditei que a estadia em Gadamael iria ser tão curta como nos queriam fazer crer.
O trajecto entre Bissau e Cacine, foi feito de noite, com todas as luzes apagadas para maior segurança. Os ânimos iam bastante exaltados. Talvez contribuísse para isso a proximidade de três dúzias de salgadeiras (urnas funerárias) que, sem nenhuma preocupação para ocultar a sua presença, viajavam, silenciosamente macabras, no mesmo transporte e apenas a alguns passos de nós. As urnas, ali naquele local e em tão grande quantidade, constituíam a prova irrefutável que as coisas em Gadamael Porto, estavam mesmo feias, levando alguns de nós, se não todos, a pensar que dentro de poucos dias ou até horas poderiam ir ocupar tão sinistras habitações.
Ainda durante a viagem, começaram os protestos dos soldados, por não lhes ter sido dado tempo de descanso prometido. Na sua esmagadora maioria, estavam-se absolutamente nas tintas para a vitória ou a derrota de uma guerra onde tinham sido integrados contra a sua vontade e não lhes interessava mais do que safar a pele, o mais inteira possível. Estavam-se nas tintas para as condecorações e louvores. Foram voluntários para os pára-quedistas, porque lá na aldeia onde sempre viveram lhes tinham dito que lá é que era bom. Que havia boa comida e que teriam uma farda muito bonita e uma boina verde. Que saltariam de paraquedas e que as raparigas se pelavam pelos páras.
Nos últimos anos de guerra, deram-se condecorações e louvores, a combatentes e não combatentes e forjaram-se, criaram-se inventaram-se heróis. A Ditadura estava aflita e as medalhas eram o material mais barato para comprar o sangue e as consciências. E houve tantos que venderam a consciência e o sangue dos outros por um miserável pedaço de metal ou mais uma estrela, ou mais um risquinho amarelo nos ombros...
Depois de várias horas de LDG, chegamos a Cacine e ai começámos a aperceber-nos do perigo real que nos esperava no local para onde inexoravelmente nos estavam a empurrar. Ouvia-se nitidamente, o bombardeamento a que Gadamael estava a ser sujeito, provocado pelas armas pesadas que o PAIGC possuía em abundância. Ao ouvir aqueles rebentamentos, que nos soavam aos ouvidos de forma quase ininterrupta, os soldados vinham perguntar-me:
- Meu sargento, acha que este fogo é nosso, ou dos turras?
À esta pergunta eu dava invariavelmente a mesma resposta, dizendo que não, que aqueles rebentamentos, não eram provocados pelos turras, mas por nós, que eram os nossos obuses 14 em acção. Eu sabia que estava a mentir. Mas que podia eu responder àqueles homens assustados, se lhes dissesse o que pensava daquela situação? Ficariam de certo ainda mais aterrorizados.
Eram aproximadamente dez horas da manha quando saímos de Cacine com rumo a Gadamael. Desta vez o transporte foi feito em LDM (lancha de desembarque médio), que por serem mais pequenas eram mais facilmente manobráveis no rio que ia estreitando à medida que penetrava em terra. Conforme nos aproximávamos ia-se também acentuando o nosso nervosismo que, em alguns de nós, era já perfeitamente visível. Levaríamos connosco, o equipamento necessário para dois dias. Tudo o resto ficou nas LDM.
A quatro ou cinco quilómetros de Gadamael Porto, passamos ordenadamente das LDM para os Zebros (botes de borracha com motor fora de borda) dos fuzileiros. A partir dali, era extremamente perigoso continuar nas lanchas. Os Zebros, muito mais pequenos e de fácil manobra, permitiam-nos um desembarque rápido debaixo de fogo.
Pela primeira vez, desde há muitos anos, foi ordenado o uso do capacete, que apenas tinha sido usado nos primeiros meses da guerra em Angola. Fiquei irritado com esta ordem. O capacete é, neste estilo de luta, um apêndice que não se justifica de modo nenhum e que não compensa o esforço que o combatente despende para o aguentar. Pensei, com uma certa dose de humor negro, que a ordem para usar capacete mais não servia senão para nos dar um aspecto mais viril e mais guerreiro, frente aos militares que em Gadamael, perfeitamente desorganizados, corriam em todas as direcções e tentavam meter-se à força nos barcos que nos levavam a nós.
Chegámos ao cais uns atrás dos outros, e desembarcámos debaixo de uma saraivada de morteirada de cento e vinte milímetros, correndo sempre em direcção às valas que circundavam o quartel que, apesar de mal feitas e pouco profundas, sempre ofereciam mais abrigo do que o terreno plano junto ao cais.
De relance analisei a situação: todo o quartel e aldeamento circundante estavam praticamente destruídos. As granadas de morteiro de cento e vinte milímetros, os foguetões de cento e vinte e dois, que continuavam a explodir por todo o lado tinham dado ao quartel um aspecto quase lunar com crateras por todos os lados. Das instalações do quartel, apenas um ou dois edifícios ainda se mantinha teimosamente de pé, apesar de muito danificados. O que vi nos primeiros minutos deixou-me impressionado. Nunca até aí eu vira nada semelhante, nem sonhara sequer que aquilo fosse possível, naquele tipo de guerra. Parecia um filme rodado no Vietname.
Entretanto, os bombardeamentos continuavam sempre com redobrada intensidade, obrigando-nos a permanecer na vala, quase sem hipótese de pôr a cabeça de fora sem correr o risco de a perder. A experiência que já tinha de situações anteriores dava-me a certeza de que tínhamos ali uma bota difícil senão impossível de descalçar.
Os soldados estavam aterrorizados e só poucos ainda mantinham um certo sangue-frio, frente a situação. A contestação era geral. Não contra os guerrilheiros que nos combatiam, mas sim contra quem nos tinha metido naquela embrulhada. Contra os que tinham ficado em Bissau na sombra agradável dos gabinetes, indiferentes à nossa sorte. Contra os que diziam que uma guerra não pode ser feita sem baixas esquecendo-se que se na realidade nas guerras tem que morrer soldados, sargentos e capitães, também logicamente terão de morrer coronéis e generais. Naquela, infelizmente isso não acontecia e só por essa razão durava já havia doze longos anos.
Os soldados perguntavam o que faziam ali, numa guerra estúpida, lutando contra um inimigo que nunca viam e nem sequer odiavam. Não obtinham resposta. Aqueles que lhe podiam responder, tinham ficado na retaguarda como abutres a espera de poder saborear os louros da vitória ou enjeitar a derrota. Culpando-nos, se a última acontecesse, de falta de combatividade, de coragem, ou eu sei lá que mais para assim poderem fugir aos fracassos de operações mal planeadas.
Que poderiam perceber de contra-guerrilha, homens que nunca tinham posto os pés no mato e cuja teoria e táctica da mesma não ia além da aprendida num casarão da Gomes Freire ou da Amadora ou ainda em alguns manuais feitos pelos generais da brigada do reumático, agarrados possivelmente a normas antigas de fazer a guerra que pouco tinham evoluído desde a batalha do Buçaco. É que muito possivelmente nem saberiam distinguir muito bem, entre o efeito destruidor de uma bomba de foguete desses utilizados nas romarias e uma granada de morteiro de cento e vinte milímetros? E para que haviam os nossos generais-guerrilheiros-improvisados responder a um simples soldado que, apesar de contestatário, lá ia combatendo, dando a vida para que eles pudessem comprar mais um automóvel de luxo e as mulheres e amantes pudessem continuar nas canastradas com as mulheres e amantes dos ministros e outros quejandos?
(Continua > Gadamael - Parte II >
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Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 11 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1515: Antologia (58): A batalha de Bissau em Janeiro de 1968: boinas verdes contra boinas negras... Saldo: 2 mortos (Carmo Vicente)
(...) "1º Sargento Paraquedista Carmo Vicente (...) participou em três comissões de serviço nas frentes de combate da Guiné e Moçambique.
"O testemunho do Sargento Carmo Vicente [sobre os tristes acontecimentos de Bissau, em Janeiro de 1968,] consta na obra Gadamael de sua autoria, das Edições Caso (2ª edição), de Julho de 1985 (páginas 25 a 30).
"Para além da referida obra, Carmo Vicente é também autor de Grades de Novembro, Gritos de Guerra, A Sentença, Era uma vez... 3 guerras em África, entre outras.
(**) Sobre Gadamael, vd. os seguintes postes:
2 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - XCI: Antologia (6): A batalha de Guileje e Gadamael (Afonso M.F. Sousa / Serafim Lobato)
2 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVIII: No corredor da morte (CCAV 8350, Guileje e Gadamael, 1972/73) (Magalhães Ribeiro)
15 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P878: Antologia (42): Os heróis desconhecidos de Gadamael (Parte I)
(...) Trabalho de investigação do jornalista Eduardo Dâmaso (Público, 26 de Junho de 2005) (...)
(...) A revolta do navio Orion, da Marinha portuguesa, no dia 2 de Junho de 1973 foi decisiva para salvar a vida de centenas de soldados e população que fugiram dos bombardeamentos do PAIGC na batalha de Gadamael. Este episódio de desobediência a ordens de Spínola, desconhecido até hoje, é indissociável da resistência travada por meia dúzia de soldados no interior do aquartelamento de Gadamael. As suas histórias são aqui contadas por alguns dos seus protagonistas, como o comandante da Marinha Pedro Lauret, o coronel dos comandos Manuel Ferreira da Silva e o grumete Ulisses Faria Pereira. Eles são, com outros, os heróis desconhecidos de Gadamael. (...)
...) "Seriam uma oito da manhã de 2 de Junho [de 1973] quando a Orion chegou ao largo de Cacine. Foi a essa hora que também chegaram as notícias dos acontecimentos que tinham estado na origem daquela missão.
(...) "O major Pessoa, do batalhão de pára-quedistas [BCP 12] que se encontrava em Cacine, subiu a bordo da Orion e explicou o que se estava a passar: a guarnição de Guileje, um quartel situado numa zona próxima da fronteira com a Guiné-Conakri, tinha sido alvo de ataques fortíssimos e o comandante da unidade, [major] Coutinho e Lima, sem reforços, sem apoio de tropas especiais, sem meios de evacuação de feridos e mortos, decidira retirar do quartel e evacuar todo o pessoal para Gadamael. Foi imediatamente preso e enviado para Bissau às ordens de Spínola. Gadamael estava agora debaixo de fogo intenso e de alta precisão.
"O retrato da situação em Gadamael feita pelo major Pessoa era caótico. 'As últimas indicações indicavam que de um conjunto de efectivos de quase três companhias, só se encontravam no quartel a defender aquela posição cerca de 30 homens. Os restantes e a população encontravam-se em fuga pelas margens do rio', recorda Pedro Lauret.
"A reacção de Spínola à deserção anunciava-se tremenda. O major Pessoa informou então os comandantes do Orion que tinha estado de manhã em Cacine e Gadamael por brevíssimos instantes e tinha proibido o socorro a quaisquer militares em fuga, considerando-os 'uns cobardes'.
(...) "Apesar das ordens de Spínola, a disposição do major Pessoa era outra. 'Informou-nos da urgência de ir socorrer esse pessoal devido ao elevadíssimo risco em que se encontravam. Frisou-nos que se não estivéssemos dispostos a ir contra a determinação do general ele próprio tentaria recuperar os militares, nem que fosse em canoas', afirma Lauret.
"A determinação do major Pessoa, que volvidos trinta e dois anos não quer falar sobre os acontecimentos de Gadamael, percorreu todo o navio. O Orion partiu de imediato em auxílio das tropas fugitivas e nada comunicou ao Comando da Defesa Marítima " (...).
15 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P879: Antologia (43): Os heróis desconhecidos de Gadamael (II Parte).
(...) Um momento alto do encontro do nosso 1º encontro na Ameira [em 2006] foi a evocação da LFG Orion por parte do ranger Casimiro Carvalho: foi através do nosso blogue que ele soube, trinta e três anos depois, que, além dos pára-quedistas [do BCP 12], houve outros anjos da guarda no princípio do mês de Junho de 1973, a guarnição da LFG Orion, representada na nossa tertúlia e no encontro da Ameira pelo comandante Pedro Lauret, na altura oficial imediato do navio (...).
(...) "Quem deu algum ânimo aos poucos que estavam foi desde logo o 1º cabo escriturário Raposo, açoriano, que se voluntariou para fazer o arriscadíssimo trajecto até ao paiol. Enfiou-se numa Berliet e foi buscar munições debaixo de fogo intenso. Gadamael estava cercado, sem artilharia, sem apoio aéreo, sem capitães, sem médico, sem rádio, sem munições de morteiro 81, tinha por companhia apenas três ou quatro militares na linha da frente.
"A bravura do cabo Raposo e do furriel Carvalho, porém, foi um encorajamento para todos. Com o morteiro 81 municiado pelas granadas trazidas na Berliet, com uma metralhadora que conseguiram montar e os tais três ou quatro militares passaram o resto da noite de 1 para 2 de Junho a lançar umas morteiradas e umas rajadas de metralhadora de tempos a tempos. Só no dia 2 de Junho é que se apercebeu que uma parte significativa dos militares que tinha fugido para a tabanca, se tinha deslocado com a população para junto do rio Cacine" (...).
5 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1151: Resposta ao Manuel Rebocho: O papel do Orion na batalha de Guileje/Gadamael (Pedro Lauret)
19 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1613: Com as CCP 121, 122 e 123 em Gadamael, em Junho/Julho de 1973: o outro inferno a sul (Victor Tavares, ex-1º cabo paraquedista)
(...) "Depois de regressada do inferno de Guidaje, a CCP 121 encontrava-se estacionada em Bissalanca, gozando um curto período de descanso, após a desgastante acção que tivera no norte da província.
"Daí o Comando Chefe entender que os 4 a 5 dias de descanso concedidos já eram demais e ser necessário o reforço das nossas tropas aquarteladas em Gadamael por se encontrarem em grandes dificuldades. Acaba, por isso, por dar ordens para rumarmos a Gadamael, para onde partimos a 12 de Junho de 1973.
"Partindo de Bissau em LDG [Lancha de Desembarque Grande] com destino a Cacine, lá chegámos a meio da tarde deste mesmo dia. Como a lancha que nos transportava, não conseguia atracar ao cais por falta de fundo, fomos fazendo o transbordo por várias vezes em LDM [Lanchas de Desembarque Médias] para aquela localidade.
(...) "No dia 13 de Junho, de manhã cedo, preparámo-nos para rumar a Gadamael, sendo transportados em Zebros do Destacamento de Fuzileiros Especiais Africanos nº 21, dois grupos de combate sendo colocados nas margens do rio nas proximidades de Gadamael para onde seguimos em patrulhamento depois de serem desembarcados os outros dois grupos de combate da 121 que foram deslocados em LDM. No regresso, as embarcações seguiram para Cacine com os pára-quedistas da CCP122, aonde iriam recuperar durante um curto período" (...).
25 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1625: José Casimiro Carvalho, dos Piratas de Guileje (CCAV 8350) aos Lacraus de Paunca (CCAÇ 11)
18 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1856: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (5): Gadamael, Junho de 1973: 'Now we have peace'
25 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2481: Guileje: Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008) (11): Malan Camará... e a maldição dos 3 G + 1 J (Manuel Rebocho)
27 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2483: Estórias de Guileje (3): Devo a vida a um milícia que me salvou no Rio Cacine, quando fugia de Gadamael (ex-Fur Mil Art Paiva)
7 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2729: Estórias de Guileje (10): os trânsfugas de Guileje, humilhados e ofendidos (Victor Tavares, CCP 121/BCP 12, 1972/74)
30 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2801: Fotos e relatos de Gadamael, Maio / Julho de 1973, precisam-se (Nuno Rubim)
(...) "Como estou, como é vulgo dizer com a mão na massa, também penso realizar algumas pequenas pesquisas sobre outra saga, desta vez Gadamael.
"Já tenho o levantamento de todas as unidades que por lá passaram, mas naturalmente o que mais me vai ocupar é o período de Maio a Julho de 1973.
"Também seria muito interessante tentar fazer um esboço do que teria sido o aquartelamento nessa altura, sem abrigos blindados como os que houve em Guileje e Gadembel ...Só valas e trincheiras a céu aberto !" (...)
(***) David Ferreira Teixeira, Sold Pára-quedista, da CCP 123/BCP 12, morto em 14 de Abril de 1973.