sábado, 14 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8271: Ser solidário (106): A Associação Tabanca Pequena de Matosinhos visitou Amindara (José Teixeira)


A alegria no meu coração não tem tamanho

Foi desta forma que uma mulher grande em Amindara começou o seu “discurso” de agradecimento, na recente visita que uma delegação da Associação Tabanca Pequena fez a esta Tabanca em plena mata do Cantanhez - Guiné-Bissau.

Apesar da nossa chegada coincidir com a hora do grande calor, que convida à sesta debaixo do mais frondoso poilão, Amindara esperava-nos em festa. O batuque já se fazia ouvir ainda não se avistava a tabanca.

A festa


De um lado da picada, a juventude. Tocadores e dançarinas, vestidas com a vestimenta de ir à missa, como se diz na minha aldeia, aprimoravam-se a espelhar a sua alegria e gratidão pelo poço de água aberto ali mesmo ao lado. Do outro lado, homens e mulheres mais velhos, as pessoas importantes da terra, também elas vestidas a rigor com o melhor traje, esperavam-nos com a mesa posta.


A mesa posta à nossa espera

O Pitéu

Algumas cadeiras vagas à volta da mesa indiciavam que se destinavam aos “ilustres” visitantes. Cumprimentos afetuosos e prolongados. Olhos nos olhos que teimavam em deixar escapar lágrimas de comoção. Abraços de quem nunca se conhecera antes, mas que se irmanara num sonho – ter água potável ali, mesmo no centro da tabanca.

A palavra “obrigado” era repetida continuamente, enquanto do outro lado da picada o batuque subia de tom para prazer dos nossos olhos e ouvidos enquanto as máquinas fotográficas não se cansavam de fazer clic.

Quão belo é todo este ambiente. Novos e velhos, africanos e brancos em animada festa, passados que são quarenta e tantos anos!

Tempo em que os olhos e ouvidos eram desviados para outros fins que não explorar a beleza do ser humano. Era preciso estar a atento a ruídos ou movimentos estranhos que nos podiam roubar a vida num segundo, e… as máquinas também eram outras.

Somos convidados a saborear um excelente petisco cozinhado para nós com todo o esmero e carinho. Esparguete salteado com ostras. Que saboroso petisco!

Infelizmente não nos avisaram, pois queriam fazer-nos uma surpresa. Para azar nosso tínhamos acabado de almoçar em Faro Sadjuma, ali mesmo ao lado um petisco não menos saboroso. O apetite era pouco, mas deu-se um jeito e lá e se fez o sacrifício. Estive tentado a pedir um taparwere e levar as sobras para Iemberém. eh! eh!

Eu bebi água fresca e potável em Amindara

As crianças de Amindara saboreiam o momento

Ainda há muito a fazer em termos de educação para uma vida saudável

Seguiram-se pequenos discursos em Nalu traduzidos pelo nosso anfitrião, o Abubakar, delegado da AD- Acção para o Desenvolvimento na Região. O Pepito andava atarefado na organização de um acampamento para 100 jovens em Varela e também porque queria que a festa fosse só nossa, pois foi a Tabanca Pequena que investiu em Amindara. Devo dizer que tive oportunidade de por duas vezes visitar tabancas juntamente com o Pepito. Ele é sempre recebido em festa, tal como fomos nós em Amindara, em Medjo e em Farim.

Discursou o jovem chefe de tabanca, que nos contou um pouco da história de Amindara e das dificuldades que têm tido em conseguir água. Até há um ano atrás ela era transportada de uma fonte no interior da mata e quando essa secava iam buscá-la à Tabanca de S. Francisco. Continuam a não ter escola.

Seguiu-se no discurso uma mulher. Começou com uma frase que dá que pensar.

A alegria no meu coração não tem tamanho, porque eu queria água dar de beber às crianças e não tinha; queria água para cozinhar e não tinha, queria água para lavar a roupa e não tinha…

Quando Pepito ouviu o nosso pedido e disse que iam construir um poço fiquei muito contente. Hoje sou uma mulher feliz.

Seguiu-se outra mulher no discurso. O tema foi o mesmo. Os benefícios para a população por ter água na tabanca. A higiene e limpeza, a pureza da água que reduz as doenças tantas delas fatais, sobretudo nas crianças, as hortinhas de legumes...

A mindjer garandi botou discurso pra partir mantenhas gradecer

 
Uma plateia atenta...

Para a posteridade

Agora só falta a escola, dizia-me um homem de cabelo branco.

Depois… as palavras parece que se recusavam a sair da minha boca, talvez um pouco aturdido com tanta alegria. Eu estava encantado e feliz, mas não conseguia expressar por palavras este estado de espírito.

Amindara foi o inicio de um projecto. Temos de seguir em frente. contrariamente ao que alguns afirmam, a Guiné-Bissau precisa de abrir muitos poços de água para poder atender às necessidades de uma população em crescimento, cuja idade média de vida é 47 anos.

[Texto e fotos de José Teixeira, membro da Direcção da Tabanca Pequena, Grupo de Amigos da Guiné-Bissau (ONGD), enviado em mensagem do dia 9 de Maio de 2011]
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8126: Ser solidário (105): 10 poços de água potável para o Cantanhez ... No dia Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, dedicado à "Agua, cultura e património"... e 3 dias depois do Zé Teixeira realizar um sonho...

Guiné 63/74 - P8270: Convívios (338): 5º Encontro/Convívio da CCS do BART 2917, em Montemor-o-Velho, 18 de Junho (Benjamim Durães)


1. O nosso Camarada Benjamim Durães (ex-Fur Mil Op Esp/RANGER do Pel Rec Inf, CCS/BART 2917 – Bambadinca -, 1970/72), enviou-nos um convite para a festa anual da sua Companhia e de todas as unidades que estiveram sob o comando do BART 2917.
5º ENCONTRO-CONVÍVIO DA CCS / BART 2917MONTEMOR-O-VELHO
18 DE JUNHO DE 2011
Mobilizam-se os ex-Militares, Familiares e Amigos da CCS/BART 2917 e de todas as Unidades Militares que estiveram sob o Comando do BART 2917 [Cart 2714, 2715 e 2716, CCaç 12; Pel Caç Nat 52, 53 e 63, Pel Rec Daimler 2206 e 3085, Pel Mort 2106 e 2268, Pel Intend A/D 2189 e 3050, 20º Pel Art/GAC 7 e Pel Eng do BENG 447 de Bambadinca], para o para o seu 5º ENCONTRO/CONVÍVIO que vai decorrer no próximo dia 18 de Junho de 2011, a partir das 09h00, no Castelo de Montemor-o-Velho.

O Convívio é no Restaurante “Encosta de São Pedro”, que fica no Bairro de São Pedro na Carapinheira. (com as coordenadas N – 40º 12’ 06” / O - 8º 38’ 36”).
O custo é de 35,00 Euros para adultos e 20,00 Euros para crianças (dos 08 aos 12 anos).


Para quem vier pela Auto Estrada, em Coimbra-Norte toma da Auto Estrada 14 (A14) e sai em Montemor-o-Velho. Depois dirige-se ao Castelo de Montemor-O-Velho (ver no mapa).

Quanto à estadia, a Organização sugere o HOTEL IBIS, na Figueira da Foz (a 100 metros do Casino). Se a marcação for efectuada através da Internet no endereço http://www.ibishotel.com/pt/hotel-2104-ibis-figueira-da-foz/index.shtml o custo é de 35,00 Euros/noite, mas se a for por Telefone: 233 408 190 ou por Fax: 233 408 195 o custo é de 45,00 Euros/noite. A estes valores acresce 6,00 Euros se incluir o pequeno-almoço.

Para quem não tiver computador, poderá solicitar à Organização, que marcará o alojamento.

A organização está a cargo de BENJAMIM DURÃES (Fur Mil) e JOSÉ GONÇALVES SILVA (1º Cabo Radiotelegrafista), ambos da CCS/BART 2917.

Solicita-se a todos os ex-Camaradas de armas que confirmem até dia 05 de Junho as suas presenças, para o BENJAMIM DURÃES – Telemóvel: 93 93 93 315 ou pelo e-mail: duraes.2917@hotmail.com

Para outros casos relacionados com o evento liguem para o JOSÉ GONÇALVES SILVA – Telemóvel: 91 725 33 60; Telefone 239 951 359 ou e-ma: geral@iobom.com; ou filipe.iobom@gmail.com

A ORGANIZAÇÃO:

BENJAMIM DURÃES – Telemóvel 93 93 93 315 - E-Mail : duraes.2917@hotmail.com;

JOSÉ ANTUNES GONÇALVES SILVA – Telemóvel 91 725 33 60 – Telefone - 239 951 359 / 239 951 718 (Empr) – e-mail: geral@iobom.com ou filipe.iobom@gmail.com
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Nota de M.R.:

Vd. o último poste desta série em:
13 de Maio de 2011 >
Guiné 63/74 - P8268: Convívios (331): Pessoal da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (Os Terríveis), dia 28 de Maio de 2011 em Fátima (Manuel Maia / Vitor Cordeiro)

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8269: (Ex)citações (138): Ainda o caso das fotografias das bajudas (Joaquim Mexia Alves)


1. Comentário de Joaquim Mexia Alves [, o mais alteirão, ao centro, na foto acima, em grupo, em Bolama, acabado de chegar à Guiné, em finais de 1971], de 12 de Maio de 2011, ao poste P8239

Meus caros camarigos:

Estive para não comentar o comentário do Filipe, bem com o outro seguinte do Alberto Guerreiro, mas não aguentei e foi mais forte do que eu.

É que, quando se querem ver as coisas apenas para servir certas convicções, sejam elas de que lado forem, a visão estreita-se, e toma-se a excepção pelo todo.

É que, no fundo, estes comentários vêm sustentar a teoria do anónimo/pseudónimo e vêm sobretudo lançar um labéu sobre os militares portugueses, pelo menos na Guiné.

Como muito bem escreve o Carlos Vinhal, o que eu vi na sua esmagadora maioria, foi um entendimento amigável entre as populações, bajudas ou não bajudas, e os militares portugueses.

O que eu vi foi por vezes deslocações urgentes em pequenas colunas perigosas por causa de uma grávida ou qualquer outro problema.

O que eu vi foram evacuações de elementos da população, desde bajudas a gente mais velha, por causa de diversíssimos problemas.

O que eu vi foi até alguns casos de "paixonetas" ou mesmo "paixões" que provocaram desentendimentos saudáveis.

O que vi no fundo foi muito mais positivo do que negativo.

Se houve problemas como os relatados? Com certeza que houve, porque no meio dos homens bons existem sempre algumas "ovelhas ranhosas"!

Agora também sei e também vi, e também eu próprio passei as minhas "piçadas", quando alguns desses casos eram do conhecimento dos comandos.

E depois vêm as comparações sobre o seu próprio comportamento, que claro, está acima de todos os outros! Até havia alguns como ele, poucos, pelos vistos!!!

E depois ainda o inicio, «Se omitirem este comments, agradecia que o referissem, tal como o seu autor».

Porque é que raio os editores haviam de omitir um comentário assinado e perfeitamente referenciado ?!

O que importa perceber, é que lá por não se assacarem aos militares portugueses as maiores "malfeitorias", que afinal foram só de alguns e muito poucos, não significa que se está a fazer a apologia da guerra, ou seja do que for, mas sim a referir a verdade da maioria esmagadora do comportamento dos militares portugueses.

Um abraço ao Filipe ao Alberto Guerreiro e a todos.
Joaquim Mexia Alves
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Nota do editor:

Último poste da série > 17 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8114: (Ex)citações (137): Mansambo, a emoção do Torcato Mendonça, o memorial da CART 2339 (1968/69)...

Guiné 63/74 - P8268: Convívios (337): Pessoal da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (Os Terríveis), dia 28 de Maio de 2011 em Fátima (Manuel Maia / Vitor Cordeiro)

8.º CONVÍVIO DA 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/72 (OS TERRÍVEIS)
DIA 28 DE MAIO EM FÁTIMA




(Clicar nas imagens para ampliar)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8262: Convívios (330): Ronco do pessoal da CCS/BCAÇ 2845, realizado no dia 7 de Maio de 2011 na Mealhada (Albino Silva)

Guiné 63/74 - P8267: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (17): O Cabo velho

1. Mensagem José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 27 de Abril de 2011:

Caro Vinhal
Eis mais uma pequena história para integrar as "Memórias boas da minha guerra".
Esta do "Cabo Velho", passou-se em Espinho no Verão de 1966, no Quartel GACA 3.

Espero que contribua para a malta reviver histórias idênticas.

Um abraço do
Silva

13.º Pelotão/3.ª Incorporação de 1966 > Com esta alegria ainda não se pensa ir para a guerra


Memórias boas da minha guerra (17)

O Cabo velho

O GACA 3 (Grupo de Artilharia Contra Aeronaves nº 3) de Espinho, também conhecido pelo nome de “Grande Asilo de Crianças Abandonadas”, funcionava como Centro de Instrução e, também, de Recrutamento dos novos mancebos. Ali, recebíamos os jovens provenientes do norte do País, cada um com a sua personalidade bem vincada, também pelos receios bem evidentes. Porém, também uma grande parte deles trazia uma pontinha de manha, normalmente transmitida pelos seus amigos ex-militares. Nós, os “recepcionistas”, fartávamo-nos de nos divertir com as situações que se iam criando. Aliás, a conversa fora do serviço versava exactamente sobre as situações que cada graduado tinha vivido e que trazia para o nosso grupo de Milicianos.

Entre a Torre de Comando (que servia também para o controlo do movimento na pista de aviação) e a messe, havia um pequeno pavilhão pré-fabricado, onde funcionava o Posto Médico. Apenas me lembro que secretária do médico estava virada para a porta, aberta, por onde entravam os mancebos um a um, a fim de ser injectados com a “vacina de cavalo”. Cá fora, em fila, estendia-se o resto do grupo.

Eram mais de 11h30. Estávamos em finais de Junho (1966), na força do calor. Os mancebos, a partir das 8h00, andam de um lado para outro, em grupos, a “oficializar” a sua entrada no serviço militar. Arrastavam consigo as malas e os sacos com os seus haveres. De entre eles, havia um que não largava um embrulho de papel gorduroso, através do qual já se viam umas iscas de bacalhau frito. Estavam todos em tronco nu à espera da “injecção” do maqueiro Carneiro, conhecido também por Carniceiro. Este parecendo querer mostrar a sua “coragem” e desamor ao próximo, tinha prazer em aplicar, em cada ombro esquerdo, uma agulha das grandes, que, com a sua coroa metálica a brilhar ao sol, fornecia um espectáculo digno de um filme de terror. E como era diligente no seu serviço, logo que tinha uma agulha livre, corria para a próxima vítima. Digamos que fazia tudo para esmorecer os mancebos, desde a aplicação da agulha (tipo cavadela de enxada), até ao acompanhamento gutural-sonoro do seu esforço. Conseguia “apunhalar” cerca de 15 em lista de espera (não havia mais agulhas…).

- Que se passa? – perguntou o Comandante, Major Calejo, que passava junto ao Betinho da Foz, sentado à sombra, aparentando desfalecimento.

O Betinho limitou-se a apontar na direcção daquele espectáculo de ombros nus, com as agulhas espetadas e alinhadas, parecendo postes de alta tensão com ninhos de Cegonha, a atravessar o vale do Baixo Vouga.

O Carniceiro, digo, o Carneiro, logo informou-o que aquele já era o terceiro que tinha desmaiado.

O Major foi-se aproximando e ao verificar que o Fernandes, de Paredes do Coura, tinha sobre o regaço o embrulho gorduroso das iscas de bacalhau, já carregado de moscas, virou-se para ele e investiu:

- Ó rapaz larga lá essa merda, que até incomodas os teus camaradas.

Ao mesmo tempo que lhe estendia as mãos, acrescentou:

- Dá cá isso que eu guardo ali.

O Fernandes, que estava de “pé-atrás”, respondeu:

- Vai-te foder, morcão. Não querias mais nada, cabo velho? O meu irmão bem me avisou: tem cuidado com os mais velhos, que eles roubam tudo.

Silva da Cart 1689
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8199: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (16): Galinha? Cá tem

Guiné 63/74 - P8266: Notas de leitura (238): Estudos, Ensaios e Documentos - Contribuição para o Estudo do Problema Florestal da Guiné Portuguesa (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Abril de 2011:

Queridos amigos,
Os estudiosos da biologia das essências florestais da Guiné portuguesa deixaram aos leigos um texto totalmente indigesto tanto nas notas agrológicas, nos inúmeros quadros com parcelas de estudo em que as espécies são apresentadas em latim. Usam uma linguagem científica, aqui e acolá percebemos que estão a falar do bissilão, do pau-sangue, do pau-incenso, do pau-conta, do pau-de-sangue-branco. A certa altura o relator deslumbra-se e diz que a tabá é uma essência dominante na biologia da floresta, pelo seu magnífico coberto, como a imagem documenta.
O estudo inclui fotografias espantosas com as farrobas de lala que ouvia quase todos os dias entre Maná e Chicri, quando ia montar vigilância aos barcos que passavam por Mato de Cão. Os estudiosos queixam-se das queimadas que feitas tão arbitrariamente estavam a impedir a regeneração florestal (a situação, ao que parece, agravou-se consideravelmente na Guiné de hoje).

Outro aspecto curioso do estudo é o tom pessimista utilizado, escreve-se mesmo: “O futuro da riqueza florestal da província apresentar perspectivas poucos animadoras, pois a regeneração natural não permite a manutenção das essências valiosas… Dentro de 40 anos o bissilão terá praticamente desaparecido da floresta seca aberta da nossa Guiné ou, pelo menos, deixará de ter valor económico, atendendo a que podem ficar ainda alguns bissilões defeituosos sem interesse madeireiro”.
Pelos vistos, há mais de 60 anos que ronda a apreensão sobre o futuro das belíssimas e riquíssimas florestas guineenses.

Um abraço do
Mário


Feitiço e assombro das florestas guineenses

Beja Santos

Não é de mais insistir que a década de 50 do século passado foi pródiga em levantamentos científicos na então Guiné portuguesa. Quatro estudiosos deslocaram-se à então província para proceder ao reconhecimento florestal, já então a produção madeireira era uma cobiçada riqueza, impunha-se proceder a uma avaliação do coberto florestal e das consequências ecológicas face à exploração madeireira e até às actividades agrícolas. Nos primeiros meses de 1954, uma equipa chefiada pelo engenheiro agrónomo José Diogo Sampayo d’Orey, director agrícola do Museu Agrícola do Ultramar encetou um estudo que ficou limitado às regiões florestais de Farim e do Cantanhez, a primeira caracterizada pelo seu valor económico e a segunda pela sua especial composição florística.

Como se compreenderá, só se carreia para o blogue o fascínio da imagem, não se vai dissertar sobre ciência florestal nem sobre os valores dos solos. Os estudiosos deleitaram-se, sente-se na escrita, satisfeita e exaltada. Falando dos solos da região de Farim, pontificam: a cor do horizonte superficial é geralmente cinzenta a cinzenta-escura; nos horizontes inferiores, a cor é um tanto variável: desde a cinzenta a parda e castanha, podendo nalguns casos apresentar estas cores com tonalidade avermelhada. A textura varia bastante. Os horizontes superficiais têm geralmente textura franco-arenosa a arenosa. Tal como o jargão que utilizam para os solos da região do Cantanhez, a saber: cor normalmente vermelha, podendo passar ao laranja ou pardo-avermelhado. Ainda que o horizonte superficial nalguns casos seja franco-arenoso, em geral o perfil tem textura franco-argilo-arenosa a argilo-arenosa.

Passando para as florestas, o relatório é indecifrável para os leigos, analisam parcela a parcela. Glorificam estratos herbáceos e arbustivos, falam na regeneração dessas espécies, identificam as árvores da floresta seca aberta de Farim e da floresta seca densa da região do Cantanhez. O que não se pode perceber do estudo não impede que se sinta o esplendor dessas matas por onde andámos, cruzadas por lalas, muitas vezes tendo na orla tarrafe emaranhado, fica-se mesmo a meditar nas lanchas que desembarcavam operacionais que tinham muitas vezes à espera os galheiros na orla da mata, favorecidos pela visibilidade e pela sua natural submersão dentro da massa florestal.

O livro “Contribuição para o estudo do problema florestal da Guiné portuguesa” data de 1956 e foi editado pela Junta de Investigações do Ultramar. Do acervo fotográfico seleccionam-se arbitrariamente algumas imagens ligadas ao nosso passado, à antevisão dos perigos, àquelas travessias que fizemos com alma em desassossego. E o que é curioso é o assombro que rescende do Cantanhez. Dizia o almirante Teixeira da Mota (e ele calcorreou muita África e conheceu a Guiné de ponta a ponta) que o Cantanhez é a mais linda floresta do mundo, o facto é que no mínimo a única fotografia a cores do livro deixa-nos extasiados com a altura das copas e a espessura do verde. Pois vejamos as imagens:



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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 10 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8253: Notas de leitura (237): Eduardo Malta, a Exposição Colonial Portuguesa (Porto, 1934) e a Guiné (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P8265: Controvérsias (124): Ainda as fotos... (José Brás)



1. Mensagem do nosso camarada José Brás* (ex-Fur Mil, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), com data de 11 de Maio de 2011:

Carlos
Como sempre estás à vontade para editar, guardar ou deitar fora

Um abraço
José Brás



Foto: © Benjamim Durães (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


AINDA AS FOTOS...

José Brás

Tenho andado afastado da intervenção regular no Blogue e nem saberia explicar-me bem porquê, se o perguntasse a mim próprio, a não ser que pudesse dar um mergulho no subconsciente para buscar essa necessidade de reciclagem, de que fala o tal "Jomar" que não sei quem seja, porque tanto pode ser João como José ou Joaquim, Marques ou Martins ou Marcolino; ou pescador, de peixe mesmo, ou de polémicas, ou de imagens mal definidas, de conceitos, de preconceitos, de complexos edipianos ou outros.

Continuando, uma visita de vez em quando, ver os poster de cada um, as informações dos editores e ala milhano para outras margens que me chamam daqui e dali... ou de mim próprio.

Claro que vi as belas fotos postadas pelo António Teixeira e, ainda que não as postasse eu, questão apenas de diferenças de feitio em cada qual, mesmo sem qualificação de virtudes, não deixei de as admirar sem medos seja do que for, nem desse velhíssimo espírito de restrição e de pecado que nos habita a todos e habitará por muito tempo, transformando o corpo numa tentação demoníaca, só quebrada pelo divino dever de procriar, coitando de vestes espessas e de luz apagada.

Não tenho muitas fotos da guerra e apenas uma ou duas de braço pelos ombros de bajuda de "mama firmada". Mas não esquecerei nunca umas tantas que encontrei, sobretudo em Aldeia Formosa, Colibuia e Cumbijã porque em Medjo não havia, que me lembre, não me esquecerei do espanto que era a descoberta desses belíssimos corpos nem do apelo de macho espiritual e biológico que sentia, olhando-as.

Se pudéssemos perguntar a essas mulheres africanas que conheci se alguma vez as molestei ou se tentei usar de poderes para as ter, ou se, sequer, as mal-tratei de palavra ou acto, poderíamos ouvir dizer sem qualquer dúvida que não. Se perguntássemos a uma ou duas se me acostei, poderíamos ouvir que sim. E que culpa será essa que me condenaria às penas do inferno de Jomar?

Já tenho sido severamente comentado por dizer que a mulher reúne em si a imagem do que de mais belo e perfeito tem o mundo, sendo no meu pensar, inclusive, um ser e quase tudo superior ao homem que tem dominado as sociedades e ocultado nisso as suas debilidades.

Ainda agora, a um camarada que me enviou uma mensagem alegadamente irónica com um grosso book que seria o primeiro volume de um tratado para entender a mulher, respondi que não careço de a compreender se posso amá-la... simplesmente, mesmo nos seus mistérios.

Dizem que África foi o princípio de tudo e também, logicamente dessa mulher que nasceu autónoma da famosa costela de macho. Não será isso alheio à minha admiração pelos seus traços teluricamente firmes, sobretudo enquanto a dureza da vida lhes permite.

Jomar lê muito mal, talvez à luz das suas próprias contradições e traumas, o que diz José Belo: "Ah! "Bajudas de todas as tropas; de todas as guarnições militares; de todas as histórias e de todos os impérios do mundo! Lavar roupa era função "oficial". Quantas mais? Substituem todas as necessidades "práticas", e não só, pois as sentimentais "sublimadas" também por lá andariam. Alguns diziam-nas exploradas e utilizadas. Outros, mais cínicos, diziam ser elas que exploravam e utilizavam. Mas, as vantagens seriam mútuas. E, na maioria dos casos, também (e principalmente) para as famílias que, na sombra, lá estavam. Onde acabava o "patacão" e começava o "amor"? (Ou seria vice-versa?). Com o passar das muitas décadas as tonalidades tornam-se cada vez mais... "cor-de-rosa"... e ainda bem!"

Acaso não é verdade que desde a longa história que conhecemos, mulheres acompanhavam os exércitos em movimento, ou eles se juntavam nos "altos" para lhes prestarem serviços práticos de vários tipos, incluindo a venda de sexo?

E será que alguém tem dúvidas que também assim continuará a ser na desgraçada sina humana das guerras que aí virão?

E não é verdade que, mesmo nessas condições extremas de sobrevivência e comércio, muitas vezes "os sentimentos sublimados" não explodiam e mesmo o amor em formas sublimes?

"Quem diria que mulheres pudessem suportar as fadigas daquela campanha, quando a virilidade do homem às vezes fraquejava? No entanto, cerca de cinquenta mulheres, representantes do belo sexo, compartilharam todas as peripécias da longa marcha, seguiam maridos ou amásios, rivalizando com eles até em bravura [...] Apesar da conformação física mais fraca e mesmo da inferioridade biológica, elas nunca demonstraram fraqueza. É que a alma simples da mulher brasileira é feita de sacrifícios e de martírios [...] é esse o sentimento que fez das vivandeiras umas abnegadas".

Esta "peça" pertence ao Capitão Ítalo Landucci, integrante da Coluna Prestes que, entre 1924 e 1927 atravessou todo o Brasil na tentativa de uma revolução popular contra a oligarquia brasileira, é uma homenagem e a exaltação da mulher ou a condenação do homem que a desejava mesmo naquela condições terríveis?

E que dizer de Brecht e das "suas" prostitutas, dos "seus" bares de vinho e mulheres, dos "seus" juízes nivelados ao homem comum na comum ânsia do homem pelo corpo e pela alma da mulher?

Quanta poesia e que bela poesia tem saído da alma dos poetas na justa e libidinosa imagem da mulher?

Quantos feitos grandiosos se cometeram no mundo sob a asa inspiradora do amor carnal e espiritual de homens crápulas ou santos, mussulmanos ou cristãos, administradores ou guerreiros?

E que tem Jomar de tão preconceituoso contra o comércio do sexo? A venda do corpo? A venda da aparência de sentimentos que se têm como para serem partilhados apenas na gloriosa intimidade de dois serem que se encontram? Muito teríamos para falar sobre o assunto se o espaço e a sabedoria nos permitissem, mesmo sem pôr em questão esse ofício de dar filhos, muitas vezes a esposos que não se amam e que tratam esposas como coisa necessária e útil apenas.

Levemente abordei já esta questão aqui no Blogue no troco que dei a poste infeliz aqui editado há meses.

Também, quer no "Vindimas no Capim", quer (e em especial) no "Lugares de Passagem", através da figura de Mominato, tento um entendimento que desejo mais próximo da realidade, naquela perspectiva de José Alencar sobre o índio Guarani.

Na visão de Jomar deve ser tarado sexual todo o homem que entusiasma perante um corpo de mulher.

O soldado português, na sua grande maioria, saía de uma sociedade restritiva e castigadora do corpo e do sexo, sem nenhuma experiência sexual para além de uma ou outra oportunidade com prostituta de feira.

Algumas vezes se terá excedido na descoberta de uma mulher jovem, bonita e desnuda, na confusão que a sua pequena formação cultural e visão do mundo, em confronto com o seu desejo de guerreiro jovem lhe transmitia.
T
alvez se tenham cometido um ou outro crime nas relações de poder que se estabelecem nestas condições de poder.

Contudo, não é essa linha que marca a presença do soldado português na generalidade para além das brincadeira quase ingénuas, nem faz do exército ou do povo entidades abusadoras, como não me faz a mim ou País, entidades especuladoras apenas porque temos a nacionalidade em comum com Belmiro de Azevedo, nem incendiários apenas porque somos da mesma terra de Dias Loureiro, o homem do negócio do fogo.

Criminoso, na África ou aqui, em meu entender, é o uso do poder para forçar uma aquiescência, seja ela de que tipo for, e sexual, por maioria das razões espirituais que o acto envolve.

As fotos de António Teixeira no Blogue (já disse que eu não exporia), não enquadram, nem de perto nem de longe, tal abuso ou intenção e isso foi largamente defendido e fundamentado nos muitos comentários que se editaram.

Estou mesmo de acordo com José Belo quando diz "diziam ser elas que exploravam e utilizavam.", quando me apercebo nas fotos, da gaiatice malandra do olhar dessas bajudas, como que gozando a confusão do branco. E nisso não vejo qualquer mal, nem da parte de um nem do outro, crendo que quem vê qualquer mal aí, é quem tem a alma ainda atada por um espírito feudal das relações homem/mulher, quem lá no fundo tem ainda as marcas da negação do prazer sexual à mulher, quer ela seja negra como nas fotos em questão, quer seja de pele branca, já que da mesma cor serão os espíritos de ambas, diferenciadas apenas pelas culturas de cada qual.

A reacção de Jomar a mim me parece muito mais denunciadora de desvios negativos sobre a mulher, sobre o respeito e a exaltação que a mulher, de corpo e alma, nos merece.

José Brás
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 21 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7978: Blogpoesia (125): O cuco sabe que o Sol voltará ao Monfurado (José Brás)

Vd. último poste da série de 13 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8263: Controvérsias (123): A guerra. As realidades locais e as bajudas de mama firmada (José Belo)

Guiné 63/74 - P8264: O Mundo é Pequeno e a Nossa Tabanca... é Grande (42): Foram localizados os dois jovens carregadores que aparecem na foto junto Cap Mil Vasco da Gama (Pepito / Vasco da Gama)


Guiné > Região de Tombali > Cumbijã > CCAV 8351 (Cumbijã, 1972/74) > Setembro de 1973 > O Cap Mil Cav Vasco da Gama mais os dois seus jovens carregadores, Umaru Seide e Issa Seide (mais conhecido por Mário).

 Foto: © Vasco da Gama (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso amigo Pepito, de Bissau [, foto à esquerda]:

Data: 9 de Maio de 2011 18:37

Assunto: Amigos do Capitão Vasco da Gama

Amigo Luís,

Aqui está o resultado do trabalho de terreno do Mamadu Ali Jaló, neto do Tcherno Rachid e filho do actual Califa de Quebo. Conseguiu identificar as pessoas procuradas.
abraço
pepito





Guiné-Bissau > Região de Tombali > Umaru Seide e Issa Seid, ontem em Cumbijã (1973) e hoje (algures na Guiné-Bissau, possivelmente Colibuía, onde vivem, ou talvez em Quebo)


Foto: © Mamadu Ali Jaló / Pepito (2011). Todos os direitos reservados


2. Mail do Mamadu Ali Jalo (a quem saudamos e, desde já, convidamos a integrar formalmente o nosso blogue, sentando-se sob o frondoso, ecuménico e fraterno poilão da nossa Tabanca Grande)


Data: 9 de Maio de 2011 17:27

Assunto: Amigos do Capitão Vasco da Gama

Boa tarde, Caro Engº

Consegui descobrir (encontrar) os amigos do Capitão Vasco da Gama, da CCAV 8351, na foto de Cumbijã em 1973.

São estes senhores: Umaro Seide e Issa Seide, vulgo Mário. Cada um se identifica atrás da sua imagem na foto com Capitão Vasco.

Os seus contactos são: Umaro Seide > + 6747321: Issa Seide > + 6078283.

Respeitosamente,
Ali Jaló

3. Comentário do Vasco da Gama, Buarcos, com data de ontem:

Foi através desta fotografia tirada no Cumbijã em Setembro de 1973 [, vd. foto acima,] que o Pepito conseguiu encontrar [, através do Mamadu Ali Jaló,] estes meus queridos amigos que o tempo transformou nos homens grandes de hoje. 

O Cumbijã não tinha população e viviam apenas os Tigres [, o pessoal da CCAV 8351,] mais três jovens que eram os nossos carregadores nas contínuas saídas para o mato. Eram eles o Umaru e o Mário que estão na fotografia comigo, e ainda o Iaia.

Ontem telefonei mais de uma dúzia de vezes e não consegui falar com nenhum deles. Hoje, logo pela manhã apanhei o Issa, que nós chamávamos de Mário não sei porquê, e não te sei dizer quem se emocionou mais. O Mário repetia incessantemente : 
- Capitão está vivo, capitão está vivo, tigres, tigres...
E eu, sempre cheio de coragem para estas coisas, choramingava de alegria, como se tivesse encontrado um familiar que julgara perdido.

O Issa tem doze filhos e o Umarú ficou-se pelos nove. Estão todos de saúde e eu prometi que para o ano os ia visitar na companhia da minha mulher e de um casal amigo e bloguista da nossa Tabanca.

A meio da tarde telefonou-me o Issa para pedir para eu ligar às 18horas, pois assim falaria com os três. Linha, cá tem. Estou, vai para três quartos de hora a ouvir a voz da menina MTN......

Que pena que eu tenho de não conseguir ligação, mas sei que Colibuía, onde os três habitam, tem dificuldades de contacto!

Estou feliz como uma criança a quem deram uma prenda que ela há muito ansiava receber.

Agora sim, vou à regressar à Guiné! Obrigado, Pepito, obrigado Ali Jaló, obrigado Umaru, obrigado Issa, obrigado Iaia, obrigado Luís Graça, por serem meus amigos.

Que melhor há do que a amizade entre os homens?


P.S. - Por detrás do trio fotografado, pode ver-se o meu duche e a minha suite, primeira. O chapéu que eu usei numa ida a Aldeia Formosa deu-me direito a um raspanete do Comandante do Batalhão quando me viu empoleirado na Berliet a entrar mal ataviado e a levantar demasiado pó nos domínios de sua Excelência. O que se seguiu terá de ser contado por outrem, que não eu.
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P8263: Controvérsias (123): A guerra. As realidades locais e as bajudas de mama firmada (José Belo)

1. Mensagem de José Belo (*), ex Alf Mil Inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, actualmente Cap Inf Ref, a viver na Suécia, com data de 10 de Maio de 2011:

Caros Editores e Camaradas.
Näo sei se devido às inúmeras deslocações minhas, alguns dos e-mails por mim enviados lhes terão chegado ao conhecimento."Espero" que sim.

Nos últimos postes sobre bajudas, surgiu alguma incompreensäo quanto ao "meio" real dos contactos entre os nossos jovens soldados e as mesmas. Por muito incompreensível que possa ser para quem por lá não andou, muito havia TAMBÉM de romantismo lusitano à mistura com uma iniciacäo sexual (!) da parte dos mesmos, vindos na maioria de meios rurais bem conservadores. Escrevi algo sobre este assunto aparentemente até agora não focado.

Um abraco do José Belo.


A guerra. As realidades locais e as "bajudas de mama firmada"

O ponto de partida... dos jovens de vinte anos - os nossos Soldados - era uma sociedade fechada, rural, governada em ditadura, com enormes influências dos valores morais Católicos, e inerentemente com imensos "tabus" sobre tudo relacionado com sexo.

O ponto de chegada... era a África em guerra. Uma África, no caso da Guiné, com variados grupos étnicos, de culturas e valores morais díspares, e atitudes relacionadas com o sexo muito diferentes do catolicismo português. Dentro destes diferentes grupos étnicos as variações de atitudes a este respeito eram também marcantes. Num ambiente de guerra e pobreza indescritíveis, as realidades de subrevivência seriam também fortíssimas. As populações das Tabancas com tropas portuguesas procuravam, lógica e humanamente, tirar os melhores proveitos deste facto. Prioritariamente em assistencia médica e sanitária, em educacäo para os jovens, ou ainda no pequeno comércio com as guarnições em produtos alimentares dos pouquíssimos disponíveis. Como pano de fundo, milhares de deslocados e refugiados das suas zonas tradicionais, independentemente do que pensariam no seu íntimo sobre os guerrilheiros ou os portugueses. Muitas famílias estavam separadas por aquela guerra! Deste modo o ambiente social no interior da Guiné estava bem longe da... normalidade. Mas näo se deve esquecer que os jovens Soldados de Portugal viviam também em Guarnições e Destacamentos perdidos na mata em situações extremas, e bem longe da... normalidade. Desde o alojamento, à saúde, à alimentação, e näo menos ao isolamento total, as situações e realidades eram de tal modo que se não torna necessário referir as minas, os combates, as embuscadas e as flagelações aos aquartelamentos (diárias em alguns locais!).

Mansabá > Quotidiano das mulheres
Foto de Carlos Vinhal

Sugem "As Lavadeiras". Jovens, bonitas, simpáticas, amigas... "normais" em toda aquela anormalidade que é a guerra. Para alguns moralistas sentados algures na Europa, lendo livros sobre África (onde não estiveram por razões suas)... as fotografias dos nossos jovens Soldados na companhia destas lavadeiras, provoca reacções pseudo político-moralistas totalmente desenquadradas das realidades factuais. As tais "lavadeiras" lavavam de facto as nossas fardas. MAS, e ao mesmo tempo, aos olhos daqueles jovens seriam a tal imagem "sublimada" da normalidade rural (!) e sentimental das suas terras (e namoradas) tão distantes. Tudo isto somado à necessidade tão humana de exprimir outros sentimentos que não os da violência que os envolvia, dia após dia, noite após noite! É claro que havia também busca de sexo nestes "romances". Mas näo só. Para muitos destes jovens Soldados foi através destes contactos que tiveram a sua iniciação sexual, feita mais de ingenuidades várias do que de violências colonialistas! Mas explicar "isto" a quem nunca o viveu?

Recordo uma noite no então bem isolado Destacamento de Mampatá, na estrada para Gandembel, então unicamente guarnecido pelo meu pelotäo. Quando fazia uma ronda normal aos postos de vigia, encontrei um dos soldados passeando romanticamente de mão dada com a sua lavadeira, ao luar, por entre as moranças silenciosas. Confesso que parei, pensei, e sorri. Imagem mais bucólica de aldeia lusitana perdida algures não havia. Não vamos ser täo ingénuos e acreditar que não terão também existido abusos mais ou menos graves. Seria a primeira guerra sem os mesmos. Mas, por muito que ofenda os "inquisidores", algo de romântico havia em muitos destes contactos, principalmente do lado dos nossos tão "verdes" jovens.

Quantos não assistiram às chegadas de camaradas vindos de saltada a Bissau, ou de férias em Portugal, acompanhados de embrulhos com vestuário, e mesmo comida vária, para a "sua" lavadeira (e família!)? É claro que, e isto para os mais românticos, as guarnições substituiam-se e as lavadeiras... ficavam. Novas tropas chegavam à Tabanca e... as lavadeiras lá estavam! Sei que alguns dos nossos "veteranos" de hoje por certo pensam por lá ter vivido um "amor dos vinte anos". E, creio mesmo que alguns terá havido. Mas, e mais uma vez, (para se näo cair em ridículos moralismos pseudo-políticos fora do contexto REAL), não se pode esquecer que os valores morais, as regras, as atitudes, os pragmatismos da maioria daquela gente criada numa vida bem perto da natureza envolvente, não daria a "tal" importância a alguns encontros sexuais casuais, se, e principalmente, voluntários.

Estocolmo 10 de Maio 2011.
José Belo.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 21 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7977: Blogpoesia (124): Eternidade (J. Belo)

Vd. último poste da série de 10 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8256: Controvérsias (122): Exemplar de Bilhete Postal da Guiné, edição da Casa Mendes - Bissau (Augusto Silva Santos)

Guiné 63/74 - P8262: Convívios (336): Ronco do pessoal da CCS/BCAÇ 2845, realizado no dia 7 de Maio de 2011 na Mealhada (Albino Silva)


1. Mensagem do nosso camarada Albino Silva* (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), com data de  9 de Maio de 2011:

Carlos Vinhal
No dia 7 de Maio tivemos o Convívio da CCS, do qual te envio aqui este trabalho que gostaria de ver publicado no nosso Blogue, no caso de ser possível, como é evidente.
Desde já o meu muito obrigado.

Um grande abraço,
Albino Silva



Convívio da CCS/BCAÇ 2845, realizado no dia 7 de Maio, na Quinta dos Três Pinheiros - Mealhada



O dia esteve frio e chuvoso com temperaturas previstas de 22º de máxima e 12º de mínima, enquanto que na Guiné-Bissau variava entre os 36º e os 24º.

Alheios ao clima, a CCS formou nos jardins desta Quinta, não com o número desejado, mas mesmo assim ainda bastantes camaradas que juntando os familiares perfez 82 pessoas.

Sei que poderíamos ter sido mais, mas mesmo assim criamos um ambiente alegre e bem divertido, que com o calor de uma troca de abraços após a chegada, logo esquecemos o frio que se sentia, e com as recordações do passado contada por todos os camaradas, a temperatura de imediato começou a subir .

Fazemos o Nosso Ronco normalmente no primeiro sábado de Maio, coincidindo este ano no dia 7.
Ora, 7 de Maio foi o dia em que a LDG “Alfange“ nos fez desembarcar em Teixeira Pinto, eram 9,00 h da manhã, depois de termos navegado Rio Mansoa acima, após o desembarque do "Niassa" à 1,00h da noite e com Bissau bem ao longe.
Assim se comemorou o dia de nossa chegada a Teixeira Pinto, o dia 7 de Maio de 1968.


O Ronco foi excelente, e nós Organização, Albino Silva e Mário Guerra, agradecemos a todos os camaradas pela forma como ainda hoje se apresentam nestas "formaturas", pois continuam a ter a mesma disciplina, aquela que aprendemos a ter há 40 anos, quando comandados por excelentes Oficiais e Sargentos, aprendemos e sempre quisemos ser na Guiné "um por todos e todos por um", e ainda hoje somos assim.

Tivemos camaradas que nos contactaram a dizerem o motivo de suas ausências, a desejar-nos um dia feliz com os camaradas presentes, mas outros embora tivessem recebido as cartas, nada disseram, o que me deixa um pouco triste, pois assim nunca saberemos qual o motivo, e logo portanto não os podemos ajudar.

Se por ventura algum destes camaradas visita esta Tabanca Grande, pode logo que leia isto entrar em contacto comigo e dar informação, pois assim ficaremos ao corrente com o que se passa com ele, e claro está, ajudar se for caso disso.

Este o momento em que foi guardado um minuto de silêncio em memória dos camaradas já falecidos.

Normalmente o nosso Capelão, Pe. Francisco da Costa e Silva, nos nossos Roncos, costuma celebrar uma Missa em memória dos camaradas já fora de combate, mas infelizmente, por motivos de saúde, não o pôde fazer este ano. É meu dever e da CCS, desejar-lhe rápidas melhoras. Força padre Francisco.

Faço aqui um apelo a todos os camaradas o seguinte :

1 - Informar o ALBINO SILVA ou o MÁRIO GUERRA, sempre que mudem de residência

2 - Se souberem de algum camarada da CCS que não tenha recebido carta nossa, peçam-lhe o endereço e mandem para nós.

3 - No caso de terem conhecimento do falecimento de algum camarada, contactem-nos de imediato, pois fazemos questão de o acompanhar até à sua última caserna.

O nosso Bolo Comemorativo

Avisamos desde já, e sobretudo os que não estiveram presentes, que o nosso Ronco de 2012 vai ser em Braga, no primeiro sábado de Maio, dia 5.

Para toda a CCS - Os Armados para a Paz
Grande abraço que vos manda cá o rapaz.

Albino Silva
Sold. Maq. N.º 01100467
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8257: Convívios (329): Convívio da CCAÇ 816, dia 7 de Maio de 2011, em Barcelos (Rui Silva)

Guiné 83/74 - P8261: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (11): 15/16 de Dezembro de 2009, uma noite de magia e de emoções, entre os Jacancas de Tabatô, da família de Kimi Djabaté, com a mais universal das linguagens, a música























Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Tabatô > 15/16 de Dezembro de 2009 > Músicos, homens, mulheres, bajudas, jovens e crianças, da etnia minoritária jacanca (leia-se, djacanca), da famíla de Kimi Djabaté (que aqui viveu até aos 21 anos), tocando os seus instrumentos (balafón, kora, djembé...), experimentando os instrumentos (violino) do outro, mostrando  a sua música, oferecendo a sua hospitalidade, exteriorizando a sua alegria... Uma noite mágica que emocionou, até às lágrimas o João Graça (*), médico e músico, membro da nossa Tabanca Grande, em viagem  pela Guiné-Bissau, em Dezembro de 2009.


Fotos: © João Graça (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados



1. Continuação da publicação das notas do diário de viagem à Guiné, do João Graça, acompanhadas de um selecção de algumas das centenas fotos que ele fez, nas duas semanas que lá passou (*)...


(i) Nos cinco primeiros dias (de 6 a 10 de Dezembro de 2009) fomos encontrá-lo, como médico, voluntário, no Centro de Saúde Materno-Infantil de Iemberém;

(ii) O fim de semana, de 11 a 13 (6ª, sábado e domingo) de Dezembro de 2009, foi passado em Bubaque e Rubane, no arquipélago de Bolama-Bijagós, como simples turista;

(iii) Dia 13, domingo, à tarde, regressou a Bissau, ao bairro do Quelelé, onde se situa casa do Pepito e da Isabel, que lhe deram guarida;

(iv) É também aqui a sede da AD - Acção para o Desenvolvimento, cujos trabalhadores tiveram, na segunda feira de manhã, exame médico de vigilância... Viu 18,  de manhã (e no dia 17, viu mais 5);

(v)  À tarde, nesse dia 14,  segunda-feira, o João Graça foi, de carro, visitar, nos arredores de Bissau o Hospital de Cumura, gerido por um Missão Católica portuguesa...

(vi) Ao fim da tarde e noite, esteve no centro de Bissau... 


(vii) E no dia seguinte, 15,  seguirá para o Leste (Bambadinca, Bafatá)... À noite de 15 para 16 foi passada em Tabatô, a já mítica meca da música afro-mandinga, terra natal do grande Kimi Djabaté [, foto à direita, foto de perfil da sua conta no Facebook, reproduzida com a devida vénia].  (LG)


15 a 16/12/2009, 3ª feira, 11º e 12º dias, Tabatô, a 14 km de Bafatá

12.1. O momento alto da viagem: a recepção em Tabatô. Inicialmente os Homens Grandes estavam a ver TV, o tio do Kimi Djabaté, mas o Demba [, músico dos Super Camarimba,] lá o convenceu a mostrar o estaminé, à entrada da sua casa.

12.2. Era preciso meter gasolina no gerador, mais ou menos 1000 Francos (cerca de 1,5€) para amplificar as vozes. Chegaram os balafons, a kora, os djembés, o coro feminino.

12.3. Antes disso, brinquei imenso com as crianças.

12.4. Quando a música afro-mandinga tocou, comecei… a chorar! Serviam wargas,  bebida tipo chá estimulanmte. Estavam alia 20 músicos a tocar para mim.

12.5. À 2ª música pediram-me para tocar violino. Toquei primeiro uma irlandesa, calma [, que tinha aprendido no festival Andanças] mas não pegou. Depois uma mais mexida em sol maior. Toda a gente começou a fazer sons (palmas primeiro, depois balafons, djembés, kora), numa mistura perfeita. Eles adoraram.

12..6. Toquei mais uma, judaica [, klezmer,], a Bulgar de Odessa [. vd. aqui vídeo dos Melech Mechaya], mas a escala harmónica não encaixava com aqueles instrumentos.

12.7. Eles tocaram 4 músicas ao todo, pedi mais uma e aceitaram. Agradeceram que um músico europeu tenha vindo a Tabatô.

12.8. Kimi Djabaté viveu ali até aos 21 anos. Falei com o tio dele. Músico dos Terrakota [...] esteve lá há uns anos (2 ou 3 ???). Músico violinista alemão também já lá passou. Músico canadiano viveu com eles 3 anos, aprendeu a tocar balafon. 

12.9. Depois fomo-nos deitar, Ali e eu [o Antero foi para Bafatá), na casa dos Super Camarimba. Havia lá uma pele de cascavel de mais ou menos 7 metros que tinham morto com espingarda há cerca de 1 mês. Cheiros característicos.


(Continua)


[ Revisão / fixação de texto / selecção, edição e legendagem de fotos: L.G

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Nota do editor:

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8260: Em busca de... (161): Procuro Camaradas do BART 6522/72 - S. Domingos -, 1973/74 (Cláudia Colaço/José Marcelino Martins)


1. O nosso Camarada Luís Graça recebeu em 25 de Abril de 2011, uma mensagem da senhora Cláudia Colaço, com o seguinte apelo.

Procura de ex-combatentes do BART 6522/72
Boa noite,

Sou filha de um ex-combatente da Guiné (1973-1974), que possui interesse em encontrar colegas com os quais perdeu ligação.
Não sei se me poderá ajudar de alguma forma, como por exemplo, datas de encontros, contactos de ex-Combatentes, etc...
O meu Pai integrou a 1ª Companhia do Batalhão de Artilharia 6522/72, nos anos de 1973 e 1974.
Fico a aguardar resposta, para o meu e-mail: claudiacolaco88@hotmail.com

Os melhores cumprimentos,
Cláudia Colaço

2. Como é habitual neste tipo de pedidos, o Luís Graça "mandou" o nosso Camarada José Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos,
Canjadude, 1968/70) trabalhar.
Foi o que ele fez e, em 8 de Maio, enviou-nos a seguinte informação, que passamos a publicar, e dela daremos conta à Dª Cláudia Colaço.

“Bom dia Luís e restantes editores.

Em anexo segue o que consegui sobre o BART 6522/72.
Contactos (apenas da 2ª Companhia).

Página UTW: Américo Matias - matias.2436@hotmail.com e tel 967 682 743.

Página Jorge Santos: Couto - tel 934 544 442.

Um abraço
José Martins”

Guião do Batalhão de Artilharia nº 6522/72
© Guião da colecção de Carlos Coutinho, com a devida vénia.
BATALHÃO DE ARTILHARIA Nº 6522/72

Unidade Mobilizadora: Regimento de Artilharia Ligeira nº 5 – Penafiel

Comandante: Tenente-coronel de Artilharia João Corte-Real de Araújo Pereira

2º Comandante: Major de Artilharia Abílio Margarido Gonçalves

Oficial de Informações e Operações/Adjunto:
Capitão de Artilharia Fernando Nunes Canha da Silva

Comandantes de Companhia de Comando e Serviços:
Capitão do Serviço Geral do Exército Manuel Coelho dos Santos
Capitão Miliciano de Infantaria Mário Pedro de Sousa Teixeira
Capitão Miliciano de Artilharia Armando Pimenta Cristóvão
Capitão Serviço Geral do Exército José Vasques Limon da Silva Cavaco

Divisa: Por uma Guiné Melhor

Partida: A unidade embarcou em Lisboa em 6 de Dezembro de 1972, tendo desembarcado em Bissau a 13 desse mesmo mês. A 3ª Companhia embarcou por fases, via aérea, entre 7 e 15 de Dezembro de 1972.

Regresso: Embarcou, por fases, entre 30 de Agosto e 3 de Setembro de 1974.

Síntese da Actividade Operacional

A Instrução de Aperfeiçoamento Operacional foi realizada em Bolama, no Centro de Instrução Militar entre 15 de Dezembro de 1972 e 12 de Janeiro de 1973, seguindo, a 16 desse mês, para Ingoré para, além de efectuar o treino operacional, a sobreposição com o Batalhão de Caçadores nº 3846.
Assume a responsabilidade do Sector O6, em 10 de Fevereiro de 1973, que incluiu os subsectores de Ingoré, S. Domingos e Susana, que, a 13 de Março de 1973 inclui o subsector de Sedengal.
A sua função no terreno inclui, além da defesa desse território, as colunas, escoltas e patrulhamentos, nomeadamente nas linhas de infiltração de Campada e Sapateiro, utilizadas pelo PAIGC. As suas subunidades orgânicas estiveram, durante toda a sua comissão, integradas no seu dispositivo de manobra.
Já na fase de retracção das Nossas Tropas, ao Sector O6 (Ingoré) foi acrescentado com os subsectores de Barro, Bigene e Ganturé.
A 11 de Agosto de 1974 é rendido pelo Batalhão de Artilharia nº 6521/74, tendo sido deslocado para Bolama, em 13 desse mês, para aguardar a viagem de regresso.

1ª Companhia
Comandada por:
Capitão Miliciano de Infantaria Artur António Pereira

Foi enviada para S. Domingos em 19 de Janeiro de 1973, onde efectuou o treino operacional e sobreposição com a Companhia de Cavalaria nº 3365, que veio a substituir em 12 de Fevereiro de 1973, assumindo a responsabilidade do subsector.
Já na dependência do Batalhão de Artilharia nº 6521/74, em 1 de Setembro de 1974, procedeu à desactivação e entrega do aquartelamento ao PAIGC, deslocando-se depois para Bissau, para aguardar embarque.

2ª Companhia
Comandada por:
Capitão Miliciano de Infantaria Raul Manuel Bívar de Azevedo

Foi enviada para Susana em 13 de Janeiro de 1973, onde efectuou o treino operacional e sobreposição com a Companhia de Cavalaria nº 3366, que veio a substituir em 17 de Fevereiro de 1973, assumindo a responsabilidade do subsector, com um pelotão em Varela, tendo destacado, a partir de 23 de Janeiro de 1974, para colaborar nos trabalhas dos aldeamentos de Catões, Cassolo e Sucujaque.
Já na dependência do Batalhão de Artilharia nº 6521/74, em 1 de Setembro de 1974, procedeu à desactivação e entrega do aquartelamento de Varela em 28 de Agosto de 1974 e do aquartelamento de Susana em 30 de Agosto de 1974, ao PAIGC, deslocando-se depois para Bissau, para aguardar embarque.

Emblemas da 2ª Companhia do Batalhão de Artilharia nº 6522/72
© Emblemas da colecção de Carlos Coutinho

3ª Companhia
Comandada por:
Capitão Miliciano de Infantaria Sérgio Matos Marinho de Faria

Foi enviada para Ingoré em 16 de Janeiro de 1973, onde efectuou o treino operacional e sobreposição com a Companhia de Cavalaria nº 3364, que veio a substituir em 17 de Fevereiro de 1973, assumindo a responsabilidade do subsector, com um pelotão em Sedengal e Antotinha.
A 13 de Março de 1973 foi colocada em Sedengal, criado pela divisão do subsector de Ingoré, sendo Sedengal guarnecida pela Companhia de Comando e Serviços do BArt 65/72. Manteve forças no destacamento de Antotinha, até 1 de Março de 1974, data em que passou a reforça Ingoré com dois pelotões.
A partir de 10 e 24 de Janeiro de 1974, destacou secções para Apilho e Gendem, respectivamente, para colaborar nos trabalhos desses aldeamentos.
Procedeu à desactivação e entrega do aquartelamento de Sedengal em 30 de Agosto de 1974, ao PAIGC, deslocando-se depois para Bissau, para aguardar embarque.
Na história do batalhão, é esta subunidade a única que regista mortos e condecorados.

TOMBADOS EM CAMPANHA e CONDECORADOS

DIOGO DA CONCEIÇÃO SALGUEIRO, Furriel Miliciano Operações Especiais da Companhia de Caçadores nº 16, em diligência no Batalhão, Solteiro, filho de José Salgueiro André e de Celeste da Conceição, natural da freguesia de Zebreira e concelho de Idanha-a-Nova, faleceu em 27 de Julho de 1974 no Hospital Militar de Bissau. Vítima de acidente com arma de fogo, ao ser accionada uma mina das Nossas tropas, em Teixeira Pinto. Foi inumado no Cemitério Benfica – Lisboa.

Foram vítimas de ferimentos em combate, na estrada entre Sedengal e Ingoré, tendo falecido, nesse Sábado 7 de Julho de 1973, os seguintes militares

ANTÓNIO MARIA AZEVEDO DA SILVA, Soldado Atirador nº 08986372, Solteiro, filho de Jorge Fernandes da Silva e de Carolina Dias de Azevedo, natural de Junqueira, freguesia de Azurara e concelho de Vila do Conde. Foi exumado no Cemitério de Azurara.

ANTONIO DE SOUSA CLARA, Soldado Atirador nº 12451072, Solteiro, filho de Joaquim da Costa Clara e de Maria de Sousa Azevedo, natural de Louredo, freguesia de São Mamede do Coronado e concelho de Santo Tirso. Foi exumado no Cemitério de São Mamede do Coronado.

BENJAMIM FERNANDO GOMES DA SILVA, Soldado Atirador nº 11975672, Solteiro, filho de Teodoro Nunes da Silva e de Felismina Pacheco Gomes, natural da freguesia de Ferreira e concelho de Paços de Ferreira. Foi exumado no Cemitério Paroquial de Paços de Ferreira.

CARLOS ANTÓNIO DA COSTA SALGADO, Soldado Atirador nº 09834272, Casado com Esmeralda Natália Dias da Rocha Salgado, filho de Carlos Júlio da Silva Salgado e de Francisca da Costa Salgado, natural da freguesia e concelho de Ovar. Foi exumado no Cemitério Paroquial de Anta – Concelho de Espinho.

MODESTO RIBEIRO NUNES, 1º Cabo Atirador nº 12327372, Solteiro, filho de Germano Ribeiro e de Maria Ribeiro Marinho, natural do lugar de Covelo do Monte, freguesia de Aboadela e concelho de Amarante. Foi exumado no Cemitério Paroquial de Aboadela.

RUI ALBERTO, Furriel Miliciano de Armas Pesadas nº 00753172, Solteiro, filho de Alcide Maria, natural da freguesia de Santiago Maior e concelho de Beja. Foi exumado no Cemitério da Caparica – Concelho de Almada.

Por feitos em combate, nessa mesma operação do dia 7 de Julho de 1973, foram condecorados os seguintes militares:

JOAQUIM SIOPA MENDES TOMÁS, 1º Cabo Atirador, condecorado com a Medalha da Cruz de Guerra – 4ª classe, pela Ordem do Exercito nº 14 – IIIª série – de 1975.

RICARDO PEREIRA DE SOUSA, Alferes Miliciano de Operações Especiais, condecorado com a Medalha da Cruz de Guerra – 3ª classe, pela Ordem do Exercito nº 18 – IIª série – de 1975.

Notas:
Tem história da unidade, que pode ser consultada, no Arquivo Histórico Militar (caixa nº 122 - 2ª Divisão – 4ª Secção).
5º Volume – Condecorações Militares Atribuídas – Cruz de Guerra – Tomo VIII - da Resenha Histórico Militar das Campanhas de África, edição do Estado Maior do Exercito (páginas 418 e 434).
7º Volume – Fichas das Unidades – Tomo II - GUINÉ - da Resenha Histórico Militar das Campanhas de África, edição do Estado Maior do Exercito (páginas 244 e 245).
8º Volume – Mortos em Campanha – Tomo II - GUINÉ – livro 2 - da Resenha Histórico Militar das Campanhas de África, edição do Estado Maior do Exercito (páginas 211 a 213 e 297).

José Marcelino Martins – 8 de Maio de 2011
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Notas de M.R.:

A título informativo comunicamos que após consulta ao nosso blogue, descobrimos que temos entre a Tertúlia Bloguista 4 Camaradas deste batalhão:

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Raul Manuel Bivar de Azevedo, que foi Cap Mil da 2ª CART, Susana;
- António Inverno, que foi Alf Mil Op Esp/RANGER da 1.ª e 2.ª CARTs e Pel Caç Nat 60, S. Domingos;
- Sérgio Matos Marinho de Faria, Cap Mil Inf - Comandante da 3.ª Companhia, Ingoré e Sedengal;
- Ricardo Pereira de Sousa, que foi Alf Mil Op Esp/RANGER do 3ª CART, Sedengal.

Vd. o último poste desta série em:

4 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8218: Em busca de ... (159): Camaradas da CCAÇ 4544 (Cafal Balanta, 1973/74) (Manuel Santos Antunes / Catarina Antunes)