Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
domingo, 13 de maio de 2007
Guiné 63/74 - P1756: Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, aquando da visita de Américo Tomás (Bissau, 1968) (Victor Condeço)
Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, por ocasião da visita do Presidente da República, Alm Américo Tomás > Anti-aéreas Degtyarev, de origem russa.
Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, por ocasião da visita do Presidente da República, Alm Américo Tomás > Espingarda com alça telescópica, V 3272, calibre 7,62. Origem: URSS.
Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, por ocasião da visita do Presidente da República, Alm Américo Tomás > Em primeiro plano, Metralhadora Ligeira MG 42, Borsig, calibre 7,92. Origem: Alemanha Oriental.
Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, por ocasião da visita do Presidente da República, Alm Américo Tomás > Met Lig MG 42.
Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, por ocasião da visita do Presidente da República, Alm Américo Tomás > A pistola-metralhadora Sudaev, PPS, m/1943 PPS, variante da famosa costureirinha. Origem: URSS.
Segundo a Wikipedia, a PPS-43 é uma variante da PPSH-41. Foi desenhada por Aleksei Sudaev e testada, com grande eficácia, na Batalha de Estalinegrado. Foi o resultado da simplificação da PPSH-41. É considerada a melhor pistola-metralhadora da Segunda Guerra Mundial.
Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Visita do Presidente da República, Alm Américo Tomás > Passagem do cortejo junto à catedral de Bissau.
Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Visita do Presidente da República, Alm Américo Tomás > Passagem do cortejo junto à Catedral de Bissau.
Fotos: © Victor Condeço (2007). Direitos reservados.
Mensagem do Victor Condeço (ex- Fur Mil Mecânico de Armamento, CCS do BART 1913, Catió 1967/69) (1). :
Meus caros, Nuno Rubim e Luís Graça:
Logo na primeira solicitação do Nuno tinha digitalizado este material com vista ao seu envio, no entanto não o cheguei a fazê-lo por não ver nele muito interesse. Perante a lamentação de que ninguém respondeu (2), resolvi enviar o que possuo e que é muito pouco, mas diz o povo que, “quem dá o que tem a mais não é obrigado”!
Devo dizer que, embora sendo do meu álbum fotográfico, estas fotos não foram tiradas por mim, mas sim pelo delegado do BART 1913, em Bissau.
Estas fotografias retratam uma exposição de armamento capturado ao PAIGC que teve lugar na Amura em Bissau, quando da visita do Presidente da República Américo Tomás em Fevereiro de 1968 à Guiné. Duas das fotos mostram momentos dessa visita junto à catedral de Bissau.
Se considerarem que as mesmas têm algum préstimo, façam o favor de lhe dar o uso que cada um de vós entender.
Um abraço para ambos.
Victor Condeço
2. Comentário de L.G.: Obrigado, Victor, em meu nome e do Nuno. Deixo ao Nuno a tarefa de fazer uma apreciação mais detalhada deste material fotográfica. Ele é que é o especialista. Arrisquei, no entanto, pôr algumas legendas nas fotos.
3. Teor do e-mail que o Nuno Rubim acaba de mandar ao Victor:
Caro Victor Condeço:
Muito obrigado pelas imagens que enviou. Bem haja, é o primeiro camarada que me responde.
São importantes no contexto da guerra colonial e sugeria-lhe que as enviasse, (cópias) ao Arquivo Histórico Militar, pois ficariam assim resguardadas para o futuro. Lá ficariam, para sempre, registadas no seu nome.
Não tenho tido problemas com o material utilizado pelo PAIGC, visto que tenho obtido todas as informações que julgo necessárias, bem como numerosas fotografias e desenhos. Curiosamente, tenho tido mais dificuldades em obter informações e fotografias de interesse sobre as as armas, viaturas, etc..., que nós utilizámos ...
Um abraço
Nuno Rubim
__________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 3 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1335: Um mecânico de armamento para a nossa companhia (Victor Condeço, CCS/BART 1913, Catió)
(2) Vd. post de 12 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1753: Diorama de Guileje, 1965/67 (Muno Rubim)
Guné 63/74 - P1755: Tabanca Grande (8): Carlos Vinhal, co-editor do nosso blogue (Carlos Vinhal / David Guimarães)
1. Mensagem do nosso co-editor Carlos Vinhal, ex-Fur Mil Art Minas e Armadilhas, CART 2732, Mansabá, 1970/72):
Caros amigos e camaradas:
Para que eu tenha algum préstimo, sugiro que todos os mails relativos ao nosso Blogue sejam enviados preferencialmente para luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com, endereço a que tenho acesso directo.
O Luís continuará a coordenar toda a correspondência para aqui enviada, podendo eu mais facilmente cumprir as orientações dele emanadas.
Qualquer assunto de ordem mais restrita poderá continuar a ser enviado para os endereços antigos do nosso comandante Luís. Estou ao vosso dispor para, por exemplo, divulgar encontros das vossas Unidades.
Um abraço do camarada
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira
2. Comentário do David Guimarães:
Ex-camarada e meu grande amigo Carlos...
Na guerra viu-se muitas vezes mobilizações mal feitas e armas mal atribuídas... Um dos meus soldados, coitado, tivemos que finalmente lhe dar uma vassoura para varrer a parada , enfim para se ir entretendo, passar a comissão e regressar para casa são e salvo. Ele não tinha vocação, nem jeito nenhum, para as armas, é verdade...
Pegámos no homem da Pesada 2 em Vila Nova de Gaia e eu e o comandante de meu pelotão (já falecido) levámo-lo, pois já era a terceira mobilização que falhava por falta de habilidade do mínimo das habilidades. E olhem, esse sim, nem sei para que o apuraram para a tropa... Fizemos a obra, não doeu a consciência e que esteja vivo na terra dele é o que desejamos...
Era um rapaz sério, era gente boa... humilde ao máximo. Mandava-se voltar à direita e todo o pelotão voltava e ele, coitado, nunca acertou, era sempre ao contrário... Quando se marchava, lá ia um só com o passo trocado: era ele...
Em tiro, no apoiado e só , tinha que estar alguém do lado a ajudá-lo... A única coisa que ele fazia bem era beber uns copos... (isto é verdade) Não sairia mais da tropa, creio e então levámo-lo e devolvêmo-lo ao seu lar... Ao menos isso... Lá, na Guiné era o homem que dormia com dois camuflados e para o banho, lá ia sempre acompanhado senão não ia, pronto...
Agora, Carlos, tu és dos mobilizados para isto que aprovo com claps claps de palmas pois tens sido um dos grandes bloguistas e ainda bem... De intervenção oportuna - mas eu sou suspeito ao gabar-te, é que gabo um atirador de minas e armadilhas.... (Ficou bonito)...
Estás muito bem mobilizado...
Um abraço, Carlos Vinhal, anotei a direcção e vamos em frente...
David
ex-furriel miliciano
Atirador Artilharia e Minas e Armadilhas
Xitole 70/72
que... andou contigo na recruta (Caldas da Rainha), na especialidade (Vendas Novas) e em minas e armadilhas (Casal do Pote, em Tancos) e só há pouco é que nos conhecemos... A vida tem destas coisas... mas por isso, e só, é que a vida é mais bela ainda... porque é dificil acreditar que tantas vezes tropeçámos um no outro...
Caros amigos e camaradas:
Para que eu tenha algum préstimo, sugiro que todos os mails relativos ao nosso Blogue sejam enviados preferencialmente para luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com, endereço a que tenho acesso directo.
O Luís continuará a coordenar toda a correspondência para aqui enviada, podendo eu mais facilmente cumprir as orientações dele emanadas.
Qualquer assunto de ordem mais restrita poderá continuar a ser enviado para os endereços antigos do nosso comandante Luís. Estou ao vosso dispor para, por exemplo, divulgar encontros das vossas Unidades.
Um abraço do camarada
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira
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2. Comentário do David Guimarães:
Ex-camarada e meu grande amigo Carlos...
Na guerra viu-se muitas vezes mobilizações mal feitas e armas mal atribuídas... Um dos meus soldados, coitado, tivemos que finalmente lhe dar uma vassoura para varrer a parada , enfim para se ir entretendo, passar a comissão e regressar para casa são e salvo. Ele não tinha vocação, nem jeito nenhum, para as armas, é verdade...
Pegámos no homem da Pesada 2 em Vila Nova de Gaia e eu e o comandante de meu pelotão (já falecido) levámo-lo, pois já era a terceira mobilização que falhava por falta de habilidade do mínimo das habilidades. E olhem, esse sim, nem sei para que o apuraram para a tropa... Fizemos a obra, não doeu a consciência e que esteja vivo na terra dele é o que desejamos...
Era um rapaz sério, era gente boa... humilde ao máximo. Mandava-se voltar à direita e todo o pelotão voltava e ele, coitado, nunca acertou, era sempre ao contrário... Quando se marchava, lá ia um só com o passo trocado: era ele...
Em tiro, no apoiado e só , tinha que estar alguém do lado a ajudá-lo... A única coisa que ele fazia bem era beber uns copos... (isto é verdade) Não sairia mais da tropa, creio e então levámo-lo e devolvêmo-lo ao seu lar... Ao menos isso... Lá, na Guiné era o homem que dormia com dois camuflados e para o banho, lá ia sempre acompanhado senão não ia, pronto...
Agora, Carlos, tu és dos mobilizados para isto que aprovo com claps claps de palmas pois tens sido um dos grandes bloguistas e ainda bem... De intervenção oportuna - mas eu sou suspeito ao gabar-te, é que gabo um atirador de minas e armadilhas.... (Ficou bonito)...
Estás muito bem mobilizado...
Um abraço, Carlos Vinhal, anotei a direcção e vamos em frente...
David
ex-furriel miliciano
Atirador Artilharia e Minas e Armadilhas
Xitole 70/72
que... andou contigo na recruta (Caldas da Rainha), na especialidade (Vendas Novas) e em minas e armadilhas (Casal do Pote, em Tancos) e só há pouco é que nos conhecemos... A vida tem destas coisas... mas por isso, e só, é que a vida é mais bela ainda... porque é dificil acreditar que tantas vezes tropeçámos um no outro...
sábado, 12 de maio de 2007
Guiné 63/74 - P1754: Convívios (5): CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/74), Amarante, 9 de Junho de 2007 (Sousa de Castro)
Mensagem enviada pelo nosso camarada Sousa de Castro:
XXII Convívio CART 3494 (Fantasmas do Xime)
(Guiné, Dez 1971 / Abr 1974)
9 de Junho 2007 em AMARANTE
Restaurante Grelha - Edifício TOP
Recta de Ramos - Telões - Amarante
XXII Convívio CART 3494 (Fantasmas do Xime)
(Guiné, Dez 1971 / Abr 1974)
9 de Junho 2007 em AMARANTE
Restaurante Grelha - Edifício TOP
Recta de Ramos - Telões - Amarante
Programa:
10,00 horas - Concentração no Parque Florestal de Amarante
11,00 horas - Visita histórica a Amarante
12,30 horas - Almoço com animação musical
Contacto: José Carlos Mendes Pinto > TLM 937 206 088 ou Telef. 255 105 270
11,00 horas - Visita histórica a Amarante
12,30 horas - Almoço com animação musical
Contacto: José Carlos Mendes Pinto > TLM 937 206 088 ou Telef. 255 105 270
(ex-1º Cabo TRMS Radio ,
CART 3494 / BART 3873 ,
1972/74)
Contacto > Viana do Castelo > sousadecastro@sapo.pt
Guiné 63/74 - P1753: Diorama de Guileje, 1965/67 (Muno Rubim)
Guiné > Região de Tombali > Guileje> Diorama do aquartelamento e tabanca (1965/67)
Fonte: Nuno Rubim (2007). Direito reservados.
Nuno Rubim, ex-capitão da CCAÇ 726, Guileje, 1964/74, um dos oficiais mais condecorados da Guiné (onde fez duas comissões), hoje coronel na reforma e historiador militar. Foi também um dos capitães do MFA, da primeira hora. É membro da nossa tertúlia. Está a colaborar com a AD - Acção para o Desenvolvimento, no âmbito do Projecto Guiledje.
Foto: © Luís Graça (2006). Direitos reservados.
1. Mensagem de 18 de Abril de 2007, enviada pelo nosso camarada e amigo Nuno Rubim (1):
Caro Luís,
Se entenderes por bem publica o seguinte no blogue:
O apelo feito no post de 27 de Março (2) não obteve qualquer resposta.
Talvez os camaradas tenham entendido que pedido se referia a armamento e viaturas em Guildeje. Ora o material era o mesmo, pintado da mesma maneira, qualquer que fosse o local onde se encontrasse. Por isso renovo o meu pedido, esperando que desta feita tenha mais sorte.
Quanto ao diorama de Guileje (3) segue em bom andamento. Ainda há "pequenas arestas a limar" ... Ainda falta, por exemplo, determinar o traçado da rede de arame farpado e a disposição da iluminação exterior.
O diorama ficará implantado numa base de 2m x 2m.
Junto envio o desenho definitivo ( espero eu ... ) do aquartelamento, em 1965-67, já que durante esse período as alterações foram mínimas ( se estou enganado, agradece-se a correcção ). O desenho, já preparado para a escala 1:72, baseou-se no levantamento topográfico efectuado em 2005, por Fidel Midana Sambú, sob os auspícios da AD (Carlos Schwarz, mais conhecido por Pepito) e 4 fotografias aéreas da época, uma das quais efectuada à vertical.
Verifiquei que o levantamento oferecia alguma pequenas distorções, naturais devido à dificuldade de circulação na zona, originada pelas destruições provocadas pelo alegado bombardeamento aéreo das FAP em Maio ou Junho de 1973 (que ainda permanece
um mistério ... ) e pelo extraordinário desenvolvimento da vegetação.
Caso curioso, a maioria das localizações das cubatas é concordante! Alguns dos camaradas poderão agora comparar este desenho com o que apresentei há tempos, de memória, e chegar à mesma conclusão que eu: o tempo não perdoa e é preciso ter algum cuidado quando se lida com as recordações do passado que não foram registadas por escrito ou fotograficamente na altura ...
Estou agora a desenhar, também à escala, os edifícios, abrigos e palhotas (estas 60 !, e de 4 diâmetros diferentes !). Já estão a ser elaboradas as miniaturas de uma DO-27 e de vários tipos de viaturas então utilizadas.
Ainda preciso de consultar os meus camaradas da altura sobre a localização de portas e janelas nos diversos edifícios. As fotografias serão fundamentais.
Para além do diorama estou a estudar a feitura de um poster sobre o ataque de Maio de 1973. Prevê-se ainda a construção de kits de armamento e viaturas, quer portuguesas, quer do PAIGC, mas em várias escalas, visto que foi necessário recorrer ao que o mercado fornece. E no caso das Fox e Unimog, estas terão de ser feitas de raiz (!), pois não existem, ao meu conhecimento, kits comercializados.
Um abraço
Nuno Rubim
2. Comentário do editor do blogue:
Parabéns ao Nuno e à sua equipa (4)... Faço daqui um apelo à colaboração dos nossos camaradas que possam ter elementos de interesse documental ou museológico (nomeadamente fotografias, plantas, relatórios...) relativos a Guileje, para os fornecerem ao Nuno, ou a mim próprio. Os originais serão cedidos (ou não) a título de empréstimo. Parabéns também ao Pepito e à AD por este esforço de preservação da memória da guerra... e da paz. LG
_____
Notas de L. G.:
(1) Vd. post de 18 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1189: O tertuliano Nuno Rubim, especialista em história militar
(2) Vd. post de 27 de Março de 2007 > Gúiné 63/74 - P1628: Projecto Guiledje: fotografias de armamento e equipamento, das NT e do PAIGC, precisam-se (Nuno Rubim)
(3) Vd. post de 12 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P870: Ideias para um diorama do quartel ou quartéis de Guileje (Nuno Rubim)
(4) Vd. post de 14 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1173: A fortificação de Guileje (Nuno Rubim, Teco e Guedes, CCAÇ 726)
Fonte: Nuno Rubim (2007). Direito reservados.
Nuno Rubim, ex-capitão da CCAÇ 726, Guileje, 1964/74, um dos oficiais mais condecorados da Guiné (onde fez duas comissões), hoje coronel na reforma e historiador militar. Foi também um dos capitães do MFA, da primeira hora. É membro da nossa tertúlia. Está a colaborar com a AD - Acção para o Desenvolvimento, no âmbito do Projecto Guiledje.
Foto: © Luís Graça (2006). Direitos reservados.
1. Mensagem de 18 de Abril de 2007, enviada pelo nosso camarada e amigo Nuno Rubim (1):
Caro Luís,
Se entenderes por bem publica o seguinte no blogue:
O apelo feito no post de 27 de Março (2) não obteve qualquer resposta.
Talvez os camaradas tenham entendido que pedido se referia a armamento e viaturas em Guildeje. Ora o material era o mesmo, pintado da mesma maneira, qualquer que fosse o local onde se encontrasse. Por isso renovo o meu pedido, esperando que desta feita tenha mais sorte.
Quanto ao diorama de Guileje (3) segue em bom andamento. Ainda há "pequenas arestas a limar" ... Ainda falta, por exemplo, determinar o traçado da rede de arame farpado e a disposição da iluminação exterior.
O diorama ficará implantado numa base de 2m x 2m.
Junto envio o desenho definitivo ( espero eu ... ) do aquartelamento, em 1965-67, já que durante esse período as alterações foram mínimas ( se estou enganado, agradece-se a correcção ). O desenho, já preparado para a escala 1:72, baseou-se no levantamento topográfico efectuado em 2005, por Fidel Midana Sambú, sob os auspícios da AD (Carlos Schwarz, mais conhecido por Pepito) e 4 fotografias aéreas da época, uma das quais efectuada à vertical.
Verifiquei que o levantamento oferecia alguma pequenas distorções, naturais devido à dificuldade de circulação na zona, originada pelas destruições provocadas pelo alegado bombardeamento aéreo das FAP em Maio ou Junho de 1973 (que ainda permanece
um mistério ... ) e pelo extraordinário desenvolvimento da vegetação.
Caso curioso, a maioria das localizações das cubatas é concordante! Alguns dos camaradas poderão agora comparar este desenho com o que apresentei há tempos, de memória, e chegar à mesma conclusão que eu: o tempo não perdoa e é preciso ter algum cuidado quando se lida com as recordações do passado que não foram registadas por escrito ou fotograficamente na altura ...
Estou agora a desenhar, também à escala, os edifícios, abrigos e palhotas (estas 60 !, e de 4 diâmetros diferentes !). Já estão a ser elaboradas as miniaturas de uma DO-27 e de vários tipos de viaturas então utilizadas.
Ainda preciso de consultar os meus camaradas da altura sobre a localização de portas e janelas nos diversos edifícios. As fotografias serão fundamentais.
Para além do diorama estou a estudar a feitura de um poster sobre o ataque de Maio de 1973. Prevê-se ainda a construção de kits de armamento e viaturas, quer portuguesas, quer do PAIGC, mas em várias escalas, visto que foi necessário recorrer ao que o mercado fornece. E no caso das Fox e Unimog, estas terão de ser feitas de raiz (!), pois não existem, ao meu conhecimento, kits comercializados.
Um abraço
Nuno Rubim
2. Comentário do editor do blogue:
Parabéns ao Nuno e à sua equipa (4)... Faço daqui um apelo à colaboração dos nossos camaradas que possam ter elementos de interesse documental ou museológico (nomeadamente fotografias, plantas, relatórios...) relativos a Guileje, para os fornecerem ao Nuno, ou a mim próprio. Os originais serão cedidos (ou não) a título de empréstimo. Parabéns também ao Pepito e à AD por este esforço de preservação da memória da guerra... e da paz. LG
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Notas de L. G.:
(1) Vd. post de 18 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1189: O tertuliano Nuno Rubim, especialista em história militar
(2) Vd. post de 27 de Março de 2007 > Gúiné 63/74 - P1628: Projecto Guiledje: fotografias de armamento e equipamento, das NT e do PAIGC, precisam-se (Nuno Rubim)
(3) Vd. post de 12 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P870: Ideias para um diorama do quartel ou quartéis de Guileje (Nuno Rubim)
(4) Vd. post de 14 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1173: A fortificação de Guileje (Nuno Rubim, Teco e Guedes, CCAÇ 726)
Guiné 63/74 - P1752: Estórias cabralianas (22): Alfa, o fula alfacinha (Jorge Cabral)
O Fado (1910 ) > A célebre pintura a óleo de José Malhoa (1855-1933). Fonte: Wikipedia: The Free Encyclopedia.
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Um fula... em traje domingueiro, diria um tuga. Difícil é imaginá-lo em Lisboa, no Bairro Alto ou em Alfama, em bairros populares de Lisboa onde nasceu o fado há 170 anos... e com ele a nata da malandragem alfacinha. (LG).
Foto: © Humberto Reis (2007). Direitos reservados.
Foto: © Humberto Reis (2007). Direitos reservados.
Estória nº 22 da série Estórias Cabralianas. Autor: Jorge Cabral , ex- Alferes Miliciano de Artilharia, comandante do Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, Sector L1 - Bambadinca, Zona Leste, 1969/71. Era estudante universitário, em Lisboa, quando foi convocado para a tropa. Hoje é advogado, escritor e docente universitário, na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, sendo o coordenador do curso de pós-graduação em Criminologia.
_________
Alfa, o Fula Alfacinha
por Jorge Cabral
No final do ano de 1970, apresentou-se em Missirá um soldado fula – chamemos-lhe Alfa – vindo da prisão de Bissau, onde cumprira pesada pena. Razão da punição – ausência ilegítima durante cento e oitenta dias, quando após intervenção cirúrgica no Hospital Militar Principal, desaparecera em Lisboa.
Impecavelmente fardado, com blusão e tudo, usava uma vistosa popa e farfalhudas patilhas, conservando sempre um palito dependurado ao canto da boca. Falava um calão lisboeta e aparentava ser um verdadeiro rufia alfacinha.
Quando aos domingos se vestia à paisana, envergava fato completo com colete, e na gravata vermelha brilhava um alfinete de ouro. Exibia duas valiosas pulseiras e até, calculem, botões de punho.
A poucos dias de vir de férias, não tive tempo de averiguar o que fizera na Capital, embora me tivesse causado algum espanto, a profissão que me indicou – cobrador comissionista.
No início de Janeiro, na véspera da minha partida, todos fizeram uma longa fila, a fim de dizerem o que queriam, que eu lhes trouxesse de Lisboa. Ciente da impossibilidade de os satisfazer, mesmo assim, apontei escrupulosamente todos os pedidos, incluindo os treze alfinetes de gravata, os dezoito pares de botões de punho, e as catorze pulseiras. O último da fila, foi o Alfa, que ao contrário dos outros, apenas solicitou que levasse quatro mangas, oferta para umas senhoras amigas de Lisboa. Tomei nota da morada, e prometi a entrega.
Quase a acabar o mês de licença é que me lembrei das mangas, que entretanto já haviam apodrecido. Corri à Baixa tentando encontrar frutos tropicais, e à falta de melhor, consegui arranjar tâmaras. No dia seguinte fui à procura das tais senhoras. A casa ficava na Rua do Mundo em pleno Bairro Alto. Bati à porta e entrei de imediato numa sala, onde sete senhoras sentadas pareciam aguardar.
Levantou-se logo uma que me informou – “Quatrocentos escudos e só ao natural!”
Percebi então, quem eram as senhoras amigas do Alfa e como ele passara aqueles seis meses.
Cobrador pois e até comissionista… Lá lhes dei notícias e as tâmaras.
Regressado, não contei a ninguém sobre a respeitável actividade do Alfa em Lisboa, mas junto dele louvei a beleza das amigas, das quais adivinhara a excelência profissional.
Anos depois, já Advogado, também eu trabalhei para as tais senhoras. Nunca tive clientes mais honestas e cumpridoras. Pagaram sempre os meus serviços. Só que às vezes não foi em dinheiro…
Jorge Cabral
________
Nota de L.G.:
(1) Vd. último post > 24 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1696: Estórias cabralianas (21): O Amoroso Bando das Quatro em Missirá (Jorge Cabral)
_________
Alfa, o Fula Alfacinha
por Jorge Cabral
No final do ano de 1970, apresentou-se em Missirá um soldado fula – chamemos-lhe Alfa – vindo da prisão de Bissau, onde cumprira pesada pena. Razão da punição – ausência ilegítima durante cento e oitenta dias, quando após intervenção cirúrgica no Hospital Militar Principal, desaparecera em Lisboa.
Impecavelmente fardado, com blusão e tudo, usava uma vistosa popa e farfalhudas patilhas, conservando sempre um palito dependurado ao canto da boca. Falava um calão lisboeta e aparentava ser um verdadeiro rufia alfacinha.
Quando aos domingos se vestia à paisana, envergava fato completo com colete, e na gravata vermelha brilhava um alfinete de ouro. Exibia duas valiosas pulseiras e até, calculem, botões de punho.
A poucos dias de vir de férias, não tive tempo de averiguar o que fizera na Capital, embora me tivesse causado algum espanto, a profissão que me indicou – cobrador comissionista.
No início de Janeiro, na véspera da minha partida, todos fizeram uma longa fila, a fim de dizerem o que queriam, que eu lhes trouxesse de Lisboa. Ciente da impossibilidade de os satisfazer, mesmo assim, apontei escrupulosamente todos os pedidos, incluindo os treze alfinetes de gravata, os dezoito pares de botões de punho, e as catorze pulseiras. O último da fila, foi o Alfa, que ao contrário dos outros, apenas solicitou que levasse quatro mangas, oferta para umas senhoras amigas de Lisboa. Tomei nota da morada, e prometi a entrega.
Quase a acabar o mês de licença é que me lembrei das mangas, que entretanto já haviam apodrecido. Corri à Baixa tentando encontrar frutos tropicais, e à falta de melhor, consegui arranjar tâmaras. No dia seguinte fui à procura das tais senhoras. A casa ficava na Rua do Mundo em pleno Bairro Alto. Bati à porta e entrei de imediato numa sala, onde sete senhoras sentadas pareciam aguardar.
Levantou-se logo uma que me informou – “Quatrocentos escudos e só ao natural!”
Percebi então, quem eram as senhoras amigas do Alfa e como ele passara aqueles seis meses.
Cobrador pois e até comissionista… Lá lhes dei notícias e as tâmaras.
Regressado, não contei a ninguém sobre a respeitável actividade do Alfa em Lisboa, mas junto dele louvei a beleza das amigas, das quais adivinhara a excelência profissional.
Anos depois, já Advogado, também eu trabalhei para as tais senhoras. Nunca tive clientes mais honestas e cumpridoras. Pagaram sempre os meus serviços. Só que às vezes não foi em dinheiro…
Jorge Cabral
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Nota de L.G.:
(1) Vd. último post > 24 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1696: Estórias cabralianas (21): O Amoroso Bando das Quatro em Missirá (Jorge Cabral)
Guiné 63/74 - P1751: Convívios (4): CART 1690 (Geba 1967/69): Sever do Vouga, Couto de Esteves, 2 de Junho de 2007 (A. Marques Lopes)
Mensagem enviada pelo nosso camarada A. Marques Lopes , Coronel (DFA) na situação de Reforma, ex-alferes miliciano da CART 1690 (Geba,, 1967) e da CCAÇ 3 (Barro, 1968).
CART 1690 – XIV CONVÍVIO – 2 DE JUNHO DE 2007
É verdade. Já passaram 40 anos sobre a nossa partida para a Guiné. Assiste-nos pois o direito a celebrar condignamente, data tão significativa. E vamos fazê-lo, em pleno, num local já conhecido de muitos.
É verdade. Já passaram 40 anos sobre a nossa partida para a Guiné. Assiste-nos pois o direito a celebrar condignamente, data tão significativa. E vamos fazê-lo, em pleno, num local já conhecido de muitos.
Ali bem perto de Sever do Vouga, em COUTO DE ESTEVES, o restaurante O Júnior espera por nós no dia 2 de Junho, a partir das 11,00 horas.
O preço será de 25 € por pessoa e as respectivas inscrições serão recepcionadas até 25 de Maio pelos ex-furriéis:
Nogueira - telef. 219 800 687 - telem. 969 031 853
Salvado - telef. 214 313 931
Silva - telef. 217 933 682 - telem. 962 764 936
Vasconcelos - telef. 229 730 562 - telem. 962 792 507
Contamos contigo e esperamos que promovas junto ao companheiro, ainda indeciso, a ideia que não poderá faltar – é sempre gratificante haver mais um e dos Nossos – a data merece um recorde de presenças.
O preço será de 25 € por pessoa e as respectivas inscrições serão recepcionadas até 25 de Maio pelos ex-furriéis:
Nogueira - telef. 219 800 687 - telem. 969 031 853
Salvado - telef. 214 313 931
Silva - telef. 217 933 682 - telem. 962 764 936
Vasconcelos - telef. 229 730 562 - telem. 962 792 507
Contamos contigo e esperamos que promovas junto ao companheiro, ainda indeciso, a ideia que não poderá faltar – é sempre gratificante haver mais um e dos Nossos – a data merece um recorde de presenças.
Até lá, um forte abraço
A. Marques Lopes
sexta-feira, 11 de maio de 2007
Guiné 63/74 - P1750: Com os Gringos de Guileje... em Nhacra (Herlander Simões)
Guiné > Região de Bissau > Nhacra > CCAÇ 3477 (1971/73) > A equipa de futebol dos Gringos
Guiné > Região de Bissau > Nhacra > CCAÇ 3477 (1971/73) > O Fur Mil Herlander Simões numa patrulha nas imediações de Nhacra.
Guiné > Região de Bissau > Nhacra > CCAÇ 3477 (1971/73) > O Fur Mil Herlander Simões 'posando' para a fotografia, na margem direita do Rio Geba.
Guiné > Região de Bissau > Nhacra > CCAÇ 3477 (1971/73) > O Fur Mil Herlander Simões (o quarto da esquerda, na fila do lado esquerdo, seguido do Alf Mil Boavida) e outros camaradas na festa de aniversário do Fur Mil Mendes (no topo da mesa).
Guiné > Região de Bissau > Nhacra > CCAÇ 3477 (1971/73) > O Fur Mil Herlander Simões, sentado, aplaudindo o discurso do Alf Mil Boavida (de pé) na festa de aniversário do Fur Mil Mendes...
Guiné > Região de Bissau > Nhacra > CCAÇ 3477 (1971/73) > O Fur Mil Herlander Simões sentado no bar do quartel.
Fotos: © Herlander Simões (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem, com data de 1 de Março de 2007, do novo membro da nossa Tabanca Grande, Herlander Simões:
Caro camarada Luís Graça:
Tomei conhecimento do teu Blogue,durante uma das minhas buscas na Net procurando notícias dos meus antigos camaradas de armas.
Sou o ex-Furriel Miliciano Herlander Simões e estive na Guiné entre Maio de 72 e Janeiro de 74.
Fui com destino à CCAÇ 16 onde nunca cheguei a ser colocado. Fui primeiro para os Duros de Nova Sintra (1) e depois para os Gringos de Guileje [, CCAÇ 3477, 1971/73], entretanto já sediados em Nhacra.
Espero através deste nosso sítio conseguir algumas notícias dos meus antigos camaradas, colocando-me desde já totalmente dísponivel para dar o meu modesto contributo a esta nobre causa.
Vou tentar enviar algumas fotos tiradas com os Gringos nas proximidades de Nhacra.
Um abraço!
Herlander Simões
_________
Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 10 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1747: Tabanca Grande (1): Apresenta-se o ex-Fur Mil Herlander Simões, um dos Duros de Nova Sintra (1972/74)
(2) Sobre os Gringos de Guileje, a CCAÇ 3477 (1971/73):
8 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1574: Uma estória dos Gringos de Guileje (CCAÇ 3477): Estás f..., pá! (Amaro Samúdio)
18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1293: Guileje: do chimpanzé-bébé aos abrigos à prova do 122 mm (Amaro Munhoz Samúdio, CCAÇ 3477)
10 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1162: Guileje: CCAÇ 3477, os Gringos Açorianos (Amaro Munhoz Samúdio)
Guiné > Região de Bissau > Nhacra > CCAÇ 3477 (1971/73) > O Fur Mil Herlander Simões numa patrulha nas imediações de Nhacra.
Guiné > Região de Bissau > Nhacra > CCAÇ 3477 (1971/73) > O Fur Mil Herlander Simões 'posando' para a fotografia, na margem direita do Rio Geba.
Guiné > Região de Bissau > Nhacra > CCAÇ 3477 (1971/73) > O Fur Mil Herlander Simões (o quarto da esquerda, na fila do lado esquerdo, seguido do Alf Mil Boavida) e outros camaradas na festa de aniversário do Fur Mil Mendes (no topo da mesa).
Guiné > Região de Bissau > Nhacra > CCAÇ 3477 (1971/73) > O Fur Mil Herlander Simões, sentado, aplaudindo o discurso do Alf Mil Boavida (de pé) na festa de aniversário do Fur Mil Mendes...
Guiné > Região de Bissau > Nhacra > CCAÇ 3477 (1971/73) > O Fur Mil Herlander Simões sentado no bar do quartel.
Fotos: © Herlander Simões (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem, com data de 1 de Março de 2007, do novo membro da nossa Tabanca Grande, Herlander Simões:
Caro camarada Luís Graça:
Tomei conhecimento do teu Blogue,durante uma das minhas buscas na Net procurando notícias dos meus antigos camaradas de armas.
Sou o ex-Furriel Miliciano Herlander Simões e estive na Guiné entre Maio de 72 e Janeiro de 74.
Fui com destino à CCAÇ 16 onde nunca cheguei a ser colocado. Fui primeiro para os Duros de Nova Sintra (1) e depois para os Gringos de Guileje [, CCAÇ 3477, 1971/73], entretanto já sediados em Nhacra.
Espero através deste nosso sítio conseguir algumas notícias dos meus antigos camaradas, colocando-me desde já totalmente dísponivel para dar o meu modesto contributo a esta nobre causa.
Vou tentar enviar algumas fotos tiradas com os Gringos nas proximidades de Nhacra.
Um abraço!
Herlander Simões
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Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 10 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1747: Tabanca Grande (1): Apresenta-se o ex-Fur Mil Herlander Simões, um dos Duros de Nova Sintra (1972/74)
(2) Sobre os Gringos de Guileje, a CCAÇ 3477 (1971/73):
8 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1574: Uma estória dos Gringos de Guileje (CCAÇ 3477): Estás f..., pá! (Amaro Samúdio)
18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1293: Guileje: do chimpanzé-bébé aos abrigos à prova do 122 mm (Amaro Munhoz Samúdio, CCAÇ 3477)
10 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1162: Guileje: CCAÇ 3477, os Gringos Açorianos (Amaro Munhoz Samúdio)
Guiné 63/74 - P1749: O Nosso Livro de Visitas: Orgulho no meu pai, da CCS do BCAÇ 2852, por ter representado bem o meu país (João Atalaia, filho)
Mensagem do João Atalaia, filho, enviada ao editor do Blogue e ao Paulo Raposo (ex-Alf Mil da CCAÇ 2405, BCAÇ 2852, Mansoa, Galomaro e Dulombi, 1968/70):
Caros amigos:
Em meu nome, e em memória do meu falecido pai [vd. foto ao lado do soldado recruta João Atalaia, em 1967, mobilizado em 1968 para a Guiné como soldado condutor auto da CCS do BCAÇ 2852] (1), escrevo-lhes para vos dizer que apreciei e me emocionei bastante com as vossas palavras e que, apesar de tudo pelo que passaram, tenho muito orgulho que o meu pai conjuntamente com outros camaradas tenham representado bem o país.
Apenas vos contactei por curiosidade, após visualizar alguns documentos que meu pai me deixou, e que hoje guardo para sempre. Tenho intenção de informar os meus dois filhos (8 anos e 6 meses) de que um dia Portugal se envolveu numa guerra, e que o seu avô participou nela.
Continuarei sempre a acompanhar o blogue.
Obrigado
João Atalaia
2. Comentário do editor do blogue:
João: Registo o seu interesse em ficar connosco. Vamos criar uma secção, na lista da nossa tertúlia, só para os filhos, netos, irmãos, viúvas e outros familiares de camararadas nossos já desaparecidos. É uma forma de honrar a sua memória, através dos vivos. (LG).
_______
Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 10 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1744: Camaradas que já nos deixaram (1): Sold condutor auto João Atalaia, CCS / BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) (João Atalaia, filho)
Caros amigos:
Em meu nome, e em memória do meu falecido pai [vd. foto ao lado do soldado recruta João Atalaia, em 1967, mobilizado em 1968 para a Guiné como soldado condutor auto da CCS do BCAÇ 2852] (1), escrevo-lhes para vos dizer que apreciei e me emocionei bastante com as vossas palavras e que, apesar de tudo pelo que passaram, tenho muito orgulho que o meu pai conjuntamente com outros camaradas tenham representado bem o país.
Apenas vos contactei por curiosidade, após visualizar alguns documentos que meu pai me deixou, e que hoje guardo para sempre. Tenho intenção de informar os meus dois filhos (8 anos e 6 meses) de que um dia Portugal se envolveu numa guerra, e que o seu avô participou nela.
Continuarei sempre a acompanhar o blogue.
Obrigado
João Atalaia
2. Comentário do editor do blogue:
João: Registo o seu interesse em ficar connosco. Vamos criar uma secção, na lista da nossa tertúlia, só para os filhos, netos, irmãos, viúvas e outros familiares de camararadas nossos já desaparecidos. É uma forma de honrar a sua memória, através dos vivos. (LG).
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Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 10 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1744: Camaradas que já nos deixaram (1): Sold condutor auto João Atalaia, CCS / BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) (João Atalaia, filho)
Guiné 63/74 - P1748: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (45): A visita do Coronel, o Grande Inquiridor
Guiné > Zona leste > Sector L1 > Bambadinca > Missirá > Pel Caç Nat 52 > 1968 > "Quando cheguei a Missirá era este o balneário existente. As sanitas começaram a ser montadas em Outubro. Formava-se bicha à entrada para tomar banho, a água era imunda e muitas vezes cheirava a petróleo (usavam-se bidões de gasóleo para ir buscar o líquido fundamental à fonte de Cancumba). Este balneário pré-histórico foi substituido em Novembro por um conjunto de 4 bidões que mais tarde, quando chegou um sistema de 6, oferecido pela engenharia de Brá, foi oferecido à população civil, para seu uso exclusivo.
Foto e legenda: © Beja Santos (2007). (Com a devida vénia ao Luís Casanova, que foi o fotógrafo, e que era furriel miliciano no Pel Caç Nat 52). Direitos reservados.
45ª Parte da série Operação Macaréu à Vista, da autoria de Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) (1). Texto enviado a 19 de Abril de 2007. Subtítulos do editor do blogue.
Caro Luís, aqui vai o episódio 45. Neste episódio descrevo a visita do inquiridor a Missirá, na sequência do meu recurso, falo em minha defesa das deploráveis condições que encontrei, por exemplo, na higiene. Faço minhas aqui as palavras do mail anterior: tens aí em teu poder o velho balneário podre e até Ieró Djaló a brincar com as crianças. (O balneário que eu encontrei nem sequer existia na Pedreira dos Húngaros!).
Fico triste de vires como o Sócrates a Pombal, entrada por saída. Confio que estejas mesmo a falar verdade, que vais aceitar a minha hospitalidade em breve. Há muita beleza natural nesta região de floresta. Para a semana, a despeito do feriado e da excitação do nosso encontro, há novo episódio. Imagina tu que estou a reler deslumbrado o Aquilino Ribeiro que li na Guiné. Mais não fosse, eu devia estar a pagar pelo regresso a esta obras primas.
Aceita um abraço do teu amigo e admirador, Mário.
A visita do Grande Inquiridor
por Beja Santos
Para nosso desespero, a época das chuvas chegou pujante, em majestade. São águas que desabam dos céus e que se infiltram pelas goteiras do mundo, desde as botas de lona até às munições nos abrigos. Trazem mosquitos, líquenes nas costas e nas regiões húmidas do corpo, vermes que se instalam nos dedos dos pés, desfazem os tijolos de adobe, inundam as picadas desorientando a nossa vigilância quanto aos perigos das minas, e quando se afastam substituídas pelo sol ardente deixam a farda com a espessura da serapilheira apodrecida e do cartão encarquilhado.
Missirá ficava no cu de Judas, a 16 Km da sede do Batalhão
À pressa, investimos todo o dinheiro da cantina em géneros enlatados, desde a barrica de pé de porco, passando pelos hortícolas em conserva, até aos cafés e massas, isto para já não falar nos tacos de arroz para a população, o problema nº1 do calvário dos abastecimentos. Para quem não sabe, Missirá dista 16 Km de Bambadinca, atravessa-se um rio caprichoso que quando vasa deixa lama até aos nossos mamilos, uma bolanha de Finete que fica intransitável ou quase, como numa expedição do tipo das minas do Rei Salomão, trazemos a comida, as munições, os artigos de higiene, tudo o que justifica a nossa existência naquele esporão em que se afunda o mato mais ermo, tudo à cabeça, nas mãos, em padiola, às costas, em tudo quanto é bolso das nossas fardas.
Estamos em meados de Maio, nunca se viu tanta azáfama em Mato de Cão, muito provavelmente algo está a mudar nos contigentes que se deslocam para todo o Leste, é um rodopio de tropa que chega e tropa que parte, djilas que trazem panos e levam coconote e mancarra, momentos há em que os canhões das LDG perscrutam a mata para acautelar os equipamentos valiosos que levam no bojo.
A qualquer hora do dia e da noite, ouvimos o latejar destas embarcações, nós deitados ou de pé na orla dos palmeirais de Chicri, procurando avistar ou ouvir qualquer sinal da presença do inimigo. Nada entendo do terror que eles pretendem instalar em Mato de Cão: não aparecem, não há sinais de emboscada, no outro dia desesperaram com uma espera e mina anticarro, ainda ensaiaram destruir um pontão, sabe-se lá se convictos que está para ser reactivado o percurso entre Porto Gole-Enxalé-Missirá. Que andam perto, andam. De manhã cedo, ao entardecer, ouvem-se tiros isolados e Cibo Indjai sentencia:
- Cá andam eles à caça da gazela ou do porco do mato. - Além disso, usam itinerários novos, que são os velhos caminhos de quem não suspeitávamos há muito, e vêm-se abastecer aos Nhabijões e a Mero. Iremos assustá-los brutalmente na noite escura de 27 de Maio.
O longo braço do poder: apresenta-se o Senhor Coronel Inquiridor
A mensagem intrigante da vinda de uma ilustre patente acaba de chegar: "Esteja nesse amanhã para receber inquiridor justiça militar". Parto para Mato de Cão não sem primeiro dar indicações sobre as últimas obras essenciais ao Casanova e ao Pires, recordando-lhes a questão dos arrumos, mesmo na área da tabanca civil.
O Casanova está a deprimir e eu não dou por isso. É ele quem presentemente acompanha as emboscadas nocturnas (uma nova exigência de Bafatá), conto com o Pires sobretudo para a intendência e o acompanhamento das obras em Finete. É uma depressão insidiosa, o Casanova está ensimesmado, monossilábico e agreste. A tempestade irá eclodir em Agosto. Regresso ao amanhecer a Missirá, trago toda a chuvada no corpo, misturada de orvalho, lama abundante, mas venho preparado para essa justiça militar cujo fim desconheço.
A entidade de Bissau anuncia-se depois das 10h da manhã pelo zumbido do helicóptero que começa a fazer helicóides e pousa mansinho no amplo terreiro em frente à porta de armas, ainda mais amplo depois da desbastação dos cajueiros que pertenciam ao régulo Malã Soncó. Estou banhado e de farda lavada, com a agravante de ter dormido duas horas de sono ferrado.
O ilustre visitante traz galões de Coronel, é alto, esconde a calvície puxando todos o cabelo disponível na testa, tem aperto de mão enérgico, anuncia-me que vem a mando de Sua Excelência o Comandante Militar ouvir-me no recurso pela minha punição. Exige um espaço reservado para me ouvir, mas como eu sou acusado de não cuidar da higiene e limpeza, nem mesmo das regras de segurança, exige começar a visita do interior do aquartelamento para as fileiras de arame farpado. Percorre demoradamente as tarefas da população civil e vê as mulheres e as crianças a preparar o chabéu, vê o esmagar dos caroços transformados em óleo de palma, o preparar do bajiquiti (couves), do jacatu (beringela), faz perguntas sobre o milho, os mangos, o tempo das fainas .
Dou-lhe as explicações que sei, recordo que esta população depende da autoridade civil, com quem o entendimento é excelente. Quer saber o que foi feito dos grandes problemas de higiene de que fui acusado. Levo-o até ao balneário com 6 bidões, onde agora é possível tomar banho a qualquer hora do dia e digo-lhe:
- Meu Coronel, tenho ali uma fotografia para ver o escombro do velho chuveiro. Quando cheguei aqui não havia uma sanita, um mictório, era tudo em contacto com a Natureza. Vou mostrar-lhe o que entretanto se fez e pode ser observado pelos oficiais generais.
Fala-me depois da segurança e percorremos os abrigos, as valas e os taludes com bidões que garantem alguma segurança em caso de flagelação. Sinto uma moínha na cabeça, que eu sei que vem da alma, uma vergonha inenarrável de ter que me justificar do que fiz e não fiz. É um novelo espesso de raiva que procuro controlar agarrando-me ao autodomínio que não sei de onde parte nem para onde vai. O Coronel inquiridor viu o arame farpado, subiu às vigias onde se fazem os reforços, onde há sentinelas dia e noite, já foi à cantina, ouviu a ladainha do professor que discursa para as crianças, pede água engarrafada e exige ouvir-me num local fechado.
O fantasma de Kafka (2)
Começa a segunda fase da inquirição: sou identificado (aqui sinto a presença do Kafka, como se eu pudesse ter um agente duplo em Missirá), é lida a punição, o teor do meu recurso e a sua desconsideração pelo Coronel de Bafatá. Ouvido sobre a matéria, volto a defender-me: há cascas de batata em frente à messe porque todos estiveram a trabalhar até meia hora antes de eu determinar os preparativos do almoço; justifiquei os cartuchos que Sua Excelência, o Comandante Chefe encontrou no local donde partimos a qualquer hora do dia ou da noite e onde há sempre a ordem culatra à retaguarda!, o que não inibindo as nossas responsabilidades na sua recolha abona da prudência que usamos para evitar acidentes mortais; justifico as obras no arame farpado, nos abrigos, na preparação dos soldados e num dado momento não resisto a perguntar se há algum destacamento com o escasso contigente deste onde diariamente há um patrulhamento de 25 Km, uma emboscada nocturna e pequenas operações semanais, tão pequenas que têm contacto com o inimigo que é emboscado e nos trata com respeito.
Mas rapidamente volto ao essencial da matéria que é uma defesa argumentada com o conhecimento que os meus superiores de Bambadinca têm de tudo o que está a ser feito desde Agosto de 68 até passados estes 10 meses que levo de comissão ininterrupta neste ermitério. Caminha-se para a 1 da tarde e convido o meu inquiridor a almoçar connosco.
Agradece, mas vai partir para Bafatá, nunca mais saberei nada dele a não ser quando em Agosto assinar a nota de punição em que o meu recurso só parcialmente foi contemplado: continuo a ter dois dias de prisão simples por não ter dedicado o máximo do meu interesse às deficientes condições de defesa e limpeza de Missirá. Por pura coincidência, presumo, nessa mesma data o Coronel Felgas (3) presenteia-me com louvor, exaltando a mentalidade ofensiva que imprimi às tropas que comando, refere o meu destemor, a despeito das múltiplas dificuldades e carências no meio hostil que me envolve. E por pura coincidência, presumo, Sua Excelência o Comandante Militar considera dado por si este louvor.
A tragicomédia não me amesquinhou e trouxe-me um rico ensinamento: não basta fazer com denodo, tem que se aparentar, tem que se dar uma imagem de encenação e retórica, sobretudo para esconder o importante do que não se faz. Ora, no Cuor, e com tropa africana, duas coisas podem acontecer: ou fazemos e estamos de bem com a consciência e somos respeitados pelos nossos soldados e pelas populações, ou fingimos que fazemos e somos desprezados. Oiço às vezes o Queta referir-se a tantos oficiais e sargentos com quem ele conviveu na Guiné, falando deles como uns incapazes que contribuíram para levantar o ânimo do próprio inimigo. Não interessa fazer moralidade, não ajuízo ninguém, o que sempre me orientou foi ouvir a minha respiração no espelho da consciência. Aquela punição foi injusta, deixou-me a sangrar, tudo passou.
Voltámos à Aldeia do Cuor, porque houve notícia de que um grupo de homens andava a roubar vacas em Bissaque, junto a Mero, o que quer que tenha acontecido não houve sinais em terras do Cuor. Por essas noites ouvimos foguear em Amedalai, Demba Taco e Moricanhe, um dilúvio de sofrimento nessas populações civis suportadas por milícias. Para quem não sabe, os nossos relatórios não referem as crianças carbonizadas nessas flagelações.
Faz um ano que Finete foi alvo de um feroz ataque onde Braima Mané ficou estropiado, e eu temo novos castigos, acelero a preparação dos milícias com auxílio de Bacari Soncó, todas as munições disponíveis vão para Finete.
Confirma-se que terei que ir a Bissau depor no julgamento de Ieró Djaló, o nosso milícia que deixou fugir o prisioneiro de Quebá Jilã. Medito nesta contingência: Ieró é uma jóia de rapaz, mas tem um parafuso a menos. De vez em quando, pela surda, pega na G3 e vai visitar familiares a Finete e a Bambadinca. Quando me enfureço com ele, graças a uma gaguez muito especial, o rosto contrai-se como se quisesse ficar reduzido e depois explode as sílabas sacudidas. Numa rixa com Mamasaliu, enfiou-lhe um murro que o deixou inconsciente. É um gigantão que brinca com as crianças, eu não sei bem o que devo depor a seu favor, tenho que falar com juristas em Bambadinca.
O Furriel Pires veio-me mostrar cheio de orgulho o armazém recauchutado onde se guardam as nossas alfaias da reconstrução de Missirá: motoserra, catanas, machados, enxós, tesouras, por aí adiante. Está pronto o espaldão para o morteiro 81, mais largo e que permite acondicionar um maior número de granadas. Estou completamente exausto mas vivo um momento feliz com a Missirá renascida.
Palmeiras Bravas: A (re)descoberta de Faulkner em Missirá
Acaba de chegar correio. Dois concertos para piano de Mozart, os nr. 17 e 21, vêm trazer bonomia à minha existência e escuto-os na interpretação grandiosa de Géza Anda e da Camerata Académica do Mozarteum de Salzburgo. Para quem pensa que em Bafatá não é possível adquirir cultura, esclareço que comprei Monteverdi e Strauss. E fiz leituras de arromba, como passo a descrever. Primeiro Palmeiras Bravas, uma obra prima de William Faulkner. O seu tradutor, Jorge de Sena, considera este romance "um dos mais belos e audaciosos romances de amor que jamais se escreveram".
É a segunda vez que mergulho no estilo do Faulkner, gongórico, excessivo, por vezes delirante. Ele fala de Nova Orleans, dos escravos, da agricultura do Mississipi, do fim de uma aristocracia rural feita de elegâncias cavalheirescas que odeiam o pragmatismo dessa gente do Norte, que só pensa no dinheiro e no consumo. O amor de Charlotte Rittenmeyer e de Henry Wilbourne tem um nível e uma tragédia como a de Tristão e Isolda ou Romeu e Julieta. Charlotte abandona o casamento e os filhos com o médico recém formado, Henry e vão viver um amor intenso, numa atmosfera de penúria e sensualidade. Arrastam-se em fuga por metade dos Estados Unidos, galvanizados pela força do seu amor. Charlotte morre num aborto mal sucedido e Henry aceita as penas da prisão, desprezando a oportunidade de suicídio por cianeto que lhe oferece o marido de Charlotte, exigindo que a memória da mulher amada permaneça imbuída na dor mais completa.
Capa do romance Palmeiras Bravas, de Wiliam Faulkner. Lisboa: Portugal Editora. s/d. (Colecção Livro de Bolso, 19/20): Tradução, prefácio e notas de Jorge de Sena. Capa de João da Câmara Leme. (Ed. original, The Wild Palms, 1939). William Faulkner (1987-1962), é um dos grandes nomes da literatura norte-americano e mundial do Séc. XX. Foi Prémio Nobel da Literatura em 1947. (LG).
Fopto: Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007).
Mas é o fascínio do discurso narrativo que me prende do princípio ao fim. O médico, colega de Henry, que abre o romance quando é procurado quando Charlotte entra no seu calvário de sofrimento. A apresentação de Henry a Charlotte, e o conhecimento que ficamos a ter dos seus respectivos caracteres e de um casamento reduzido à podridão e meras conveniências; a fuga dos amorosos para Chicago, os trabalhos desqualificados, uma errância que em todas as linhas ainda nos recorda a crise de 1929; as condições de trabalho abomináveis numa mina que tanto pode estar no Árctico como noutro qualquer fim do mundo. A visita de Charlotte aos filhos e a intensidade do reencontro com o marido; a gravidez e o desejo do aborto; a retoma do discurso com o médico com que inicialmente abre o romance; os diálogos pungentes entre Charlotte e Henry; a deliberada entrega de Henry à Justiça, como se aquela sentença constituísse a única saída para a redenção.
Acaba de nascer a minha admiração pela obra de Faulkner. Correndo o risco de ser tomado como um cabotino, quero dar conta do prazer com que leio Mickey Spillane. Spillane é um produto acabado do macartismo, do negrume da Guerra Fria, um apóstolo declarado do antigo comunismo. Inventou vários cavaleiros andantes, com destaque para o detective Mike Hammer, um justiceiro que persegue mafiosos com a mesma senha com que abate os inimigos da América.
Capa do romance policial A Vingança é Minha, de Mickey Spillane (1918-2006). Lisboa: Livros do Brasil, s/d. (Colecção Vampiro, 143). Capa de Lima de Freitas.
Foto: Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007).
Dotado de um poder narrativo ímpar, escreve policiais misturando a série negra com a saga aventureira e a moral da justiça própria. Parece óbvio , mas o seu discurso é poderoso e avassalador. Oiçamo-lo logo no início deste livro que acabo de ler A Vingança é Minha: "O tipo estava absolutamente morto. Jazia no soalho, com o pijama vestido, os miolos todos espalhados por cima da carpete e a minha pistola na mão. Continuei a esfregar a cara para afastar a névoa que envolvia a mente mas os chuis não me deixaram. Um deles afastava-me a mão e gritava-me uma pergunta que ainda fazia doer-me mais a cabeça e outro dava-me na cara com um pano molhado até eu sentir que estava completamente desfeito".
Mike Hammer, como se compreende, vai desvendar a teia do crime, vai descobrir quem matou o amigo através de um vendaval de tiros, cadáveres no asfalto, estranhas beldades em agências de modelos entregues a negócios pouco claros. Pelo meio, Velda, a secretária virgem de Mike, vai ajudando à festa, sempre à espera de se entregar nos braços do seu belo justiceiro. Há quem chame esta literatura entretenimento, considero a apreciação muito discutível quando se escreve com esta mestria, este desafogo, este caudal de imagens incendiadas, às vezes a roçar o lirismo puro. Felizmente, ainda lerei muito Mickey Spillane até ao fim da comissão e ainda depois.
Prestem atenção ao que se vai seguir. Não vou conseguir iludir mais a exaustão, desmaio e o David Payne vai animar-me, obrigar-me a ter juízo. Vou emboscar, e com resultados. E a seguir, no fim do mês, Bambadinca vai ser sujeita a uma duríssima prova de fogo e vários oficiais serão castigados. A guerra mudou de rumo , um PAIGC moralizado mostra que a Operação Lança Afiada não teve quaisquer consequências, quem vai ficar encurralado somos nós. A partir de agora, nem as autodefesas concebidas por Spínola vão conseguir levar por adiante o desejo de "uma Guiné melhor" onde nós, a tropa branca e africana, aparece como o grande vigilante da paz.
__________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 4 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1730: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (44): Uma temerária e clandestina ida a Bucol
(2) Vd. post de 6 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1050: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (7): O espectro de Kafka nas guerras do Cuor
(3) Rerências ao coronel Hélio Felgas e à punição ao Alf Beja Santos: Vd. posts de
13 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1365: Operação Macaréu à Vista (24): Discutindo os destinos do Cuor com o Coronel Hélio Felgas
25 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1461: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (30): Spínola, o Homem Grande de Bissau, em Missirá
8 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1504: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (32): Aruma Sambu, o prisioneiro de Quebá Jilã
16 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1531: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (33): O Sintex: A Marinha Mercante chega até Missirá
23 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1542: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (34): Uma desastrada e desastrosa operação a Madina/Belel
Foto e legenda: © Beja Santos (2007). (Com a devida vénia ao Luís Casanova, que foi o fotógrafo, e que era furriel miliciano no Pel Caç Nat 52). Direitos reservados.
45ª Parte da série Operação Macaréu à Vista, da autoria de Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) (1). Texto enviado a 19 de Abril de 2007. Subtítulos do editor do blogue.
Caro Luís, aqui vai o episódio 45. Neste episódio descrevo a visita do inquiridor a Missirá, na sequência do meu recurso, falo em minha defesa das deploráveis condições que encontrei, por exemplo, na higiene. Faço minhas aqui as palavras do mail anterior: tens aí em teu poder o velho balneário podre e até Ieró Djaló a brincar com as crianças. (O balneário que eu encontrei nem sequer existia na Pedreira dos Húngaros!).
Fico triste de vires como o Sócrates a Pombal, entrada por saída. Confio que estejas mesmo a falar verdade, que vais aceitar a minha hospitalidade em breve. Há muita beleza natural nesta região de floresta. Para a semana, a despeito do feriado e da excitação do nosso encontro, há novo episódio. Imagina tu que estou a reler deslumbrado o Aquilino Ribeiro que li na Guiné. Mais não fosse, eu devia estar a pagar pelo regresso a esta obras primas.
Aceita um abraço do teu amigo e admirador, Mário.
A visita do Grande Inquiridor
por Beja Santos
Para nosso desespero, a época das chuvas chegou pujante, em majestade. São águas que desabam dos céus e que se infiltram pelas goteiras do mundo, desde as botas de lona até às munições nos abrigos. Trazem mosquitos, líquenes nas costas e nas regiões húmidas do corpo, vermes que se instalam nos dedos dos pés, desfazem os tijolos de adobe, inundam as picadas desorientando a nossa vigilância quanto aos perigos das minas, e quando se afastam substituídas pelo sol ardente deixam a farda com a espessura da serapilheira apodrecida e do cartão encarquilhado.
Missirá ficava no cu de Judas, a 16 Km da sede do Batalhão
À pressa, investimos todo o dinheiro da cantina em géneros enlatados, desde a barrica de pé de porco, passando pelos hortícolas em conserva, até aos cafés e massas, isto para já não falar nos tacos de arroz para a população, o problema nº1 do calvário dos abastecimentos. Para quem não sabe, Missirá dista 16 Km de Bambadinca, atravessa-se um rio caprichoso que quando vasa deixa lama até aos nossos mamilos, uma bolanha de Finete que fica intransitável ou quase, como numa expedição do tipo das minas do Rei Salomão, trazemos a comida, as munições, os artigos de higiene, tudo o que justifica a nossa existência naquele esporão em que se afunda o mato mais ermo, tudo à cabeça, nas mãos, em padiola, às costas, em tudo quanto é bolso das nossas fardas.
Estamos em meados de Maio, nunca se viu tanta azáfama em Mato de Cão, muito provavelmente algo está a mudar nos contigentes que se deslocam para todo o Leste, é um rodopio de tropa que chega e tropa que parte, djilas que trazem panos e levam coconote e mancarra, momentos há em que os canhões das LDG perscrutam a mata para acautelar os equipamentos valiosos que levam no bojo.
A qualquer hora do dia e da noite, ouvimos o latejar destas embarcações, nós deitados ou de pé na orla dos palmeirais de Chicri, procurando avistar ou ouvir qualquer sinal da presença do inimigo. Nada entendo do terror que eles pretendem instalar em Mato de Cão: não aparecem, não há sinais de emboscada, no outro dia desesperaram com uma espera e mina anticarro, ainda ensaiaram destruir um pontão, sabe-se lá se convictos que está para ser reactivado o percurso entre Porto Gole-Enxalé-Missirá. Que andam perto, andam. De manhã cedo, ao entardecer, ouvem-se tiros isolados e Cibo Indjai sentencia:
- Cá andam eles à caça da gazela ou do porco do mato. - Além disso, usam itinerários novos, que são os velhos caminhos de quem não suspeitávamos há muito, e vêm-se abastecer aos Nhabijões e a Mero. Iremos assustá-los brutalmente na noite escura de 27 de Maio.
O longo braço do poder: apresenta-se o Senhor Coronel Inquiridor
A mensagem intrigante da vinda de uma ilustre patente acaba de chegar: "Esteja nesse amanhã para receber inquiridor justiça militar". Parto para Mato de Cão não sem primeiro dar indicações sobre as últimas obras essenciais ao Casanova e ao Pires, recordando-lhes a questão dos arrumos, mesmo na área da tabanca civil.
O Casanova está a deprimir e eu não dou por isso. É ele quem presentemente acompanha as emboscadas nocturnas (uma nova exigência de Bafatá), conto com o Pires sobretudo para a intendência e o acompanhamento das obras em Finete. É uma depressão insidiosa, o Casanova está ensimesmado, monossilábico e agreste. A tempestade irá eclodir em Agosto. Regresso ao amanhecer a Missirá, trago toda a chuvada no corpo, misturada de orvalho, lama abundante, mas venho preparado para essa justiça militar cujo fim desconheço.
A entidade de Bissau anuncia-se depois das 10h da manhã pelo zumbido do helicóptero que começa a fazer helicóides e pousa mansinho no amplo terreiro em frente à porta de armas, ainda mais amplo depois da desbastação dos cajueiros que pertenciam ao régulo Malã Soncó. Estou banhado e de farda lavada, com a agravante de ter dormido duas horas de sono ferrado.
O ilustre visitante traz galões de Coronel, é alto, esconde a calvície puxando todos o cabelo disponível na testa, tem aperto de mão enérgico, anuncia-me que vem a mando de Sua Excelência o Comandante Militar ouvir-me no recurso pela minha punição. Exige um espaço reservado para me ouvir, mas como eu sou acusado de não cuidar da higiene e limpeza, nem mesmo das regras de segurança, exige começar a visita do interior do aquartelamento para as fileiras de arame farpado. Percorre demoradamente as tarefas da população civil e vê as mulheres e as crianças a preparar o chabéu, vê o esmagar dos caroços transformados em óleo de palma, o preparar do bajiquiti (couves), do jacatu (beringela), faz perguntas sobre o milho, os mangos, o tempo das fainas .
Dou-lhe as explicações que sei, recordo que esta população depende da autoridade civil, com quem o entendimento é excelente. Quer saber o que foi feito dos grandes problemas de higiene de que fui acusado. Levo-o até ao balneário com 6 bidões, onde agora é possível tomar banho a qualquer hora do dia e digo-lhe:
- Meu Coronel, tenho ali uma fotografia para ver o escombro do velho chuveiro. Quando cheguei aqui não havia uma sanita, um mictório, era tudo em contacto com a Natureza. Vou mostrar-lhe o que entretanto se fez e pode ser observado pelos oficiais generais.
Fala-me depois da segurança e percorremos os abrigos, as valas e os taludes com bidões que garantem alguma segurança em caso de flagelação. Sinto uma moínha na cabeça, que eu sei que vem da alma, uma vergonha inenarrável de ter que me justificar do que fiz e não fiz. É um novelo espesso de raiva que procuro controlar agarrando-me ao autodomínio que não sei de onde parte nem para onde vai. O Coronel inquiridor viu o arame farpado, subiu às vigias onde se fazem os reforços, onde há sentinelas dia e noite, já foi à cantina, ouviu a ladainha do professor que discursa para as crianças, pede água engarrafada e exige ouvir-me num local fechado.
O fantasma de Kafka (2)
Começa a segunda fase da inquirição: sou identificado (aqui sinto a presença do Kafka, como se eu pudesse ter um agente duplo em Missirá), é lida a punição, o teor do meu recurso e a sua desconsideração pelo Coronel de Bafatá. Ouvido sobre a matéria, volto a defender-me: há cascas de batata em frente à messe porque todos estiveram a trabalhar até meia hora antes de eu determinar os preparativos do almoço; justifiquei os cartuchos que Sua Excelência, o Comandante Chefe encontrou no local donde partimos a qualquer hora do dia ou da noite e onde há sempre a ordem culatra à retaguarda!, o que não inibindo as nossas responsabilidades na sua recolha abona da prudência que usamos para evitar acidentes mortais; justifico as obras no arame farpado, nos abrigos, na preparação dos soldados e num dado momento não resisto a perguntar se há algum destacamento com o escasso contigente deste onde diariamente há um patrulhamento de 25 Km, uma emboscada nocturna e pequenas operações semanais, tão pequenas que têm contacto com o inimigo que é emboscado e nos trata com respeito.
Mas rapidamente volto ao essencial da matéria que é uma defesa argumentada com o conhecimento que os meus superiores de Bambadinca têm de tudo o que está a ser feito desde Agosto de 68 até passados estes 10 meses que levo de comissão ininterrupta neste ermitério. Caminha-se para a 1 da tarde e convido o meu inquiridor a almoçar connosco.
Agradece, mas vai partir para Bafatá, nunca mais saberei nada dele a não ser quando em Agosto assinar a nota de punição em que o meu recurso só parcialmente foi contemplado: continuo a ter dois dias de prisão simples por não ter dedicado o máximo do meu interesse às deficientes condições de defesa e limpeza de Missirá. Por pura coincidência, presumo, nessa mesma data o Coronel Felgas (3) presenteia-me com louvor, exaltando a mentalidade ofensiva que imprimi às tropas que comando, refere o meu destemor, a despeito das múltiplas dificuldades e carências no meio hostil que me envolve. E por pura coincidência, presumo, Sua Excelência o Comandante Militar considera dado por si este louvor.
A tragicomédia não me amesquinhou e trouxe-me um rico ensinamento: não basta fazer com denodo, tem que se aparentar, tem que se dar uma imagem de encenação e retórica, sobretudo para esconder o importante do que não se faz. Ora, no Cuor, e com tropa africana, duas coisas podem acontecer: ou fazemos e estamos de bem com a consciência e somos respeitados pelos nossos soldados e pelas populações, ou fingimos que fazemos e somos desprezados. Oiço às vezes o Queta referir-se a tantos oficiais e sargentos com quem ele conviveu na Guiné, falando deles como uns incapazes que contribuíram para levantar o ânimo do próprio inimigo. Não interessa fazer moralidade, não ajuízo ninguém, o que sempre me orientou foi ouvir a minha respiração no espelho da consciência. Aquela punição foi injusta, deixou-me a sangrar, tudo passou.
Voltámos à Aldeia do Cuor, porque houve notícia de que um grupo de homens andava a roubar vacas em Bissaque, junto a Mero, o que quer que tenha acontecido não houve sinais em terras do Cuor. Por essas noites ouvimos foguear em Amedalai, Demba Taco e Moricanhe, um dilúvio de sofrimento nessas populações civis suportadas por milícias. Para quem não sabe, os nossos relatórios não referem as crianças carbonizadas nessas flagelações.
Faz um ano que Finete foi alvo de um feroz ataque onde Braima Mané ficou estropiado, e eu temo novos castigos, acelero a preparação dos milícias com auxílio de Bacari Soncó, todas as munições disponíveis vão para Finete.
Confirma-se que terei que ir a Bissau depor no julgamento de Ieró Djaló, o nosso milícia que deixou fugir o prisioneiro de Quebá Jilã. Medito nesta contingência: Ieró é uma jóia de rapaz, mas tem um parafuso a menos. De vez em quando, pela surda, pega na G3 e vai visitar familiares a Finete e a Bambadinca. Quando me enfureço com ele, graças a uma gaguez muito especial, o rosto contrai-se como se quisesse ficar reduzido e depois explode as sílabas sacudidas. Numa rixa com Mamasaliu, enfiou-lhe um murro que o deixou inconsciente. É um gigantão que brinca com as crianças, eu não sei bem o que devo depor a seu favor, tenho que falar com juristas em Bambadinca.
O Furriel Pires veio-me mostrar cheio de orgulho o armazém recauchutado onde se guardam as nossas alfaias da reconstrução de Missirá: motoserra, catanas, machados, enxós, tesouras, por aí adiante. Está pronto o espaldão para o morteiro 81, mais largo e que permite acondicionar um maior número de granadas. Estou completamente exausto mas vivo um momento feliz com a Missirá renascida.
Palmeiras Bravas: A (re)descoberta de Faulkner em Missirá
Acaba de chegar correio. Dois concertos para piano de Mozart, os nr. 17 e 21, vêm trazer bonomia à minha existência e escuto-os na interpretação grandiosa de Géza Anda e da Camerata Académica do Mozarteum de Salzburgo. Para quem pensa que em Bafatá não é possível adquirir cultura, esclareço que comprei Monteverdi e Strauss. E fiz leituras de arromba, como passo a descrever. Primeiro Palmeiras Bravas, uma obra prima de William Faulkner. O seu tradutor, Jorge de Sena, considera este romance "um dos mais belos e audaciosos romances de amor que jamais se escreveram".
É a segunda vez que mergulho no estilo do Faulkner, gongórico, excessivo, por vezes delirante. Ele fala de Nova Orleans, dos escravos, da agricultura do Mississipi, do fim de uma aristocracia rural feita de elegâncias cavalheirescas que odeiam o pragmatismo dessa gente do Norte, que só pensa no dinheiro e no consumo. O amor de Charlotte Rittenmeyer e de Henry Wilbourne tem um nível e uma tragédia como a de Tristão e Isolda ou Romeu e Julieta. Charlotte abandona o casamento e os filhos com o médico recém formado, Henry e vão viver um amor intenso, numa atmosfera de penúria e sensualidade. Arrastam-se em fuga por metade dos Estados Unidos, galvanizados pela força do seu amor. Charlotte morre num aborto mal sucedido e Henry aceita as penas da prisão, desprezando a oportunidade de suicídio por cianeto que lhe oferece o marido de Charlotte, exigindo que a memória da mulher amada permaneça imbuída na dor mais completa.
Capa do romance Palmeiras Bravas, de Wiliam Faulkner. Lisboa: Portugal Editora. s/d. (Colecção Livro de Bolso, 19/20): Tradução, prefácio e notas de Jorge de Sena. Capa de João da Câmara Leme. (Ed. original, The Wild Palms, 1939). William Faulkner (1987-1962), é um dos grandes nomes da literatura norte-americano e mundial do Séc. XX. Foi Prémio Nobel da Literatura em 1947. (LG).
Fopto: Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007).
Mas é o fascínio do discurso narrativo que me prende do princípio ao fim. O médico, colega de Henry, que abre o romance quando é procurado quando Charlotte entra no seu calvário de sofrimento. A apresentação de Henry a Charlotte, e o conhecimento que ficamos a ter dos seus respectivos caracteres e de um casamento reduzido à podridão e meras conveniências; a fuga dos amorosos para Chicago, os trabalhos desqualificados, uma errância que em todas as linhas ainda nos recorda a crise de 1929; as condições de trabalho abomináveis numa mina que tanto pode estar no Árctico como noutro qualquer fim do mundo. A visita de Charlotte aos filhos e a intensidade do reencontro com o marido; a gravidez e o desejo do aborto; a retoma do discurso com o médico com que inicialmente abre o romance; os diálogos pungentes entre Charlotte e Henry; a deliberada entrega de Henry à Justiça, como se aquela sentença constituísse a única saída para a redenção.
Acaba de nascer a minha admiração pela obra de Faulkner. Correndo o risco de ser tomado como um cabotino, quero dar conta do prazer com que leio Mickey Spillane. Spillane é um produto acabado do macartismo, do negrume da Guerra Fria, um apóstolo declarado do antigo comunismo. Inventou vários cavaleiros andantes, com destaque para o detective Mike Hammer, um justiceiro que persegue mafiosos com a mesma senha com que abate os inimigos da América.
Capa do romance policial A Vingança é Minha, de Mickey Spillane (1918-2006). Lisboa: Livros do Brasil, s/d. (Colecção Vampiro, 143). Capa de Lima de Freitas.
Foto: Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007).
Dotado de um poder narrativo ímpar, escreve policiais misturando a série negra com a saga aventureira e a moral da justiça própria. Parece óbvio , mas o seu discurso é poderoso e avassalador. Oiçamo-lo logo no início deste livro que acabo de ler A Vingança é Minha: "O tipo estava absolutamente morto. Jazia no soalho, com o pijama vestido, os miolos todos espalhados por cima da carpete e a minha pistola na mão. Continuei a esfregar a cara para afastar a névoa que envolvia a mente mas os chuis não me deixaram. Um deles afastava-me a mão e gritava-me uma pergunta que ainda fazia doer-me mais a cabeça e outro dava-me na cara com um pano molhado até eu sentir que estava completamente desfeito".
Mike Hammer, como se compreende, vai desvendar a teia do crime, vai descobrir quem matou o amigo através de um vendaval de tiros, cadáveres no asfalto, estranhas beldades em agências de modelos entregues a negócios pouco claros. Pelo meio, Velda, a secretária virgem de Mike, vai ajudando à festa, sempre à espera de se entregar nos braços do seu belo justiceiro. Há quem chame esta literatura entretenimento, considero a apreciação muito discutível quando se escreve com esta mestria, este desafogo, este caudal de imagens incendiadas, às vezes a roçar o lirismo puro. Felizmente, ainda lerei muito Mickey Spillane até ao fim da comissão e ainda depois.
Prestem atenção ao que se vai seguir. Não vou conseguir iludir mais a exaustão, desmaio e o David Payne vai animar-me, obrigar-me a ter juízo. Vou emboscar, e com resultados. E a seguir, no fim do mês, Bambadinca vai ser sujeita a uma duríssima prova de fogo e vários oficiais serão castigados. A guerra mudou de rumo , um PAIGC moralizado mostra que a Operação Lança Afiada não teve quaisquer consequências, quem vai ficar encurralado somos nós. A partir de agora, nem as autodefesas concebidas por Spínola vão conseguir levar por adiante o desejo de "uma Guiné melhor" onde nós, a tropa branca e africana, aparece como o grande vigilante da paz.
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Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 4 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1730: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (44): Uma temerária e clandestina ida a Bucol
(2) Vd. post de 6 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1050: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (7): O espectro de Kafka nas guerras do Cuor
(3) Rerências ao coronel Hélio Felgas e à punição ao Alf Beja Santos: Vd. posts de
13 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1365: Operação Macaréu à Vista (24): Discutindo os destinos do Cuor com o Coronel Hélio Felgas
25 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1461: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (30): Spínola, o Homem Grande de Bissau, em Missirá
8 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1504: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (32): Aruma Sambu, o prisioneiro de Quebá Jilã
16 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1531: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (33): O Sintex: A Marinha Mercante chega até Missirá
23 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1542: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (34): Uma desastrada e desastrosa operação a Madina/Belel
quinta-feira, 10 de maio de 2007
Guiné 63/74 - P1747: Tabanca Grande (8): Herlânder Simões, ex-Fur Mil, um dos Duros de Nova Sintra (1972/74)
Guiné > Região de Bolama > Nova Sintra > 1972 > Entrada do quartel dos Duros de Nova Sintra.
Guiné > Região de Bolama > Nova Sintra > Crachás das unidades que por ali passaram.
Guiné > Região de Bolama > Nova Sintra > Chegada dos piras...
Guiné > Região de Bolama > Nova Sintrra > Apresentação de boas vindas aos periquitos...
Guiné > Região de Bolama > Nova Sintra > Largada de frescos e correio, de paraquedas...
Fotos: © Herlander Simões (200). Direitos reservados.
1. Mensagem de Herlander Simões:
Assunto - Apresentação de um Ex-Combatente
Caro camarada Luís Graça:
Tomei conhecimento do teu Blogue,durante uma das minhas buscas na Net, procurando notícias dos meus antigos camaradas de armas.
Sou o ex-Furriel Miliciano Herlânder Simões e estive na Guiné entre Maio de 1972 e Janeiro de 1974.
Fui com destino à CCAÇ 16 onde nunca cheguei a ser colocado. Fuí primeiro para os Duros de Nova Sintra e depois para os Gringos de Guileje [CCAÇ 3477], entretanto já sediados em Nhacra.
Espero, através deste nosso sítio, conseguir algumas notícias dos meus antigos camaradas, colocando-me desde já totalmente dísponivel para dar o meu modesto contríbuto a esta nobre causa.
Vou tentar enviar algumas fotos tiradas com os Gringos nas proximidades de Nhacra.
Um abraço!
Herlânder Simões
PS - Já em Janeiro te tinha mandado um mail mas pelos vistos devo ter-me enganado na direcção e o mesmo deve-se ter extraviado.
2. Comentário do editor do blogue:
Camarada:
Obrigado pela documentação me mandaste. Oportunamente serão publicadas as tuas fotos sobre Nhacra, quando estiveste com os Gringos de Guileje. Já agora, vê se podes identificar a companhia onde estiveste, os Duros de Nova Sintra. Que sejas bem-vindo à nossa caserna virtual. Aparece. Um abraço.
Camaradas & amigos: De futuro, os novos camaradas (ex-combatentes do lado português) e amigos (por ex., filhos de camaradas nossos, jovens portugueses e guineenses que se interessam pela história da guerra colonial, antigos combatentes do PAIGC) entram directamente para a tabanca grande, que sempre é mais democrática que a tertúlia e mais arejada que a caserna... Sentamos-nos debaixo de um centenário poilão, fazemos as nossas apresentações e contamos as nossas estórias. As regras de convívio continuam a ser as mesmas.
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Nota de L.G.
(1) Vd. post de 10 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1162: Guileje: CCAÇ 3477, os Gringos Açorianos (Amaro Munhoz Samúdio)
Guiné 63/74 - P1746: Convívios (3): CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), Setúbal, 9 de Junho de 2007 (Benjamim Durães)
Mensagem enviada pelo nosso camarada Benjamim Durães (ex-furriel miliciano do Pel Rec, CCS do BART 2917, Bambadinca, 1970/72):
1º ENCONTRO-CONVIVIO DE EX-MILITARES DA CCS / BART 2917
Camarada e Amigo:
O 1º Encontro-Convívio da CCS do BART 2917 realiza-se ao fim de 37 anos do embarque (17 de Maio de 1970) do Batalhão para a Guiné, no próximo dia 9 de Junho de 2007 , em Setúbal, e é extensivo a todos os ex-militares, familiares e amigos, que de algum modo estiveram ligados a BAMBADINCA, em geral, e à CCS do BART 2917, em particular (1).
O almoço é no NOVOTEL em Setúbal, que fica no final da Auto-Estrada em Setúbal, junto aos sinais luminosos (e quem olhar em frente, lado esquerdo, vê-lo de imediato), pelo que terão de voltar à esquerda, seguindo a direcção da antiga Estrada Nacional 10 no sentido para o Algarve e virar logo à direita. Rola-se cerca de 500 metros e volta-se a virar à direita. Está sinalizado por placas informativas o NOVOTEL.
O almoço está marcado para as 13 horas, e a concentração será a partir das 11,30 horas na unidade hoteleira, que tem parque de estacionamento privativo.
Quem quiserem pernoitar na unidade hoteleira, poderá efectuar a sua reserva pelo telefone 265 739 370, pelo fax 265 739 393 ou ainda por E-mail hl557.sb@accor.com, falando com a Promotora de Vendas Dona Sara Trigueiro, e informando que é um dos convivas do 1º encontro de ex-militares da CCS/BART 2917.
A inscrição para o almoço, que se prolonga pela tarde com o correspondente lanche, é de 35,00 €uros e que engloba ainda uma recordação do respectivo encontro, para mais tarde recordar.
Solicita-se ainda a todos que seja portador de uma fotografia (ou mais) da época, e de preferência fardado, para efectuarmos um álbum de recordações já com uma fotografia actual que será obtida aquando do nosso convívio.
A inscrição deverá ser confirmada até ao próximo dia 21 de Maio com o número total de presenças, acompanhada de um cheque, (pela totalidade ou parte dado que tenho sinalizar a reserva), à ordem de Benjamim Durães ou efectuar o depósito com o NIB 0035 0774 00046264900 40 ou na conta nº 46264900 junto da Caixa Geral de Depósitos ou ainda junto do Millenniumbcp - NIB 0033 0000 00180970249 07 conta nº 180970249.
Contas para Depósito:
-CGD – NIB ou conta nº 0035 0774 00046264900 40 ou conta nº 46264900
-MILLENNIUM – NIB 0033 0000 00180970249 07 ou conta nº 180970249
Benjamim Durães
Rua Florbela Espanca, nº 10
2950 – 296 PALMELA
Telemóvel – 93 93 93 315
E-mail - benjamimduraes@hotmail.com
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Nota de Carlos Vinhal, co-editor do blogue:
(1) Vd. posts recentes sobre pessoal da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72):
12 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1655: Tertúlia: Apresenta-se o ex-Furriel Mil Trms Almeida (Bambadinca, CCS/BART 2917, 1970/72)
29 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1635: Amigos, enquando vos escrevo, bebo um Porto velho à nossa saúde (Abílio Machado, CCS do BART 2917, Bambadinca, 1970/72)
21 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1618: Tertúlia: Benjamim Durães, ex-furriel mil da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72)
1 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1556: 1º Convívio da CCS do BART 2917: Setúbal, 9 de Junho de 2007 (Benjamim Durães)
23 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCIX: Luís Moreira, de alferes sapador a professor de matemática (Luís Moreira)
23 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCV: 1 morto e 6 feridos graves aos 20 meses (CCAÇ 12, Janeiro de 1971) (Luís Graça)
15 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1527: Lista de ex-militares da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e unidades adidas (Benjamim Durães)
13 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1520: Bambadinca, CCS do BART 2917: Alferes Abílo Ferreira Machado, o Bilocas da Cooperativa (Humberto Reis)
Guiné 63/74 - P1745: Eu e o meu capitão e amigo Guimarães, morto aos 29 anos, na estrada de Geba para Banjara (A. Marques Lopes, CART 1690)
Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 > 1967 > O Cap Art Manuel Carlos Conceição Guimarães.
Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 > 1967 > O Alf Mil A. Marques Lopes e o Cap Art Manuel Carlos Conceição Guimarães.
Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 > 1967 > O Alf Mil A. Marques Lopes e o Cap Art Manuel Carlos Conceição Guimarães.
Guiné > Zona Leste > Subsector de Geba > CART 1690 > 1967 > O Cap Art Manuel C. C. Guimarães e o Alf Mil A. Marques Lopes, em diversas situações. O Marques Lopes era o seu braço direito.
Fotos: © A. Marques Lopes (2007). Direitos reservados.
1. Texto do A. Marques Lopes, coronel (DFA) na situação de reforma, ex-alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967) e da CCAÇ 3 (Barro, 1968) .
Caros amigos e camaradas:
Eles morreram mesmo e ficaram longe do convívio dos seus familiares e amigos. Mas ficou a lembrança e, como este caso que vos trago, a pena do estúpida situação da sua morte (como referiu o Beja Santos em relação a outro caso) (1).
O capitão Manuel Carlos da Conceição Guimarães era do quadro de Artilharia. Nas circunstâncias do regime, tinha estado como tenente na esquadra da PSP do Calvário, em Lisboa, depois de ter feito parte da Companhia de Polícia Móvel que esteve em Bissau.
Nesses contextos da juventude formou a sua mentalidade. Rigidez ideológica, fidelidade cega aos desígnios dos mandantes da guerra, alheamento total dos problemas, sentimentos e ambições das populações no terreno. Completa incompreensão das razões da guerra, nem desejo algum de as tentar compreender. Muitos houve assim naquela fase (1967). Ao longo do tempo de guerra muitos foram dando, e penso que ele também teria mudado.
Mas eu fui amigo dele e acompanhei-o desde o princípio, fui o seu braço direito. Tive a incompreensão dos outros alferes, meus amigos de coração actualmente e eu deles (há 38 anos que nos encontramos - os sobreviventes - três vezes por ano, pelo menos, no Restaurante Colina, em Lisboa). Eles compreendem, agora, as razões dessa minha actuação, pala formação que eu tinha, pelos objectivos que queria conseguir.
O Guimarães foi promovido a capitão e mobilizado para a Guiné. Conhecêmo-lo em 4 de Dezembro de 1966, no RAL1, aquando da formação da companhia (CART 1690) e durante a instrução da especialidae no GACA2, em Torres Novas (de 6 de Dezembro de 1966 a 23 de Fevereiro de 1967).
Lembro-me bem que partíamos os dois, aos fins-de-semana, no Alfa Romeo Sprint Special dele até Lisboa. Loucuras, sem auto-estrada! Grandes noites na Cave, D. Quixote, Comodoro... A experiência dele na polícia abria todas as portas (as raparigas abraçavam efusivamente o Carlinhos).
Nas vésperas de embarcarmos no Ana Mafalda (2), fomos todos ao Comodoro. Um homem, já velho, que conhecíamos por ser frequentador, administrador de um banco qualquer (não me lembro), e que costumava jogar ao par ou ímpar com as raparigas (mostrava uma nota de mil e perguntava qual era o número - par ou ímpar? -, se uma dela adivinhava entregava-lhe a nota... e muitos jogos fazia), disse-nos assim: - Vocês vão para a guerra, para se portarem bem peguem lá - deu-nos várias notas de mil - e vão com estas cinco. - E fomos (alferes e capitão) e foi uma noitada. Era assim, a guerra estava paga.
Era bom homem, o Cap Guimarães. Filho de um Sargento-Ajudante, sobrinho da Beatriz Costa (estive com ele, depois, e chorou a sua morte), morreu aos 29 anos na estrada de Geba para Banjara, a 21 de Agosto de 1967 (3). Lamentou-se-me o pai, que me visitou, estava eu ferido no hospital, que o filho (solteiro) era o sustento de duas irmãs de 14 anos que andavam a estudar, e que a vida dele estava complicada.
Todos sofreram com esta guerra. Nós sabemos e há que lembrar aos outros que não sabem, ou não os fazem saber. Todas as imagens servem para lembrar, ou fazer ver.
Abraço
A. Marques Lopes
________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 8 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1740: Há mortos que nunca se enterram (Beja Santos)
(...) Naquele dia [, 7 de Fevereiro de 1970, ] não tinha chegado o correio, de modo que subi a rampa para o quartel de Bambadinca a perguntar o que de tão extraordinário vinha naquela carta. À entrada do corredor, quando íamos almoçar, o Tenente Pinheiro deu-me o meu correio e, claro está, fui logo abrir o correio da Cristina. É de lá que sai a notícia necrológica que te envio, um verdadeiro coice que me atirou à parede, fui aos urros para o meu quarto, estupidificado a ver o Carlos Sampaio, li, voltei a ler, disse que era impossível, ontem chegara a sua carta cheia de promessas para o nosso futuro como editores. Lembro ainda a entrada no quarto do Abel Rodrigues (Alf Mil da CCAÇ 12) que conversou comigo. Lá me enxuguei e fomos almoçar" (...)
(2) Vd. post de 28 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXXVII: A caminho da Guiné, no "Ana Mafalda" (1967) (A. Marques Lopes):
(...) "Largámos às 12h00 do dia 8 de Abril de 1967. Foi uma bela viagem, como devem calcular, com os baldes dos dejectos do porão a serem despejados borda fora de manhã e ao fim da tarde (ao menos haja regras). Mas os "despejos" começaram logo à saída da barra do Tejo. Eu, pessoalmente, nunca tinha chamado tantas vezes pelo Gregório.
(...)" Às 16h00 do dia 15 de Abril de 1967 o Ana Mafalda chegou ao porto de Bissau. A 16 de Abril a companhia passou directamente do navio para LDGs e seguiu pelo Geba acima até Bambadinca" (...).
(3) Vd. post de 5 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - XLVI: Em memória dos bravos de Geba
(A. Marques Lopes)
(...) "Um dia, quando ia no caminho de Geba para Banjara, fui ferido (e sortudo, mais uma vez), assim como o soldado Lamine Turé, do meu grupo de combate ; na mesma altura morreu o comandante da CART 1690, que quis ir comigo nessa viagem, o capitão Manuel C.C. Guimarães (tinha 29 anos, era filho de um sargento-ajudante e sobrinho da Beatriz Costa), e morreu o soldado Domingos Gomes, também do meu grupo de combate.
"Levei o corpo do capitão, porque me pareceu que estava ainda vivo, e o Lamine, directamente para Bafatá... porque em Geba não havia médico, vejam lá! Não levei o do Domingos Gomes, porque ficou aos bocados, não deu tempo nem tive condições para os recuperar. De Bafatá fui evacuado para o HM241 [em Bissau], primeiro, e para o Hospital Militar Principal,[em Lisboa], passada uma semana" ...).
Guiné 63/74 - P1744: Camaradas que já nos deixaram (1): Sold condutor auto João Atalaia, CCS / BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) (João Atalaia, filho)
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCS do BCAÇ 2852 > Maio de 1970 > Cartaz de despedida dos velhinhos da CCS do BCAÇ 2852, a que pertencia o Soldado Condutor Auto João Atalaia. Diálogo entre o velhinho e o pira (CCS do BART 2917):
- Toma, pira, leva-me ao barco [LDG, no Xime]. Ordem dum velhinho, mas toma cuidado, há minas no caminho [estrada Bambadinca-Xime].
- Sim, a velhice manda.
Bilhete de identidade militar do João José Antunes Atalaia, natural do Fundão.
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCS do BCAÇ 2852 > 25 de Maio de 1970 > Louvor atribuído ao soldado condutor auto João Atalaia, pelo comandante do BCAÇ 2852, tenente-coronel Pamplona Real.
Teor do louvor: "Louvo o soldado condutor auto (...) ATALAIA, daCCS, porque durante cerca de 22 meses de comissão no desempenho das suas funções ter mostrado em alto nível qualidades dignas de serem realçadas, designadamente na forma como contribuiu, com uma manutenção eficiente, para o bom estado operacional da sua viatura, quer na forma como acatou as diversas imposições, ditadas por necessidades de serviço constante quer em descargas no cais de Bambadinca, quer em colunas de reabastecimento ou em trsnportes de tropas aos diversos pontos do sector, sempre por trajectos bastante perigosos e estafantes. Militar muito correcto, educado, inteligente, sensato e dotado de extraordinário espírito de sacrifício, contribuiu de forma notoriamente eficiente para o bom nível atingido por todo o grupo de condutores. O soldado ATALAIA é bem digno de ser tomado como exemplo pelos seus camaradas e é merecedor de toda a estima e consideralção dos seus superiores".
Fotos: © João Atalaia (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem enviada por João C. O. Atalaia:
Caro senhor:
Sou filho do ex-combatente João José Antunes Atalaia, nascido em 14-01-1946, natural de Alcaide, concelho do Fundão, e ao mexer nos seu papéis, guardados com bastante estima, constatei que pertenceu ao Batalhão de Caçadores 2852 (CCS). Era Condutor Auto, desconhecendo eu o período [e o local em que serviu].
Gostaria de saber se o mesmo foi seu conhecido ou possíveis contactos de ex-militares que foram seus camaradas.
Informo-o que o meu pai faleceu em 1983. No entanto tinha muito gosto em me juntar aos seus camaradas num possível convívio que possam fazer. Junto lhe envio também cópia de alguns documentos para que possa melhor recordar.
Atentamente
João C.O. Atalaia
TM 91 636 87 47
Mail- joaoatalaia@sapo.pt
2. Comentário do editor do blogue:
Meu caro João:
O seu falecido pai foi meu/nosso contemporâneo na Guiné. Ou melhor, ele era um ano mais velho do que eu. Mais estivemos juntos em Bambadinca, na zona leste da Guiné, durante praticamente um ano (de Julho de 1969 a finais de Maio de 1970). Passei por Bambadinca, a caminho de Contuboel, escassos dias depois de ter havido o grande ataque aquele aquartelamento (em 28 de Maio de 1969). Estava longe de imaginar que menos de dois meses depois seria colocado - eu e o pessoal da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 - naquele aquartelamento, importante sede do Sector L1, Zona Leste.
É sempre com grande emoção que falamos dos velhos camaradas da Guiné. O seu pai pertencia à CCS (Companhia de Comando e Serviços) do BCAÇ (Batalhão de Caçadores) 2852, que esteve em Bambadinca entre 1968 e 1970. O seu pai deve ter regressado a casa em finais de Maio/princípios de Junho de 1970. Eu e outros camaradas meus da CCAÇ 12, que era uma unidade adida ao BCAÇ 2852, ficámos lá mais nove meses, até Março de 1971. O seu pai fez connosco diversas colunas logísticas (reabastecimentos das unidades de quadrícula do Sector L1, a partir de Bambadinca). Como noutras partes da Guiné, os condutores auto foram gente valente e competente, que nós, os operacionais, muito estimávamos. Já aqui fiz uma pequena homenagem, na pessoa do soldado condutor auto Dalot, da CCAÇ 2590/CCAÇ 12, a toda essa rapaziada que nos levava - de Jeep, GMC, Berliet, Unimog - pelas incríveis picadas da Zona Leste (1).
O seu pai era de facto um dos melhores condutores auto da CCS do BCAÇ 2852, daí o louvor que tão justamente lhe foi atribuído pelo seu comandante, o tenente-coronel Pamplona Real, em Ordem de Serviço de 25 de Maio de 1970. De facto, não só era um competente condutor como um excelente camarada.
No nosso blogue, você tem imensas referências (textos, mapas, fotos ) sobre Bambadinca... No canto superior esquerdo do nosso blogue, escreva a palavra “Bambadinca” ou “BCAÇ 2852” e depois carregue no ícone ao lado (Search this blog)... Encontrará imensas referências que o ajudarão a reconstituir o ambiente em que viveu o seu pai, nessa época... O sector L1, da Zona Leste, com sede em Bambadinca é, seguramente, a região da Guiné que melhor está representada no nossso blogue - pelo número de camaradas que por lá passaram e que nos têm mandado as suas memórias...
Lamento que o seu pai tenha morrido tão precocemente, em 1983, ainda tão novo (com menos de 40 anos)...
Na nossa tertúlia, há mais mais camaradas que conheceram o seu pai (veja os nomes, fotos e contctos). O pessoal de Bambadinca de 1968/71 tem-se encontrado regularmente desde 194. O próximo convívio é em Lisboa, no dia 26 de Maio de 2007 (2).
Contacte o nosso camarada Fernando Calado, ex-Alferes Miliciano de Transmissões, que era da CCS do BCAÇ 2852, portanto da mesma unidade do seu pai, e que está a organizar este encontro... Ele poderá falar-lhe mais do seu pai...
Obrigado pela documentação que me mandou. Fica aqui divulgada, para que outros camaradas do João Atalaia o possam recordar, com saudade. Apareça sempre. Felicito-o por guardar, com tanto carinho e ternura, estes papéis que diziam respeito a seu pai, e que são importantes para si e para todos nós, que nos encontramos neste blogue, e a que você poderá pertencer, se assim o quiser. No nosso blogue temos publicado textos de vários familiares (incluindo filhos) de camaradas nossos que morreram, ou na Guiné, em combate, ou por doença, já depois do regresso a casa. E queremos continuar a fazê-lo. Um abraço. Luís Graça
______
Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 11 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CLXX: As heróicas GMC e os malucos dos seus condutores (CCAÇ 12, Septembro de 1969) (Luís Graça)
Vd. também post recente > 5 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1732: Tertúlia: Apresenta-se o David Peixoto, soldado condutor auto-rodas, CART 3492 (Xitole, 1972/74)
(2) Vd. post de 9 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1742: Convívios (2): Lisboa, Casa do Alentejo, 26 de Maio de 2007: Bambadinca 68/71, BCAÇ 2852, CCAÇ 12, etc. (Fernando Calado)
quarta-feira, 9 de maio de 2007
Guiné 63/74 - P1743: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (5): A gesta heróica dos construtores de abrigos-toupeira em Gandembel
Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (1968/69) > Abril/Maio de 1968 > "Uma vasta área, tinha que ser inteiramente limpa. Só os troncos das árvores eram aproveitados para o reforço dos abrigos. O resto, teria de ser destruído"..
Foto 218 > E os homens iam-se espalhando, para a limpeza da mata. E, embora com as armas de perto, trabalhavam bem expostos ao perigo que os assombrava a todo o momento
Foto 219 > "E cada árvore após árvore ia sendo derrubada, e então cada tronco teria um destino no arranjo dos abrigos" .
Foto 220 > "Na densidade da mata, divisa-se uma pequena clareira. E os helicópteros, que num imenso ror de vezes aterraram em Gandembel, lá tinham o seu espaço para poisarem".
Foto 221 > "As pouco viaturas disponíveis, em funções de transporte dos troncos de árvores".
Foto 222 > "Mas se não existissem as viaturas, os troncos teriam de ser transportados com escoras e muito esforço braçal".
Foto 223> "E logo surgia uma outra tarefa de relevante importância, como a colocação do arame farpado".
Foto 224 > "E este grupo, empenhado na limpeza, teve um momento de incrível sorte. Esta granada de morteiro 82, caída ao seu lado, não deflagrou".
Foto 225 > "E um helicóptero, ao aterrar, danificou a parte frontal. E nessa noite nenhum de nós sossegou, já que estivemos confrontados com o mais diverso tiroteio, de um modo quase ininterrupto".
E havia que procurar água pelo leito do Balana, que escasseava enquanto a época das chuvas não despontasse
Foto 226 > "A ida à água, quantas vezes procurada ao longo do leito".
Foto 227 > "Com a ajuda de uma bomba manual, iam-se enchendo os bidões e outros depósitos, mesmo garrafões de 10 litros".
Foto 228 > "No regresso da água, que requeria sempre bastante segurança".
Fotos e legendas: © Idálio Reis (2007). Direitos reservados.
Resumo: Instalação e início da construção do aquartelamento de Gandembel (continuação) > Ilustração fotográfica (vd. acima): Incluí o período de tempo entre 8 de Abril de 1968 - partida de Guileje para Gandembel e início da construção do aquartelamento de Gandembel - e chegada da energia eléctrica, a 9 de Maio de 1968. A epopeia dos homens-toupeiras.
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Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 2 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1723: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (4): A epopeia dos homens-toupeiras
Foto 218 > E os homens iam-se espalhando, para a limpeza da mata. E, embora com as armas de perto, trabalhavam bem expostos ao perigo que os assombrava a todo o momento
Foto 219 > "E cada árvore após árvore ia sendo derrubada, e então cada tronco teria um destino no arranjo dos abrigos" .
Foto 220 > "Na densidade da mata, divisa-se uma pequena clareira. E os helicópteros, que num imenso ror de vezes aterraram em Gandembel, lá tinham o seu espaço para poisarem".
Foto 221 > "As pouco viaturas disponíveis, em funções de transporte dos troncos de árvores".
Foto 222 > "Mas se não existissem as viaturas, os troncos teriam de ser transportados com escoras e muito esforço braçal".
Foto 223> "E logo surgia uma outra tarefa de relevante importância, como a colocação do arame farpado".
Foto 224 > "E este grupo, empenhado na limpeza, teve um momento de incrível sorte. Esta granada de morteiro 82, caída ao seu lado, não deflagrou".
Foto 225 > "E um helicóptero, ao aterrar, danificou a parte frontal. E nessa noite nenhum de nós sossegou, já que estivemos confrontados com o mais diverso tiroteio, de um modo quase ininterrupto".
E havia que procurar água pelo leito do Balana, que escasseava enquanto a época das chuvas não despontasse
Foto 226 > "A ida à água, quantas vezes procurada ao longo do leito".
Foto 227 > "Com a ajuda de uma bomba manual, iam-se enchendo os bidões e outros depósitos, mesmo garrafões de 10 litros".
Foto 228 > "No regresso da água, que requeria sempre bastante segurança".
Fotos e legendas: © Idálio Reis (2007). Direitos reservados.
V Parte da história da CCAÇ 2317, contada pelo ex-Alf Mil Idálio Reis (ex-alf mil da CCAÇ 2317, BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana 1968/69) (1).
Resumo: Instalação e início da construção do aquartelamento de Gandembel (continuação) > Ilustração fotográfica (vd. acima): Incluí o período de tempo entre 8 de Abril de 1968 - partida de Guileje para Gandembel e início da construção do aquartelamento de Gandembel - e chegada da energia eléctrica, a 9 de Maio de 1968. A epopeia dos homens-toupeiras.
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Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 2 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1723: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (4): A epopeia dos homens-toupeiras
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