domingo, 28 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7354: A minha CCAÇ 12 (9): 18 de Setembro de 1969, uma GMC com 3 toneladas de arroz destruída por mina anticarro (Luís Graça)



Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Estrada Bambadinca - Mansambo - Xitole  > Uma viatura civil, transportando cunhetes de granadas e, em cima, pessoal civil



Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Estrada Bambadinca - Mansambo - Xitole  >  Um burrinho com a secção do Humberto Reis, do 2º Gr Comb

Fotos: © Humbero Reis (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas. Todos os direitos reservados



Guiné> Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Estrada de Bambadinca-Mansambo-Xitole-Saltinho> Assinalada, com um círculo a azul, a ponte do Rio Jago onde a GMC, com 3 toneladas de arroz, accionou uma mina anti-carro, no dia 18 de Setembro de 1969.

A distância de Bambadinca a Xitole (hoje uma estrada alcatroada) era, na época (1969/71), de 30 km. As colunas logísticas, de reabastecimento, podiam levar um dia ou até mais (na época das chuvas) a fazer este percurso perigoso (interdito entre Novembro de 1968 a Agosto de 1969 ). A CCAÇ 12 participou em diversas colunas logísticas a Mansambo, Xitole e Saltinho (junto ao Corubal). 



Continuação da série A Minha CCAÇ 12 (*), por Luís Graça (, foto à esquerda, Bambadinca, 1969).


1. Para se chegar a qualquer uma das unidades de quadrícula do Sector L1, a sul de Bambadinca (Mansambo, Xitole e Saltinho, embora esta já pertencesse ao sector de Galomaro) não havia nenhuma alternativa a não a ser a terrestre (a estrada Bambadinca-Saltinho, que terminava justamente no Saltinho, estando interdita a partir daí).  A estrada de Galomaro-Saltinho às vezes também ficava interdita devido às chuvas e à acção do PAIGC, pelo que as NT ali colocadas também dependiam do abastecimento feito a partir de Bambadinca (o eixo Xime-Bambadinca era a grande porta de entrada de toda a zona leste).


No entanto, a própria estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole estivera interdita entre Novembro de 1968 e Agosto de 1969.  O Op Belo Dia, a 4 de Agosto, já aqui sumariamente descrita,   destinou-se justamente a reabrir esse troço fundamental para as ligações do comando do Sector L1 com as suas unidades a sul. Um mês e tal depois, ainda em época das chuvas,  fez-se uma segunda operação para novo reabastecimento, patrulhamento ofensivo e reconhecimento.


São as peripécias dessa operação (Op Belo Dia II) que se relatam aqui, peripécias que, de resto, não eram muito diferentes do que se passava noutras regiões da Guiné. Mas,  ainda a propósito de meios de transporte, convirá referir que só Bambadinca possuía uma pista, com cerca de 150 metros, permitindo a aterragem de aeronaves como a Dornier. 


No meu tempo o sargento (ou furriel) piloto Honório, caboverdiano, era uma figura muito popular, quase lendária,  entre as NT, porque nos trazia o correio e alguns víveres (frescos). Era conhecido pela sua temeridade, destreza e coragem. Dizia-se que capaz de aterrar numa nesga de terra. Em Mansambo só havia heliporto. No Xitole, também havia pista para avionetas. Fica aqui também uma palavra de homenagem a todos os pilotos (e mecânicos) que aterraram naquelas pistas de terra batida, com sol, chuva e vento (e às vezes "chumbo" do PAIGC).


2. Setembro/69 (II Parte): Uma GMC destruída por uma mina anticarro

Na segunda quinzena de Setembro (*) realizar-se-ia outra operação a nível de batalhão afim de escoltar uma coluna logística do BCAÇ 2852 para as companhias de Xitole e Saltinho (Op Belo Dia II).


Dois Gr Comb [Grupos de Combate] da CCAÇ 12 (2º e 3º), um da CART 2339 [Mansambo] e o Pel Caç Nat 53 (que seguiria depois com o Dest B para o Saltinho) formavam o Dest [Destacamento] A cuja missão, além da picagem do itinerário, era escoltar a coluna até ao limite da ZA Zona de Acção da CART 2339 [Mansambo] onde se efectuaria o transbordo da carga para outra coluna da CART 2413 [Xitole].


O Pelotão de Caçadores Nativos nº 53, normalmente sediado em Bambadinca, estava, na altura, em reforço temporário ao Saltinho. Havia mais outros Pel Caç Nat no Secor L1: 52 (Missirá), 63 (Fá)...
Desenrolar da acção:


A coluna que chegou a Mansambo às 17.30 do dia 17 de Setembro, proveniente de Bambadinca, prosseguiria no dia seguinte, tendo-se processado sem incidentes de maior até à ponte do Rio Jago, a cerca de 3 km a sul do aquartelamento de Mansambo, altura em que se fez um alto para recompor a carga da viatura que seguia em 3º lugar (onde eu ia).


Ao retomar-se a marcha, o rodado intermédio direito da 4ª viatura, uma  GMC, de matrícula MG-17-21, que vinha imediatamente a seguir ao meu Unimog 404, GNC essa que pertencia à frota da  CCAÇ 12, accionou uma mina A/C (anticarro) reforçada, tendo-se voltado espectacularmente. A viatura ficou muito danificada, tendo-se inutilizado parte da sua carga de 3.000 kg de arroz. 


Em virtude de ter sido projectado, ficou gravemente ferido um 1º cabo do Pel Caça Nat 53 . O condutor, soldado Dalot, meu camarada,  saiu ileso. Por milagre...
A mina não fora detectada pela equipa de 12 picadores (!!!), seguida de 2 Gr Comb que progrediam na frente.


Alguns quilómetros à frente, junto à ponte do Rio Bissari foram detectadas e levantadas mais 3 minas A/P que deveriam fazer parte do campo de minas implantado pelo IN posteriormente à Op Belo Dia I, e das quais 7 já sido levantadas até então.


Pelas 13h do dia 18 de Setembro deu-se finalmente o encontro dos 2 Dest (A e B), tendo-se procedido ao transbordo da carga, uma operação sempre e penosa.


No regresso a coluna foi sobrevoada várias vezes por uma parelha de FIAT  cujo apoio estava previsto na ordem de operações. Mansambo foi atingido pelas 17 h, depois de se ter armadilhado a viatura cuja remoção se verificou ser impossível com os meios disponíveis na ocasião. 


Durante anos, a Guiné-Bissau foi um cemitério de sucata, como viaturas (militares e civis) abandonadas pelas NT, destruídas por minas e roquetadas... Não tenho a certeza se esta viatura, a GMC MG-17-21, foi posteriormente desarmadilhada e rebocada para Bambadinca... Os custos de uma tal operação eram sempre elevados.


Já não me lembro, mas devemos ter ficado nessa noite em Mansambo, dado o estado adiantado da hora, se bem que o percurso até Bambadinca fosse mais seguro. É provável que tenhamos regressado ainda a Bambadinca, nesse fim de tarde.


Recorde-se, por outro lado,  que o nosso Fiat era um avião a jacto, subsónico, monolugar, que equipava a nossa força aérea (O Fiat G-91 era fabricado pela FIAT). A sua presença no céu era sempre tranquilizante. 


O IN também se manifestaria no regulado do  Cuor, flagelando duas vezes Missirá e atacando Finete, um destacamento de milícia situado a 3 km a NW de Bambadinca, do outro lado do Rio Geba. 


O ataque, efectuado ao anoitecer do dia 20 por um bigrupo, durou cerca de uma hora, obrigando o 2º Gr Comb da CCAÇ 12 a intervir em socorro do destacamento. Tendo combado o rio em canoas, a força de intervenção foi progredindo ao longo da estrada da bolanha, nalguns pontos com água quase pela cintura, e quando chegou a escassos 500 metros da tabanca, começou a bater com morteiro 60 e bazuca as posições do IN que estava instalado do lado de Maladin, e que ripostou, aliviando a pressão sobre o destacamento. 


Apoiados pelo morteiro 81 que fazia fogo do quartel de Bambadinca (nessa época, Bambadinca não dispunha de artilharia, só mais tarde, mas já não no meu tempo, passou a ter um pelotão de artilharia com obuses 14), os grupos de intervenção acabaram por silenciar as posições do IN, obrigando-o a retirar. As NT tiveram apenas um ferido (milícia).


Entretanto, uma semana antes, a 12 de Setembro, durante um patrulhamento levado a efeito com o Pel Caç Nat 52 na região de Missirá-Biassa-Nascente do Rio Biassa – Chicri – Gambana – Maná, o 4º Gr Comb da CCAÇ 12 surpreendeu no trilho de Chicri um grupo de carregadores que vinha da direcção de Nhabijões.


A secção do Pelotão de Milícia de Finete (**), que reforçava as NT, abriu fogo precipitadamente e sem ordem expressa, tendo feito feridos confirmados. Na fuga, o IN que muito provavelmente não trazia escolta armada, abandonou todo o carregamento, constituído por esteiras, tabaco em folha, mosquiteiros e aguardente de cana, além de uma certa quantidade em dinheiro (***).


Por outro lado, as constantes patrulhas de reconhecimento aos núcleos populacionais de Nhabijões, sob duplo controlo, não obstaram a que a tabanca de Bedinca (balantas mansoanques) fosse assaltada em 23, à 1 hora da noite, por um grupo IN que teria espancado alguns nativos e roubado arroz e gado, segundo a versão do chefe de tabanca.


Feito o reconhecimento no dia seguinte, verificou-se apenas que o grupo IN (bastante numeroso) retirara para norte, tendo cambado o Rio Geba em canoa na direcção de S. Belchior.


A 10 de Setembro, o 3º Gr Comb e o Pel Rec Info da CCS / BCAÇ 2852, reforçados por 1 secção do Pel Caç Nat 53, tinham realizado um cerco e rusga à tabanca de Nhabijão Bulobate, sem resultados nem vestígios do IN, tendo capturado no entanto 3 homens balantas que se verificou apenas serem “ladrões de gado” no Enxalé (Op Grampo).


Durante o mês, a CCAÇ 12 (a 2 Gr Comb) efectuaria ainda um patrulhamento ofensivo, com as forças da CART 2339 (Mansambo) a fim de detectar vestígios IN na região de Boló (Op Glutão).


Fontes consultadas:


História da CCAÇ 12: Guiné 69/71. Bambadinca: CCAÇ 12. Cap. II. 13-16.


Diário de um Tuga, de Luís Graça (arquivo pessoal)


Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, I Série


(Continua)
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Notas de L.G.

(*) Último poste desta série > 

Guiné 63/74 - P7353: Blogpoesia (90): Peregrinação (Manuel Maia) (2): Regimento das Beiras, Montes Hermínios, RI 14 de Viseu



1. Mensagem de Manuel Maia* (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), com data de  26 de Novembro de 2010:

Carlos,
Aqui seguem mais umas quantas sextilhas sobre a "guerra" cá dentro...
abraço
manuelmaia



Sé de Viseu



PEREGRINAÇÃO -2

Prazer de dormir fora é inenarrável,
tornando a tropa assim mais suportável,
quartel, como trabalho, era entendido...
Depois da janta, às sete, era esta a hora,
a vida começava porta fora,
Algarve, "um mundo novo" ali estendido...


Especialidade chega ao fim,
melhor do que a recruta, quanto a mim.
Para os Hermínios montes sou mandado...
Catorze, tem por nome o Regimento
das Beiras Centro de Recrutamento
para ensinar mancebo a ser soldado...


Em muitos episódios ocorridos,
alguns, talvez por serem mais vividos,
gravados para sempre os quis comigo...
Recruta que lá dei foi a primeira,
e o frio ali não é p`ra brincadeira,
Inverno por Viseu, só por catigo...


Bem linda é no entanto esta cidade,
de antiga traça e muita urbanidade,
de gentes fino trato, hospitaleiras...
Bem-haja é expressão de cortesia
usada p`lo beirão no dia a dia,
em toque a distinguir boas maneiras...


Um dia de Sargento à Companhia,
e Sargento da Guarda (não podia...)
com titular dali "desenfiado"...
Alarme disparou, de madrugada,
gerando o caos, a "confusão danada"
tão logo ao Comandante fui chamado...


Ao ver-me perguntou porque aqui estás?
Chamei homem da guarda, meu rapaz.
-Sargento me incumbiu desta função...
-Interruptores há dois e um é meu,
se o não premi, o que é que aconteceu
explica porque usaste lá o botão...


Por sorte, comprovou electricista
que um curto fora a causa, mais que vista,
do ruidoso alarme então sentido...
Em paz, "regresso à base", aliviado,
Sargento acabaria castigado,
meu rumo p`ra Guiné foi decidido...

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Nota de CV:

Vd. Primeiro poste da série de 25 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7337: Blogpoesia (89): Peregrinação (Manuel Maia) (1): Recruta e Especialidade

Guiné 63/74 - P7352: Memória dos lugares (114): Fajonquito, fotos de Sérgio Neves, ex-Fur Mil Mec Auto da CCAÇ 674, 1964/66 (2) (Constantino Neves)

Continuação da publicação de fotografias do espólio de Sérgio Neves que foi Furriel Miliciano da CCAÇ 674 (Fajonquito, 1964/66), irmão do nosso camarada Constantino Neves.

Foto 8 > Sérgio Neves acompanhado de dois jovens

Foto 11 > Foto tirada com camaradas. Em todas elas está um grande amigo dele, chamado Faria, que residia em Sobral do Monte Agraço, tão amigo, que pôs ao filho o nome de Sérgio. Há já algum tempo que perdi o contacto dele. Gostava muito de o rever.

Foto 12 > Um dos muitos miúdos que nos acompanhavam nos aquartelamentos

Foto 13 > Sérgio Neves junto a um velho poilão

Foto 14 > Sérgio Neves junto a um bagabaga

Foto 15 > Sérgio Neves e um camarada em cima de uma autometralhadora Daimler

Foto 16 > Sérgio Neves junto a viaturas Unimog 404
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Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 26 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7341: Memória dos lugares (112): Fajonquito, fotos de Sérgio Neves, ex-Fur Mil Mec Auto da CCAÇ 674, 1964/66 (1) (Constantino Neves)

sábado, 27 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7351: Controvérsias (112): David Costa, da CART 1660 (Mansoa, 1966/68): Déserteur malgré-lui ? / Desertor à força ? (Jorge Lobo, ex-1º Cabo, CART 1660)

1. Comentário, de 24 do corrente, de um leitor, nosso camarada, que se assina por Jorge (simplesmente) ao poste P3371 (*):


Fui colega do David Costa na CART 1660,  em Mansoa,  e assisti ao vivo e a cores ao incidente que levou o rapaz a desertar do quartel e, bem assim, acompanhei o caso até ao meu embarque para a metrópole, tendo mesmo escoltado [ o David Costa] e assistido ao vivo ao seu julgamento no Tribunal Militar de Bissau.



Tudo começou na caserna. O cabo enfermeiro Chantre vinha-se queixando não ter recebido duas cartas de datas diferentes, ambas com foto da namorada.


Quem por norma trazia o correio era o David Costa, mas, naquele dia (trágico para o David), não tinha sido ele a ir a Bissau trazer o correio onde, mais uma vez, a namorada enviava ao Chantre uma 3ª foto sua dentro da carta.


Desta vez, então, o Chantre recebeu a carta e feliz com a foto, mostrava-a aos colegas de caserna.


Porém, uns dias antes, o David... tinha mostrado a um dos colegas uma foto igualzinha à que o Chantre acabava de receber e mostrava a esse mesmo colega que já tinha visto a outra foto nas mãos do David.


Daí até se descobrir que tinha sido o David quem violou as cartas com as fotos anteriores, foi um pequeno passo. Ao ver-se descoberto, o David desapareceu do quartel e, a partir daí, só ele mesmo sabe o que se passou.


Depois dele ter regressado, três meses depois do início da sua odisseia, contou-nos lá em Mansoa a versão da sua aventura de forma diferente, a uns e a outros dos colegas. (Isto já em prisão, claro).


Sinceramente,  eu passei a desacreditá-lo e mais descrédito [me inspira] hoje em dia, depois de ler em diversos blogues da Internet versões diferentes, segundo parece deixadas por si ou com o seu conhecimento.


Há coisas que não coincidem. Nuns lados ele diz que passou por uns locais e noutros porém fala em outros bem diferentes... Num lado diz que dormitava quando foi capturado pelo IN, e noutras ele diz ter-se esbarrado de frente com os guerrilheiros do PAIGC.


Também me parece estranho como é que ele foi parar a Morés, quando ele tinha dito que, ao sair de Mansoa, tinha entrado na estrada de Bissorã a qual o levaria a um destino bem diferente de Morés.


Estas e outras contradições tornaram o seu livro pouco credível. [Vila Nova de Gaia, Editora Ausência, 2004].(*) (**)

2. Julgo que é o mesmo Jorge, Jorge Lobo, ex-1º Cabo da CART 1660, que tinha dirigido, um dia antes,  a seguinte mensagem ao David Costa [, David Ferreira de Jesus Costa, natural de Fânzeres, Gondomar: incorporado em Julho de 1966, regressaria a casa só em finais de Agosto de 1971]
 (**):

Caro David Costa, sou o 1º Cabo Lobo, da Cart 1660, e presenciei toda a cena da carta com a fotografia da namorada do Chantre, isto na caserna da Cart 1660 em Mansoa. Sabia vagamente o que te aconteceu mas não com todos esses pormenores. Em Bissau quando de cabo de dia antes da partida para a Metropole, cheguei a levar-te as refeições ao presidio.

Desejo do coração que tenhas já esquecido a pior parte dessa tua odisseia e que sejas muito feliz na companhia dos teus. (***)

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Notas de L.G.:

Guiné 63/74 - P7350: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (21): Cap Teixeira Pinto e as guerras de pacificação

1. Texto de Cherno Baldé:


Data: 23 de Novembro de 2010 12:43
Assunto: Cap Teixeira Pinto e as guerras de pacificação na Guiné (*)

Caro Luis Graça (*),

Como deves saber, nós africanos, pelo grande respeito que dá-mos a idade e aquele que nos é mais velho, nunca nos podemos considerar iguais aos mais velhos, é uma questão cultural, sim senhora, mas também filosófica, metodológica, antropológica etc. 


Nunca posso esquecer o facto de que, quando eu ainda deambulava quase nú no quartel,  já alguns de vocês eram oficiais do exército. Sobre isto nada se pode sobrepor, nada, nem a idade entretanto adquirida, nem a experiência acumulada, nem a formação académica. O respeito e admiração que tive por vocês ficou gravado para sempre na minha memória.
Lembro-me que nós reproduziamos nas nossas brincadeiras o comportamento das hierarquias militares tal qual observávamos no quartel:


(i) O Capitão era o mais sério, o mais corajoso, o primeiro que seguia para a frente do combate no seu pequeno Jipe,  em pé,  ao lado do condutor (esta era a reprodução da figura do Cap Carvalho); quando passeava punha sempre uma das mãos, normalmente a esquerda,  atrás das costas ou copiando o General Spínola, tinha uma bengala ou chicote na mão direita;


(ii)  O Alferes era o que sempre estava muito perto do Capitão,  pronto para o substituir em caso de...


(iii) Os furriéis eram os mais aprumados, impecáveis, bem parecidos, mulherengos... 


(iv) Os Sargentos eram identificados com a figura do Vagomestre, um pouco mais velhos, maus por norma e barrigudos, era raro encontrar um Sargento que fosse também bom atleta; eram mais ou menos solitários, mais ou menos melancólicos, cara de poucos amigos, até os soldados fugiam deles, nem oficiais nem subalternos, uma posição complicada, eram bons na aplicação de castigos. 


Perdíamos horas a fio nessas brincadeiras de figurinos teatrais do comportamento da tropa metropolitana. Por serem nossos, desvalorizávamos os milícias que não passavam de réplicas sem grande jeito, mas quando era preciso ir para a guerra, socorrer uma aldeia, sabíamos que eles é que iam a frente. 

No intuito de seguir o teu conselho e ver alguns trabalhos sobre o Cap Teixeira Pinto,  acabei por cair no poste P1615: Historiografia da presença Portuguesa(5): Capitão Diabo, herói do Oio, João teixeira Pinto (1876-1917). 


[ Foto à esquerda: João Teixeira Pinto (1876-1917), com barbas compridas e os galões de alfres; foto com uma dedicatória manuscrita do oficial português "à sua querida mulher com um beijo do seu marido muito amigo. 27 de Maio de 19__(?). Oferece João Teixeira Pinto".]

[ Foto«: © A. Teixeira-Pinto (2007). Direitos reservados.]

Penso que há um erro de localização do Sancorlá na frase que diz: "Fulas Forros de Sancorla (No Cuor, a nordeste de Missirá". Aqui, com toda a certeza,  faz-se referência ao regulado que mencionei nas minhas memórias, da casa real de Canhámina, cujas ligações com a minha familia também falei. 


O Boram Jame do texto é o Patriarca e régulo de Sancorlá, nosso avó comum (Buran Djame ou Braima Djame) dos tempos do Administrador de Geba, Calvet de Magalhães. Durante o seu reinado, o regulado de Sancorla foi um aliado fiel da administração colonial e amigo do Governador Muzanty, tendo combatido ao lado desta entre os rios Geba e Cacheu, com Sousa Lage (1891-1892) contra Mussa Molo, Graça Falcão (1897) no Oio/Morés e João Teixeira Pinto (1913-1915) em toda a Guiné.


Tudo o que sei de concreto sobre o Cap Teixeira Pinto, encontrei em livros, com destaque para o livro, história da Guiné,  de René Pelissier. As nossas fontes tradicionais,  além de escassas (os griots são os fieis depositários), normalmente, são mitológicas e algo deformadas com o passar dos tempos. 


Contam-se muitas histórias sobre estas guerras e há referências a certos locais e pessoas que se destacaram numa ou outra batalha, em especial a última repressão aos Canhabaques (Bijagós) mas sem muito rigor nem datas e locais precisos. Seria preciso fazer uma vasta colecta e depois comparar as narrativas de diferentes fontes orais.   

Com um grande abraço,
Cherno Baldé

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Nota de L.G.:

(*) Na sequência de comentários ao poste de 21 de Novembro de 2010

(i) Comentário do Cherno Baldé:


Caros amigos,

Desculpem a intromissão em assuntos de mais velhos mas, na minha opinião, Portugal, cometeu erros estratégicos na Guiné por não ter dado a devida atenção as lições do Capitão Teixeira Pinto.

Eu sei que o contexto não era o mesmo mas ele teve o mérito de, em pouco tempo, fazer uma avaliação correcta da situação e decidir que, para o caso da Guiné não precisava de batalhões de tropas metropolitanas nem de muitos Grumetes a mistura. Claro que esta decisão teve suas consequencias boas e más, todavia ele foi eficaz e os efeitos foram, de certo modo, duradouros.

De resto, todos estamos de acordo que a solução final só podia ser política. Cherno Baldé.



(ii) Comentário de L.G.:


Cherno:

A Tabanca Grande é uma "sociedade de iguais"... onde não há a classe dos "mais velhos" (com excepção do Rosinha, mas só por graça...) nem dos "djubis" (com excepção de ti, por que para nós serás sempre o Chico de Fajonquito, "menino e moço"...).

Humor à parte, conta-nos lá a "tua" história sobre o Capitão-Diabo (como ficou conhecido entre os guineenses) (...).
 

Último poste da série > 18 de Setembro de 2010

Guiné 63/74 - P7349: Kalashnikovmania (6): Eu tive três amores, a G3, a HK21 e AK47 (J. Casimiro Carvalho)

1. Comentário do J. Casimiro Carvalho ao poste P7334:

Ó Torcato e Graça :

Ele há coisas que não têm explicação.

Uma delas  são as armas.
Eu, em Lamego, adorava a G3.
Na Guiné adorava a HK 21 
e falava com ela
e ela compreendia-me,
pois eu conhecia.
Comigo a gaja não encravava.

Posteriormente, já em Gadamael, 
apaixonei-me por aquela outra gaja, a AK 47.
E foi amor duradouro, caramba,
mas a gaja era mesmo boa,
que me perdoe a minha querida G3, 
pois não sou gajo de  traições.

Portanto, temos três gajas,
todas elas boas,
com as suas particularidades,
convenhamos.
Como as mulheres, né ?!

Um abraço deste vosso camarigo,
J. Carvalho







O José Casimiro Carvalho foi Fur Mil Op Esp da CCAV 8350, Piratas de Guileje, e da CCAÇ 11,  Lacraus de Paunca, tendo passado por Guileje, Gadamael, Guileje, Nhacra e Paúnca,entre outros sítios, entre 1972 e 1974. Nas três fotos, vemo-lo "afagando" a G3 (em Lamego), a HK21 (em Guileje) e AK47 (em Gadamael ?)... LG

Fotos: © José Casimiro Carvalho (2007). Todos os direitos reservados.
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Nota de L.G.:

Ultimo poste da série > 25 de Novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7348: (Ex)citações (113): Achas para a fogueira, ou a influência dos movimentos independentistas na política interna de Portugal (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 26 de Novembro de 2010:

Caros camarigos
Aqui vão “achas para a fogueira”!

Leio repetidamente a exaltação dos Movimentos Independentistas em armas da Guiné, Angola e Moçambique, como os grandes precursores do 25 de Abril, que levou Portugal à democracia e ao desenvolvimento.

Mais uma vez e sempre nos colocamos de cócoras e deixamos aos outros a razão da nossa História, amesquinhando-nos e fazendo dos Portugueses o povo que mais mal diz de si próprio na Europa e muito provavelmente no mundo.

Tudo nos serve para tal desígnio, até as doutas opiniões de estrangeiros, que pouco ou mal nos conhecem, ou relatórios internacionais, sempre de duvidosa imparcialidade e normalmente controlados pelas forças dominantes.

Mas o que sobre gostaria de realmente reflectir é o seguinte:
Então e se esses Movimentos não tivessem pegado em armas, obrigando o país a consumir a maior parte dos seus recursos no esforço de guerra, o que seria Portugal hoje?

Com isto não estou a colocar em causa o direito desses povos encontrarem a sua independência, o seu destino, ou pelo menos não o pretendo fazer, porque concordo que esse objectivo era e é perfeitamente legítimo e deve ser alcançado.

Sabemos que por aqueles tempos a economia portuguesa crescia sem problemas e que foi o esforço de guerra a par com alguma conjuntura internacional, (esta ultrapassável), que veio condicionar fortemente esse crescimento e desenvolvimento.

Então, se esse monumental esforço financeiro e não só, que Portugal despendeu na guerra, fosse utilizado não só no continente, mas também no, então todo Português, que país teríamos, o que seriamos hoje?

É que, acredito que com o desenvolvimento então possível, com o acesso cada vez maior à educação, proporcionado por esse desenvolvimento e pela pressão da sociedade, o regime de então iria ser substituído, mais tarde ou mais cedo, (tal como foi em Espanha), sem as consequentes convulsões, gerando uma estabilidade que hoje se reflectiria seguramente nas nossas vidas.

Pois, logicamente podemos invocar que houve a necessidade imperiosa desses povos pegarem em armas, mas também podemos tentar perceber que, se tivessem trabalhado apenas no campo político, Portugal poderia ter dado outra resposta ao desenvolvimento desses territórios, e mais tarde, por força da mudança operada no próprio país como acima refiro, para além da pressão internacional, ter realizado uma descolonização em que as estruturas do poder desses novos países estivesse garantida, não pela força das armas, mas pela força das palavras.

Sim, já sei que virão dizer que o regime nunca cederia, mas a verdade é que nenhum regime como aquele cede quando é atacado, pelo contrário fortalece-se, mas o desenvolvimento que já se estava a notar, (a par com o “cansaço” que também já tão bem se notava e a longevidade do líder), poderia por dentro, levar à mudança estruturada, que iria dar origem a um novo país, a novos países, sem que tantos tivessem morrido para que tal acontecesse.

Enfim, um exercício impossível de concretizar hoje, mas já que falamos tanto do passado, não nos fará mal nenhum pensarmos nisso.

Realmente eu devo ser um pouco masoquista, porque já adivinho a quantidade de “porrada” que vou levar se os editores quiserem publicar este texto, o que deixo inteiramente nas suas mãos.

Um abraço camarigo para todos do
Joaquim Mexia Alves
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 26 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7344: Convívios (201): 7º Encontro da Tabanca do Centro (Joaquim Mexia Alves/Juvenal Amado)

Vd. último poste da série de 22 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7319: (Ex)citações (112): O Simples e o Erudito (na Tabanca Grande) (José Brás)

Guiné 63/74 - P7347: Notas de leitura (177): Marcelino Marques de Barros, um sábio guineense (Mário Beja Santos)


1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Novembro de 2010:

Queridos amigos,
O padre Marcelino Marques de Barros acompanha-me há décadas.
Estudei-o na Faculdade, com a preciosa ajuda do então comandante Teixeira da Mota. Dava logo para perceber que se tratava de uma personalidade excepcional que o país não assimilou mas que tinha deixado uma memória profunda na Guiné.
A homenagem que lhe prestaram no colóquio internacional “Bolama Cidade Longe” foi significativa e vale a pena deixar um apanhado sobre os seus vastíssimos conhecimentos.

Despeço-me até Dezembro,
Mário


Marcelino Marques de Barros, um sábio guineense

Beja Santos

Há, felizmente, uma grande consideração pelo talento, criatividade e obra científica de um padre guineense que viveu na segunda metade do século XIX e na primeira do século XX. Nas actas do colóquio internacional “Bolama Caminho Longe”, que se realizou em Novembro de 1990, numa tentativa, inglória, de constituir uma das peças para um movimento mais vasto que tinha por principal objectivo a recuperação da cidade, o padre Marcelino foi alvo de uma comunicação que torna claro que a sua personalidade é obrigatória para o estudo da cultura, da missionação na Guiné, da etnografia, da filologia e da antropologia da Guiné Bissau.

Nascido em 1844, em Bissau, veio estudar no Seminário Patriarcal de Santarém e no Real Colégio das Missões Ultramarinas em Sernache do Bonjardim. Se cada um de nós é o que é e a circunstância da sua vida, não se pode entender o trabalho científico deste prelado fora do contexto em que viveu: Conferência de Berlim, acordo luso-francês para a definição de fronteiras, separação da Guiné de Cabo Verde, a Guiné como palco de lutas étnicas em que os Fulas derrotaram os Mandingas na batalha de Kansala, cobiça britânica sobre a Senegâmbia portuguesa (questão de Bolama), falta de missionários para trabalhar na Guiné. Marcelino Marques de Barros sai de Sernache em 1866, estão bem identificadas as etapas do missionário: pároco em Bissau, pároco em Ziguinchor, em Bolor e Cacheu, Vigário Geral da Guiné (1873-1888). A par desta laboriosa actividade, na maior parte dos casos, sozinho, revelou-se um escritor compulsivo e um investigador que merece bem que a Guiné-Bissau e Portugal estudem afincadamente os seus conhecimentos aprofundados.

A sua correspondência é admirável. No colóquio “Bolama Caminho Longe” foram passadas em revista algumas das suas muitas informações que foi dando aos seus leitores: descrições de rios; análise dos usos, costumes e línguas dos povos da Guiné; recolha de contos, cantigas e parábolas. Publicista infatigável, colaborou nalgumas das principais publicações do seu tempo, caso da Revista da Sociedade de Geografia de Lisboa, Revista Portuguesa Colonial e Marítima, A Tribuna, Revista Lusitana, etc. Definitivamente em Portugal, trouxe consigo várias lembranças que dão conta das suas preocupações com a ciência e o seu acrisolado amor pelas coisas da Guiné: 200 exemplares de sementes e plantas recolhidas em Bolama e nos Bijagós, devidamente catalogadas e enriquecidas com notas explicativas que entregou ao Conde de Ficalho; notas sobre línguas e a dialectos da Guiné que ofereceu a Carrilho Videira e a Hugo Schuchardt; 30 poesias em crioulo e fotografias que foram publicadas na revista As Colónias Portuguesas; notas para uma coreografia da Guiné; vocabulário da língua felupe, etc. etc. Era poliglota, conhecia perfeitamente o crioulo, foi autor do primeiro dicionário do crioulo guineense. Tentou impulsionar a criação de uma biblioteca pública em Bolama, previu mesmo um museu junto dessa biblioteca onde pudessem ser expostos os “valiosíssimos produtos da história natural superabundando em todas as costas ocidentais da África e especialmente na Senegâmbia portuguesa”.

Guiné e Cabo Verde separaram-se em 1879. Nos anos seguintes, houve fomes em Cabo Verde e o Cónego Marcelino Marques de Barros tomou a iniciativa de sensibilizar a população guineense publicando em 31 de Outubro de 1883: A Fraternidade, Guiné a Cabo Verde, folha destinada a socorrer as vítimas da estiagem da província cabo-verdiana. Foram impressos 10 000 exemplares e saiu um único número. Sensibilizados, os cabo-verdianos agradeceram o socorro financeiro.

A correspondência do padre Marcelino é, a todos os títulos, notável. Vou ficar-lhe devedor para toda a vida pelos esclarecimentos que ele me deu nas coisas da Guiné. Aliás, ele vai aparecer numa citação no meu livro “A Viagem do Tangomau”, é o padre Marcelino quem vai ilustrar a impressão que provoca esse magnificente rio que é o Geba, assim: “Duas enormes serpentes, que perseguindo-se deixam no solo um rasto de mil curvas, dão a lembrar as águas do Geba, que multiplicando as voltas, rompem por bosques e campos de verdura – Que festa não é o viajar por um rio assim, embarcado n’uma canoa toda embandeirada! Verdade é que, à noite só tem o viajante a contemplar o céu carregado de brilhantes, a terra de sombras e fantasmas, o ar de cacimbas; e o silêncio, que aumenta apenas perturbado com o saltar de peixinhos, e com o ressonar dos grumetes estirados nas latas.

Mas, ao amanhecer, que quadros e hinos não o cercam! Renques de palmeira no horizonte coroados de luz da aurora; um crocodilo saindo da margem do rio desce escorregando pelo lamaçal abaixo; palram em volta dos seus ninhos as aves de mil cores. É então que os grumetes seguindo a sua viagem, jogam os seus remos ao som do “bombalão”, sem se incomodarem muito com o hipopótamo, que, de quando em quando, mostra à proa a sua cabeça de mostro marinho. No tracto por onde o rio corre desassombrado de arvoredos, acham-se manadas de gazelas que pascem nos prados; e é de ver como a tiro de clavina se põem todas em debandada, e como fogem algumas garças brancas, que se vão poisar sobre a verde folhagem das árvores como flocos de neve!”.

Morreu em Lisboa, em Março de 1929, com 85 anos.

Este padre Marcelino foi um sábio que necessitamos de reencontrar. Para a glória dos dois países que ele tanto amou.
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Notas de de CV:

(*) Vd. poste de 26 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7340: Bibliografia de uma guerra (58): Opúsculo da Bibliografia sobre o Fim do Império (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 24 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7326: Notas de leitura (176): Tempo Africano, de Manuel Barão da Cunha (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7346: Parabéns a você (179): Agradecimento de Jorge Teixeira, ex-Fur Mil Art.ª da CART 2412


1. Mensagem de Jorge Teixeira* (ex-Fur Mil Art, CART 2412, Bigene - Guidage, Barro, 1968/70), com data de 27 de Novembro de 2010:

Camarada e amigo Carlos
Agradeço o teu mail e a mensagem "Facebookada"

Dada a extensão dos meus agradecimentos para todos, dá para publicar em post no blogue?
Senão, diz que eu "amando-lhos" pós comentários, mas se der... agradeço.




E já vão 65

Já posso tirar o passe com desconto (versão in Portojo) e andar de comboio com 1/2 bilhete (voltamos à meninice).

Deixo aqui o meu agradecimento a todos os que me endereçaram os Parabéns pelos mais diversos e variados meios. Antigamente era mais simples recebíamos uma cartita dum ou doutro, umas palmadinhas a abater e pronto, ninguém sabia, nem ficavam a saber, também não convinha, diga-se, agora todo o mundo sabe.

Agradeço também aos que o não fizeram, não é piada, (acontece comigo também), mas não lhes levo a mal porque sei que tinham vontade de o fazer, só não o fizeram para não sobre carregar o blogue. Já viram o que era os 460 (só?) "manfios" Tabanqueiros/Tertulianos a mandarem comentários a este pobre e mal agradecido, ex-combatente?

Já me bastaram os parabéns dos nossos governantes (muito reconhecidos) que me fizeram grande "bicha(s)" à porta numa sessão de cumprimentos, até tiveram a largura (< / >), com grande sacrifício, de me dar 100 €uritos, gajos porreiros! Daí a célebre frase:

- Porreiro pá, porreiro...

Para quem não sabe, começou comigo há muito tempo e não com esse "pobre+zinho" de espírito, Peru Emproado, quando me agradeceram o ter dado o corpo ao manifesto.

Jorge Teixeira e Augusto Vilaça, junto ao Monumento ao Soldado Desconhecido, sito na Praça de Carlos Alberto, na Cidade Invicta.

Já era altura de os editores do blogue se deixarem disto dos Parabéns, até porque dá uma trabalheira danada e não contribui para a felicidade do mesmo, há outras coisas mais importantes, e chegamos a uma altura em que já estamos fartos, fartinhos de fazer anos (65? já!) e já sabemos como é, embora não nos cansemos e gostemos de fazer sempre mais... e mais... e mais... (sem ajuda da duracel, claro, espero), além disso não somos nenhuns meninos do coro para fazer birra de aninhos, por não recebermos os parabéns dos amigos, acho eu, se calhar estou enganado e há quem fique mesmo chateado.

Uma pequena correcção, Carlos: não sou de 1970/72 mas sim 68/70. O seu a seu dono porque gosto deste "68/70", acho lindo, omitindo o 69 (bronca), manias. Na altura até fiz uma placa alusiva ao 69 (tinha a mania das placas, era o "artista" lá do sitio) para a entrada na nossa tabanca/esplanada em Barro. Do VAT 69 transformei-o em "VAiTe 69", porque estávamos com pressa que chegasse 1970, que já chegava de guerras e tínhamos o barco à espera com passagens de borla.

Dá trabalho fazer anos, mas que chatice.
Muito obrigado pelos Parabéns
Um abraço para todos pela paciência de me aturar.
cumprim/jteix
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 26 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7338: Parabéns a você (178): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil Art.ª da CART 2412 (Tertúlia / Editores)

Guiné 63/74 - P7345: (Ex)citações (113): Para mim, os Páras são os Páras. Vou gostar de ler as histórias d' A Última Missão, de Moura Calheiros (Manuel Amaro)


1. Comentário,  com data de 24 do corrente,  do nosso camarada Manuel Amaro   ao poste P7323


Não vou estar na apresentação [do livro do Cor Pára Moura Calheiros], porque estarei a mais de 300 kms. do local. Tenho o maior respeito e admiração pela Família Pára-quedista.


(i) Em 1970, em Aldeia Formosa, fui chamado a dar uma ajuda às nossas Camaradas Enfermeiras, pois tinham um avião cheio de feridos resultantes de uma operação mal sucedida, no Corredor de Guileje.


(ii) Depois do 16 de Março de 1974 ia sendo informado por um Cap Pára, hoje Major General, sobre o andamento do Movimento e da sua missão quando chegasse o dia certo.


(iii) No dia 11 de Março de 1975, estava ali mesmo, no edificio do Aeroporto que fica mais perto do RALIS.

(iv) No 25 de Novembro de 1975, acompanhei [os acontecimentos] pela Imprensa, Rádio e TV.


Mas, conhecendo as instituições, como conheço, para mim, os PÁRAS são os PÁRAS. E vou gostar de ler as histórias d´A Última Missão.


Manuel Amaro
(ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2615/BCAÇ 2892,
 Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala,
1969/1971) (*)

Foto: Manuel Amaro, de pé, ao centro,  em Monte Real, no V Encontro Nacional do Nosso Blogue, 26 de Junho de 2010,  ladeado conversando como o Paulo Santiago (à esquerda) e o Victor Tavares (à direita) (**)

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Notas de L.G.:

(*) Último poste desta série > 22 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7319: (Ex)citações (112): O Simples e o Erudito (na Tabanca Grande) (José Brás)


(**) (2) Vd. postes do Victor Tavares onde se evocam os dias trágicos, para a CCP 121, de Guidaje (Op Mamute Doido, 23-29 de Maio de 1973):



 25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto


9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7344: Convívios (284): 7º Encontro da Tabanca do Centro (Joaquim Mexia Alves/Juvenal Amado)


1. O nosso Camarada Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp / RANGER da CART 3492, (
Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, enviou-nos, com data de 25 de Novembro de 2010, a seguinte mensagem:
7º Encontro da Tabanca do Centro - Almoço a roçar o Natalício

Foi-me confiada, ou melhor, “imposta”, pelo comandante em chefe da Tabanca do Centro, ou se quiserem pelo Régulo da dita, a difícil e espinhosa (não necessito explicar porquê espinhosa, basta dizerem o meu nome) tarefa de dar a conhecer o que foi este encontro ou “combíbio” (por causa do pessoal do norte), festa pré-Natal à volta da mesa onde, um delicioso leitão e/ou cozido, fartura em tempo de crise, nos foi dado comer e chorar por mais.

Diga-se em boa verdade que antes de aceitar a tarefa de resumir a escrito os acontecimentos procurei demover essa ideia da cabeça do Chefe da Tabanca, sem sucesso, acabando mesmo por deixar no livro de reclamações que não havia o direito de ter de escrever imediatamente a seguir ao exímio narrador de acontecimentos que é o JERO, dada a sua graciosidade de escrita. Não tendo conseguido obter o resultado pretendido, achei melhor calçar umas sapatilhas e pôr-me ao caminho, não fosse o Diabo tecê-las e depois não conseguir descalçar a bota.

Feita a introdução vamos aos factos. Asseguro por minha honra que estiveram representadas quase todas as forças em parada, mas não parados pelo menos até encherem a pança. Registou-se, contudo, uma vez mais, a ausência da marinha, já que desde tropas especiais ou de elite, regulares ou feijão verde até à força aérea, todos marcaram presença.

Também as senhoras se fizeram representar desta vez em qualidade e número, no início e fim da mesa. Obrigado pelo belo efeito que deram à mesa e pela gentileza da companhia que nos fizeram, já que nas conversas tiveram que procurar outros interesses.

Não houve louvores a registar, ninguém se destacou em especial o que é facto de monta nos tempos que correm. Omito os nomes dos presentes, aliás, não sei se todos estavam devidamente autorizados pelas cara-metade, o que evita tornar-me um delator e arranjar-lhes complicações que poderiam levar à sua despromoção ou mesmo desterro familiar. Também não houve televisão ou rádio que conseguisse chegar-se à frente com o valor para assegurar a cobertura do acontecimento, ficou assim essa a cargo dos presentes o que me simplifica a tarefa.

Regista-se que tudo decorreu dentro da normalidade, com a presença das caras já habituais a que se juntaram outras estreantes, mesmo de outras Tabancas (locais), num total de 34 elementos, representando todos os escalões etários, mais usados, novos e meio uso.

O almoço começou por ser regado, no seu início, com o delicioso vinho do Zé Manel mas, não passou do início, tivemos que recorrer aos prestimosos fornecedores da Preciosa.

Convém definir, aqui e agora, que o trato dado à Preciosa decorre do que foi dito pelo comandante Mexia na sua intervenção, referindo ser uma criatura preciosa e juntar a esse facto o ser também esse o seu nome. Irei, por isso, com o devido respeito, falar desta senhora que nos atura as madurezas e nos mima com os seus deliciosos petiscos como Preciosa, apenas.

Dizia eu que abrimos com um mimo que nos havia sido prometido, sem aumento do valor do prato, calcule-se isto nos tempos que correm em que qualquer especulador estaria logo a exigir mais um tanto por cabeça, salvo seja, por presença fica melhor, um belíssimo queijo fresco e umas excelentes fatias de presunto. Agradeço o favor de não começarem a salivar, estamos ainda nas entradas.

Tudo tem um fim, acabaram-se as entradas e a abertura da festa e passámos para o já famoso cozido e a novidade proposta pelo Agostinho, leitão da Boavista. Não, não é do Boavista, é mesmo da Boavista. Curiosamente o Agostinho comeu cozido, vai ter de explicar aqui a razão. Ele disse-me, mas eu acho que ele vai ter de chegar-se à frente e contar aqui mesmo o porquê.

Estava a festa a mais de meio, para não dizer no início do fim, quando começaram as ofertas do Zé Brás ao Régulo da Tabanca Joaquim e do JERO também ao Vasco e ao Mexia e de um outro sorteado entre as senhoras presentes, mas esses acontecimentos ficaram a cargo de outros escribas e não vou gastar mais tinta da minha pena. Foi então que chamada a Preciosa, o Vasco, em nome de todos os presentes, entregou-lhe uma colcha de Alcobaça, como lembrança e reconhecimento colectivo pelos “Kilos” que ela nos obriga a perder nos ginásios por causa dos almoços.

Momentos significativos e importantes na camaradagem se registaram durante todo o decorrer do encontro, não se vendo hipocrisia, cinismo, risos forçados, unanimidade de vontades ou pensamentos, mas onde todos continuaram a manter as suas opiniões e divergências e já a interrogarem-se quando é o próximo almoço, agora que temos aí Dezembro com todas as ofertas e demais coisas apetitosas. Ficou assim estabelecido que o próximo, só no mês dos gatos, Janeiro.

Esta história, com h e grande, por ser verdade e eu a assinar por baixo, tornou-se maior por não saber o que escrever, mas não precisam ler, chegados aqui parem e vão dormir ou passear, conforme a hora e o local, certo? Eu sei, um bem-haja para vocês também.

Expostos os factos, fica-me uma dúvida, devo ou não continuar a dar-me com esta gente. Comem bem, bebem melhor, pagam pouco, dão prendas às pessoas, respeitam-se uns aos outros, discutem e sem estarem de acordo não se ofendem, não sei não, vou pensar. Onde raio vou eu gastar as energias?

Um abraço,
Belarmino Sardinha

Notas:

Em primeiro lugar agradecer ao atabancado Belarmino a sua excelente narrativa, bem como, ao Juvenal Amado e Miguel Pessoa a exaustiva, salvo seja, reportagem fotográfica. Outras há, que a gente sabe!
E neste primeiro lugar cabe forçosamente um agradecimento ao Jero pelo presente que nos arranjou para obsequiarmos a Preciosa, bem como os outros presentes que sempre tão camarigamente vai distribuindo.
Em segundo lugar, explicar que o Leitão não era da Boavista, mas sim dum fornecedor da Preciosa.
Em terceiro lugar confirmar que o Agostinho, autor da ideia do leitão, não comeu o dito cujo, pelo que, tendo explicado a razão aos presentes, tem de a explicar aos ausentes, não vão eles pensar que o Agostinho é "racista" e só come Leitão da Boavista!
...Como desejo de Almirante é ordem, (pobre de mim apenas comandante!), aqui se acrescenta com todo o gosto e prazer o comentário do Vasco da Gama!.
Não há bela sem senão... Não acrescento uma pitada ao escrito de mestre Belarmino, pois qualquer acréscimo o tornaria mais pobre, e quero deixar expressa a minha alegria por poder conviver com malta como vocês, sem qualquer excepção.
Num mundo cada vez mais marcado pelo egoísmo a malta responde com vincado altruísmo; num mundo onde as pessoas têm o olhar apontado ao seu umbigo numa manifestação de amor exclusivo a si próprias a malta responde com solidariedade, não só entre os diferentes atabancados, mas também e sobretudo com a ajuda às gentes da Guiné e a camaradas portugueses que vão passando menos bem.
Conhecer o Blogue do Luís Graça e Camaradas da Guiné, responsável pelo disseminar de todos estes maravilhosos encontros, foi o primeiro passo para afastar "fantasmas" que teimavam em povoar os meus sonhos com pesadelos de constantes emboscadas onde, era sempre assim, as armas da minha companhia se encravavam e não conseguiam ripostar ao fogo das dos outros.
Essa angústia que há muito não me atormenta,partiu para bem longe e é hoje substituída pelas dezenas e dezenas de novos/velhos amigos sempre em franco convívio, com um telefonema a propósito da saúde, ou perguntando se algo é necessário, ou mesmo com uma piadinha anti-benfiquista que, aqui o confesso, me faz sempre sorrir, sabendo que o nosso inimigo histórico, o outro da segunda circular, ainda consegue voar abaixo de nós...
Aqui chegado, quero explicar o tal da " bela sem senão".Recebi de um anónimo que deve ter longa prática de cartoonista, ser lagarto mas com imensa piada, estas duas fotografias tiradas no nosso convívio onde "je", para dar uma de intelectual, aparece devidamente retratado com uns apartes ao meu fervor clubista que eu gostaria de ver publicado a este meu comentário.
Peço o favor ao nosso Comandante Mexia Alves que aqui as anexe pois de pronto as envio pelo correio.Para toda a malta um grande abraço e o meu muito obrigado pelos momentos de amizade que todos me proporcionam.Do meu Buarcos lindo, meu encanto e minha alegria, a amizade sincera do

Vasco Augusto R. da Gama
É favor clicar na imagem para ver melhor!

Esta reportagem pode também ser vista no blogue:

http://tabancadocentro.blogspot.com/2010/11/7-encontro-da-tabanca-do-centro-almoco.html
Fotos: © Juvenal Amado (2010). Todos os direitos reservados.
Um grande e camarigo abraço
Joaquim
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Nota de M.R.:

Guiné 63/74 - P7343: Recortes de imprensa (35): Manecas dos Santos, o último dos cabos de guerra do PAIGC, que comandou os Strela e o cerco a Guidaje, estará na 2ª feira, 29, no lançamento do livro de Moura Calheiros (Diário de Notícias)

1. Transcrição,  com a devida vénia,  de notícia do Diário de Notícias, de ontem 

Livro junta inimigos da guerra colonial em Lisboa
por Manuel Carlos Freire

Manecas dos Santos, comandante dos mísseis do PAIGC e da sua frente norte, esteve na batalha de Guidaje contra os páras de Moura Calheiros

O coronel Moura Calheiros, que em Maio de 1973 comandou a operação de ajuda aos militares cercados pelo PAIGC no norte da Guiné, convidou o chefe dos seus inimigos naquela batalha para o lançamento do livro A última missão.

"O livro é todo baseado em documentos ou depoimentos. É a história real de uma missão", em 2008, para recuperar os corpos de três jovens pára-quedistas mortos nesses combates em Guidaje e que lá ficaram enterrados, "onde fui recordando factos que aconteceram" durante a guerra colonial, conta Moura Calheiros ao DN.

O livro A última missão  [, imagem da capa à esquerda, cortesia do Diário de Notícias], que é lançado segunda-feira na Academia Militar (Amadora), contará com a presença do comandante da frente norte do PAIGC - e responsável pela artilharia, incluíndo mísseis - que liderava o cerco à guarnição portuguesa de Guidage.

Nessa operação morreram quatro pára-quedistas, três dos quais foram recuperados em 2008 pela Liga dos Combatentes e trasladados para Portugal.

A obra, com cerca de 600 páginas, visa "homenagear os soldados que combateram na guerra colonial em África, prestada na figura dos três rapazes que fui buscar a Guidaje" há dois anos, adianta o coronel reformado.

No livro "chamo a atenção para o papel de muitos militares (os sapadores que picavam as minas, os tripulantes das lanchas, condutores dos rebenta-minas) cujo trabalho tem sido ignorado e que também tem direito a ficar na história", enfatiza ainda Moura Calheiros.
A par dessa atenção "aos heróis desconhecidos" da guerra colonial, são feitas algumas "correcções na história" dominante sobre essa época, refere o militar, admitindo que A última missão possa causar polémica em função das "diferentes formas de interpretar" os factos registados. 


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Nota de L.G.:

Último poste desta série > 21 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7151: Recortes de imprensa (34): A guerra do Manuel Resende, ex-Alf Mil At da CCaç 2585/BCaç 2884 (Correio da Manhã)