quinta-feira, 15 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24400: (De) Caras (198): "Da minha varanda também vejo o mundo... Ou uma nesga, o da da minha rua" (Valdemar Queiroz, DPOC, Rua de Colaride, Agualva-Cacém, Sintra) - II (e última) Parte


Foto nº 11


Foto nº 12


Foto nº 13


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Foto nº 15


Foto nº 16


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Foto nº 19

Sintra > Agualva-Cacém > Rua de Colaride > Maio de 2023>    "Da mimha varanda também vejo. o mundo... Ou uma nesga, o da da minha rua"

Fotos (e legenda): © Valdemar Queiroz (2023). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Segunda (e última)  parte da "fotogaleria da minha rua, vista da minha janela", enviada pelo nosso querido amigo e camarada Valdemar Queiroz, no passado dia 28 de maio...

Portador de uma doença crónica, incapacitante, a DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica), o Valdemar "não pode sair de casa", mas já se atreve agora a ir à para a varanda, sempre que o tempo e a qualidade do ar o permitem... Com um "telemóvel fatela" (sic), tirou duas dezenas de fotos... Depois de selecionadas e editadas por nós, foram publicadas neste e no poste anterior (P24399) (*)

Mora há meio século, em Agualva, Cacém, concelho de Sintra, na Rua Coloride... 

(...) "Vi nascer toda a urbanização da zona do prédio da minha casa. Passaram 50 anos, os casadinhos de fresco inauguraram os prédios da urbanização e com o andar dos anos os filhos foram crescendo e arranjaram outros locais para morar.

Os mais velhos, como eu, alguns ficaram, mas a maioria também saiu para outros lados. Agora, há cerca de 6-7 anos, os prédios começaram a ser habitados por outra gente, na maioria famílias de cabo-verdianos, mas também guineenses e angolanos.

E, agora, na rua só se vê gente de origem africana, talvez os de cá, já poucos, prefiram sair só de carro.

Eu, com o tempo mais quente,  vou para a varanda e vejo passar gente que me faz lembrar a Guiné e sempre vou tirando umas chapas  apanhando pessoas descontraídas." (...)

(...( Anexo umas fotografias tiradas da minha varanda, que são um filme do que vejo todos os dias, desde a chinchada à velhinha nespereira às flores do jacarandá. (*).~

Em comentário ao poste P24399 (*), acrescentou:

(...) As fotografias são tiradas por um telemovel fatela. Tivesse uma máquina como deve ser, dava para mostrar a envolvência dos fotografados.

Os arruamentos, zonas verdes e prédios têm um bom aspecto devido tratar-se de propriedade horizontal a grande maioria e como tal havido uma boa conservação.

Os prédios nasceram em 1972/73, no caminho de uma vacaria e moinhos de vento, ainda quase todos para alugar, a receber casados de fresco vindos de Lisboa, com a estação dos comboios a 10 minutos, e a meia hora do Rossio.

Levou alguns anos a ficar tudo arranjadinho como agora se vê, e os novos habitantes, principalmente as mulheres, fazem grande motivo de vaidade por viver no 2.º andar, que até dá para estender a roupa a secar. E até me dizem 'o vizinho está melhor?' (...)



Agualva-Cacém > 14 de setembro de 2021 > O João Crisóstomo veio, propositadamente, dar conhecer pessoalmente (e dar um abraço solidário a) o Valdemar Queiroz... Ei-los, os dois,  à entrada no prédio, na rua de Colaride (**)

O Valdemar Queiroz, minhoto por criação, lisboeta por eleição, foi fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70. Vive hoje, sozinho, em casa, em Agualva-Cacém. Tem um filho e netos nos Países Baixos.

Fotos (e legendas): © Valdemar Queiroz / João Crisóstomo (2021). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

quarta-feira, 14 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24399: (De) Caras (197): "Da minha varanda também vejo o mundo... Ou uma nesga, o da da minha rua" (Valdemar Queiroz, DPOC, Rua de Colaride, Agualva-Cacém, Sintra) - Parte I


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5


Foto nº 6


Foto nº 7


Foto nº 8


Foto nº 9


Foto nº 10

Sintra > Agualva-Cacém > Rua de Colarider > Maio de 2023>    "Da mimha varanda também vejo. o mundo... Ou uma nesga, o da da minha rua"

Fotos (e legenda): © Valdemar Queiroz (2023). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso querido amigo e camaraada Valdemar Queiroz:

Data - domingo, 28/05, 17:31
Assunto - Quem não pode sair de casa, vai para a varanda.

Como não saio de casa, por motivos da DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica), com o tempo mais quente dá para ir ver "passar as modas" na varanda.(*)

Vi nascer toda a urbanização da zona do prédio da minha casa. Passaram 50 anos, os casadinhos de fresco inauguraram os prédios da urbanização e com o andar dos anos os filhos foram crescendo e arranjaram outros locais para morar.

Os mais velhos, como eu, alguns ficaram, mas a maioria também saiu para outros lados. Agora, há cerca de 6-7 anos, os prédios começaram a ser habitados por outra gente,na maioria famílias de cabo-verdianos, mas também guineenses e angolanos.

E, agora, na rua só se vê gente de origem africana, talvez os de cá, já poucos, prefiram sair só de carro.

Eu, com o tempo mais quente,  vou para a varanda e vejo passar gente que me faz lembrar a Guiné e sempre vou tirando umas selfies apanhando pessoas descontraídas. Hoje passou um homem e duas mulheres com um t-shirt BALDÉ, e de imediato lembrei-me do nosso caro amigo Cherno Baldé.

Anexo umas fotografias tiradas da minha varanda, que são um filme do que vejo todos
os dias, desde a chinchada à velhinha nespereira às flores do jacarandá. (**)

Espero que o Cherno goste
Valdemar Queiroz

E

Valdemar Queiroz, minhoto por criação, lisboeta por eleição, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70; aqui, na foto, em Contuboel, 1969. Vive hoje, sozinho, em casa, em Agualva-Cacém. Tem um filho e netos nos Países Baixos. De vez em quando vai de urgência para o Hospital Amadora-Sintra com uma crise aguda, devido à sua "DPOC de estimação"... Não perde, mesmo assim, a sua vontade férrea de viver e o seu saudável humor de caserna... O nosso voto é que ele continue mais teimoso do que a filha da p...
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(**) Último poste da série > 4 de junho de  2023 > Guiné 61/74 - P24366: (De)Caras (196): "Deus deve ter-se esquecido de África": o nosso tabanqueiro nº 643, Jaime Silva, ex-alf mil paraquedista, 1ª CCP / BCP 12 (Angola, 1970/72), num corajoso e sentido depoimento sobre a sua participação na guerra colonial, à Camões TV, Toronto, Canadá

Guiné 61/74 - P24398: Historiografia da presença portuguesa em África (372): Revista de História, n.º 13, Janeiro-Março, Ano IV, 1953 - Um texto fundamental para o estudo da História da Guiné: Fontes quatrocentistas para a geografia e economia do Saara e da Guiné (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Novembro de 2022:

Queridos amigos,
Sem qualquer rebuço, escrevo insistentemente que a minha dívida com a Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa não tem preço. Ali me ajudam a encontrar textos de enorme valia para o estudo da História da Guiné. Ando eu à procura de uma arrumação sobre os textos fundamentais do século XV para o livro que estou a preparar Guiné, Bilhete de Identidade e concluo, depois de ler este admirável ensaio de Vitorino Magalhães Godinho que só é novo aquilo que se esqueceu ou se desconhece (em tantos casos, entenda-se, a genialidade da inovação também comanda a vida). Aquele que terá sido o maior historiador português do século XX, deixa bem claro que a obra de Zurara teve contributos de outrem, que Cadamosto era naturalmente um homem experiente e revelou-se um notável relator de viagens de grande importância para o futuro do conhecimento da costa ocidental africana; e que o Esmeraldo, de Duarte Pacheco Pereira marca a passagem de um cultura baseada no "ouvir dizer" para uma visão e um sentido da precisão e exatidão, é o pontapé de saída para um conhecimento científico na alvorada do Renascimento.

Um abraço do
Mário



Um texto fundamental para o estudo da História da Guiné:
Fontes quatrocentistas para a geografia e economia do Saara e da Guiné


Mário Beja Santos

Foi uma manhã abençoada, daquelas em que mudamos a rotação do olhar, basta embrenharmo-nos na leitura do ensaio para entender como há cerca de 70 anos, aquele que já era a grande promessa da historiografia portuguesa, Vitorino Magalhães Godinho, então a trabalhar no Centre National de la Recherche Scientifique, em Paris, já tinha esboçado o estudo das fontes matriciais que permitem o conhecimento que detínhamos da geografia e gentes da Guiné. Trata-se de um trabalho publicado numa publicação brasileira, Revista de História, n.º 13, Janeiro-Março, Ano IV, 1953. Revista de grande prestígio editada em São Paulo, nela irão colaborar outras importantes figuras da cultura portuguesa, como Joel Serrão ou Barradas de Carvalho.

O artigo intitula-se Fontes Quatrocentistas para a Geografia e Economia do Saara e Guiné. Vejamos sumariamente a argumentação do eminente historiador. Os cronistas marcam no Cabo Não o termo inicial dos Descobrimentos portugueses. Para o sul do Cabo Não pode dizer-se que não se realizaram conquistas e ocupações permanentes, no século XV e primeira metade do século XVI. Os intrusos lanceiam mouros, azenegues e negros, assaltam aldeias, roubam o que podem – como em Marrocos; mas descem do navio à praia, internam-se e regressam ao mar. Não são cavaleiros e escudeiros, instalados em praças fortes; são homens de bordo que ocasionalmente calcorreiam os caminhos de terra.

Há relatos, testemunhos dos próprios navegadores e mercadores onde perpassa um espírito muito diferentes do que anima as crónicas. Têm a frescura da visão direta que o cronista não pode dar. Atenda-se às fontes, as dos cronistas, as dos viajantes, mercadores, nautas.

A primeira das fontes é a Crónica dos Feitos da Guiné. O investigador Costa Pimpão, em resultado da análise que efetuou à obra, considera que se trata da cerzidura de duas obras diferentes: uma, a Crónica dos Feitos da Guiné propriamente dita, e a outra uma Crónica ou Livro dos Feitos do Infante D. Henrique, trabalho que terá sido efetuado, segundo Duarte Leite, pelo próprio Zurara. E o historiador põe na mesa a argumentação de diferentes especulações com o nome de Afonso de Cerveira como o primeiro autor da Crónica da Guiné. Tudo leva a querer que a questão é insolúvel. A perda da crónica de Cerveira, presumivelmente fonte quase exclusiva da obra de Zurara, fere irremediavelmente incerteza o valor da Crónica dos Feitos da Guiné que até nós chegou.

E o historiador enuncia as conclusões de Duarte Leite quanto ao valor da Crónica de Zurara: destina-se a narrar os feitos dos portugueses em África, quer dizer, a ser uma crónica de ações guerreiras, não é uma crónica dos Descobrimentos; as distâncias que aponta estão todas erradas por forte excesso; raras vezes apresenta as distâncias; omite frequentemente as datas de partida das viagens e nunca refere as datas de regresso; é muito pobre de informações no que respeita à maneira como se organizavam as expedições, etc., etc. Temos de reconhecer que as perplexidades se amontoam ao pretendermos utilizar a Crónica da Guiné para estabelecer o estudo económico e social das populações com quem os portugueses entraram em contacto.

Quando transitamos para a segunda em data das fontes que se reportam ao descobrimento da Guiné, o panorama muda integralmente. As Navegações de Alvise de Cadamosto são obras de um navegador e mercador que as escreveu em 1456 (ano da sua segunda viagem) e 1483 (ano presumível da sua morte). É muito natural que as Navegações se baseiem em apontamentos de bordo. Cadamosto não é o conservador de um arquivo, não é um homem de biblioteca, é o homem que viajou largamente, conhece a Itália, o Egito, Creta, o Norte de África, a Flandres, Portugal, a Guiné. É certo que em 1455 embarcou numa caravela, fez escala pelas ilhas de Porto Santo e Madeira e arquipélago das Canárias, navegou para o Sul, passando o Cabo Branco e ilha de Arguim, visitou a foz do rio Senegal e o país de Budomel, dobrou o Cabo Verde, chegou à Gâmbia. No ano seguinte, na companhia de Antoniotto Uso di Mare teriam descoberto Cabo Verde, teriam chegado ao rio Geba e aos Bijagós. Podemos ficar com uma quase certeza de que Cadamosto escreveu sobre o que viu, dispunha de uma atitude mental de curiosidade pela flora e fauna, pelos costumes, crenças e formas de organização dos povos que não encontramos nessa data para além dele em Portugal.

A conclusão análoga chegaríamos se comparássemos as Navegações de Cadamosto com as de Pedro de Sintra. As de Pedro de Sintra são muito mais concisas e mais pobres em dados sobre a natureza e os indígenas, é uma quase seca enumeração dos lugares percorridos por aquele navegador até 1462. Seja como for, a Navegação de Pedro Sintra é obra escrita ou ditada por um escrivão da época henriquina e, como tal, um excelente padrão dos diários de bordo, ao começar a segunda metade do século XV. A Navegação de Pedro Sintra descreve-nos a costa africana desde o Geba até à mata de Santa Maria.

Numa coletânea de obras sobre a expansão portuguesa, compilada por Valentim Fernandes entre 1506 e 1507, vêm insertos três textos latinos; trata-se de uma relação do descobrimento da Guiné redigida em latim sobre o relato (oral ou escrito?) que lhe fez Diogo Gomes. O que na Relação é de facto do antigo navegador e o que de imputar-se ao alemão não é fácil descriminar. Na enumeração e narrativa das navegações até 1448, há evidentes discrepâncias entre o relato de Diogo Gomes e o de Martinho da Boémia.

Apensado ao Itinerário do Dr. Jerónimo Munzer, anda uma Relação por ele redigida. Não se tem prestado atenção a esta obra, considerando-se geralmente que não passa da reprodução da de Diogo Gomes – Martinho da Boémia, foi escrita a D. João II, sugerindo-lhe um plano para atingir a Índia pelo Ocidente. A Relação de Munzer divide-se claramente em duas partes: a primeira, narra os Descobrimentos realizados em vida do Infante D. Henrique; a segunda, informa-nos acerca do clima e mar, flora e fauna, produções e comércio, guerras e religião da Guiné, bem como acerca das ilhas de São Tomé, Madeira e Açores.

O mais rico repositório de informações etnográficas sobre a África Ocidental setentrional é a coletânea de Valentim Fernandes, o Alemão. Valentim Fernandes não é navegador ou comerciantes, mas também não é cronista oficial, mas está em relações com todos estes meios. O chamado Manuscrito Valentim Fernandes constitui uma justaposição, quando não amálgama, de fontes heterogéneas que o alemão compilou, resumiu e redigiu sem qualquer perfeição ou sequer preocupação arquitetónica.

Temos ainda os relatos de João Fernandes e Álvaro Velho, cobrem todo o Saara Ocidental e a parte central e mesmo a Guiné ou Terra dos Negros, no sentido clássico do termo. As suas descrições não encerram qualquer elemento de maravilhoso ou sequer fantasia. Muito minuciosas, confirmaram, ou são confirmadas pelas fontes muçulmanas. São mais ricas mesmo, sobretudo para a Guiné Ocidental do que a obra Da África, Terceira Parte do Mundo, de João Leão, dito o africano. Uns 20 anos mais tarde, Duarte Pacheco Pereira principiará outro roteiro, o Esmeraldo de situ orbis (isto é, do sítio verde ou marítimo do orbe). O Esmeraldo é simultaneamente um compêndio de cosmografia e náutica astronómica que apresenta soluções novas e práticas, um roteiro muito completo no feixe de indicações de rumos, distâncias, enfim, é um compêndio de geografia comercial com elementos de geografia histórica. Mas o seu interesse e importância não reside somente na conexão das matérias que sistematicamente expõe, reside acima de tudo no espírito que o informa. Não é ainda o espírito científico, mas perpassa por toda a obra de Duarte Pacheco a ânsia da precisão, de mostrar pela experiência, há mesmo escrúpulo rigoroso na recolha dos dados. Escrito de 1505 a 1508, o Esmeraldo representa uma revolução cultural, de que não é aliás o único motor nem indício: a passagem de uma cultura sem sentido do possível e do impossível, baseada no “mais ou menos assim” e no “ouvir dizer” para o que poderíamos chamar o humanismo técnico: o sentido da precisão e exatidão, a preocupação pela medida, a busca de provas verificáveis.

Um notável artigo, até prova em contrário arruma as fontes quatrocentistas e estabelece o quadro informativo do que vínhamos a saber daquela costa ocidental africana, peça fundamental do projeto henriquino que abriu portas para o desencravamento do mundo.

Vitorino Magalhães Godinho (1918-2011)
Estátua de Zurara no pedestal do Monumento a Luís Vaz de Camões, de Victor Bastos
Mapa do rio Gâmbia e área limítrofes, c. 1732
Retrato de um africano, por Albrecht Dürer, 1508
Navegações de Cadamosto, nas suas duas viagens
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Nota do editor

Último poste da série de 7 DE JUNHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24375: Historiografia da presença portuguesa em África (371): As campanhas de pacificação na Guiné no livro "História do Exército Português", pelo General Ferreira Martins; Editorial Inquérito, 1945 (Mário Beja Santos)

terça-feira, 13 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24397: O Cancioneiro da Nossa Guerra (15): O Hino da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74): uma paródia do "Tiro-Liro-Liro" (Recolha: José Sobral e António Lalande Jorge)


Coimbra > Claustros do antigo Colégio da Graça, hoje sede no núcleo local da Liga dos Combatentes, na Rua Sofia, 136 > 27 de maio de 2023 : 50.º convívio de confraternização da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74) (a chamada 2ª e 3ª geração de graduados e especialistas, de origem metropolitana) (*) > Um grupo de "coralistas": cantando o "Hino da CCAÇ 12"... Da esquerda para a direita, 

(i) José Sobral, ex-alf mil at inf, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1971/73);

(ii) António Lalande Jorge, ex-fur mil mecânico, CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1972/74);

(iii) Manuel Lino, ex-fur mil art, 20º Pel Art (obus 10,5 cm) (Xime, 1972/74);

 (iv) António Duarte, ex-fur mil at inf, CCART 3493 e CCAÇ 12 (Mansambo, Bambadinca e Xime, 1971/74).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Vídeo (1' 14''). Alojado em Luís Graça > You Tube (2023)


Coimbra > Claustros do antigo Colégio da Graça, hoje sede no núcleo local da Liga dos Combatentes, na Rua Sofia, 136 > 27 de maio de 2023 > 50.º convívio de confraternização da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74) (a chamada 2ª e 3ª geração de graduados e especialistas, de origem metropolitana) (*)

No vídeo pode ver-se um grupo de "coralistas", cantando uma paródia de uma canção tradicional, que a Amália Rodrigues imortalizou ("Tiro-Liro-Liro") ("Cá em cima está o tiro-liro-liro, / cá em baixo está o tiro-liro-ló / Juntaram-se os dois à esquina / A tocar a concertina, a dançar o solidó"), transformada em cantiga de escárnio e maldizer, em que os visado seria o 2º comandante do BART 2917 (o então major art Anjos de Carvalho, conhecido na "caserna" como o "alma negra", e gostar de comandar operações "by air", ou seja, através do PCV - Posto de Comand0 Volante, em DO-27. 

"Grande momento 'musical' com coreografia final especial", escreveu o António Duarte... Acrescento eu: com um valente "manguito" do nosso dr. José Sobral... Ora não fora ele, um coimbrão que, enquanto estudante, apanhou a crise estudantil de 1969, e foi logo recambiado  para a tropa, ele e o Jaime Pereira, seu colega e amigo desde os tempos de liceu... Por azar, logo os dois foram parar à CCaç 12 (que raio de coincidência!).

 
1. O António Lalande Jorge, ex-fur mil mec auto, de rendição individual, que pertenceu à CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1972/74), respondeu do seguinte modo a um outro mail que eu mandei aos camaradas da CCAÇ 12 que estiveram presentes no convívio de Coimbra, do passado dia 27 de maio.

Data - 31/05/2023, 22:16
Assunto - Coimbra, 27/5/2023... Convívio da nossa CCAÇ 12

Caros camaradas,

Na sequência e em resposta ao mail enviado pelo camarada Luís Graça e esperando que o José Sobral não leve a mal eu antecipar-me e responder ao pedido do Luís Graça a propósito da cedência da letra do Tiro Liro Liro / Hino da CCAÇ12,  e para evitar nova reunião para acerto da letra, envio agora o Hino com a letra já corrigida para que todos possam guardá-la e decorá-la de modo a que num próximo encontro possamos cantar todos afinadinhos.
Abraços para todos.

António Lalande Jorge


2. Comentário do editor LG:

Publica-se a seguir a letra do "Hino da CCAÇ 12", na versão que me foi disponibilizada pelo António Lalande Jorge. Uma peça a juntar ao Cancioneiro de Bambadinca, ou melhor, ao Cancioneiro da Nossa Guerra (**)... 

Julgo que a letra é do médico, coimbrão,  José Sobral, ex-alf mil at inf, da CCAÇ 12, no período de 1971/73,  revista e melhorada por outros camaradas da CCAÇ 12, da chamada 2ª e 3ª gerações. (Como é sabido, as subunidades do CTIG, como a CCAÇ 12, tinham apenas graduados e especialistas de origem metropolitana e rendição individual.)

Obrigado,  camarada Lalande Jorge. E espero que aceite o meu convite para integrar, de pleno direito, a nossa Tabanca Grande (***). Só preciso de duas fotos tuas, uma do "antigamente", e outra mais recente. Pelo que eu pude observar, de relance, no nosso convívio de Coimbra,  tens um excelente álbum fotográfico do tempo em que passaste por Bambadinca e pelo Xime (1972/74). 

E, "by the way",  pelo que me constaste, ias levando uma "piçada" do gen Bettencourt Rodrigues, o Com-Chefe que rendeu o Spínola, por no quartel do Xime (para onde a CCAÇ 12 foi transferida, a contragosto, em março de 1973), teres dezenas e dezenas de pneus, se não centenas, empilhados até ao tecto... 

O general deve ter pensado que andavas a açambarcar pneus (e até a vendê-los aos "turras"...) quando havia falta deles (e dos demais sobresselentes paras as viaturas automóveis)  no CTIG... 

A tua resposta, serena,  deve tê-lo desarmado: "Meu general, é uma herança acumulada, das companhias que passaram por aqui, e agora da nossa, que veio de Bambadinca... Não sei o que fazer a este lixo todo..."

Se quiseres partilhar uma seleção de fotos, com maior interesse documental, estás à vontade: só tens que as digitalizar, com uma boa resolução (mínimo,  1Mb) e mandá-las para o meu endereço de email... Se possível com legendas: data, local, etc.


HINO DA CCAÇ 12

Lá em cima anda o Helicanhão.
Cá em baixo anda a 12 e anda o Xime.

Lá em cima anda o Helicanhão,
Cá em baixo anda a 12 e anda o Xime.

Juntaram-se os três numa operação,
Lá para os lados do Poidão,
Correu tudo que nem um mimo!

Juntaram-se os três numa operação,
Lá para os lados do Poidão,
Correu tudo que nem um mimo!

Major... ó meu Major,
Ora diga lá agora o que é que quer.

Major... ó meu Major,
Ora diga lá agora o que é que quer.

Ora essa, continuem cinco minutos,
Não precisam que vos peça.
Continuem... ora essa!

Ora essa, continuem cinco minutos,
Não precisam que vos peça.
Continuem... ora essa!

Comandante... ó meu Comandante,
Estamos fritos, estamos agora a embrulhar!

Comandante... ó meu Comandante,
Estamos fritos, estamos agora a embrulhar!

Tenham calma... tenham calma e não pensem
Que eu daqui não vos estou a ajudar.

Tenham calma... tenham calma e não pensem
Que eu daqui não vos estou a ajudar.

Contra os canhões sem recuo...
VAI TU !

(Recolha: José Sobral / António Lalande Jorge)
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

31 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24356: Convívios (963): Coimbra, 27mai2023, 50.º convívio da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime 1971/74): "Balada de Despedida", voz: Firmino Ribeiro

30 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24353: Convívios (962): CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74): Coimbra, sede do núcleo local da Liga dos Combatentes, 27/5/2023: poucos mas bons, ao fim de 50 anos...

(**) Último poste da série > 3 de setembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23583: O Cancioneiro da Nossa Guerra (14): Os Hinos da 4ª CCAÇ (Bolama e Bedanda, 1961/67) e da CCAÇ 6 (Bedanda, 1967/74)

(***) Vd. poste de 5 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24285: O que é feito de ti, camarada ? (18): António Lalande Jorge, ex-fur mil mec auto, CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, março de 1972 / abril de 1974)

Guiné 61/74 - P24396: Efemérides (395): Leça da Palmeira comemorou, mais uma vez, o 10 de Junho e homenageou os seus Combatentes caídos em Campanha (Núcleo de Matosinhos da LC / Carlos Vinhal)

10 de Junho de 2023 - Cemitério n.º 1 de Leça da Palmeira - Talhão dos Combatentes


Realizou-se em Matosinhos - Leça da Palmeira, a cerimónia de comemoração do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, promovida pelo Núcleo, em colaboração com a União de Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira.

Pelas 10H15 iniciou-se a cerimónia com a concentração dos participantes em frente ao edifício da Junta, sendo de seguida içada a Bandeira Nacional pelo representante do Presidente da União de Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira, Sr. Fernando Monteiro e pelo Vogal da Direção, José Oliveira.

Ao mesmo tempo que o grupo de sócias e sócios do Núcleo entoava o Hino Nacional, o clarim dos Bombeiros de Matosinhos e Leça da Palmeira, solicitado para o efeito, fez os toques adequados àquela cerimónia.

Pelas 10H30 foi dada continuidade ao programa no cemitério local - Talhão Militar da Liga, onde se encontravam posicionados o porta-guião, o clarim e uma Guarda de Honra composta por sócios combatentes.

Procedeu-se à chamada dos combatentes leceiros mortos na Guerra do Ultramar pelo Presidente da Mesa da Assembleia Geral, seguida da deposição de duas coroas de flores no Talhão pelo Presidente da Mesa da Assembleia Geral e pelo representante do Presidente da União de Freguesias.

A cerimónia continuou com o Toque de Homenagem aos Mortos e foi guardado um minuto de silêncio com cântico de um salmo pelos sócios presentes para o efeito, terminando com a evocação religiosa pelo Rev. Padre Francisco Andrade.

Posteriormente foi lida pelo Vice-Presidente do Núcleo uma mensagem do Presidente do Núcleo, em virtude de não poder estar presente, e o Sr. Fernando Monteiro fez uma alocução alusiva ao ato.

Tanto a mensagem lida como a alocução feita realçaram a importância de homenagear a memória de todos aqueles que, ao longo da nossa História, tombaram no campo da honra, nomeadamente na Guerra do Ultramar.

Para terminar, foi cantado o Hino da Liga dos Combatentes na presença de dezenas de sócios, seus familiares, combatentes e público em geral que estiveram presentes nesta atividade cívica e patriótica.

Fez-se cumprir assim, mais uma vez, a tradição de uma iniciativa de um grupo de combatentes leceiros (que são presentemente sócios da Liga) que, antes da existência do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, a realizavam anualmente em Leça da Palmeira, no dia 10JUN.
Grupo de sócios do Núcleo de Matosinhos da LC que emprestou a sua voz na entoação do Hino Nacional durante o hastear da Bandeira Nacional no edifício da Junta de Freguesia.
Guarda de Honra composta por alguns dos Antigos Combatentes presentes
Hastear da Bandeira pelo senhor Fernando Monteiro e pelo Vogal do Núcleo, Combatente Francisco Oliveira
O Combatente Ribeiro Agostinho faz a chamada dos Combatentes leceiros falecidos em Campanha
O Combatente Ribeiro Agostinho, Presidente da Mesa da Assembleia Geral do Núcleo, deposita uma coroa de flores no Talhão dos Combatentes.
Minuto de silêncio e entoação do salmo pelo grupo coral presente.
Evocação religiosa que esteve a cargo do Pároco de Leça da Palmeira, Rev. Francisco Andrade
O senhor Fernando Monteiro, em representação da União das Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira, durante a sua alocução.

Texto e fotos do Núcleo de Matosinhos da LC
Edição e legendagem das fotos da responsabilidade do editor

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Nota do editor

Último poste da série de 9 DE JUNHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24382: Efemérides (394): 10 de junho de 2023: XXX Encontro Nacional de Combatentes, em Lisboa, Belém, junto ao Monumento aos Combatentes do Ultramar

Guiné 61/74 - P24395: Convívios (965): Almoço / Convívio da CCAÇ 2701 - "Os 3'S do Saltinho", a levar a efeito no próximo dia 17 de Junho de 2023, em Cantanhede (Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72)


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Nota do editor

Último poste da série de 31 DE MAIO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24358: Convívios (964): Rescaldo do 24.º Encontro dos Tigres - CCAV 8351 (Cumbijã, 1972/74), levado a efeito no passado dia 29 de Abril em A-dos-Cunhados - Torres Vedras (Joaquim Costa, ex-Fur Mil)

Guiné 61/74 - P24394: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXIX Na 1ª fase da instrução da 2ª CCmds Africanos, fomos atacados em Candamã como se fôssemos do PAIGC...


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá  > Sector L1 (Bambadinca) > Carta do Xime (1961) (1/50 mil) > Excerto > A posição relativa de parte dos subsectores de Mansambo e Xime, com destaque para a península de Galo Corubal - Satecuta - Seco Braima (ou Darsalame), na margem direita do Rio Corubal, à direita da estrada Mansambo - Ponte do Rio Jagarajá - Ponte dos Fulas - Xitole... 

Da ponte do Rio Jagarajá até Satecuta, junto ao Rio Corubal não são mais do que 8 quilómetros em linha recta... Em geral, as NT  iam uma vez por ano a esta península, na época seca, e com efectivos entre 200 a 250 homens (3 destacamentos, ou seja,  a nível de batalhão ), além de apoio da FAP e da artilharia (Mansambo, o obus 10.5).

Ao tempo do BART 2917 (Bambadinca, 1979/72),  a população controlada pelo IN, no Sector L1,  era estimada   em "5400 pessoas na sua maioria de etnia Balanta, Beafada ou Mandinga", dividida pelos seguintes núcleos:

(i)  1900, a NW do Sector espalhada pelos Regulados do Enxalé e Cuor;  

(ii) 2000, no Regulado do Xime, ao longo do Rio Corunbal e a sul da Ponta do Inglês;  

(iii) 1500, no Regulado do Corubal, ao longo deste rio e para jusante da foz do Rio Pulon

Infografia: Blogiue Luís Graça & Camaradaas da Guiné (2011)


1. Continuação da publicação das memórias do 
Amadu Djaló (Bafatá, 1940-Lisboa, 2015), a partir do manuscrito, digital, do seu livro "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada) (*).

O nosso  camarada e amigo Virgínio Briote, o editor literário ou "copydesk" desta obra,  facultou-nos uma cópia digital. O Amadu Djaló, membro da Tabanca Grande, desde 2010, tem cerca de nove dezenas de referências no nosso blogue.



Capa do livro do Amadu Bailo Djaló,
"Guineense, Comando, Português: I Volume:
Comandos Africanos, 1964 - 1974",
Lisboa, Associação de Comandos,
2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada.


O autor, em Bafatá, sua terra natal,
por volta de meados de 1966.
(Foto reproduzida no livro, na pág. 149


Síntese das partes anteriores:

(i) o autor, nascido em Bafatá, de pais oriundos da Guiné Conacri, começou a recruta, como voluntário, em 4 de janeiro de 1962, no Centro de Instrução Militar (CIM) de Bolama;

(ii) esteve depois no CICA/BAC, em Bissau, onde tirou a especialidade de soldado condutor autorrodas;

(iii) passou por Bedanda, 4ª CCaç (futura CCAÇ 6), e depois Farim, 1ª CCAÇ (futura CCAÇ 3), como sold cond auto;

(iv) regressou entretanto à CCS/QG, e alistou-se no Gr Cmds "Os Fantasmas", comandado pelo alf mil 'cmd' Maurício Saraiva, de outubro de 1964 a maio de 1965;

(v) em junho de 1965, fez a escola de cabos em Bissau, foi promovido a 1º cabo condutor, em 2 de janeiro de 1966;

(vi) voltou aos Comandos do CTIG, integrando-se desta vez no Gr Cmds "Os Centuriões", do alf mil 'cmd' Luís Rainha e do 1º cabo 'cmd' Júlio Costa Abreu (que vive atualmente em Amesterdão);

(vii) depois da última saída do Grupo, Op Virgínia, 24/25 de abril de 1966, na fronteira do Senegal, Amadu foi transferido, a seu pedido, por razões familitares, para Bafatá, sua terra natal, para o BCAV 757;

(viii) ficou em Bafatá até final de 1969, altura em que foi selecionado para integrar a 1ª CCmds Africanos, que será comandada pelo seu amigo João Bacar Djaló (Cacine, Catió, 1929 - Tite, 1971)

(ix) depois da formação da companhia (que terminou em meados de 1970), o Amadu Djaló, com 30 anos, integra uma das unidades de elite do CTIG; a 1ª CCmds Africanos, em julho, vai para a região de Gabu, Bajocunda e Pirada, fazendo incursões no Senegal e em setembro anda por Paunca: aqui ouve as previsões agoirentas de um adivinho;

(x) em finais de outubro de 1970, começam os preparativos da invasão anfíbia de Conacri (Op Mar Verde, 22 de novembro de 1970), na qual ele participaçou, com toda 1ª CCmds, sob o comando do cap graduado comando João Bacar Jaló (pp. 168-183);

(xi) a narrativa é retomada depois do regresso de Conacri, por pouco tempo, a Fá Mandinga, em dezembro de 1970; a companhia é destacada para Cacine [3 pelotões para reforço temporário das guarnições de Gandembel e Guileje, entre dez 1970 e jan 1971]; Amadu Djaló estava de licença de casamento (15 dias), para logo a seguir ser ferido em Jababá Biafada, sector de Tite, em fevereiro de 1971;

(xii) supersticioso, ouve a "profecia" de um velho adivinho que tem "um recado de Deus (...) para dar ao capitão João Bacar Jaló"; este sonha com a sua própria morte, que vai ocorrer no sector de Tite, perto da tabanca de Jufá, em 16 de abril de 1971 (versão contada ao autor pelo soldado 'comando' Abdulai Djaló Cula, texto em itálico no livro, pp.192-195) ,

(xiii) é entretanto transferido para a 2ª CCmds Africanos, agora em formação; 1ª fase de instrução, em Fá Mandinga , sector L1, de 24 de abril a fins de julho de 1971.

(xiv) o final da instrução realizou.se no subsector do Xitole, regulado do Corunal, cim uma incursão ao mítico Galo Corubal.


Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano; 

Parte XXIX:  fase final da instruçáo da 2ª CCmds Africanos, com uma incursão  ao mítico Galo Corubal


Três grupos, o meu, o do Sada Candé e o do Carolino Barbosa. A minha missão era ir ao objectivo e os outros dois iam para outros locais, na mesma zona.

Em Galo Corubal, não havia companhia que lá entrasse que não pedisse apoio na retirada. Na reunião antes da saída,  um capitão, que já lá tinha ido três ou quatro vezes, recomendou-me que levasse, pelo menos, um guia. Um major ou um tenente-coronel, já não me lembro da patente, que estava a dirigir a reunião, não quis ouvir o capitão, não sei porquê.

–  É o grupo dele que vai, nosso capitão  cortou o major ou tenente-coronel.

Saímos da reunião com a decisão do meu grupo ir ao objectivo, enquanto os outros dois se emboscavam no outro lado do mesmo local.

Partimos em viaturas até Jagraje 
[erro: trata-se de Jagarajá [1], apeámo-nos, e o meu grupo seguiu à beira do ribeiro de Jagraje  [rio agarajá],  voltado para poente, até ao local onde desagua no Corubal [2]. Aí voltámos à esquerda e seguimos junto ao Corubal, até a uma linha de água que vem de cima, em frente à tabanca abandonada de Galo Corubal. 

Daqui, sempre junto à linha de água fomos dar a um local, que me pareceu suspeito. Tinha uma mata redonda com um grupo de palmeiras misturadas com outras árvores frondosas. Dentro dessa mata não se devia ver o sol e qualquer pessoa tinha forçosamente que pensar que a mata devia albergar a guerrilha.

Continuámos até lá e, quando chegámos, resolvemos esperar a avioneta e aguardar instruções. Procedi conforme a carta topográfica. Entre as 13 e as 14h00, surgiu a Dornier a pedir a nossa localização. Respondi que tinham acabado de passar por cima de nós.

Que estendêssemos uma tela, foi a ordem. O capim estava quase do dobro da minha altura. Tivemos que partir capim e fazer um pequeno campo, para podermos estender a tela. No objectivo, nem mais e nem menos.

– Já vi tela, já vi tela  ouvimos da avioneta.

Deram-nos ordem para seguir a trajectória da Dornier e que do PCV iam contactar o nosso bigrupo para entrarem em contacto comigo, a fim de combinarmos o mesmo local para passar a noite.

A avioneta baixou e voou em direcção a leste. Não esperei, segui na trajectória indicada e ouvi a chamada para o bigrupo entrar em contacto comigo. Quando acabaram de falar, o bigrupo chamou-me pela rádio, andámos uns minutos e voltámos a contactar. Esta alegria não durou muito, falámos pouco tempo, porque deixaram de responder às minhas chamadas.

Agora, a minha preocupação era evitar qualquer contacto com o IN. Já era tarde, passavam das 16h30. Se tivéssemos algum ferido, não havia possibilidade de o evacuar. Tinha que sair daquele local e dirigir-me para outro lado, onde o meu grupo pudesse retirar com mais segurança, se houvesse contacto com a guerrilha.

Caminhámos das 17 às 18h30 na direcção ao outro lado da estrada que ligava Bambadinca ao Xitole. Fizemos um alto, o céu estava muito escuro e víamos relâmpagos a cruzar o céu e logo a seguir o barulho de trovoada. A chuva caiu torrencialmente durante mais de duas horas. Quando parou, mudámos de local e passámos para uma área onde só havia capim. Foi aqui que passámos o resto da noite.

Quando estávamos a mudar de local, eram para aí 23h00, comecei a pensar que esta saída estava contra mim, não sabia o que era. Sabia sim, é que em Galo Corubal, qualquer companhia que entrasse, não conseguia sair sem auxílio.

Como é que o meu grupo vai sair sozinho daqui? Como é que me mandaram para aqui, com soldados no final do curso, que ainda não tinham tido prova de fogo? Eu tinha confiança neles, mas faltava-lhes experiência de combate. Quando estávamos a sair daquele local,  recomendei o máximo silêncio.

Tinha havido movimento das viaturas na estrada, quando nos levaram e depois quando regressaram, e ninguém podia deixar de ter ouvido o ruído de tantos motores. Claro que o IN sabia que havia tropa na zona.

Ainda por cima, a avioneta que andou a sobrevoar a zona de Galo Corubal, durante largos minutos, dava-lhes a certeza de que tropa andava por ali. 

Por isso, pensei que era melhor mudar de local, para o lado da estrada, porque ali era mais fácil o meu grupo retirar, no caso de haver confronto. De apoio não estava à espera, ninguém voltou a responder às minhas chamadas, nem ninguém mais voltou a contactar-me.

A saída correu bem. Os meus Comandos estavam bem preparados. Durante o trajecto, caminharam sem ruído, embora o piso estivesse molhado. Nem os macacos.cães assinalaram a nossa presença. A melhor arma é o silêncio e a disciplina é decisiva nestas missões.

Mantive-me com o grupo no local até de manhã. A partir das 06h00, comecei a chamar o bigrupo. Tentei várias vezes, sempre sem resposta. Mudámos para outro local, onde dava o sol, para nos aquecermos. A partir das 07h00, voltei a chamar, tentei todos os indicativos, Bambadinca, Xime, Fá Mandinga, Xitole. Nada, nenhuma resposta.

Depois de muitas tentativas, respondeu-me um posto, mas como eu desconhecia o indicativo dele, não o tinha contactado antes. Fiquei a saber que era de um destacamento[3] no rio Pulon, que mantinha a segurança à ponte. Disseram que nos tinham ouvido na tarde anterior, quando fiz várias tentativas para entrar em contacto com a companhia a que eles pertenciam e que era por isso que estavam agora a tentar entrar em contacto comigo. Perguntavam quem eu era. Respondi que era uma patrulha de combate e dei o indicativo do batalhão[4] de Bambadinca.

– Mantenha-se em escuta, vamos contactar para o batalhão para entrar em ligação consigo.

Soube depois, que o destacamento contactou o batalhão em Bambadinca e que este tinha dito que não me conseguiam contactar desde a tarde do dia anterior.

Finalmente, o batalhão ligou. Perguntei pelos outros companheiros e a resposta que ouvi foi que não sabiam nada deles. Pediram para me manter em escuta, enquanto iam tentar contactá-los. Depois de conseguida a ligação, o bigrupo chamou-nos e, confirmado o indicativo, estabelecemos o contacto rádio.

Andavam perto de nós, a uma distância entre os 300 e os 400 metros. Estávamos em contacto através dos rádios Racal e eu pedi para mudarmos para o AVP 1. Ouvíamos muito bem. Pedi que disparassem um tiro para o ar, para facilitar a localização e respondemos também com um tiro. Depois foi fácil encontrarmo-nos. Juntos iniciámos a retirada, em direcção à estrada para Bambadinca. Depois, já não houve história para contar.

Apanhámos as viaturas, que vinham ao nosso encontro e, pouco tempo depois, estávamos no nosso aquartelamento de Fá Mandinga.
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Notas do autor ou do editor literário:

[1] Nota do editor: no itinerário entre Mansambo e o Xitole.

[2] Corubal foi o nome que os fulas lhe deram. Os Futa-Fulas chamam-lhe Coli.

[3] Nota do editor: da CArt 2714.

[4] Nota do editor: BArt 2917.

[Seleção / Revisão e fixação de texto /  Subtítulo / Parentes retos com notas:  LG]
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segunda-feira, 12 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24393: Blogoterapia (312): Noites de Santo António em Leça da Palmeira, marcadas pela saudade lá longe em Bissau (Ribeiro Agostinho, ex-Soldado Radiotelefonista / Condutor Auto e Escriturário da CCS/QG/CTIG, 1968/70)

Marchas Populares 2019 - Com a devida vénia a lisboa.pt

Nesta noite de Santo António, noite que eu vivia intensamente na minha Leça da Palmeira, nas Icas, Aldeia Nova e Corpo Santo, quis a tropa que eu lembrasse hoje outras épocas marcadas pela saudade. Eram marcantes os bailes em Leça da minha terra e a saudade quando estava longe.

Quando em Bissau, em 1969, passei por momentos fortes de grande saudade, e hoje recordo esses momentos vividos com companheiros que já cá não estão e outros que estão mas que não vejo, por serem emigrantes ou outros motivos.

Certo dia fui convidado por um amigo da tropa, de Aveiro, de nome Alfaro, que nunca mais vi ,a não ser numa reportagem na TV há vários anos, para o substituir no Restaurante O Nazareno, frequentado pela elite de Bissau e onde actuavam, o Marco Paulo, o Conjunto das Forças Armadas, o Fernando Milho, entre outros. O programa acontecia ao sábado à noite sempre com este elenco.

Aceitei o convite e o Alfaro foi-me apresentar aos donos do Nazareno. Ali fiz muitas noites de sábado, tendo como companhia alguns amigos leceiros que me iam ajudar a passar o tempo. 

Depois do fecho, íamos todos a cantar, pelas trevas das ruas de Bissau, nada do reportório do Marco Paulo mas do Fernando Milho (fadista lisboeta), de quem nunca mais ouvi falar:

"Bairro Alto aos seus amores tão dedicado
Quis um dia dar nas vistas
E saiu com os trovadores mais o fado
P'ra fazer suas conquistas."


Nesta noite de Santo António deu-me saudades dessas noites de sábado que eram Noites de Santo António à Fernando Milho.

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Nota do editor

Último poste da série de 6 DE ABRIL DE 2023 > Guiné 61/74 - P24203: Blogoterapia (311): A sombra do jagudi (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887, Canquelifá e Bigene, 1966/68)

Guiné 61/74 - P24392: Notas de leitura (1590): Uma obra fundamental por quem se interessa por estudos africanos: "Atlas Histórico de África, da Pré-História aos Nossos Dias", Direcção de François-Xavier Fauvelle e Isabelle Surun; Guerra e Paz Editores, 2020 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Dezembro de 2020:

Queridos amigos,
Este Atlas Histórico de África para além de ser graficamente irrepreensível apresenta-se como uma ferramenta útil para quem pretenda apurar mais conhecimentos sobre as civilizações do continente africano com base numa matriz cronológica de valor científico. É verdade que há para ali um olhar muito gaulês, passa-se como cão por vinha vindimada sobre a presença portuguesa, e é ainda mais notório o não haver uma referência às explorações portuguesas do século XIX. Mas paciência, o todo é que conta e a informação é pertinente, da Pré-História aos nossos dias. Quem estuda a África não se pode alhear da importância deste Atlas.

Um abraço do
Mário


Uma obra fundamental por quem se interessa por estudos africanos:
Atlas Histórico de África, da Pré-História aos Nossos Dias


Mário Beja Santos

Trata-se de uma edição muito cuidada, graficamente irrepreensível, este Atlas Histórico de África, com direção dos especialistas François-Xavier Fauvelle e Isabelle Surun, Guerra e Paz Editores, 2020, documento apaixonante para os estudiosos de África. Este continente imenso com 2400 línguas faladas aparece muito bem enquadrado em cinco grandes períodos: a África antiga (desde a Pré-História até ao século XV; a África na era moderna (do século XV ao século XVIII), podemos ver os seus grandes reinos e alvorada da presença europeia; a África soberana (século XIX), que irá decorrer após a abolição do tráfico atlântico de escravos e as reconversões económicas africanas; a África sob o domínio colonial, um continente partilhado que irá resistir à presença colonial até à completa descolonização; a África das independências, com a sua teia de contradições e refluxos, a sua enormidade de desafios que aguardam resposta. O tratamento destas matérias é facilitado pela exibição de cem mapas mostram claramente este continente esteve sempre longe de se fechar sobre si próprio, é parte integrante da história da Humanidade.

Na sua diversidade, sabemos hoje não se pode estudar a hominização desconhecendo que ela começou em África, à luz dos conhecimentos atuais, o continente possui um rico mapa de arte rupestre, participou nas dinâmicas do comércio mediterrânico, na Idade Média foram-se robustecendo as suas relações com o mundo islâmico, as suas regiões litorais abriram-se a uma economia atlântica cujo elemento principal era o comércio negreiro. Uma Idade Média onde avultou o Império do Mali, onde foi influente a sociedade suaíli que resultou da cultura bantu e do mundo islâmico.

Mas não nos precipitemos, o leitor interessado é logo atraído pelos berços da Humanidade, pelos testemunhos da arqueologia e da linguística, e logo somos confrontados com a complexidade linguística da Etiópia, temos depois a arte rupestre, prossegue a investigação com África aberta para o Mediterrâneo, ficamos a saber que houve um sistema complexo de escrita, como se escreve: “Grandes zonas de África conheceram e utilizaram sistemas de escrita desde épocas muito antigas que tiveram início primeiro no mundo mediterrânico. Tal como o líbico-berbere, derivado da escrita fenícia, que serviu para gravar tanto inscrições líbicas antigas no Magrebe como o alfabeto tifinague, ainda usado pelos Tuaregues. A escrita etíope mostrou uma extraordinária inventividade, ao acrescentar declinações vocálicas a um alfabeto constituído inicialmente apenas por consoantes, adaptando-o assim a outras línguas e a outras pronúncias. De igual modo o meroítico, utilizado no Sudão, foi adaptado a partir do sistema egípcio para transcrever uma língua que ainda não sabemos decifrar completamente”.

A África do Norte faz parte das primeiras conquistas do Islão, estabeleceram-se rotas comerciais que infletiram em todas as direções até ao centro de África. Refere-se a Núbia e depois o Império do Mali e a Etiópia medieval. Assim chegamos à civilização suaíli, cujo território se estendia da Somália a Moçambique passando pelo Quénia, pela Tanzânia, pelas Comores e pelo Norte de Madagáscar. Estamos chegados à África na era moderna, emergem novos poderes: o Congo e o Monomotapa, na África Central e Austral, o Daomé e Axante, ao longo do Golfo da Guiné, o Songai, entre outros, foi um tempo de enormes recomposições políticas, que vários autores primorosamente sintetizam. E temos o primeiro entreposto europeu fortificado no espaço tropical, S. Jorge da Mina ou Elmina, como temos a Etiópia repartida em duas grandes religiões, o importante reino do Congo que manterá relações com Portugal e o Papado.

Apresenta-se o tráfico negreiro colonial e assim chegamos à África soberana do século XIX, dar-se-á a abolição desse tráfico e reconvertem-se as economias africanas, é o tempo do amendoim, das gomas, do óleo de palma, há senhores da guerra por toda a parte, descreve-se o reino de Madagáscar, o califado de Sokoto, que foi o maior Estado de África no século XIX, estendia-se do Norte da Nigéria aos Camarões. Mostra-se a África do tempo dos exploradores e regista-se o domínio colonial, desde as corridas às colónias à definição de fronteiras, bem como a problemática das formas de povoamento. A I Guerra Mundial, para além das várias batalhas que tiveram lugar no coração do continente africano, levaram muitos soldados a combater na Europa, nomeadamente em França e na Frente Oriental. O resultado não foi despiciendo: a Alemanha perdeu as suas principais colónias, a Grã-Bretanha e a França consolidaram as suas posições, a Bélgica e Portugal não saíram maltratadas. O africano pôde ver a fragilidade do homem branco, era menos invencível do que fazia supor, houve muitas promessas não cumpridas, começaram a germinar os movimentos independentistas.

Retornando ao século XIX, o Atlas dá-nos o quadro das missões cristãs no período colonial, temos depois a evolução das cidades coloniais, segue-se o fenómeno das revoltas anticoloniais e a emergência dos nacionalismos, daí decorre o período do império colonial tardio, que culmina com a descolonização portuguesa e as grandes transformações na África Austral. Nos anos 1960 à atualidade é um capítulo bem elaborado sobre o tempo das independências, as desilusões, a emergência do pan-africanismo, o que representou o fim da Guerra Fria em África, elencam-se as políticas sanitárias, os contrastes de desenvolvimento, realça-se o papel dos investimentos chineses nas infraestruturas, nos têxteis e madeiras exóticas. “Frequentemente financiados pelo endividamento, por vezes têm como garantia as receitas extrativas futuras. Por seu lado, os empregos assim criados e as expropriações ligadas à constituição de grandes domínios rurais alimentam o êxodo rural. Abidjã, Cairo, Joanesburgo, Lagos, Adis-Abeba transformam-se em polos urbanos e regionais dominantes no plano económico, político e cultural. A África em desenvolvimento é também uma África de desigualdades espaciais".

O fim da Guerra Fria saldou-se numa encenação democrática, tudo parecia caminhar para o multipartidarismo e a democracia parlamentar, mas o Estado autoritário e neopatrimonial dá provas de uma grande capacidade de duração, veja-se os casos do Gabão, da Guiné Equatorial, dos Camarões, do Congo-Brazzaville e do Chade. Seja como for, as mobilizações de cidadãos tornaram-se uma realidade, o que não impede que antigos opositores que chegam ao poder reproduzam o sistema que combateram, perpetuando, nomeadamente, o desequilíbrio presidencialista das constituições. Este importante Atlas História de África trata ainda o Apartheid na África Austral, os conflitos e sua resolução na África Central e Oriental e as migrações internas e externas na África. Conclui enfatizando que a África estava e está aberta ao mundo exterior, por essas janelas é bem provável que os quadros de violência, da pobreza, da corrupção e do autoritarismo possam conhecer modificações do quadro da globalização.

Obra do maior interesse, insista-se.

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Nota do editor

Último poste da série de 9 DE JUNHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24381: Notas de leitura (1589): N’Krumah, o líder da unidade africana, o denunciante das tramas do neocolonialismo (Mário Beja Santos)