Guiné > Zona Leste > Contuboel > Tabanca dos arredores > CCAÇ 2479 (1968/69) > Um instruendo, de etnia fula, cuja identificação se desconhece... A placa rodoviária assinala alguns das povoações, mais importantes, mais próximas, incluindo Sare Bacar (39 km), mesmo na fronteira com o Senegal (vd. carta de Paunca), onde esteve o nosso aniversariante de hoje, o Joaquim Peixoto, professor do 1º ciclo do ensino básico... É uma pequena lembrança dos nossos editores que aproveitam, para lembrar ao Peixoto, a necessidade de ele mandar "notícias e fotos" lá da terra (Sare Bacar)... Parabéns ao Peixoto que entra para o Clube dos SEXA, Suas Excelências.
Foto: © Renato Monteiro (2007). Direitos reservados
1. Hoje dia 9 de Julho de 2009, entra no clube dos sex... agenários o nosso camarada Joaquim Peixoto (*), ex-Fur Mil da CCAÇ 3414, Sare Bacar, Cumeré, Brá, 1971/73.
O nosso camarada Joaquim Peixoto não foi apresentado formalmente à Tertúlia, já lhe fiz ver que é considerado clandestino, mas foi um dos presentes no nosso Encontro deste ano em Ortigosa.
A propósito da sua presença no nosso Encontro, fez estas declarações:
20 DE JUNHO DE 2009, Quinta de Paúl, Monte Real, Leiria
Dia inesquecível para mim!
Foi a primeira vez que partilhei um convívio com antigos camaradas da Guiné. Tive imensa pena de não encontrar camaradas da minha CCAÇ 3414.
As lembranças, boas e más, de uma guerra já passada vieram ao de cima e acordaram um turbilhar de ideias que pairavam na minha cabeça.
O mau, vivido num clima de medo a uma temperatura quase em ebulição, onde um rebelde e intruso mosquito teimava em picar as nossa peles ainda tão tenras, quase de meninos... Um barulho estranho, no sussuro da noite, despertava-nos dos nossos sonhos quase infantis. Um numero infinito de vivências e emoções estão guardadas na caixa negra do nosso ego.
Esse mau deu lugar a uma alegria imensa, onde pude recordar os bons momentos (que também os houve) e partilhar com os camaradas as experiências vividas há mais de 30 anos.
Foi um emaranhado de emoções, foi um recordar de situações, foi um convívio magnífico cheio de calor humano.
As conversas convergiam no mesmo sentido: A GUINÉ. Outros assuntos não tinham aqui lugar.
De longe a longe, parecia que o cheiro a terra barrenta nos entrava pelas narinas e recordava o cheiro inegualável de Bissau, Bafatá, Sare Bacar e tantas outras...
Cerrando os olhos, por breves momentos, as formas perfeitas das bajudas apareciam como num ecrã virtual.
Foi bom. Foi perfeito. Espero voltar.
Obrigado a ti, Luis Graça. Obrigado ao Carlos Vinhal, ao Virgínio Briote, ao Magalhães Ribeiro e ao Mexia Alves.
Obrigado a todos que trabalharam e organizaram este convívio.
Obrigado a todos os camaradas presentes. Obrigado a todos quantos ainda hoje recordam os momentos passados em agonia.
Joaquim Peixoto
Depois destas palavras bonitas, Joaquim, considera-te membro de pleno direito da nossa Tabanca.
Agora, mais a sério, tens de participar mais activamente no Blogue. A tua primeira intervenção, há dois anos, foi para falares do teu malogrado camarada Fernando Ribeiro e, daí para cá pouco ou nada escreveste. Lembro-te que é da responsabilidade de todos deixar um testemunho para memória futura. Contamos contigo.
A Tertúlia deseja-te uma longa vida junto da tua bajuda Margarida e restante família, sempre plena de alegria e saúde.
Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > O Joaquim Peixoto, assinalado com um círculo a vermelho, na segunda fila, entre o Manuel Amaro, à esquerda, e o Manuel Traquina à direita... O Joaquim Peixoto (que esteve em Sare Bacar, na zona leste, junto à fronteira com o Senegal (carta de Paunca), vive em Penafiel, é casado com a Margarida, que também veio ao nosso encontro... Ambos são professores do 1º ciclo do ensino básico...
Guiné > Zona Leste > Sare Bacar > CCAÇ 3414 (1971/73) > O Fernando Ribeiro, de pé, ao lado do seu amigo Joaquim Peixoto (hoje professor do ensino básico, em Penafiel). Morreu em Julho de 1973, na estrad de Binta-Faria, já no final da sua comissão.
"Algum tempo depois de regressarmos da Guiné, fizemos um almoço em Coimbra e fomos depositar um ramo de flores no cemitério em Condeixa. Haveria muito a dizer deste amigo que nos deixou tão cedo. Envio também uma fotografia em que estou com ele. (O Fernando está de pé.) Chamo-me Joaquim Carlos Peixoto, vivo em Penafiel, sou Professor do 1º Ciclo do ensino básico" (JP).
__________
Notas de CV:
(*) Vd. postes de:
22 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1774: A morte do Fernando Ribeiro: eu ia nessa fatídica coluna e era seu amigo (Joaquim Peixoto, CCAÇ 3414)
16 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4039: O Prémio: Sirvam , em nome da Pátria, uma bica quente a estes rapazes!, dizia o Gen Spínola... (Joaquim Peixoto)
21 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4557: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (3): Um dia caloroso, em que fizemos novos amigos (Joaquim e Margarida Peixoto)
Vd. último poste da série de 30 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4607: Parabéns a você (11): Dia 30 de Junho de 2009 - Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 9 de julho de 2009
quarta-feira, 8 de julho de 2009
Guiné 63/74 - P4658: Vindimas e Vindimados (José Brás) (6): Achamos nós que não nos conhecíamos
1. Mensagem de José Brás (*), ex-Fur Mil da CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68, com data de 6 de Julho de 2009, com um belíssimo texto que se transcreve mais abaixo, integrado na série Vindimas e Vindimados:
Carlos, camarada
Carlos, camarada
Para não perder o ritmo aqui vai mais um texto com mais um abraço. Quer dizer, com muitos abraços, como verás na leitura dele. José Brás
ACHAMOS NÓS QUE NÃO NOS CONHECÍAMOS*
Cego sou
e surdo
porque passas tão perto
e não te vejo
nem oiço
fazendo o teu caminho
no poema de Machado
prolongamento apenas
de ti próprio
Achas tu que não nos conhecemos, que nunca nos encontrámos por aí, em anos perdidos nas baiucas fadistas de Lisboa; nos aviões da TAP a caminho das praias do Brasil em setenta, oitenta, noventa; em cinquenta e tal, alombando sulfates entre cepas velhas, nas colinas de vinha em Alenquer; no Niassa, em Novembro de sessenta e seis, entrando nas escuras águas da Guiné; na pista da Portela, em noventa e três, comendo trolha da polícia de intervenção; nos Invernos do Quebeque, neve, dias de sol nas fachadas da rua Ste. Catherine, Alten Munchen à noite, música bávara, Eisbein e... gajas; nas sessões de jazz do Berkeley College of Music em Bóston; em setenta e cinco, nervos à flor-da-pele, medo a sério maior que nas matas da Guiné, por colar papéis do partido nas saídas do metro, em Nova Yorque, em lugares de passagem de portugueses duas vezes, de madrugada a caminho do trabalho, à noite de volta a Greenwich Village e ao TV diner; Em Vila Franca, em sessenta e poucos, poupando na mesa os sete e quinhentos indispensáveis para ver "A Casa de Bernarda de Alba" pelo Teatro Moderno de Lisboa; no sol das arenas, descoordenado do tempo, abraçando toiros e escutando a voz quente das multidões, nas escadarias do hotel D. João III, em Luanda, no ano da independência, protegendo colegas da TAP, mulheres sem guerras no pelo e a gramarem com ataques do MPLA à Unita, metralhadoras, bazookas, morteiro no terraço; nas noites de farra de desquitadas na discoteca do Intercontinental de S. Conrado; nos cagaços pioneiros do ultraleve.
Que não nos conhecemos, dizes, ou pensas, e até estranhas que misture aqui tão diferentes lugares e tempos, que os amasse como se a vida e o viver não fossem mais que uma página em branco no monitor do portátil onde cada qual possa escarranchar palavras, botar a palavra ao ritmo do que lhe vem à tola, mesmo que nas palavras que amontoa, nada diga sobre a vida, digo, sobre gente, sobre aspirações de cada um, os desejos, as diabruras e virtudes, sempre maiores aquelas do que estas, e que, além disso, passe pelo tempo sem direcção nem sentido cronológicos, hoje ontem e amanhã arbitrariamente amontoados.
E pelos lugares também, na estrada de Buba, segurando nos braços o Marques a apagar-se. A apagar-se lentamente como pavio sem cera que o alimente, a respiração a ir-se, cada vez mais ténue, mais ténue, mais ténue, até se apagar de vez, os olhos abrindo, abrindo, fitando não sei o quê, fitando o nada de onde viera há vinte anos e onde voltava agora, definitivo.
A estrada de Buba em sessenta e sete, antes das vinhas da Cova do Charco, em Alenquer, em cinquenta e oito.
Os teatros "Off Brodway", em setenta e quatro, antes da praça de Touros de Salamanca em setenta.
Afinal, pisaste alguns dos caminhos que eu trilhei; olhaste horizontes que também eu olhei; desejaste mulheres que eu havia desejado já, ou desejei depois; ansiaste metas que também eu sonhei; sob o fogo do inimigo, buscaste abrigo nas mesmas árvores tropicais que me haviam protegido a mim; mergulhaste nas quentes e azuis águas dos trópicos, almoçaste as mesmas salsichas, bebeste a água das bolanhas que eu bebi, quando a falta de água nos deixava ansiosos e de vontade frouxa contra a sede, sofreste as mesmas nuvens de mosquitos entrando nos olhos, na boca, no nariz, passaste o Natal dormindo dois minutos de cada vez, entre um ataque e a espera de outro, como eu dormiste dias e noites ao lado das caixas que guardavam amigos, esperando transporte para Bissau, primeiro, e depois Lisboa, aldeias no Alentejo e nas Beiras, nome de rua.
Então, porque estranhas tu que eu fale como se nos tivéssemos encontrado realmente nestes actos e nestes lugares, e em nós os milhares de amigos que connosco, entre sessenta e três e setenta e quatro se tramaram como nos tramámos nós?
Só porque não esbarrámos de frente, num desses lugares que nomeio, à hora xis do dia ípsilon, do mês tal de milnoveetrocaopasso?
Não bebemos juntos umas Sagres, ou Cuca, ou Budweiser, ou Labatt, ou Brahma Chopp numa esplanada do calçadão, olhando piranha e viadinho?
Não tomámos outro veneno qualquer no mesmo balcão de single bar, em grupo data-hora perfeitamente identificável e coincidente, nos bate-fundo do mundo?
Só porque não concordámos ou não discordámos sobre temas comuns, nas horas vazias de cada um, fosse aonde fosse, afirmando coisas como se as perguntássemos, de tantas dúvidas que nos enchiam, a mim, a ti, a todos, ou quase, apanhados do clima que éramos nos anos que deveriam ser de certezas?
O tempo e o lugar, o grande tema!
O lugar. Os lugares nem sequer nos desviaram do encontro.
Tu dizes.
Talvez! Talvez que tenhamos em comum alguns desses sítios, muitos até, posso dizer, porque além do lugar dos tiros e dos medos, terras, ruas e praças de que falas, não todos, evidentemente, já eu atravessei também, mas em tempos diferentes, no calendário, nos relógios, na posição relativa da Terra e do Sol.
O tempo. O tempo, talvez.
Mas o tempo o que é, de facto?
Olhas para trás, em sentido figurado, está visto, não com o olhar dos olhos, com a capacidade que têm de imitar a câmara fotográfica, apanhando objectos e pessoas, cenas, actos honrados ou vilezas, fixando-lhes a imagem de pernas para o ar na retina, essa espécie de película de longínqua invenção, elo apenas no transporte delas ao sistema nervoso central para identificação e feed back.
Olhas é com a memória que tens das coisas e das gentes, das cenas que representaste antes, num ponto qualquer dessas entidades que dizem ser o tempo e o lugar, as alegrias e tristezas que dizes ter vivido e trazes ao hoje como se as vivesses agora mesmo e não ontem ou há mais de trinta anos.
Retomas o lugar que decidiste ser o teu durante a noite da emboscada, coordenando o silêncio da mata, coordenando as dúvidas dos teus, escondendo as tuas porque quem comanda não pode ter dúvidas.
Retomas os passos na picada, olhos e ouvidos atentos, os nervos crispados por ti e pelos que de ti dependem, cada passo em frente uma vitória.
És tu e podia ser eu, milhares e milhares de eus iguais nas ânsias, no cansaço, na certeza de que, venha o que vier, nada há de melhor que a certeza do futuro.
Não é seguro que as emoções trazidas em cadeia no processo, sejam as mesmas que talvez tivesses sentido então, tal como eu, ou sendo, não tenham a mesma profundeza, o mesmo brilho, a mesma rugosidade.
Mas não interessa aprofundar muito isso, ou corres o risco de mentir-te a ti próprio, afirmando que sim ou que não.
Quem sabe se não é aí, nessa falha, nessa fímbria de descoordenação, que podemos encontrar a essência do tempo e, nesse caso, a mim me parecendo que não vivemos apenas uma vez mas duas, três, muitas, tantas quantas as vezes que voltamos ao vivido, então, continuamos pelos dias regressando à mata, à messe, às noites de espera, ao cheiro a podridão que o sol faz levantar da bolanha, ao primeiro som cavo da explosão da morteirada, às cinco da manhã, ao abraço, sentimento de união que só ali foi possível, e continua sendo, e solidamente real.
E mesmo esse espaço indefinido a que chamam futuro, mesmo esse que, aparentemente não conseguimos divisar, o que é?
Repara.
Nenhum homem é apenas o que é hoje, mas também, hoje, muito do que foi antes e alguma coisa do que vier a ser depois.
E assim sendo, um homem nunca foi apenas o que foi, mas a cada momento do que foi, também o que é, e alguma coisa do que vier a ser.
Um homem não será nunca, apenas o que vier a ser no futuro, mas a cada momento do futuro, também o que é já hoje e o que foi antes.
Quer dizer, então, que o antes, de algum modo, era já o hoje e o futuro.
Quer dizer então e ainda, que o hoje, o antes e o futuro, tempos aparentemente tão definidos e distantes, mas, de facto tão entrelaçados, tão confusamente emaranhados, tão dependentes uns de outros, são apenas partes do todo da vida e tanto poderiam entrar no princípio, como no meio, como no fim dela.
O nosso futuro irá ainda passar muitas vezes pelo Xitole, por Guileje, pelo K3, por Susana, pelo tarrafo, pelos rios, pelo coração de tantos amigos e, quem sabe, mesmo pelos dos inimigos, vivos todos, porque em nós vivem mesmo os que dizem ter morrido.
Como vês, milhões de vezes nos cruzámos já e muitos mais milhões nos iremos encontrar num tempo assim, sem fim nem princípio.
Por exemplo, no Saltinho, cacholando as suas águas claras; no Mato Cão, em Catió comendo ostras, no instintivo mergulho ao chão ao primeiro tiro deles, depois, o coração a retomar o ritmo certo, a segurar os acontecimentos, a segurar-se a si próprio; na padiola improvisada, carregando camarada ferido, se não morto ou caminhando para tal, vencendo o estorvo da mata apertada que fustiga a cara, as mãos, a alma, até a um "porra, caralho, puta que pariu isto!".
Que nem blasfémia é, por vir de dentro, da revolta ingénua e sentida contra o limite; ou em quarto abarracado da Guiné, jogando a lerpa e o abafa, bebendo qualquer coisa que preencha apenas vazios intermitentes no acto de beber.
Soldados fomos e certamente somos ainda, um pouco, tendo sido nesse tempo, também, o que somos hoje, civis.
E teremos ainda tempo, talvez, outras coisas para ser na vida que nos resta, marcados pelo que fomos então, marcados pelo abraço grande e colectivo que daremos sempre, no som da costureirinha e do morteiro, longínquos nos anos, segundo se diz, mas para nós, intemporais.
E achei eu, também, que não nos conhecíamos!
Todos.
José Brás
*Ao Joaquim Mexia Alves,
camarada primeiro a quem
dei troco na Tabanca Grande,
e através dele, aos outros que
estão em nós, aos nós que
estão nos outros
Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > O Joaquim Mexia Alves em agradável conversa com o José Brás... Este último foi Fur Mil da CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68... É autor de um premiado romance, de 1986, Vindimas no Capim (Lisboa, Europa-América) (**). Pertenceu aos quadros da TAP. Mora em Montemor-O-Novo.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. postes de:
3 de Julho de 2009 A Guiné 63/74 - P4636: Vindimas e Vindimados (José Brás) (5): Tudo na mesma em Salancaur
e
7 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4649: Blogoterapia (114): A Honra da Companhia, os fantasmas de Guileje, os limites da tolerância (José Brás / António Matos)
(**) Informação que foi pedida ao José Brás por um significativo número de amigos e camaradas em Ortigosa, e não só, que querendo adquirir o Vindimas no Capim não conseguem encontrá-lo.
ASS: Aquisição de Livros
Mem Martins, 8 de Julho de 2009
Caro José,
Espero que esteja bem.
Vimos por este meio informá-lo que poderão adquirir o seu livro nas nossas
livrarias Europa-América (Castelo Branco, Estoril, Faro, Lisboa, Parede ou
Porto) e Lyon (Cacém, Castelo Branco, Mafra, Mem Martins ou Queluz) ou
através da nossa sede (219 267 700, e-mail: clubedeleitura@europa-america.pt
ou através do nosso website: http://www.europa-america.pt/ ).
Sempre ao dispor.
Os meus melhores cumprimentos,
Inês Valentim
Relações Públicas
ACHAMOS NÓS QUE NÃO NOS CONHECÍAMOS*
Cego sou
e surdo
porque passas tão perto
e não te vejo
nem oiço
fazendo o teu caminho
no poema de Machado
prolongamento apenas
de ti próprio
Achas tu que não nos conhecemos, que nunca nos encontrámos por aí, em anos perdidos nas baiucas fadistas de Lisboa; nos aviões da TAP a caminho das praias do Brasil em setenta, oitenta, noventa; em cinquenta e tal, alombando sulfates entre cepas velhas, nas colinas de vinha em Alenquer; no Niassa, em Novembro de sessenta e seis, entrando nas escuras águas da Guiné; na pista da Portela, em noventa e três, comendo trolha da polícia de intervenção; nos Invernos do Quebeque, neve, dias de sol nas fachadas da rua Ste. Catherine, Alten Munchen à noite, música bávara, Eisbein e... gajas; nas sessões de jazz do Berkeley College of Music em Bóston; em setenta e cinco, nervos à flor-da-pele, medo a sério maior que nas matas da Guiné, por colar papéis do partido nas saídas do metro, em Nova Yorque, em lugares de passagem de portugueses duas vezes, de madrugada a caminho do trabalho, à noite de volta a Greenwich Village e ao TV diner; Em Vila Franca, em sessenta e poucos, poupando na mesa os sete e quinhentos indispensáveis para ver "A Casa de Bernarda de Alba" pelo Teatro Moderno de Lisboa; no sol das arenas, descoordenado do tempo, abraçando toiros e escutando a voz quente das multidões, nas escadarias do hotel D. João III, em Luanda, no ano da independência, protegendo colegas da TAP, mulheres sem guerras no pelo e a gramarem com ataques do MPLA à Unita, metralhadoras, bazookas, morteiro no terraço; nas noites de farra de desquitadas na discoteca do Intercontinental de S. Conrado; nos cagaços pioneiros do ultraleve.
Que não nos conhecemos, dizes, ou pensas, e até estranhas que misture aqui tão diferentes lugares e tempos, que os amasse como se a vida e o viver não fossem mais que uma página em branco no monitor do portátil onde cada qual possa escarranchar palavras, botar a palavra ao ritmo do que lhe vem à tola, mesmo que nas palavras que amontoa, nada diga sobre a vida, digo, sobre gente, sobre aspirações de cada um, os desejos, as diabruras e virtudes, sempre maiores aquelas do que estas, e que, além disso, passe pelo tempo sem direcção nem sentido cronológicos, hoje ontem e amanhã arbitrariamente amontoados.
E pelos lugares também, na estrada de Buba, segurando nos braços o Marques a apagar-se. A apagar-se lentamente como pavio sem cera que o alimente, a respiração a ir-se, cada vez mais ténue, mais ténue, mais ténue, até se apagar de vez, os olhos abrindo, abrindo, fitando não sei o quê, fitando o nada de onde viera há vinte anos e onde voltava agora, definitivo.
A estrada de Buba em sessenta e sete, antes das vinhas da Cova do Charco, em Alenquer, em cinquenta e oito.
Os teatros "Off Brodway", em setenta e quatro, antes da praça de Touros de Salamanca em setenta.
Afinal, pisaste alguns dos caminhos que eu trilhei; olhaste horizontes que também eu olhei; desejaste mulheres que eu havia desejado já, ou desejei depois; ansiaste metas que também eu sonhei; sob o fogo do inimigo, buscaste abrigo nas mesmas árvores tropicais que me haviam protegido a mim; mergulhaste nas quentes e azuis águas dos trópicos, almoçaste as mesmas salsichas, bebeste a água das bolanhas que eu bebi, quando a falta de água nos deixava ansiosos e de vontade frouxa contra a sede, sofreste as mesmas nuvens de mosquitos entrando nos olhos, na boca, no nariz, passaste o Natal dormindo dois minutos de cada vez, entre um ataque e a espera de outro, como eu dormiste dias e noites ao lado das caixas que guardavam amigos, esperando transporte para Bissau, primeiro, e depois Lisboa, aldeias no Alentejo e nas Beiras, nome de rua.
Então, porque estranhas tu que eu fale como se nos tivéssemos encontrado realmente nestes actos e nestes lugares, e em nós os milhares de amigos que connosco, entre sessenta e três e setenta e quatro se tramaram como nos tramámos nós?
Só porque não esbarrámos de frente, num desses lugares que nomeio, à hora xis do dia ípsilon, do mês tal de milnoveetrocaopasso?
Não bebemos juntos umas Sagres, ou Cuca, ou Budweiser, ou Labatt, ou Brahma Chopp numa esplanada do calçadão, olhando piranha e viadinho?
Não tomámos outro veneno qualquer no mesmo balcão de single bar, em grupo data-hora perfeitamente identificável e coincidente, nos bate-fundo do mundo?
Só porque não concordámos ou não discordámos sobre temas comuns, nas horas vazias de cada um, fosse aonde fosse, afirmando coisas como se as perguntássemos, de tantas dúvidas que nos enchiam, a mim, a ti, a todos, ou quase, apanhados do clima que éramos nos anos que deveriam ser de certezas?
O tempo e o lugar, o grande tema!
O lugar. Os lugares nem sequer nos desviaram do encontro.
Tu dizes.
Talvez! Talvez que tenhamos em comum alguns desses sítios, muitos até, posso dizer, porque além do lugar dos tiros e dos medos, terras, ruas e praças de que falas, não todos, evidentemente, já eu atravessei também, mas em tempos diferentes, no calendário, nos relógios, na posição relativa da Terra e do Sol.
O tempo. O tempo, talvez.
Mas o tempo o que é, de facto?
Olhas para trás, em sentido figurado, está visto, não com o olhar dos olhos, com a capacidade que têm de imitar a câmara fotográfica, apanhando objectos e pessoas, cenas, actos honrados ou vilezas, fixando-lhes a imagem de pernas para o ar na retina, essa espécie de película de longínqua invenção, elo apenas no transporte delas ao sistema nervoso central para identificação e feed back.
Olhas é com a memória que tens das coisas e das gentes, das cenas que representaste antes, num ponto qualquer dessas entidades que dizem ser o tempo e o lugar, as alegrias e tristezas que dizes ter vivido e trazes ao hoje como se as vivesses agora mesmo e não ontem ou há mais de trinta anos.
Retomas o lugar que decidiste ser o teu durante a noite da emboscada, coordenando o silêncio da mata, coordenando as dúvidas dos teus, escondendo as tuas porque quem comanda não pode ter dúvidas.
Retomas os passos na picada, olhos e ouvidos atentos, os nervos crispados por ti e pelos que de ti dependem, cada passo em frente uma vitória.
És tu e podia ser eu, milhares e milhares de eus iguais nas ânsias, no cansaço, na certeza de que, venha o que vier, nada há de melhor que a certeza do futuro.
Não é seguro que as emoções trazidas em cadeia no processo, sejam as mesmas que talvez tivesses sentido então, tal como eu, ou sendo, não tenham a mesma profundeza, o mesmo brilho, a mesma rugosidade.
Mas não interessa aprofundar muito isso, ou corres o risco de mentir-te a ti próprio, afirmando que sim ou que não.
Quem sabe se não é aí, nessa falha, nessa fímbria de descoordenação, que podemos encontrar a essência do tempo e, nesse caso, a mim me parecendo que não vivemos apenas uma vez mas duas, três, muitas, tantas quantas as vezes que voltamos ao vivido, então, continuamos pelos dias regressando à mata, à messe, às noites de espera, ao cheiro a podridão que o sol faz levantar da bolanha, ao primeiro som cavo da explosão da morteirada, às cinco da manhã, ao abraço, sentimento de união que só ali foi possível, e continua sendo, e solidamente real.
E mesmo esse espaço indefinido a que chamam futuro, mesmo esse que, aparentemente não conseguimos divisar, o que é?
Repara.
Nenhum homem é apenas o que é hoje, mas também, hoje, muito do que foi antes e alguma coisa do que vier a ser depois.
E assim sendo, um homem nunca foi apenas o que foi, mas a cada momento do que foi, também o que é, e alguma coisa do que vier a ser.
Um homem não será nunca, apenas o que vier a ser no futuro, mas a cada momento do futuro, também o que é já hoje e o que foi antes.
Quer dizer, então, que o antes, de algum modo, era já o hoje e o futuro.
Quer dizer então e ainda, que o hoje, o antes e o futuro, tempos aparentemente tão definidos e distantes, mas, de facto tão entrelaçados, tão confusamente emaranhados, tão dependentes uns de outros, são apenas partes do todo da vida e tanto poderiam entrar no princípio, como no meio, como no fim dela.
O nosso futuro irá ainda passar muitas vezes pelo Xitole, por Guileje, pelo K3, por Susana, pelo tarrafo, pelos rios, pelo coração de tantos amigos e, quem sabe, mesmo pelos dos inimigos, vivos todos, porque em nós vivem mesmo os que dizem ter morrido.
Como vês, milhões de vezes nos cruzámos já e muitos mais milhões nos iremos encontrar num tempo assim, sem fim nem princípio.
Por exemplo, no Saltinho, cacholando as suas águas claras; no Mato Cão, em Catió comendo ostras, no instintivo mergulho ao chão ao primeiro tiro deles, depois, o coração a retomar o ritmo certo, a segurar os acontecimentos, a segurar-se a si próprio; na padiola improvisada, carregando camarada ferido, se não morto ou caminhando para tal, vencendo o estorvo da mata apertada que fustiga a cara, as mãos, a alma, até a um "porra, caralho, puta que pariu isto!".
Que nem blasfémia é, por vir de dentro, da revolta ingénua e sentida contra o limite; ou em quarto abarracado da Guiné, jogando a lerpa e o abafa, bebendo qualquer coisa que preencha apenas vazios intermitentes no acto de beber.
Soldados fomos e certamente somos ainda, um pouco, tendo sido nesse tempo, também, o que somos hoje, civis.
E teremos ainda tempo, talvez, outras coisas para ser na vida que nos resta, marcados pelo que fomos então, marcados pelo abraço grande e colectivo que daremos sempre, no som da costureirinha e do morteiro, longínquos nos anos, segundo se diz, mas para nós, intemporais.
E achei eu, também, que não nos conhecíamos!
Todos.
José Brás
*Ao Joaquim Mexia Alves,
camarada primeiro a quem
dei troco na Tabanca Grande,
e através dele, aos outros que
estão em nós, aos nós que
estão nos outros
Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > O Joaquim Mexia Alves em agradável conversa com o José Brás... Este último foi Fur Mil da CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68... É autor de um premiado romance, de 1986, Vindimas no Capim (Lisboa, Europa-América) (**). Pertenceu aos quadros da TAP. Mora em Montemor-O-Novo.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. postes de:
3 de Julho de 2009 A Guiné 63/74 - P4636: Vindimas e Vindimados (José Brás) (5): Tudo na mesma em Salancaur
e
7 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4649: Blogoterapia (114): A Honra da Companhia, os fantasmas de Guileje, os limites da tolerância (José Brás / António Matos)
(**) Informação que foi pedida ao José Brás por um significativo número de amigos e camaradas em Ortigosa, e não só, que querendo adquirir o Vindimas no Capim não conseguem encontrá-lo.
ASS: Aquisição de Livros
Mem Martins, 8 de Julho de 2009
Caro José,
Espero que esteja bem.
Vimos por este meio informá-lo que poderão adquirir o seu livro nas nossas
livrarias Europa-América (Castelo Branco, Estoril, Faro, Lisboa, Parede ou
Porto) e Lyon (Cacém, Castelo Branco, Mafra, Mem Martins ou Queluz) ou
através da nossa sede (219 267 700, e-mail: clubedeleitura@europa-america.pt
ou através do nosso website: http://www.europa-america.pt/ ).
Sempre ao dispor.
Os meus melhores cumprimentos,
Inês Valentim
Relações Públicas
Guiné 63/74 - P4657: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (17): Dias em Binar -2
1. Mensagem de Luís Faria, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 4 de Julho de 2009:
Carlos Vinhal
Aos Homens da Ponte da Tabanca Grande - Paquete das Recordações - e a todos os embarcados, não enjoados ou enjoados, mando o meu abraço e um bem-haja.
Mando também esta bagagem de “ Viagem…” na esperança que sirva para atenuar algum enjoo ou que pelo menos não o provoque ou agrave!
Até breve
Luís Faria
Dias em Binar – 2
Um a um os dias iam passando, por norma em batalhas com a mosquitada, com a canícula e com a falta de abastecimentos. Não recordo porque havia esta falta. Talvez por a estrada para Bula ser perigosa e tivesse que ser picada quase na sua totalidade, o que obrigava à respectiva segurança nas orlas das matas de entrada para o Choquemone? Por sermos só um grupo meio desfalcado, não sendo suficiente para as tarefas exigidas?? Não recordo, é uma branca!!
Na verdade a minha passagem por Binar está envolvida por um denso nevoeiro com algumas abertas. Espero bem que alguém que por lá tivesse andado dê uma ajuda na dispersão desta nevoeirada. Tenho esperança!
O Primata voador
Nessas abertas, para além do já narrado em poste anterior vejo a nossa camarata, num dos pavilhões, com as camas encimadas pelos omnipresentes dosséis aramados com pendentes anti-mosquito e cirandando por cima deles um pequeno e refilão macaco sagui (?) , pertença e companheiro do Fur Mil Madaleno, que muito o estimava. O bicho era um tanto agressivo mas ao mesmo tempo dado e não desdenhava uma boa brincadeira, se para aí estivesse virado!
A brincar a brincar, um a certa ocasião mandou-me uma dentada, o que provocou uma reacção rápida: uma punhada forte no dossel onde ele estava sentado, pela lei física da acção/reacção, fez com que o bichano não tivesse tido tempo de se agarrar e fosse catapultado, qual homem-bala para o espaço, conseguindo por sorte (?) ficar pendurado no travejamento de sustentação do telhado, que ainda ficava a uma considerável altura!
Como o primata voador de lá saiu não recordo, mas teve ajuda com certeza! Recordo sim a fúria do meu amigo Madaleno perante a situação. Quanto ao atleta voador, durante algum tempo, sempre que me via os seus olhos faiscavam, guinchava e dava às pernas e braços para longe.
Claro que a situação acabou por ter certa piada, e passou a ser normalíssimo vermo-nos, Madaleno incluído, a fazer do mosquiteiro catapulta, se bem que de modo mais suave. De início o bicho não descolava da rede, tal a força com que se agarrava com as patitas, mas quando se apercebeu que ninguém lhe queria fazer mal, começou a alinhar… e era um gozo apreciar a técnica elevatória equilibrista do artista e a sua aterragem, sempre uma incógnita!!
Afinal ele, a vedeta, também gostava de dar espectáculo e dos mimos que ganhava de seguida, desde que a catapulta não fosse accionada por alguém que aparentasse estar chateado!! Podia não conseguir agarrar o travejamento…!!!
Picagem automática
Um dia, creio que pelo final da manhã, fomos surpreendidos por disparos de G3 vindos da direcção da estrada de Bissorã e cada vez mais próximos. Ficados à defesa, depara-se-nos uma nuvem de pó cada vez mais próxima, até que avistámos duas viaturas que a antecediam: da primeira, com a pica G3 na mão, apeia-se o Cap Gaspar (Gasparinho) que era por demais falado pelas estórias que dele se contavam e contam (já referenciadas neste Blogue**) e que, veio de Nhamate ao nosso burgo, se bem recordo, em missão de cortesia apresentar os cumprimentos de boas-vindas ao Cap Mil Mamede e dar uma de conversa com o pessoal e uns copos à mistura bem bebidos!!
Apesar do pouco tempo em presença, recordo-o como um homem educado e alegre, simpático e bonacheirão, terra-a-terra sem papas na língua e valente, que me pareceu gozar com a guerra e com o sistema, em especial com a hierarquia dominante, (seria curioso ver a resposta que daria ao nosso AB, o Almeida Bruno!!) o que julgo, contribuía em parte para a estima que a sua rapaziada lhe tinha e demonstrava. Podiam dizer que ele funcionava assim por estar bem encostado!? Que fosse? Não me pareceu nada dar-se ares de importante e muito menos egocêntrico, como outros!
Acabada a visita, lá se montaram ele e a sua rapaziada nas viaturas, qual vedeta cinéfila aos olhos do pessoal sorridente que presenciava a sua partida, na esperança de um regresso para breve, mas que não mais aconteceu. Foram na verdade umas horas diferentes e marcantes, pela positiva.
Pena não ter havido muitos como o Gasparinho, que com todos os seus defeitos e virtudes era ao que parece, um raio de sol para a sua Rapaziada e por aquelas terras de sofrimento. Que esteja em Paz!
Com um abraço
Luís Faria
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 1 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4619: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (16): Dias em Binar - 1
(**) Vd. poste de 2 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4628: Estórias avulsas (38): Histórias passadas na Guiné (José Borrego)
Carlos Vinhal
Aos Homens da Ponte da Tabanca Grande - Paquete das Recordações - e a todos os embarcados, não enjoados ou enjoados, mando o meu abraço e um bem-haja.
Mando também esta bagagem de “ Viagem…” na esperança que sirva para atenuar algum enjoo ou que pelo menos não o provoque ou agrave!
Até breve
Luís Faria
Dias em Binar – 2
Um a um os dias iam passando, por norma em batalhas com a mosquitada, com a canícula e com a falta de abastecimentos. Não recordo porque havia esta falta. Talvez por a estrada para Bula ser perigosa e tivesse que ser picada quase na sua totalidade, o que obrigava à respectiva segurança nas orlas das matas de entrada para o Choquemone? Por sermos só um grupo meio desfalcado, não sendo suficiente para as tarefas exigidas?? Não recordo, é uma branca!!
Na verdade a minha passagem por Binar está envolvida por um denso nevoeiro com algumas abertas. Espero bem que alguém que por lá tivesse andado dê uma ajuda na dispersão desta nevoeirada. Tenho esperança!
O Primata voador
Nessas abertas, para além do já narrado em poste anterior vejo a nossa camarata, num dos pavilhões, com as camas encimadas pelos omnipresentes dosséis aramados com pendentes anti-mosquito e cirandando por cima deles um pequeno e refilão macaco sagui (?) , pertença e companheiro do Fur Mil Madaleno, que muito o estimava. O bicho era um tanto agressivo mas ao mesmo tempo dado e não desdenhava uma boa brincadeira, se para aí estivesse virado!
A brincar a brincar, um a certa ocasião mandou-me uma dentada, o que provocou uma reacção rápida: uma punhada forte no dossel onde ele estava sentado, pela lei física da acção/reacção, fez com que o bichano não tivesse tido tempo de se agarrar e fosse catapultado, qual homem-bala para o espaço, conseguindo por sorte (?) ficar pendurado no travejamento de sustentação do telhado, que ainda ficava a uma considerável altura!
Como o primata voador de lá saiu não recordo, mas teve ajuda com certeza! Recordo sim a fúria do meu amigo Madaleno perante a situação. Quanto ao atleta voador, durante algum tempo, sempre que me via os seus olhos faiscavam, guinchava e dava às pernas e braços para longe.
Claro que a situação acabou por ter certa piada, e passou a ser normalíssimo vermo-nos, Madaleno incluído, a fazer do mosquiteiro catapulta, se bem que de modo mais suave. De início o bicho não descolava da rede, tal a força com que se agarrava com as patitas, mas quando se apercebeu que ninguém lhe queria fazer mal, começou a alinhar… e era um gozo apreciar a técnica elevatória equilibrista do artista e a sua aterragem, sempre uma incógnita!!
Afinal ele, a vedeta, também gostava de dar espectáculo e dos mimos que ganhava de seguida, desde que a catapulta não fosse accionada por alguém que aparentasse estar chateado!! Podia não conseguir agarrar o travejamento…!!!
Picagem automática
Um dia, creio que pelo final da manhã, fomos surpreendidos por disparos de G3 vindos da direcção da estrada de Bissorã e cada vez mais próximos. Ficados à defesa, depara-se-nos uma nuvem de pó cada vez mais próxima, até que avistámos duas viaturas que a antecediam: da primeira, com a pica G3 na mão, apeia-se o Cap Gaspar (Gasparinho) que era por demais falado pelas estórias que dele se contavam e contam (já referenciadas neste Blogue**) e que, veio de Nhamate ao nosso burgo, se bem recordo, em missão de cortesia apresentar os cumprimentos de boas-vindas ao Cap Mil Mamede e dar uma de conversa com o pessoal e uns copos à mistura bem bebidos!!
Apesar do pouco tempo em presença, recordo-o como um homem educado e alegre, simpático e bonacheirão, terra-a-terra sem papas na língua e valente, que me pareceu gozar com a guerra e com o sistema, em especial com a hierarquia dominante, (seria curioso ver a resposta que daria ao nosso AB, o Almeida Bruno!!) o que julgo, contribuía em parte para a estima que a sua rapaziada lhe tinha e demonstrava. Podiam dizer que ele funcionava assim por estar bem encostado!? Que fosse? Não me pareceu nada dar-se ares de importante e muito menos egocêntrico, como outros!
Acabada a visita, lá se montaram ele e a sua rapaziada nas viaturas, qual vedeta cinéfila aos olhos do pessoal sorridente que presenciava a sua partida, na esperança de um regresso para breve, mas que não mais aconteceu. Foram na verdade umas horas diferentes e marcantes, pela positiva.
Pena não ter havido muitos como o Gasparinho, que com todos os seus defeitos e virtudes era ao que parece, um raio de sol para a sua Rapaziada e por aquelas terras de sofrimento. Que esteja em Paz!
Com um abraço
Luís Faria
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 1 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4619: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (16): Dias em Binar - 1
(**) Vd. poste de 2 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4628: Estórias avulsas (38): Histórias passadas na Guiné (José Borrego)
Guiné 63/74 - P4656: Páginas Negras com Salpicos Cor-de-Rosa (Rui Silva) (4): CCAÇ 816, Operação faísca em Cansambo
1. Mensagem de Rui Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 816, Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67, com data de 7 de Junho de 2009:
Camaradas,
Recebam um grande abraço e votos de muita saúde, extensivos a todos os ex-combatentes da Guiné, ainda mais para aqueles que, de algum modo, ainda sofrem de sequelas daquela maldita guerra.
FOGO DE ARTIFÍCIO em CANSAMBO às 03 h da madrugada do dia 6 de Abril de 1966
(Das minhas memórias “PÁGINAS NEGRAS COM SALPICOS COR-DE-ROSA”)
Operação Faísca. Não sei se foi coincidência, mas que lá muito faiscou naquela noite (e não foi intempérie), lá isso foi verdade.
Estávamos então a 5 de Abril de 1966. A “casa-de-mato” de Cansambo era a que ficava mais perto do Olossato. [Vd. carta de Binta].
Éramos quase vizinhos, só que… dávamo-nos muito mal.
Esta operação revestiu-se de grande ineditismo, pois, pela primeira vez, pelo menos no que dizia respeito à minha Companhia, o assalto ao refúgio inimigo foi perpetrado em PLENA NOITE!
O Capitão, como sempre e como era das suas atribuições, planeou a operação, e, desta feita, de uma forma muito inteligente e sobretudo audaciosa: Atacar em plena obscuridade da noite! Não lembrava ao diabo (e ele que andava sempre por ali).
O nosso guia era o Joaquim, outrora “turra” de boa estripe, que conhecia muito bem tal “casa-de-mato”, ou não fosse ele de lá oriundo.
Desta vez o Joaquim decidiu-se da melhor maneira para… nós, e também para a integridade física dele, pois o ele nos ter enganado uma vez custou-lhe ficar com a cara que o deixou irreconhecível, para não falar do corpo, de tanto murro, pontapé, etc.
Basta dizer que, senão toda, quase toda a Companhia, nesse dia do engano, molhou a sopa no pobre Joaquim. Coisas de então.
Bom, como ia dizendo, o Joaquim desta vez resolveu colaborar e então pôs o Capitão ao corrente e a par e passo do que ia na “casa-de-mato” de Cansambo.
O Capitão soube então que eles colocavam sentinelas nas árvores a partir das 4 horas da madrugada, portanto muito antes do alvorecer, altura esta que normalmente a tropa atacava.
Assim prevenidos, pois se a tropa resolvesse atacar, como era seu hábito e norma daquela guerra, ao romper do dia, as sentinelas dariam por isso muito antes e alertariam o pessoal da “casa-de-mato” que teria entretanto tempo para nos receberem com uma bem montada, ainda que normalmente improfícua, emboscada.
O Capitão lembrou-se então e em boa hora (isto dito depois) de a Companhia atacar o refúgio inimigo às 3 horas da madrugada, isto é, uma hora antes de as sentinelas tomarem as suas posições e formarem o seu dispositivo de segurança.
Portanto eles seriam apanhados quando despreocupadamente deveriam estar a dormir.
Mas, o atacar em plena noite, coisa que até aí nunca tinha acontecido, implicava alguns problemas e receios, entre estes o posicionamento e ordenamento na altura do ataque, pois como era noite cerrada e não se visava um palmo à frente dos olhos, isto teria de ser feito com muito cuidado e disciplina, e sobretudo sem ponta de barulho, o que era ainda o mais importante.
Bom, o Capitão planeou bem em todo o pormenor e a malta mostrou-se confiante, até porque o Joaquim parecia agora ser um grande trunfo.
À frente foi o meu Grupo de combate e a primeira secção era a do Baião.
O Capitão pôs o Furriel Mil José Baião com a sua Secção à frente da coluna como represália de ele se ter demorado em Bissau mais tempo do que ele tinha permitido, para ele tratar de um assunto qualquer. Eu desta feita não fui, pois estava em Bissau a contas com uma super-alergia e então estava a ser medicado pelo hospital e em regime de internamento.
Para surpreender o inimigo evitou-se o percurso habitual de saída (estrada Olossato-Farim) evitando também assim a passagem pela ponte sobre o rio Olossato aonde o inimigo também vigiava as 24 horas do dia.
Assim atravessámos em canoa rudimentar e em pequenos grupos o dito rio, algumas centenas de metros da dita ponte e a jusante e depois a progressão foi feita em corta-mato.
O Capitão mandou a malta levar balas tracejantes, pois como estas deixam um rasto luminoso perfeitamente visível à noite, a malta poderia melhor acertar com o alvo, ou pelo menos ver para onde elas iam, alvo esse que era certamente o refúgio inimigo.
Aos homens dos morteiros mandou o Capitão levar very-lights - granadas de morteiro, mas apenas de efeito luminoso.
Os very-lights uma vez lançados, apenas serviam para iluminar o espaço aéreo circundante durante uns breves segundos e permitir assim, neste curto espaço de tempo, uma razoável visão da zona do objectivo.
Portanto o maior problema seria o da instalação da malta relativamente ao refúgio, que teria de ser feita sem hipótese de detecção por parte do inimigo.
Uma vez a malta instalada e devidamente camuflada -a noite nesse aspecto ajudava e de que maneira - era só abrir fogo e então com a ajuda dos very-lights o fogo logo se concentraria no refúgio.
E tudo aconteceu, para felicidade nossa, como o Capitão planeara e nós todos confiávamos.
Foi tão grande a surpresa para eles que os 2 Grupos de combate mobilizados para o assalto instalaram-se em dispositivo adequado e em meia lua e sem dar azo ao mais leve pressentimento da sua presença, e então foi só aguardar o sinal de FOGO(!)
Este deu-se na hora H. O potencial de fogo era grande. As granadas de bazuca e de morteiro choveram aqui e acolá em ritmo bem cadenciado e de vez em quando surgia no ar um very-light para ajudar a malta a aferir melhor a pontaria.
O Capitão comandava o assalto utilizando um megafone.
Quem não soubesse que se tratava de um episódio da guerra até julgava que era um S. João bem festejado com bombas de Carnaval e fogo de artifício ao mesmo tempo.
Eles mal tiveram tempo para fugir quanto mais ocuparem os abrigos que tinham na periferia do refúgio e, ainda assim, eram muitos os rastos de sangue ali encontrados. Abandonaram praticamente o armamento todo e tudo o mais. Reagiriam depois ao longe com algumas rajadas de flagelação. O costume…
Assim, desta feita, foram-lhes apanhadas 5 Pistolas-metralhadoras, diversos carregadores para aquelas, diversas granadas de mão, de morteiro e de LGF (ver foto) e o morteiro 82 por pouco não foi apanhado.
Digo que por pouco, pois viu-se bem o rasto dele a pressupor dificuldade de transporte. Essa foi a maior pena.
O Capitão sabia que aquele morteiro dava a volta por algumas “casas-de-mato” do Oio, e então ele aguardou a altura, por indicação de Joaquim, que ele lá estivesse para a Companhia tentar capturá-lo.
Mas, claro, apanhar uma arma destas era sempre muito difícil, pois eles tinham o máximo cuidado em não se verem privados deste tipo de armamento.
Falava-se em represálias severas se o perdessem, mesmo ainda que alguém se tivesse de sacrificar para o salvar e, assim, do morteiro 82 que na ocasião reforçava a “casa-de-mato” de Cansambo, só se ficou com o cheiro.
Foi então quase (este quase pelo morteiro) um êxito de 100% a operação em Cansambo, de Faísca de seu nome.
Apanhámos praticamente todo o armamento que eles possuíam naquele refúgio, provocámos, senão baixas, bastante feridos a julgar pelos rastos de sangue bem visíveis, e destruímos completamente o refúgio inimigo de Cansambo.
Não tivemos qualquer azar, pois tão grande foi a surpresa, pela hora e pelo método, que eles só se preocuparam em fugir bem e depressa, daí não ter havido qualquer esboço de reacção.
“Parecia o S. João meu Furriel”, dizia-me um soldado mais tarde. Referia-se ele ao efeito dos very-lights e das balas tracejantes. “Pareciam bichas de rabear”, acrescentou outro.
Que espectáculo, imaginei eu. Foi formidável a ideia do Capitão, foi mesmo bestial - concordámos todos nós - mas ao fim e ao cabo deveu-se também em grande parte à colaboração do “ex-turra” e agora nosso grande amigo, de seu nome Joaquim, pois ele, em todo o pormenor, informou o Capitão tal e qual como a coisa funcionava em Cansambo.
Armamento capturado na Operação Faísca: Em 1.º plano: 3 pistolas-metralhadoras PPSH (a famosa costureirinha) e 2 “Thompson” (c/ um balázio de cerca de 12 mm. de diâmetro) e ainda 1 carregador PPSH; atrás 2 granadas de Lança-granadas-foguete e um carregador Kalashnikov; mais atrás: algumas granadas de mão e 8 granadas de morteiro 60, entre outro material de menor importância.
O Joaquim a partir daí passou a ser o melhor do mundo. Podia era ter-se livrado daquela grande sova aquando da primeira tentativa de assalto à “casa-de-mato” de Cansambo, ele que, intencionalmente, fez-nos andar à deriva, (não foi só ele a fazê-lo pois haviam guias que até davam o jeito possível, para ficarmos à mercê de mira inimiga), fazendo assim gorar os nossos propósitos.
Como sempre acontecia, o Joaquim, um “turra” então renegado, começou a compartilhar da vida comum de Olossato. Vestia agora bem e até tinha direito a gravata e comia do rancho.
A partir daí, sim, foi dada toda a liberdade ao Joaquim agora Senhor, pois a gente também sabia que ele jamais fugiria.
Sim, um “turra” depois de ter denunciado os colegas jamais regressaria ao seu convívio, pois era óbvio que estes lhe tratariam imediatamente da saúde, fazendo-o desaparecer do mundo dos vivos, pagando assim a sua traição.
O Joaquim, claro, escolheu ser um pacato cidadão da típica e pacata povoação do Olossato.
P.S. Devo dizer que o “Páginas Negras com salpicos cor-de-rosa” foram escritas, ou vá lá rabiscadas, praticamente todas, em pleno tempo de guerra e acabadas logo a seguir ao meu regresso.
Escrevia à noite e ao outro dia já estava a pôr as cartucheiras à cintura e a G3 ao ombro outra vez, para passar por algo que poderia depois contar… se pudesse.
Naquela altura tinha os meus vinte e poucos anos e fora empurrado para uma guerra que já na altura não a compreendíamos muito bem. Ia impregnado de patriotismo e honradez e outras coisas assim, lutar contra o terrorismo, dizia-se.
Hoje tudo era contado de maneira diferente (ou noutra perspectiva) ficando desde logo subjacente o respeito por aquele massacrado povo africano que, afinal, só queria a sua terra e não queria ser escravizado. Naquele tempo ainda se via muito branco a bater no preto…
Quero com isto dizer que os excertos que vou mandando (com todo o gosto), para este magnífico blogue, são transcrições absolutamente fiéis à minha escrita feita naquele preciso tempo (espaço, maneira e modo).
Só assim haveria razão e cabimento de as querer mostrar tal e qual.
As minhas memórias começam assim e em jeito de intróito.
“PÁGINAS NEGRAS COM SALPICOS COR-DE-ROSA”
Este pequeno livro, que encerra uma modesta prosa, foi elaborado, a maior parte, nos últimos dias da minha comissão na Guiné, e concluído logo depois do meu regresso.
As páginas que se seguem, ilustram (ainda que de uma maneira sumária) o que foi a vida da minha Companhia e de um modo particular a minha, naqueles dois inesquecíveis anos de episódios multifacetados, os quais estive ao serviço da Pátria na defesa da sua integridade territorial, entre milhares de assim servidores, que integrados na Aviação, na Marinha ou no Exército, com galhardia e raro estoicismo defendiam aquele pequeno pedaço de terra no longínquo ocidente africano que corajosos portugueses de então descobriram, galgando mares e marés, e de uma forma assaz atribulada.
Das melhores e das piores recordações da minha vida dali as guardo até à morte.
As “páginas negras” escreveu-as a guerra…, que era o que afinal me levou ali, e estas eram as do quotidiano.
Os “salpicos cor-de-rosa” foram os bons momentos de alegre confraternização entre a malta, foram os jogos de mesa ou de campo, as “piscinas” (“cocktail” de bebidas - todas as que houvesse na altura - num grande alguidar de aço inox, que cada um bebia por sua vez e até dava direito a mergulhar o farfalhudo bigode), as brincadeiras entre uns e outros e…. a chegada da “Dornier” que trazia os aerogramas da família e até, às vezes, sardinhas.
Fotos: © Rui Silva (2009). Direitos reservados.
Um abraço,
Rui SIlva
___________
Nota de M.R.:
(*) Vd. último poste da série em:
Guiné 63/74 - P4655: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (4): Mãos à obra, rapaziada ! (Patrício Ribeiro)
Guiné-Bissau > Bissau > Sítio da AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > "Construindo um porto" > Foto publicada em 28 de Junho de 2009 (e tirada em 16 de Maio último).
"A comunidade da tabanca de Catesse, situada na foz do rio Cacine, é constituída por habitantes muito activos, dinâmicos e empreendedores, o que os levou a tomar a decisão de construir, em pleno mangal, um embarcadouro que os retire do isolamento geográfico a que estão sujeitos.
"Com uma canoa que construíram e um motor fora-de-bordo que lhes foi atribuído a título de crédito, a população local poderá chegar mais rapidamente a Catió, Ilhéu do Melo, Kamsar na Guiné-Conakry, ou mesmo Cacine, para colocarem os seus produtos agrícolas e de pesca excedentários.
"Constituirá também uma porta de entrada e saída para os turistas que demandarem as Ilhas de Orango, João Vieira e Poilão, Tristão e ilhéu dos Pássaros, oferecendo novos itinerários ecoturísticos".
Foto (e legenda): © AD - Acção para o Desenvolvimento (2009). Direitos reservados
1. Mensagem do Patrício Ribeiro, membro do Grupo dos Amigos da Capela de Guileje, membro da nossa Tabanca Grande, empresário na Guiné-Bissau onde reside há mais de 25 anos, antigo fuzileiro em Angola, onde nasceu (*):
Bom dia
Ao grupos de amigos e outros...
Junto uma lista de materiais necessários para a reconstrução da Capela (**), que me foi pedida pelo Camilo.
Segue também alguns desenhos, para vosso conhecimento, de apoio a construção, que fiz quando da minha última viagem a Guileje.
Vou esta semana novamente a Guileje, para contratarmos o mestre da Obra em Quebo (Aldeia Formosa). Para iniciarmos de imediato os trabalhos.
Nota: Não consigo anexar os desenhos, vou enviá-los mais tarde.
Um abraço.
Patricio Ribeiro
IMPAR Lda
Av Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau,
Tel / Fax 00 245 3214385, 6623168, 7202645
Guiné Bissau
Tel / Fax 00 351 218966014
Lisboa
http://www.imparbissau.com/
impar_bissau@hotmail.com
2. LISTA DOS MATERIAIS NECESSÁRIOS PARA A RECONSTRUÇÃO DA CAPELA DE GUILEJE
950 – Blocos 40 x 20 x 15 já feitos, pela ONG AD)
25 – Varões de ferro de 8 x 12,00
15 - Varões de ferro de 6 x 12,00
2 – Kg de arame queimado
1 – Carrada de Cascalho (vamos aproveitar os restos da capela) (a ONG AD , vai tratar)
2 – Carradas de areia ( a ONG AD vai tratar)
5- Latas de tinta (já temos, oferta do Camilo)
- Contrato com o mestre da Obra (Já se pediu orçamento).
FALTAS
75 - Chapas galvanizadas 2,00 x 0,90 x 0,4 (para a capela e casa do gerador)
700 – Pregos especiais para chapas galvanizadas.
1 – Casa para o gerador 2,00 x 2,50
1 – Gerador 7 Kva, com motor Lister , para arrancar por manivela e bateria
100 – Fio 3 x 4
50 – Fio FVV 2 X 1,5
5 – Suportes de lâmpadas, para fixar nas paredes.
5 – Olhos de boi, com lâmpadas de baixo consumo.
50 – Lampadas de baixo consumo
3. Comentário de L.G.
Como fazer chegar estes materiais em falta para a reconstrução da capela ? Quanto poderão custar em euros, aqui em Portugal, ou em CFA, em Bissau ? Como levá-los até Guileje ?
Como poderemos ajudar os nossos Amigos da Capela da Guileje - Patrício Ribeiro, António Cunha, Manuel Reis e António Camilo, a que se juntou agora, a partir de 20 de Junho de 2009, na Ortigosa, por ocasião do nosso IV Encontro Nacional, o advogado lisboeta Dr. João Seabra, ex-Alf Mil da CCav 8350 (Guileje e Gandembel, 1972/73) ?
Por que é que outros camaradas que passaram por Guileje, de 1964 até 1973, ainda não manifestaram a sua eventual adesão a esta iniciativa, que tem um tremendo valor simbólico, para além do seu impacto no desenvolvimento do ecoturismo do Cantanhez e do seu lugar (material) no projecto de musealização do antigo quartel de Guileje ?
______________
Notas de L.G.:
(*) Vd. postes de:
5 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1402: Um bom ano de 2007 a partir de Mejo, Guileje (Patrício Ribeiro).
6 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3705: As Boas Festas da Nossa Tabanca Grande (13): O jacaré da praia do Biombo (Patrício Ribeiro)
29 de Janeiro de 2009Guiné 63/74 - P3812: Dicas para o viajante e o turista (7): Viagens pelo sul da Guiné-Bissau (Patrício Ribeiro)
(**) Vd. postes de:
16 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4535: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (3): Já começámos a pôr a mão... na massa do Camilo, e a 20/1/2010 haverá ronco (Pepito)
16 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4534: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (2): António Camilo oferece 300 sacos de cimento e 150 litros de tinta
6 de Junho de 2009 > Guiné 64/74 - P4469: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (1): Já temos três: Patrício Ribeiro, António Cunha e Manuel Reis
"A comunidade da tabanca de Catesse, situada na foz do rio Cacine, é constituída por habitantes muito activos, dinâmicos e empreendedores, o que os levou a tomar a decisão de construir, em pleno mangal, um embarcadouro que os retire do isolamento geográfico a que estão sujeitos.
"Com uma canoa que construíram e um motor fora-de-bordo que lhes foi atribuído a título de crédito, a população local poderá chegar mais rapidamente a Catió, Ilhéu do Melo, Kamsar na Guiné-Conakry, ou mesmo Cacine, para colocarem os seus produtos agrícolas e de pesca excedentários.
"Constituirá também uma porta de entrada e saída para os turistas que demandarem as Ilhas de Orango, João Vieira e Poilão, Tristão e ilhéu dos Pássaros, oferecendo novos itinerários ecoturísticos".
Foto (e legenda): © AD - Acção para o Desenvolvimento (2009). Direitos reservados
1. Mensagem do Patrício Ribeiro, membro do Grupo dos Amigos da Capela de Guileje, membro da nossa Tabanca Grande, empresário na Guiné-Bissau onde reside há mais de 25 anos, antigo fuzileiro em Angola, onde nasceu (*):
Bom dia
Ao grupos de amigos e outros...
Junto uma lista de materiais necessários para a reconstrução da Capela (**), que me foi pedida pelo Camilo.
Segue também alguns desenhos, para vosso conhecimento, de apoio a construção, que fiz quando da minha última viagem a Guileje.
Vou esta semana novamente a Guileje, para contratarmos o mestre da Obra em Quebo (Aldeia Formosa). Para iniciarmos de imediato os trabalhos.
Nota: Não consigo anexar os desenhos, vou enviá-los mais tarde.
Um abraço.
Patricio Ribeiro
IMPAR Lda
Av Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau,
Tel / Fax 00 245 3214385, 6623168, 7202645
Guiné Bissau
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Lisboa
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2. LISTA DOS MATERIAIS NECESSÁRIOS PARA A RECONSTRUÇÃO DA CAPELA DE GUILEJE
950 – Blocos 40 x 20 x 15 já feitos, pela ONG AD)
25 – Varões de ferro de 8 x 12,00
15 - Varões de ferro de 6 x 12,00
2 – Kg de arame queimado
1 – Carrada de Cascalho (vamos aproveitar os restos da capela) (a ONG AD , vai tratar)
2 – Carradas de areia ( a ONG AD vai tratar)
5- Latas de tinta (já temos, oferta do Camilo)
- Contrato com o mestre da Obra (Já se pediu orçamento).
FALTAS
75 - Chapas galvanizadas 2,00 x 0,90 x 0,4 (para a capela e casa do gerador)
700 – Pregos especiais para chapas galvanizadas.
1 – Casa para o gerador 2,00 x 2,50
1 – Gerador 7 Kva, com motor Lister , para arrancar por manivela e bateria
100 – Fio 3 x 4
50 – Fio FVV 2 X 1,5
5 – Suportes de lâmpadas, para fixar nas paredes.
5 – Olhos de boi, com lâmpadas de baixo consumo.
50 – Lampadas de baixo consumo
3. Comentário de L.G.
Como fazer chegar estes materiais em falta para a reconstrução da capela ? Quanto poderão custar em euros, aqui em Portugal, ou em CFA, em Bissau ? Como levá-los até Guileje ?
Como poderemos ajudar os nossos Amigos da Capela da Guileje - Patrício Ribeiro, António Cunha, Manuel Reis e António Camilo, a que se juntou agora, a partir de 20 de Junho de 2009, na Ortigosa, por ocasião do nosso IV Encontro Nacional, o advogado lisboeta Dr. João Seabra, ex-Alf Mil da CCav 8350 (Guileje e Gandembel, 1972/73) ?
Por que é que outros camaradas que passaram por Guileje, de 1964 até 1973, ainda não manifestaram a sua eventual adesão a esta iniciativa, que tem um tremendo valor simbólico, para além do seu impacto no desenvolvimento do ecoturismo do Cantanhez e do seu lugar (material) no projecto de musealização do antigo quartel de Guileje ?
______________
Notas de L.G.:
(*) Vd. postes de:
5 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1402: Um bom ano de 2007 a partir de Mejo, Guileje (Patrício Ribeiro).
6 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3705: As Boas Festas da Nossa Tabanca Grande (13): O jacaré da praia do Biombo (Patrício Ribeiro)
29 de Janeiro de 2009Guiné 63/74 - P3812: Dicas para o viajante e o turista (7): Viagens pelo sul da Guiné-Bissau (Patrício Ribeiro)
(**) Vd. postes de:
16 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4535: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (3): Já começámos a pôr a mão... na massa do Camilo, e a 20/1/2010 haverá ronco (Pepito)
16 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4534: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (2): António Camilo oferece 300 sacos de cimento e 150 litros de tinta
6 de Junho de 2009 > Guiné 64/74 - P4469: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (1): Já temos três: Patrício Ribeiro, António Cunha e Manuel Reis
terça-feira, 7 de julho de 2009
Guiné 63/74 - P4654: Estórias avulsas (42): O whisky e a Coca-Cola do nosso contentamento (António Tavares)
1. Mensagem de António Tavares (*), ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72, com data de 4 de Julho de 2009:
Caro Vinhal,
A minha 1.ª noite na Guiné foi passada no cais do Pidjiguiti em 01-05-1970... a guardar 21 caixas de whisky... era o sargento de reabastecimentos do BCAÇ 2912.
Chegados a Galomaro distribuiu-se o whisky só pelos oficiais e sargentos, segundo ordens expressas do comando.
Havia duas qualidades de whisky - velhos e novos - vendidos a 95$00 e 50$00 cada garrafa, respectivamente.
Só vendíamos nos bares - oficiais e sargentos – as garrafas de 50$00 por 65$00, porquanto medido o líquido dava 13 cálices ao preço unitário de 5$00.
A título de comparação refiro que uma bazuca - cerveja de 0,6 l - custava 6$50.
O principal consumidor era um major, que se deixou vencer pelo álcool... foi evacuado para a Metrópole... enquanto durava a bebida não existia oficial... quando lhe faltava até de noite vinha à minha procura... lá íamos os dois, no seu jeep, ao armazém levantar o whisky.
Certo dia, ao abrirmos uma caixa selada faltava uma garrafa... obrigou-me a fazer um auto da ocorrência e enviá-lo para a Intendência em Bissau... obviamente que nem resposta obtivemos, embora ele fosse testemunha no auto!
Outra vez precisou da bebida mas não havia em armazém... lá arranjam a bebida... foi feita uma sindicância ao whisky... o circuito – armazém, bares e venda – estava correcto.
Começaram a fazer um rigoroso controlo ao whisky quando começaram a vir menos caixas da Intendência.
Às escondidas vendia às praças cada garrafa a 65$00.
O whisky era vendido no Café/Restaurante do Francisco Augusto Regalla e em Bafatá quase pelo dobro do preço.
Recordo que após uma dificultosa e poeirenta picada, com um banho, uma coca-cola e um whisky sentíamo-nos jovens e sadios... era a cocaína com os seus efeitos... os guinéus mascavam a coca... nós bebíamo-la.
Esta foi uma história passada no mato – Galomaro 1970/72 – onde o whisky era uma estrela e brilhante... quem nunca esteve naquelas tórridas e frias terras e na guerra colonial não sabe o valor de tão precioso líquido... houve outros camaradas na Guiné que nunca o saborearam pelos mais diversos motivos!
A venda da coca-cola em Portugal Continental era proibida.
1 de Maio de 1970 > Chegada a Bissau
Bar de Sargentos
Um abraço do,
António Tavares
Foz do Douro
04 de Julho de 2009
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de24 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4573: Tabanca Grande (154): António Tavares, ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72
Vd. último poste da série de6 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4647: Estórias avulsas (41): Fotos de Gamdembel e Ponte Balana (Manuel Oliveira)
Caro Vinhal,
A minha 1.ª noite na Guiné foi passada no cais do Pidjiguiti em 01-05-1970... a guardar 21 caixas de whisky... era o sargento de reabastecimentos do BCAÇ 2912.
Chegados a Galomaro distribuiu-se o whisky só pelos oficiais e sargentos, segundo ordens expressas do comando.
Havia duas qualidades de whisky - velhos e novos - vendidos a 95$00 e 50$00 cada garrafa, respectivamente.
Só vendíamos nos bares - oficiais e sargentos – as garrafas de 50$00 por 65$00, porquanto medido o líquido dava 13 cálices ao preço unitário de 5$00.
A título de comparação refiro que uma bazuca - cerveja de 0,6 l - custava 6$50.
O principal consumidor era um major, que se deixou vencer pelo álcool... foi evacuado para a Metrópole... enquanto durava a bebida não existia oficial... quando lhe faltava até de noite vinha à minha procura... lá íamos os dois, no seu jeep, ao armazém levantar o whisky.
Certo dia, ao abrirmos uma caixa selada faltava uma garrafa... obrigou-me a fazer um auto da ocorrência e enviá-lo para a Intendência em Bissau... obviamente que nem resposta obtivemos, embora ele fosse testemunha no auto!
Outra vez precisou da bebida mas não havia em armazém... lá arranjam a bebida... foi feita uma sindicância ao whisky... o circuito – armazém, bares e venda – estava correcto.
Começaram a fazer um rigoroso controlo ao whisky quando começaram a vir menos caixas da Intendência.
Às escondidas vendia às praças cada garrafa a 65$00.
O whisky era vendido no Café/Restaurante do Francisco Augusto Regalla e em Bafatá quase pelo dobro do preço.
Recordo que após uma dificultosa e poeirenta picada, com um banho, uma coca-cola e um whisky sentíamo-nos jovens e sadios... era a cocaína com os seus efeitos... os guinéus mascavam a coca... nós bebíamo-la.
Esta foi uma história passada no mato – Galomaro 1970/72 – onde o whisky era uma estrela e brilhante... quem nunca esteve naquelas tórridas e frias terras e na guerra colonial não sabe o valor de tão precioso líquido... houve outros camaradas na Guiné que nunca o saborearam pelos mais diversos motivos!
A venda da coca-cola em Portugal Continental era proibida.
1 de Maio de 1970 > Chegada a Bissau
Bar de Sargentos
Um abraço do,
António Tavares
Foz do Douro
04 de Julho de 2009
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de24 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4573: Tabanca Grande (154): António Tavares, ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72
Vd. último poste da série de6 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4647: Estórias avulsas (41): Fotos de Gamdembel e Ponte Balana (Manuel Oliveira)
Guiné 63/74 - P4653: Dando a mão à palmatória (21): A verdadeira fotografia do Alf Mil Cav Mosca, assassinado no dia 21 de Abril de 1970 (Os Editores)
1. A propósito de um equívoco que se manteve durante largo tempo no nosso Blogue, relacionado com a identificação dos camaradas representados nas fotos alusivas ao Massacre do Chão Manjaco, com a devida autorização do nosso camarada e tertuliano Álvaro Basto (*), ex-Fur Mil Enf da CART 3492/BART 3873, reproduzimos o Poste 184, do Blogue da Tabanca Pequena de Matosinhos, por ele publicado.
2. Domingo, 7 de Junho de 2009
P184-desfazer as confusões
Um dos nossos mais queridos e assíduos companheiros de tertúlia na Tabanca de Matosinhos tem sido este simpático casal.
O Dr. Fernando Giesteira Gonçalves e a D. Joaquina Silva, sua simpática esposa.
Praticamente não falham à quarta-feira e não raro, vêm acompanhados de gente ligada à Guiné, quer ex-combatentes quer naturais de lá.
Ele é médico e vai abrir em breve uma clínica em Bissau com a ajuda da esposa que corajosamente o irá acompanhar desde a primeira hora.
Gente simpática, afável e sobretudo dotada de grande humanismo, basta relembrar como têm vindo a acompanhar o processo de auxilio às crianças da Clínica Pediátrica de Bor.
Há dias olhando para a foto abaixo que vinha publicada num destacável que é publicado todas as quartas feiras pelo Correio da Manhã diz surpreso: - Olha... eu estou aqui com os majores.
Logo um coro se fez ouvir... - Oh Dr. tem a certeza? Olhe que esse é o Alferes Mosca que foi morto juntamente com os majores. Ele não desarma e reafirma: - Desculpem, este sou eu, tenho a certeza. O Mosca foi-me substituir uns meses mais tarde à data desta foto ter sido tirada; o Mosca nem na Guiné estava nesta altura. Era eu que fazia parte do CAOP e ele foi-me substituir por ter chegado ao fim a minha comissão.
Bom... foi a estupacção total... tem vindo a ser propalado que esta foto reunia os quatro massacrados, mas afinal não.
Só agora é que o Dr. Giesteira viu esta foto porque habitualmente não vai à inernet e muito menos ao Blogue do Luís. Doutra forma, já teria obviamente desfeito o equívoco há mais tempo.
Fica aqui desfeita a confusão pois já na altura da primeira publicação da foto no Blogue do Luís quem o fez não estaria seguro quanto à identidade do alferes que nela aparecia.
Assim se vai fazendo História meus caros.
Álvaro Basto
__________
3. Para desfazer definitivamente quaisquer dúvidas fica agora a foto com os verdadeiros mártires do Chão Manjaco
Já no Poste 1510 o nosso camarada Paulo Raposo punha a hipótese de na foto estar um seu camarada de Mafra de apelido Giesteira.
Ao Dr. Fernando Giesteira Gonçalves e à família do nosso malogrado camarada Alf Mil Cav Joaquim João Palmeiro Mosca, apresentamos as nossas desculpas pelo lapso que grassou durante todo este tempo.
Se este poste chegar ao conhecimento do Dr. Giesteira, fica desde já convidado a aderir à nossa Tabanca Grande. Será um prazer para nós contar com a sua colaboração, quer falando do passado, como combatente, quer do presente, como médico interventivo na saúde daquele pequeno e pobre país.
Embora tardiamente, fica reposta a verdade.
CV
OBS:- Nos postes onde constavam as duas fotos acima publicadas, já foram substituídas pela que se apresenta mais abaixo, já como verdadeiro mártir Alf Mil Mosca. (**)
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 9 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4310: Tabanca de Matosinhos (11): As crianças da Guiné-Bissau precisam da nossa ajuda (Álvaro Basto)
(**) Vd. postes de 8 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1503: Dossiê: O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M. F. Sousa) (6): Fotografia dos três majores (Sousa de Castro)
9 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1510: Os heróis do Chão Manjaco e o Alferes Giesteira (Paulo Raposo)
27 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2004: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (Anexo A): Depoimento de Fur Mil Lino, CCAÇ 2585 (Jolmete, 1970)
30 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2008: Dando a mão à palmatória (1): A fotografia dos saudosos majores Pereira da Silva, Passos Ramos e Osório (João Tunes / Editores)
1 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2320: Relatórios Secretos (1): Massacre do Chão Manjaco: O resgate dos corpos (Virgínio Briote)
Vd. último poste da série de 25 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4412: Dando a mão à palmatória (20): O Arsénio Puim, capelão do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), só foi expulso em Maio de 1971
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Guiné 63/74 - P4652: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande (14): O mundo é do tamanho duma ervilha (António Matos)
1. Mensagem de António G. Matos (*), ex-Alf Mil MA da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72, com data de 3 de Julho de 2009:
Caros editores,
Aqui fica uma contribuição modesta para o blog quando nos preparamos para mais um fim de semana.
Se o agendamento das publicações o permitir, que agradável seria vê-lo publicado gozando do contexto meteorológico estival...
Um abraço,
António Matos
O Mundo do tamanho de uma ervilha
Sexta-feira à tarde...
Lisboa...
Esplanada de A Brasileira....
15 horas....
Sento-me a escassos 4 metros do Pessoa...
O cosmopolistismo lisboeta nesta zona confunde o observador circunstancial sobre as nacionalidades dos passantes nas suas têzes morenas e cabeleiras dum loiro oxigenado deixando a dúvida se se trata duma sueca quem acaba de passar ou simplesmente uma destas moçoilas das bandas da Trafaria habituada à travessia diária do Tejo abordo dum cacilheiro....
Sejam elas (ou eles) de onde forem, o bom do "Camões do séc. XX" não tem descanso perante as poses que lhe são solicitadas para os milhares de fotos de quem passa!
Há os que, de roteiro turístico na mão, percebem estar frente a um vulto superior e há também aqueles que disparam flashes em catadupa perante a curiosa e coloquial postura do homem do chapéu e papillon...
Há coxas nuas e sugestivamente traçadas, num ímpeto de arejo estival às partes pudibúndicas e um zunzum poliglota a dar a entender que o €uro ainda permite a alguns virem lavar a vista arremelgada dum ano inteiro em cima dos livros de contabilidade das suas empresas ou dos écrans dos computadores a vasculharem as redes sociais...
Numa mesa próxima da minha, um azeiteiro disfarçado de jet set coça, displiscentemente, os tomates enquanto o António Vasconcelos, no canto oposto, capta imagens para mais um filme...
Entretanto o meu computador que mantenho aceso e ao qual tinha já plugado na USB a minha net de banda larga através desta maravilha tecnológica chamada PEN, dá um PIUUUU!!
Fui ver...
O Facebook registava a entrada da resposta que aguardava e que, no fundo, justifica este meu post no blog.
O José Saraiva acabava de entrar em contacto comigo e transportava-me para a Guiné.
Foi um ex-combatente no Leste e também foi daqueles para quem o arame farpado não o acoitava...
Falou-me do seu As Lágrimas de Aquiles.
Já me dirigi à livraria do Diário de Notícias no Rossio e deixei a encomenda...
A sinopse entusiasmou-me...
Voltarei ao tema depois da leitura...
Até lá fica a referência e a constatação de que, de facto, o Luis Graça & Amigos é grande e o mundo... é uma ervilha...
António Matos
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 26 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4582: Os Nossos Camaradas Guineenses (11): Ernesto… procuro saber algo sobre este meu Amigo guineense (António Matos):
Vd. último poste da série de25 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4577: O mundo é pequeno e o nosso Blogue... é grande (13): Encontro de dois atabancados em terras da América (José da Câmara)
Caros editores,
Aqui fica uma contribuição modesta para o blog quando nos preparamos para mais um fim de semana.
Se o agendamento das publicações o permitir, que agradável seria vê-lo publicado gozando do contexto meteorológico estival...
Um abraço,
António Matos
O Mundo do tamanho de uma ervilha
Sexta-feira à tarde...
Lisboa...
Esplanada de A Brasileira....
15 horas....
Sento-me a escassos 4 metros do Pessoa...
O cosmopolistismo lisboeta nesta zona confunde o observador circunstancial sobre as nacionalidades dos passantes nas suas têzes morenas e cabeleiras dum loiro oxigenado deixando a dúvida se se trata duma sueca quem acaba de passar ou simplesmente uma destas moçoilas das bandas da Trafaria habituada à travessia diária do Tejo abordo dum cacilheiro....
Sejam elas (ou eles) de onde forem, o bom do "Camões do séc. XX" não tem descanso perante as poses que lhe são solicitadas para os milhares de fotos de quem passa!
Há os que, de roteiro turístico na mão, percebem estar frente a um vulto superior e há também aqueles que disparam flashes em catadupa perante a curiosa e coloquial postura do homem do chapéu e papillon...
Há coxas nuas e sugestivamente traçadas, num ímpeto de arejo estival às partes pudibúndicas e um zunzum poliglota a dar a entender que o €uro ainda permite a alguns virem lavar a vista arremelgada dum ano inteiro em cima dos livros de contabilidade das suas empresas ou dos écrans dos computadores a vasculharem as redes sociais...
Numa mesa próxima da minha, um azeiteiro disfarçado de jet set coça, displiscentemente, os tomates enquanto o António Vasconcelos, no canto oposto, capta imagens para mais um filme...
Entretanto o meu computador que mantenho aceso e ao qual tinha já plugado na USB a minha net de banda larga através desta maravilha tecnológica chamada PEN, dá um PIUUUU!!
Fui ver...
O Facebook registava a entrada da resposta que aguardava e que, no fundo, justifica este meu post no blog.
O José Saraiva acabava de entrar em contacto comigo e transportava-me para a Guiné.
Foi um ex-combatente no Leste e também foi daqueles para quem o arame farpado não o acoitava...
Falou-me do seu As Lágrimas de Aquiles.
Já me dirigi à livraria do Diário de Notícias no Rossio e deixei a encomenda...
A sinopse entusiasmou-me...
Voltarei ao tema depois da leitura...
Até lá fica a referência e a constatação de que, de facto, o Luis Graça & Amigos é grande e o mundo... é uma ervilha...
António Matos
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 26 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4582: Os Nossos Camaradas Guineenses (11): Ernesto… procuro saber algo sobre este meu Amigo guineense (António Matos):
Vd. último poste da série de25 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4577: O mundo é pequeno e o nosso Blogue... é grande (13): Encontro de dois atabancados em terras da América (José da Câmara)
Guiné 63/74 - P4651: Estórias cabralianas (51): Alfero esfregador entre as balantas (Jorge Cabral)
Guiné > Região do Oio > Mansoa > Bajuda Balanta > Série de postais ilustrados do tempo da Guiné Portuguesa, s/d nem editor... Colecção do nosso amigo e camarada José Casimiro Carvalho (ex-Fur Mil Op Esp, CCAV 8350, Guileje e Gadamael, 1973/74).
Foto: © José Casimiro Carvalho (2006). Direitos reservados.
1. Mensagem do Jorge Cabral (*), ex-cmdt do Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, Sector L1 - Bambadinca, Zona Leste, 1969/71, hoje jurista e professor do ensino superior universitário (*):
Caros Amigos!
Passada a euforia do nosso glorioso Encontro, eis-me perante mais uma grande Alegria – a colaboração do Cherno Baldé (**). E assim eu que havia resolvido finalizar as cabralianas, vejo-me obrigado a continuar pois ele consegue trazer-me à lembrança mais estórias.
Aí vai uma.
Abraços
Jorge Cabral
2. Estórias cabralianas (***) > Alfero esfregador entre Balantas
Tanto nas Tabancas Fulas como nas Mandingas, o Alfero actuava à vontade com as Bajudas, perante a complacência dos Homens e Mulheres Grandes… Aliás não ia além de um acariciar voluptuoso, acompanhado com promessas de encontros no Quartel. Na altura teria merecido o cognome de Apalpador.
Em Novembro de 1969, visitou uma Tabanca Balanta, Bissaque [, a norte de Fá, ](****), e ficou deslumbrado com a beleza das Bajudas, designadamente peitoral… Face à pouca simpatia com que foi recebido, não ousou sequer qualquer gesto que fizesse jus ao referido cognome.
Mas aquela visão idílica espevitou-lhe a imaginação e logo uma semana depois voltou.
Através do intérprete Albino, seu único Soldado Balanta, explicou que ia proceder a um tratamento com uma boa mezinha, afastadora de doenças… Para tanto, colocadas em fila todas as bajudas, o Alfero esfregou-lhes o peito com um bálsamo, ao mesmo tempo que proferia umas palavras, mágicas é claro… Na semana seguinte regressou e repetiu. As melhoras das Bajudas eram já evidentes…
À terceira vez aconteceu porém um facto extraordinário. Chegado à Tabanca, constatou que nem uma só Bajuda se vislumbrava.
Esperando o Alfero, já em fila e preparadas para a função encontravam-se todas as velhas da aldeia, de seios pendentes, quase pelos joelhos…
Estoicamente o Alfero esfregou, esfregou…
Não houve quarta vez…
Jorge Cabral
___________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 10 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4403 - P4494: A Tabanca Grande no 10 de Unho de 2009 (2): Cabral só há um, o de Missirá e mais nenhum (Luís Graça)
(**) Vd. poste de 25 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4580: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (3): A chegada dos primeiros homens brancos a Cambajú em 1965: terror e fascínio
(***) 3 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 – P4455: Estórias cabralianas (50): Alfero, de Lisboa p'ra mim um Fato de Abade (Jorge Cabral)
(****) 16 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2354: Estórias cabralianas (29): A Festa do Corpinho ou... feliz o tuga entre as bajudas, mandingas e balantas (Jorge Cabral)
(...) Bissaque era uma aprazível aldeia balanta. Logo nessa noite, à volta de uma fogueira, reparei na beleza das raparigas, tendo passado a frequentar semanalmente a Tabanca, numa acção sócio-erótica, a qual consistia numa esfregação mamária às belíssimas bajudas. Habituado às bajudas mandingas, verifiquei experimentalmente a superioridade dos seios balantas, tendo, e disso me penitencio, contribuído para um conflito étnico-mamário.
Afim de me redimir, em Janeiro de 1970, de férias em Lisboa, comprei 35 corpinhos (soutiens) no armazém Fama, sito à Calçada do Garcia, junto ao Rossio, onde agora se reúnem os guineenses. (...)
Guiné 63/74 - P4650: (Ex)citações (33): A Tabanca Grande ou... Global: de Contuboel, Fajonquito e Bissau com amizade (Cherno Baldé)
Guiné > Zona Leste > Contuboel > CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 > Junho de 1969 > Uma fotografia politicamente incorrecta do meu álbum... Furriéis Levezinho e Henriques (eu...), no oásis de paz que era então Contuboel, no bem-bom da instrução de especialidade dada aos soldados, do recrutamento local, da futura CCAÇ 12 (na altura CCAÇ 2590)...
No fim da instrução, passado um meio e meio, a companhia, em farda nº 3 (!), estava a levar porrada da grossa, em Madina Xaquili... Em Contuboel, havia tempo para tudo, para longos passeios no Geba, viagens de carro, sem escola, e até para brincadeiras estúpidas... ou tão inocentes como esta simulação de um catana a exercer o seu mister no delicado pescoço de um tuga (o Levezinho)... Não tenho, no entanto, ideia de ter ido até Fajonquito, na fronteira... A Sonaco, sim... E, claro, Bafatá... (LG)
Foto: © António Levezinho (2006). Direitos reservados
1. Publicámos ontem o último texto das memórias do Chico, menino e moço, hoje o Sr. Eng. Cherno Baldé (*). Eis o mail que lhe mandei:
Querido amigo e irmão: Publiquei tudo o que me mandaste... Passaste a figurar, permanentemente, na lista dos membros da nossa Tabanca Grande... Espero que estejas bem, com a tua querida família, e que Deus, Alá e os bons irãs protejam o teu povo e o teu país... Conta connosco. Mantenhas. Luís Graça.
2. Ele acabou de responder-me nestes termos, o que quer dizer que
vivemos de facto na mesma Tabanca, a Tabanca Global:
Amigo e irmão Luis Graça,
Foi com muita satisfação que segui a publicação das minhas crónicas que chamei de 'memórias' . Pela reacção e comentários que se seguiram, acho que as pessoas compreenderam, e melhor que isso aceitaram, mesmo que só por algum momento, uma forma diferente de ver e de interpretar as coisas.
Agradeço a todos os amigos que fazem parte desta nossa Tabanca Grande e faço votos para que este ambiente de amizade e tolerância continuem a ser a pedra angular da nossa confraternização e irmandade.
Eu, apesar de pertencer a uma geração um pouco mais nova e nunca ter pegado em armas para combater, tive o grato privilégio de viver junto dos protagonistas da guerra de um lado e d´outro. Com os portugueses antes e os combatentes do PAIGC depois. Uns e outros apresentam forças e fraquezas, vantagens e inconvenientes, mas eu não tenho qualquer pretensão de julgar ou emitir juízos de valor, mas tão somente apresentar o meu modesto testemunho sobre factos e experiências que influenciaram a minha forma de ver e viver o mundo.
Não tenho quaisquer receios em especial na apresentação do meu testemunho e procurarei ser fiel ao principio da verdade e da imparcialidade e, fiquei admirado pela forma como todos conseguiram entender e penetrar lá dentro do meu espírito apesar das poucas palavras e do medíocre falar português.
Prometo continuar a colaborar na medida do possível e , nomeadamente, responder a algumas perguntas formuladas na sequência desta primeira publicação. A toda a equipa do Blogue e em especial ao meu amigo de Contuboel o meu obrigado e até breve.
Cherno A. Baldé
PS - O Luis Graça está, certamente, ao corrente de que entre Contuboel e Fajonquito, duas localidades vizinhas, existia e ainda hoje existe uma forte rivalidade e os seus encontros de futebol, por exemplo, sempre terminam na confusão porque nenhuma das duas partes admite a derrota.
_________
Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 6 de Julho de 2009 >Guiné 63/74 - P4646: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (5): A família extensa, reunida em Fajonquito, em 1968
No fim da instrução, passado um meio e meio, a companhia, em farda nº 3 (!), estava a levar porrada da grossa, em Madina Xaquili... Em Contuboel, havia tempo para tudo, para longos passeios no Geba, viagens de carro, sem escola, e até para brincadeiras estúpidas... ou tão inocentes como esta simulação de um catana a exercer o seu mister no delicado pescoço de um tuga (o Levezinho)... Não tenho, no entanto, ideia de ter ido até Fajonquito, na fronteira... A Sonaco, sim... E, claro, Bafatá... (LG)
Foto: © António Levezinho (2006). Direitos reservados
1. Publicámos ontem o último texto das memórias do Chico, menino e moço, hoje o Sr. Eng. Cherno Baldé (*). Eis o mail que lhe mandei:
Querido amigo e irmão: Publiquei tudo o que me mandaste... Passaste a figurar, permanentemente, na lista dos membros da nossa Tabanca Grande... Espero que estejas bem, com a tua querida família, e que Deus, Alá e os bons irãs protejam o teu povo e o teu país... Conta connosco. Mantenhas. Luís Graça.
2. Ele acabou de responder-me nestes termos, o que quer dizer que
vivemos de facto na mesma Tabanca, a Tabanca Global:
Amigo e irmão Luis Graça,
Foi com muita satisfação que segui a publicação das minhas crónicas que chamei de 'memórias' . Pela reacção e comentários que se seguiram, acho que as pessoas compreenderam, e melhor que isso aceitaram, mesmo que só por algum momento, uma forma diferente de ver e de interpretar as coisas.
Agradeço a todos os amigos que fazem parte desta nossa Tabanca Grande e faço votos para que este ambiente de amizade e tolerância continuem a ser a pedra angular da nossa confraternização e irmandade.
Eu, apesar de pertencer a uma geração um pouco mais nova e nunca ter pegado em armas para combater, tive o grato privilégio de viver junto dos protagonistas da guerra de um lado e d´outro. Com os portugueses antes e os combatentes do PAIGC depois. Uns e outros apresentam forças e fraquezas, vantagens e inconvenientes, mas eu não tenho qualquer pretensão de julgar ou emitir juízos de valor, mas tão somente apresentar o meu modesto testemunho sobre factos e experiências que influenciaram a minha forma de ver e viver o mundo.
Não tenho quaisquer receios em especial na apresentação do meu testemunho e procurarei ser fiel ao principio da verdade e da imparcialidade e, fiquei admirado pela forma como todos conseguiram entender e penetrar lá dentro do meu espírito apesar das poucas palavras e do medíocre falar português.
Prometo continuar a colaborar na medida do possível e , nomeadamente, responder a algumas perguntas formuladas na sequência desta primeira publicação. A toda a equipa do Blogue e em especial ao meu amigo de Contuboel o meu obrigado e até breve.
Cherno A. Baldé
PS - O Luis Graça está, certamente, ao corrente de que entre Contuboel e Fajonquito, duas localidades vizinhas, existia e ainda hoje existe uma forte rivalidade e os seus encontros de futebol, por exemplo, sempre terminam na confusão porque nenhuma das duas partes admite a derrota.
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Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 6 de Julho de 2009 >Guiné 63/74 - P4646: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (5): A família extensa, reunida em Fajonquito, em 1968
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