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domingo, 12 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20850: Manuscrito(s) (Luís Graça) (183): para a minha neta que hoje faz 5 meses e para todos os avós e netos que estão sozinhos em casa, em dia de Páscoa...


Lourinhã > Paimogo > 2020 > Pandemia de COVID-19 > Só as aves do céu não estão confinadas...


Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Parabéns, Clarinha, pelos teus 5 meses de vida,
em plena pandemia de COVID-19!


À minha neta terei de contar um dia
Os primeiros meses da sua aventura,
No planeta azul, e este tempo de clausura,
Que nos foi imposto por uma pandemia.

Nada sabe do mal e sua virulência,
Seu sorriso é mais belo que a mais bela flor,
Seus olhos claros já perscrutam em redor,
Mas toda ela é apenas inocência.

É Páscoa, hoje o amor e a vida celebramos,
E as alegrias que tu tens dado, bebé,
A teus pais e a todos nós, que muito te amamos.

É Páscoa, é abril, mas nada de beijinhos,
Porque há um vírus que nos quer mal, pois é,
E os avós, cá e lá(*), em casa estão sozinhos.

Lourinhã, 12 de abril de 2020.

(*) no Funchal



2. Mensagem que mandámos, eu e a Alice, à nossa "gente do Norte", em nosso nome e dos nossos filhos, cada um para seu lado, em confinamento:

Queridos/as irmãs, irmãos, cunhados/as, tios/as, primos/as:

Dizem que a distância faz esquecer…
Talvez, se for prolongada no tempo.
Mas agora, não é distância, é confinamento,
que nos foi imposto por uma pandemia…

E logo hoje que é Páscoa,
festa maior da nossa gente de Candoz.
E logo hoje que não nos podemos abraçar nem beijar,
cada um de nós confinados nas nossas casas.

Esta dramática circunstância aviva a saudade,
que nos faz lembrar, e lembrar cada um de vós,
com quem gostaríamos de estar,
hoje muito em particular…

É Páscoa, é abril, é primavera,
não haverá compasso, nem arroz pingado, nem foguetes,
nem o ruído nem a alegria de uma mesa grande e farta.

Mas, daqui, do Sul, da Lourinhã, de Alfragide, de Lisboa,
comungamos da esperança de, em breve,
nos podermos voltar a encontrar
e sabermos, de viva voz,
como é que cada um de vós “toureou o corno do vírus”…

Hoje é dia de alegria também
pelos cinco mesinhos de vida da nossa Clarinha,
que ainda nada sabe dos males do mundo.

Estaremos, em pensamento, convosco.
E desejamos que rapidamente a gente
consiga, individual e coletivamente,
sair bem deste tempo de ameaça e de clausura.

Um cesto grande de abraços, chicorações, beijinhos… 
com uma lagrimazinha devidamente “higienizada”…

Luís e Alice (Lourinhã), Joana (Alfragide), João e Catarina (Lisboa)

12/4/2020

________________

Nota do editor:

Último poste da série > 12 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20822: Manuscrito(s) (Luís Graça) (182): para a Joana que hoje faz anos, e para todos os nossos filhos que estão sozinhos em casa...

Guiné 61/74 - P20849: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (12): A minha primeira Páscoa, em Bissau... desde 1985!... Com o meu filho...



Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2020 > Praça dos Heróis Nacionais, mas o povo continua a chamar-lhe Praça... do Império.


Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2020 >  "Mangos, da nossa casa"

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso amigo e camarada Patrício Ribeiro, um português, natural de Águeda, criado e casado em Angola, Huambo, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bissau desde meados dos anos 80 do séc. passado, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda.; tem mais de 90 referências no nosso blogue]
Data - 12 abril 2020 13:25


Assunto . A Páscoa em Bissau


Luís,

Para ti e tua família, uma Santa Páscoa.

Passado 35 anos, volto a passar a Páscoa em Bissau, a primeira foi em 1985. Desta vez na companhia é do meu filho.
Junto 2 fotos,
- Frutos da Páscoa (na nossa casa);
- Praça do Império... (como é conhecida até hoje pela população).

Abraço,
Patricio Ribeiro

IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau , Guine Bissau
Tel,00245 966623168 / 955290250
www.imparbissau.com
impar_bissau@hotmail.com



Guiné > Bissau > s/d > "Monumento ao Esforço da Raça (Bissau)". Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 131". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal. Imprimarte, SARL). (Detalhe)

2. Comentário de LG:

Obrigado, Patrício, pelas tuas "amêndoas" de Bissau... As tuas notícias e fotos são sempre bem recebidas pela Tabanca Grande... Também eu passo a Páscoa, pela segunda vez, creio eu, cá em baixo, no Sul, em mais de 40 anos, casado com uma nortenha... Confesso que não há como a gente do Norte para fazer a festa da Páscoa, que tem de ter ruído, foguetes, mesa grande e farta, muita gente, muita alegria, compasso, cabrito assado, nuns sítios, ou anho assado com arroz de forno noutros...

Mas em relação à foto da "Praça do Império" (sic), deixa-me acrescentar o seguinte:

O monumento é da autoria do arquiteto Ponce de Castro. A primeira pedra foi lançada em 1934.  O monumento foi inaugurado em 1941. O granito veio do  Porto.  Enquanto a estatuária colonial foi derrubada, a seguir à independência, este monumento, colonialista por excelência, foi o  o único que resistiu à fúria do camartelo do PAIGC.  Ainda lá está, agora encimado com a  a estrela de cinco pontas, que faz parte da bandeira da República da Guiné-Bissau.

Há, na Foz do Douro, Porto, um monumento, datado de 1934,  que terá inspirado o de Bissau, o "Monumento ao Esforço Colonizador Português", da autoria dos escultores Alferes Alberto Ponce de Castro (? - ?) e de José de Sousa Caldas (1894-1965). "Foi construído expressamente para a Exposição Colonial, inaugurada em Junho de 1934 no Palácio de Cristal. Compõe-se de um obelisco encimado com as armas nacionais; na base, seis esculturas estilizadas simbolizam as figuras a quem se deve o esforço colonizador: a mulher, o militar, o missionário, o comerciante, o agricultor e o médico!. (Fonte: Turismo do Porto).

O arquitecto e escultor Alberto Ponce de Castro era natural de Tavira, é o autor do Monumento aos Mortos da Grande Guerra, situado defronte dos Paços do Concelho de Tavira. Em 1922 o alferes de cavalria Alberto Ponce de Castro era reformado e fez um requerimento, à Câmara dos Deputados, ao abrigo da Lei nº 1244. O requerimento seguiu para a Comissãod e Guerra (Fonte: Debates Parlamentares > 1ª Reoública > Câmara dos Deputados > VI Legislatura > Sessão legislatuiva 01 > Número 101 > 1922-07-12 > Página 4)
  
A estética deste monumento é, pois,  claramente estado-novista,  típica dos anos 40/princípios de 50... Fazia parte dos projetos de "monumentalização" da cidade de Bissua, anunciados em 1945 pelo governador Sarmento Rodrigues... Foi parcialmente destruído (ou vandalizado) depois da independência (ao que me disseram), mas resistiu: o que é irónico, é que os habitantes de Bissau continuem a chamar àquela praça, a Praça do Império...

O monumemto tem várias leituras: para uns pode ser uma obra-prima, para outros um mamarracho... Eu, que sou contra o camartelo dos iconoclastas (de todos os iconoclastas, a começar pelo camartelo camarário), acho piada  que o monumento tenha sido poupado, contrariamente ao resto da estatuária do colonialismo português...

Para os camaradas que fizeram a guerra colonial, como eu, e que conheceram este monumento, devo dizer o seguinte: toda a arte (e é difícil fazer a distinção entre arte e propaganda...)  traz a marca do seu tempo e fala do seu tempo...  Seria fácil, há cinquenta  atrás, do alto da nossa arrogância juvenil, apodar o monumento de 'colonial-fascista'... Mas já nos tempos que por lá passei, em Bissau, em 1969/71, o termo raça me fazia urticária... Qualquer que fosse a raça em causa...

Hoje é sabido, de resto, que não existem raças humanas... Pertencemos todos à mesma espécie, Homo sapiens sapiens... É uma constatação científica, não é uma asserção do politicamente correcto... Dito isto, ainda bem que os guineenses souberam reaproveitar  o Monumento ao Esforço da Raça... Afinal,  parte do seu património histórico, tal como a "o casco velho" de Bissau, da mesma maneira que os marcos milíários que pontuavam as vias romanas ligando a Lusitânia ao resto do Império Romano, fazem parte do nosso património histórico...
______________

Nota do editor:

sábado, 11 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20842: Tabanca dos Emiratos (3): Cacei aqui, em Abu Dhabi, às 14h15, de ontem, mais um número redondo, os 10 milhões de acessos ao nosso blogue... Votos de Santa Páscoa para a Tabanca Grande (Jorge Araújo)




Emiratos Àrabes Unidos > Abu Dhabi > 10 de abril de 2019 > Jorge Araújo, o régulo da Tabanca dos Emiratos  caçou, às 14h15, o nº (redondo) dos 10 milhões de visualizações de página, no caso do nosso blogue.

Fotos (e legenda): © Jorge Araújo (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso coeditor Jorge Araújo, que está nesta altura em Abu Dhabi (*):

Data - 10 de abril de 2020, 15h52

Assunto - 10 milhões de visitantes desde maio de 2010


Luís, obrigado por me teres lembrado que hoje estava convocado para uma nova "Operação". O objectivo era caçar o "Dez Milhões", cento e dois anos depois do soldado "Milhões" (Aníbal Augusto Milhais) ter sobrevivido durante a «Batalha de La Lys» (7 a 29 de Abril de 1918).

E o objectivo foi conseguido, como se prova no registo em anexo.

Envio duas hipóteses... escolhe a melhor!




Junto, ainda, o primeiro dígito desta nova séria de centena de milhar, hoje atingida, obtido no dia 21 de Fevereiro de 2020, às 17h40.

Para o Fórum envio votos de SANTA PÁSCOA, acompanhado de um saco de "DEZ MILHÕES" de amêndoas.

Abraço, Jorge Araújo.


Nº de visualizações de páginas nos últimos 12 meses,por dia 
(Total=792 906) (Fonte; Blogger)

2. Comentário do editor LG:

Obrigado, Jorge, pelas tuas e nossas contas: desde 16/11/2019 até 10/4/2020, vão 146 dias... Nesse período de tempo tivemos 300 mil visualizações de página, grosso modo, visitas...O que dá uma média diária de 2050, o que está dentro da média do ano anterior (**).

 Ao fim destes anos (vamos fazer 16 anos de existência, em 23/4/2020), temos um total de 11,8 milhões de visualizações de página, quase 12 milhões, o que deverá ser atingido daqui a 3 meses.

Segundo as estatísticas do nosso servidor, nos últimos 12 meses, o nº de visualizações rondou os 800 mil (vd. infogafia acima), o que dá uma média diária de 2170.

Tivemos um maior nº de acessos período de outunbro de 2019 a janeiro de 2020: em 13/10/2019, antigimos o pico (16599). Nas últimas três semanas, correspondentes ao estado de emergência, em que estamos confinados em casa, parece haver uma ligeira  tendência para o aumento das visualizações. Em 19/3/2020, por exemplo, ultrapassamos as 8 mil.

Obrigado, em nome de toda a Tabanca Grande, pelo saco de amêndoas doces, que vão saber bem neste tempo amargo.

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20840: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (7): Ervilhas de quebrar com chouriço de porco preto alentejano e arroz: receita da "Chef" Alice Carneiro... E recomendações (nutricionais) da Direção-Geral de Saúde, para grandes e pequenos, em tempo de confinamento por causa da pandemia de COVID-19




Ervilhas de quebrar com chouriço de porco preto alentejano com arroz: uma iguaria do Norte, confeccionada pela "Chef" Alice Carneiro...

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Queridos/as amigos/as, é um momento duro, nas nossas vidas, aquele por que estamos a passar, em Portugal, no resto da Europa e do Mundo... De uma maneira ou doutra temos que nos animar uns aos outros... A solidão seria devastadora... E temos que nos alimentar. E cuidar da alimentação dos mais novos... e dos mais velhos.

Olhem, junto aqui umas fotos com as ervilhas de quebrar, com arroz e chouriço de porco preto alentejano, que a "Chef"Alice cozinhou ontem... Foi o nosso almoço... Ontem tivemos um reabastecimento de frescos... Há pequenas empresas aqui da Lourinhã a reinventar o seu negócio...e que fazem entregas em casa, de frutas e legumes...

A Alice, nortenha,  tem sido extraordinária: foram mulheres como ela, e tantas outras de Norte a Sul, que fizeram e aguentaram este pequeno país durante um milénio,, e inicialmente confinado aos vales do Sousa e do Tâmega... Alimentava a nobreza que fazia a guerra e o clero que rezava...

Não sei se temos futuro, enquanto país, acho que  sim, com a nossa extraordinária resiliência... mas temos um património, material e imaterial, fabuloso, incluindo as nossas "comidinhas"... 

Eu, que não sou dado a  grandes euforias nem  a grandes depressões, tenho um grande orgulho nela, por muito refilona que às vezes seja... Vamos ver como dobramos o "cabo Bojador" que vai ser a nossa Páscoa...

A Alice sempre viveu a Páscoa muito intensamente... Sempre passamos a Páscoa no Norte, aliás duas Páscoas: na Madalena, Vila Nova de Gaia, no domingo, e em Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses, na segunda feira... A explicação é simples: o "compasso" leva dois das a percorrer as casas da antiga freguesia de Paredes de Viadores... Pelo o domingo de Páscoa na Quinta de Candoz é (ou era) sempre à segunda feira...

Este ano, pela primeira vez, em mais de quarenta anos, a Páscoa é vivida aqui no Sul, em terra de mouros, pouco cristãos e ainda menos... fiéis. O que quer dizer que não haverá o célebre anho assado com arroz de forno... Mas posso fornecer a receita, ou pelo menos mostrar as fotos dos outros anos... amanhã ou depois...

Pois é, amigos, este ano não há arroz pingado para ninguém... Vamos contentar-nos com o leitão do Carlos dos Leitões do Nadrupe, a terra onde a minha mãezinha me foi parir... (Ele aceita encomendas em modo... take away, que é como o pais está  a funcionar...).

E,  não havendo compasso,  também não há as tradicionais quadras pascais!... O poeta está  zangado com os santos que andaram distraídos e não nos alertaram a tempo para a maldita COVID-19 que aí vinha...  Mas também diz o povo: "Quando Deus não quer, os santos não podem"... E contra o poderoso céu o que é pode a pobre terra ?!...



Camaradas, não se esqueçam, na vossa dieta de confinamento, dos produtos frescos, frutas e legumes... Se puderem, comprem produtos da época, da nossa horta portuguesa: estamos na época nas ervilhas e favas, que eu adoro. E as bananas, se possível da Madeira.. Temos que ajudar os nossos agricultores...

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Capa da brochura  "Vamos pôr a alimentação saudável em casa: cuidados alimentares e atividades para crianças em tempos de COVID.19" (edição da Direção Geral de Saúde, 2020, 26 pp.), 
disponível aqui em pdf.


A Roda dos Alimentos  (p. 5)

Uma refeição completa (p. 10)

Cortesia da Direção-Geral de Saúde (2020)

2. E já que falamos de "comes & bebes", fica aqui também uma sugestão: descarreguem esta brochura da Direcção Greal de Saúde, "Vamos pôr a alimentação saudável em casa: cuidados alimentares e atividades para crianças em tempos de COVID.19"...

Se calhar os nossos filhos e netos precisam do nosso conselho e sabedoria... Mas é bom também aprendermos mais... com os nossos nutricionistas... Veja-se o que recomenda a nossa Direção Geral de Saúde:


(..) Alimentação saudável em casa.

A rotina de milhares de crianças foi interrompida pela necessidade de evitar a propagação da COVID-19. Mais tempo de confinamento em casa, mais comida disponível a toda a hora e mais horas em frente ao ecrã podem potenciar o sedentarismo e o consumo de alimentos hipercalóricos de má qualidade nutricional. 

Nestas condições, o ganho de peso é uma possibilidade, não só para as crianças como para toda a família. Mas, também, podemos ver este momento como uma oportunidade para promover o consumo alimentar saudável no seio da família e promover a aquisição de competências de compra e confeção de refeições saudáveis que há muito podia estar adiada.

Estes são alguns dos motivos pelos quais, a Direção-Geral da Saúde, através do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável publica este breve manual destinado a todos aqueles que por estes dias têm crianças em casa. (...)

_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 8 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20833: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (6): Da Tabanca da Lapónia com amor (e humor): (i) bolo de papel higiénico: (ii) sopa de grão; e (iii) poncha aquecida... Só faltam as... "côbinhas" quentes lá das nossas berças! (José Belo)

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20835: Tabanca da Diáspora Lusófona (9): Um duplamente sentido abraço de Páscoa, em plena pandemia de COVID-19, mas já a pensar no nosso próximo encontro em outubro, em Ribamar, Lourinhã, e no Convento do Varatojo, Torres Vedras (João Crisóstomo, Nova Iorque, Queens)


Torres Vedras > Mosteiro de Santo António do Varatojo > Claustro > "O Mosteiro de Santo António do Varatojo foi fundado por D. Afonso V em 1470, como cumprimento de uma promessa que o monarca havia feito a Santo António, pedindo auxílio para as campanhas do Norte de África. O rei compraria a quinta que posteriormente constituiu a cerca do mosteiro, oferecendo-a à comunidade de franciscano deslocados do Convento de São Francisco de Alenquer para habitarem o novo cenóbio. Em 1474 as obras estavam quase terminadas, pelo que em Outubro desse ano os frades inauguraram o espaço. (...). Classificiado como MN. Monumento Nacional em 1910" (Fonte: Património Cultural ! DGPC)

Foto: Cortesia da RHLT - Rota Histórica das Linhas de Torres



1. Mensagem do nosso camarada e amigo João Crisóstom [, luso-americano, natural de Torres Vedras, conhecido ativista de causas que muito dizem aos portugueses (Foz Côa, Timor Leste, Aristides Sousa Mendes); Régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona; ex-alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67); vive desde 1975 em Nova Iorque, em Queens; é casado, desde 2013, com a nossa amiga eslovena, Vilma Kracun, foto ao lado]

Date: quarta, 8/04/2020 à(s) 20:56

Subject: Um duplamente sentido abraço de Páscoa

Caro Luís Graça, e (se tal possível,) saudosos amigos e camaradas da Guiné, da Tabanca Grande e demais Tabancas:

Sentado no sofá em frente à TV, amargurado , direi mesmo furioso pelo desenrolar das notícias que saem do ecrã, tristes na maioria, seguem-se umas às outras, cada qual delas a mais horripilante: o número de mortes nas últimas 24 horas; as cenas nos hospitais mostrando os corredores apinhados, médicos, enfermeiros/as que fazendo das tripas coração, com uma coragem e heroísmo e dedicação sem limites além de anjos de salvação , são ou representam também os entes queridos cuja presença é tão necessária em momentos assim mas que aí não podem estar; ambulâncias desenfreadas, hospitais "ad hoc" por todos os cantos...

Vejo o apresentador do programa na TV que tenta animar , encorajar e motivar os espectadores, e fá-lo com mais autoridade do que ninguém: de rosto emagrecido e de olhos cavernosos já,— ontem, para melhor explicar e fazer compreender aos espectadores o que é esta doença, não duvidou sequer em mostrar no seu programa os raios X dos seus próprios pulmões, mostrando os resultados e sinais da luta que ele mesmo desde há quase duas semanas vem travando com o coronavírus.

O seu rosto, como o seu nome, é bem conhecido: chama-se Chris Cuomo, irmão do actual governador do estado de Nova Iorque; enquanto o seu irmão Andrew Cuomo , seguindo o exemplo do pai Mario Cuomo, antigo governador, escolheu a política, Chris escolheu e segue o jornalismo como profissão.

Neste momento, de sua casa, agora completamente isolado, continua o programa de notícias e comentários que sigo há anos já. E, se já antes tinha boa impressão dele e de seu irmão, agora não tenho palavras para os descrever: especialmente porque cada um no seu campo com a sua coragem, honestidade e idoneidade contrastam e fazem realçar a veleidade, direi mesmo a malvadez de muitos, especialmente daqueles que nestes momentos difíceis não só não fazem o que deles se deve esperar, como pelo menos aparentemente, se aproveitam desta situação para proveito pessoal.

Não te vou descrever o que vai por aqui, pois sei que todos estão mais ou menos informados da situação. Apenas direi que no que me diz respeito, quer eu queira ou não, por mais "valente" que eu queira ser não posso negar a apreensão e medo que me invade noite e dia: por mim, por minha esposa, pelos meus filhos e netos, os meus filhos trabalhando em casa, os meus netos estudando em casa, cada um e todos apoiando-nos uns aos outros, mas todos também sempre apreensivos, que todos os cuidados nunca são demasiados.

Além da TV, alguns jornais e o nosso blogue ajudam-me a passar o tempo. Eu subscrevo o "Expresso" e, pelo menos "por alto", por ele sigo as coisas em Portugal. E digo "por alto" pois eles enviam amiúde , via E mail" o "Expresso Curto" :um resumo das notícias do dia. É um bom serviço e permite a quem quiser mais detalhes acesso aos artigos completos no momento. E digo no momento pois se não fôr na altura, e quisermos acesso noutra altura, a coisa já é mais complicada. Ao contrário do New York Times e outros jornais "on line" que assino e cujo acesso é muito fácil, o acesso ao Expresso tem que se lhe diga…não sei porquê, mas por vezes mesmo com muita vontade e paciência "não dá" para entrar. Pelo menos é o que sucede comigo.

Hoje dois assuntos me tocaram de maneira especial: primeiro a mensagem do nosso camarada Patrício Ribeiro: "viagem a Mansoa e Bafafá" , com várias fotos de estradas, agora pavimentadas, bolanhas e outros coisas que me fizeram suspirar… Quando tal sucede, logo me vem a ideia de que um dia talvez ainda lá dê um salto para "matar saudades" … Quem me dera poder ir até Missirá comer uma "galinha à cafreal", passar por Mato Cão e Enxalé, dar um salto a Porto Gole, ver de novo o Geba, apanhar e mandar assar uns peixes do rio que, fazendo de variação ao sempre presente feijão frade ou grão de bico com bacalhau seco, tão bem nos sabiam…

O outro foi um artigo no "Badaladas" , sobre Varatojo e a versão invulgar de "isolamento" dos frades franciscanos aí residentes. Fiquei tão entusiasmado que peguei no telefone e liguei para o Frei António Castro, autor do artigo. Ficou surpreso e contente por eu já ter lido o jornal a que eles só vão ter acesso amanhã…

Foi ocasião para uma troca de impressões e um abraço de Paz e Bem, que enviei também ao Padre Vítor Melícias e aos outros meus irmãos ( que eu também passei por lá!) que constam na foto que acompanha o artigo. E aproveitei para "alinhavar" uma ideia: caso em Outubro as coisas (viagens, etc) já estejam normais , eu vou aproveitar a ida a Portugal à "nossa" festa programada para 12 de Outubro, para juntar outra vez os Crisóstomos e Crispins no Convento de Varatojo... para uma missa de sufrágio e saudade, seguida de um caldo de galinha ( e mais alguma coisa com certeza) no claustro do Convento….

Logo a seguir liguei para o Director do "Badaladas", (onde saiu o artigo), que também ficou surpreso com uma chamada da Nova Iorque, e ainda por cima de Queens… Logo lhe dei recado/notícia deste encontro no Varatojo e disse-lhe que apontasse o dia na agenda… espero-o ver lá, da mesma maneira que te espero a ti, à Alice e a quem mais dos nossos amigos comuns e camaradas da Guiné, me quiserem dar esse prazer.

E "isto de falar" é como as cerejas… tencionava falar de outras coisas, bem diferentes, mas para não te chatear demais vou deixar para mais logo ou para outra altura…

E se de alguma maneira contactares com os nossos amigos comuns, relacionados ou não com a Guiné: mesmo nestes momentos difíceis que estamos a passar, não esqueço que estamos na Semana Santa: junto-me a todos os que nesta altura com razões agora duplamente sentidas se unem numa prece ardente ao Senhor de sufrágio, especialmente pelas recentes vítimas desta epidemia; e de súplica para dias melhores não só para para todos nós, como para todos os que mundo fora neste momento tanto necessitam da Sua benção de Pai misericordioso.

O braço da Vilma, mesmo sem fisioterapia vai muito bem e até parece estar quase sarado!

Grande abraço,

João e Vilma
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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20783: Tabanca da Diáspora Lusófona (8): Em quarentena em Nova Iorque, combatendo o coronavirus com "Coronita" mexicana e sardinhas de Peniche... enquanto a Vilma tomou a decisão (corajosa) de aprender português e eu a missão (heroica) de aprender esloveno... (João Crisóstomo)

terça-feira, 23 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19709: Estórias avulsas (94): Coitado do meu primo Lino... ou um regresso às memórias da Páscoa da minha infância (Valdemar Queiroz)



A Casa da minha aavó Maria (que data de 1976)


A casa da minha avó Maria, em ruínas (1994)


Fotos (e legendas): © Valdemar Queiroz (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem do  Valdemar Queiroz [ex-fur mil, CART 2479 /CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]:


Date: sábado, 20/04/2019 à(s) 01:27
Subject: Coitado do meu primo Lino


Quando chega Páscoa,  lembro-me sempre do meu primo Lino. Coitado do meu primo Lino.

A casa da minha avó Maria ficava à borda da estrada principal. Havia pouco espaço para espalhar rosmaninho e alecrim, no chão, até à estrada, mas o sacristão sabia que a casa da minha avó Maria queria receber a Cruz do Senhor na visita da Páscoa e que lá haveria umas moedas para a côngrua do senhor padre da aldeia.

A minha avó Maria já tinha posto numa pequena salva de prata uma moeda de 25 tostões (2$50) coberta com um paninho bordado. Uma pequena importância guardada para este dia que o meu primo Lino sabia lá se encontrar e antes que o sacristão a recolhesse ele tirou-a e escondeu no bolso do blusão.

O sacristão estranhou não haver nenhuma oferenda e nem sequer moedas na salva de prata e, embora, tivesse um olhar interrogativo para minha avó, permanecemos ajoelhados de olhos cerrados..

Pouco tempo depois, já o meu primo Lino corria para a Loja do tio Pinto, pra comprar lápis de chocolate e uns rebuçados de bonecos da bola. Pagar seis tostões ($60) com uma moeda de 2$50 seria a mesma coisa que agora pagar um café com 20 €, com a diferença que o Lino teria muita dificuldade em ter uma moeda de vinte e cinco tostões para gastar em guloseimas.

O tio Pinto não lhe vendeu nada e disse-lhe que queria falar com a sua avó. O Lino voltou, a correr, a pôr a moeda no mesmo sítio de onde a tirou.

A minha avó Maria nunca percebeu por o sacristão não ter levado a moeda. E eu nunca soube se o tio Pinto chegou a falar com a minha avó.

O meu primo Lino foi paraquedista na FAP e arranjou lá um problema com pena de prisão. Fugiu para as Ilhas Canárias e alistou-se na Legião Espanhola. Já lá está há mais de 50 anos.

Coitado do meu primo Lino, nunca mais soube dele.

Valdemar Queiroz
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Nota do editor:

Último poste da série > 4 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19549: Estórias avulsas (93): Histórias do vôvô-Zé - As nossas andorinhas (José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp)

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19708: Manuscrito(s) (Luís Graça) (154): Viva o compasso pascal em visita à Tabanca de Candoz


Tabanca de Candoz. Foto de LG (2011)




Viva o compasso pascal
na visita à Tabanca de Candoz!

Mais um ano, mais uma visita
Deste compasso pascal,
É uma festa bem bonita,
E que nunca é igual. 

E que nunca é igual
Logo vem outro, se falta algum,
Renova-se o pessoal,
Que aqui somos todos por um.

Que aqui somos todos por um,
Na alegria ou na tristeza,
Na fartura ou no jejum,
Cabendo todos à mesa.

Cabendo todos à mesa,
Onde não falta o anho assado,
Nesta casa portuguesa,
Onde honramos o passado.

Onde honramos o passado,
O presente e o futuro,
Se alguém está adoentado,
Tem aqui um porto seguro.

Tem aqui um porto seguro,
Damos valor à amizade,
Às vezes o rosto é duro,
Mas o resto é humildade.

Mas o resto é humildade,
Viva o compasso pascal,
E a nossa fraternidade!... 

Boa Páscoa, pessoal! 

Boa Páscoa, pessoal,
Boa saúde e longa vida,
À Ti Nitas, em especial,
Que nos é muito querida!

Quinta de Candoz, 
segunda feira de Páscoa,

22 de abril de 2019
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Nota do editor:

Último poste da série > 19 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19603: Manuscrito(s) (Luís Graça (153): Lembrando hoje o pai, o meu, o teu, o nosso pai...

Guiné 61/74 - P19707: (In)citações (129): Feliz e santa Páscoa, com um abraço transatântico do nosso camarada da diáspora luso-americana José Câmara (ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73)

1. Mensagem do nosso camarada da diáspora luso-americana José Câmara (ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73), com data de ontem, di 21,  16h49:

Caros a migos e familiares,

Ao longo dos anos, nos trilhos das nossas vidas, fomos presenteados com o nosso crescimento para a vida de homens, com a formação das nossas famílias, com a responsabilidade de sermos pais, com o dever sublime de transformarmos a sociedade em que vivemos num mundo melhor.

Nesta quadra Pascal podemos recordar os nossos primeiros passos na Mata dos Madeiros, a manifestaçåo de solidariedade e amizade ao Fur Mil Fernando Silva pelo seu casamento, o acidente do nosso malogrado Manuel Veríssimo de Oliveira. E muito mais!

O Cordeiro Pascal, símbolo da Páscoa, a mais importante manifestação de fé no quadro liturgico das famílias açorianas, porventura de Portugal, não se come nem se bebe. Ele sente-se com a alma, com o coração. Para os crentes Deus é a Vida a Ressurreição.

Nós podemos estar desencorajados pela violência que grassa um pouco pelo mundo, pela falta de cuidados ambientais que atingirão a vivência das gerações futuras. Também podemo-ns sentir desencorajados pela falta de diálogo nos diversos sistemas políticos, pelo divisionismo que isso cria entre os cidadãos, pela separaçåo volenta das famílias, pela fome que graça pelo mundo. Que dizer das mortes provocadas pela droga, flagelo que mais atinge a nossa juventude? Mas nem tudo está perdido. Esperança da Vida, Jesus ressuscitou dos mortos.

Na Ressurreição de Jesus temos o exemplo que tudo é possível se soubermos ser fortes nos únicos direitos que Ele, na sua infinita bondade, nos legou: amar, respeitar, cumprir.

Que todos vós tenham uma Feliz e Santa Páscoa.

Abraço transatlântico,

José Câmara
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Nota do editor:

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19695: Manuscrito(s) (Luís Graça) (154): Feliz Páscoa 2019, da Tabanca de Candoz para todos os demais tabanqueiros


Marco de Canaveses > Paredes deViadores e Manhncelos > Candoz > Tabanca de Candoz, 11 de setembro de 2011. Autorretrato.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados. [Edição: : Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Feliz Páscoa de 2019: da Tabanca de Candoz para todos os demais tabanqueiros


Já lá vem, em festa, p’la estrada fora,
O compasso pascal da freguesia,
Chega à nossa casa mesmo na hora,
E a todos saúda com alegria.



Mais do que a tradição, é a certeza
De que a Páscoa é também renascimento,
E há sempre mais um lugar à mesa,
Para nosso geral contentamento.

Se não for preenchido, é o dos ausentes,
E, em especial, o dos nossos mortos queridos;
Aos que vieram e estão aqui presentes,

Saibam que nós ficamos muito honrados.
E, aos do compasso, diremos, reconhecidos:
Tenham um dia feliz, mesmo… estourados!



Quinta de Candoz, 19 de abril de 2019,

O(s) régulos(s) da Tabanca de Candoz



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domingo, 1 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18475: Efemérides (271): A minha Páscoa no mato, há 45 anos (José Claudino da Silva, ex-1º cabo cond auto, 3ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (1972/74) > 1973 > O José Claudino da Silva junto a cartaz d parede com os dizeres: "Páscoa Feliz, Os Serrotes, Fulacunda".

Foto: © José Claudino da Silva  (2017(. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Publicação do capº 53 do próximo livro (na versão manuscrita, "Em Nome da Pátria") do nosso camarada José Claudino Silva [foto atual à direita]
(i) nasceu em Penafiel, em 1950, de pai incógnito" (como se dizia na época e infelizmente se continua a dizer, nos dias de hoje);

(ii) foi criado pela avó materna;

(iii) reside na Lixa, Felgueiras;

(iv) é vizinho do nosso grã-tabanqueiro, o padre Mário da Lixa, ex-capelão em Mansoa (1967/68), com quem, de resto, tem colaborado em iniciativas culturais, no Barracão da Cultura;

(v) tem orgulho na sua profissão: bate-chapas, agora reformado;

(vi) completou o 12.º ano de escolaridade;

(vii) foi um "homem que se fez a si próprio", sendo já autor de dois livros, publicados (um de poesia e outro de ficção);

(viii) tem página no Facebook; é avô e está a animar o projeto "Bosque dos Avós", na Serra do Marão, em Amarante;

(ix) é membro n.º 756 da nossa Tabanca Grande.


2. Efeméries > A minha Páscoa de 1973

Acreditam que foi no Domingo de Páscoa que vesti o camuflado a primeira vez, após a chegada a Fulacunda, ou seja dez meses depois de estar na Guiné?

Apenas o tinha usado na viagem desde Bolama e foi para tirar fotos a 200 metros do quartel. Volto a referir: eu era um sortudo que, embora prisioneiro, estava a passar a comissão sem correr grandes riscos. Foi no Domingo de Páscoa que comecei a perceber que o meu lugar também era ao lado dos meus camaradas.

Se eu recebi bolo-rei no Natal, o Zé Leal recebeu amêndoas na Páscoa e dividimos mais uma vez irmãmente. Foi pena não chegar uma para cada um.

Decerto não me vão culpar por, precisamente no dia em que a Igreja celebra a ressurreição de Cristo, eu argumentar que nem Jesus Cristo estaria tantos meses sem ter uma mulher.


Se me acusam de pecar, experimentem com aquela idade só verem mulheres nas revistas. Uma coisa vos digo, embora ainda me faltasse cerca de um mês para vir de férias, o que entretanto ia escrevendo, hoje dá vontade de rir.

“Quando eu for podemos ir à festa do S. Gonçalo, Santo António, S. João e S. Pedro mas uma coisa te aviso já, não admito que esse António pai da Ana vá connosco, quero passear contigo livremente. Que ridículo dizer aos teus pais que por eu estar aqui 11 meses era perigoso deixar-te sozinha comigo. Somos suficientemente grandes para ter liberdade de ir a festas sozinhos”.

Acham que fomos? Nem pensar!

Sabendo o que sei e o que passei, não queria estar no lugar dos pais que tinham filhos na guerra colonial mas, convenhamos que também ter filhas não era nada fácil. Já me debrucei sobre este assunto e quanto mais leio, mais me apercebo de que muitos sonhos de namoro foram por água abaixo e muitos corações ficaram destroçados pela distância. Daí me referir ao cuidado que os pais tinham na liberdade que davam às filhas que namoravam com soldados. Era mesmo muito mau. Mas havia outra faceta.

A Páscoa passada pelos nossos familiares por exemplo.

“Meu amor dizes-me que tu e os teus pais passaram um dia de Páscoa muito triste! Devia ser pois teres um irmão em França, outro em Angola e eu aqui não é fácil de aguentar, infelizmente este é o nosso destino. Também a minha avó me tem dito que sem mim as festas anuais só lhe servem para chorar”.

Ao menos, havia sempre quem tivesse… madrinhas de guerra.

O meu amigo Silva arranjou uma. Começaram a escrever um ao outro, cada vez mais assiduamente, e enquanto umas paixões se desmoronavam, outras se iam solidificando. A dele foi uma dessas.

Passámos muitas noites juntos a fazer reforço, contava-me os sonhos que tinha quando regressasse. Penso que conseguiu mais do que imaginava. Lembro-me de lhe ter dado algumas dicas de namoro e referi-me à miúda, que conheceu por fotografias, de ser bonita. Estive com ele esta semana. Ainda está casado com a madrinha de guerra, é claro.

Excerto do manuscrito "Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74)"
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Nota do editor:

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17251: Blogpoesia (505): "Não Sei Quantas Almas Tenho", por Fernando Jesus Sousa (DFA), ex-1.º Cabo da CCAÇ 6



1. Mensagem do nosso camarada Fernando de Jesus Sousa (DFA), (ex-1.º Cabo da CCAÇ 6, Bedanda, 1970/71, autor do livro de poemas "Sussurros Meus"), com data de 16 de Abril de 2017, com este poema de sua autoria:

Com este poema deixo para todos os meus amigos, desejos de uma Páscoa feliz.
Fernando Sousa


Não Sei Quantas Almas Tenho

Como nunca saberei bem quem sou,
Espero que o destino me deixe ver.
Não sei mesmo para onde vou,
Nem quantas almas gostaria de ter!

Nascido numa terra que bem conheço,
À qual julgo que sempre irei pertencer.
Tenho sérias dúvidas se a mereço,
Porque nela já nem sei viver!

Tenho uma alma que vagueia perdida,
Apenas na mente a consigo encontrar.
Na terra tenho uma alma sofrida,
Cada vez mais perto do meu olhar!

Tenho uma outra alma renascida,
Outra ainda que me faz cantar.
Tenho uma alma grande com vida
Para quem me ama e me deixo amar!

Tenho aquela que vive no meu peito,
Que alegremente faz mover o meu moinho.
Outra em que dias e noites me deito,
Mesmo que na solidão adormeça sozinho!

Porém, não sei quem sou nem de onde venho,
Sei que apenas tenho, uma vida para viver.
Não sei quantas almas eu tenho,
Nem quantas mais gostaria de ter!

27/7/2015
Fernando Sousa
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17225: Blogpoesia (504): "Do zero ao infinito..."; "Milagre ou não..." e "Estilhaços de verniz...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

domingo, 16 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17248: Manuscristo(s) (Luís Graça) (115): O compasso pascal

Soneto em honra do compasso pascal da Madalena

por Luís Graça


Aleluia, Cristo ressuscitou!,
Apregoa o compasso pascal,
Que hoje nesta casa nos visitou,
E a todos nos juntou neste local.


É uma das ruas da Madalena,
Que tem nome do nosso primeiro rei,
E eu, quando não posso vir, tenho pena,
Porque a Páscoa é aqui, isso eu sei.


Lá vai o compasso pela rua fora,
Sem freima, com prazer e devoção,
Com ordem, em festiva procissão.



À frente vai a cruz e uma senhora,
E outra porta se abre, ali na hora…
Até p’ró ano… e viva a tradição!



Madalena, V. N. Gaia, 
domingo de Páscoa, 
16 de abril de 2017
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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17164: Manuscrito(s) (Luís Graça) (114): No Dia Mundial da Poesia... Quem não faz 69, não chega aos 100!

terça-feira, 5 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15941: Atribulações de Soldado de há 50 anos. Esforço de Memória da Semana Santa e do Domingo de Páscoa de 1966, em Camajabá (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705,  Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66), com data de 28 de Março de 2016 com uma memória da Páscoa de 1966:


ATRIBULAÇÕES DE SOLDADO DE HÁ 50 ANOS

Esforço de Memória da Semana Santa e do Domingo de Páscoa de 1966, em Camajabá (Leste da Guiné)…

Narrativa dedicada aos camaradas que tarimbaram em Camajabá e Buruntuma, nomeadamente ao Abel Santos, José Fernando Estima, Abreu dos Santos, Eduardo Ferreira Campos, Jorge Gabriel, Ricardo Costa, Carlos Costa, José Campos Pontinha … que partilharam as suas vivências através deste blogue.

Naquele tempo, Buruntuma era uma tabanca de fulas e mandingas, um triângulo de território encravado na República da Guiné, domínio do régulo de Canquelifá, que aparecia à moda de cavaleiro, montado num belo cavalo, escoltado por escudeiros armados de G3, em visita de cortesia sentimental à formosa, escultural, evoluída e descontraída fula, uma das suas mulheres legítimas, segundo o Corão.

O Comandante Domingos Ramos fora encarregado de reactivar a Frente Leste, que Vitorino Costa falhara, antes de ir morrer a Fulacunda, com práticas de puro terrorismo contra as populações fulas, e a nossa CCav 703 foi transferida de emergência para lá, em finais de Maio de 1965, directamente da “Operação Razia” à mata de Cufar Nalu, na qual participava como força de intervenção às ordens do Comando-Chefe, para reforço e, depois, em rendição da sua guarnição, um pelotão de malta rija e valente, comandado pelo Alferes Vinhas, sou ignorante quanto a mais dados.

Buruntuma era cortada a meio por uma “estrada internacional” de terra batida Bissau-Nova Lamego-República da Guiné, a servir de divisória às comunidades fula e mandinga, ladeada de casas de arquitectura colonial, frontais às tradicionais moranças circulares cobertas a colmo, destacando-se a casa da PIDE e a vivendazinha de planta quadrada e de cor amarelada da Guarda Fiscal, idêntica à que depois vi implantada na praia de Leça, a tradicional barreira tubular e, na margem do pequeno rio Piai, campeava uma placa de betão: do nosso lado avisava Republique de Guineé; do lado oposto avisava República Portuguesa /Província da Guiné, emendando na estrada alcatroada, para Kandica, Saraboido e Koudara com derivação para Conacri.

Estrada internacional Bissau-Nova Lamego-Piche-Camajabá-Buruntuma-República da Guiné

Estávamos na época das chuvas, subiu-se ao cume do telhado mais alto para observar a vizinhança, reconheceu-se a ameaça de um par blindados Panhard ou parecidos, o Shirley, furriel sapador, afadigou-se na confecção de um potente fornilho e escolheu-se o melhor sítio onde escavar o buraco do seu enterro. Toda a gente em alerta, bazuqueiros e as suas “granadas de efeito dirigido” em prontidão, o capitão tornou-se guardião do explosor de accionamento eléctrico do fornilho – seria mais uma, das já muitas noites sem sono. O céu começou a descarregar água aos cântaros sobre estes pobres de Cristo, os raios e coriscos da tempestade tropical a incendiarem-no, um dos ditos percorreu o curso do cabo condutor até ao fornilho – e que tremenda explosão! Veio o dia e duas constatações: uma grande cratera e horizonte livre de blindados.

Camajabá situava-se nessa “estrada internacional”, a meio caminho entre Ponte Caium e Buruntuma, um deserto de apenas três moranças e um pontão de betão sobre o rio do mesmo nome, a sua valia estratégica, uma espécie de apólice de seguro para a subsistência da guarnição de Buruntuma. A guarnição de Camajabá, assim como a da Ponte Caium era destacada da CCaç 727 e das milícias de Canquelifá, malta tão fixe quanto azarenta – cada tiro cada morto sofrido – cujo comandante se distinguia como poeta, o então Capitão Miliciano Evóneo de Vasconcelos, recentemente falecido.

A duração máxima do destacamento de Camajabá não ultrapassava as três semanas e passara a rotativo da CCS do Batalhão de Nova Lamego, da CCaç de Canquelifá e da CCav de Buruntuma. Não obstante as ameaças, ainda não fora atacado, enquanto a sua milícia se distinguia a infernizar a vida aos militares europeus. A sua pequena guarnição averbava o suicídio de um alferes e o enlouquecimento de um segundo sargento. Chegara-me ao conhecimento de que os comissários do PAIGC em missão de doutrinação, procuravam abastecer-se do nosso tabaco e cerveja junto de milícias de Camajabá.

Pelas minhas funções de “apsico” e comandante de dois pelotões de milícia, em permanência às suas actividades específicas, estava excluído da escala para esse destacamento. O último da CCav 703 caberia ao Furriel António Moreira, a regressar de férias; mas ele encalhara em Bissau, de baixa ao Hospital Militar, com os intestinos infestados de bicharada, doença de nome difícil, quiçá uma amebíase (está correcto, Luís Graça?). Entramos na Semana Santa, o Furriel Simas foi escalado para o meu lugar, fui escalado para secção do Moreira e mais uns reforços, subimos para a caixa de carga de uma Mercedes, e fizemo-nos ao caminho da descida ao inferno de Camajabá.

A manhã findava e a rendição foi expedita, sob o impacto do alívio dos rendidos, alvos do escarnecimento por parte de alguns graduados da milícia, que a seguir reagiram refractários ao escalamento de segurança, da ida à água, à lenha ou a jornadas de capinação.

Chegávamos ao fim da comissão num estado de fraqueza geral, eu sair de uma crise palúdica com o peso de 39 kg, e ante aquele desafio. Passei a mensagem de um “olho no cigano e outro no burro” e a malta soube descodifica-lo. Seguiu-se uma tentativa de sublevação, que não terá redundado em carnificina por estarmos bem armados e melhor capacitados para passar ao seu o melhor uso (a milícia era dotada de Mauser) e tive de prender literalmente 7 deles e despachá-los para Nova Lamego.

Chegamos à sexta-feira santa, o ambiente serenara, a disciplina regressara, acabara com a discriminação, instituindo rancho igual para todos, reciclando o meio bidão para a sua “bianda” em caldeirão da cozinha comum; tínhamos acabado de almoçar uma caldeirada de peixe bem picante, que mandara recolher no rio, efeito de lançar uma granada ofensiva no troço que me pareceu mais fundo, (ignorava a ecologia), o cabo que acumulava a metralhadora Breda com a cozinha, acabava de nos fazer rir, ao dizer que se lhe arranjássemos um cabrito, cabra ou cabrão, algumas cebolas e alhos, nos faria um estupendo pitéu para o domingo de Páscoa e aproxima-se um ciclista fardado de cipaio, vindo dos lados da Ponte Caium, que declarou arranjar tudo ao mesmo tempo que me dava um discreto sinal para um aparte.
- Ensina-me a andar de bicicleta – disse-lhe.
Montei o selim, com ele a segurá-lo, percorremos um bocado da estrada e ele disse-me:
- Bandido vem atacar na noite de sábado, para vos apanhar à mão.
- Como soubeste?
- Estão em Koundara (base-mãe do PAIGC), soube agora e não disse nada a ninguém.
- Então não digas; eu digo.

Reunidos aos outros dei-lhe 50 pesos por conta desse material, que protestou entregar no dia a seguir, Sábado de Páscoa.
Eu e outros dois fomos dar uma volta de reconhecimento a todo descampado em volta do destacamento. Como a fronteira distava menos de 20 km, calculei a montagem do cerco para a meia-noite de sábado. Os calafrios perseguiam-me; a duas semanas de ir embora teria o azar de defrontar sozinho o experiente ex-camarada Domingos Ramos? Topamos um rolo de arame de tropeçar intacto junto a uns montes de formiga baga-baga e aproveitamos para implantar duas granadas. O arame de tropeçar servirá para armadilharmos um bosque de cajueiros, fronteiro ao estacionamento. Uma dessas granadas rebentou logo ao anoitecer.

Ao fim da manhã do dia seguinte, surgiu-nos o ciclista, então desfardado de cipaio, com uma cabrita, cebolas e alhos, embolsou mais 120 pesos e desandou, e eu pedi-lhe para me deixar uma manga de câmara de ar de bicicleta. Só então decidi comunicar a notícia ao comando.

Na madrugada daquele domingo de Páscoa, os nossos cerca de 20 milícias islamizados começaram a alarmar-se ante visão de “irãos”, quais pirilampos, observados da caixa de carga de uma Mercedes cujo motor fora destruído por uma mina, a servir-nos de posto de observação e de espaldão elevado. E umas morteiradas devidamente calculadas foram suficientes para afugentar esses “irãos”.

Ironias que a vida e as suas circunstâncias tecem. Naquele domingo de Páscoa de 1966, a tropa europeia e os milicianos nativos da guarnição de Camajabá, ao partilhar o almoço de um aprimorado estufado de cabra, não lhes terá passado pela cabeça que a oportunidade fora-lhes propiciada pelo comandante da guerra na Frente Leste – o ex-Furriel Miliciano Domingos Ramos.
E para a malta da CCaç 1418, que nos rendeu em Camajabá. Para que nos terá servido aquele troço da câmara de ar, cedido pelo ciclista? Para herdarem de nós a bateria de chuveiros de banho, que encontraram a funcionar plenamente…

Anos depois, o Moreira contou-me que não regressara a Buruntuma (para não ir para Camajabá), não se tratar da bicharada intestinal, mas porque alguém lhe conseguira para a análise a amostra da merda de um doente verdadeiro e a fizera passar por sua…
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