quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19135: Efemérides (293): Homenagem aos paraquedistas que completaram 50 anos de brevet (1968-2018): Tancos, 27 de setembro de 2018 (Jaime Bonifácio Marques da Silva, ex-alf mil pára, 1ª CCP/BCP 21, Angola, 1970/72)


Tancos, Regimento de Paraquedistas > Monumento aos mortos em combate > Inaugurado em 3 de julho de 1968... O conjunto arquitetónico é da autoria do arquiteto Aleixo Terra da Mota; a  escultura é de Domingos Soares Branco; e a pintura e a decoração são de Hernani de Oliveira.

Foto (e legenda): © Jaime Silva (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem, com data de ontem, de Jaime Bonifácio Marques da Silva, membro da nossa Tabanca Grande, natural de (e residente em) Seixal, Lourinhã, preofessor de educação física, docente reformado do ensino superior politécnico, ex-alf mil pqdt, BCP 21, Angola, 1970/72 [, foto à esquerda]


Caro Luís
Vai aqui o texto de que te falei.
Vê se se adequa ao espírito do blogue.
Vai foto, se bem que poderás encontrar melhor na Net.
Abraço, Jaime.



Regimento de Paraquedistas, Tancos,- 27 de setembro de 2018


HOMENAGEM AOS PARAQUEDISTAS QUE COMPLETARAM 50 ANOS DE BREVET 1968 – 2018: Cursos 45.º, 46.º, 47.º, 48.º, e o 8.º de Enfermeiras Paraquedistas.


No passado dia vinte sete de setembro o Regimento de Paraquedistas e a União Portuguesa de Paraquedistas homenagearam os paraquedistas que completaram 50 anos de Brevet (Cursos 45.º, 46.º, 47.º, 48.º, e o 8.º de Enfermeiras Paraquedistas).

Esta cerimónia realiza-se anualmente desde que o 1.º Curso (1955) comemorou os seus 50 anos (2005).

Este ano tive o privilégio de estar presente a convite do meu camarada e amigo Joaquim Maria Inácio. Fizemos parte do 3.º Pelotão da 1ª CCP do BCP 21 em Angola e durante os dois anos de comissão cimentámos a nossa amizade nas dificuldades que fomos ultrapassando nas operações de combate realizadas no Norte e Leste de Angola.

HOMENAGEM AOS PARAQUEDISTAS MORTOS DO 46.º e 47.º CURSO

O programa do encontro incluiu uma cerimónia de grande significado cívico e de recolhimento junto ao monumento erguido no Regimento em memória dos Paraquedistas mortos durante a Guerra do Ultramar pertencentes ao 46.º e 47.º Curso de paraquedistas: A “chamada dos mortos” em combate, respondendo os participantes na cerimónia – PRESENTE – sempre que cada um dos nomes era “chamado”.

Relação dos paraquedistas que tombaram na guerra
i) Curso n.º 46:

BCP 31: 

Alf. Mili. Pára Luís Filipe Corte Real – 19.12.19 (CBT)

Sol/Pára Engrácio de Jesus Meio Tostão rato – 21.2.1970 (ACV)

BCP 21:

Sol/Pára Ernesto Rocha Casaca – 20.2.1971 (CBT)

Sol/Pára Joaquim Ferreira Fonseca – 17.6.1970 (CBT)

Sol/Pára Vitalino da Silva Gomes – 16.6.1970 (CBT)

Sol/Pára António da Silva Ramos – 25.6.1970 (CBT)

ii) Curso n.º 47:

BCP 12

1.º Cab/Pára Gabriel Parreiras Campilho- 26.3.1970 (CBT)

Foi um momento de grande emoção para todos os presentes que têm bem viva na memória os amigos que tombaram a seu lado.

O primeiro nome a ser “chamado” foi o do Soldado Paraquedista António da Silva Ramos do 46.º Curso e que tombou em combate a 25.6.1970. Pertencia ao meu Pelotão – 3.º Pelotão da 1ª  CCP do BCP 21.

O Ramos foi abatido numa operação que decorreu nos Montes Mil e Vinte, na região do Onzo, no Norte de Angola. Recordo-me dessa operação como se fosse hoje: Dois aviões da FAP (Fiat G91) lançaram quatro bombas de Napalm sobre o acampamento IN, ao mesmo tempo que o helicóptero SA 330 se aproximava do objetivo e largava o meu grupo de combate nas imediações do mesmo.

O Pelotão atuou de acordo com Ordem de Operações que tinha recebido: assaltar, destruir, capturar. Enfim, o trivial para as circunstâncias. Percorremos parte do acampamento (um dos maiores que já tinha visto) e decorrido pouco tempo, o grupo foi atacado, resultando daí a morte do Ramos (o único morto do pelotão em toda a comissão).

Depois da evacuação do corpo do Ramos pelo Helicóptero (Aluette 3), percorremos a zona, montámos nova emboscada e pernoitámos no local. No dia seguinte, quando nos preparávamos para abandonar a mata a fim de preparar o local para o Heli nos recolher, fomos fortemente atacados pelos guerrilheiros que nos tinham emboscado. Foi um dos momentos mais delicados que o 3.º pelotão teve para resolver durante a comissão, no confronto com os guerrilheiros.

Sem qualquer réstia de tiques de heroísmos injustificáveis hoje, como sempre, estou seguro que nesse momento veio ao de cima toda a mentalização psicológica e o resultado do treino duro a que os paraquedistas foram sujeitos durante a instrução. Lembro-me do comportamento de dois homens nesse momento: Um, homem com “H” grande,  e outro (e não era soldado) com “h” bem pequeno. O primeiro foi o Cruz, o HOMEM da HK 21 (o outro!).

Enfim, memórias vivas que só a morte se encarregará de levar!

Ainda hoje me interrogo, como responsável por aquele grupo de jovens como eu, o que poderia ter feito para que o Ramos não tombasse e o Santos não pisasse a mina que lhe levou a perna!


MONUMENTO AOS MORTOS EM COMBATE
REGIMENTO DE PARAQUEDISTAS EM TANCOS


Não posso deixar de registar o quanto significa para nós Paraquedistas, aquele Monumento. Vi-o, pela primeira vez, em julho de 1969 quando entrei no RCP para fazer provas de acesso ao curso de paraquedismo, vindo da EPI [, em Mafra,] e reparei que todos os militares, quando passavam na sua frente, faziam a continência. Foi- me explicado o seu significado e simbologia pelo Diretor do meu Curso o, então, capitão António Ramos.

No entanto, a apreensão do seu verdadeiro significado só foi interiorizado quando regressei a Tancos após ter cumprido a minha comissão de serviço. Nessa altura, sim: quando olhei para aquele monumento senti que podia ser eu, também, um dos que tombaram. Só a vivência da guerra e a morte dos camaradas ao nosso lado no mato, nos fazem fazer compreender verdadeiramente a essência do seu significado.

Aquele monumento, ao evocar a memória daqueles que tombaram, honra os Paraquedistas e lembra a todos os que por ali passarem, o sacrifício de uma juventude que deu o melhor de si mesmo à sua Pátria - a sua vida. E não foram, assim, tão poucos os que tombaram em cada um dos três teatros de operações onde combatemos:

Durante a Guerra do Ultramar morreram 210 Paraquedistas.  Guiné – 67. Angola 65. Moçambique - 78.

O Monumento aos Mortos em Combate foi inaugurado em 3 de julho de 1968 com a presença do Presidente da República Almirante Américo Tomás. À data, o Comandante do RCP era o Coronel Paraquedista Mário Monteiro Robalo que, a determinada altura do seu discurso, disse:

“(...) Ficaram mais pobres as suas famílias, com a sua morte.
Ficou mais rica a terra portuguesa, com o seu sangue.
Mas ficou-nos, sobretudo, a todos o exemplo da grandeza do seu sacrifício.
Sacrifício que não podemos permitir que se venha a tornar inútil, que não poderá ser, jamais, traído!

(…)Há que fazer opções sobre a aplicação mais rentável de, pelo menos, uma parte da nossa juventude.” (in: “BOINA VERDE” – Setembro de 1968)



Até parecia que o Comandante adivinhada o desfecho da inutilidade daquela guerra!

Como nota final: O conjunto arquitetónico foi da autoria do Arquiteto Aleixo Terra da Mota. A escultura de Domingos Soares Branco. A pintura e decoração de Hernani de Oliveira.

Na base do monumento a inscrição: “AQUELES EM QUEM PODER NÃO TEVE A MORTE”

Jaime Bonifácio Marques da silva

(Ex- Alf. Paraquedista - 1ª CCP / BCP 21, Angola, 1970/72)

Guiné 61/74 - P19134: Historiografia da presença portuguesa em África (134): Relatório referente ao uso e costumes dos indígenas da Região de Farim (Mário Beja Santos)

Farim
Imagem extraída do site Trip Suggest, com a devida vénia


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Abril de 2018:

Queridos amigos,
A governação de Vellez Caroço está relativamente bem documentada, desde a atividade de operações militares, às ideias de desenvolvimento e fomento, mandou abrir estradas, criar bairros, escolas, etc.

Armando Tavares da Silva refere no seu livro, a páginas 795, que a área da justiça mereceu a atenção do governador, dizendo “Para proporcionar a sua regular aplicação no meio indígena, são criados, nas sedes de circunscrição, Tribunais Indígenas, presididos pelo respetivo administrador, assistido por dois assessores indígenas com voto consultivo” e em nota de rodapé refere que "a Junta Consultiva de Justiça Indígena funcionava em Bolama, composta pelos secretários dos negócios indígenas, pelos dois inspetores de Circunscrição Civil e pelo Delegado do Procurador da República na Comarca da capital.”.

Assim sendo, ganha claridade este relatório do administrador da circunscrição de Farim quanto aos intentos e argumentos utilizados nas respostas.

Um abraço do
Mário


Relatório referente ao uso e costumes dos indígenas da região de Farim

Beja Santos

Este relatório é assinado por Caetano Barbosa, Administrador da Circunscrição Civil de Farim e tem a data de 20 de dezembro de 1924. Está nos Reservados da Sociedade de Geografia de Lisboa. Diz responder à Circular n.º 6 desse ano, procurei no Boletim Oficial, nada encontrei, seguramente, e tendo em consideração o teor da resposta, Bolama insistia em saber as formas de aplicação da justiça e para isso solicitava ao Administrador elementos sobre organização familiar, poder paternal, entre outros elementos, centrando-se nas práticas da justiça.

Começa por dizer que a população de Farim é constituída pelas raças Fula, Mandinga e Balanta, havendo ainda um pequeno número de Brames e Futa-Fulas, imigrantes. Os homens são polígamos. O casamento consiste em um ajuste ou contrato entre o grande (pai, tio ou outro membro da família, reconhecido como venerável) da mulher e o grande do homem. O Mandinga contrata o casamento da sua filha ainda criança de peito, e quando o faz já em idade casadoira ela não é consultada. O nubente tem que trabalhar e dar pequenos presentes até que a rapariga tenha idade, e só então dá o verdadeiro presente de casamento para receber a sua mulher, que muitas vezes leva filhos. O tio, irmão do pai da nubente, tem sempre conhecimento do ajuste, é ele que trata do casamento.

O Fula e o Futa-Fula imitam hoje o Mandinga, o contrato de casamento é muito semelhante ao do Mandinga. Os Balantas e Brames nunca impõem às filhas determinado marido, podendo contudo dar indicações, mas elas podem recusar.

Falando do poder paternal, direitos sobre filhos legítimos ou legitimados, no caso dos Mandingas e Fulas, o relator observa que só o pai tem direito sobre os filhos, a mãe não tem direito mesmo pela morte do seu marido. São legitimados os filhos de mãe solteira cuja mãe venha a casar com o pai dos seus filhos ou com outro qualquer e os filhos de pais que não tenham até então pago os presentes mas que sejam os seus grandes a fazê-lo.

Filhos ilegítimos são aqueles de mãe solteira ou de pais casados e de viúva que a família não tenha recebido os presentes.

Entre o Balanta e o Brame, as mulheres solteiras que tenham filhos deixam-nos em casa dos pais delas quando vão casar e o marido nunca terá direitos sobre estes filhos anteriores.

Abordando a questão da propriedade, o Administrador afirma não haver verdadeiro regime de propriedade entre os Mandingas, mas nas povoações onde vivem é-lhes reconhecido, sobre os lugares de lavor, direitos que passam para os herdeiros. Perdem esses direitos quando se mudam para outra povoação. Consideram as mulheres e os filhos como propriedade.

Todo este vasto introito precede a análise da justiça nativa e uma possível adequação do Código Penal então em vigor. Diz o relator que quase todos os delitos entre indígenas eram castigados pelos régulos, chefes e grandes, e por meio de pesadas multas ou confiscação dos bens. De acordo com as observações do Administrador, as penalidades dos factos criminosos revertiam para o bolso dos régulos e dos gerentes, era frequente o confisco dos bens. Diz mesmo que o indígena prefere pagar grandes multas que ir para a prisão, aceita fazer trabalho e não pagar nada. E escreve:  

“O código que se pretende fazer é de uma necessidade única para a boa administração da justiça, uniformizando as resoluções das questões indígenas em todas as circunscrições. Vou enumerando pelos artigos do nosso Código Penal os delitos devido ao seu grau de civilização e indicando a pena que se deve ser aplicada. Nem todos os crimes que entre nós correspondam a pena maior podem ser classificados assim para com os indígenas. A todos os crimes não enumerados a seguir, devem ser aplicadas as penas do nosso código penal”.

E fala nos casos de prisão correcional que se pode saldar não em prisão propriamente dita mas em trabalho para o Governo. É um documento que concita uma enorme curiosidade pois vai referindo sucessivos artigos e parágrafos do Código Penal exemplificando situações de pena de prisão para grandes ou chefes de morança que prendam ou mandem prender sem ter poderes para o fazer, régulos que tenham retido alguém preso empregando violência ou ameaças, as autoridades indígenas que tenham cometido suborno e corrupção, os particulares que tenham sujeito a cativeiro algum homem livre, espraia-se por três longas e espessas páginas e termina dizendo que “para resolução de questões entre indígenas deve haver um tribunal composto de três membros que serão escolhidos entre os grandes de cada raça, isto é, para uma questão entre maometanos serão nomeados os membros da mesma seita, e assim com as outras raças. As audiências devem ser quinzenais e com assistência do administrador. As nomeações ou escolha de membros pode ser feita por cada questão, para evitar corrupções. Julgada uma causa, se no fim de trinta dias não for contestada, é considerada definitiva. Para questões contestadas deverá haver um tribunal composto de régulos ou chefes. As questões serão registadas em livro próprio. Os crimes devem ser julgados sumariamente pelo Administrador, havendo apenas um livro para registo. A questão mais difícil será quanto aos grumetes ou indígenas que se dizem civilizados e que querem ser tratados hoje como civilizados, mas para isso creio que há só uma forma de os qualificar que é considerar a todos que não sabem ler nem escrever a nossa língua como indígenas. É tudo quanto me oferece informar sobre o assunto”.

Documento curioso, devia merecer a atenção de um historiador, tratar-se-á possivelmente do propósito de um governador em querer ouvir os seus administradores para que fossem adotados critérios de aplicação de justiça, à luz do código penal existente.


Comércio de Farim
Imagem extraída do site Trip Suggest, com a devida vénia 
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19067: Historiografia da presença portuguesa em África (132): Um administrador de Fulacunda reticente às ordens do Governador Carvalho Viegas, 1935 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19133: FAP (112): Há aviões... e aviões, há o Cessna 152 e o Dornier, DO 27 (E. Esteves de Oliveira)


Foto nº 1 > Cessna 152


Foto nº 2 > Dornier [DO] 27

Fotos (e legendas): © E. Esteves de Oliveira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de E. Esteves de Oliveira, nosso camarada e leitor:

Data: domingo, 9/09/2018 à(s) 21:14

Assunto: HÁ AVIÕES... E AVIÕES

Camarigueiro Luís Graça,

Um alfa-bravo para começar.

Para continuar: nem de propósito, esta tarde estive com os meus netos na BA 1, Granja do Marquês, e, chegado a casa, abri o blog da Tabanca Grande - agradável surpresa! O álbum de fotografias do Virgílio Teixeira: Guiné e aviões, que bela combinação. (*)

Mas o bichinho crítico que vive escondido algures no meu bestunto disparou o alarme na foto nº 8: a avioneta na pista de Nova Lamego não é um Dornier 27, é um Cessna 152.


Foto nº 8 > Nova Lamego, novembro de 1967 > Avioneta civil, dos TAGP, uma Dornier, de 2 passageiros, aterrando em Nova Lamego. (Estas aeronaves faziam voos privados, normalmente para levar ou trazer passageiros, que se deslocam de, ou para, Bissau. A população civil está presente.) (*)

Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/ BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

As diferenças são várias, para lá dos fabricantes e modelos: em cima, na foto nº1 , Cessna, e na foto nº 2,  o Dornier.

Ambos são mono-motores de asa alta e ficamos por aí de parecenças. O Cessna 152 tem dois lugares (piloto e passageiro), trem de aterragem triciclo; o Dornier 27, bem maior e robusto, pode transportar seis passageiros (incluindo o piloto) e tem trem de aterragem convencional. (**)

A memória, por vezes, prega-nos partidas, sobretudo com o avançar da idade. A velhice é uma chatice, não a recomendo a ninguém... (***)

E. Esteves de Oliveira

Ex-oficial miliciano de Infantaria, Guiné 1963-65, Angola 1965-66, Moçambique 1966.

P.S. - Os meus textos são redigidos em profundo desacordo e intencional desrespeito pelo Aborto Ortopédico - perdão! - Acordo Ortográfico.

Visitem o meu blog http://asopadospobres.aboutlisboa.com/ s.f.f. É de borla, não tem anúncios nem muitos links, ainda funciona a vapor... 


2. Comentário do editor LG:

Obrigado, caro camarada e leitor Esteves de Oliveira. Vamos corrigir, se o Virgílio oTeixeira concordar, também me parecia que era um Cessna. No meu tempo (1969/71), acho que os TAGP não tinham Dornier, apenas Cessna. A DO 27 era-nos mais familiar,. trazia-nos o correio e víveres, fazia evacuações, além de servir de PCV (Posto de Comando Volante) (o que era "irritante" para os "infantes", quando no mato, em operações...).

Vejo que o camarada Esteves de Oliveira acompanha com maior ou menor regularidade o nosso blogue e já tem feito mais comentários. È uma pena não estar "formalmente" integrado na nossa Tabanca Grande, o mesmo é dizer, poder estar sentado à sombra do nosso mágico e fraterno poilão... Para mais conheceu a Guiné nos anos de chumbo (1963/65), além dos TO de Angola e Moçambique... O convite fica feito: só precisamos das 2 fotos da praxe... Até um dia destes!


3. Resposta do Virgílio Teixeira, com data de... 18 de setembro último (*):

(...) O camarada E.Esteves de Oliveira, disse:

'agradável surpresa! O álbum de fotografias do Virgílio Teixeira: Guiné e aviões, que bela combinação.'
Obrigado, espero que gostem, embora nalgumas eu estou muito ridículo, mas é do clima.

Já percebi que não é uma DO 27, mas sim um Cessna. Se é 152 isso não é da minha lavra.
Viajei pelo menos 4 vezes neste, ou noutro Cessna dos TAGP, como único passageiro.

A última e derradeira, em finais de Fevereiro de 1969, tenho uma história para contar de arrepiar os cabelos - os meus - que vou um dia fazer um Tema, que, não tendo fotos, pode servir mesmo esta deste Cessna, pois era igual. Tenho o Bilhete para Postar, lembrei-me agora. Talvez para Postar no dia em que faz 50 anos, falta pouco.

Resumo: Tinha um novo Comandante de Batalhão, mau, ele assinou a Guia de Marcha para eu ir de férias, comprei o bilhete, o Cessna chega com o piloto civil, eu quando ouvi o ruido do motor, toca a correr para a pista, ele descarrega o correio e outras coisas, talvez tenha deixado algum passageiro, vejo um jipe em grande velocidade na minha direcção, a poeira que ele deixava atrás, e parou junto ao Cessna. O Piloto normalmente não desligava sequer o motor, o comandante, resumindo, não queria que eu fosse, apesar de ter assinado a Guia de Marcha. Os minutos que se passaram são daqueles filmes de suspense, ele quase me agarra para eu não entrar, tenho um pé dentro e outro fora, os minutos parecem uma eternidade, a poeirada das hélices nem deixavam ver, o Piloto dá o último aviso, se não entra vou descolar, dou um salto para dentro do avião e deixo o comandante e outros de boca aberta, chegamos a Bissau. Só quando o avião da TAP estava no ar, tive a certeza que já ninguém me apanhava, até lá, nem vos conto, os dias de pavor, à espera de receber uma ordem para me apresentar novamente em São Domingos, quando eu queria era ir para junto da minha namorada, lá cheguei a Lisboa, na manhã do dia do seu grande Terramoto.
Foi a última e derradeira viagem de SD para Bissau, depois nunca mais lá voltei. Voltarei um dia a estas pequenas aventuras, esta vale muito para mim, e por deixar aquele Lavrador - o Papaias - com um grande melão...

Quanto ao 'Desacordo Ortográfico', estamos quites.

Virgílio Teixeira

... E hoje voltou a confirmar, em email que nos acaba de mandar:

A Foto nº 8 é de um Cessna dos TAGP, bem como a Foto nº 23 e a Foto nº 26 (é duplicada de Foto nº 23). Neste Poste a única avioneta DO27 é a Foto nº 33 com o meu amigo Emanuel Lima Leite.
E está bem, eu andei nestes Cessna 2 a 3 vezes, com bilhete pago. As asas do DO27 são diferentes.
Como não sou especialista, e por cautela, já ressalvei no texto, qualquer erro ou omissão da minha parte.
Não vejo nenhum problema em corrigir, agora vejo melhor.
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(***) Último poste da série > 14 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18922: FAP (111): A Força Aérea Portuguesa e os incendios florestais (José Nico, TGen PilAv Ref / Mário Santos, ex-1.º Cabo Especialista MMA da BA 12)

Guiné 61/74 - P19132: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XLVIII: Metralhadoras e lança-granadas


Foto nº  12 >  Metralhadora pesada, de modelo desconhecido [ Não será uma Metralhadora pesada Degtyarev DShK, de calibre 12.7, apreendida ao IN ?]


Foto nº 14 > Metralhadora pesada... [Não é uma Breda, é uma Browning] (**)


Foto nº 13 >  Metralhadora Browning 12.7


Foto nº 10 > Metralhadora pesada com suporte de pé, Browning 12.7; de perfil, o Virgílio Teixeira.


Foto nº 9 > Metralhadora ligeira M42, de fita.


Foto nº 15 >  Bazuca 8.9 e respetivas granadas; 


Foto nº 8  > Lança-roquetes (ou LGFog) 37 mm


Foto nº 19 > Armamento e munições apreendidas ao IN.

Guiné > CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, set 1967/ ago 69 >  Metralhadoras e lança-granadas.

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Virgílio Teixeira (*), ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, set 1967/ ago 69); natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem já cerca de 90 referências no nosso blogue.


Guiné 1967/69 - Álbum de Temas > T901 – AS NOSSAS ARMAS DE DEFESA > ARMAMENTO FIXO E MÓVEL > SÃO DOMINGOS E NOVA LAMEGO - Parte II (*)

Legendas:

F07  [Foto não publicada, por falta de qualidade] – Abrigo e ninho de uma metralhadora pesada. 

Não sei de que tipo se trata. A foto é fraca. Contudo por comparação com outras, parece-me ser uma Browning (**), um dos muitos modelos, tendo em vista o tripé em que assenta. Foto captada em São Domingos durante o ano de 1968.

F08 – Lança Roquetes [37 mm]

Um militar está a fazer uma experiência no lançamento de um roquete. Pode ver-se um lança-roquetes ou lança-granadas foguete [LGFog, 3.7] na mão, bem como um roquete nas mãos de outro militar.  Estes exercícios eram feitos regularmente no cais fluvial do Rio São Domingos, disparando para o rio ou mato, para fazer experiências vom o  armamento.n Foto captada em São Domingos durante o ano de 1968.

F09 – Metralhadora ligeira pessoal MG 42

Parece-me que se trata de uma MG42, uma metralhadora  ligeira, pessoal, transportada por um homem, sendo o carregamento por fita, a qual era normalmente trazida a tiracolo em cruz. Arma de grande poder de fogo, são restos das armas da II Guerra Mundial, modificadas.
O atirador – trata-se do soldado condutor auto, Arsénio, já falecido, que era o impedido do nosso 1º comandante – está a fazer tiro de experiência no cais do Rio São Domingos. Foto captada em São Domingos durante o ano de 1968.

F10 – Metralhadora pesada com suporte de pé, Browning 12.7

Acho tratar-se de uma Browning, de calibre 12.7, arma pesada fixa, no seu ninho, com abertura para fazer tiro em 180º. E encontrava-se num dos vários ninhos e abrigos de armas pesadas. A foto é apenas uma foto, do próprio autor. Foto captada em São Domingos durante o ano de 1968.

F11 [Não publicada por falta de qualidade] – Ninho de metralhadoras de porte médio.

Trata-se de uma metralhadora de pé, com carregador de caixa [, não seria portanto uma Breda, que é de lâminas]. Não distingo o nome nem modelo da arma.

F12 – Arma pesada de balas tracejantes

É uma arma pesadíssima, sendo transportada por carrinho de rodas, e com carregador de rolo. As munições são invólucros grandes, não sei bem o calibre, na ponta tinha uma cor ou amarelo ou vermelho, e disparadas de noite, é para isso que se utilizam, pode-se seguir o rasto e efeitos da bala, espectáculo bonito, quando não mata.

Como não é uma lição de armas, fico-me por aqui, já li muita coisa na Net e tem a ver com aquilo que eu tinha na minha mão na Guiné. Curiosa a infantilidade, pois quando regressei, já tinha embalado duas balas daquelas, que ostentava estupidamente na sala com outras recordações da guerra. Depois com o nascer dos filhos, eles começam a mexer naquilo, então tive de me livrar delas, não sei ainda como o fiz, mas hoje gostava de as manter novamente, como um ‘escalpe de guerra’. Foto captada em São Domingos durante o ano de 1968.

F13 – Ninho de metralhadora Browning M2 ou M3.

Arma pesada utilizada em ninhos ou abrigos, com um raio de 180º. Do outro lado de lá, para onde está apontada, é para a Republica do Senegal, ali a dois passos, onde se localizavam alguns ‘santuários de turras’, com a conivência de Senghor. Julgo tratar-se de uma arma idêntica à da foto F10, isto é uma Browning, o modelo não se sabe. Foto captada em São Domingos durante o ano de 1968.

F14 – Abrigo e ninho de metralhadoras.

Julgo tratar-se de uma arma idêntica à da foto F10, isto é uma Browning, modelo não se sabe.
Foto captada em São Domingos durante o ano de 1968.

F15 – Abrigo e depósito da Bazuca 8.9 com as respetivas  munições (granadas)

Lança granadas foguete (LGFog),  mais conhecida como bazooka , ou bazuca, utilizada, na guerra clássica,  para ‘furar’ blindagens, através do seu poder de destruição. 

A bazuca que acompanhava sempre um Grupo de Combate numa operação rotineira, era levada ao ombro por um soldado, e as munições – a carga útil – são transportadas por outros soldados devido ao seu peso. Este foguete é colocado na parte traseira do Lança Granadas (, contrariamente ao  RPG2 e RPG7, do PAIGC, em que a granada pela carregado pela frente do tubo).  Foto captada em São Domingos durante o ano de 1968.

F19 – Armamento e munições apreendidas ao IN.

Trata-se de uma captura de diverso armamento do Inimigo, entre as quais, Bazucas, Lança Roquetes, Granadas de mão, caixas vazias, e possivelmente aparelhagem de transmissões e rádio. Foto captada em Nova Lamego durante o 4º. Trimestre do ano de 1967.


«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BCAÇ 1933/ RI15,Tomar  (Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21SET67 a 04AGO69)".


NOTA FINAL DO AUTOR:

As legendas das fotos em cada um dos Temas dos meus álbuns, não são factos cientificamente históricos, por isso podem conter inexactidões, omissões e erros, até grosseiros. Podem ocorrer datas não coincidentes com cada foto, motivos descritos não exactos, locais indicados diferentes do real, acontecimentos e factos não totalmente certos, e outros lapsos não premeditados. Os relatos estão a ser feitos, 50 anos depois dos acontecimentos, com material esquecido no baú das memórias passadas, e o autor baseia-se essencialmente na sua ainda razoável capacidade de memória, em especial a memória visual, mas também com recurso a outras ajudas como a História da Unidade do seu Batalhão, e demais documentos escritos em seu poder. Estas fotos são legendadas de acordo com aquilo que sei, ou julgo que sei, daquilo que presenciei com os meus olhos, e as minhas opiniões, longe de serem ‘Juízos de Valor’ são o meu olhar sobre os acontecimentos, e a forma peculiar de me exprimir. Nada mais. 

Acabadas de legendar, hoje,

Em, 2018-10-05

Virgílio Teixeira
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(**) Vd. poste de 24 de agosto de 2010  > Guiné 63/74 – P6892: Armamento (4): Metralhadoras Pesadas (Luís Dias)

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19131: Efemérides (292): Há exactamente 50 anos que embarquei para a Guiné - 23.10.68-23.10.18 (Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS Op MSG - STM/QG/CTIG)

1. Mensagem de hoje, 23 de Outubro de 2018, do nosso camarada Carlos Pinheiro (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70), a propósito da data em que se perfazem 50 anos do seu embarque para a Guiné:

Há exactamente 50 anos que embarquei para a Guiné 
23.10.68 – 23.10.18

Tudo começou muito antes

A Inspecção Militar a que todos os mancebos eram sujeitos, era o princípio da vida militar e era feita na sede do concelho de residência dos referidos, no ano em que se faziam vinte anos. Eu, porque tinha nascido e morado sempre em Alcanena, foi na minha terra que fui inspeccionado juntamente com os outros quarenta e nove. Logo de manhã fomos para o Salão Nobre do edifício da Câmara Municipal, portas fechadas e janelas corridas, mandaram-nos despir e deram-nos um papel onde um soldado apontou o nosso peso e a nossa altura. Todos nus, com um papel na mão.

No Gabinete do Presidente da Câmara estavam os médicos militares que nos inspeccionavam, um a um, muito à pressa e lá nos davam a notícia que estávamos “apurados” para todo o serviço militar. É certo que um ficou “esperado”, porque era baixo e gordo e outros dois ficaram “livres” sem se saber porquê.

Quando nos íamos vestindo o tal soldado que nos tinha pesado e medido vendia-nos uma fita verde e vermelha, com um alfinete, para colocarmos na lapela do casaco, a dizer que estávamos apurados. Os que ficavam livres, tinham direito a uma fita branca.

Nesse dia, apesar de tudo foi dia de festa. Houve jantarada do grupo e depois baile até de madrugada. Era assim.

Depois foi só aguardar que os editais nos chamassem para a vida militar. A minha sorte mandou-me para a Escola Prática de Cavalaria em Santarém, no dia 10 de Outubro de 1967. Era uma segunda-feira e tudo era novo para aqueles trezentos e sessenta recrutas do Curso de Sargentos Milicianos. A maioria, onde eu estava incluído, só entrou depois do almoço e depois de ter sido dado mais um toque no cabelo, e lá entrámos. Logo de seguida fomos receber o fardamento, deram-nos um número – eu era o 2060/67 – indicaram-nos a caserna e o nosso número lá estava numa cama. Nada de enganar.

Aprendemos, assim-assim, a formar para o jantar. O refeitório era do outro lado da parada, no primeiro andar. E lá jantámos tendo-nos sido dito que às nove horas tínhamos uma palestra no mesmo refeitório para aprendermos o que era a tropa. Claro que ninguém faltou. Todos presentes para aprender onde estávamos metidos. O porta-voz foi o Comandante do meu Esquadrão, o Tenente Sentieiro que em palavras simples nos elucidou perfeitamente onde estávamos e o que o futuro nos reservava. Dessa palestra há passagens que ficaram na memória e que hoje aqui merecem ser recordadas. Por exemplo: “Essa coisa onde estão a deitar a cinza dos cigarros e as beatas, agora é um cinzeiro, mas amanhã de manhã é uma chávena de vista alegre para beberem o café com leite e à hora do almoço é um copo de cristal por onde vão beber o vinho ou a água”. Afinal aquilo era só um púcaro de alumínio… Outra dessa noite com alguma piada, mas sem graça nenhuma, foi quando o orador nos disse que só poderíamos sair para a rua quando soubéssemos todos os postos da hierarquia militar e bem assim os que mereciam ser cumprimentados militarmente – com continência – para evitar que fossemos bater pala ao porteiro do Hotel Abidis que tinha uma farda que parecia um marechal. E assim foi.

No outro dia foi o princípio. Aprendemos a marchar, aprendemos a rebolar nas barreiras, a saltar ao galho, a fazer a ponte interrompida, saltar a vala, rastejar, subir ao pórtico e lá fazermos alguma manobras, saltar das camionetas a não sei quantos à hora, devidamente enrolados, e sempre a marchar.

As barreiras, antes da recruta acabar, foram proibidas. Não por causa de alguns braços partidos e outros pequenos ferimentos, mas porque as fardas estavam a desfazer-se.

O tiro era treinado, de dia e de noite, na Carreira de Tiro fora do quartel com todo o tipo de arma desde a pistola até às várias metralhadoras pesadas.

As instruções nocturnas eram normalmente às terças e quintas-feiras e duravam até depois da uma da manhã, quando não era até mais tarde. Íamos para as Ómnias, lá para as margens do Tejo, para o Monte do Zé Morto, para o caminho de Rio Maior e na semana de campo fomos para lá da Chamusca, sempre a pé e com a carga toda às costas, incluindo a Mauser e o Capacete na cabeça. Nessa semana nem uma tenda pôde ser montada, apesar de irmos carregados com todos os apetrechos. Parece que o “inimigo” estaria ali por perto. Ordens são ordens. Esta semana de campo foi depois da tragédia das cheias, inundações e morte de centenas de pessoas na zona de Vila Franca, Alenquer, Loures e Odivelas. Só para nos centrarmos no tempo.

Depois de tudo isto, lá chegou o dia do Juramento de Bandeira e logo a seguir ficámos a saber que a maioria do pessoal, daqueles dois Esquadrões de Instrução, tinha chumbado e passado para o Contingente Geral. Dos trezentos e sessenta, foram só duzentos e um que chumbaram. E mais tarde, já na Guiné, é que vim a saber de fonte segura a razão de tanto chumbo. Foi o Comandante daquele Grupo de Esquadrões de Santarém, que também estava na Guiné e, infelizmente, lá morreu no acidente do helicóptero que caiu e onde iam também alguns Deputados da Assembleia Nacional que estavam de visita à Guiné que morreram também, que me disse que tinha havido um erro na classificação das pautas de tiro, que dependiam da Direcção da Arma de Infantaria a quem podiam pedir a revisão das mesmas. Mas como éramos de Cavalaria, ficou assim.

Não vale a pena continuar a falar, agora da especialidade, nem do resto do tempo até ao embarque. Mas passei pelo RTM no Porto onde tirei a especialidade, fui depois para o BT, na Graça, em Lisboa, a seguir para o QG em Tomar, depois de mobilizado voltei ao BT, e logo de seguida fui para o 15 em Tomar, que foi a minha Unidade Mobilizadora e na véspera do embarque fui passar a noite aquele hotel estrelado que era o Depósito Geral de Adidos.

É verdade. Parece que foi ontem e já lá vão CINQUENTA anos desde o dia do embarque para a Guiné, mas está tudo bem guardado na memória.

Depois de uma noite muito mal dormida nos Adidos, na Calçada da Ajuda, logo de manhã lá estava ataviado a preceito para embarcar para a guerra.

Dois dias antes, ainda no RI 15 em Tomar, a minha Unidade Mobilizadora, soube que ia para o BCaç 1911 que nunca vi e que parece que veio no barco onde fui, apanhei uma boleia com um senhor da minha terra que lá foi buscar o filho, para também embarcar para a guerra, salvo erro era para Angola. Lá fomos os três no Volkswagen 1300 do senhor, a caminho dos Adidos em Lisboa. Almoçámos, já não me lembro onde, e lá chegámos à capital do Império e aos Adidos.

Entrámos os dois pela porta de armas, cada um foi para o seu sítio, mas no dia seguinte deixei de o ver. Afinal ficou cá. Não chegou a embarcar. Tinha as suas mazelas certamente.

No dia do embarque, no dia 23 de Outubro de 1968, como disse, logo de manhã lá estava fardado como deve ser, de saco às costas com os meus pertences. Foi só esperar que as camionetas começassem a chegar para levar toda aquela malta de rendição individual para o cais de Alcântara. Éramos cerca de sessenta, tudo de cabeça baixa, sem saber para onde ia.·

Quando chegamos ao Cais, o grosso dos expedicionários já estava devidamente formado; era o Batalhão de Caçadores 2856, também do RI 15 de Tomar, constituído por quatro Companhias, mais um Pelotão de Polícia Militar que ia para Cabo Verde e ainda outras Unidade mais pequenas, género Pelotões de Canhão Sem Recuo, Pelotões de Apoio Directo, etc.·

Nós ficámos livres da formatura e, certamente por isso, fomos dos primeiros a embarcar. Ao cimo das escadas lá estavam as senhoras do MNF – Movimento Nacional Feminino a darem um maço de cigarros "Porto", um isqueiro e uns aerogramas a cada um. Também por lá se viam uns senhores de chapéu e de sobretudo, que alguns mais vividos diziam serem da PIDE.

O Uíge atracado à espera, com a tropa formada, depois de um General ter passado revista às forças ao som de uma Banda Militar, depois dos discursos da ordem, lá começaram a embarcar, sempre com a Banda a tocar marchas militares.

Os nossos familiares estavam do outro lado das barreiras e muitos nas varandas da Gare, com os lenços brancos nas mãos e as lágrimas nos olhos.

Os lenços brancos a acenar eram mais do que muitos. Da minha parte lá estavam os meus pais e os meus tios que moravam em Lisboa. Sabia mais ou menos onde eles estavam posicionados porque tínhamos combinado antecipadamente. A amurada do barco do lado do Cais estava repleta de militares o que provocava um relativo adornar do navio.

Entretanto, cerca do meio-dia, as máquinas do navio começam a fazer mais barulho e a silvar. Vêem-se já os rebocadores que o há-de ajudar a largar e a ganhar o rumo da Barra do Tejo. Foram momentos difíceis de descrever. Adivinhávamos facilmente que os familiares no Cais choravam. Alguns até gritavam e ouvia-se bem apesar da distância ser cada vez maior. Mas ouvia-se.

Navio Uíge em Bissau
Foto: Torcato Mendonça

A bordo também havia lágrimas em muitos olhos. O barco ganha rumo, a ponte "Salazar", era assim que se chamava a que hoje se chama "25 de Abril", começa a ficar cada vez mais perto, até que passámos por baixo dela. Dali até à Barra e depois ao mar alto parece que foi um momento.·

Mal ou bem lá fomos encaminhados para os nossos aposentos, para largarmos o nosso saco e para tomarmos conhecimento dos nossos beliches. A esmagadora maioria, onde eu estava incluído, viajou nos porões que noutras viagens transportavam tudo e mais alguma coisa. O cheiro era horroroso. As camas eram mesmo tipo beliche, mas em madeira de pinho, com colchões de palha e uma manta da tropa em cima. A estrutura das mesmas, porque em madeira, estava já cheia de dedicatórias de toda a ordem que se possa imaginar, fruto de outras viagens de idas e de regressos.

Já no mar alto fomos para a primeira refeição, o almoço, numa sala grande, a sala de jantar do barco, e a comida era aquela que nos quiseram dar, porque os orçamentos naquela altura já eram apertados, mas ninguém se queixou.

Depois foram cinco dias a ver-se só mar e céu, tudo azul, e de vez em quando uns peixes voadores a acompanhar o Uíge e por vezes até golfinhos como que a desejarem-nos boa viagem. Raras vezes avistámos outros barcos, mas sempre ao longe. Passámos relativamente perto das Canárias. Disseram-nos que, como aquilo era um Transporte de Tropas, estávamos a ser a ser acompanhados por um submarino. Já era a psicossocial a funcionar.

No convés havia uma espécie de um bar onde se vendia cerveja e Coca-Cola, sendo esta uma novidade autêntica uma vez que na Metrópole a mesma ainda era proibida. A cerveja era holandesa. Eram garrafas de meio litro, verdes, que nós nunca tínhamos visto. Claro que com estes estimulantes a viagem e o tempo parece que custavam muito menos a passar.

Nos porões, logo no primeiro dia, foram montadas bancas para a batota, neste caso a lerpa, e os profissionais dessa jogatina lá assentaram arraiais e foram depenando os mais desprevenidos, que era a esmagadora maioria.

E assim chegámos a Bissau no dia 28, ao final do dia, tendo o barco ficado ao largo e o pessoal desembarcado para barcaças que de imediato tinham rodeado o navio por todos os lados.

A todos os companheiros, camaradas e amigos que vão sobrevivendo e que há 50 anos viajaram comigo no Uíge, um grande abraço e votos de muita saúde.

Carlos Pinheiro
23 de Outubro de 2018
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19093: Efemérides (291): Faz hoje 51 anos: 12 de outubro de 1967, o dia em que eu morri....Por outro lado, sou o "único culpado" do suicídio do ex-alf mil, madeirense, Gouveia (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

Guiné 61/74 - P19130: Agenda cultural (653): 1.º Encontro Nacional de Militares Escritores, Coimbra, FL/UC, 4.ª feira, dia 24 (Manuel Barão da Cunha)



Amanhã, 4.ª feira, dia 24 de outubro, realiza-se, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), o 1.º Encontro Nacional de Militares Escritores. O evento insere-se no âmbito das comemorações do Dia do Exército Português. A sessão vai contar com os seguintes palestrantes: Coronel Manuel Barão da Cunha, Coronel Carlos de Matos Gomes, Coronel Nuno de Lemos Pires, Tenente-Coronel Pedro Marquês de Sousa, Tenente-Coronel Luís Brás Bernardino e Sargento-Chefe Jorge da Silva Rocha.

A sessão decorrerá no Teatro Paulo Quintela (FLUC – 3.º Piso), a partir das 15 horas.



1.º ENCONTRO NACIONAL DE MILITARES ESCRITORES

FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

24 de outubro de 2018


PROGRAMA


14H50 – Receção dos convidados e ocupação de lugares no Anfiteatro

15H00 – Chegada de Sua Excelência o General CEME

15H05 – Início da Conferência

– Intervenção de Sua Excelência o General CEME

– Intervenção do Magnífico Reitor da Universidade de Coimbra

– Troca de lembranças institucionais


15h30 – Primeira Mesa

– Moderadores: 
Prof. Dra. Manuela Ribeiro | Prof. Dr. António Ventura

– Palestrantes: 
Cor Matos Gomes | Cor Lemos Pires | TCoR Marquês de Sousa

– Debate

16H30 – Intervalo

16H45 – Segunda Mesa

– Moderadores: 
Prof. Dra. Manuela Ribeiro | Prof. Dr. António Ventura

– Palestrantes: 
Cor Barão da Cunha | TCor Brás Bernardino | SCh Silva Rocha

– Debate

17H45 – Entrega de lembranças aos Moderadores e Palestrantes e Fim do Encontro
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1.º ENCONTRO NACIONAL DE MILITARES ESCRITORES 

FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

24 DE OUTUBRO DE 2018


PALESTRANTE
OBRA
EDITORA
Coronel Manuel Júlio Matias Barão da Cunha
Radiografia Militar e os 4 DDDD? Fim do Império, anverso e reverso?
Âncora Editora
Coronel Carlos Manuel Serpa de Matos Gomes (Carlos Vale Ferraz)
A Última Viúva de África
Porto Editora
Coronel Nuno Correia Barrento de Lemos Pires
Cartas de Cabul
Tribuna da História
Tenente-Coronel Pedro Alexandre Marcelino Marquês de Sousa
Bandas de Música na História da Música em Portugal
Fronteira do Caos
Tenente-Coronel Luís Manuel Brás Bernardino
Timor Leste. Da Guerrilha às Forças de Defesa
Mercado de Letras
Sargento-Chefe Jorge Manuel Lima da Silva Rocha
PLANEAMENTO DE DEFESA E ALIANÇAS
Portugal nos primeiros anos da Guerra Fria 1945 - 1959
Comissão Portuguesa de História Militar
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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19128: Agenda cultural (652): DocLisboa 2018, 16º Festival Internacional de Cinema...Todo o cinema do mundo: 243 obras, de 54 países... Uma sugestão do nosso blogue: vejam o filme "Para la guerra", de Francisco Marise, na Culturgest (Grande auditório), na 5ª feira, dia 25, às 19h.

Guiné 61/74 - P19129: (D)o outro lado do combate (37): A logística nas evacuações dos feridos do PAIGC na Frente Norte: As intervenções cirúrgicas na base do Sará: fotos do médico holandês Roel Coutinho (Jorge Araújo)


Foto nº 3

Wikimedia Commons > ASC Leiden > Coutinho Collection > A17 > Surgery in Sara > Guinea-Bissau > Operation details [De costas, o médico cubano Dr. António durante um acto cirúrgico a um elemento do PAIGC, acompanhado de três enfermeiros e um militar]. [P18848].



Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, 
CART 3494 (Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue


GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE > 
A LOGÍSTICA NAS EVACUAÇÕES DOS FERIDOS DO PAIGC NA FRENTE NORTE >  AS INTERVENÇÕES CIRÚRGICAS NA BASE DO SARÁ (FOTOS DO MÉDICO HOLANDÊS ROEL COUTINHO)


(Parte II – Resposta ao P18848) (*)


1. INTRODUÇÃO


Ainda que com algum atraso, o que lamento, a presente narrativa surge na sequência de uma outra relacionada com a temática em título – P18848 – com o objectivo de alargar um pouco mais a reflexão sobre os conteúdos então apresentados. Pretende-se, assim, dar cumprimento à promessa feita no fórum, no sentido de melhor esclarecer as dúvidas suscitadas em cada um dos comentários elaborados pelo auditório, e foram muitos, o que naturalmente agradeço.

São relevante neste caso, por exemplo, os cometários do C. Martins, que aproveito para citar:

"CONFUSÕES… PROPAGANDA [Vd. foto nº 1]

É sabido da grande dificuldade na evacuação de feridos do PAIGC, no interior do território da Guiné. Analisando as fotos nomeadamente a da dita intervenção cirúrgica verifica-se que o cirurgião [médico cubano Dr. António] tem bata cirúrgica e tem luvas, mas não tem máscara facial. O doente está coberto com um lençol do qual se encontra material cirúrgico, supostamente já utilizado.

Suponho que esteja a suturar um ferimento no abdómen. O doente foi anestesiado com anestesia local ou geral? Ninguém em redor tem qualquer preocupação com a assepsia, no mínimo colocarem máscaras faciais, e estarem afastados. Não se vêm quaisquer insectos, sendo a intervenção cirúrgica ao ar livre e no meio da mata, é de estranhar. Não se vê qualquer aparelho para avaliar os sinais vitais, nomeadamente um esfigmomanómetro (medidor de tensão arterial).

Julgo que se o doente não morreu do ferimento… morreu da cura. Como foi esterilizado o material? Segundo as informações que tenho… tentavam evacuar os feridos… só que a esmagadora maioria morria durante o trajecto. O PAIGC tinha hospitais de rectaguarda em Boké, na Guiné Conacri, e em Ziguinchor, no Senegal. Foram efectivamente ajudados por médicos cubanos, e provavelmente alguns estiveram no interior da Guiné, mas a grande maioria só estiveram nos respectivos hospitais já referidos.

É preciso analisar se são factos reais ou se é mera propaganda". AB. C. Martins.


Antes de mais, considero as questões acima identificadas como pertinentes. Aliás, a mesma opinião já a tinha manifestado no comentário escrito a este propósito.(*)

Chegados aqui, convém recordar que a narrativa anterior, tendo por base uma dimensão histórica específica, foi estruturada a partir da triangulação das fontes consultadas, em que grande parte do espaço foi ocupado com imagens seleccionadas de um universo de algumas centenas, do álbum do médico holandês Roel Coutinho, clínico que durante os anos de 1973/1974 cooperou com a estrutura militar do PAIGC no apoio aos actos médicos, quer de combatentes, quer da população sob o seu controlo.

Por isso, acredito que as imagens apresentadas correspondam a "factos reais", todas elas obtidas num contexto de "reportagem fotográfica" de dimensão deontológica, para mais tarde recordar como experiência vivida naquela região e naquela época, e como valor sociocultural e profissional a partilhar ao longo da vida. Adiciona-se, também, o facto do médico Roel Coutinho ter percorrido várias localidades da Frente Norte do território da Guiné, nomeadamente as bases de Campada, Farim, Hermangono, Sará, Canjambari e Ziguinchor (Hospital do PAIGC, no Senegal).

Para além das imagens (fotos) terem sido obtidas há quarenta e cinco anos, não entendo o conceito "propaganda" como perspectiva enganosa, mas sim "propaganda" como conjunto de acções específicas para dar a conhecer algo. Estou nesta… por ser este o objectivo das minhas narrativas.


2. TESTEMUNHOS DO MÉDICO DOMINGO DIAZ DELGADO (1966)


Como suporte historiográfico, recordo alguns dos testemunhos transmitidos pelo médico-cirurgião Domingo Diaz Delgado (n-1936-), referentes à sua passagem pela base do Sará, durante o segundo semestre de 1966, ou seja, sete anos antes das imagens do médico Roel Coutinho.


Diz ele: […] "A base de Sará estava praticamente no centro do território. Aqui já estavam dois companheiros médicos do meu grupo, dos três que saíram de Cuba em avião, o ortopedista Teudi Ojeda e o médico Pedro Labarrere, e os três fomos os únicos que naquele tempo [1966] estivemos na Zona Norte. 

De Sará, estávamos a quatro dias de distância da fronteira [Senegal] e não era fácil transportar coisas para lá. Tínhamos um pequeno arsenal de medicamentos, instrumentos cirúrgicos, mas muito rudimentar, para resolver problemas que se apresentassem naquele tipo de conflito. A possibilidade de enviar feridos até à fronteira era muito escassa, pela distância e a maneira de os transportar, e a forma como se movimentava o inimigo [NT]. 

O acampamento mudava de lugar em certas ocasiões, pois apesar de que nesse tempo era uma base guerrilheira, não se podia permanecer fixo e havia que mudá-lo constantemente para maior segurança. Chegou o momento em que detectaram a base, e a aviação a atacou e a metralhou em várias ocasiões.

De qualquer maneira, nós permanecemos cerca de seis meses nessa base [até dezembro de 1966] e depois de vários bombardeamentos vimo-nos na obrigação de mudar o hospital [enfermaria no mato] para outro lugar que ficava a hora e meia dessa base". […]


Mapa da Frente Norte – região do Oio – assinalando-se as principais bases do PAIGC existentes nessa região e os possíveis itinerários até à fronteira com o Senegal de modo a proceder à evacuação dos feridos para o Hospital do PAIGC, em Ziguinchor.


3. TESTEMUNHOS DO MÉDICO ROEL COUTINHO (1973-1974)


Aos depoimentos do médico cubano Domingo Diaz Delgado reportados ao ano de 1966, e referidos no ponto anterior, apresentamos abaixo uma sequência de imagens do espólio fotográfico disponibilizado pelo médico holandês Roel Coutinho [Roelland Arnold Coutinho] obtido durante os anos de 1973/1974.

Na ordem estabelecida, independentemente da omissão de explicações sobre cada detalhe, creio ser possível encontrar respostas às questões pertinentes apresentadas pelo camarada C. Martins. No global, com a divulgação destas imagens, procura-se satisfazer, igualmente, a curiosidade de todos.

Por último, é justo agradecer ao doutor Roel Coutinho, reputado médico microbiologista, epidemiologista e professor universitário jubilado, a possibilidade de utilizarmos as suas imagens neste trabalho relacionado com a nossa presença no CTIG, contributos importantes para o esclarecimento possível sobre a prática dos actos médicos em contexto de conflito bélico e como uma visão «do outro lado do combate».




Fotos da série PAIGC Military, Guinea-Bissau, Coutinho Collection 1973-1974 
[fotos  de 3 a 13]



Foto nº 4

ASC_Leiden_-_Coutinho_Collection_-_18_05_-_Medical_consultation_in_Sara,_Guinea-Bissau_by_a_Cuban_doctor. [Mesa improvisada com medicamentos, …].


Foto nº 5

ASC Leiden - Coutinho Collection - A 01 - Surgery in Sara, Guinea-Bissau - Washing hands before operation. [O médico cubano, Dr. António, lavando as mãos antes de uma operação cirúrgica].


Foto nº 6
ASC Leiden - Coutinho Collection - A 02 - Surgery in Sara, Guinea-Bissau - Putting on a surgical gown. [O médico cubano, Dr. António, vestindo a bata cirúrgica].



Foto nº 7
ASC Leiden - Coutinho Collection - A 04 - Surgery in Sara, Guinea-Bissau - Preparation of local anesthesia. [O Dr. António preparando a anestesia local].



Foto nº 8
ASC Leiden - Coutinho Collection - A 05 - Surgery in Sara, Guinea-Bissau - Surgical instruments table. [Mesa com instrumentos de cirurgia].


Foto nº 9
ASC Leiden - Coutinho Collection - A 09 - Surgery in Sara, Guinea-Bissau - Local anesthesia. [O Dr. António introduzindo a anestesia local].



Foto nº 10
ASC Leiden - Coutinho Collection - A 35 - Surgery in Sara, Guinea-Bissau - Cuban nurse checks blood pressure. [O enfermeiro cubano Gustavo medindo a pressão sanguínea durante uma operação cirúrgica].


Foto nº 11
ASC Leiden - Coutinho Collection - B 04 - Surgery in Sara, Guinea-Bissau - Operation from distance. [Operação cirúrgica observada à distância].


Foto nº 12

ASC Leiden - Coutinho Collection - B 18 - Infirmary in Sara, Guinea-Bissau - Cuban doctor Antonio checking up heartbeat. [O médico cubano, Dr. António, durante uma consulta].



Foto nº 13

ASC Leiden - Coutinho Collection - B 19 - Infirmary in Sara, Guinea-Bissau - "Waiting room". [População do Sará aguardando pela sua consulta médica].



Nota Final:

Para concluir este texto, quero relevar as preocupações, enquanto médico, do camarada C. Martins. Outra coisa não era de esperar de um profissional que diariamente tem na sua frente, e como principal preocupação deontológica, a segurança dos cuidados de saúde prestados a quem deles precisam.

Outro caso, é a missão dos profissionais de saúde em contexto de guerra, particularmente a do conflito armado que nós, os ex-combatentes, conhecemos há mais de meio século no CTIG. Essa situação não era apenas problemática para a logística das nossas forças armadas. Para o PAIGC, quer gerir recursos que não havia/tinha, materiais e humanos, seria certamente muito mais dramático e doloroso, onde, por essa causa/efeito, a questão do "protocolo clínico" não era possível observar/respeitar.

Não pondo em causa a competência de cada um dos clínicos que decidiram colaborar com os movimentos de libertação, creio que o primeiro objectivo, presente em cada acto, seria "não fazer mal", esforçando-se por reduzir, tanto quanto possível, os efeitos adversos das diferentes práticas de saúde não seguras, onde se incluíam, também, as cirurgias. (**)

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

22OUT2018.

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 15 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18848: (D)o outro lado do combate (34): A logística nas evacuações dos feridos do PAIGC na Frente Norte: um itinerário até ao hospital de Ziguinchor (Jorge Araújo)

(**) Último poste da série > 25 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19046: (D)o outro lado do combate (36): Bigene, agosto de 1972, «Operação Silenciosa"... (Jorge Araújo)