Foto (e legenda): © Jaime Silva (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Caro Luís
Vai aqui o texto de que te falei.
Vê se se adequa ao espírito do blogue.
Vai foto, se bem que poderás encontrar melhor na Net.
Abraço, Jaime.
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Abraço, Jaime.
Regimento de Paraquedistas, Tancos,- 27 de setembro de 2018
HOMENAGEM AOS PARAQUEDISTAS QUE COMPLETARAM 50 ANOS DE BREVET 1968 – 2018: Cursos 45.º, 46.º, 47.º, 48.º, e o 8.º de Enfermeiras Paraquedistas.
No passado dia vinte sete de setembro o Regimento de Paraquedistas e a União Portuguesa de Paraquedistas homenagearam os paraquedistas que completaram 50 anos de Brevet (Cursos 45.º, 46.º, 47.º, 48.º, e o 8.º de Enfermeiras Paraquedistas).
Esta cerimónia realiza-se anualmente desde que o 1.º Curso (1955) comemorou os seus 50 anos (2005).
Este ano tive o privilégio de estar presente a convite do meu camarada e amigo Joaquim Maria Inácio. Fizemos parte do 3.º Pelotão da 1ª CCP do BCP 21 em Angola e durante os dois anos de comissão cimentámos a nossa amizade nas dificuldades que fomos ultrapassando nas operações de combate realizadas no Norte e Leste de Angola.
HOMENAGEM AOS PARAQUEDISTAS MORTOS DO 46.º e 47.º CURSO
O programa do encontro incluiu uma cerimónia de grande significado cívico e de recolhimento junto ao monumento erguido no Regimento em memória dos Paraquedistas mortos durante a Guerra do Ultramar pertencentes ao 46.º e 47.º Curso de paraquedistas: A “chamada dos mortos” em combate, respondendo os participantes na cerimónia – PRESENTE – sempre que cada um dos nomes era “chamado”.
Relação dos paraquedistas que tombaram na guerra
Este ano tive o privilégio de estar presente a convite do meu camarada e amigo Joaquim Maria Inácio. Fizemos parte do 3.º Pelotão da 1ª CCP do BCP 21 em Angola e durante os dois anos de comissão cimentámos a nossa amizade nas dificuldades que fomos ultrapassando nas operações de combate realizadas no Norte e Leste de Angola.
HOMENAGEM AOS PARAQUEDISTAS MORTOS DO 46.º e 47.º CURSO
O programa do encontro incluiu uma cerimónia de grande significado cívico e de recolhimento junto ao monumento erguido no Regimento em memória dos Paraquedistas mortos durante a Guerra do Ultramar pertencentes ao 46.º e 47.º Curso de paraquedistas: A “chamada dos mortos” em combate, respondendo os participantes na cerimónia – PRESENTE – sempre que cada um dos nomes era “chamado”.
Relação dos paraquedistas que tombaram na guerra
i) Curso n.º 46:
BCP 31:
BCP 31:
Alf. Mili. Pára Luís Filipe Corte Real – 19.12.19 (CBT)
Sol/Pára Engrácio de Jesus Meio Tostão rato – 21.2.1970 (ACV)
BCP 21:
Sol/Pára Ernesto Rocha Casaca – 20.2.1971 (CBT)
Sol/Pára Joaquim Ferreira Fonseca – 17.6.1970 (CBT)
Sol/Pára Vitalino da Silva Gomes – 16.6.1970 (CBT)
Sol/Pára António da Silva Ramos – 25.6.1970 (CBT)
ii) Curso n.º 47:
BCP 12
1.º Cab/Pára Gabriel Parreiras Campilho- 26.3.1970 (CBT)
Foi um momento de grande emoção para todos os presentes que têm bem viva na memória os amigos que tombaram a seu lado.
O primeiro nome a ser “chamado” foi o do Soldado Paraquedista António da Silva Ramos do 46.º Curso e que tombou em combate a 25.6.1970. Pertencia ao meu Pelotão – 3.º Pelotão da 1ª CCP do BCP 21.
O Ramos foi abatido numa operação que decorreu nos Montes Mil e Vinte, na região do Onzo, no Norte de Angola. Recordo-me dessa operação como se fosse hoje: Dois aviões da FAP (Fiat G91) lançaram quatro bombas de Napalm sobre o acampamento IN, ao mesmo tempo que o helicóptero SA 330 se aproximava do objetivo e largava o meu grupo de combate nas imediações do mesmo.
O Pelotão atuou de acordo com Ordem de Operações que tinha recebido: assaltar, destruir, capturar. Enfim, o trivial para as circunstâncias. Percorremos parte do acampamento (um dos maiores que já tinha visto) e decorrido pouco tempo, o grupo foi atacado, resultando daí a morte do Ramos (o único morto do pelotão em toda a comissão).
Depois da evacuação do corpo do Ramos pelo Helicóptero (Aluette 3), percorremos a zona, montámos nova emboscada e pernoitámos no local. No dia seguinte, quando nos preparávamos para abandonar a mata a fim de preparar o local para o Heli nos recolher, fomos fortemente atacados pelos guerrilheiros que nos tinham emboscado. Foi um dos momentos mais delicados que o 3.º pelotão teve para resolver durante a comissão, no confronto com os guerrilheiros.
Sem qualquer réstia de tiques de heroísmos injustificáveis hoje, como sempre, estou seguro que nesse momento veio ao de cima toda a mentalização psicológica e o resultado do treino duro a que os paraquedistas foram sujeitos durante a instrução. Lembro-me do comportamento de dois homens nesse momento: Um, homem com “H” grande, e outro (e não era soldado) com “h” bem pequeno. O primeiro foi o Cruz, o HOMEM da HK 21 (o outro!).
Enfim, memórias vivas que só a morte se encarregará de levar!
Ainda hoje me interrogo, como responsável por aquele grupo de jovens como eu, o que poderia ter feito para que o Ramos não tombasse e o Santos não pisasse a mina que lhe levou a perna!
MONUMENTO AOS MORTOS EM COMBATE
Sol/Pára Engrácio de Jesus Meio Tostão rato – 21.2.1970 (ACV)
BCP 21:
Sol/Pára Ernesto Rocha Casaca – 20.2.1971 (CBT)
Sol/Pára Joaquim Ferreira Fonseca – 17.6.1970 (CBT)
Sol/Pára Vitalino da Silva Gomes – 16.6.1970 (CBT)
Sol/Pára António da Silva Ramos – 25.6.1970 (CBT)
ii) Curso n.º 47:
BCP 12
1.º Cab/Pára Gabriel Parreiras Campilho- 26.3.1970 (CBT)
Foi um momento de grande emoção para todos os presentes que têm bem viva na memória os amigos que tombaram a seu lado.
O primeiro nome a ser “chamado” foi o do Soldado Paraquedista António da Silva Ramos do 46.º Curso e que tombou em combate a 25.6.1970. Pertencia ao meu Pelotão – 3.º Pelotão da 1ª CCP do BCP 21.
O Ramos foi abatido numa operação que decorreu nos Montes Mil e Vinte, na região do Onzo, no Norte de Angola. Recordo-me dessa operação como se fosse hoje: Dois aviões da FAP (Fiat G91) lançaram quatro bombas de Napalm sobre o acampamento IN, ao mesmo tempo que o helicóptero SA 330 se aproximava do objetivo e largava o meu grupo de combate nas imediações do mesmo.
O Pelotão atuou de acordo com Ordem de Operações que tinha recebido: assaltar, destruir, capturar. Enfim, o trivial para as circunstâncias. Percorremos parte do acampamento (um dos maiores que já tinha visto) e decorrido pouco tempo, o grupo foi atacado, resultando daí a morte do Ramos (o único morto do pelotão em toda a comissão).
Depois da evacuação do corpo do Ramos pelo Helicóptero (Aluette 3), percorremos a zona, montámos nova emboscada e pernoitámos no local. No dia seguinte, quando nos preparávamos para abandonar a mata a fim de preparar o local para o Heli nos recolher, fomos fortemente atacados pelos guerrilheiros que nos tinham emboscado. Foi um dos momentos mais delicados que o 3.º pelotão teve para resolver durante a comissão, no confronto com os guerrilheiros.
Sem qualquer réstia de tiques de heroísmos injustificáveis hoje, como sempre, estou seguro que nesse momento veio ao de cima toda a mentalização psicológica e o resultado do treino duro a que os paraquedistas foram sujeitos durante a instrução. Lembro-me do comportamento de dois homens nesse momento: Um, homem com “H” grande, e outro (e não era soldado) com “h” bem pequeno. O primeiro foi o Cruz, o HOMEM da HK 21 (o outro!).
Enfim, memórias vivas que só a morte se encarregará de levar!
Ainda hoje me interrogo, como responsável por aquele grupo de jovens como eu, o que poderia ter feito para que o Ramos não tombasse e o Santos não pisasse a mina que lhe levou a perna!
MONUMENTO AOS MORTOS EM COMBATE
REGIMENTO DE PARAQUEDISTAS EM TANCOS
Não posso deixar de registar o quanto significa para nós Paraquedistas, aquele Monumento. Vi-o, pela primeira vez, em julho de 1969 quando entrei no RCP para fazer provas de acesso ao curso de paraquedismo, vindo da EPI [, em Mafra,] e reparei que todos os militares, quando passavam na sua frente, faziam a continência. Foi- me explicado o seu significado e simbologia pelo Diretor do meu Curso o, então, capitão António Ramos.
No entanto, a apreensão do seu verdadeiro significado só foi interiorizado quando regressei a Tancos após ter cumprido a minha comissão de serviço. Nessa altura, sim: quando olhei para aquele monumento senti que podia ser eu, também, um dos que tombaram. Só a vivência da guerra e a morte dos camaradas ao nosso lado no mato, nos fazem fazer compreender verdadeiramente a essência do seu significado.
Aquele monumento, ao evocar a memória daqueles que tombaram, honra os Paraquedistas e lembra a todos os que por ali passarem, o sacrifício de uma juventude que deu o melhor de si mesmo à sua Pátria - a sua vida. E não foram, assim, tão poucos os que tombaram em cada um dos três teatros de operações onde combatemos:
Durante a Guerra do Ultramar morreram 210 Paraquedistas. Guiné – 67. Angola 65. Moçambique - 78.
O Monumento aos Mortos em Combate foi inaugurado em 3 de julho de 1968 com a presença do Presidente da República Almirante Américo Tomás. À data, o Comandante do RCP era o Coronel Paraquedista Mário Monteiro Robalo que, a determinada altura do seu discurso, disse:
“(...) Ficaram mais pobres as suas famílias, com a sua morte.
Ficou mais rica a terra portuguesa, com o seu sangue.
Mas ficou-nos, sobretudo, a todos o exemplo da grandeza do seu sacrifício.
Sacrifício que não podemos permitir que se venha a tornar inútil, que não poderá ser, jamais, traído!
(…)Há que fazer opções sobre a aplicação mais rentável de, pelo menos, uma parte da nossa juventude.” (in: “BOINA VERDE” – Setembro de 1968)
Até parecia que o Comandante adivinhada o desfecho da inutilidade daquela guerra!
Como nota final: O conjunto arquitetónico foi da autoria do Arquiteto Aleixo Terra da Mota. A escultura de Domingos Soares Branco. A pintura e decoração de Hernani de Oliveira.
Na base do monumento a inscrição: “AQUELES EM QUEM PODER NÃO TEVE A MORTE”
Jaime Bonifácio Marques da silva
(Ex- Alf. Paraquedista - 1ª CCP / BCP 21, Angola, 1970/72)
Não posso deixar de registar o quanto significa para nós Paraquedistas, aquele Monumento. Vi-o, pela primeira vez, em julho de 1969 quando entrei no RCP para fazer provas de acesso ao curso de paraquedismo, vindo da EPI [, em Mafra,] e reparei que todos os militares, quando passavam na sua frente, faziam a continência. Foi- me explicado o seu significado e simbologia pelo Diretor do meu Curso o, então, capitão António Ramos.
No entanto, a apreensão do seu verdadeiro significado só foi interiorizado quando regressei a Tancos após ter cumprido a minha comissão de serviço. Nessa altura, sim: quando olhei para aquele monumento senti que podia ser eu, também, um dos que tombaram. Só a vivência da guerra e a morte dos camaradas ao nosso lado no mato, nos fazem fazer compreender verdadeiramente a essência do seu significado.
Aquele monumento, ao evocar a memória daqueles que tombaram, honra os Paraquedistas e lembra a todos os que por ali passarem, o sacrifício de uma juventude que deu o melhor de si mesmo à sua Pátria - a sua vida. E não foram, assim, tão poucos os que tombaram em cada um dos três teatros de operações onde combatemos:
Durante a Guerra do Ultramar morreram 210 Paraquedistas. Guiné – 67. Angola 65. Moçambique - 78.
O Monumento aos Mortos em Combate foi inaugurado em 3 de julho de 1968 com a presença do Presidente da República Almirante Américo Tomás. À data, o Comandante do RCP era o Coronel Paraquedista Mário Monteiro Robalo que, a determinada altura do seu discurso, disse:
“(...) Ficaram mais pobres as suas famílias, com a sua morte.
Ficou mais rica a terra portuguesa, com o seu sangue.
Mas ficou-nos, sobretudo, a todos o exemplo da grandeza do seu sacrifício.
Sacrifício que não podemos permitir que se venha a tornar inútil, que não poderá ser, jamais, traído!
(…)Há que fazer opções sobre a aplicação mais rentável de, pelo menos, uma parte da nossa juventude.” (in: “BOINA VERDE” – Setembro de 1968)
Até parecia que o Comandante adivinhada o desfecho da inutilidade daquela guerra!
Como nota final: O conjunto arquitetónico foi da autoria do Arquiteto Aleixo Terra da Mota. A escultura de Domingos Soares Branco. A pintura e decoração de Hernani de Oliveira.
Na base do monumento a inscrição: “AQUELES EM QUEM PODER NÃO TEVE A MORTE”
Jaime Bonifácio Marques da silva
(Ex- Alf. Paraquedista - 1ª CCP / BCP 21, Angola, 1970/72)
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Nota do editor:
Último poste da série > 23 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19131: Efemérides (292): Há exactamente 50 anos que embarquei para a Guiné - 23.10.68-23.10.18 (Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS Op MSG - STM/QG/CTIG)
Nota do editor:
Último poste da série > 23 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19131: Efemérides (292): Há exactamente 50 anos que embarquei para a Guiné - 23.10.68-23.10.18 (Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS Op MSG - STM/QG/CTIG)