segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19377: Notas de leitura (1139): “Entardecer nos Rios da Guiné”, por Manuel Fialho; Narrativa, 2018 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Dezembro de 2018:

Queridos amigos,
É o terceiro romance de Manuel Fialho, um novo retorno à Guiné, a Farim e ao mundo Mandinga. Envelheceu, ex-franciscano, despojou-se de todos os seus bens, entregou o seu património ao filho Francisco, fruto da sua relação com uma Mandinga. Como a ficção permite ir muito mais longe do que a nossa pobre lógica consente, Miguel Lúcio vai reencontrar uma paixão proibida, vivida em Assis, antes de ser capelão na Guiné. O desfecho é imprevisível, é segredo guardado para o leitor. Viajam pela região, percorrem a bolanha de Cufeu, vão até Guidage, ele conta à freira os dramas que aqui se viveram, algures em maio de 1973. É o entardecer da vida nesta literatura de regressos, em que estamos todos comprometidos.

Um abraço do
Mário


Entardecer nos rios da Guiné, por Manuel Fialho

Beja Santos

Manuel Fialho é, em termos da literatura da guerra da Guiné, um reincidente. Estreou-se com “Além do Bojador”, de que já se fez menção no blogue, seguiu-se “O Malinké”, do qual em breve se falará e foi publicado em abril de 2018 pela Editora Narrativa este “Entardecer nos Rios da Guiné”. Há um fio condutor, Miguel Lúcio combateu na Guiné na região de Farim, decorrido meio século, este ex-franciscano e ex-capelão que viveu em Farim, agora aposentado pela Universidade de São Paulo, recém-viúvo, regressa à Guiné, escolheu viver os seus últimos anos em território Mandinga, Binta, junto ao rio Cacheu, na casa da sua mulher, foi amor de capelão militar com Binta, como se descreveu em “Além do Bojador”.

Vive na austeridade o seu entardecer da vida, ouve cassetes, tem preferência pelos solos de oboé, e num certo entardecer aguarda a vinda do seu filho, de nome Francisco, vem na companhia de um grande amigo e camarada de armas da guerra da Guiné, também chamado Miguel, assim se inicia o romance contado na primeira pessoa do singular. Do seu amor por Binta, uma Mandinga, nasceu Francisco, bem-sucedido nos estudos e na profissão.

Miguel é um homem cheio de recordações. Estudou Teologia e História em Roma, aí conheceu Geneviève, uma freira, que muito amou numa discrição total. E eis que encostou ao velho cais uma lancha que traz Miguel e o filho do ex-capelão. Porque Miguel Lúcio escolheu aquele local? Ele responde que a preferência deve-se na procura de compreender o seu último percurso e por haver maior proximidade à memória da mulher que ele tanto amou. “Estava convicto que seria na observação dos comportamentos dos nativos onde eu poderia encontrar as razões mais remotas que me ajudariam a compreender a natureza humana. Dissimulava o vagar do tempo ouvindo algumas preferências musicais num velho gravador e leitor de cassetes a pilhas”. Miguel e a sua mulher Mandinga conheceram a felicidade por mais de quarenta anos. Estudou a velha África, a África dos grandes impérios do Gana e do Mali. É com alegria que recebe o filho e o seu maior amigo e combinam partir cedo na manhã seguinte para Farim. Na viagem lembram-se episódios da guerra que eles viveram e em Farim o passado de meio século reaviva-se: “Pisámos o chão vermelho batido pelo tempo. Miguel procurava sinais da época em que por ali andáramos. À direita, o conjunto da enfermaria e intendência militares e da velha piscina, todos em ruínas. Em frente, do outro lado, a central elétrica, cujo total abandono testemunhava o apagão generalizado a todo o território da Guiné. Levei-o à casa do médico, ali perto, a mesma casa em que ficavam os médicos de todos os batalhões que tinham passado por Farim. Mantinha-se cuidada, embora com a exígua mobília reduzida ao indispensável. O médico era um cubano, era de poucas falas. O português parecia já perdido por ali, falado por muito poucos e nem era ensinado nas escolas”. A visita prossegue, lembram-se mortos e feridos, a ponte de Lamel, os ataques a Farim, assim chegam à antiga administração onde são reconhecidos por velhos guineenses.

Os dias passam, viaja-se de jipe a Genico, Cufeu, Ujeque e Guidage, por ali os dois ex-combatentes de nome Miguel andaram meio século antes, recorda-se o fatídico mês de maio de 1973, sobretudo os acontecimentos sanguinolentos na bolanha de Cufeu, aqui nascera uma nova tabanca depois da guerra, havia mesmo uma mesquita. Visitam Guidage, assaltam recordações daqueles tempos horríveis de maio de 1973.

O amigo Miguel regressa a Lisboa, o ex-franciscano ainda trava com ele uma longa conversa de caráter filosófico, volta a ficar só, vai visitar o sogro, de nome Malan, este recomenda-lhe que volte a casar. Depois visita a missão católica, descobre que existe uma irmã recém-chegada, de nome Geneviève, acicata-lhe a curiosidade, afloram-lhe lembranças de Roma, começa a buscá-la pela região de tabanca em tabanca, entretanto adoece com malária, recupera e é visitado pela irmã Geneviève, afinal ela era a jovem clarissa que todas as manhãs vinha à porta do Convento S. Damião. É uma bonita história de amor de dois velhotes, paixão assolapada, a irmã Geneviève tudo fizera para chegar à Guiné quando soube pelo padre da missão que ali vivia o ex-franciscano Miguel Lúcio, ainda por cima viúvo. A freira declara-se. Tudo irá acabar numa tragédia, aqui não se conta o como e porquê, é um direito que assiste ao leitor.

Está dito e redito que esta literatura da guerra é um regresso permanente. A linha preponderante da narrativa atual é das memórias, muito menos a do romance. Causa surpresa ver Manuel Fialho a regressar com uma certa regularidade a Farim, tudo começou com um romance de amor e aqui temos um desfecho à volta da redescoberta do seu primeiro amor, o reencontro totalmente imprevisto com a clarissa que ele conhecera em Assis antes de vir para a Guiné, fora uma paixão proibida. É um evidente pretexto, o que é verdadeiramente importante é o regresso, como ele confessa:
“Optei pela nossa primeira casa, à beira do Cacheu e do magnífico terreiro onde as sombras das grandes árvores suavizam o bafejar quente e húmido das longas tardes, acolhendo a pequena tabanca Mandinga de crença islâmica. Preferi este lugar, na convicção de encontrar aqui a melhor escolha para compreender o meu último percurso e também pela maior proximidade à memória da minha mulher. Vivia junto dos nativos, onde eu queria encontrar as origens que as razões mais autênticas para refletir com mais liberdade sobre a condição humana”.

É também um outro modo de explicar como a memória tantas vezes fala mais forte e os antigos combatentes, sequiosos daquela laterite e daquela atmosfera onde se fizeram homens e tantas vezes ali viveram o acontecimento supremo das suas vidas, partem em romagem, como em romagem anda este Miguel Lúcio, embevecido com o entardecer nos rios da Guiné.
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19373: Notas de leitura (1138): "Voando sobre um ninho de Strelas": o autor dá-nos a dimensão do esforço dos bravos da Força Aérea, desde o piloto ao cabo mais simples, passando pelas enfermeiras paraquedistas, mostrando-nos toda a sua disponibilidade e entrega, mau grado as condições adversas em que viviam e, obviamente, o enorme risco de vida que corriam (Joaquim Mexia Alves, régulo da Tabanca do Centro)

Guiné 61/74 - P19376: O nosso blogue em números (58): em 2018, tivemos 3900 comentários, uma média de 3,3 comentários por poste... Voto para 2019: recuperar a média de 2015, de 4 comentários por poste...



Fonte: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019)


1.  Relativamente ao ano anterior  estamos com dificuldade em apurar o número exato de comentários que forem feitos aos 1189 postes publicados. O nosso servidor só nos permite listar os últimos mil, o que corresponde aos postes publicados deste 17 de outubro último até hoje, Há um problema técnico que que ainda conseguimos resolver... 

Podíamos somar os comentários um a um, o que seria trabalhoso. Utilizámos uma amostra dos 400 primeiros postes, a que correspondem 1177 comentários, e dos 243 últimos (de 17/10 a 31/12/2018), a correspondem  935 comentários...

O número de comentários, em 2018, não terá diferido do ano passado: aplicando a regra de três simples, deu-nos um total de 3923 comentários. A dividir por 1189 postes, temos uma média de 3,3 comentários por poste.

No final de 2017, o número de comentários tinha  atingido, no final do ano de 2017 um total de 70700. Com mais 3900 em 2018, teremos um total de 74600.  O número de comentários (, tal como o número de postes)  tem vindo a decrescer desde 2010 (Gráfico 6).

O número médio de comentários por poste, em 2017, foi o mesmo (3,2) do ano de 2009 (Gráfico 7). O recorde é 6 comentários, em média, por poste, nos anos de 2011 e 2012 em que publicámos um total de 1756 e 1604 postes, com 11 mil e 10,5 mil comentários, respetivamente... Em 2018 terá uma ligeira melhoria, com um número médio de 3,3 comentários por poste.

Os 74600 comentários registados no nosso blogue estão "limpos" de SPAM (mensagens não desejadas, publicitárias e outras), que é uma das pragas com que tivemos de lidar no passado. O nosso servidor, o Blogger, tem um sistema muito eficiente de filtragem de mensagens não desejadas, na caixa de comentários, se bem que isso possa inibir ou desmotivar alguns leitores, menos familiarizados com este procedimento.

2. Qualquer leitor, mesmo não registado no Blogger ou sem conta no Google, pode comentar como "anónimo"... As nossas regras exigem, no entanto, que no final da mensagem deixe o seu nome. Como "anónimo", o leitor terá sempre que "clicar" na caixa que diz "Nâo sou um robô"... (Ver exemplo abaixo.)

O ideal é usar a conta do Google: toda a gente um endereço de @gmail... Os comentários dão mais vida ao nosso blogue!...

Recorde-se que uma parte desses comentários pode dar (e tem dado) origem a postes, por iniciativa em geral dos editores mas também, nalguns casos, por sugestão dos autores. Por outro lado, alguns leitores queixam-se de terem perdido extensos comentários, certamente por terem tocado numa tecla errada... Nestes casos, é preferível escrever o texto em word, à parte  e no fim, fazerr "copy & paste"... É mais seguro...

Em 2019, para comemorar os 15 anos de existência do blogue,  vamos aumentar a atividade dos comentadores... Esperemos que se atinja pelo menos a média de 2015, de 4 comentários por poste... Camarada, não te inibas: escreve, na caixa de comentários, só para dizer que concordas ou discordas em relação ao que foi dito... No Facebook, sabemos que é mais fácil: gostas, não gostas, é tudo instantâneo como o pudim flã...

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Notas do editor:

Guiné 61/74 - P19375: Parabéns a você (1555): Mário Lourenço, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CCAV 2639 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 6 de Janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19369: Parabéns a você (1554): Paulo Santiago, ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Guiné, 1970/72)

domingo, 6 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19374: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (16): Prometo dar mais uma volta ao meu baú... (António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639, Binar, Bula e Capunga, 1969/71)





Lisboa > MNAA - Museu Nacional de Arte Antiga > 6 de janeiro de 2019 > Detalhes do "Presépio dos Marqueses de Belas" > Sala do Presépio Português, que dá acesso à  famosa Capela das Albertas. A peça central é o "Presépio dos Marqueses de Belas", com cerca de 3 centenas de figuras, um dos maiores presépios portugueses a seguir ao da Basílica da Estrela.

Aqui não faltam os Reis Magos, incluindo o Baltasar, o negro que passou a representar a África, para mostrar a "universalidade" do cristianismo... Neste presépio,  ele aparece dentro de uma tenda, "a espreitar", montado num elefante!... Deliciosa iconografia!... Dizem que foi Machado de Castro (1731-1822) o primeiro escultor a fazer um rei mago negro, uma ousadia para a época...

O "Presépio dos Marqueses de Belas" é uma  encomenda  de finais do século XVIII,  feita pelo colecionador José Joaquim de Castro ao escultor e presepista Barros Laborão (1762-1820). Foi acabada em inícios do séc. XIX sob a direção deste. Sofreu recentemente um complexo trabalho de restauro de cerca de 6 meses. envolvendo uma meia dúzia de técnicos. Assisti hoje, embevecido a uma visita guiada orientada para crianças... E fiquei rendido ao nosso presépio português barroco (sec. XVII e XVIII) e grato à dedicação e competência dos trabalhadores do MNAA, agora renovado mas sempre a lutar com inúmers dificuldades (a começar pela falta de recursos humanos e financeiros)... Enfim, uma boa notícia,  em dia de Reis, a (re)abertuda sala do Presépio Português e da Capela das Albertas... Tive igualmente o privilégio de ver "ao vivo"  o célebre quadro a óleo, "Adoração dos Magos", de Domingos Sequeira (1768-1837), recentemente adquirido pelo MNAA por "crowdfunding"... Trata-se de uma obra-prima da pintura portuguesa que estava nas mãos de privados...

Enfim, amigos e camaradas, o MNAA é um espaço nobre da cidade que merece ser melhor e conhecido e acarinhado por todos nós!...E tem um ótimo restaurante com esplanada e um belo jardim  com vista para o Tejo e para o nosso "saudoso" Cais da Rocha Conde de Ódibos... Tomem boa nota, camaradas e amigos, partilhem a informação... e deem mais corda aos sapatos em 2019!

È também uma forma do nosso blogue agradecer a todos os amigos e camaradas da Guiné que nesta longa quadra festiva quiseram honrar-nos com os seus votos de Bom Natal e Feliz Ano Novo... Não vamos citá-los a todos, porque corríamos o risco de deixar sempre alguém de fora. De grande parte parte publicámos as suas mensagens em duas séries (vd. marcador Boas Festas 2018/19). O último texto a ser publicado, em princípio, será o do António Ramalho.

Fotos de Luís Graça (2018), com a devida vénia ao MNNA, detentor da obra e dos seus direitos de imagem...

1. Mensagem de António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71), natural da Vila de Fernando, Elvas, membro da Tabanca Grande, com o nº 757:


Date: sábado, 5/01/2019 à(s) 15:57

Subject: Um excelente 2019 para todos!

Caro Luís, boa tarde.

Consulto diariamente o nosso blogue, todavia não tinha a noção que tinham decrescido os "postes". (*)

Presumo haver imenso material interessante nos baús, irei dar mais uma volta ao meu! Presumo que algum desapareceu ou foi destruído.

Acho interessantíssimos os textos publicados, cada um em seu estilo, leio-os todos.

Também noto que da minha Companhia [, a CCAV 2639,]  além de mim, do Mário [Lourenço] e do Vitor Garcia não aparece mais ninguém, mas há Net em todo o país!

O meu tempo continua escasso pelos compromissos assumidos e com a chegada de mais uma neta, contudo conto estar presente num próximo almoço da Tabanca da Linha.

Não sei se por lapso ou esquecimento deveria ter informado da data do meu nascimento - 3 de Janeiro de 1948 - o mesmo dia de Michael Schumacher, sou um fã da F1.

A foto com que me identificam com o ontem e hoje tem uma história, no próximo almoço eu conto-te.

Façam favor de continuar e progredir pois há por aí gente muito capaz!


Renovo os meus votos de um Bom Ano Novo para todos.

Um forte abraço

António Fernando Rouqueiro Ramalho (membro da Tabanca Grande nº 757)
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Guiné 61/74 - P19373: Notas de leitura (1138): "Voando sobre um ninho de Strelas": o autor dá-nos a dimensão do esforço dos bravos da Força Aérea, desde o piloto ao cabo mais simples, passando pelas enfermeiras paraquedistas, mostrando-nos toda a sua disponibilidade e entrega, mau grado as condições adversas em que viviam e, obviamente, o enorme risco de vida que corriam (Joaquim Mexia Alves, régulo da Tabanca do Centro)


Lisboa > Hotel Travel Park > 11 de dezembro de 2018 > Sessão de apresentação do livro "Voando sobre um ninho de Strelas" > O autor, António Martins de Matos, à esquerda, tendo a seu lado o Joaquim Mexia Alves, "régulo" da Tabanca do Centro e um dos três apresentadores do livro... Os outros dois foram   os editores dos blogues Especialistas da B12 Guiné 65/74,  e  Luís Graça & Camaradas da Guiné, respetivamente Victor Barata e Luís Graça (*).

Foto: © Miguel Pessoa (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Por amável cortesia do autor, Joaquim Mexia Alves, reproduz-se a seguir o texto (ou "nota de leitura") que o nosso camarada e amigo leu na sessão de apresentação do livro do António Martins de Matos, no passado dia 11 de dezembro (*):

Escuso-me de fazer cumprimentos formais.
Capa do livro do António Martins
de Matos, "Voando sobre um ninho
de Strelas"  (Lisboa, BookFactory, 2018,
 375 pp.) 
Pode ser omprado online.
  através da loja "Pássaro de Ferro":
preço de capa com portes incluidos: 20 €;
  para saber  mais, carregar aqui
Uma palavra apenas de cumprimentos aos meus colegas de mesa, muito especialmente ao António Martins Matos, autor do livro e meu amigo, o que com orgulho afirmo.

O António Martins Matos é um homem desassombrado, frontal, sincero, honesto, consigo próprio e com os outros, (especialmente com os seus amigos), e que não se preocupa, nem tem receio do “politicamente correcto”, dizendo sempre aquilo que são os factos e a sua opinião sobre eles, sem medo de que possa “ficar mal”.

Por isso mesmo, este é um livro que apresenta todas essas qualidades, quanto a mim, claro, pois é um livro desassombrado, sincero, frontal, onde o autor não se coíbe de apresentar factos, emitir opiniões e, como se costuma dizer em português corrente, “chamar os bois pelo nome”, sejam eles do passado ou do presente.

E é um livro que se lê num só folego, porque o António não escreve, fala connosco e conta-nos a sua história, as suas histórias, no tom coloquial directo que quem o conhece, lhe reconhece.

Mas não se pense no entanto que, por causa do atrás afirmado, o António não se deixa levar pelos sentimentos, pela emoção, pela delicadeza, o que está bem presente no episódio que conta sobre a enfermeira paraquedista Maria Celeste Costa, que ele termina com uma frase cheia de significado: «O hélice continuava a rodar…»

Para além de tudo o que esta frase significa de sentimento e delicadeza, tem também um ensinamento, que a nós vulgarmente chamados “tropa do chão”, não nos deve passar desapercebido e que é a referência ao hélice no masculino.

Com efeito o António ao longo do livro vai-nos ensinando os termos da Força Aérea e não só, que a alguns de nós, “tropa do chão”, são desconhecidos e por isso mesmo por vezes causam pequenas irritações nos Pilotos da Força Aérea, o modo como nos expressamos em relação aos aviões, avionetes e outros mimos como estes.

Eu por acaso até tenho alguma formação na coisa, dados os muitos fins de tarde passados na Esquadra dos Falcões em Monte Real, em alegres convívios, (para não dizer mais), em que volta e meia lá me diziam que eu já devia ter aprendido tais nomenclaturas.

Esses fins de tarde até deram origem a um vôo de A7P, pilotado pelo “Fininho”, não o citado no livro, mas outro que também esteve na Guiné, e que é uma das coisas da minha vida que nunca esquecerei.
Mas continuemos no livro.

Se esperam de mim uma recenção literária de fino recorte e saber, desiludam-se, porque para tal não tenho engenho nem arte e este livro é, pelo menos para mim, demasiado terra-a-terra, no bom sentido, claro, e como tal merece muito mais que fale do coração do que do intelecto. (**)

Uma das muitas coisas que retiro deste livro é a forma como o mesmo se vai desenvolvendo, a mobilização, a chegada, o ajustamento às circunstâncias, o tirar partido do pouco ou muito que se tem à disposição, a experiência que o vai tornando veterano e a partida e chegada ao ponto de origem.

É que ao lê-lo também eu fui sendo conduzido pelo mesmo caminho e a atravessar memórias que estavam guardadas há muito cá dentro, na cachimónia.

E o António vai-nos brindando com expressões de humor, do melhor humor português, aquele que se faz de subentendidos, de tiradas maliciosas sem o serem verdadeiramente, aquele humor tão bem identificado nos velhos filmes portugueses, e que hoje se perdeu, para se transformar em rebaixaria e outras coisas que tais.

Claro que o António nos fala da guerra, não só da sua, mas da de todos nós, e não se coíbe de apresentar factos e deles tirar ilações lógicas, opiniões fundamentadas, não tendo receio de afirmar o que muitos sabem, mas têm medo de afirmar porque não estão em consonância com o pensamento uniformizador que hoje em dia, (e já do anterior tempo), se pretende instalar nas cabeças entorpecidas pela apatia e o comodismo individualista.

Por causa da minha ligação à Força Aérea atrás referida, (até tenho um irmão que foi Piloto no tempo da famosa Base de Sintra), sempre tive por aquela gente uma grande admiração e sempre soube e percebi da sua generosidade e disponibilidade para os outros, mas a verdade é que ainda hoje em dia, (e naqueles tempos também), para muitos a Força Aérea pouco ou nada fazia, não chegava quando era precisa e, mais ainda, protegiam-se, não se colocando em risco demasiado.

Neste livro o António dá-nos a dimensão do esforço dessa gente da Força Aérea, desde o Piloto ao Cabo mais simples, passando pelas enfermeiras paraquedistas, mostrando-nos toda a sua disponibilidade e entrega, mau grado tantas condições adversas que viviam, e, obviamente o enorme risco de vida que corriam.

Nós, “tropa do chão”, temos que reconhecer todo o trabalho que esta gente do ar nos prestou na Guiné, e não só, e percebermos que muitos de nós, provavelmente estamos vivos, porque alguém da altura dos céus da Guiné nos protegeu e ajudou.

Fala-nos também do Ten Cor José Almeida Brito, primeiro Piloto a falecer por causa do míssil Strela, com a voz repassada de orgulho, mas também de indignação, pelo modo como foi tratado todo aquele processo, para não lhe chamar outra coisa.

E mais à frente volta ao tema, (que quem me conhece sabe que piso e repiso, infelizmente sem grande sucesso), do abandono dos corpos dos militares falecidos por terras de África, e também ao abandono dos militares africanos que juraram a mesma Bandeira Portuguesa, como nós e foram abandonados à sua sorte madrasta, que culminou para uma grande parte deles no fuzilamento pelos novos senhores dos novos países.

E depois leva-nos a pensar nesta coisa de sermos combatentes, do tal Dia dos Combatentes, permanentemente enxovalhados por uns sujeitos que fazem uns discursos, (tipo palmadinha nas costas), para nos adormecer e manter caladinhos, até porque já faltam poucos anos para todos desaparecermos da história dos vivos e assim tudo fica resolvido: “Tudo como dantes, quartel general em Abrantes”!

Chama a sua filha para nos falar dos medos, das ansiedades, das recordações da guerra e nos lembrar que ainda há tantos que sofrem na pele, no seu dia-a-dia todos esses problemas, abandonados a maior parte das vezes por um Estado que nem quer ouvir falar deles, mas que tem recursos, pelos vistos, bastos e disponíveis para aqueles que, perdoem-me a nota humorística, dele se servem, perdão, queria dizer, ou talvez não, o servem.

A sua filha diz mesmo que um “dos factores determinantes para a capacidade de resiliência mental do ser humano é sentir-se amado".

Se aqueles que sofrem ainda a guerra poderão ser amados pelos seus familiares, não o são com certeza pelo Estado que serviram, aliás, não só não são amados como nem sequer reconhecidos.

Mais uma vez peço perdão pelas minhas palavras, mas quando nos recordam a guerra e os nossos camaradas de armas como tão bem o António nos faz neste livro, também eu parto para a frontalidade e não me consigo calar.

Por isso, obrigado, António!

Para finalizar uma nota de humor!
Ao chegar ao fim do livro e perante os anexos não pode deixar de sorrir ao ver nos documentos ali retratados o carimbo de Muito Secreto!!!

E eu que pensava que secreto era secreto, mas pelos vistos, também há o muito secreto!

Termino contando-vos um segredo, mas este classificado como pouco secreto:

O António Martins Matos tem neste livro uma obra acabada, mas que não acaba, porque continua viva dentro de nós combatentes.

Por isso mais uma vez: Obrigado, António!


Guiné 61/74 - P19372: Blogues da nossa blogosfera (107): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (24): Palavras e poesia


Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.

OUARZAZATE (Secreta ironia)

ADÃO CRUZ

© Adão Cruz

As franjas da memória abrem-se na manhã fria da solidão
como torvelinho de água nas despojadas pedras do tempo.
Eis que nos damos conta de uma longa viagem
a qualquer cidade para lá do horizonte
quando um mar de cal viva queima os sentimentos
no estribo de um velho comboio sem princípio nem fim.
Eis que nos damos conta das lágrimas contidas num mar de cinza
cobrindo a alegria de viver
quando se apaga o sol que brilha entre as mãos.
Eis que no crescer da angústia uma infinda tristeza afoga a razão
entranhando no sangue a sombra espessa da desilusão.
O coração tomba perdido na poeira da cidade
preso à orla do deserto de Ouarzazate como criança sem asas.
Na terra sem trilhos e sem regresso aos olhos
onde se abre o sorriso de todas as manhãs
eis que nos damos conta de não fazermos parte do mundo.
E cai o sofrimento
no profundo silêncio das noites sem nome suspensas das estrelas.
E resta a saudade
ardendo em fogo lento como ramo seco da primeira folha verde.
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Nota do editor

Último poste da série de 25 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19231: Blogues da nossa blogosfera (106): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (23): Palavras e poesia

Guiné 61/74 - P19371: Blogpoesia (602): "Desespero das flores", "Olhares enviezados" e "Pontes de Lisboa", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Ponte de Vila Franca de Xira
Com a devida vénia a XIRA.PT


1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Desespero das flores

Vêem-se espelhadas
nas estrelas do céu,
luzindo de noite.

Acordadas de dia.
Pintadas de cores.
Fenecem paradas.
Presas às hastes.
Baloiçam ao vento.
Sua vontade é voar.

Regalam os olhos
De quem vai a passar.
Sabem a mel,
Não podem beijar.

Vegetam caladas.
Ouvem zumbidos,
Soletrando cantigas.
Não sabem cantar.

Recebam visitas.
Expostas ao sol.
Exalam perfumes.
Não podem cheirar.

Lamentam a sorte
Que a beleza lhes deu.
Afinal para quê?
Não podem amar...

Berlim, 30 de Dezembro de 2018
8h10m
Jlmg

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Olhares enviezados

A linha recta nunca une os olhares enviezados.
São tortos aqueles olhos que tudo distorcem a seu jeito.
Não brilha neles o sol da verdade.
Calculistas. Elitistas.
Interesseiros.
Só o que lhes dá lucro.

Se desculpam sempre se chamados a participar.
Pesos mortos.
Sem eles tudo gira melhor.

E se tropeça neles em cada esquina.
Obstáculos ao nosso progresso.
Mas, também nos torna mais ágeis.
Mais atentos.
E isso é bom.
A facilidade é terreno fértil para os ociosos.
Sem arestas ou asperezas, escorregar é um risco certo.

Berlim, 2 de Janeiro de 2019
8h45m
Jlmg

********************

Pontes de Lisboa

Duas de ferro outra de massa, unem as duas margens do Tejo.
Dois laços que abraçam o norte e o sul.
Três faxas que vão e vêm.
Longe e perto.

Vila Franca.
Vinte e cinco de Abril.
Vasco da Gama.

Cada uma tem sua história.

A primeira.
Tantos anos única.
Passagem firme em ferro.
Das lezírias e do gado bravo.
Às matas densas de pinheiros mansos,
Das azinheiras e dos sobreiros.
Um ermo verde.
Do Alentejo até ao Algarve.

A segunda.
Mais a sul.
Também em ferro.
Colossal para as nossas forças.

Vi-a nascer.
Suspensa em cordas.
Desde o paquete Timor que nos levou para a guerra.
Estava aberta quando voltei para casa.
1966.
Se realizara um sonho.
Lisboa e Almada. Duas irmãs.
Se abateu de vez, a fronteira entre o sul e o norte.

A terceira.
Ponte sem fim.
Rentinha à água.
Lisboa ao longe.
Se calhar, errou.
De pouco serviu...

Se navega nela como se no mar.

Berlim, 5 de Janeiro de 2019
14h32m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19351: Blogpoesia (601): "Fantasias", "Sementeira" e "Tédio", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P19370: Manuscrito(s) (Luís Graça) (149): O último pôr do sol... nas Azenhas do Mar














Sintrra > Azenhas do Mar > 31 de  dezembro de 2018 >  O último pôr do sol do ano...


Fotos (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados. [Edição : Blogue Luís Graça & Canaradas da Guiné]



Um gajo não é uma merda, camarada!

por Luís Graça

Um gajo tem de acreditar que amanhã não é outro ano, 
mas apenas um outro dia,
mais um outro dia.

Um gajo tem de ter fé nos gajos que inventaram o calendário
e que dizem que amanhã é terça-feira,
dia 1 de janeiro de 2019.

É bom seres circadiano,
para não andares zonzo todo o ano,
e para poderes pensar que amanhã é outro dia.

Um gajo tem de poder vislumbrar uma nesga de luz
por entre as persianas da janela
do quarto escuro.

Um gajo tem de poder negar a visão do mundo 
como um quarto escuro.
Ou vermelho, quando tinhas sarampo, sarampelho,
que sete vezes vinha ao pelo.

Um gajo, mesmo sem fé,
agnóstico, não-crente, desalinhado, desformatado, 
tem de saber lidar contra a claustrofobia
do mundo feito quarto escuro como breu.

Um gajo, até mesmo ateu,
tem de alimentar a secreta esperança
de que o vento da infelicidade dos povos
vai mudar de direção.
Não rezes mais ao teu irã, Guiné!

Afinal, por que é haverias de soprar sempre na mesma direção,
ó grande irã ?!
No alto do poilão da nossa tabanca, 
não passas afinal de um catavento,
tanto te viras para Seca como para Meca.

Um gajo não é de ferro,
mas aguenta com raios e coriscos.
Como aguentou com a metralha da guerra.

Um gajo até pode ser de ferro, como os "rangers",
mas também oxida.
E pode ficar louco
só de pensar que amanhã não é outro dia,
ou pode não ser outro dia!

Um gajo, camarada, não é uma merda
como te queria fazer crer 
o sacana do teu instrutor militar em Tavira.
E como às vezes te segreda
o parasita do  irãzinho mau que se aloja no teu cocuruto.

Um gajo não é um herói, muito menos um deus.
Afinal, és melhor, camarada: 
és um homem, 
que tens de saber dar corda  aos sapatos e ao coração, 
e que és capaz de parar um segundo frente ao pôr do sol,
e tirar um autorretrato instantâneo
e, como um bom franciscano, 
dizer ao deus-sol:
-Até amanhã, camarada, amigo, irmão!

Azenhas do Mar, 31 de dezembro de 2018.

Luís Graça
v3


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Guiné 61/74 - P19369: Parabéns a você (1554): Paulo Santiago, ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Guiné, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 5 de Janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19364: Parabéns a você (1553): João Meneses, ex-2.º Tenente FZE do DFE 21 (Guiné, 1971); Ricardo Figueiredo, ex-Fur Mil Art do BART 6523 (Guiné, 1973/74) e Valentim Oliveira, ex-Soldado Condutor da CCAV 489 (Guiné, 1963/65)

sábado, 5 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19368: Os nossos seres, saberes e lazeres (301): Viagem à Holanda acima das águas (6) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Outubro de 2018:

Queridos amigos,
É uma despedida nostálgica, houvesse meios, e voltava no dia seguinte, é um quase absurdo comprimir num dia de visita a contemplação de arte tão bela, em pintura, em escultura, em desenho, com ambiente de jardins soberbo, a serenidade total, a possibilidade de entrar e sair, ver esculturas de Barbara Hepworth e reentrar no museu para ver Van Gogh, Corot, Fantin-Latour, Millet, Renoir, Gauguin, Picasso ou Mondriaan.
A fatia de leão cabe a Van Gogh. Mas é consabido que a viagem nunca acaba, o que acaba são os viajantes, e se tudo é assim tão belo, se está tão firmada a vontade de voltar, é tudo uma questão de criar uma nova viagem, seguramente que se irá ver com outros olhos aquela beleza que tanto nos encadeou.

Um abraço do
Mário


Viagem à Holanda acima das águas (6) 

Beja Santos 

O Museu Kröller-Müller tinha patente uma exposição intitulada “Odillon Redon, a literatura e a música”, um amplo olhar sobre a extensa obra deste artista francês (1840-1916), nas interseções da literatura e da música na vida e obras de Redon. Extensa obra: no pastel, no desenho, na pintura e na litografia. Desde a juventude, entusiasmou-se pela música, aprendeu violino e piano enquanto desenvolvia uma verdadeira paixão pela literatura. Fez amizades com numerosos escritores e compositores. No seu modo de pensar, a música, os assuntos literários e a arte plástica formavam um todo indissociável. Daí a singularidade reconhecida a Odillon Redon pela maneira como combinava estas forças expressivas na sua obra.

“O Ciclope”, 1914.

“A arte celeste”, 1894.

O motivo das suas obras decorre de fontes literárias e musicais, é um extensíssimo arco que vai da Antiguidade até Richard Wagner: Pégaso, o cavalo alado, passando por Salomé e Brünnhilde, de Orfeu a Ofélia. Redon reutiliza incessantemente estes motivos, fá-los mudar de aparência e dá-lhes novos significados, como se fossem variações sobre o mesmo tema num trecho musical.



Na exposição do Museu Kröller-Müller, releva-se o desempenho de Redon tanto como escritor como ilustrador, podem-se observar séries litográficas que ele realizou para acompanhar os textos de escritores que ele profundamente admirou, caso de Gustave Flaubert, Edgar Allan Poe e Charles Baudelaire. Ele associa igualmente as suas litografias aos seus próprios textos para criar poemas visuais e textuais – palavra e imagem formam um todo.





A exposição é composta por quase 170 peças provenientes de uma coleção privada, de obras de Redon do Museu Kröller-Müller e de outras obras emprestadas de diferentes coleções. A literatura e a música revelam assim um grande leque e uma grande variedade de temas inéditos na obra de Redon, desde as suas poderosas litografias a branco e preto à técnica do pastel luminoso e colorido. Grande oportunidade para conhecer este mundo de imaginação e de fantasia, a marca de água de Odillon Redon.



Quando começou a II Guerra Mundial, Barbara Hepworth deixou Londres e instalou-se na Cornualha, mais propriamente em St Ives, mudança que teve uma influência determinante na evolução da sua obra. A paisagem da Cornualha iria ser uma fonte de inspiração inesgotável: formas de conchas, pedras, colinas, novas simbioses entre as formas e os fenómenos da Natureza. Ela mesmo confessou que este contacto lhe deu uma confiança na indestrutibilidade das forças positivas. Numa obra autobiográfica, escreveu: “Não existe paisagem sem figura humana: é-me impossível sonhar com a Pré-História em abstracto. Sem a relação do Homem e a sua Terra, a imagem mental torna-se um pesadelo. Uma escultura poderá ser colocada num vazio; mas não se passa nada antes que o homem vivo nela reencontre a sua imagem”.
O viandante está feliz, Barbara Hepworth que há muito é a sua escultora preferida, um espelho do mundo em pedra, em madeira, em metal.
Amanhã, o dia começa com um passeio pelo Reno, viagem pelos pólderes, ver moinhos, um pouco da Holanda submersa intercalando com a imersa. É muito belo, a luta constante entre o homem e a água, para que a terra seja fértil, como é.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19344: Os nossos seres, saberes e lazeres (300): Viagem à Holanda acima das águas (5) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19367: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (63): Fotos áreas do reordenamento de Nhabijões, precisam-se (Francesca Vita, doutoranda em arquitetura, Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto)


Guiné > Região de Baftá > Setor L1 > Bambadinca > 1970 > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) Vista aérea do aquartelamento e posto administrativo de Bambadinca (que pertencia ao município de Bafatá) > Vista aérea, obtida de helicóptero,Em primeiro plano o edifício do comando e as instalações de oficiais e sargentos. Bambadinca (em mandinga, "cova do lagarto") ficava numa pequena elevação ou morro, sobranceiro à extensa bolanha (a leste, à direita da imagem) e ao rio Geba (a norte), e de que vê uma nesga, ao fundo do lado esquerdo. Nesta altura, por volta do 1º trimestre de 1970, Bambadinca albergava mais de 700 militares (incluindo a CCS/BCAÇ 2852, prestes a terminar a sua comissão, mais um companhia de intervenção, a CCAÇ 12, 1 pelotão de morteiros, 1 pel rec daimler, 1 pel caç nat, mais 1 pelotão de intendência (embora este tivesse instalações próprias, junto ao porto fluvial de Bambadinca, na margem esquerda do Rio Geba Estreito). Estava em curso o grande reordenamemto de Nhabijões.

O Humberto Reis, que tem as melhores fotos aéres  da região de Bafatá (incluindo Bambadinca) não tem nenhuma foto (aérea) de Nhabijões e do seu reordenamento em construção.

Foto (e legenda)s: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Francesca Vita, doutoranda italiana  em arquitetura pela Universidade do Porto:

 Date: sábado, 5/01/2019 à(s) 10:59
Subject: Nhabijoes | fotos
Bom dia Prof. Luís Graça,

Antes de mais espero tenha passado boas festas de paz e sossego. 

Peço desculpa se nunca mais houve minhas notícias, mas andei em deslocações e regressei de Itália apenas ontem. 

Nos últimos tempos, estive a trabalhar num artigo sobre o plano de reordenamentos na Guiné durante o Governo de Spínola. Entreguei um abstract (que quando terei autorização irei partilhar com muito gosto consigo) para o congresso "Colonial and Post Colonial landscapes", que terá lugar na Fundação Gulbenkian de 16 a 18 de janeiro. 

Deixo-lhe aqui em baixo o link no caso lhe interessasse: https://www.colonialandpostcoloniallandscapes.com

Venho com este meio contactá-lo enquanto queria lhe perguntar se tiver, ou se sabe quem poderia ter ou em qual arquivo encontrar, fotografias aéreas do reordenamento de Nhabijões. Pareceu-me um caso exemplificativo para mostrar a atuação da politica dos reordenamentos. Infelizmente no site https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com não consegui encontrar fotografias de vista de cima. 

Como sempre agradeço a sua disponibilidade e apoio,

Desejo-lhe um ótimo começo de 2019

Melhores Cumprimentos,

Francesca
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Francesca Vita

PhD student in Architecture at FAUP
FCT PhD studentship

PT // IT
(port) +351 915544599
(ita) +39 3312831235
francesca.vita0@gmail.com
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Guiné 61/74 - P19366: O nosso blogue em números (57): de 2012 a 2018, entraram em média, por ano, cerca de 27 novos membros para a Tabanca Grande: somos agora 783, dos quais 70 já faleceram.


Fonte: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019)

1. No final de 2018, a Tabanca Grande contava com 783 membros, também designados como "grã-tabanqueiros" ou "tertulianos",  sentados simbolicamente à volta de um sagrado e protetor poilão...

No final de 2017, eram 765 membros. Entraram, portanto, durante o ano de 2018,  18 novos membros (Gráfico nº 5).

No final de 2016, éramos 731... Em junho de 2006, éramos 111... De abril de 2004 a maio de 2006, entram em média, 5,3 novos membros por mês (!)...  

Mais do que triplicámos em pouco mais do que três anos e meio (de junho de 2006 a dezembro de 2009), passando a ser 390 membros da Tabanca Grande: crescimento médio mensal = 6,5.

De 2009 (n=390) a 2012 (n=595), o crescimento médio mensal continuou alto (5,7). De então para cá, esse indicador tem vindo a diminuir: é agora de apenas 1,5 por mês. Foi de 2,8 em 2017 e  1,7 em do que em 2016. (*)

Comparando os últimos 7 anos (2012-2018), tivemos um média anual de c. 26,9 entradas para a Tabanca Grande.

Em 176 meses, ou seja, em  quase 15 anos da nossa história (que vamos comemorar em abril de 2019),  tivemos em média, 4,4 novos membros por mês, o que é notável. (**)


2. No ano de 2018  tivemos 9 "baixas" (por falecimento),  o mesmo número de  2017.

Lembremos aqui, por ordem alfabética, os nomes dos 9 camaradas, inscritos formalmente na Tabanca Grande, que "da lei da morte se foram libertando":

António Manuel Sucena Rodrigues (1951-2018)
Armando Teixeira da Silva (1944-2018)
Carlos Cordeiro (1946-2018)
Gertrudes da Silva (1943-2018)
João Rebola (1945-2018)
João Rocha (1944-2018)
Joaquim Peixoto (1949-2018)
Luís Encarnação (1948-2018)
Manuel Carneiro (1952-2018)

São agora já 70 os camaradas e amigos já falecidos nestes 14 anos e 8 meses  de existência do nosso blogue. Mas podem eventualmente ser mais. Há membros da nossa Tabanca Grande que não têm feito a "prova de vida"  nos últimos anos, contactando-nos, escrevendo-nos, telefonando-nos, aparecendo nos convívios das diversas tabancas, etc. É o caso, por exemplo, do António Paiva, que estava doente e pode infelizmente já não estar entre nós. (Foi soldado condutor auto rodas, Bissau, HM 241, 1968-70.)

De qualquer modo, connosco ninguém fica na "vala comum do esquecimento"...  É esse um dos objetivos deste blogue, que é, ao fim de 15 anos, a maior rede social de ex-combatentes da Guiné (1961/74).

3. Não confundir, no entanto,  membros da Tabanca Grande, formalmente registados (n=783), com amigos do Facebook, da nossa página Tabanca Grande Luís Graça (n=2813).  

O processo de adesão de uns e outros é diferente: o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné acolhe essencialmente ex-combatentes que estiveram no TO da Guiné, entre 1961 e 1974, e que querem partilhar memórias do tempo da sua comissão de serviço (fotos, histórias, depoimentos, etc.).

Por outro lado, o blogue tem um conjunto regras editoriais que os membros da Tabanca Grande têm de respeitar. No entanto, há uma série de "amigos do Facebook", ex-camaradas da Guiné, que bem poderiam integrar o nosso blogue... Para isso basta, contactar os editores por email, pedindo expressamente a sua entrada no blogue da Tabanca Grande [leia-se: como membros do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]. Junto com o pedido, exige-se duas fotos (uma atual, à paisana,  e outra do "antigamente", fardado) e duas linhas de apresentação: sou o fulano tal, estive na companhia tal, no período tal, passei pelos sítios tais e tais...

Em 2019 queremos ultrapassar as 8 centenas de amigos e camaradas da Guiné. Já faltam poucos: só 17!
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 10 de janeiro de  2018 > Guiné 61/74 - P18199: O nosso blogue em números (49): em c. de 14 anos (164 meses) entraram 4,7 novos membros, por mês, para a Tabanca Grande: éramos 111, em junho de 2006, somos agora 765 (em dezembro de 2017)... Neste último ano tivemos 9 "baixas", por falecimento.

Guiné 61/74 - P19365: O nosso blogue em números (56): Em 2018 publicámos 1189 postes, em média 3,3 por dia... A nossa produção tem vindo a baixar desde 2010 (, ano em que atingimos o recorde, com 1955 postes)


Fonte: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019)


1. O número de postes publicados  entre 1/1 e 31/12/2018, segundo o apuramento feito pelo nosso coeditor Carlos Vinhal, foi de 1189. Em 2017, publicaram-se 1262 postes... O número de postes anuais tem vindo a decrescer desde 2010, ano em que foi atingido o recorde (n=1955) (Gráfico 4).

Em 2018, os 1189 postes publicados foram assim distribuídos pelos 3 editores em efetividade de funções:

Luís Graça  / Tabanca Grande- 566
Carlos Vinhal - 611
Magalhães Ribeiro - 12

Entre os postes publicados por Luís Graça e Tabanca Grande, estão seguramente algumas dezenas, da autoria do Jorge Araújo, coeditor que, por razões técnicas, ainda não está a "postar" com o seu nome... É o principal animador da série "(D)outro lado do combate"...

Em 2017 publicaram-se 1262 postes o que se traduz em menos 1,4 postes por semana em 2018. Média diária: cerca de 3,3 postes... Foi de 3,45/dia, em 2017...

"Nada de grave. É natural este ciclo de diminuição do número de postes publicados, uma vez que estará quase tudo dito pela tertúlia" (Carlos Vinhal dixit)...

Por outro lado, "graças à preciosa colaboração do confrade Mário Beja Santos, estamos numa fase de conhecimento de documentação e bibliografia, publicadas na nossa série Historiografia da Presença Portuguesa em África, que na Guiné que nos interessa particularmente." (**)
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P19364: Parabéns a você (1553): João Meneses, ex-2.º Tenente FZE do DFE 21 (Guiné, 1971); Ricardo Figueiredo, ex-Fur Mil Art do BART 6523 (Guiné, 1973/74) e Valentim Oliveira, ex-Soldado Condutor da CCAV 489 (Guiné, 1963/65)



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Nota do editor

Último poste da série de 2 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19354: Parabéns a você (1552): Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil Art da CART 2339 (Guiné, 1968/69)