Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 21 de março de 2007
Guiné 63/74 - P1618: Tabanca Grande (6): Benjamim Durães, ex-Fur Mil da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72)
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCS do BART 2917 (1970/72) > O Furriel Mil Durães, na parada do quartel de Bambadinca.
Foto: © Benjamim Durães (2007). Direitos reservados
Mensagem do novo membro da nossa tertúlia, um camarada do BART 2917, com quem eu e outros camaradas da CCAÇ 12 convivemos durante nos nossos últimos noves meses de comissão, em Bambadinca. Reconheci-o de imediato, através das fotos digitalizadas que acimo reproduzo. Volto a saudá-lo e desejo boa estadia entre na nossa 'caserna virtual'... Se a memória não me atraiço-a do mesmo Batalhão temos aqui mais dois camaradas: o ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas David Guimarães (CART 2716, Xitole) e o ex-Alf Mil Sapador Luís Moreira (CCS, Bambadinca).
O Durães está a organizar o primeiro encontro do pessoal do BART 2917, que vai ter lugar em Setúbal, no próximo dia 9 de Junho (2).
Luís: Com um abraço forte. Conforma tua solicitação, em anexo seguem duas fotos minhas tiradas em Bambadinca, além de uma actual, para acompanhar a actualização dos meus dados na página da nossa tertúlia, e que são os seguintes:
Nome - Benjamim Silva Durães
Posto - Furriel miliciano
Especialidade - Reconhecimento e Informação e Operações Especiais
Unidade - CCS do BART 2917
Local - Bambadincxa (Zona Leste / Sector l1)
Tempo de comissão - Maio de 1970 / Março de 1972
Morada actual:
Rua Florbela Espanca, nº 102
900 – 296 Palmela
E-mail - benjamimduraes@hotmail.com
Telemóvel - 93 93 93 315
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Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 15 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1527: Lista de ex-militares da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e unidades adidas (Benjamim Durães)
(2) Vd. post de 1 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1556: 1º Convívio da CCS do BART 2917: Setúbal, 9 de Junho de 2007 (Benjamim Durães)
terça-feira, 20 de março de 2007
Guiné 63/74 - P1617: A mística e a nostalgia do espírito de corpo dos comandos (A. Mendes, 38ª CCmds)
1. Recebi, em 17 de Fevereiro último, uma foto (actual) do Amílcar Mendes. Escreveu-me ele: "Amigo Luís, como vês a idade não perdoa. Aqui vai uma foto dos dias de hoje, que as de ontem já tu tens. Um grande abraço. A. Mendes".
O nosso camarada, que pertenceu à 38ª CCmds, já aqui publicou alguns posts notáveis. No entanto, o último que dele publiquei remonta a 18 de Janeiro de 2007 (1).
Notei, de resto, alguma amargura nas suas palavras, quiçá mesmo desilusão, em relação ao nosso blogue:
"De há uns tempos a esta parte tenho sido mais leitor que interveniente, porque algumas coisas que vou lendo no Blogue, sobre o tempo da guerra da Guiné, me obrigam a estar calado. De facto, os comentários que vou lendo confundem-me ao ponto de não saber se falamos da mesma guerra e da mesma Guiné".
"Primeiro que tudo estou no Blogue porque sou um ex-combatente da Guiné e é essa a razão deste Blogue. Trocarmos impressões sobre o que passámos é saudável. A razão por que é que passámos, isso é já história política. Para isso existem os letrados e iluminados que escrevem sobre as causas e consequências" (...).
Na altura fiz-lhe o seguinte comentário:
"A gente ainda não se conhece pessoalmente mas já temos falado várias vezes ao telefone (...) Há muitas feridas de guerra, no corpo e na alma, que não saram e que vão morrer connosco. (...). É uma problemática dolorosa, essa, a do deve-e-haver da nossa guerra em África (...).
"Como qualquer membro da nossa tertúlia, tu tens direito à palavra. Não preciso de te dizer que o teu testemunho, como homem e como operacional, me sensibilizou, e tem enriquecido o nosso esforço colectivo para reconstruir e divulgar a nossa memória da guerra na Guiné (...).
"Nunca escondemos uns dos outros que não pensamos todos pela mesma cabeça, nem sentimos todos pelo mesmo coração... A nossa riqueza está justamente no nosso pluralismo e na capacidade de gerir as nossas diferenças... É certo que nem sempre lemos o que outro escreve... Tu, por exemplo, se calhar não entendeste bem o que o Vitor [Junqueira] quis dizer, ou então foi o Vitor que não comunicou bem... Compete a ele esclarecer-te, se for caso disso. Mas eu insisto: temos que aprender a ouvir os outros"...
Depois disso ele limitou-se a mandar uma foto pessoal (que reproduzo acima) para actualização dos seus dados constantes da página respeitante à nossa tertúlia. Fico-lhe grato, mas continuo à espera que ele retome a sua colaboração no blogue, contando-nos mais estórias da sua actividade operacional no TO da Guiné, enquanto comando da 38ª...
Obrigado, Amílcar. Fico à tua espera. E já agora faço-te uma surpresa (re)publicando um dos teus primeiros textos, inserido na 1ª série do blogue (mas sem o teu nome no título)... É um texto poético (por onde perpassa a mística e a nostalgia do espírito de corpo dos comandos, mas também a exaltação do tempo de juventude) para tu releres, noite dentro, no teu táxi, algures na noite de Lisboa... E aparece quando quiseres e puderes, que o nosso semáforo está sempre verde... para os amigos e camaradas da Guiné (LG).
Foto: © Amilcar Mendes (2007). Direitos reservados.
Foto: © Virgínio Briote (2005) . Direitos reervados.
2. Post originalmente publicado no Blogue-fora-nada, em 1 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXI: O regresso dos Comandos (A. Mendes)
Texto de A. Mendes (... com um abraço ao Briote, um dos 'velhos comandos' de Brá, que aparece aqui, na foto ao lado) (2):
Escolheram um entre cem. A elite do exército. São 130 com oficiais, sargentos e praças. São uma Companhia de Comandos que aguardam o fim do silêncio ao cair da noite. Todos envergam o dolmen que ostenta o crachá e o lenço preto será o respeito pelos que ficaram. São todos veteranos de África. Soldados que guardam no fundo do peito, após o regresso de África, a nostalgia indefinível de terem deixado lá longe, do outro lado do mar, a liberdade de uma vida há pouco começada. Pois lá longe havia a guerra e nela sentiam-se livres, livres e iguais, livres e pobres. Ricos, somente, dos seus músculos, das suas armas e da sua Audácia.
Lá longe até o vento tinha um certo gosto e a terra selvagem parecia cantar. É certo que havia medo e era preciso ter corajem. Uma bala perdida ou um estilhaço acabavam sempre por vencer.
A Pátria dos Comandos estendia-se de Lamego aos planaltos de Moçambique, onde as granadas erguiam a noite dos tempos para os bravos. Era aí que se batiam os jovens guerreiros que só em si próprios acreditavam, recitando por puro prazer o credo das suas legiões a milhares e milhares desses senhores palavrosos que se permitiam medir-lhes a glória ou a crueldade.
Foram felizes e todo-poderosos. Regressaram para cumprir os ritos da sua guerra. Para se recolherem. Para compartilhar, também, da sua Pátria faternal, beber em honra dos sacrificados, cantar com os camaradas de armas. Como já tinham feito outrora os seus irmãos, seguindo a tradição dos veteranos. Soldados das matas, marcados pela África onde se bateram para respeitar o juramento à Bandeira e ao Código Comando.
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Notas de L.G.:
(1) Vd. 16 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1435: Questões politicamente (in)correctas (17): Matei para não ser morto (A. Mendes, 38ª CCmds)
(2) O 1º Cabo Mendes, da 38ª CCmds (Os Leopardos) foi comando na Guiné, de 1972 a 1974. Bateu o território "de norte a sul, de este a oeste". Esteve em todos os sítios quentes: Morés, Cubiana-Churo, Oio, Cantanhez... E ainda "em Guidaje, no cerco de Binta a Guidaje, enterrando os nossos mortos na bolanha do Cufeu" (3)...
Vd. posts de
9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1262: Guidaje: a verdade sobre o Cemitério de Cufeu (A. Mendes, 38ª CCmds)
1 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1232: O soldado comando Raimundo, morto em combate, não foi abandonado em Guidaje (A. Mendes, 38ª CCmds)
27 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1123: Um espectáculo macabro na bolanha de Cufeu, em 1973 (A. Mendes, 38ª Companhia de Comandos)
Vd. ainda os posts de:
22 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1199: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (1): Sete anos de serviço
22 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1200: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (2): Um dia de Natal na mata de Cubiana-Churo
22 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1201: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (3): De Farim a Guidaje: a picada do inferno (I parte)
23 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1203: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (4): De Farim a Guidaje: a picada do inferno (II Parte)
23 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1205: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (5): uma noite, nas valas de Guidaje
24 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1210: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (6): Guidaje ? Nunca mais!...
24 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1207: Guidaje, Maio/Junho de 1973: a 38ª CCmds, na História da Unidade (A. Mendes)
Guiné 63/74 - P1616: O meu regresso a Guidaje (Victor Tavares, CCP 121)
Guiné > Região do Cacheu > Guidaje > Maio de 1973 > BCP 12/ CCP 121 > O ex-1º Cabo Paraquedista Victor Tavares, com a sua a MG sempre pronta a entrar em acção (1).
Foto: © Victor Tavares (2006). Direitos reservados.
Mensagem do Victor Tavares (2):
Estimado Amigo Luís.
Peço imensa desculpa por ainda não ter dado sinais de vida, depois do meu regresso de Guidaje (3).
Tenho-te a dizer que correu tudo bem. Alcancei o que pretendíamos, localizei sem problemas o cemitério (4) e fizemos o percurso Farim-Binta e Binta-Genicó-Cufeu-Ujeque-Guidaje umas vezes pela picada, outras fora dela para fazer as filmagens nos locais dos incidentes.
Corremos alguns riscos mas tive que os correr para que essa reportagem tenha justificação de existir e que penso vai ser interessante. O jornalista Jorge Araújo e o camaraman Ricardo Ferreira são dois profissionais espectaculares. Irás ver o trabalho desenvolvido brevemente (na TVI) (2).
Luís, a coisas que se passaram, depois mais tarde te contarei. Esta viagem foi de grandes emoções que, para mim, são difíceis de descrever. O objectivo penso ter sido conseguido, daqui prá frente veremos o efeito . Um grande abraço.
Victor Tavares
N.B. - A picada agora existente não era a da altura dos incidentes de 23 de Maio de 73 (3). Essa ainda é referenciável em alguns locais, como comfirmei.
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Notas de L.G.:
(1) Sbre o armamento usado pelos nossos paraquedistas, e em especial a MG-42, vd. sítio Boinas Verdes de Portugal
(2) Ex-1º cabo paraquedista Victor Tavares, do BCP 12 / CCP 121 (1972/74). Vd. último post, de 19 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1613: Com as CCP 121, 122 e 123 em Gadamael, em Junho/Julho de 1973: o outro inferno a sul (Victor Tavares, ex-1º cabo paraquedista)
(3) Vd. post de 8 de Março de 2007 >Guiné 63/74 - P1573: O Victor Tavares, da CCP 121, a caminho de Guidaje, com uma equipa da TVI (Luís Graça)
(4) Vd. post de 21 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1099: O cemitério militar de Guidaje (Manuel Rebocho, paraquedista)
25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto
9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida
Guiné 63/74 - P1615: Historiografia da presença portuguesa em África (5): O Capitão Diabo, herói do Oio, João Teixeira Pinto (1876-1917) (A. Teixeira-Pinto)
Fotos de João Teixeira Pinto (1876-1917) : (i) na primeira, a contar de cima (com barbas compridas e os galões de alfres), ainda é legível a dedicatória manuscrita do oficial português "à sua querida mulher com um beijo do seu marido muito amigo. 27 de Maio de 19__(?). Oferece João Teixeira Pinto"; (ii) na segunda, lê-se: "João Teixeira Pinto: Cavaleiro da antiga e mui nobre Ordem da Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérioto (1908)"; finalmente (iii) a terceira, deve ser de época posterior, já do tempo da I República.
Fotos: © A. Teixeira-Pinto (2007). Direitos reservados.
Na sequência de uma correspondência trocada entre mim e o Prof. A. Teixeira-Pinto, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), a propósito da Carta da Região de Teixeira Pinto (hoje, Cachungo) (1), eu pedi-lhe que nos falasse um pouco sobre o seu antepassado ilustre, o capitão João Teixeira Pinto, um dos nossos heróis das campanhas de África, dos finais do Séc. XIX e princípios do Séc. XX.
Este homem, que foi Torre e Espada, em 1908, é mal conhecido da nossa geração que fez a guerra colonial, entre 1963/74, para não falar da geração dos nossos filhos... Alguns de nós (Afonso M.F. Sousa, Jorge Cabral, Beja Santos) já aqui evocaram episodicamente o seu nome (2)... Como a ignorância é a mãe do preconceito, aqui ficam mais umas achegas para a compreensão da história contemporânea de Portugal e da Guiné-Bissau (3).
1. Mensagem de 27 de Fevereiro de 2007, enviado por A. Teixeira-Pinto:
Exmo. Colega Professor Luís Graça:
Recebi o seu mail que agradeço e prometo dar o meu contributo leal e amigo ao seu Projecto sobre a Guiné. E, já que mo pede, para divulgar alguns aspectos menos conhecidos sobre o Capitão Diabo (João Teixeira Pinto).
Estou de partida para Santiago de Compostela onde vou fazer uma conferência na Universidade, mas mal tenha tempo, responder-lhe-ei com todo o gosto.
O seu mail surpreendeu-me pela elegância, pois a minha abordagem tinha sido de facto um bocado cáustica (sinceramente abomino as teses do mea culpa, quando a nossa postura no Mundo, cheia de erros certamente, tem muito mais virtudes que qualquer outro povo e o saldo é francamente positivo - o que explica o nosso não enriquecimento à custa dos territórios do Ultramar). Tal elegância só pode vir de uma pessoa de Bem e por isso felicito-me pela oportunidade de o ter conhecido (ainda que de forma pouco ortodoxa, reconheço).
Um abraço sincero
Teixeira-Pinto
2. Mensagem de 3 de Março de 2007:
Caríssimo Colega Prof. Luís Graça
Como prometido aqui venho falar-lhe um pouco do meu antepassado João Teixeira Pinto, nascido em Moçâmedes, Angola, em 1876 e morto em combate contra os alemães, em Negomano, no Norte de Moçambique em 1917, durante a 1ª Guerra Mundial.
Filho de um transmontano, também oficial com serviços relevantes prestados em Angola, onde era conhecido pelo Kurika (leão, em língua cuanhama), João Teixeira Pinto era primo direito do meu Avô paterno.
Sem necessitar de uma única praça (leia-se, soldado) da Metrópole e apenas com a colaboração de tropas gentílicas, comandadas pelo chefe de milícias Abdul Injai (2), o capitão Teixeira Pinto (na qualidade de chefe do Estado Maior da Guiné entre 1912 e 1915) conquistou o Ôio, contrariando as instruções expressas do governador e também comandante militar da Guiné. Entrou depois no chão dos Balantas e dominou-os, submetendo-os à Coroa Portuguesa.
Eram outros tempos, outras formas de pensar e de olhar para o Mundo. Que direito temos nós de julgar o passado por então se agir de uma forma diferente da nossa? O que consideramos hoje em dia menos correcto, era perfeitamente legítimo naquele tempo. E por essas ideias e princípios muita gente se bateu, sofreu e morreu.
Hei-de enviar-lhe, com mais tempo, a carta que, já em Lisboa, o capitão Teixeira Pinto escreveu ao governador da Guiné protestando contra a forma imerecida como foi tratado o Abdul Indjai, elevado a soba [régulo] do Ôio por sua intercessão. O chefe de milícias que tanto nos ajudou (com homens e com haveres seus) foi esquecido, marginalizado e castigado, depois de João Teixeira Pinto ter saído da Guiné. Justificou-se depois tais medidas com uma pretensa tirania exercida pelo soba sobre os seus subordinados.
Hoje, com muita hiprocrisia eivada de um racismo sórdido e inconfessado, proclama-se a dignidade dos negros, do seu direito à liberdade. Para, sem que o tenham pedido, os entregar à mais baixa e reles das tiranias, em que um grupo de títeres exploram e utilizam em proveito próprio os recursos de todos. Recordo um cuanhama que me pedia que o trouxesse para Portugal:
- Eu trabalho na tua fazenda, só pela comida. Não me deixes ficar, que assim vou morrer. O preto não sabe governar o preto. Se protestas ou te queixas, morres.
Em fase alguma do nosso passado, mesmo no tempo da escravatura, exercemos esse magistério selvático e desregrado que hoje campeia numa grande parte da África. Calamos, de forma cúmplice, qualquer manifestação de indignação, mais do que justificada face a tão descarados atropelos ou perante evidências claras da corrupção mais desenfreada, do esbulho puro e simples de qualquer oportunidade de futuro que essa clique dominadora negou ao seu povo.
Temos nós a culpa de ter negado a essa mole imensa de gente a possibilidade de terem esperança (os Darfour sucedem-se aqui e ali, com mais ou menos intensidade). Em Angola deixam-se morrer com cólera, dengue ou com a febre hemorrágica as populações do Norte (os bakongos, inimigos figadais dos caluandas e dos catetenses).
É ridícula a verba de 300.000 dólares que o (des)governo de Angola alocou para o combate da doença no distrito do Uíge. Os dinheiros do petróleo entram directamente na conta do presidente e dos seus familiares (as filhas são riquíssimas), enquanto que em Portugal os estudantes de Angola têm atrazos de anos nas suas bolsas e vivem com recurso à prostituição. A vida nada vale por aquelas paragens, mata-se com a maior das facilidades.
Há mais de 20 anos estive a dirigir a construção de duas vias rápidas na Costa do Marfim (ainda o presidente Houphouet Boigny estava no seu apogeu). Vinham guinéus de Bissau, a pé, ter comigo ao escritório em Abidjan para me tocarem (num ritual de veneração que me deixou emocionado) como parente próximo do Capitão Diabo e para me pedirem emprego. Era gente que me seguia cegamente para qualquer lado e que estou certo daria a vida para me defender de qualquer ameaça. O mito ficou e a atitude de veneração reverencial, tão própria dos negros, apenas ilustra a que ponto estava a consideração que lhes merecia o grande capitão. Fosse o sentimento outro e jamais me teriam procurado. E nunca por nunca me teriam pedido para me tocarem (apenas com a ponta dos dedos).
Enfim, caro colega, coisas e histórias de África que se recordam com alguma nostalgia.
Prometo um segundo capítulo.
Um abraço amigo
A. Teixeira-Pinto
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Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 25 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1548: As cartas do nosso (des)contentamento (A. Teixeira-Pinto / Luís Graça)
(2) Vd. posts de:
7 Setembro 2005 > Guiné 63/74 - CLXXX: Teixeira Pinto ou Canchungo? (Afonso M.F. Sousa)
15 Fevereiro 2006 > Guiné 63/74 - DXXXVI: Carta (aberta) ao Luís (Jorge Cabral)
(...) " Assim, na Guiné, quer em Fá, quer em Missirá, procurei entender, e através de longas conversas com Homens e Mulheres Grandes aprendi alguma coisa. Dessa forma me inteirei da excisão (a qual depois presenciei) e do infanticídio ritual, dois temas que há mais de vinte anos, falo nas minhas aulas.
"Percebi que uma Guiné idílica e pacífica, de negros portuguesismos, nunca existira… Todo o território ao longo dos séculos foi palco de imensas guerras, sangrentas repressões e alguns desastres das nossas tropas. Perante o meu espanto, indicaram-me em Fá, o local onde no tempo, dos avós, dos avós deles, havia sido aprisionado o Governador, que teve de pagar resgate aos beafadas.
"E em Missirá levaram-me a conhecer o campo onde as forças portuguesas e seus ajudantes estiveram longo tempo entrincheirados, preparando a conquista de Madina/Belel, na luta contra o grande guerreiro Unfali Soncó, no princípio do século XX.
"Foram também os velhos que me falaram de Abdul Injai, régulo do Cuor e do Oio, companheiro de Teixeira Pinto, herói tão amado quanto odiado, caído em desgraça no fim da vida, e degredado para Cabo Verde.
"Chegado a Lisboa, e desde então tenho tentado estudar, convicto que é impossível compreender a guerra colonial e o que se seguiu, sem reflectir na história do país e nas múltiplas acções de resistência armada contra os Portugueses" (...).
18 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P882: Infali Soncó e a lenda do Alferes Hermínio (Beja Santos)
(3) Sobre a conquista do Oio por Teixeira Pinto, em 1913, vd a página do nosso camarada Carlos Fortunato, de que transcrevemos com a devida vénia as seguintes passagens:
Transcrevemos a seguir uma passagem do livro História da Guiné, Portugueses e Africanos na Senegâmbia (1841-1936), René Pélissier, Editorial Estampa, 2001, que dá uma explicação sobre o que foram as grandes batalhas pela conquista do Óio de 14 de Maio a 6 de Junho de 1913, como a batalha do Morés a 30 de Maio, ou a conquista de Mansodé a 5/6/1913, embora tenhamos a lamentar a má qualidade da tradução (Os links e notas da minha responsabilidade - L.G.):
"Os Mandingas islamizados são cada vez menos favoráveis à resistência, mas os Soninquês mais do que nunca. A sua ameaça contra o Posto de Mansoa pode pois ressurgir do norte. É no que quer acreditar Teixeira Pinto, que vai servir-se deste pretexto especioso para justificar a sua invasão do Oio. Perguntamo-nos mesmo se ele não ultrapassa as ordens do seu governador, de quem não gosta e que pensou impedir-lhe as manobras, proibindo-lhe as razias de auxiliares. Ora Teixeira Pinto só pode manter-se com eles e prefere-os amplamente aos soldados regulares.
"Não hesitaremos em invocar aqui o factor psicológico: o capitão quer entrar na história e, sozinho quebrar a lenda da invencibilidade dos Soninquês. Tendo experimentado o valor de Abdul Injai e dos seus homens, mas também o dos Fulas Forros do Sancorlá [, no Cuor, a nordeste de Missirá], comandados pelo seu régulo (Boram Jame?) que estão à sua volta, decide portanto, sacrificar a quantidade à qualidade, ao deixar para trás todos os seus oficiais e, evidentemente, as embarcações.
"Joga ao póquer ao internar-se no Oio, sem trem, sem metralhadora, simplesmente com um canhão de 70, um sargento, quatro artilheiros brancos e dois soldados indígenas, mais outro sargento branco e duas praças africanas.
"E, evidentemente, Abdul Injai e os seus lugar-tenente, que parecem ter reagrupado filhos de chefes fulas decididos a criar uma reputação de guerreiros. Mas, no total, isso não representa mais que 400 auxiliares enquadrando carregadores balantas. Mesmo o impulsivo Graça Falcão não entrara pelo Oio, em 1897, sem dez a vinte vezes mais homens. E com os resultados que sabemos!
"Em caso de desastre, o Exército não poderá imputar-lhe grandes perdas, pois que não toma auxiliares em conta, mas o Oio é, de qualquer modo, um grande bocado de pão para pouca gente; uma aposta muito imprudente que este chefe de estado-maior se comprometera com dez soldados, lá onde ele pretende - sem razão - que Biker conheceu meia derrota em 1902.
"Não sabemos claramente se o Oio enfraqueceu em onze anos, mas de modo nenhum temos essa impressão. No entanto, a 14 de Maio de 1913, a pequena tropa sobe para norte, sem provisões, acabando por carregar as munições Balantas requisitados à força. Sabendo cada um com o que contar, as coisas não se arrastam. A 15 de Maio, em fila indiana, os invasores são atacados numa daquelas armadilhas de verdura, da qual se salvam com fogo vivo, para cairem sobre a tabanca fronteiriça de Cambajo, tomada de assalto e incendiada.
"O combate é um dos mais difíceis alguma vez conhecidos na Guiné, se Teixeira Pinto tivesse menor talento para se valorizar ou, na sua falta, um revolver a seu lado, este caso teria passado à posteridade.
"A peça disparou 44 vezes, mas 40.000 cartuchos foram consumidos em Cambajo, o que num só combate é enorme nos anais luso-africanos.
"Teixeira Pinto não deplora senão três mortos e treze feridos entre os auxiliares, o que se explica talvez pelo alcance das Kropatchek, que lhes estão confiadas. Como quase sempre com os Portugueses, as baixas dos Soninquês serão desconhecidas durante toda a campanha.
"Constituída em quadrado, a coluna é atacada novamente a 16 de Maio, durante hora e meia, mas inflige pesadas perdas aos Soninquês.
"Obrigado a comer milho miúdo, acomodado à carne dos porcos (!) que vêm devorar os cadáveres, a expedição está, apesar de tudo em bastante mau estado e tem de enviar um destacamento a Porto Mansoa, em busca de reabastecimento.
"Por seu lado, os Soninquês estão realmente decididos a resistir e multiplicam os fossos nas pistas. De uma maneira geral batem-se não nas tabancas, que depressa abandonam, mas na floresta onde armam emboscadas e metralham o quadrado. Se bem que um certo desânimo seja perceptível nas suas fileiras, os duros levam ainda a melhor e envenenam sistematicamente os poços. Ainda que se esteja na estação das chuvas, a sede vai ser um dos obstáculos a esta penetração.
"Durante este bloqueio, no norte do Oio, Calvet de Magalhães decide enganar os Soninquês, que o esperam em Gindu. Parte para Farim, atravessa ali o rio por volta de 17 de Maio e destrói imediatamente a tabanca de Bafatá do Oio, tomada de surpresa.
"A partir desta testa de ponte, varrerá mais seis tabancas de 23 a 30 de Maio, na região já batida em 1897 e em 1902.
"As coisas importantes desenrolam-se, evidentemente, ao sul onde, a 24 de Maio, a coluna é reabastecida em Cambajo pelo destacamento que, via Bissorã, atravessar o bloqueio defeituoso dos Soninquês. Destes últimos, não compreendemos bem a táctica mas, segundo parece, só se concentram excepcionalmente, senão como explicar que, em florestas tão cerradas e picadas tão estreitas, pequenos grupos pesadamente carregados e constantemente flagelados pudessem livrar-se sem feridos?
"É inútil seguir as reptações da coluna, de tabanca em tabanca, não sendo algumas aliás referenciáveis. Basta dizer que Teixeira Pinto parte de Cangajo, a 26 de Maio, para ocupar Unfarim.
"O posto de Bissorã não fornece reforços, simplesmente água e homens de Malam Bá, o que confirma que Teixeira Pinto não quer partilhar a vitória com nenhum outro oficial. Apostou tudo em Abdul Injai, do qual tem as capacidades operacionais em estima, como não se encontra em nenhum outro oficial português, quando se trata de fazer um juízo profissional sobre um chefe de auxiliares africanos.
"É um caso único de entendimento e mesmo de quente cumplicidade entre um quadro do activo e um senhor da guerra indígena. A 27 de Maio, a serpente armada volta a partir, derriba outras tabancas, enrola-se (29 de Maio, em Maqué), muitas vezes atacada, mas nunca verdadeiramente ameaçada. Em Sansabato destrói uma 'grande mesquita onde se sagram os fidalgos do Oio'.
"Continuam sem eco os apelos à rendição, o avanço prossegue para Morés, já visitada por Graça Falcão em 1897. Aborda-se aí o coração da resistência do Oio (cf. a guerra de libertação) e os Soninquês concentram no seu caminho uma potência de fogo que faz vacilar os artilheiros europeus e os Fulas de Sancorlá. No entanto, Morés cai, por sua vez, a 30 de Maio.
"O problema da sede é cada vez mais preocupante, mas Teixeira Pinto, inflexível, não quer repetir o erro de Biker (4). São todas as tabancas do Oio que quer tomar e, principalmente, Mansodé que desempenha o papel de capital da resistência.
"Entre Mansodé e Morés, tendo os Soninquês cortado a pista com trincheiras e árvores abatidas, Teixeira Pinto usa a astúcia e decide progredir para o alvo, por uma pista mais a leste (via Mamboncó), sempre reabastecido sem dificuldade por Porto Mansoa (a simplesmente quatro horas de marcha).
"Paliçadas, emboscadas, nada os detém. A 3 de Junho, a coluna transpõe todos os obstáculos entre Morés e a pista destinada a conduzi-la a Mansodé. Água e munições chegam bastante regularmente de Porto Mansoa e , a 5 de Junho a marcha final continua para Mansodé. A coluna já só tem 320 irregulares, mas conservou os seus seis soldados europeus e quatro africanos intactos. Mamboncó é tomada. Chegado a este ponto, o mal-estar aumenta na coluna.
"Mansodé tem fama, na Guiné, de ser invencível, a tal ponto que os seus defensores se gabam de não a terem fortificado, bastam os seus peitos para a defenderem.
"Pela primeira vez tomados pelo terror dos poderes ocultos ou da valentia atribuída à gente de Mansodé, os lugar-tenentes de Abdul Injai recusam-se a marchar. Tão perto do objectivo é o atoleiro.
"Para dali sair, Teixeira Pinto, que conhece a sua gente, tê-la-ia galvanizado teatralmente, fazendo avançar a peça para o norte, acompanhando-a sozinhos Abdul Injai e ele próprio dizendo aos guerreiros indóceis: 'que os cobardes podiam voltar para trás, porque eu e Abdul iamos morrer em Mansodé'.
"Reviravolta e entusiasmo veemente bastam: Mansodé cai e desfaz-se em fumo no mesmo dia (5 de Junho de 1913, depois de uma resistência enérgica, mas breve.
"Desde então, dissipados os encantamentos, a campanha está militarmente terminada ao sul."
(4) Joaquim Pedro Vieira Judice Biker, Governador interno da Guiné, entre 1901 e 1903. Era oficial da Marinha. No tempo da conquista do Oio, o governador, já nomeado pela República, era Carlos de Almeida Pereira (23 de Outubro de 1910 a Agosto de 1913).
Guiné 63/74 - P1614: Estórias do Zé Teixeira (15): Voluntário na tropa... nem para comer! (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)
Voluntário na tropa... nem para comer!
Por Zé Teixeira
Numa tarde da minha recruta, depois de nos ser explicado o que são as estrias da arma e para que servem, o alferes instrutor pede um voluntário para ir junto cabo quarteleiro levantar as estrias de uma G3, para melhor explicar e . . . houve um pato que caiu.
Quando regressou com um valente pontapé no traseiro, ainda apanhou uma gargalhada geral dos companheiros do seu grupo. Com isto aprendemos a lição de que "voluntário na tropa, nem para comer”...
Estava a meio da comissão, a aguardar que aparecesse um meio de transporte que me levasse até Bissau, para um mês de férias bem merecido junto dos meus. Dos três enfermeiros da Companhia, um estava em Bissau, regressado da Metrópole à espera de transporte para voltar a Buba. Os outros dois repartiam-se nas saídas para a protecção do grupo de trabalho na construção da nova estrada, nas emboscadas montadas para o mesmo fim, no patrulhamento e na protecção às colunas de reabastecimento de Quebo. A tudo isto juntava-se o trabalho na enfermaria do quartel de assistência aos militares e à população.
No dia anterior tinha regressado já noite, do apoio e segurança na estrada. Nesta manhã seguia a coluna para Quebo e à minha Companhia competia-lhe fazer a batida dos flancos e a picada da via, à procura de eventuais minas, até perto de Nhala. À tarde, viria em princípio a Dornier do correio e talvez houvesse uma vaga para me deixar em Bissau. Feitas as contas, ainda daria tempo para eu ir na coluna e regressar.
Dado que por uns dias ficaria apenas um desgraçado enfermeiro em serviço, prontifiquei-me e oferecei-me voluntariamente para substituir o colega em serviço. Contra a vontade do companheiro que perante a minha insistência anuiu, apresentei-me ao comandante da força, e, pronto para sair, junto à pista, pelas cinco horas da matina, lembrei-me de que “voluntário na tropa, nem para comer “!
Não hesitei mais, fui ter com o meu amigo Catarino, pedi desculpa, entreguei-lhe a bolsa de primeiros socorros e disse-lhe apenas:
- Vai tu, é a tua vez!
Cerca de meia hora depois a frente da coluna cai numa emboscada., quando detectava um campo de minas. Mal acalmada a situação depois de prolongado tiroteio, inicia-se a desminagem. Um camarada, mais esperto, vê um tronco de palmeira ao longo da picada e decide ir ver o que se passava lá mais à frente. No topo da palmeira estava uma AP à espera dele.
Complicada situação para o enfermeiro que tinha a missão de o socorrer. As minas estavam por perto e o IN também. O ferido esvaía-se em sangue, pois que uma perna tinha desaparecido com o impacte. Felizmente não fora uma bailarina muito usada por estas bandas de Buba.
Nestes momentos é que se vê e se sente quem são os heróis. Um camarada junta-se ao enfermeiro e diz-lhe:
- Vamos lá os dois buscar o Miguel.
Não pensaram no perigo e trouxeram-no para berma, prestaram-lhe os socorros possíveis e recambiaram-no para mim em Buba, de onde seguiu para Bissau e terminou a sua comissão.
Outras minas estavam no terreno e foram levantadas.
Mais à frente estavam buracos abertos no meio da estrada, tipo campas para enterrar cadáveres com umas mensagens muito convidativas
E eu . . . mais uma vez fui bafejado pela sorte.
J. Teixeira
Esquilo Sorridente
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Notas de L.G.:
(1) Vd. estórias anteriores:
10 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1059: Estórias do Zé Teixeira (13): A Maria-tira-cabaço-di-branco
7 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1055: Estórias do Zé Teixeira (12): O Balanta que fugia do enfermeiro
4 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1044: Estórias do Zé Teixeira (11): As vitaminas abortivas
4 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1043: Estórias do Zé Teixeira (10): O embalsamador amador
4 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1042: Estórias do Zé Teixeira (9): camaleões, putos e cobras
26 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXCVI: Estórias do Zé Teixeira (8): Do tan-tan ao pum-pum, um casamento em Mampatá
20 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXIX: Estórias do Zé Teixeira (7): Síndrome de guerra
19 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXVIII: Estórias do Zé Teixeira (6): um atribulado regresso
21 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXLVIII: Estórias do Zé Teixeira (5): as abelhas, nossas amigas
21 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXLVII: Estórias do Zé Teixeira (4): o lugar do morto
15 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXXVIII: Estórias do Zé Teixeira (3): a festa da vida
11 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXIV: Estórias do Zé Teixeira (2): o Conceição ou o morrer de morte macaca
9 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXIII: Estórias do Zé Teixeira (1): Dôtor, Bô ka lembra di mim ?
segunda-feira, 19 de março de 2007
Guiné 63/74 - P1613: Com as CCP 121, 122 e 123 em Gadamael, em Junho/Julho de 1973: o outro inferno a sul (Victor Tavares, ex-1º cabo paraquedista)
Guiné > Bissau > Bissalanca > 1972 > O ex-1º cabo paraquedista Victor Tavares, do BCP 12 / CCP 121 (1972/74).
Fotos e texto: © Victor Tavares (2007). Direitos reservados.
Gadamel Porto: outro infrno a sul
Depois de regressada do inferno de Guidaje (1), a CCP 121 encontrava-se estacionada em Bissalanca, gozando um curto período de descanso, após a desgastante acção que tivera no norte da província.
Daí o Comando Chefe entender que os 4 a 5 dias de descanso concedidos já eram demais e ser necessário o reforço das nossas tropas aquarteladas em Gadamael por se encontrarem em grandes dificuldades. Acaba, por isso, por dar ordens para rumarmos a Gadamael, para onde partimos a 12 de Junho de 1973.
Partindo de Bissau em LDG [Lancha de Desembarque Grande] com destino a Cacine, lá chegámos a meio da tarde deste mesmo dia. Como a lancha que nos transportava, não conseguia atracar ao cais por falta de fundo, fomos fazendo o transbordo por várias vezes em LDM [Lanchas de Desembarque Médias] para aquela localidade.
Foi então, logo na primeira abordagem da lancha, que me apercebi que na mesma estava um indivíduo que pela cara me pareceu familiar. No entanto, como o mesmo se encontrava vestido à civil - calções, camisa aos quadradinhos toda colorida e sandálias de plástico transparente - pensei ser porventura algum civil que andaria por ali no meio da tropa, o que seria natural e podia eu estar errado.
Depois de toda a tropa estar desembarcada, indicaram-nos o local onde iríamos ficar, num terreno frente ao quartel de Cacine. Instalámo-nos e de seguida fomos dar uma volta pelas redondezas, até que no regresso deparo com a mesma criatura sentada no cais com ar triste e pensativo, típico da pessoa a quem a vida não corre bem. Eu vinha acompanhado do paraquedista Vela, meu conterrâneo – e hoje meu compadre. Perguntei-lhe:
- Ouve lá, aquele tipo ali não é nosso conterrâneo? - Responde ele:
- Sei lá, pá, isto é só homens.
Gadamael ? Vocês vão lá morrer todos!
Por ali estivemos na conversa mais algum tempo, até que tomei a iniciativa de me dirigir ao fulano uma vez que ele continuava no mesmo sítio. Acercando-me dele perguntei-lhe:
-Diz-me lá, camarada, por acaso tu não és de Águeda ?
Responde-me ele:
- Sou. - e pergunta-me de seguida:
- E você não é de Recardães?
Digo-lhe que sim, cumprimentamo-nos e vai daí perguntei-lhe o que é que ele estava ali a fazer, porque de militar não tinha nada. Respondeu-me que não sabia o que estava ali a fazer, de uma forma triste e ao mesmo tempo em tom desesperado e desanimado.
Entretanto com o desenrolar da conversa, ele perguntou o que estávamos ali a fazer, eu respondi que na madrugada seguinte íamos para Gadamael Porto…. Qual não é o meu espanto quando ele põe as mãos à cabeça, desesperado e desorientado, e me diz:
- Não vão, porque vocês morrem lá todos!
Tentei acalmá-lo, dizendo-lhe para estar descansado que nada de grave ia acontecer, pedi-lhe para me contar o que se passava, vai daí, começa ele a relatar o que tinha passado de Guileje e Gadamael até chegar a Cacine. Na verdade depois de o ouvir, não me restaram dúvidas que ele tinha mais do que sobejas razões para estar no estado psicológico aterrador em que se encontrava .
Os militares que abandonarm Guileje, foram tratado como desertores e traidores à Pátria
Entretanto, informa-me da sua situação militar daquele momento tal como a de outros camaradas que abandonaram Guileje. Neste grupo estava também outro meu conterrâneo, que o primeiro foi chamar, vindo este a confirmar tudo.
O que mais me chocou foi a forma desumana como estes militares foram tratados depois da sua chegada a Cacine, sendo considerados como desertores e cobardes, quando em meu entender, se alguém tinha que assumir a responsabilidade dessa situação, seriam os seus superiores e nunca por nunca os soldados.
Estes homens foram humilhados por muitos dos nossos superiores - que eram uns grandes heróis de secretária! -, foram proibidos de entrar no aquartelamento, não lhes davam alimentação, o que comiam era nas Tabancas junto com a população. As primeiras refeições quentes que já há longos dias não tomavam, foram feitas por estes dois homens juntamente com os paraquedistas, porque o solicitei junto do meu Comandante de Companhia, Capitão Paraquedista Almeida Martins – hoje tenente general na reserva - ao qual apresentei os dois camaradas do exército que lhe contaram tudo por que passaram.
Os dois desgraçados de Guileje eram meu conterrâneos: o Carlos e o Victor Correia
Solicitei ao meu comandante para eles fazerem as refeições junto com o nosso pessoal, prontificando-me eu a pagar as suas diárias se fosse necessário. Ele autorizou os mesmos a fazerem as refeições connosco enquanto não tivessem a sua situação resolvida e a nossa cozinha que dava apoio ao Bigrupo que estava de reserva, ali se mantivesse.
O meu comandante expôs o problema destes homens ao comandante do aquartelamento do exército, solicitando que o mesmo fosse resolvido com o máximo de brevidade uma vez que a situação não era nada dignificante para a instituição militar.
É de salientar que estes dois homens já não escreviam aos seus familiares há mais de um mês, porque não tinham nada com que o fazer. Fui eu que lhes dei aerogramas para o fazerem e os obriguei a escrever, porque o seu moral estava de rastos e a vida daqueles militares já não fazia sentido. Dormiam debaixo dos avançados das Tabancas enrolados em mantas de cor verde, não tendo mais nada para vestir a não ser o camuflado.
Estes meus dois conterrâneos que atrás refiro eram o Carlos (que infelizmente já faleceu, natural do lugar de Perrães, Oliveira do Bairro) e o Victor Correia (de Aguada de Baixo, Águeda, e que hoje sofre imenso de stress pós-traumático de guerra) )(2).
Depois Guileje sitiada e abandonada, O PAIGC virou-se para Gadamael
No dia seguinte mais uma missão estava destinada à Companhia de Caçadores Paraquedistas 121 [CCP 121]. Já se encontravam há vários dias as CCP 122 e 123, para fazer face à gravidade da situação criada pelas forças do PAIGC que, neste período do ano , entre Maio e Julho, tinha intensificado os ataques, tanto a aquartelamentos como a colunas.
Em Gadamael Porto a situação era cada vez mais complicada , uma vez que os militares do PAIGC já tinham tomado o destacamento de Guileje, após ataques contínuos de artilharia e flagelações de armas ligeiras, chegando mesmo a cercar o destacamento e mantendo a sua guarnição sitiada até à tomada de decisão de abandonar o destacamento por parte do seu Comandante, Coutinho de Lima (3), uma vez que não lhe restava outra alternativa. Não o fazendo correria o risco de as NT serem dizimados pelas forças atacantes que estavam decididas a tomar fde assalto o aquartelamento.
Os ataques geralmente partiam da Guiné Conacri. Após o abandono de Guileje por parte das nossas forças, os homens do PAIGC começaram a bombardear Gadamael Porto, concentrando toda a sua artilharia apontada a este destacamento com a intenção de o tomar de seguida.
No entanto este já se encontrava guarnecido pelas Companhias de Paraquedistas 122 e 123 e, a partir da data acima indicada. pela 121, as quais impediram tal intenção. Mesmo assim foram dias de grande azafama em termos operacionais aonde a segurança era nula. Várias vezes ao dia o destacamento era atacado e não falhavam um único tiro, tornou-se numa situação insuportável. As nossas tropas tinham mais segurança quando andavam fora do destacamento, em patrulhmentos. A nossa missão foi manter a segurança do destacamento, patrulhando e fazendo incursões até junto da fronteira onde o PAIGC tinha instaladas armas antiaéreas e canhões sem recuo. Era dali que atingiam Gadamael Porto e antes Guileje . Durante estes patrulhamentos tivemos um primeiro contacto com as forças do PAIGC sem qualquer problemas para as nossas tropas.
13 de Junho de 1973: aliviando a pressão sobre Gadamael
No dia 13 de Junho, de manhã cedo, preparámo-nos para rumar a Gadamael, sendo transportados em Zebros do Destacamento de Fuzileiros Especiais Africanos nº 21, dois grupos de combate sendo colocados nas margens do rio nas proximidades de Gadamael para onde seguimos em patrulhamento depois de serem desembarcados os outros dois grupos de combate da 121 que foram deslocados em LDM. No regresso, as embarcações seguiram para Cacine com os paraquedistas da CCP122, aonde iriam recuperar durante um curto período.
Chegados ao destacamento [ de Gadamael], verificámos que o estado do mesmo era na verdade aterrador, fruto dos constantes ataques, sendo bem visíveis os buracos dos rebentamentos das granadas do IN. Era evidente que quem lá tinha estado anteriormente, tinha passado por uns maus bocados.
As nossas duas companhias de paraquedistas que se encontravam aqui estacionadas estavam em permanentes patrulhamentos no exterior do aquartelamento, indo a este simplesmente para remuniciamento e reabastecimento. Desta forma fomos alargando o raio de acção indo até junto à fronteira, para conseguir referenciar os locais de onde o PAIGC fazia os ataques, para dar indicações à nossa Artilharia e Força Aérea. A impossibilidade de referenciar, por ar, estes alvos, levou-nos a ocupar as zonas em que o IN poderia instalar as suas bases do fogo e deste modo a fazê-lo afastar-se. Foi o que, realmente, veio a acontecer.
A partir desta altura fomos ao encontro dos locais de onde se ouviam os disparos das bocas de fogo e ocupámos essas áreas mesmo junto à fronteira, algumas vezes chegámos mesmo a ultrapassar a linha de fronteira com alguma profundidade - nunca por períodos longos, mas apenas porque havia aí bases de fogo IN. Nunca conseguimos apanhá-los desprevenidos, pois havia sempre forças de infantaria do PAIGC que os alertava com tiros acabando por retardar a nossa progressão.
No entanto os ataque a Gadamael deixaram de ser tão frequentes, passando as flagelações a a realizarem-se com menos intensidade e sem a precisão até aí evidenciada, além de feitas a partir daí sempre de locais diferentes. Quando as nossas forças aí chegavam, já eles tinham partido para outro local.
Mesmo já quando as forças do PAIGC não flagelavam o destacamento com tanta frequência, fomos mantendo a actividade de patrulha ao mesmo ritmo, por forma a manter as áreas próximas do braço do rio que dava acesso a Gadamael e que era a nossa única via de ligação para o exterior.
Consequentemente a eficácia de tiro até aí verificada por parte do IN deixou de existir e a intenção e pressão inicial caiu por terra, as forças do nosso exército voltaram ao destacamento e com os pára-quedistas fizeram vários patrulhamentos transmitindo-lhes os nossos conhecimentos e mais confiança nos deslocamentos em plena mata até aí de arrepiar.
Guiné > Mapa Geral da Província (pormenor) > 1961 > Posição relativa de Guileje e de Gadamel, no sul da Guiné, na actual Região de Tombali, na fronteira com a Guiné-Conacri.
Foto: © Humberto Reis (2005). Direitos reservados
23 de Junho de 1973: atolados num campo minado!
A 23 de Junho de 1973, recebemos ordens para novo patrulhamento. Manhã cedo arrancámos desta vez saindo pela que era considerada porta de armas virada para o rio, o qual atravessámos. Avançámos para o local indicado pelos nossos superiores, em progressão lenta e com cuidados redobrados.
Esta zona não era para brincadeiras. Nesse dia éramos acompanhados por 2 militares do exército que eram sapadores e montavam minas no terreno tentando proteger o destacamento da acção do inimigo. Passado algum tempo, recebemos ordens para parar na frente, estávamos num local minado pelos nossos novos companheiros e a sua missão era indicar-nos a localização das minas para podermos contornar o local sem qualquer incidente.
Qual não foi o nosso espanto quando nos foi dito que já tinhamos avançado demais e que nos encontrávamos sobre o campo minado. A nossa sorte foi que tinha chovido torrencialmente nos dias anteriores e, como o terreno era um pouco inclinado, arrastou terras para o local minado, o que fez com que não tivéssemos accionado qualquer aparelho. Esta situação aconteceu porque os sapadores já não conseguiam identificar o local minado com exactidão. Passados esses momentos de grande ansiedade e saídos desta zona perigosa, continuámos a progressão.
O nosso objectivo era fazer um reconhecimento a determinado local referenciado pelo Comandante das operações naquela zona e que o mesmo suspeitava de ali existir algo de estranho, assim o primeiro bigrupo da CCP121 continua a sua deslocação.
Caía aquela chuva miudinha tipo cacimbo, que se foi acumulando nas folhas das árvores e por consequência caíam no chão fazendo o ruído característico que se conhece. Depois de algum tempo andado, começámos a ouvir pessoas a falar, avançámos com ainda mais cuidado , a mata era bastante aberta , com pouca vegetação rasteira e com árvores de grande porte.
As condições do terreno proporcionava a formação de uma frente em linha de um grupo com 5 a 7 paraquedistas para esse efeito foram chamados mais 2 homens apontadores de armas pesadas , MG e HK21, que seguiam mais atrás. Formada a equipa de assalto, fomos avançando lentamente e cada vez mais se ouviam os homens do PAIGC, para surpresa nossa, quando detectámos em cima de uma grande árvore um militar inimigo como sentinela avançada, e que também ele foi surpreendido porque tínhamos homens da nossa coluna que já tinham passado por ele. Também o barulho da chuva agora mais intensa o atraiçoou .
20 minutos de fogo numa grande base do IN
Já a uns 100 metros das posições de onde vinham as vozes, encontravam-se os paraquedistas da frente e mais atrás a nossa preocupação era não sermos detectados pelo tal sentinela avançado que apenas se preocupava em vigiar o lado contrário ao qual nós nos encontrávamos. Talvez eles pensassem que se aparecesse alguém seria por aquele lado , visto que passava por lá uma picada , mas nós vinhamos em sentido contrário e a corta-mato, o que para nós era habitual.
O guarda tinha sido atraiçoado, para nosso bem, no entanto na frente, quando tudo fazia prever que íamos colher o inimigo de surpresa , houve um elemento deles que detectou as nossas tropas abrindo fogo primeiro, ao qual os araquedistas responderam com intenso poder de fogo causando bastantes baixas ao inimigo como se verificou pelos vários e abundantes rastos de sangue, visto que eles se encontravam em valas e abrigos colectivos de onde se puseram em fuga. Houve um grupo que, entrincheirado, resistiu até à retirada dos seus feridos e mortos ser feita, o que levou a que este combate se prolongasse durante mais de 20 minutos.
Um grande ronco: capturado algum material de Guileje
Mesmo assim os guerrilheiros acabaram por deixar uma quantidade apreciável de armas , munições e granadas, algumas delas era material das nossas tropas que o inimigo tinha vindo a capturar às forças do nosso Exército caídos em emboscadas e do destacamento de Guilejee o qual já tinha sido tomado pelas forças do PAIGC. Neste contacto, logo nos primeiros tiros mais atrás, com uma rajada abatemos também o vigia acima referido . Foi a única baixa do PAIGC que pudemos confirmar na retaguarda.
Entretanto abandonámos o local depois de fazer a recolha de todo o material, porque era usual o inimigo fazer batidas de zona com morteiros ou canhão sem recuo, o que era sempre perigoso. Este grupo que foi apanhado de surpresa, era constituído por cerca de 30 combatentes.
Afinal o nosso comandante de operações Major Paraquedista Calheiros tinha razão em solicitar a nossa intervenção neste local porque era realmente um enorme quartel posso até dizer o maior, talvez mesmo o maior de todos os que detectamos durante toda a minha comissão.
Próximo desta base e paralelo à linha de fronteira, referenciámos uma picada que era bastante utilizada por viaturas vindas da Guiné Coancri, com passagem recente. Aí emboscámos durante algum tempo sem que o IN se revelasse. Levantámos a emboscada e regressámos ao destacamento sem mais qualquer incidente e bastante carregados com o ronco conseguido.
2 Julho de 1973: ataque em força a Gadamael
O PAIGC ataca o destacamento de Gadamael Porto utilizando Canhões s/r , Morteiros 82 , RPG 2, RPG 7 e Foguetões. Foi talvez o ataque mais forte desde o início das flagelações que eram constantes ao destacamento, mas que apenas conseguiu destruir mais algumas das poucas infra-estruturas existentes que ainda se mantinham mais ou menos direitas e causar algum efeito psicológico negativo nas nossas tropas. Do ladoNT ali aquarteladas, houve apenas 2 feridos, sem gravidade.
De salientar que os ataques inimigos eram de tal forma precisos que era raro cair uma granada fora do perímetro do destacamento. Até chegámos a pensar que havia alguém, no interior ou bem perto, a dar orientação e correcção dos fogos o que se viria mesmo a confirmar que assim era.
A CCP 121 emboscada a 500 metros do destacamento
Nos dias seguintes a CCP 121 fazia patrulhamentos, como era habitual todos os dias em Bigrupo (muito raro) ou a nível de Companhia (quase sempre) - isto devido aos poucos efectivos que a CCP 121 tinha em virtude das baixas havidas anteriormente e as rendições serem escassas ou mesmo nulas para a situação operacional existente.
Num desses patrulhamentos, logo a pouco mais de 500 metros do destacamento, a CCP 121 foi emboscada por um forte grupo de combate do PAIGC ao qual deu a resposta adequada durante mais de 25 minutos. De salientar que o inimigo tinha no local uma boa quantidade de atiradores equipados com RPG 2 e RPG 7, o que nos levou a pensar que estavam a preparar um assalto ou forte ataque ao destacamento logo que a nossa Companhia estivesse fora da zona, uma vez que o destacamento ficaria muito mais desprotegido em termos de efectivos e com poder de fogo mais reduzido.
Neste contacto apenas houve a registar 1 morto - o nosso guia africano - e 1 ferido ligeiro nas nossas tropas. Capturámos 2 armas ao inimigo e confirmámos 1 morto no local . Tivemos que regressar ao destacamento, pois já estávamos com poucas munições. Aabámos por sair para o patrulhamento planeado, pouco depois, ao longo do rio e que decorreu com toda a normalidade .
7 de Julho de 1973: emboscada nas matas de Lamol com 4 mortos (confirmados) do PAIGC
A CCP 121, patrulhando mais uma vez a zona nas matas de Lamol, foi emboscada por um forte grupo de combate do PAIGC que pensámos ser de cerca de 30 elementos fortemente armados e municiados com todo o tipo de armas que os guerrilheiros normalmente utilizavam: RPG 2 , RPG 7, Morteiros , Canhão s/r, PPSH - ou costureinha, asssim chamada devido ao seu cantar inconfundível - , Kalashnikov , Degtyarev e outras armas ligeiras de repetição tais como a Simonov.
Alguns destes guerrilheiros eram de tez branca. O contacto durou vários minutos. Em consequência deste contacto, o inimigo sofreu 4 mortos confirmados e bastantes feridos , deixando vário material de guerra no local.
Muitos outros episódios poderia contar desta passagem por Gadamael Porto. Poderia falar sobre bre a alimentação, já que só passadas algumas semanas é que se começou a cozinhar... E o quê? Arroz com dobrada ao meio dia e o mesmo à noite, sendo o mesmo nos dias seguintes... E alguma dela já fora de validade!... As carências eram grandes e as dificuldades enormes em todos os aspectos, mas fomos sobrevivendo conforme se podia.
Não posso deixar de referir que, terminado mais este duro período em Gadamael. os paraquedistas do BCP 12 deram um contributo valioso e valoroso e de forma decisiva que conseguiu desta forma travar o ímpeto das grandes ofensivas que o PAIGC lançou tanto a norte (Guidaje) como a sul (Guileje e Gadamael.
E assim honrámos assim a nossa arma e também as nossas forças armadas.
Regressamos em LDG a Bissau no dia 17 de Julho de 1973
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Notas de L.G.:
(1) Vd. posts relacionados com a CCP 1231 e com o nosso camarada e amigo Victor Tavares:
18 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1610: Ao meu pai, Victor Tavares, ex-1º cabo paraquedista, CCP 121 (Osvaldo Tavares)
17 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1605: A reportagem da TSF e o regresso do Vitor Tavares a Guidaje (Albano Costa)
8 de Março de 2007 >Guiné 63/74 - P1573: O Victor Tavares, da CCP 121, a caminho de Guidaje, com uma equipa da TVI (Luís Graça)
21 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1540: Os paraquedistas também choram: Operação Pato Azul ou a tragédia de Gamparà (Victor Tavares, CCP 121)
8 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1350: Ataque ao navio patrulha no Rio Cacheu (Victor Tavares)
26 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1316: A participação dos paraquedistas na Operação Ametista Real: assalto à base de Kumbamory, Senegal (Victor Tavares, CCP 121)
9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida
25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto
21 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1099: O cemitério militar de Guidaje (Manuel Rebocho, paraquedista)
(2) Estes camaradas devem ter pertencido à CCAV 8350, a última unidade a deixar Guileje, e a que pertenceu o membro da nossa tertúlia, o ex-furriel mil op espec José Casimiro Carvalho:
Vd. post de 2 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVIII: No corredor da morte (CCAV 8350, Guileje e Gadamael, 1972/73) (Magalhães Ribeiro)
Recorde-se que, de 18 a 22 de Maio de 1973, o aquartelamento de Guileje foi cercado pelas forças do PAIGC (Op Amilcar Cabral), obrigando as NT (CCAV 8350, 1972/73), a abandoná-lo, juntamente com cerca de 600 civis.
A Companhia Independente de Cavalaria 8350/72 foi a unidade de quadrícula de Guileje entre Outubro de 1972 e Maio de 1973. Viu morrer em combate nove dos seus homens, entre algumas dezenas de feridos.
Foi seu Comandante o Capitão Abel dos Santos Quelhas Quintas, que escreveu numa carta dirigida ao Senhor Chefe do Estado Maior do Exército, sobre o Furriel Miliciano de Operações Especiais José Casimiro Pereira Carvalho, com o seguinte teor (desconheço a data):
Exmo Senhor Chefe do Estado Maior do Exército:
"Por, quando Comandante da Companhia Independente da Cavalaria 8350, em serviço na Guiné entre 1972 e 1973, sedeada em Guileje, ter sido ferido em Gadamael, nunca me foi possível propor uma homenagem pública ao Furriel de Operações Especiais Casimiro Carvalho.
(...)"Quando fui ferido, foi este homem que me ajudou a deslocar para junto do Rio Cacine, pois eu mal me podia movimentar, deslocando-se em seguida debaixo de intenso fogo de morteiros e outra armas que, neste momento, não sei especificar, para conseguir um depósito de gasolina de forma a poder fazer movimentar a embarcação em que me evacuou para Cacine, como também outros militares que nesse momento já se encontravam junto ao pequeno cais.
""Nas reuniões anuais da nossa Companhia muitos falam dos actos de bravura deste furriel, desde, debaixo de fogo, conduzindo uma Berliet se deslocar aos paióis para municiar não só as bocas de fogo de artilharia, como para os morteiros, fazer ainda parte duma patrulha onde morreram vários militares ficando ele e outro a aguentar a situação, até serem socorridos, e ter sido ferido, evacuado para Cacine, o que não invalidou que passados poucos dias se tenha oferecido para voltar para junto dos camaradas no verdadeiro inferno em Gadamael" (...)
(3) O major de artilharia Alexandre da Costa Coutinho e Lima era o comandante do COP 5, na altura da batalha de Guileje e Gadamael:
Vd. posts de 2 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - XCI: Antologia (6): A batalha de Guileje e Gadamael (Afonso M.F. Sousa / Serafim Lobato)
Guiné 63/74 - P1612: Relembrando, com saudade, os nossos soldados fulas da CART 11 (Renato Monteiro / João Moleiro)
Amigo Renato:
Cumpri a minha comissão na CART 11 no 2º pelotão, onde rendi um furriel cabo verdiano, de nome Vera Cruz, que quase nem conheci.
Depois de ter visitado a página Luís Graça e Camaradas da Guiné parece-me ser o meu amigo o furriel Renato de que os soldados fulas tanta vez me falavam e recordavam com alguma saudade.
Assim sendo receba um abraço do Lacrau
João Moleiro
2. Resposta do Renato Monteiro:
João: De um lado para o outro, não me tem sido possível parar um momento para agradecer a sua mensagem. E trata-se de um agradecimento pela satisfação que me deu ao falar dos africanos da CART 11...
Na verdade, e volvido tanto tempo, ainda mantenho bem viva a lembrança de companheirismo e de amizade que partilhei com essa rapaziada, perguntando-me o que será feito dela...
Como até hoje nunca estabeleci qualquer correspondência com nenhum camarada da [CART] 2479, à excepção do Furriel Cunha, e só muito de longe em longe, ignoro qual foi o destino dos demais camaradas de então...
Sequer sabia que tinha sido o amigo que haveria de integrar o 2º pelotão, desconhecendo ainda quem me substituiu na altura em que fui de malas aviadas para uma Companhia, sediada no Xime.
Mais uma vez há que reconhecer o mérito do Luís Graça, ao proporcionar estes agradáveis e imprevisíveis encontros, dificilmente possíveis fora do Fora Nada!
Com um abraço e até ao próximo regresso...
Renato
__________
Notas de L.G.:
(1) Renato Monteiro: Furriel miliciano da CART 2479/CART 11, que eu conheci em Contuboel, em Junho/Julho de 1969, e de quem guardo uma saudosa lembrança.
Seguiu para Piche, a nordeste de Nova Lamego (Gabu), com os seus africanos, na mesma altura em que nós (CCAÇ 2590/CCAÇ 12) seguíamos para Bambadinca. Esses africanos, de etnia fula, como os nossos, fizeram a recruta e a instrução de especialidade juntamente com os da nossa companhia.
Na altura Contuboel funcionava como um centro de instrução militar. Nunca mais o tornei a ver, ao Monteiro. Graças à Net, através da minha página pessoal, foi ele que me localizou. Hoje é membro da nossa tertúlia.
É autor de vários livros, de poesia e de fotografia. É co-autor do livro Guerra Colonial - Fotobiografia. A capa que reproduzimos ao lado é da 2ª edição, 1998. (Lisboa: Publicações Dom Quixote). O livro, que tem uma excelente selecção de imagens da guerra colonial nas três frentes, é também distribuído pelo Círculo de Leitores.
(2) Vd. posts relacionados com a CART 2479 e o nosso camarada Renato Monteiro:
23 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P899: Diga se me ouve, escuto! (Renato Monteiro)
23 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P898: Saudades do meu amigo Renato Monteiro (CART 2479/CART 11, Contuboel, Maio/Junho de 1969)
28 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1001: Estórias de Contuboel (i): recepção dos instruendos (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)
30 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1005: Estórias de Contuboel (ii): segundo pelotão (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)
2 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1017: Estórias de Contuboel (iii): Paraíso, roncos e anjinhos (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)
4 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1026: Estórias de Contuboel (iv): Idades sem lembrança (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)
4 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1027: Estórias de Contuboel (V): Bajudas ou a imitação do paraíso celestial (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)
Guiné 63/74 - P1611: Evocando Barbosa Henriques em Guileje (Armindo Batata) bem como nos comandos e na PSP (Mário Relvas)
Foi meu comandante em Guileje, onde foi promovido a capitão nos primeiros meses 1969. O meu grande respeito e admiração por ele perduram desde esses tempos.
Armindo Batata
2. No blogue Quanto Mais Quente Melhor (Esquadrão de Reconhecimento FOX 2640, Guiné, Bafátá, 1969/71), editado por Fernando Vouga (que julgo ter sido o seu comandante), encontrei uma referência ao Coronel Comando Barbosa Henriques, recentemente falecido:
Quanto Mais Quente Melhor > 21 de Fevereiro de 2007 > De Mário Relvas (ex-comando da CCmds 123/131):
O Coronel Comando Barbosa Henriques - O Bomba H - partiu deste mundo, triste pela situação a que isto chegou! As minhas mais profundas e sentidas condolências à família, aos Comandos e aos Polícias.
Lembro que comandou o CI - Corpo de Intervenção da PSP. Recordo um episódio em que na margem sul trabalhadores encerravam a fábrica onde trabalhavam e ele foi lá ter, à civil, pois já estava lá uma Meia do CI. Quando lá chegou foi para frente e como estava à civil, enquanto carregava levava também porrada dos seus homens e gritava:
-Porra, vocês não conhecem o vosso comandante?
Um grande homem que para lá das campanhas africanas, do Regimento de Comandos, prestou um enorme serviço ao País na PSP! No CI era conhecido como o Zé da Bóina porque usava a bóina encarnada dos Comandos! Por isso o marchar diferente do CI, semelhante ao dos Comandos (...).
Este comentário é um post orginal (Partiu um Camarada > 21 de Fevereiro de 2007) do blogue do Mário Relvas > Aromas de Portugal.
3. Breve historial da 1ª Companhia de Comandos Africanos (CCA):
(i) 9 de Julho de 1969 - Início da organização da companhia, em Fá Mandinga, formada exclusivamente por naturais da Guiné e com base em anteriores grupos de comandos já existentes nos batalhões;
(ii) 6 de Fevereiro de 1970 - Início da sua instrução; instrutor: Capitão Art Barbosa Henriques, ex-comandante da 27ª CCmds;
(iii) 26 de Abril de 1970 - Cerimónia de juramento de bandeira em Bissau, na presença do COM-CHEFE;
(iv) 21 de Junho / 15 de Julho de 1970 - Treino operacional na região de Bajocunda. No final é colocada em Fá Mandinga (Zona Leste, Sector L1, Bambadinca) com a missão de intervenção e reserva do COM-CHEFE;
(v) 30 de Outubro a 7 de Novembro de 1970 - Operação a norte da região do Enxalé, na zona de acção do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72);
(vi) 21/22 de Novembro de 1970 - Toma parte na Op Mar Verde, sob o comando de Alpoim Galvão (invasão da Conacri). Perde um dos seus grupos de combate (comandado pelo tenente graduado Januário que posteriormente morto na prisão, enquanto os seus homens foram fuzilado);
(vii) Princípios de Dezembro de 1970 / Finais de Janeiro de 1971 - Três pelotões em reforço temporário das guarnições fronteiriças de Gandembel e Guileje;
(viii) Finais de Julho de 1971 - Segue de Tite para Bolama, para um curto período de descanso e recuperaçã;
(ix) Meados de Agosto de 1971 - É colocada em Brá (Bissau), nas instalações do futuro Batalhão de Comandos;
(x) Continua a sua intensa actividade operacional, durante o resto do ano de 1971 e o ano de 1972, em conjunto com a 2ª Companhia de Comandos Africanos, entretanto formada;
(xi) Penetra em santuários da guerrilha do PAIGC que eram verdadeiros mitos no nosso tempo, como por exemplo:
- Morés (20-24 de Dezembro de 1971; 7-12 de Fevereiro de 1972);
- Choquemone [a nordeste de Bula, na região do Oio] (18-22 de Outubro de 1971);
- Salancaur-Unal-Guileje (28 de Março a 8 de Abril de 1972);
(xii) 2 de Novembro de 1972 - É integrada no Batalhão de Comandos;
(xiii) 7 de Setembro de 1974 - A 1ª CCA é desactivada e extinta, bem como as restantes forças do Batalhão de Comandos.
Fonte:
Comandos: tropa de elite > Companhias: Guiné> 1ª Companhia de Comandos Africana
Associação de Comandos > Historial dos comandos: efemérides
__________
Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 19 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1536: Morreu Barbosa Henriques, o ex-instrutor da 1ª Companhia de Comandos Africanos (Luís Graça / Jorge Cabral)
domingo, 18 de março de 2007
Guiné 63/74 - P1610: Ao meu pai, Victor Tavares, ex-1º cabo paraquedista, CCP 121 (Osvaldo Tavares)
Eu não conheço pessoalmente o Osvaldo, mas o Vitor falou-me dele, com orgulho... O nosso camarada, grande herói do Cufeu/Guidaje (2), bem merece, duplamente, este filho e esta singela e linda homenagem do seu filho. Faz-nos inveja a todos...
É por essa razão que eu achei que tinha de dar o devido destaque, no nosso blogue, a este poema que um filho dedica a seu pai... A vida é feita de pequenos gestos de ternura como estes... E eu sei do que falo, porque acabo de fazer a minimaratona da Ponte sobre o Tejo até Belém, e é bom sentir o apoio de um filho ao nosso lado, 37 anos mais novo, a apoiar-nos e a motivar-nos para cumprir, com tranquilidade e dignidade, a missão (que no caso em apreço era tão apenas chegar à meta em 60 minutos, sempre em passo de corrida)...
Osvaldo, és um grande homem e e ainda por cima tens talento para a escrita poética. Victor, tens um belo rapaz. E a propósito, não te esqueças de nos contar, a nós, teus amigos e camaradas da Guiné, as emoções do teu recente regresso a Guidaje, com uma equipa de reportagem da TVI. Com tempo e vagar depois de cumpridas todas as outras tuas obrigações, como pai, chefe de família, empresário, autarca, cidadão... LG
Para dedicar ao meu pai, Victor Tavares
por Osvaldo Tavares
A presença remota do passado,
Nos sentidos, ainda tão vibrante,
Questiona o que se tem apressado
E contido neste peito infante!
O passado é potencial tão presente
Mas passível de transformação
Naquilo que hoje se sente
Bem no fundo do coração!
Num desenrolar de emoções
Vão passando como um filme na mente
As lembranças que fazem reviver
A ascensão de uma vida tão ardente.
São belas recordações que inundam
Com miragem o poder da fantasia,
As saudades de um tempo que não volta
Mas invadem a alma de alegria.
Lembranças que abrem o caminho
Como luzes que brilham com ardor
E acalentam um grande sonho
De viver um futuro com amor.
Osvaldo Tavares
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Nota de L.G.:
(1) Vd. poste de 8 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1573: O Victor Tavares, da CCP 121, a caminho de Guidaje, com uma equipa da TVI (Luís Graça)
(2) Vd. postes de:.
25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto
9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida
Guiné 63/74 - P1609: Álbum das Glórias (9): Pessoal da CART 3942 em Bolama (Joaquim Mexia Alves)
Guiné > Ilha de Bolama > Bolama > CART 3942 > 1972 > Alguém se sentiu mal na festa e o Mexias Alves estava de faxina...
Guiné > Ilha de Bolama > Bolama > CART 3942 > 1972 > Continuação da festa. O Enfermeiro também declama (Os outros já estão identificados).
Guiné > Guiné > Ilha de Bolama > Bolama > CART 3942 > 1972 > Continuação da festa. Aparece agora o Fur Faceira, Vagomestre...
Fotos e lgendas: © Joaquim Mexia Alves (2006). Direitos reservados
___________
Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 17 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1607: Artur Soares, ex- Furriel Mecânico Auto, CART 3492, Xitole, 1972/74 (Joaquim Mexia Alves)
sábado, 17 de março de 2007
Guiné 63/74 - P1608: Xitole, CART 3492: Uma nota de bom humor no quotidiano da guerra (Joaquim Mexia Alves)
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > CART 3942 (1972/74) > Uma nota de bom humor no quotidiano da guerra: da esquerda para a direita, os Alf Mil Mexia Alves (1º Pelotão), Mil Rodrigues (4º Pelotão) e Barroso (3º pelotão)
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > Os três foliões, Mexia Alves, Rodrigues e Barroso
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > CART 3942 (1972/74) > Os quatro alferes da companhia: da esquerda para a direita, Mexia Alves, Rodrigues, Silva e Barroso.
Fotos: © Joaquim Mexia Alves (2007). Direitos reservados
Mensagem do Joaquim Mexia Alves:
Caro Luís Graça:
Recebi do Artur Soares, Furriel Miliciano Mecânico da minha CART 3492, do Xitole (1), resposta ao mail de que te dei conhecimento, dizendo-me que brevemente entraria em contacto contigo para passar a fazer parte da Tertúlia. Estou a ver se arranjo tempo para me encontrar com ele, para matar saudades e relembrar factos do Xitole, para podermos escrever sobre eles.
Não percebo o que me acontece, já to disse, mas é impressionante como estou esquecido das coisas da Guiné. Pode ser que com ele a puxar por mim a memória vá voltando!!!
Hoje envio-te umas fotografias para rir: Passagem de modelos, realizada no Xitole pelos oficiais da CART 3492, modelos confeccionados pela Casa de Haute Couture Jamil Fashion (2).
Nome dos modelos:
(i) Os três em oração: Alf Mil Barroso (3º pelotão); Alf Mil Rodrigues (4º Pelotão); e eu (1º Pelotão). A fotografia poderá ferir sentimentos religiosos, por isso deixo ao teu discernimento a sua publicação [E a minha decisão foi a de não publicá-la, para não ferir eventuais susceptibilidades de alguns dos nossos amigos L.G.].
O outro Alf Mil que aparece é o Silva (2º pelotão) que veio substituir o Alf Mil de que não me lembro o nome e nem me consigo lembrar se chegou a estar connosco no Xitole. O Alf Mil Silva, ao que me lembro, vinha dos Paraquedistas... Porquê, também não me lembro.
(ii) Vai também uma fotografia da vala dos oficiais do Xitole.
O 1º cabo Festas, impedido da Messe de oficiais do Xitole, estava solenemente proibido de fechar a arca frigorífica, sem primeiro avisar, e devia fazê-lo com todo o cuidado, para não dar azo a que os senhores oficiais se precipitassem para a vala, perante a saída de morteiro, que o barulho da tampa da arca a fechar rigorosamente imitava.
Por hoje é tudo! Como se diz na minha terra, é pouco, mas é de boamente!
Abraço amigo do
Joaquim Mexia Alves
__________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 17 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1607: Artur Soares, ex- Furriel Mecânico Auto, CART 3492, Xitole, 1972/74 (Joaquim Mexia Alves)
(2) Jamil Nasser, comerciante libanês local, de cuja casa o Mexia Alves era assíduo frequentador, juntamente com os seus camaradas. Vd. post de 11 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P952: Evocando o libanês Jamil Nasser, do Xitole (Joaquim Mexia Alves, 1971/73)
(...) "Quase todos os dias, ao fim da tarde, ía a casa do Jamil e no seu alpendre de entrada, bebiamos uns uísques, acompanhados de pedaços de tomate com sal, enquanto ele ouvia as notícias do Libano no seu rádio, em árabe, claro está, e comentava o que por lá se passava.
"Para mim era como sair um pouco da tropa e entrar numa vida social, o que dava um certo equilíbrio emocional.
"Um dia, quando me preparava para ir ter com o Jamil, apareceu o seu criado Suri, oriundo da Gâmbia, salvo o erro, para me dizer que o Jamil pedia para eu não ir ter com ele naquele dia.
"Fiquei admirado, mas bebi o que tinha a beber no quartel. Mal anoiteceu, houve um tremendo ataque ao Xitole que, graças a Deus, não provocou quaisquer vítimas ou sequer ferimentos, mas destruiu bastante alguns edifícios " (...).