quarta-feira, 10 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19965: Agenda cultural (694): Programa da Recriação Histórica da Batalha do Vimeiro de 1808 e Mercado Oitocentista, Vimeiro, Lourinhã, 19, 20 e 21 de julho de 2019: entrada gratuita (Eduardo Jorge Ferreira)








Programa da Recriação Histórica da Batalha do Vimeiro de 1808 e Mercado Oitocentista, Vimeiro, Louirnhã, 19, 20 e 21 de julho de 2019.


Mensagem, de hoje, do nosso camarada, amigo e conterrâneo, Eduardo Jorge Ferreira:

[(i) professor de educação física, reformado;

(ii) tem mais de 4 dezenas de referências no nosso blogue; 

(iii) entrou para a Tabanca Grande em 31/8/2011; 

(iv)  foi alf mil da Polícia Aérea, na BA 12, Bissalanca, de 20 de janeiro de 1973 a 2 de setembro de 1974, colocado na EDT (Esquadra de Defesa Terrestre); 

(v)  presidente da assembleia geral da Associação para a Memória da Batalha do Vimeiro; 

(vi) noutra encarnação foi sargento, integrado no exército luso-britânico que derrotou o exército napoleónico na batalha do Vimeiro, Lourinhã, em 21 de agosto de 1808;]

(vii) natural do Vimeiro, Lourinhã, residente em A dos Cunhados, Torres Vedras]


Meus (minhas) caros(as) amigos(as):

Junto envio em anexo o programa da recriação da Batalha do Vimeiro e Mercado oitocentista, a decorrer já nos próximos dias 19,20 e 21 deste mês.

Se vos aprouver passar por cá serão bem-vindos e decerto não dareis o vosso tempo por mal empregue.

Guiné 61/74 - P19964: Historiografia da presença portuguesa em África (165): À procura de Sambel Nhantá (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Setembro de 2018:

Queridos amigos,
Chegara o tempo de mexer três fartos caixotes com documentação antiga, joeirar o que podia ir para o lixo, um fartote de agendas que perderam préstimo, resmas de brochuras associadas a viagens de um passado já longínquo, e algo mais. É nisto que o coração bateu mais forte, primeiro a longa carta de Abudu Soncó, cumpria uma promessa feita no ano anterior de me transmitir as lembranças de Infali Soncó, de que pouco se sabe, ele que deu dores de cabeça às autoridades portuguesas, foi o responsável pelas campanhas de 1907 e 1908, a última mobilizou um forte contingente europeu e moçambicano, como jamais acontecera. Havia que juntar peças, encontrar nexos entre os Soncó e este humilde escriba que um dia, por vontade de Malan Soncó, passou a pertencer à família, com as obrigações inerentes, como vai acontecendo, sobretudo com a saudade sem fim com aqueles que lhe deram tanta fidelidade e bravura e já pousaram nas estrelas.

Um abraço do
Mário


À procura de Sambel Nhantá

Beja Santos

Quando comecei a estudar a Guiné e a procurar localizar todas as povoações do regulado do Cuor, subsistiam duas interrogações sem resposta: aquele colosso de pedra que existia (e espero que exista) em Aldeia do Cuor, era fortaleza, quartel ou sede de uma grande empresa? Porque é que em Sansão, abaixo de Missirá havia túmulos de régulos, não teria feito mais sentido eles terem sido todos exumados na sede do regulado? A questão da Aldeia do Cuor só ficou resolvida ao tempo em que fiz o levantamento documental do BNU da Guiné. Era dado assente que aqui tinham funcionado duas empresas de grande porte, que acabaram na água. Ao tempo da Sociedade Agrícola do Gambiel é claramente referida a construção daquela imensidão de pedra, ali trabalhou Armando Cortesão, que se iria destacar na cultura portuguesa como um dos mais eminentes cartógrafos. Encontrava por toda a parte, nos mapas e livros a referência a Sambel Nhantá, procurava nos mapas modernos e nada.

Em 1991, durante os meses em que fui cooperante na Guiné-Bissau, fiz amizade com o filho mais novo do régulo Malan Soncó, Abuduramane Serifo Soncó, na época mestre de escola. Deu para conversarmos longamente sobre empreendimentos que houvera no Cuor, e aquela dúvida que me acicatava, a falta de elementos sobre o bisavô de Abdu, Infali Soncó.
Numa carta que me enviou de Bissau com data de 24 de janeiro de 1992, revela ter conversado longamente com o seu velho tio Aladjé Soaré Soncó, que tinha uma versão bem segura sobre Infali, passo a transcrever a sua carta:
“Infali Soncó era filho de Bacar Soncó e de Mussó Quebá Mané, natural de Berrecolom, Gabú, era comerciante. Conquistou a zona de Cumpone na região de Boké, Guiné Conakri, para onde fora designado régulo. Estava constantemente a ser ameaçado pelos Fulas, caso de Alfa Iaia.
Anos depois, foi solicitado pelo seu tio Calonandim Mané, régulo de Cossé, Bafatá, amigo dos portugueses. O objectivo era invadir o Cuor, o régulo da região impedia a passagem de barcos portugueses. Esse régulo Fula chamava-se Sambel Nhantá, vivia em Sansão. Infali Soncó e o seu tio acompanhados dos guerreiros cercaram a tabanca do régulo Sambel Nhantá durante uma semana, ninguém entrava nem saía. A população teve medo de morrer de sede e fome e o régulo Sambel Nhantá fugiu, não deixou paradeiro. Os portugueses agradeceram, o comércio no Geba voltava a funcionar.

Bolama deu posse a Calonandim Mané como régulo do Cuor, mas ele morreu numa batalha no Enxalé, a lutar contra os Balantas. Na circunstância, foi eleito Infali Soncó como régulo do Cuor.
Revoltou-se contra os portugueses. Tudo terá começado quando um alferes português, de nome Fortes, o foi visitar a Sansão. Enquanto se aproximava, Infali e os seus “djidius” (músicos) deram boas-vindas ao visitante, surpreendido e confuso, o alferes terá dado uma bofetada a um dos músicos, dizendo que estava a fazer muito barulho, o que agastou Infali, teve ganas de matar toda a comitiva portuguesa. Os homens grandes pediram-lhe que não o fizesse, o ambiente estava tenso, esses homens grandes conseguiram que a comitiva portuguesa retirasse. Tinha-se instalado a ideia de rebelião e Infali cortou a navegação entre Bissau e Bafatá. Atacaram um barco português na região de Gã Gémeos, prenderam o alferes, mas um amigo de Infali, o comerciante cabo-verdiano Pedro Moreira, que tinha uma destilaria em Gã Gémeos, pediu-lhe que não matasse o alferes, pedido aceite, o alferes foi entregue às autoridades portuguesas em Bolama. Apercebendo-se da hostilidade das autoridades, Infali foi transferido para Fulacunda, aqui morreu, e depois a sua família e os seus guerreiros voltaram para Sansão. O novo régulo foi o seu filho Bacari Soncó, foi este que transferiu a sede do regulado de Sansão para Missirá.”

É este o teor da carta com as informações de Infali prestadas pelo seu filho sobrevivente, Aladjé Soaré Soncó. Haverá aqui algumas questões a resolver. Em abril de 1908, terá lugar a campanha do Cuor, Canturé e Sansão serão incendiadas, como mais tarde Madina, Infali fugiu, andou a monte. Em Caranquecunda foi instalada uma guarnição de tropa europeia e de macuas, por ali esteve algum tempo. Há relatos da recuperação de Infali, pediu perdão aos portugueses. Daí esta neblina de Fulacunda, há que descobrir elementos que fundamentem que ele ali tenha sido régulo, como tivesse havido perdão. Juntam-se algumas imagens sobre todas estas figuras aqui faladas: este que se assina aparece de braço dado com o régulo Malan Soncó, o seu irmão Quebá e o chefe de tabanca Mussá Mané, que todos os dias lhe pedia colunas a Bambadinca para trazer arroz ou levar membros da família, são questões que aparecem em livros do signatário. No mapa do Cuor destacam-se a Aldeia do Cuor e Sansão, este que se assina por ali andarilhava quase diariamente, a caminho ou no regresso de Mato de Cão, era piso seguro, evitavam-se emboscadas e minas antipessoal, a despeito da poeirada que se infiltrava em todos os poros do corpo. Felizmente que a fotografia dos meninos do Cuor foi enviada para Lisboa antes de todo o espólio fotográfico do signatário ter desaparecido na flagelação de 19 de março de 1969. Tumulu, o primeiro à esquerda, impressionava por andar sempre de Mauser, teve há anos um AVC, recuperou parcialmente, é o último irmão que resta a Abdu, vive em Lisboa, e que o signatário trata por irmão, tem a saúde combalida depois de dois enfartes de miocárdio, aqui pode tratar-se e vive com alguma dignidade.
E fica contada a história, foi com imensa alegria que se reencontrou uma carta escrita acerca de 26 anos, num dossiê onde apareceu a fotografia de José Jamanca e uma carta enviada por Ussumane Baldé, o 104, o soldado prussiano de alfero, questões de que se falará mais tarde, sempre com uma inabalável saudade.

Missirá, 1968 - Retrato de meninos Soncó e Mané. Abuduramane é o segundo menino a contar da direita, está ao pé de Nhalim Cassamá, mulher de Quebá Sonco, irmão do régulo.

Uma das pouquíssimas imagens de Infali Soncó, está sentado no centro, com uma arma na mão. Em breve, vai começar a guerra no Cuor, de que sairá derrotado, estamos em 1908. 
Fotografia retirada do álbum O Primeiro Fotógrafo de Guerra Português: José Henriques de Mello, por Alexandre Ramires e Mário Matos e Lemos, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2008, com a devida vénia.

Malan Soncó, à esquerda, neto de Infali e filho de Bacari Soncó, na minha companhia e de familiares.


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Nota do editor

Último poste da série de 8 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19956: Historiografia da presença portuguesa em África (164): Alfa Moló Baldé e o mito fundador do reino de Fuladu, em 1867 (Cherno Baldé) - Parte I

Guiné 61/74 - P19963: Lembrete (31): Lançamento do livro "Os cronistas desconhecidos do canal do Geba - O BNU da Guiné", de Mário Beja Santos, hoje às 15 horas, na sede da CPLP, Palácio Conde de Penafiel, em Lisboa



LEMBRETE

LANÇAMENTO DO LIVRO "OS CRONISTAS DESCONHECIDOS DO CANAL DO GEBA - O BNU DA GUINÉ", DE MÁRIO BEJA SANTOS, HOJE ÀS 15 HORAS, NA SEDE DA CPLP, PALÁCIO CONDE DE PENAFIEL, LISBOA


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Nota do editor

Último poste da série de 19 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19209: Lembrete (30): 40º almoço-convívio (e festa de Natal 2018) da Magnífica Tabanca da Linha, 5ª feira, dia 22, às 12h30, no Restaurante Caravela de Ouro, em Algés... Últimas inscrições até às 10h00 de amanhã. Até às 13h00 de hoje, estavam inscritos 52 magníficos/as que vão desejar, em voz alta e em coro, as melhoras do régulo Jorge Rosales, hospitalizado em Santa Maria! (Manuel Resende / Armando Pires)

Guiné 61/74 - P19962: Notas de leitura (1195): "Crónicas de um tenente", de Fernando Penim Redondo, Lisboa, edições Colibri, 2019, 188 pp. Prefácio de Mário de Carvalho (A. Marques Lopes)




Capa e contracapa do livro de Fernando Penim Redondo, "Crónicas de um tenente: Guiné-Bissau, 1968-2018". Lisboa: Edições Colibri, 2019, 188 pp. Preço de capa: 15 €, (Prefácio: Mário de Carvalho)


A. Marques Lopes
1. Mensagem de A. Marques Lopes, com data de 8 do corrente:

[cor art DFA, na reforma, ex-alf mil art, CART 1690, Geba, e CCAÇ 3, Barro (1967/68)];autor de "Cabra-cega: do seminário para a guerra colonial" (Lisboa, Chiado Editora, 2015, 582 pp.); tem mais de 240 referências no nosso blogue; lisboeta, vive em Matosinhos]


Não conheci o meu amigo Fernando Penim Redondo na Guiné, embora, pelo que vejo, ele tenha passado várias vezes pelo sítio onde fui colocado na segunda vez em que fui mandado para a Guiné, também em Maio de 1968, Barro, quase pegado às margens do Cacheu.

Conhecemo-nos e fomos amigos, ele e a Rosa, mulher dele, nos tempos memoráveis de 1974 e 1975.

Diz o Fernando no início do seu livro:

"No dia 1 de Maio de 1968, o Tenente largou do Tejo, rumo à Guiné, a bordo da fragata Corte Real. Era então um jovem fuzileiro, de 22 anos, recém-casado, que interrompera os estudos de Economia na Universidade de Lisboa.

Em Bissau integrou a 6, a Companhia, aquartelada no INAB, junto ao Geba. A missão consistia essencialmente na escolta de comboios de embarcações que abasteciam os quartéis do Exército no interior do território.

Subiu e desceu os principais rios da Guiné comandando as missões a partir das lanchas da Armada.

Navegou no Cacheu até Farim, no Mansoa, no Geba e no Rio Gran­de de Buba. Ligou por mar a foz desses grandes rios e também foi a Catió, a Bolama e aos Bijagós.

A guerra era uma realidade penosa para quem como ele, jovem mi­litante comunista, se opunha ao domínio colonial e defendia a inde­pendência das colónias. Partilhou esse drama pessoal com a sua mulher, que trabalhou como professora de História no então Liceu Honório Barreto.

A fotografia constituiu um paliativo. Ao fotografar a dignidade do povo guineense, a beleza das suas mulheres, o porte dos seus ho­mens e o encanto das suas crianças, ele tinha a impressão de estar a fazer um gesto de amizade no contexto da guerra.

Tal como muitos outros jovens da sua geração aprendeu, 'no ter­reno', a grande lição da relatividade da nossa própria cultura. »


2. Sinopse da obra

No corredor da prisão instalara-se um caos, cada um tentando perceber se iam ser fuzilados ou libertados. Ao fim de algum tempo lá apareceu um oficial, mais sensível, que lhes explicou o que estava a acontecer. Começou então a longa espera até que a Junta de Salvação Nacional aceitasse libertar todos os presos e não apenas alguns. A comunhão dentro da prisão era completa e o Tenente reencontrou a sua mulher que, sem ele saber, se encontrava na outra ala do edifício prisional.

Como se formava um jovem progressista nos turbulentos anos 60?
Como se lutava contra a guerra colonial, antes e depois de nela ter participado?
Como se navegava, e encalhava, nos rios da Guiné com incêndios, abalroamentos e bazucadas?
Como podem a poesia e a fotografia ajudar um combatente contrariado?
Como reagir quando nos entra pela cela dentro um camarada de armas, durante uma inesperada revolução?
Como se sente o regresso, 50 anos depois, ao lugar da guerra e da juventude?

/Este não é / um livro de fotografia / mas tem muitas imagens
/Este não é / um livro de poesia / mas tem vários poemas
/Este não é / um livro biográfico / mas conta certas estórias / que mostram / o sentido de uma vida.

3. Sobre o autor: Fernando Penim Redondo:

(i) nasceu em Lisboa, em 1945;

(ii) estudou economia no ISCEF, curso que não concluiu:

(iii) adere ao Partido Comunista Português em 1966 e é eleito, no mesmo ano, para a Direcção do Cineclube Universitário de Lisboa;

(iv) em 1967 é incorporado na Armada e segue para a Guiné, como tenente dos fuzileiros, onde fica até 1970;

(v) especializado em gestão da produção, automação e CAD/CAM, conduziu projectos em dezenas de empresas industriais portuguesas mas fez carreira, durante 23 anos,  como Systems Engineer na IBM (1970-1993) - e posteriormente como gestor;

(vi) em paralelo com a carreira profissional mantém sempre a actividade política: é  preso em 18 de Abril de 1974 e libertado pela Revolução dos Cravos; é eleito para a CT da IBM de 1974 a 1975 e de 1981 a 1993; é eleito para a direcção do Sindicato do Comércio e Serviços (CESL) de 1989 a 1993.

(vii) a partir de 2000 dedica-se a actividades de jornalismo tecnológico com base na Internet;

(viii) tem página no Facebook.

Fonte: Adapt. de Edições Colibri
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Nota do editor:

terça-feira, 9 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19961: Efemérides (308): Homenagem aos Combatentes da União de Freguesias de Perafita, Lavra e Santa Cruz do Bispo, do Concelho de Matosinhos, caídos em Campanha na Guerra do Ultramar

Realizou-se no passado dia 6 de Julho, nos cemitérios de Lavra, de Perafita e de Santa Cruz do Bispo, Concelho de Matosinhos, uma homenagem aos Combatentes da União de Freguesias mortos na Guerra do Ultramar.

As cerimónias foram promovidas pelo Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, em colaboração com a Junta da União das Freguesias de Perafita, Lavra e Santa Cruz do Bispo. 

Pelas 10H00 em Lavra, 10H45 em Perafita e às 11H30 em Santa Cruz do Bispo, tiveram lugar as cerimónias militares onde foi feita a chamada de todos os combatentes mortos na Guerra do Ultramar de cada uma das freguesias, seguindo-se a deposição de coroas de flores, os respetivos toques de homenagem aos mortos e, na altura do minuto de silêncio, foi cantado um salmo pelo Grupo Coral do Núcleo e lida por um sócio combatente a prece do Exército em Lavra e Perafita e uma oração em Santa Cruz do Bispo. 

Dando continuidade ao programa traçado, foi proferida uma mensagem alusiva ao ato pelo Presidente da Direção do Núcleo, Tenente Coronel Armando Costa e uma alocução pela Presidente da Junta da União das Freguesias de Perafita, Lavra e Santa Cruz do Bispo, Dra. Lurdes Queirós.
Por último, o Grupo Coral do Núcleo cantou o Hino da Liga dos Combatentes.

Em Perafita e Santa Cruz do Bispo, antes das cerimónias, foram descerradas placas com os nomes dos combatentes falecidos daquelas duas freguesias (em Lavra existe já um panteão com os nomes dos combatentes falecidos da freguesia). 

Participaram nas cerimónias membros do executivo da Junta, o Grupo Coral e o Porta Guião do Núcleo, o clarim dos Bombeiros de Matosinhos-Leça da Palmeira, uma Guarda de Honra de sócios combatentes, familiares dos combatentes falecidos e sócios, familiares e amigos e público em geral. 

A União de Freguesias assegurou o transporte dos participantes, de acordo com o itinerário Lavra – Perafita – Santa Cruz do Bispo e posterior regresso em sentido inverso. 

Esta atividade patriótica e de cidadania teve por objetivo homenagear todos os combatentes da União de Freguesias, honrando os que não voltaram, os que entretanto faleceram e os que ainda estão vivos.


Cemitério de Lavra - O Combatente lavrense, Rudolfo Mesquita, evoca os nomes dos Combatentes lavrenses caídos em Campanha

Panteão do Cemitério de Lavra - A Presidente da União de Freguesias, Dra. Lurdes Queirós, e o Presidente do Núcleo de Matosinhos da LC, Tenente Coronel Armando Costa, homenageiam os Combatentes lavrenses caídos em Campanha

Cemitério de Lavra - O Combatente lavrense Abel Santos profere a Prece do Exército

 Cemitério de Lavra - O Tenente Coronel Armando Costa na sua alocução

Cemitério de Lavra - A Dra. Lurdes Queirós falando de improviso mas com palavras sentidas. A certa altura da sua alocução disse lembrar-se de um tio seu ter partido para a guerra e a vida da família ter ficado suspensa até ao seu regresso.

Cemitério de Lavra - O Grupo Coral do Núcleo de Matosinhos encerra a cerimónia em Lavra, entoando o Hino da Liga dos Combatentes

Cemitério de Perafita - Descerramento da Placa Evocativa do nome dos Combatentes perafitenses caídos em Campanha. Na foto, a viúva de um Combatente, que ficou com uma filha de 17 dias que nunca conheceu o pai.

Cemitério de Perafita - O Combatente Reinaldo Santos evoca os 4 Combatentes perafitenses caídos em Campanha: Carlos Lopes Soares, Moçambique, 1974; Carlos Soares da Silva - Guiné, 1968; Fernando Freitas Gonçalves Silva - Moçambique, 1969 e José Fernando da Silva - Angola, 1969

Cemitério de Perafita - Alocução do Presidente do Núcleo de Matosinhos da LC

Cemitério de Perafita - Alocução da Presidente da União de Freguesias

Cemitério n.º 2 de Santa Cruz do Bispo - Descerramento da lápide evocativa dos nomes dos 3 santa-cruzenses caídos em Campanha.

Cemitério n.º 2 de Santa Cruz do Bispo - Placa evocativa

O camarada a quem coube evocar os nomes dos santa-cruzenses caídos em Campanha: Américo Augusto Peixoto - Angola, 1973; José Carlos Almeida Verdade - Angola, 1974 e Rui Afonso Ribeiro Pereira - Angola, 1975

Cemitério n.º 2 de Santa Cruz do Bispo - Alguns familiares dos camaradas homenageados com o Tenente Coronel Armando Costa. Cabe aqui uma ressalva para aquela senhora vestida mais informalmente. Não tinha sido previamente avisada desta cerimónia e foi vista no cemitério a tratar do jazigo de família. Com uma certa vergonha por estar assim vestida, não deixou contudo de se associar à homenagem, no caso particular, ao seu irmão falecido na Guerra do Ultramar.

Cemitério n.º 2 de Santa Cruz do Bispo - O Tenente Coronel Armando Costa durante a sua alocução

Cemitério n.º 2 de Santa Cruz do Bispo - A Presidente da União de Freguesias, Dra. Lurdes Queirós, no uso da palavra
 
Cemitério n.º 2 de Santa Cruz do Bispo - Fim das cerimónia com a intervenção do Grupo Coral do Núcleo de Matosinhos da LC

Texto e fotos: © Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes
Selecção, edição e legendagem das fotos: Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19939: Efemérides (307): 0s 600 anos da Madeira e Porto Santo

Guiné 61/74 - P19960: Agenda cultual (693): Sessão de lançamento do livro "Padre Nuno / Xico Nuno: um homem actuante em tempos de mudança", de Natália Rodrigues (Coord.), Carlos Figueira, Emília Galego, Jorge Custódio e José Ermitão. Hoje, às 18h30, no Museu do Aljube - Resistência e Liberdade, Lisboa. Participação musical de Francisco Fanhais.



1. Lançamento de livro de memórias e retrato de um padre [Francisco Nuno Oliveira Rodrigues, 1934 - 1989] que ensinava Religião e Moral numa atitude nova e desafiante para os tempos de sombra que se viviam com o Marcelismo. Por isso, é perseguido pela PIDE e é expulso do liceu [, em Santarém,]  onde ensinava e convidava os jovens para o “Tempo Novo”.

Autores: Natália Rodrigues (Coord.), Carlos Figueira, Emília Galego, Jorge Custódio e José Ermitão

Edição de Autor, junho 2019. Preço de capa: 20 euros



Apresentação de Jorge Custódio, Emília Galego e Natália Rodrigues, seguida de um Porto de Honra.

Participação musical de  Francisco Fanhais

Inscrições obrigatórias e mediante os lugares existentes.

Por favor confirme a sua presença para:


mail: info@museudoaljube.pt

ou telef:  (+351) 215 818 535.


Museu do Aljube, Resistência e Liberdade
Rua de Augusto Rosa, 42 • 1100-059 Lisboa



Elétrico 12
Elétrico 28
Autocarro 737
Metro – Estações da Baixa Chiado e Terreiro do Paço





Padre Nuno / Xico Nuno. Cortesia do jornal Comércio & Notícias, de Rio Maior.


2. Nota biográfica sobre o Padre Nuno / Xico Nuno(1934-1989):


(i) Francisco Nuno Oliveira Rodrigues, natural da Mata, freguesia da Chancelaria, concelho de Torres Novas;

(ii) nasce a 14 de março de 1934;

(iii) ingressa no Seminário de Santarém aos 11 anos e continua a sua formação sacerdotal nos Seminários de Almada e Olivais, sendo ordenado sacerdote a 15 de agosto de 1957;

(iv)  a 1 de setembro celebra a Missa Nova, na sua aldeia natal;

(v) é nomeado para professor e prefeito no Seminário de Santarém, onde inicia funções a 1 de outubro de 1957; 

(vi) aqui desenvolve com os jovens seminaristas vários desafios na área da música, teatro e desporto:

(vii) com uma vertente artística muito marcada pinta algumas obras que expõe, de forma individual e coletiva na cidade;

(viii)  excelente caricaturista, deixa um grande espólio na área do desenho;

(ix)  torna-se sócio do Cine Clube de Santarém, criando uma forte amizade com o seu presidente Manuel Alves Castela; 

(x) participa em vários serões musicais e tertúlias com os intelectuais da cidade;

(xi) em setembro de 1963 é nomeado professor de Religião e Moral do Liceu Nacional de Santarém, ficando também com a responsabilidade dos Colégios Andaluz e Sª. Margarida, a Mocidade Portuguesa, a JEC (juventude escolar católica) do liceu;

(xii) preocupado com a Juventude dinamiza, com os jovens estudantes das escolas da cidade, o NATAL DO ESTUDANTE, que na época foi uma autêntica revolução; 

(xiii) no primeiro ano o espectáculo é apresentado no Ginásio do Seminário e posteriormente no pavilhão da FNAT, no campo da Feira do Ribatejo e por fim no Teatro Rosa Damasceno: os espetáculos são sempre um verdadeiro sucesso, trazendo para os mesmos, artistas conhecidos na época e apresentadores como Fernando Correia e A Orquestra da então Emissora Nacional;

(xiv) cria e dinamiza o SCOJ (Secretariado Cristão dos Organismos Juvenis), um andar que aluga e que serve de apoio aos jovens que ali podem estudar, conviver e mais tarde se torna Lar para Estudantes;

(xv) rapidamente cria um pequeno jornal para divulgar o que se faz na casa a que chama também 2 SCOJ; este serve de comunicação para a juventude da cidade e para os que já seguiram para as Universidades e para a guerra colonial;

(xvi) organiza na casa debates onde são abordados temas tabu para a época, nomeadamente Educação Sexual;

(xvii) o jornal está aberto a todos os que quiserem colaborar, sendo um meio onde os jovens expressam, não só a sua criatividade como expõem as suas dúvida e Padre Nuno está sempre disponível para os ouvir e aconselhar;

(xviii) organiza diversas excursões a Lisboa, para assistir a peças de teatro, ópera e exposições que posteriormente servem para tema de debates nas aulas de Religião e Moral;

(xix) é Vice-Presidente da Associação Académica de Santarém; 

(xx) organiza torneios de futebol entre escolas da cidade assim como entre professores do liceu e do seminário;

(xxi) para além das excursões a Lisboa, organiza também excursões a Espanha em 1964 e 69, a Torre de Molinos, Sevilha e Madrid;

(xxii)  participa em reuniões da Oposição em 1969;

(xxiii) perseguido pela PIDE é expulso do Liceu, no fim do 2º período, sendo então encerrado o SCOJ (jornal e casa/Lar de estudantes);

(xxiv) de 1970 a 1974 é colocado, por pequenos períodos, no STELLA MARIS (Organização da Igreja Católica para apoio aos tripulantes dos navios mercantes e pescadores), Paróquia da Ajuda em Lisboa e Externato Diocesano Frei Luís de Sousa em Almada;

(xxv) em 1975 pede a redução ao estado laical e casa com uma sua ex-aluna do liceu de Santarém, numa cerimónia religiosa;

(xxvi) de 1975 a 1982 vive e trabalha em Torres Novas onde é professor na atual Escola Maria Lamas; 

(xxvii) em abril de 1976 funda um jornal A FORJA do qual é diretor até setembro de 1982;

(xxviii) em setembro de 1982, por razões de ordem familiar, ruma a Setúbal, sendo colocado como professor de Português e Latim na actual Escola Sebastião da Gama;

(xxix) membro ativo do MDP (Movimento Democrático Português) tem uma intensa atividade política, sendo membro da sua Comissão Nacional;

(xxx) a sua atividade cultural não se resume às diversas atividades que desenvolve com os alunos, como o Festival de teatro com as escolas da cidade, a Semana da Cultura e Língua Portuguesa, o 30º Aniversário do edifício da Escola Sebastião da Gama, O Centenário do Ensino Industrial em Setúbal. 

(xxxi) dinamiza e participa como ilustrador de livros de poesia de poetas setubalenses;

(xxxii) no verão de 1989 adoece: o diagnóstico é Leucemia Aguda. Tenta-se o transplante de medula em Londres o que, infelizmente, não acontece e vem a falecer em Inglaterra a 10 de novembro de 1989, aos 55 anos;

(xxxiii)  o velório é feito no ginásio da Escola Sebastião da Gama;

(xxxiv) várias têm sido as homenagens realizadas por ex-alunos, amigos e colegas de diferentes locais por onde passou, nomeadamente Mata, Setúbal e Santarém. 

(xxxv) a homenagem, este ano será o lançamento de um livro [, acima referido,] sobre o seu percurso de vida, com testemunhos de antigos alunos, colegas e amigos dos diversos locais por onde passou.

Fonte: Adpat. de AESG - Agrupamento de Escolas Sebastião da Gama > Síntese biográfica do Padre Nuno/Xico Nuno (com a devida vénia)

Guiné 61/74 - P19959: Parabéns a você (1651): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enf.º da CCAÇ 2412 (Guiné, 1968/70) e Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAÇ 2381


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Nota do editor

Último poste da série de 8 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19955: Parabéns a você (1650): José Zeferino, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 4616 (Guiné, 1973/74)

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19958: Notas de leitura (1194): “Estratégias de Vivência e de Sobrevivência em Contextos de Crise: Os Mancanhas na Cidade de Bissau”, por Mamadú Jao; Nota de Rodapé Edições, 2015 (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Dezembro de 2016:

Queridos amigos,
Tive a felicidade de conhecer o Dr. Mamadú Jao em 2010, em visita ao INEP, de que era diretor, entreguei-lhe uma lembrança valiosa que me for transmitida pelo nosso confrade Humberto Reis: todas as cartas da Guiné Portuguesa, na escala de 1:50.000, as cartas com que trabalhávamos. O INEP ainda não se recompusera da tragédia da guerra civil, por ali se tinha aboletado a tropa senegalesa, que se aquecia com fogueiras alimentadas com documentos históricos, perda irreparável do património guineense, até os livros à venda estavam chamuscados.
Este trabalho do antropólogo dá-nos uma visão particular das respostas de organizações tradicionais num contexto de crise aguda em que as mulheres são as grandiloquentes protagonistas.

Um abraço do
Mário


Resistir à crise em Bissau: as estratégias dos Mancanhas (1)

Beja Santos

“Estratégias de Vivência e de Sobrevivência em Contextos de Crise: Os Mancanhas na Cidade de Bissau”, por Mamadú Jao, Nota de Rodapé Edições, 2015, corresponde a um estudo de uma etnia e de uma etnicidade confrontado um processo social dentro de um estado frágil e num tempo em que se fala de globalização e desenvolvimento global – afinal, há organizações civis de sociedades que asseguram aquilo em que o Estado e as promessas globais estão ausentes.

Estudar os Mancanhas, como vivem e sobrevivência num país profundamente instável, tem outros aliciantes: alargar o debate sobre a sociedade civil até entender o real desempenho das sociedades étnicas e como estas ajudam a superar os fracassos cumulativos de modernização. Mamadú Jao é um nome proeminente nas ciências sociais da Guiné-Bissau, é antropólogo, foi investigador do INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa da Guiné-Bissau durante mais de duas décadas, exercendo mesmo as funções de diretor. Foi professor universitário e atualmente é oficial do Fundo das Nações Unidas para a População. De há muito que se sentia aliciado para um estudo sobre as sociétés Mancanhas, as organizações informais de base comunitária. Reparou que os diferentes técnicos associados a programas de desenvolvimento rural não conheciam este tipo de organizações, que ele considera uma lacuna que prejudica qualquer projeto de desenvolvimento.

Tratando-se de uma obra de caráter científico, organiza a sua obra com a seguinte estrutura: a vida socioeconómica da Guiné-Bissau; debate à volta de conceitos para a abordagem do tema em estudo, tais como desenvolvimento, etnia, setor formal/informal, pobreza, crise, capital social, rural/urbano, entre outros; análise dos aspetos relacionados com a vida socioeconómica e política dos Mancanhas; análise do contexto socioeconómico criado na Guiné-Bissau com a adesão do país ao Programa de Ajustamento Estrutural; exame das formas concretas de ação da população Mancanha na cidade de Bissau que serviram de atenuantes face à difícil situação económica e social que a Guiné-Bissau vem enfrentando há décadas, o enfoque centra-se sobre as sociétés, um nome genérico a que os Mancanhas dão às suas organizações de base comunitária.

O investigador começa por nos dar o quadro geral do país, desde a caraterização socioeconómica e política, aprecia a situação política nas zonas libertadas e no período da independência com bastante detalhe, questiona o modelo de desenvolvimento para concluir que as diferentes propostas políticas desde a independência até à liberalização redundaram em fracasso.

Segue-se um capítulo dedicado à problemática do desenvolvimento e dos conceitos que lhe gravitam à volta, trata-se de um enquadramento teórico rigoroso e abrangente onde o autor aborda o desenvolvimento alternativo, o desenvolvimento participativo, o desenvolvimento sustentável, o desenvolvimento humano e o desenvolvimento solidário. Nesta aceção, revela estratégias possíveis de vivência e sobrevivência, o papel da economia informal, o binómio rural-urbano, e dentro desta linhagem de conceitos chegamos à etnia onde ele se detém em várias definições de que há vantagem em mencionar duas, a de Anthony D. Smith: “… existe grupo étnico na medida em que este é designado, ou se designa a si mesmo, por um nome colectivo, em que possui uma história comum, uma mesma cultura, a mesma religião, uma mitologia própria, uma noção de solidariedade, uma referência ou um território…”; e a de estudiosos da antiga União Soviética, para os quais as etnias “representam grupos humanos consolidados, que se criaram ao longo da história num território determinado e que possuem características linguísticas, culturais e psíquicas comuns e relativamente estáveis, assim como a consciência de si (a consciência da sua identidade e da diferença em relação a todas as demais formações similares fixadas num nome de designação colectiva)”.

Feito este enquadramento, chegamos à história dos Mancanhas. André Álvares de Almada, na sua obra “Tratado Breve dos Rios de Guiné do Cabo Verde”, de 1594, abre luz ao grupo étnico Brâme ou Buramo, confinam com os Felupes, povoando uma região do rio de S. Domingos. Deste antigo grande tronco Brâme derivaram Manjacos, Mancanhas e Papéis. Estudiosos do tempo da Guiné Portuguesa referiram a existência das localidades do território Brâme, correspondentes a povoações que ao tempo davam pelo nome de Pelundo, na atual região dos Manjacos, e Bula e Có onde existe uma elevada percentagem de Mancanhas. Para o autor o processo de desintegração do “império” Brâme terá começado nos últimos anos do século XIX. Há dados sobre as transações comerciais no território Brâme, são conhecidas as suas feiras. E o autor observa: “Este tipo de feiras semanais, também conhecidas como lumo, não só continua a existir na Guiné-Bissau, mas também expandiram-se vastamente por todo o território nacional. Contudo, o funcionamento de algumas dessas feiras sofreu algumas alterações. Por exemplo, na região dos Brâmes (Manjaco, Mancanha e Pepel), verificaram-se alterações em algumas localidades. É o caso de Bula (região dos Mancanhas). Antigamente o dia de lumo variava todas as semanas – por ordem decrescente, entre o primeiro e o sexto dia; atualmente, fixou-se o sábado como dia de lumo. Já em Canchungo (região dos Manjacos) mantém-se a regra antiga: a rotatividade através dos seis dias da semana e por ordem decrescente".

O autor assevera que as explicações sobre a origem e a história étnica dos Mancanhas baseia-se ainda muito em contos e lendas e exemplifica com trechos saborosos. O espaço Mancanha está confinado à atual superfície do setor administrativo de Bula, que representa cerca de 15% do território da região de Cacheu e 3% da superfície da Guiné-Bissau. No censo da população de 1950, a percentagem dos Mancanhas era de cerca de 5%, atrás, por ordem de importância das etnias Papel, Mandinga, Manjaco, Fula e Balanta. O autor dá-nos igualmente conta dos fluxos migratórios nacionais e internacionais, causas da emigração, e assim chegamos à organização sociopolítica deste grupo étnico.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19949: Notas de leitura (1193): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (13) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19957: Os nossos seres, saberes e lazeres (338): em louvor da tradicional batatada de peixe seco da Marquiteira, Lourinhã (Luís Graça)








Lourinhã > Marquiteira > Associação da Marquiteira > Festa anual da Marquiteira, "em honra do senhor Jesus do Carvalhal" > 8 de julho de 2019 >  A tradicional batatada de peixe seco > Centenas de convivas. muitos quilos de peixe seco, batatas e cebola: só de "arraia" seca foram 70 quilos... fora  a sapata, o cação, o safio... Sentados nas "manjedouras" é que a gente se sente verdadeiramente "companheiros" [do latim cum + pane, o que come o (mesmo) pão à (mesma) mesa...)]. 

Não há, no litoral português, de Norte a Sul, uma tradição festiva como esta... A Marquiteira e a Ventosa do Mar já a incoporaram nas suas festas anuais há mais de 3/4 décadas... Uma tradiçao cada vez mais viva... É uma alegria para os sentidos... O peixe nobre é a "raia",  a "arraia", como diz aqui o povo miúdo, um peixe que se come todo, da "chicha" àa cartilagens e que é bom, divinal, de todas as maneiras  e feitos: fresco ou seco, frito, cozido, grelhado, assado, estufado...Tão bom ou melhor que o bacalhau... 

Outro peixe nobre da "batatada" aqui da Lourinhã é a sapata...(que só come camarão, e não tem um única espinha...). Na batatada de eixe seco, a sapata vem em iletes, que delícis, que delicadeza de sabor!. 

A batata e a cebola são fundamentais neste prato (único) da Lourinhã... A Nazaré tem o carapau (seco)... Como eu costumava dizer, ao meu velhote: "Peixe seco da Louirnhã ?!... Olhe que no  céu não há disto!"... Filho de peixeiros, neto de pescadores, ele chamava-lhe um figo, ao peixe, de todas as maneiras e feitios.. Herança cultural (, mais do que genética), eu também sou "mais peixeiro do que carneiro",,,

 No inverno, era guardado nos baus, na palha do trigo... Era a nossa "reserva alimentar" do inverno... Quem não tem esses sabores da infância, nºão pode perceber a fecidade destas centenas de pessoas que se juntam, um vez por ano, na Marquiteira ou na Ventosa, para comer a comida dos "pobres", a batada com peixe seco"...Hoje comida de risco, ao preço que está  raia, no mercado (12, 13, 14, 15 euros o quilo, a raia inteira, ao quilo).



Lourinhã > Ventosa do Mar >   ACR (Associação Cultural e Recreativa da Ventosa) > 31 de julho de 2017 > 35º aniversário > Tradicional batatada de  peixe seco da Ventosa do Mar, que rivaliza  com dos vizinhos da Marquiteira (sede da freguesia de Santa Bárbara)... Vou lá hoje "provar" a da Marquiteira...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


João Duarte (#) se faz eco
Na sua terra natal:
“Confraria do peix’ seco
É promessa eleitoral.”

É terra maravilhosa,
Com vista de serra e mar,
Quem não conhece a Ventosa,
Nada mais tem p'ra contar.

Mas eu hoje vim à Marquiteira,
P’ra provar a batatada,
E por ser a vez primeira,
Não opino ainda nada.

Para já vai o meu louvor
Pr’a Santa Bárbara e sua gente,
Tiro o chapéu, sim, senhor,
A quem vem cá 
dar ao dente. 

Se o peixe seco é bom,
A batata é do melhor,
Receber bem é um dom,
E esta santa é a maior.

Não vamos pôr a concurso
As versões desta iguaria,
João Duarte fica piurso,
Há guerra na freguesia.

Uma confraria, já,
P’ró peixe seco com batata,
Junte-se o melhor que há,
Nesta nossa terra amada.

Marquiteira e Ventosa,
São terras de gente chã,
Hospitaleira e amistosa,
Do concelho da Lourinhã.

Pode-se juntar Ribamar
E à volta os seus casais,
Temos tudo a ganhar
E todos não somos demais.

Minhas senhoras, meus s’nhores,
Vamos todas puxar p’ra cima,
Temos cá a matéria-prima,
Temos os saberes e os sabores.

Viva a confraria da tradicional batatata de peixe seco!

Marquiteira,8 de julho de 2019,

Luís Graça (**)