segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19039: Convívios (875): Paradas Party, do João Crisóstomo: 16 de setembro de 2018... Foi bonita a festa, pá!


Foto nº 1 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João Crispim Crisóstomo e Vilma Kracun,  casados em segundas  núpcias em 2013... Ele, luso-americano, ela, eslovena.


Foto nº 2 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João e Vilma.


Foto nº 3 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João e Vilma.


Foto nº 4  > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João e Vilma.


Foto nº 5 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João e Vilma.


Foto nº 6 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João e Vilma.


Foto nº 7 >  Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João e familiar.


Foto nº 8 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João e  e familiar.


Foto nº 9 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 >  Amigo do João, o António Rodrigues, mordomo reformado, de Nova Iorque, hoje a viver em Aljubarrota, Batalha. Companheiro de causas, como Foz Coa, Timor, Aristides Sousa Mendes... "O meu braço direito"...


Foto nº 10 >  Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 >  Três grandes amigos: João, Rio Chamusco e António Rodrigues.


Foto nº 11 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 >  O Rui, exímio tocador de acordeão,  exibindo um recorte de jornal onde se fala da recente homenagem dos correios israelitas ao João Crisóstomo, o português nascido em Bombardeira, A-dos.Cunhados, Torres Vedras, em 1943...


Foto nº 12 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João e Rui, tocando e (en)cantando.


Foto nº  13 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João cantando.


Foto nº 14 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João  cantando em grupo. Na ponta, direita, a nossa grã-tabanqueira Alice Carneiro.


Foto nº 15 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > Dois camaradas da Guiné: no lado esquerdo, o régulo da Tabanca de Porto Dinheiro, Eduardo Jorge; no lado direito, um camarada de Achada, Mafra que esteve com o João no Enxalé e 1965/67  (, pertencia ao Pelotão de Morteiros, era 1º cabo apontador do morteiro 81; um grande contador de histórias, a quem já convidei para integrar a Tabanca Grande; de seu nome completo, Manuel Calhandra Leitão; não se lembrava do nº do Pel Mort, que estava sediado em Bambadinca; falou-me de homens "lendários" como o Luís Zagallo e Abna Na Onça).


Foto nº 16  > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > O camarada do Enxalé,  o Manuel Calhandra Leitão, o "Ruço" (, será o organizador do próximo encontro, em Mafra, da malta que esteve no Enxalé, entre 1965/67,  incluindo o seu Pel Mort e a CCAÇ 1439)... Ausente, com pedido de desculpas, foi a nossa amiga Helena Carvalho (mais o marido, Álvaro), a nossa Helena do Enxalé...


Foto nº 17 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 >  A esposa do Eduardo, a São, que viveu parte da infância e adolescência na Guiné, filha do chefe dos correios de Bissau.


Foto nº 18 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 >  O nosso camarada Carlos Silvério, próximo grã-tabanqueiro nº 783.


Foto nº 19> Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 >  O Carlos Silvério, ao centro, a esposa Zita, do lado direito, a Alice, do lado esquerdo.




Foto nº 20 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 >  Uma festa de família a que não faltaram crianças, aqui a dançar, sob o olhar ternurento do tio-avô ou tio-bisavô João... (Como estão de costas, na foto, fica protegida a sua identidade.)



Foto nº 21 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > Uma amiga do João, que veio de propósito de Leiria... Não fixei o nome. Sei que trabalhou em tempos no CIDAC e na causa de Timor... Está deliciada a comer caracóis com o Eduardo...Estes "moluscos gastrópodes terrestres", muito nutritivos e ecológicos, foram trazidos da Achada, Mafra, pelo "Ruço"...

Fotos: © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Paradas Party: 
Soneto da amizade e do amor

É a lição da festa de cada ano:
Não há passaporte para a amizade,
Diz o João, o luso-americano,
Nem fronteiras para a liberdade.

Não se escolhe ser Kacrun ou Crispim,
Nem a terra onde se vai nascer,
Mas é bom ter uma família assim,
Bem como estes amigos poder rever.

Querido João, estás em casa em toda a parte,
Na Eslovénia, nos States, em Timor,
E sabes repartir com engenho e arte,


Com a Vilma, que é doce e querida,
O tempo da amizade e do amor.
Prós dois, muita saúde e longa vida!

Paradas, 16 de Setembro de 2018,

Festa da família Crisóstomo e Crispim e amigos

Luís Graça
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Versão em inglês, livre:

Paradas Party: Sonnet of Friendship and Love

It is the lesson of the feast of each year:
There is no passport for Friendship,
Says João, the Portuguese-American,
Neither frontiers for Freedom.

You don't' choose to be Kacrun or Crispim,
Neither the land where you’re  going to be born,
But it's good to have such a family,
As well as these friends to welcome.

Dear John, you are at home everywhere,
In Slovenia, in the States or in Timor,
And you know how to share with hard work and art,

With Vilma, a darling, sweet lady,
The time of Friendship and Love.

domingo, 23 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19038: Blogpoesia (586): "Todos os Santos dos céus...", "Sentado no banco..." e "Mercado das arestas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Todos os Santos dos céus...

Valham-nos todos os santos e potestades dos céus.
Este mundo descarrilou, o terreno e o humano.
Guerra, ódio, desprezo e opressão destilam os poderosos sobre os dependentes.
Há fogos medonhos, tsunamis e terramotos.
Parece que o abandono avassalou o mundo.
Vai sem rei nem roque.
Só uma magna intervenção divina poderá repor a ordem e a harmonia.
Para, depois, crescer a fraternidade.
Há uma hierarquia natural na criação.
Desde a base até ao Altíssimo.
Se ela falha vem fatal o desmoronamento e o caos.

Berlim, 17 de Setembro de 2018
6h53m
Jlmg

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Sentado no banco…

Sentado no banco, na curva da estrada,
Espero à fresca que venha quem espero.
Hoje já tarda.
Vem de longe. O caminho é duro.
Num sobe e num desce
Que nunca acaba.
Arrosta com o sol.
Arrosta com o vento.
Sabe que eu espero.
Por mais que demore.
Cada dia uma veste
Na mensagem que traz.
Fruto do tempo,
Que há ou não há.
Escrita com cor.
Grafia corrida.
Ao jeito da pena.
É sempre bem-vinda.
Ei-lo que chega.
Ar triunfante.
Sorrindo de longe.
A colheita foi boa.
Espera que eu goste…

Berlim, 18 de Setembro de 2018
12h53m
Na minha varanda
Jlmg

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Mercado das arestas

Tal e qual.
Quem não tem em si arestas
para dar e para trocar?
Desde que nos pomos a pé até deitar.
Elas vêm ter com a gente, quando menos se espera.
Aquela topada com a canela no bico da cama.
Fica a doer. Nunca mais passa.
Aquele remoque que vem às três pancadas
De quem não se espera,
Ao sair da escada.
Dá vontade de ficar em casa.
As carrancas daquele amigo, ao segundo dia.
Quando a finesse falsa se esvaiu em chama.
Aquele escaldão de café com leite,
Estava a ferver e não sabia.
Sei lá. Um monte cheio.
Só dá para a troca.
No mercado livre das arestas bravas,
Onde há de tudo,
Feira da ladra...

Berlim, 20 de Setembro de 2018
8h12m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19019: Blogpoesia (585): "Inspiração", "O farol solitário" e "De mãos dadas...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P19037: Parabéns a você (1501): Tony Borié, ex-1.º Cabo Op Cripto do CMD AGR16 (Guiné, 1964/66)

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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19031: Parabéns a você (1500): Cor Art Ref Alexandre Coutinho e Lima (Guiné, 1963/65-1968/70 e 1972/73); Maria Teresa Almeida, Amiga Grã-Tabanqueira da LC e Raul Albino, ex-Alf Mil da CCAÇ 2402 (Guiné, 1968/70)

sábado, 22 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19036: Blogues da nossa blogosfera (105): PANHARD - Esquadrão de Bula (Guiné, 1963/1974) (1): Criado e editado por José Ramos, ex-1º cabo cav, EREC 3432 (1972/74)



1. Estava eu hoje no mercado municipal da Lourinhã, por volta das 11h00, quando fui abordado por alguém, que me tratou pelo nome...
 
Imaginei logo que fosse um camarada da Guiné, que me reconhecesse pelo blogue... E assim era: José Ramos, ex-1º cabo cav, apontador de Panhard, do EREC 3432, que esteve em Bula, de 1972 a 1974, juntamente com o nosso grã-tabanqueiro e escritor, Leonel Olhero, ex-fur mil cav 1971/73. Falámos logo de outros nomes ilustres da arma da cavalaria, que passaram por Bula, nesta época: o Salgueiro Maia, o Manuel Monge... Sobre o ERec 3432 temos apenas 5 referências no nosso blogue.

O José Ramos mora atualmente na Lourinhã, no Casal Santos, faz parte da direção do Núcleo de Torres Vedras da Liga dos Combatentes. Tem página, pessoal, no Facebook, e e criou em 2014 o blogue Panhard Esquadrão de Bula, Guiné 1963-1974. O blogue tem cerca de 18,8 mil visualizações de páginas.

Há referências a outros EREC: 2454, 2641, 8740/73, bem como aos Pel Rec Panhard 1106 e Pel Rec AML 202, e ainda aos BCAÇ 2926 e BCAV 8320/72.

Este segue, e cita, entre outros o nosso blogue, Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Fui entretanto recuperar uma mensagem do José Ramos, de 8 de março de 2014 a que, lamentavelmente, não foi dada a devida resposta em tempo oportuno.  Fica aqui, para conhecimento dos nossos leitores, e com pedido de desculpas por parte do editor.

Reitero o convite que fiz ao José Ramos, na Lourinhã, para integrar a nossa Tabanca Grande, com todos os direitos e deveres que nos assistem. Somos já 777 membros, dos 3 ramos das Forças Armadas,  dos quais  66 falecidos. Mais camaradas da arma de cavalaria são, naturalmente, bem vindos.

Acrescente-se que o José Ramos, de acordo com a sua página pessoal: (i)  é coordenador da ação social da Liga dos Combatentes-Núcleo de Torres Vedras; (ii)  estudou Ciências Sociais Aplicadas em Universidade Aberta - UAb; e  (iii) estudou Serviço Social na mesma universidade.


2. Mensagem do nosso camarada José Ramos:

Data: sábado, 8/03/2014 à(s) 20:10

Assunto: Esquadrão de Bula

 Meus caros,

Venho acompanhando ao longo do tempo o vosso blogue, sempre na expectativa de ver mensagens sobre os Pel Rec e ERec que operaram as Panhards na Guiné, o que  espaçadamente foi aparecendo, através de camaradas que estiveram nas unidades ou de quem com eles conviveu ou viu as viaturas a operar no terreno.

Nunca participei no blogue pois tinha auto-proposto o desafio de  criar um que falasse do Esquadrão, onde estive de 1972-1974, das histórias e estórias em seu redor e da Panhard.

Algo que o tempo apenas agora permitiu, através do esquadraodebula.blogspot.pt que vos apresento.

Para documentar algumas mensagens venho solicitar a vossa autorização,  para pontualmente, citar algumas das vossa postagens ou usar fotos, com a devida referência, ficando desde já autorizado o contrário.

Com um abraço de camaradagem,
José Ramos

3. Ficha da unidade: EREC 3432 (reproduzida com a devida vénia do blogue Panhard, Esquadrão de Bula, poste de 8/3/2014):

(i) Unidade mobilizadora: Regimento de Cavalaria 7 (RC 7)
(ii) Comandantes:  Cap Cav Henrique António Costa de Sousa; Cap Cav Armindo José Pinto Machado
(iii) Divisa: Panhard
(iv) Partida/Regresso:  1ª Fase – Lisboa, 25Ago71(Bissau, 03Set71) / 05Out73 | 2.ª Fase – 30Mai72/06Jul74
(v) Síntese da Atividade Operacional:

“Em 07Set71, a 1.ª fase da subunidade integrou os efectivos do ERec 2641, em substituição da 1.ª fase desta subunidade, tendo-se instalado em Bula.

Em 30Mai72, após o desembarque, a 2.ª fase da subunidade seguiu para Bula, a fim de efectuar a adaptação e sobreposição com o ERec 2641.

Em 18Jun72, substituiu o ERec 2641, enquadrando a 1.ª fase da antecedente integrada neste, como subunidade de reserva móvel de intervenção do BCaç 2928 e depois do BCav 8320/72, ficando colocado em Bula.

Um pelotão foi destacado para reforço do BCaç 3832 até 16Jul72, instalando-se em Jugudul e Mansoa. Por períodos variáveis, cedeu ainda pelotões para reforço de diversos batalhões os quais foram destacados para Bissorã, de 05Out72 a 20Abr73, na dependência do BCaç 4610/72:

Para Catió, de 20Abr73 a meados de Set73, na dependência do BCaç 4510/72 e para Mansoa, a partir de 14Set73, na dependência do BCaç 4612/72, com vista a colaborar na segurança e protecção dos trabalhos das estradas em construção e das colunas de reabastecimento e de transporte de materiais.

A partir de 11Abr73, integrou a 1.ª fase do ERec 8740/72, então chegado para reforçar os efectivos da subunidade e depois render a 1.ª fase desta.

Em finais de Abr74, foi substituído pelo ERec 8740/72 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.”
Observações: Tem História da Unidade – só até 31Mar74 (Caixa n.º 127-2.ª Div/4.ª Sec do AHM)

Fonte: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) (2002). 7.º Volume – Fichas das Unidades - Tomo II – Guiné. Lisboa: Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). 1.ª edição.

Guiné 61/74 - P19035: Os nossos seres, saberes e lazeres (285): Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (4): O fascinante Museu Toulouse-Lautrec (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 5 de Julho de 2018:

Queridos amigos,
Sempre que visito em Bruxelas o Museu de Ixelles não deixo de visitar a magnífica coleção de cartazes de Toulouse-Lautrec, esse artista genial que vivia fascinado pelo mundo da noite, pela atmosfera de Montmartre, pela atmosfera dos prostíbulos, pelas casas de diversão, que imortalizou.
O albigense aleijado tem em Albi um museu excecional, ali estão as suas obras da juventude, os cavalos e cenas de caça, as feiras e os circos, os cafés e os dançarinos, os velódromos, as competições desportivas, a estúrdia e a pândega, apontamentos iluminados da Belle Époque, Toulouse-Lautrec é um caso ímpar de obsessão por elevar às alturas os marginais de uma sociedade burguesa prospérrima, a França colonial está no auge.

Um abraço do
Mário


Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (4): 
O fascinante Museu Toulouse-Lautrec

Beja Santos

Para chegar até ao museu Toulouse-Lautrec é preciso entrar no Palácio de la Berbie, construído nos séculos XIII a XVIII, antigo palácio episcopal, caraterizado por uma arquitetura militar original, com uma extraordinária altura e espessura de paredes. É em La Berbie que se abriga a mais importante coleção à escala mundial das obras do pintor albigense Henri de Toulouse-Lautrec, mais de mil peças. E há outras maravilhas no palácio que são os terraços e os jardins, verão como são deslumbrantes.


Parecia uma criança risonha e saudável, uma doença óssea deixou-o deformado, as pernas curtas, media cerca de 1,50 metros de altura. Teve uma infância invejável, este filho do Conde Alphonse de Toulouse-Lautrec-Monfa, herdeiro de heroicos guerreiros e senhores do Languedoc. Tinha nove anos quando a família se transferiu para Paris, começa a fazer esboços, os acidentes que sofreu nas suas pernas levam-no a empunhar o lápis com decisão e a manejar o pincel com desenvoltura. Em adolescente, é um estudante desinteressado, ocupa-se com cada vez mais intensidade da atividade gráfica e pictórica. Entremos no Palácio Episcopal. É assombroso.




O Arcebispo que mandou construir este palácio-fortaleza devia temer pela vida, mas o mais surpreendente de tudo é como é que estas grandiosas paredes e muralhas puderam albergar um palácio cheio de delicadezas, como o visitante pode observar, há vestígios artísticos de altíssima qualidade. Mas o viandante o que pretendia era chegar o mais rapidamente possível à companhia de um dos mais notáveis pintores franceses do século XIX que trocou Albi por Montmartre.


Um dos pontos de atração do jovem Toulouse-Lautrec eram os estudos militares e os cavalos. Um estudioso da sua obra irá escrever que as suas mãos parecem ter recolhido a vitalidade que as pernas perderam, em traços ágeis e vigorosos, irá reproduzir parelhas de cavalos, cabriolés, caçadores montados, figuras imbuídas de movimento interno.


Toulouse-Lautrec parecia dominado pela obsessão de pintar seres humanos no seu ambiente, em poses naturais. É o caso do retrato do Doutor Gabriel Tapié de Céleryan, seu familiar pelo lado da mãe. O Doutor move-se pensativo num ambiente que parece festivo, a tela ganha altura graças ao recurso do contraste entre o vermelho e o preto, ele aparece bem recortado num ambiente praticamente difuso, uma mera decoração.



Tendo tido uma formação académica, Toulouse-Lautrec irá percorrer um caminho bem pessoal na interpretação da realidade. Tem 22 anos quando faz amizade com Van Gogh, têm olhares distintos, Van Gogh quer retratar uma humanidade perpassada pela tragédia, Lautrec só pretende compreender a realidade, testemunhá-la, leva uma vida pandega, gosta de fantasiar-se com trajes exóticos e começa a escandalizar quando pinta prostitutas para ilustrar as canções irreverentes de um amigo que imortalizou, Aristides Bruant. Estas mulheres que se vestem e despem são sempre vistas com ternura e delicadeza.


Lautrec aprecia a estúrdia, em Montmartre frequenta cabarés, bares, teatros e prostíbulos, passa a ser conhecido nos centros de diversões, sobretudo no Moulin de la Galette, gosta de retratar a agilidade das bailarinas. Veja-se este quadro intitulado “Chocolat dançando no bar de Achille”, desenho a lápis azul e preto


Enquanto por ali deambula, o viandante sente-se atraído por elementos decorativos do palácio, gostou muito desta escultura tipicamente Arte Nova, é um símbolo de uma intensa alegria de viver que parece sair de uma concha, faz bem captar a imagem de um elemento escultórico tão belo, na envolvência da humanidade, da feira, dos circos e dos bordéis deste genial pintor albigense.



Toulouse-Lautrec, dizem os seus estudiosos, revelou a sua genialidade nos cartazes, foi um gráfico absolutamente inovador, parecia dominar os segredos da publicidade, sabia chocar o espectador. Mas os seus retratos são igualmente encantadores e eram muito apreciados pelos impressionistas. Gostava muito da luz artificial, dos ambientes fechados, parecia que esta atmosfera fazia sobressair rostos de pessoas vivas. Não apreciava igualmente a suavidade das sombras, não estilizava a beleza, parecia sentir-se dominado pelos predicados do espírito, e daí esta espantosa imagem de humanidade que dá bailarinos, as meninas das revistas, as prostitutas, realizações à beira da caricatura, retratos despojados de quem vivia obcecado pelo palco e pelo mundo do teatro.


O viandante despede-se, contrafeito, do Palácio de la Berbie, sai um tanto amachucado pela pressão do tempo, é impossível não voltar, ou sonhar pelo regresso, logo que possível. E perto da saída, este teto assombroso, quem viu a fortaleza de fora não imagina os requintes e subtilezas do seu interior. Vamos agora aproveitar a luz de Albi, e depois regressar a Toulouse, a próxima jornada é Carcassonne.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19016: Os nossos seres, saberes e lazeres (284): Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19034: Ser solidário (216): Vim a Bissau ver o meu filho e preciso de cuidados médicos... Quem conhece aqui um bom ortopedista? (Manuel Neves)

1. Mensagem do nosso leitor e camarada Manuel Neves:

Data: quinta, 20/09/2018 à(s) 20:56
Assunto: pedido de ajuda

Boa tarde, Doutor Luís Graça, sou Manuel Neves, estive aqui, na Guine-Bissau, de 1966 a 1968. A  pedido do meu filho,  vim novamente para cá, mas desta vez não pela mesma razão, apenas para  estar junto dele.

Há uns 15 dias comecei a ter uma dor na omoplata e cotovelo, dor tão aguda que tive de recorrer a uma clínica que me enviou ao hospital militar para RX. Voltei à clínica com a rádio, que me enviou ao hospital Simão Mendes.

O ortopedista me pergunta se tinha tido alguma queda, respondi que tinha caído de costas, a resposta foi que felizmente não tinha nada partido, mas sim uma boa carga de artrose e osteoporose. Receitou-me pomada Voltaren e comprimidos igualmente Voltaren, mas continuo com muitas dores.

A ajuda que pretendo: haverá ortopedistas particulares aqui na Guiné? O que me aconselha? Não está nos meus planos ir nesta altura a Portugal, mas também não consigo continuar com tanta dor. Peço desculpa por ser longo no meu comentário. Obrigado.

Manuel Neves


2. Resposta do editor LG:

Manuel, tenho muito pena, lamento o teu estado de saúde... É azar um tipo ir à Guiné-Bissau ver um filho e precisar de um médico, especialista em ortopedia,  e não o haver. Pessoalmente, não tenho aí ninguém conhecido da área da ortopedia... De resto, eu não sou médico. Tive vários alunos, médicos, mas de saúde pública, mas infelizmente nem todos regressam ao seu país. Sugiro-te que procures ajuda e/ou conselho na Embaixada de Portugal. Vai dando notícias. As tuas melhoras: para já, repouso... Mantenhas.
Luís Graça

PS - Pode ser que o nosso grã-tabanqueiro Patrício Ribeiro, "homem grande" de Bissau, "pai dos tugas", tenha alguma informação útil, para ti, sobre ortopedistas... Deve haver alguém competente nessa área. Vou-lhe dar conhecimento deste email.


3. Resposta do Patrício Ribeiro, com data de ontem, 21, às 11h15, de que já foi dado conhecimento ao Manuel Neves: 

Bom dia. Luís e Manuel

Desde as margens do Vouga, para fazer as vindimas...
Não conheço nenhum ortopedista que possa indicar, embora parte dos meus trabalhos em 2017 e 2018, tenham sido nos hospitais regionais.

Penso que os únicos existentes são os médicos cubanos no Hospital Simão Mendes, que têm tratado de alguns portugueses amigos. O Manuel terá que chegar à fala pessoalmente com eles, por vezes particularmente...

Perguntar à dona Lourdes do Restaurante a Padeira, em Bissau.

Abraço
Patrício Ribeiro

IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau , Guiné-Bissau
Tel. 00245 966623168 / 955290250
www.imparbissau.com
impar_bissau@hotmail.com
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Nota do editor:

Último poste da série > 6 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18815: Ser solidário (215): Sessão cultural: "Diálogos sobre Timor Leste", Sabugal, auditório municipal, 19 de julho próximo, 5ª feira, às 20h30: (i) exposição de fotografia ("Expressões Lorosae", de Victor Cordeiro); (ii) momento musical, seguido da exibição do filme "Rosas de Ermera", de Luís Filipe Rocha; e (iii) conversa com Rui Chamusco e Gaspar Sobral

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19033: Notas de leitura (1102): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (52) (Mário Beja Santos)


Fotografia referente às obras do Palácio do Governo, constante da mesma brochura, e que pertence à Biblioteca do Arquivo Histórico do BNU.


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Fevereiro de 2018:

Queridos amigos,

Na Guiné, vive-se na maior das tensões entre o BNU e a Casa Gouveia, a compra e venda da mancarra estão no olho do furacão. A Casa Gouveia pretendia um privilégio que a lei não lhe concedia, apelou ao Ministro das Colónias, o BNU em Lisboa esclareceu o Governo do que se estava a passar. São peças essenciais para quem pretenda fazer o estudo da economia deste período e ter em conta o peso ascensional que iam adquirindo os interesses que estavam na órbita da CUF, o concorrente na sombra do BNU, que tinha outros interesses a zelar, como os da Sociedade Comercial Ultramarina. É preciso estudar esta documentação para se perceber o profundo choque de interesses que opunham estes dois conglomerados.

Entretanto, vai chegar a guerra, com muita perturbação, a Gâmbia é colónia inglesa e África Ocidental francesa não se identifica com o Governo de Vichy. Em Bissau, é preciso mostrar neutralidade, o sistema económico e financeiro vai passar por um mau bocado, crescerá o contrabando, virá ouro de diferentes proveniências.

Um outro governador, Ricardo Vaz Monteiro, destacar-se-á por trazer um projeto para a administração, vai abrir caminho para os sucessos que Sarmento Rodrigues irá colher.

Um abraço do
Mário



Fotografia de dia de pagamento ao pessoal da SIGUE, empresa sediada nos Bijagós, que andou permanentemente aos altos e baixos e que acabou na água. O seu processo consta do Arquivo Histórico do BNU, é peça de muito interesse. 


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (52)

Beja Santos

A Casa Gouveia entrara declaradamente em rota de colisão com o BNU em Bissau, o gerente Virgolino Pimenta, como se disse anteriormente, não poupava críticas ao comportamento da empresa, dizendo claramente para Lisboa:

“A Casa Gouveia tem a Guiné por tabanca sua e tem razão para isso porque ninguém – absolutamente ninguém – a impede de fazer o que quer em matéria de transferências, que outra não nos interessa”.

A Casa Gouveia reagia, procurava atrair outros comerciantes para a sua causa, queixara-se mesmo ao Ministro das Colónias. No acervo documental do Arquivo Histórico do BNU guarda-se o documento em que a Casa Gouveia ensaiava uma culpabilização:

“A Crise da Guiné provocada pelo Banco Ultramarino

A firma António Silva Gouveia, Lda., compra, na Guiné, mancarra (mendobi com casca) para fornecer em Lisboa à indústria nacional dos óleos comestíveis.

Desde a sua fundação, persistentemente, e à custa de pesadíssimos sacrifícios, tem a referida firma nacionalizado o comércio naquela província ultramarina, comércio que quase exclusivamente esteve em mãos de franceses o que, dada a posição da Guiné (entre duas colónias francesas) poderia vir a ser perigoso para a Soberania Nacional.

Assim, já a colheita de 1937 foi comprada e exportada para Lisboa na sua quase totalidade pela firma A.S.G. (23.500 toneladas compradas e exportadas para 24.700 de colheita).

Esta mancarra é comprada directamente ao gentio ou ao pequeno comércio e é paga em dinheiro (notas do BNU).

As disponibilidades da firma A.S.G. são obtidas pela venda, na Guiné, de mercadorias europeias e por entregas feitas em Lisboa ao BNU em numerário metropolitano, 50% do valor da exportação da Guiné. O BNU paga à firma A.S.G. na Guiné igual valor em numerário colonial, nos termos da lei (cambiais de exportação).

Como a campanha de compra da mancarra dura cerca de dois meses e a exportação se arrasta quase por um ano, a firma A.S.G. tem entregue numerário antecipadamente ao BNU por conta de futuras exportações.

Este ano, porém, o BNU alegando falta de lucros nas suas agências da Guiné, recusa-se a aceitar a liquidação das exportações da forma como se tem vindo fazendo nestes últimos anos, isto é, antecipadamente, pretendendo forçar a firma A.S.G. a recorrer ao crédito na Guiné, por desconto de letras, onde ele, BNU, leva 10% de juro ao ano!

Perante a recusa da firma A.S.G. de se submeter aquela pretensão, o BNU propõe manter o regime anterior de liquidação de futuras exportações, desde que a firma A.S.G. lhe pague uma comissão de 2% sobre o montante de cada liquidação, isto é, o BNU podia dispor do montante dos escudos metropolitanos desde a data da entrega pela firma A.S.G. até à data em que, por sua vez, ponha à disposição do Governo da Província aqueles escudos metropolitanos e receba do mesmo Governo, escudos da Guiné, e ainda exigia uma comissão de 2%!!!


Sendo, como é, inaceitável a proposta do BNU, vai dar-se o caso da firma A.S.G. reduzir as suas compras de mancarra ao mínimo, visto só poder dispor do pequeno montante de escudos da Guiné, deixando inteiramente o gentio na mão das casas francesas (além da casa A.S.G. só há poucas casas portuguesas e de pequena importância) que o vai explorar a seu belo talante, comprando por preços irrisórios e desnacionalizando o comércio da Província Portuguesa da Guiné, com a agravante ainda de se os preços forem muito baixos ou se as casas francesas não tiverem capacidade para a compra de toda a colheita, não ter o gentio disponibilidade para pagar o imposto de palhota. E note-se que 25.000 toneladas de mancarra, ao preço médio de $50 por quilo, dão Esc.12.500$00 e o cômputo do imposto de palhota é de cerca de Esc. 12.000$00. Em consequência desta atitude do BNU, a indústria nacional dos óleos comestíveis vai ser obrigada a recorrer a outros mercados, drenando o ouro para fora do país”.

Dirigindo-se ao chefe de gabinete do Ministro das Colónias, em abril de 1938, um administrador do BNU dá outra versão aos acontecimentos:

“Em anos anteriores a firma Silva Gouveia, Lda., entregava na sede do Banco escudos metropolitanos para na Guiné lhe ser entregue igual quantia em notas da emissão daquela colónia. Esta operação era efectuada sem que a firma António Silva Gouveia, Lda., pagasse qualquer comissão. Estas entregas representavam o valor total da mancarra anteriormente exportada da Guiné pela referida firma, e nos termos da lei 50% eram creditados ao Governo da Guiné e os restantes 50% utilizados pelo Banco para as transferências do comércio e dos particulares. As coberturas obtidas não eram suficientes para as transferências e o Banco, com o desejo de não criar embaraços às actividades da colónia, continuou a fazer transferências, encontrando-se hoje com créditos paralisados na colónia que só muito lentamente conseguirá transferir. Aquela modalidade de entregas não convinha à firma António Silva Gouveia, Lda., que entrou a utilizar outro sistema: a entrega de 50% do valor da exportação, ficando em mão com os 50% restantes, que aplica ulteriormente como lhe convém. Sucede, porém, que esta conveniência de a firma é contrária aos interesses legítimos do BNU e dos particulares e comerciantes da Guiné. O Banco, privado dos 50% das coberturas livres, resultante da exportação da mancarra, não pode fazer transferências e os comerciantes e particulares só as conseguem clandestinamente a taxas não inferiores a 10%. Ora o interesse particular não deve sobrepor-se ao interesse geral, antes aquele tem de subordinar-se a este. Assim o entende o BNU, e procura agir em conformidade.

Este último sistema muito útil para a firma António Silva Gouveia, Lda., visto pretender que seja continuado, é prejudicial para o Banco e para o comércio. O Banco recusou-o e indicou três modalidades de entre as quais a interessada podia escolher a que mais lhe conviesse. Consistiam as três modalidades no seguinte:

a) – entrega em Lisboa da totalidade do valor da exportação em escudos metropolitanos, sem o pagamento de comissões;
b) – concessão de crédito na Guiné, com o encargo de juros à taxa em vigor na colónia, liquidável em escudos da emissão do BNU;
c) – entrega de 50% do valor da exportação em Lisboa, em escudos metropolitanos, pagando a firma a taxa de transferência de 2%.

A patriótica atitude da firma António Silva Gouveia, Lda., pretendendo evitar que o pobre indígena seja explorado, merece inteiro aplauso e deve ser louvável. O Governo da Colónia, porém, antecipou-se na defesa do indígena: regulou os preços da campanha, não consentindo que se paguem pela mancarra preços muito baixos. Segundo informações existentes no Banco, o perigo de compra da mancarra pelas casas francesas a ‘preços irrisórios’ não existe, sendo talvez a própria firma António Silva Gouveia, Lda., que teria procurado praticá-los oferecendo ultimamente o preço de 400$00 a tonelada por um lote de cerca de 8000 toneladas de mancarra adquirido aos preços correntes do mercado, ou seja, a cerca de 460$00 a tonelada e que lhe foi oferecido ao preço de Esc. 500$00. A mancarra está já vendida pelo indígena a preços bem superiores aos da paridade da Europa.

Certamente, por lapso, não sugeriu a firma António Silva Gouveia, Lda., para protecção do indígena da Guiné que o Governo da Metrópole estabelecesse uma taxa de importação para a mancarra não originária das nossas colónias. Se essa taxa vier a estabelecer-se, não ficará o pobre indígena sujeito à exploração das casas francesas e das poucas e de pequena importância casas portuguesas.”

Recorde-se que vinha de longa data o compromisso da casa Gouveia realizar todas as suas operações bancárias por intermédio do BNU.

Anteriormente à correspondência trocada entre a sede do BNU e o gabinete do Ministro das Colónias já o gerente de Bissau, em 29 de março, enviara para Lisboa um ponto de situação da praça, nos seguintes termos:

“A Sociedade Comercial Ultramarina não recebeu agora nenhumas ordens para comprar mais mancarra.

Se vierem, são talvez tardias. A mancarra da colónia deve estar toda vendida, à excepção da de Bolama cuja campanha vai começar em breve.

Os negócios da mancarra, este ano, ainda nos parecem mais incertos que de costume, dadas as baixas cotações que se conhecem.

A Comercial, para ganhar algo na muita mancarra que já possui, terá que a vender com muito cuidado a certos intermediários que nos parece ganharem exageradamente.

Já vimos uma carta em que se menciona o preço de £ 0.35 de frete, por tonelada. Ora já vimos que uma casa da praça, sem intermediários nenhuns, obteve o preço de £ 0.25.

Para nós, entendemos que é melhor o Banco fechar as portas à Comercial que estar fazendo negócios de compras e vendas por intermédio de intermediários de cá e de lá, a não ser que estes sejam considerados nos seus benefícios.

Sobre a vinda de notas para a Casa Gouveia, ou se faz o que a lei permite, fazendo-se sentir seriamente à Gouveia que deve respeito às leis do País, ou é melhor não se fazer nada para não cairmos no ridículo.

O governo local nunca tomou as menores providências contra o que faz a Casa Gouveia em matéria de ilegalidade e concorrência ao Banco.

E bem lhe cumpria intervir no assunto, pois as transferências da Gouveia, por milhares de contos, a taxas exageradíssimas, são uma função importantíssima do enorme alteamento de custos da vida na colónia. Excelentíssimo Senhor: ou a moral e força moral para se fazerem cumprir e respeitar as leis e as autoridades atacam a fundo casos de desrespeito com a violência relativa aos mesmos e a arrogância e constância com que esses desrespeitos se praticam, ou regista-se uma cobardia moral que envergonha mas que, nem por isso, assusta os responsáveis por tão vergonhoso estado de coisas.
E, nesta situação, para quê e a quem pedir providências se elas não vêm e ainda sofre o que pediu em emprego da lei que a imoralidade do meio e a incapacidade moral dos governos locais deixou cair em desuso?

Tudo que não seja uma atitude digna e severa do governo local, fará cair no ridículo qualquer pedido de providências sem haver a prévia certeza que aquela atitude é possível.

V. Ex.ª. verá: se vierem notas do Banco de Portugal, virão clandestinamente num barco da Gouveia. Clandestinamente desembarcarão e depois de a praça estar cheia delas será fácil, muito fácil mesmo, não se… saber de onde vierem.

A solução é só esta: uma busca a cada barco da Gouveia ao chegar e a aplicação da lei se forem apreendidas as notas.

Quanto à atmosfera criada contra o Banco, aqui, está perfeitamente anulada, pois não é um gerente grosseiro da casa Gouveia que tem habilidade ou moral para ofender.

Quanto à atmosfera contra o governo da colónia, achamos que este a merece bem, pois a sua atitude de deixar fazer a Gouveia o que tem querido, em matéria de transferências, é tanta que atinge as raias da mais descarada solidariedade inconsciente (?).

E isto que consideramos solidariedade inconsciente (?) teve o ponto de quase provocar um pedido telegráfico contra o Banco por este não dar dinheiro à Gouveia, pedido provocado por trapalhices do gerente da Gouveia e que o gerente desta agência fez anular, falando com respeito mas com firmeza e clareza próprias de quem tem razão.

Se o telegrama seguisse, o Sr. Governador seria um semideus. Não seguiu e ficou o Sr. Governador sujeito ao ataque. Achamos bem, pois é isto a que se sujeita quem anda a jogar em falso para todos os lados, gritando a sua amizade ao Banco, que vive dentro da lei e não lhe pede nada fora dela, mas ajudando aqueles que a desrespeitam e provocam assim prejuízos materiais e morais ao Banco.
Esta é a triste verdade.”

O gerente Virgolino Pimenta manterá sempre uma atitude hipercrítica com Carvalho Viegas, e sempre que pode põe-no a ridículo. Veja-se a carta que envia em 22 de junho de 1939 para Lisboa:

"O Sr. Governador da colónia foi a Cabo Verde cumprimentar Suas Excelências o Presidente da República e o Ministro das Colónias.

Levou consigo uns três funcionários e quis levar um representante das forças vivas da colónia.
Ninguém quis ir.

Depois de várias démarches, lembraram-se de levar o advogado Dr. Alçada Padez, que pareceria ir naquela qualidade.

Este pediu oito contos pelo serviço, fez-se uma subscrição, mas ninguém deu um real.

O Sr. Dr. Padez baixou a sua exigência para quatro contos. Ainda ninguém deu nada.

Para se salvar a situação, o Presidente da União Nacional e a Casa Ed. Guedes, Lda., tomaram a responsabilidade de pagar os quatro contos ao Dr. Padez.

Porém, estas duas entidades pretendem ainda que se faça a tal subscrição e vieram ao Banco pedir dinheiro.

É mais que certo que ninguém dará nada, como até aqui, mas para regularmos o nosso procedimento, agradecemos a fineza de nos dizerem se devemos ou não contribuir, e em caso afirmativo, com que verba”.

O despacho em Lisboa, e que consta do documento existente no Arquivo Histórico do BNU, foi o de não autorizar qualquer subsídio, alegava-se que os estatutos não o permitiam.

E assim chegamos à II Guerra Mundial.

(Continua)


Imagem constante de uma brochura de propaganda intitulada “Guiné, Início de um Governo”, 1954, Mello e Alvim sucedeu a Raimundo Serrão, uma historiografia fantasista atribui-lhe a responsabilidade do regresso compulsivo de Amílcar Cabral e da mulher a Portugal, quando na verdade estes vieram por imperativos de saúde, carregados de malária.


Guarda de honra feita ao Governador pelos polícias guineenses, imagem retirada da brochura que assinala os primeiros meses de governação de Mello e Alvim.
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Notas do editor

Poste anterior de sexta-feira, 14 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19014: Notas de leitura (1100): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (51) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 17 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19022: Notas de leitura (1101): “Contos de N’Nori”; Edição UNEAS (União Nacional dos Escritores e Artistas de S. Tomé e Príncipe), 2005 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19032: Agenda cultural (649): Festival TODOS 2018: Lisboa, São Vicente, de 20 a 23 de setembro


Lisboa > São Vicente > Campo de Santa Clara > Oficinas Gerais de Fardamento do Exército (OGFE) > 20 de setembro de 2018, 19h00 > Início da 10ª edição do Festival Todos > Atuação do grupo de batucadeiras de Cabo-Verde "Ramedi Terra" (, que pertence à Associação de Mulheres Cabo-Verdianas na Diáspora em Portugal). Seguiu-se a abertura da exposição sobre as pessoas e a realidade do bairro de São Vicente, e o lançamento do livro TODOS (sinopse fotográfica das anteriores edições, de 2009 a 2017,), livro de distribuição gratuita. Houve depois um "cocktail de sabores do mundo", da Guiné-Bissau ao Bangladesh... Tudo no edifício da OGFE.

Foto: © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Festival TODOS 2018: 

"Criado em 2009, o TODOS-Caminhada de Culturas tem afirmado Lisboa como uma cidade empenhada no diálogo entre culturas, entre religiões e entre pessoas de diversas origens e gerações. O TODOS tem contribuído para a destruição de guetos territoriais associados à imigração, abrindo toda a cidade a todas as pessoas interessadas em nela viver e trabalhar."




Recortes com a devida vénia do sítio oficial do TODOS 

Programa de ontem:

  • 19h - 20h30 : Abertura da 10ª Edição do Festival nas Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento (Campo de Santa Clara) com Cocktail de sabores do mundo, inauguração da exposição de fotografia "São Vicente de Fora por dentro", actuação do grupo de batucadeiras de Cabo-Verde "Ramedi Terra" e lançamento do livro “TODOS”.

• 20h30 – "Vala Comum" (Teatro) de Andresa Soares na Escola Básica de Santa Clara - espectáculo pago (3€)

  • 21h00 – "Viagem Sentimental" (Dança Contemporânea) de Francisco Camacho na Casa dos Gessos do Museu Militar - espectáculo pago (3€)

• 22h00 – Orquestra Todos (Música) na Voz do Operário - Entrada livre

• 23h00 – Rita Só (DJ set) no DAMAS - Entrada livre

Fonte: Página do Facebook do TODOS


Nota do editor LG:

São 3 ou 4 dias que não perco, todos os anos, desde 2009. Vale a pena e recomendo este evento (que de  3 em 3 anos muda de cenário dentro da cidade de Lisboa: Martin Moniz / Intendente / Bem Formoso (de 2009 a 2011); Poço dos Negros / São Bento / Santa Catarina (de 2012 a 2014); Colina de Santana / Campo Mártires da Pátria (de 2014 a 2017).

 Para além da descoberta (e aprofundamento do conhecimento) das diferentes culturas e povos que vivem em Lisboa (, nas escolas do ensino básico da Grande Lisboa é possível encontrar hoje dezenas de diferentes etnias, da Guiné-Bissau ao Nepal, da China ao Brasil), o festival TODOS tem sido para mim (e para a Alice Carneiro) uma (re)descoberta da Lisboa, muitas vezes escondida (ou mesmo inacessível) aos olhos dos próprios lisboetas e dos seus visitantes.

Ontem, por exemplo, fomos aos eventos assinalados, acima,  a negrito.  Nunca tínhamos entrado, por exemplo,  na OGFE e muito menos na famosa Sala do Gesso, do Museu Militar... Em anos anteriores, por exemplo, na Colina de Santana, a Academia Militar abriu as suas portas aos participantes do TODOS. Diversos oficiais superiores das OGFE e do Museu Militar participaram, este ano,  na cerimónia de abertura do evento.

O festival proporciona fantásticas visitas guiadas pelos sítios onde decorre: este ano, em São Vicente. Ponto de encontro: jardim Botto Machado, no Campo de Santa Clara, junto à Feira da Ladra.
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Nota do editor:

Último poste da série > 4 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P18984: Agenda cultural (648): lançamento do livro "Moçambique: guerra e descolonização, 1964-1975", de Manuel Bernardo, na biblioteca municipal de Faro, dia 18 de setembro de 2018, pelas 18h00

Guiné 61/74 - P19031: Parabéns a você (1500): Cor Art Ref Alexandre Coutinho e Lima (Guiné, 1963/65-1968/70 e 1972/73); Maria Teresa Almeida, Amiga Grã-Tabanqueira da LC e Raul Albino, ex-Alf Mil da CCAÇ 2402 (Guiné, 1968/70)



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Nota do editor

Último poste da série de 15 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19015: Parabéns a você (1499): Manuel José Ribeiro Agostinho, ex-Soldado Radiotelegrafista - CCS/QG/CTIG (Guiné, 1968/70)

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19030: Em busca de... (290): Mais elementos informativos sobre o memorial em Bachile, na região do Cacheu, com os nomes dos fur mil op esp José Duarte Franco Verde, e sold Humberto dos Santos Aires, da CCAÇ 2572, "Os Sem Pavor", mortos por acidente com arma de fogo em 26/11/1969 (António Salvada, CCAÇ 2584 / BCAÇ 2884, Có, 1969/71)


Guiné > Região do Cacheu > Bachile > CCAÇ 16 (1972/74) >  Dois camaradas que passaram por Bachile: os fur mil José Romão (à direita) e Bernardino Parreira (à esquerda), dois algarvios de Vila Real de Santo António e Faro, respetivamente. Ao fundo, no memorial, lê-se: "Para uma Pátria una e indivisível, a Companhia Manjaca [,CCAÇ 16, constituída em 1970] está defendendo o seu chão da cobiça de estranhos, ainda que tenha de derramar o seu sangue". 

Sobre a CCAÇ 2572, dos infortunados fur mil op esp João Verde e sold Humberto Aires, que aqui morreram em 26/11/1969, não temos infelizmente qualquer referência.

Foto: © José Romão (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso leitor e camarada, que esteve na Guiné, António Salvada, com data de hoje, às 11h19

Bom dia,  caros amigos. Estive na Guiné,  de 69/71, na CCAÇ 2584 / BCAÇ 2884. Estive em Có.

Como todos nós, também eu fiquei, de algum modo, ligado àquela terra.

Contacto-vos porque conheci uma rapariga da Guiné que, depois das nossas conversas sobre sua terra, me disse ter conhecimento de uma sepultura de 2 camaradas nossos que lá  ficaram.

Como os nossos amigos têm tentado informar alguém, calhou agora comigo.

Creio que talvez possam ajudar.

Esse monumento ou memorial é no  Bachile, região do Cacheu,  e os nomes que estão gravados são: 

Fur mil José Verde Apelido: VERDE; e o soldado Humberto S.Aires, Os nomes estão juntos, a data não é legível (só se lê 07).

Deu me as referências: Bachile, aldeia Punguran onde mora seu pai, Adriano Pimpão Fernandes (conhece o local do monumento ou memorial).

A miúda chama-se Júlia Fernandes e é funcionária no Hospital dos SMAS.  Tem fotos da sepultura.

Seria bom que todos pudéssemos ajudar.

Obrigado e, se conseguirem algo, digam. Ok!

Um abraço António Salvada.

Enviado a partir do meu smartphone.


2. Comentário do editor LG:

Obrigado, camarada Salvada, por nos fazeres chegar esse pedido da tua amiga guineense. A nossa missão é justamente não deixar "ninguém para trás", física ou simbolicamente falando... Não queremos que nenhum camarada ninguém morra no esquecimento ou esteja sepultado na "vala comum do esquecimento", como acontece, infelizmente, com a a maior parte...

Infelizmente, não temos, no nosso blogue, nenhuma referência à CCAÇ 2572, "Os Sem Pavor" (1969/71)... Os camaradas em causa terão sido os únicos mortos dessa Companhia. E sabemos que morreram em 26/11/1969, por acidente (ao que parece, com arma de fogo).

Fica aqui o apelo aos nossos leitores. Presume-se que o alegado monumento, em Bachile, com os nomes destes dois infortunados camaradas, seja um memorial e não uma sepultura... Nessa altura, os restos mortais dos militares portugueses eram já trasladados para o cemitério da sua terra natal...

Apelido: VERDE
Nome: JOSÉ Duarte Franco
Posto: Furriel
Ramo: Exército
Teatro de operações: Guiné
Data: 26/11/1969
Motivo: Acidente

Apelido: AIRES
Nome: HUMBERTO dos Santos
Posto: Soldado
Ramo: Exército
Teatro de operações: Guiné
Data: 26/11/1969
Motivo: Acidente

Sobre o José Duarte Franco Verde, conseguimos apurar, através de consulta do portal Ultramar Terra Web (o Portal UTW - Dos Veteranos da Guerra do Ultramar, que está "on line" desde 2006),  o seguinte: (i) era natural de Vila Praia de Âncora, concelho de Caminha; (ii) tinha o posto de furriel miliciano de operações especiais; (iii) pertencia à CCAÇ 2572 / BCAÇ 2845; (iv) morreu, de facto, por acidente com arma de fogo, em 26/11/1969; e  (v) está sepultado na sua freguesia natal. (O concelho de Caminha teve 7 mortos na guerra do ultramar.)

Qualquer outra informação dos nossos leitores será bem vinda, e nomeadamente sobre o Humberto dos Santos Aires, cujo concelho de naturalidade desconhecemos.

Quanto ao nosso camarada António Salvada: ficas desde já convidado para integrar a nossa Tabanca Grande, na qual estão estão listados, desde 23/4/2004, os nomes de 777 amigos e camaradas da Guiné, dos quais 66 já falecidos. Só é preciso mandares duas "chapas",  digitalizadas, uma foto atual e outra do "antigamente da guerra"... E duas ou três linhas para complementar a tua apresentação... No caso de teres uma álbum fotográfico da Guiné, com interesse documental, melhor ainda: podes partilhá-lo com todos nós. LG
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Nota do editor:

Último poste da série > 31 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18968: Em busca de... (289): Camaradas de armas do ex-Fur Mil João António (1950-2010) do Batalhão do Serviço de Material da Guiné (Brá, 1972/74), de quem vai ser inaugurada uma exposição de pintura na Associação 25 de Abril, em Lisboa (Dulce Afonso/A25A)

Guiné 61/74 - P19029: Estórias do Juvenal Amado (62): O Vilela, num conto com bolinha vermelha

Alcobaça vista do Castelo


1. Em mensagem de 17 de Setembro de 2018, o nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem", enviou-nos mais uma das suas estórias, esta a do Vilela.


ESTÓRIAS DO JUVENAL AMADO

62 - O VILELA - NUM CONTO COM BOLINHA VERMELHA

O Vilela era o rapaz do nosso grupo, amigo das paródias, dos matraquilhos dos bailaricos. Adorava anis escarchado e um dia, pregamos-lhe um piela em minha casa. O problema foi quando o foi preciso leva-lo a casa pois tinhas as pernas que pareciam gelatina e não se punha em pé de maneira nenhuma. Quando finalmente o conseguimos levar, a mãe só faltou bater-nos para além dos nomes que nos chamou.

Aprendiz de alfaiate, viu-se impedido de acompanhar os pais que se mudaram para a América, uma vez que estava na idade militar, e assim despediu-se da mãe chorosa e do pai emocionado, porque os homens que eram homens não choravam, e por cá ficou, não sei se me recordo bem mas tenho ideia de que assentou arraiais em casa de familiar próximo.

A partir daí o herói deu-se a ares de magnata e nunca mais parou de exibir belos fatos com colete a condizer, sobretudos e botas que se usavam naquele tempo, à moda dos Beatles. Quem daquele tempo não se lembra das cobiçadas botas com bocadinho de cano e biqueira muito fina, que ficavam a matar com as calças à boca-de-sino. Era rara a semana que não aparecia com uma “encadernação” nova.

Eu, os Pedrosas, o Rego, o Joaquim e José António, todos os dias tínhamos ponto de encontro no café Portugal, onde ele sobressaía mais parecendo o Al Capone e nós os acólitos, mas ele era cómico e nós riamo-nos com as coisas que fazia e dizia.

Está claro que deixou de trabalhar e o dinheiro era como quem abana a árvore das patacas, não parava de chover, porque aos seus pedidos os pais talvez com peso na consciência por o cá ter deixado, abriam os cordões à bolsa no vão intento de que a sangria parasse, que a tropa o viesse buscar rapidamente e desse um fim ao calvário porque passavam, afastados do seu menino que custava os olhos da cara e muitas horas extraordinárias nos empregos que arranjaram lá nos states.

Por cá o Vilela acabou por se indispor com o familiar onde se hospedara e, como os dólares pingavam sempre, hospedou-se nos Corações Unidos, a melhor pensão de Alcobaça, por onde passava toda a gente que era gente, que visitava a linda vila, desde industriais e artistas, músicos e até engates de caixeiros viajantes.

O Vilela estava na maior. Passava dos pedidos de roupas para um anel visto numa ourivesaria, ou para uns óculos Ray-Ban que lhe trouxeram da base americana das Lajes nos Açores, é que lhe faziam muita falta porque cá havia muito Sol. Pudera era só escrever a pedir à mãe, que lá vinham os benditos dólares que não tardou a queixar-se sem grandes resultados.

Assim o grupo de amigos acabava por olhar para a situação com algum misto de incredulidade e não foram poucas as vezes que lhe dissemos que talvez devesse parar com aquilo. Nada feito, dos gastos com roupa e sapatos passou ao gosto desenfreado pelos jogos de alcova, tornando-se assíduo em certo estúdio de fotografia, que o dono transformava em bordel algumas noites por semana. Ora o nosso Vilela parecia um catraio numa loja de doces e passou a assediar o proprietário para que arranjasse mais “meninas”. Vivia num frenesim, o seu aspecto cuidado passou a apresentar algum desleixo, bem como um ar cansado e a rarear nos convívios com o grupo.

Uma bela noite o Rego bateu-me à porta com um ar suspeito a pedir-me para ir com ele, pois o Vilela precisava de ajuda. Lá vou eu direito ao estúdio de fotografia, e ao fundo das escadas lá estava o bom do Vilela embrulhado num lençol com um ar meio esgazeado. Assim que vi o que aconteceu, fui buscar um táxi, e ala para o hospital que se faz tarde.

Quando o enfermeiro lhe retirou o lençol mais o papel higiénico do corte que tinha na glande, foi um mar de sangue. Dizia o enfermeiro Torres que nunca tinha visto uma gaita tão escangalhada e perguntava como tinha acontecido aquilo. Ele contou que se tinha cortado a fazer sexo num cabelo, que estava atravessado à entrada e não vale a pena pôr mais na escrita, pois para bom entendedor meia palavra basta.

Está claro que aquilo foi motivo de muito riso e para mais como é que o Vilela ia estar quieto sem pensar em nada que o fizesse arrebitar, quando ele se tinha transformado viciado em sexo.

Entretanto curou-se e voltou ao mesmo, mas afastou-se de nós que não tínhamos capacidade de o acompanhar em tonteira nem financeiramente.

Finalmente foi para a tropa como nós todos e eu terei sido o último. Mobilizados uns para cada lado, eu e os irmãos José e Joaquim António fomos para a Guiné, um dos Pedrosa foi para Timor e o Luís Pedrosa foi Operações Especiais em Moçambique, o Rego ficou cá como amparo de mãe, o nosso Vilela não faço a menor ideia, mas penso que acabado que foi o seu serviço militar, deve ter ido para a América ter com os pais e nunca mais o vi.

No regresso encontrei os irmãos, soube que o Pedrosa se tinha suicidado em Timor, o Luís contraiu um vírus, que se veio a revelar uma poliomielite infantil tardia, ficando coxo até à sua morte.

Felizmente fui ao casamento do Rego e do José António, que continuam de boa saúde pois têm perguntado por mim aos meus irmãos.

O Vilela é uma recordação que me faz recuar aos tempos de alguma irresponsabilidade e loucura, que cá continuam bem num cantinho e que de vez enquanto acordam misturados com a saudade daqueles tempos, agora que vamos adiantados nos “entas”.

O Vilela nunca lerá esta estória mas se ler, lembrar-se-á e deve dar uma gargalhada, embora eu tenha ficcionado o nome, vai-se reconhecer de certo nela.

Uma abraço
Juvenal Amado

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Nota do editor

Último poste da série de 10 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18912: Estórias do Juvenal Amado (61): Um pouco de todos nós - "Difícil foi libertar-me do abraço", por Carlos Paz