quarta-feira, 16 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2764: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Pedro Lauret: O papel da Marinha em Guidaje e Gadamael, Maio-Junho de 1973

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cacine > 2 de Março de 2008 > Visita de um grupo de participantes do Simpósio Internacional de Guileje, depois de um almoço em Cananime, na margem direita do Rio Cacine. É hoje uma povoação com evidentes sinais de abandono e decadência.

Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Azalai > 7 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje > O último dia da nossa estadia > Três companheiros de uma jornada inesquecível: O Capitão de Mar e Guerra, na situação de reforma, Pedro Lauret, Iva Cabral, historiadora, primeira filha de Amílcar Cabral e da portuguesa Maria Helena Ataíde Vilhena, e o Cor Comando, na situação de reforma, Carlos Matos Gomes (também conhecido e celebrado autor de obras de ficção sobre a guerra colonial e as vivências de África, sob o pseudónimo de Carlos Vale Ferraz).

Fotos e legendas: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.

Guiné > Região do Cacheu > Rio Cacheu > A LFG Orion a navegar no Cacheu em Janeiro de 1967.

Foto: © Lema Santos (2006). Direitos reservados.

"A revolta do navio Orion, da Marinha portuguesa, no dia 2 de Junho de 1973 foi decisiva para salvar a vida de centenas de soldados e população que fugiram dos bombardeamentos do PAIGC na batalha de Gadamael. Este episódio de desobediência a ordens de Spínola, desconhecido até hoje, é indissociável da resistência travada por meia dúzia de soldados no interior do aquartelamento de Gadamael. As suas histórias são aqui contadas por alguns dos seus protagonistas, como o comandante da Marinha Pedro Lauret, o coronel dos comandos Manuel Ferreira da Silva e o grumete Ulisses Faria Pereira. Eles são, com outros, os heróis desconhecidos de Gadamael". (In: "A nave dos feridos, mortos, desaparecidos e enlouquecidos. Uma investigação de Eduardo Dâmaso". Público, nº 5571, 26 de Junho de 2005).


1. Mensagem do Pedro Lauret (1), com data de 8 de Abril, respondendo ao meu pedido para publicar, no blogue, a sua comunicação ao Simpósio Internacionald e Guileje:


Caro Luís,

Tens toda a autorização para publicares a minha comunicação no Simpósio, que agradeço.

A gala da A25A [- Associação 25 de Abril ] foi espectacular muita emoção, muitas recordações… [Gala Vozes de Abril, no dia 4 de Abril de 2008, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa]

Tenho acompanhado, [no nosso blogue,] as reportagens da Guiné, que estão excepcionais. É muito bom que um acontecimento histórico, como foi o Simpósio, esteja devidamente documentado e divulgado.(...)

Brevemente teremos que falar sobre o nosso site da Guerra Colonial, que penso que estará pronto no último trimestre deste ano.

Um abraço

Pedro Lauret


2. Comunicação do Capitão de Mar e Guerra, na situação de reforma, Pedro Lauret, no Simpósio Internacional de Guileje: Bissau, Hotel Palace, de 5 Março de 2008, Painel 2. Título da comunicação: A Marinha no Teatro de Operações da Guiné. Guileje Gadamael, Maio Junho de 1973, o papel da Marinha.



A Marinha no Teatro de Operações da Guiné. Guileje Gadamael, Maio-Junho de 1973, o papel da Marinha (2)

por Pedro Lauret (3) . Subtítulos de L.G.


(i) Imediato da LFG Orion, em fim de comissão: subordinando as suas convicções políticas à vida dos seus subordinados


Tentei até agora dar uma visão sintética da História da Marinha após a II Guerra Mundial, seu enquadramento político, e a realidade que emergiu do início da Guerra Colonial.

Sinteticamente também pretendi transmitir o que era a Marinha no teatro de operações da Guiné.

Para terminar vou abordar os acontecimentos ocorridos em Maio e Junho de 1973 em que participei. Será uma narrativa muito mais pessoal e opinativa, embora, obviamente baseado em factos reais por mim vividos.

Fui imediato do NRP Orion uma LFG, de Setembro de 1971 a Julho de 1973 (4), o meu navio esteve sempre operacional pelo que tive oportunidade de conhecer bem todos os rios com água suficiente para o meu navio passar.

Quando em 1971 cheguei a Bissau, jovem guarda-marinha de 22 anos, já tinha sobre a guerra uma visão clara da sua natureza, já tinha uma visão clara da natureza do regime ditatorial em que nascera e logicamente sabia que iria combater por uma causa que não considerava justa. Era uma situação difícil, que aceitei lucidamente com a noção das dificuldades que iria encontrar. Tinha também uma certeza: uma vez que optara por ir, a prontidão e operacionalidade do meu navio nunca poderia estar em causa. A vida dos meus subordinados e o meu compromisso com eles sobrepunham-se às minhas convicções.

Nas muitas milhas que naveguei tive oportunidade de desembarcar em muitos aquartelamentos do Exército, apreciei o modo de vida dos soldados, o seu dia-a-dia, as casernas, os abrigos. Vi jovens como eu, condenados a passar dois anos fora das suas terras, das suas famílias e amigos, vivendo dias de tensão e de perigo, mal comidos, mal fardados, mal armados. Vi muitas companhias comandadas por jovens capitães milicianos, com início de carreira interrompida, completamente desmotivados e incapazes de conduzir satisfatoriamente os 170 homens que comandavam. Aqueles homens, além do mais, estavam também mal comandados.

Quando à noite no meu navio, fundeado no Cumbijã, ou Cacine, atracado em Bigene ou em Binta ou em qualquer outro local, via e ouvia os rebentamentos, ora dos morteiros ou foguetões de 122, ora a resposta dos obuses do exército, era um espectáculo inesquecível de uma beleza cruel. Por detrás de cada um daqueles rebentamentos e clarões poderia naquele momento ter acabado de morrer ou ficar ferido algum ser humano.

Todas estas situações me levavam a pensar: que regime era aquele que durante tantos anos atirava gerações sucessivas de jovens para aquela situação, uma guerra votada ao insucesso e à derrota.

(ii) Gudaje, a ferro e fogo, e três aeronaves abatidas no dia 8 de Maio de 1973

Foi já em fim de comissão, no início de Maio de 1973, propriamente no dia 8, que estando atracado em Bigene logo pela manhã sinto em terra, onde estava aquartelado o Destacamento de Fuzileiros nº 8 (DFE 8), movimento fora do comum, indiciando que algo de grave se passava ou iria passar.

Guidaje fora atacada logo aos primeiros alvores com enorme intensidade tendo feito um elevado número de feridos. Um Dornier tinha levantado de Bissau e dirigia-se a Bigene para recolher o médico que aí se encontrava para, posteriormente, ir socorrer os feridos. Logo após ter levantado e a meio caminho de Guidaje foi abatido.

O DFE8 estava em preparativos para se deslocar para o local. O destacamento devia embarcar no meu navio e ser largado, por botes, junto à foz do pequeno Rio Jagali. Neste meio tempo começa um movimento de helicópteros como em 2 anos nunca vira. A princípio não me apercebi do que se passava, depois fui informado que uma companhia de Páras fora transportada de Bissau para Bigene para a partir daí seguir ao encontro do DFE 8 e ambos tentarem resgatar o que fosse possível.

Entretanto vindos de Bissau dois T6 foram bombardear a zona e um deles foi de imediato abatido.

Conseguimos desembarcar o DFE8 conforme previsto, que conseguiu chegar ao local onde os aviões se encontravam, sem incidentes. O mesmo não aconteceu à companhia de Páras que à saída de Bigene fora emboscada e tivera um morto.

Algumas horas depois reembarcámos os fuzileiros que só encontraram destroços carbonizados, e entre eles um pedaço do míssil que abatera o avião. Esse pedaço de míssil foi por nós trazido para Bissau, poucos dias depois. Serviu para confirmar, com certeza, que se tratava de um míssil Strella.

Viemos posteriormente a saber que, nesse mesmo dia, tinha levantado um outro Dornier rumo a Guidaje para socorrer os feridos da manhã, conseguira aterrar, mas ao levantar, após ter embarcado os feridos, desaparecera sendo dado por abatido.

Três aviões no mesmo dia foram abatidos, o que levou a Força Aérea a interromper as suas missões, só as retomando algum tempo depois com perfis de voo defensivo e uma eficácia global muito reduzida.

Esta situação de perda da superioridade total do ar, como sempre tivéramos, teve de imediato duas muito graves consequências:

- As evacuações de feridos por helicóptero não se faziam;
- Não havia apoio aéreo próximo que permitisse interromper ataques às nossas tropas.

Estas circunstâncias vão permitir ao PAIGC cortar a estrada de Binta a Guidaje e montar-lhe um cerco que, apesar de muitos esforços, só consegue ser totalmente levantado através da Operação Ametista Real que envolve a totalidade do Batalhão de Comandos Africanos.


(iii) 1 de Junho: no sul, no Rio Cumbijã, para embarcar uma companhia de páras em Cafine

Após alguns dias de estadia em Bissau para pequenas reparações e reabastecimento, sigo para o Rio Cumbijã, render a LFG que aí se encontrava em missão. Tínhamos como força, além da própria LFG, duas LDM e transportávamos 8 botes e respectivos motores com elementos da companhia de fuzileiros para o seu manuseamento e condução.

No dia 1 de Junho ao jantar sou alertado pela cabine de TSF que estava a chegar uma mensagem “O” – designativo para mensagem de muito elevado nível de precedência – dirigi-me à cabine e assisti ao final da decifração da mensagem.

O teor da mensagem era preocupante: Dirigir-se a Cafine na margem esquerda do Cumbijã e embarcar uma companhia de Páras que aí se encontrava estacionada e de imediato seguir para Cacine.

Só o facto de efectuar o embarque no navio àquela hora e naquelas circunstâncias denotava uma situação grave e urgente.

Demos ordem às 2 LDM para seguirem para Cacine pelo Canal do Melo o que abreviava em muito a viagem. Nós não podíamos seguir aquele itinerário devido ao nosso calado.

Conseguimos embarcar a companhia sem incidentes e dirigimo-nos para Cacine, onde chegámos aos primeiros alvores do dia seguinte. Aí, após termos desembarcado a companhia, entrou a bordo o Major pára-quedista Pessoa que nos informou:
- Que Guileje, após intensos bombardeamentos, fora evacuada e o contingente aí instalado seguiu para Gadamael;
- Que o Major Coutinho e Lima, comandante do COP, que tinha dado a ordem, seguira para Bissau sob prisão;
- Que Gadamael estava sob fogo intenso e a grande maioria dos militares tinha fugido para as margens do rio Cacine;
- Que o General Spínola tinha estado em Cacine e tinha dado ordem explícita para ninguém ir socorrer o pessoal que andava fugido nas margens do rio, apelidando-os de cobardes.

O Major Pessoa ainda nos informou que, se nós não fossemos recuperar o pessoal, ele próprio iria nem que fosse de canoa.

Pela minha cabeça, de imediato, passou a imagem dos generais que em Nuremberga justificaram as atrocidades que cometeram por terem recebido ordens para as executar. Sem obviamente querer comparar a gravidade relativa do caso, foi isto que pensei. Pensei que há ordens que não se cumprem, apesar de nós, militares, sermos formados para obedecer. A recusa ao cumprimento de tal ordem era uma exigência de honra, era uma exigência moral.

(iv) No Rio Cacine, recolhendo o pessoal fugido de Guileje e de Gamadael


O navio por sua inteira responsabilidade, e sem nada comunicar ao Comando da Defesa Marítima, decidiu de imediato ir recuperar o pessoal. Foram dadas indicações aos patrões das LDM para seguirem nas águas da Orion.

Passámos o rio Meldabon junto a uma marca radar (marca Lira), a qual já não era passada por uma LFG há muito, não se conhecendo a situação dos fundos.

Conseguimos seguir até ao rio Dideragabi, para montante era impossível navegar pois já não tínhamos fundo.

Foram colocados botes na água que passaram revista à margem esquerda do Cacine bem como as duas LDM. Foram recolhendo pessoal que traziam para bordo da Orion onde os feridos passaram a ser tratados, os mais ligeiros no convés, os mais graves foram para a coberta das praças. Foi fornecida alguma alimentação ao pessoal. Como já havia muito pessoal a bordo as LDM passaram a levar o pessoal para Cacine.

Já de noite a Orion dirigiu-se a Cacine, não podendo desembarcar os feridos mais graves pois estávamos em baixa-mar e a pista de lodo impedia-o.

Nesse dia a coberta das praças funcionou como navio hospital. O soro, compressas e outra material de primeiros socorros esgotaram. Foi pedido reabastecimento urgente a Bissau. Na manhã seguinte o material chegou num pequeno avião da Marinha.

O ambiente na coberta das praças estava de tal forma carregado de vapores de éter, que, tendo entrado uma praça a fumar, provocou uma explosão que fez disparar os disjuntores dos geradores, colocando o navio, por breves momentos às escuras.

Não sei descrever a situação moral e psicológica daqueles homens, as palavras não eram muitas, só os seus olhares denunciavam, sem margem para dúvidas, os sofrimentos porque passaram.

Esta operação continuou nos dias seguintes, não sei quantos homens evacuamos naquele dia 2 de Junho, mas certamente entre militares e população ultrapassou o milhar (confirmei na visita a Guileje que da população eram mais de 600 pessoas).

Continuámos nos dias seguintes a dar apoio aos pára-quedistas que entretanto tinham desembarcado em Gadamael.

Após alguns dias fomos rendidos e regressámos a Bissau. A bordo, deixadas de lado, algumas dezenas de G3 abandonadas pelos soldados. O princípio de nunca abandonar a própria arma já não tinha qualquer sentido.

(v) A controversa ordem de Spínola, ditada pelo desnorte militar, prenúncio do 25 de Abril
Quero concluir com duas notas.

A ordem do general Spínola não corresponde, em minha opinião a uma intenção sincera, revela antes um desnorte pela situação militar que então se vivia e pela incapacidade de a debelar.

Revela ainda que uma derrota militar na Guiné se podia aproximar rapidamente, com consequências, em termos de sacrifícios humanos, imprevisíveis, e que o Estado Novo se preparava, como fez na Índia para culpar os militares pela derrota, lavando com sangue a sua i ncapacidade para encontrar soluções políticas para os conflitos.

O 25 de Abril estava em marcha.
______________

Notas de L.G.:

(1) Vd. poste anterior: 13 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2629: Fórum Guileje (3): A Marinha esteve como peixe dentro de água no CTIG, e teve um papel logístico fundamental (Pedro Lauret)

(2) Também está disponível, em formato.pdf, no blogue da A25A,
Avenida da Liberdade.

(3) No nosso blogue, também já está disponível a comunicação do Cor Art Ref Coutinho e Lima:

23 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2677: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Coutinho e Lima (1): Comandante do COP 5, com 3 comissões no CTIG

23 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2678: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Coutinho e Lima (2): A dolorosa decisão da retirada de Guileje

(4) Sobre o Pedro Lauret, vd os postes:

1 de Outubro de 2006 >
Guiné 63/74 - P1137: Do NRP Orion ao MFA: uma curta autobiografia (Pedro Lauret, capitão-de-mar-e-guerra)

Sobre o desempenho da LFG Oiron e outros navios da nossa Marinha no TO da Guiné, vd.:


21 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXIII: Apresenta-se o Imediato da NRP Orion (1966/68) e 1º tenente da reserva naval Lema Santos

5 de Maio de 2006 >
Guiné 63/74 - DCCXC: Os marinheiros e os seus navios (Lema Santos)

15 de Junho de 2006 >
Guiné 63/74 - P878: Antologia (42): Os heróis desconhecidos de Gadamael (Parte I)

15 de Junho de 2006 >
Guiné 63/74 - P879: Antologia (43): Os heróis desconhecidos de Gadamael (II Parte)

5 de Outubro de 2006 >
Guiné 63/74 - P1151: Resposta ao Manuel Rebocho: O papel do Orion na batalha de Guileje/Gadamael (Pedro Lauret)

31 de Outubro de 2006 >
Guiné 63/74 - P1231: Estórias avulsas (5): Rio Cacheu: uma mina aquática muito especial (Pedro Lauret)

7 de Março de 2007 >
Guiné 63/74 - P1571: A Operação Larga Agora, o Tancroal / Porto Batu e as cartas náuticas do Instituto Hidrográfico (Lema Santos)

18 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2659: Histórias da Marinha (1): Um ataque à LFG Lira em 1967, em Cadique, no Rio Cumbijã (Manuel Lema Santos)

27 de Janeiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2483: Estórias de Guileje (3): Devo a vida a um milícia que me salvou no Rio Cacine, quando fugia de Gadamael (ex-Fur Mil Art Paiva)

(...) "Por obra do acaso, deparei hoje com alguns blogues sobre os acontecimentos ocorridos em Guileje e Gadamael no período de 1972 a 1974 (2). Porque na oportunidade desempenhava funções de furriel miliciano afecto à Unidade de Artilharia localizada inicialmente em Guileje, e posteriormente retirada para Gadamael (após o abandono do primeiro daqueles aquartelamentos), tomei parte nos referidos acontecimentos.

(...) "Este pelotão de artilharia retirou na totalidade para Gadamael quando foi dada ordem de abandono do aquartelamento de Guileje. Para além dos graduados e oficial acima referidos, retiraram ainda os cabos e praças (estes últimos naturais da Guiné).

"Em Gadamael, a artilharia passou efectivamente muito maus bocados mas não ficou totalmente inoperacional, tanto quanto me recordo. O seu alferes teve aliás um comportamento de bravura pois foi ferido e continuou a desempenhar as sua funções, embora numa situação bastante precária.

(...) "Já agora poderia acrescentar que uma parte dos militares que se deslocaram para Gadamael, acabaram por abandonar também este aquartelamento, acompanhados de parte da população. Porém uma parte dos militares conseguiu aguentar este aquartelamento até à chegada de reforços que entretanto para ali foram enviados.

"Alguns oficiais, sargentos e praças (acompanhados de parte da população) - nos quais me incluía eu -, iniciaram uma retirada para Cacine que foi efectuada debaixo de fogo e que se processou em botes dos fuzileiros. Já agora poderei acrescentar que a evacuação não foi totalmente conseguida nesse dia porque entretanto as operações de resgate foram suspensas por ter começado a anoitecer.

(...) "Eu próprio iniciei a travessia antes de se ter completado o vazamento da maré e, porque não era um nadador exímio, e por outro lado com o peso das botas e da G3 e a força da corrente, tive que a meio da travessia me desembaraçar da minha arma (foi para o fundo do rio) para não morrer afogado. E fiquei a dever a minha vida a um milícia guineense que na outra margem do rio - e a partir do lodo onde se encontrava e para onde eu pretendia arrastar-me - me estendeu a coronha da sua arma a que eu, num esforço titânico, consegui agarrar-me. Fiquei a dever-lhe a minha vida e, no meio da confusão e do caos, sem saber a quem concretamente (ainda hoje...)" (...)

terça-feira, 15 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2763: Bibliografia de uma guerra (27): A geração do fim e a CCAÇ 555, Cabedu, Cantanhez, 1963/65, do Cap António Ritto (Miguel Ritto)

Quando os nossos filhos falam


1. Mensagem do Miguel Ritto, filho do então Capitão António Ritto que esteve a comandar a CCaç 555 em Cabedú, Cantanhez, entre 1963 e 1965.

12 de Janeiro de 2008

Caro Luís Graça,

Já há bastantes dias que não visito o seu blogue (caso não se recorde, eu sou o filho do Capitão António Ritto que foi um dos oficiais que escreveu no livro Infantaria - A Geração do Fim um capítulo sobre a sua experiência a comandar a CCaç 555 de 1963 a 1965 na mata do Cantanhez).


Tenho muito pouco tempo livre, e por isso em tempos pedi-lhe para me retirar da sua lista de difusão de e-mails. Solicito que assim continue, pois tenho muita dificuldade em dar vazão a toda a sobrecarga de trabalho que me leva frequentemente a ter que passar umas 3 horas à noite a tratar de assuntos de trabalho... porque as 8 ou 9 horas na empresa não são suficientes.

No final de Dezembro o meu pai foi a Oeiras a uma apresentação do livro Milicianos-Os peões das nicas que espero vir a ler em breve.

Também vi no seu blogue que o Beja Santos vai lançar um livro, e informei o meu pai.

Voltei a olhar para o seu blogue porque o meu pai me pediu para rever um excelente texto que convenceu o Sargento Norberto Gomes da Costa a escrever,  contando a sua experiência na CCaç 555 na Guiné entre 1963 e 1965. O texto foi escrito para divulgação no encontro anual dos elementos desta Companhia.


Não sei se posteriormente será proposto para publicação em livro, juntamente com crónicas de outros autores, mas se não for esse o caso, não hesitarei em sugerir que lho apresentem para incluir no blogue, se assim o entender.

Em questões de história, sempre adorei conhecer os relatos de ambos os lados...

Recordo-me de uma vez ter dito a um espanhol que na História apresentada em programas televisivos se constatava que eles foram impiedosos ao chacinarem as populações índias... e ele perguntou-me o que é que os Portugueses foram quando adaptaram os porões dos barcos para transportarem escravos africanos em camadas, acorrentados em viagens de 1 mês ou mais... morrendo uma elevadíssima percentagem, que era deixada nos porões acorrentada aos que sobreviviam...

Realmente temos tendência para afirmar que os Ingleses é que eram racistas, e que nós Portugueses nos demos sempre bem com todos os povos, mas provavelmente estamos iludidos pela desinformação lançada pelo Estado Novo.

Provavelmente o que nós tínhamos era uma percentagem muito maior de analfabetos, e de situações de extrema pobreza, e esses integraram-se bem com as populações indígenas, fosse na Índia, em Macau, ou em África...

Não precisávamos de ter autocarros para brancos e para negros em separado como na África do Sul... Bastava termos comboios com carruagens de 1ª, de 2ª e de 3ª classe.

Vivi em Moçambique de 1967 a 1969 (quando tinha 5 a 7 anos) durante uma comissão do meu pai ainda como capitão (em Marrupa, para os lados de Moeda, e no Fingoé, entre Tete e Cabora Bassa).

Só fomos à civilização (Tete, Nampula, ou Beira) nas poucas férias do meu pai, e depois da longa viagem em coluna militar até Tete, penso que já se apanhava o comboio (ou então ainda tínhamos mais uma jornada de autocarro)... Ainda me lembro que para irmos ao bar no wagon-lit tínhamos que atravessar muitas carruagens de 3ª...


Antes de abrirmos a porta eu enchia os pulmões e tentava correr até à porta do outro lado, sem ter que inspirar, porque o cheiro era terrível entre as galinhas, as pessoas com falta de sabão, e a má ventilação... Tenho a ideia de que haveriam carruagens de 2ª em que se encontravam negros mais abastados, e também brancos. Mas não me recordo de ver negros em 1ª classe (embora a memória me possa atraiçoar, pois já lá vão 40 anos e eu só tinha 6 anos).

É verdade que a média dos africanos continua a viver em más condições (ou piores) e agora, em vez de o rendimento ser canalizado para os cofres do país colonizador, passou em muitos casos a ir para o bolso dos governantes locais...


Mas também é um exagero dizer-se que os portugueses tratavam muito bem os africanos, porque qualquer família de classe média branca tinha lá em casa 3 ou 5 africanos a tratarem da lida da casa... Também há muitos que acham que não éramos racistas porque até tinham um negro lá em casa a servir à mesa... mas esquecem-se de dizer que usava luvas brancas e uma farda branca...

Voltando à importância de ver a Guerra dos 2 lados, dei noutro dia com a seguinte publicação que também faz referência a várias outras publicações:

http://links.jstor.org/sici?sici=0899-3718(199807)62%3A3%3C571%3ATLWIGR%3E2.0.CO%3B2-G

Um abraço

Miguel
__________

Nota de vb: fixação e adaptação do texto da responsabilidade do editor.


Artigos relacionados em

21 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2121: Questões politicamente (in)correctas (33): Dulce et decorum est pro patria mori ? (J.A. Lomba Martins)

23 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1624: Bibliografia de uma guerra (17): A geração do fim ou a palavra a 21 oficiais de infantaria, de 1954/57 (Miguel Ritto)

Guiné 63/74 - P2762: PAIGC: Instrução, táctica e logística (11): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (XI Parte): A máquina logística (A. Marques Lopes)

Guiné > Região, possivelmente do sul, controlada pelo PAIGC > Visita de uma delegação escandinava às regiões libertadas > Novembro de 1970 > Foto nº 14 > TRasnporte de sacos de arroz ... As autoridades militares portugueses subestimaram, inicialmente, o génio organizativo de Amílcar Cabral e dos demais dirigentes e militantes do PAIGC. Em 1971, num documento produzido pela inteligência militar do Estado-Maior de Spínola, reconhecia-se a real importância da logística do PAIGC, mesmo não tendo os meios (navais, aéreos e terrestres) das NT...

Guiné > Região do interior (possivelmente, no sul) controlada pelo PAIGC > Visita de uma delegação escandinva às regiões libertadas > Novembro de 1970 > Foto nº 19 > Uma pequena enfermaria ou hospital de campanha, com camas e lençóis brancos. Na foto, vê-se uma enfermeira.

Guiné > Região (no interior, possivelmente no sul) controlada pelo PAIGC > Visita de uma delegação escandinva às regiões libertadas > Novembro de 1970 > Foto nº 31 > A piroga era uma dos meios de transporte mais adequados à guerrilha, nomeadamente no apoio às colunas logísticas. Contrariamente à ideia que se fazia, na época, as colunas de reabastecimento do PAIGC eram compostas por cerca de 30 elementos civis. Julgo que por razões de segurança e dificuldades de recrutamento de carregadores. A estes elementos deveria acrescentar-se a escolta, presume-se.


Guiné > Região controlada pelo PAIGC > Novembro de 1970 > Foto nº23 > Uma consulta médica, ao ar livre. Em primeiro plano, um enfermeiro (presume-se) e a "farmácia ambulante".

Guiné -Conacri (?) > Base do PAIGC em Kandiafara ? > Visita de uma delegação escandinava às regiões libertadas > Novembro de 1970 > Foto nº 30 > Uma sala de esterilização de um hospital do PAIGC

Guiné > Região controlada pelo PAIGC, possivelmente no sul > Visita de uma delegação escandinava às regiões libertadas > Novembro de 1970 > Foto nº 25 > Progressão, na savana arbustiva, por meio do capim alto, de um grupo de guerrilheiros. Presume-se que as colunas logísticas do PAIGC tivessem segurança por parte da milícia ou do exército populares...


Guiné > Região controlada pelo PAIGC , possivelmente no sul > Visita de uma delegação escandinava às regiões libertadas > Novembro de 1970 > Foto nº 7 > Uma aldeia, possivelmente no Cantanhez (onde a tropa portuguesa não entrava desde 1966)


Guiné > Região controlada pelo PAIGC > Visita de uma delegação escandinava às regiões libertadas > Novembro de 1970 > Foto nº 29 > Aproximação de guerrilheiros a uma aldeia

Guiné > Possivelmente numa base do PAIGC, no sul, na região fronteiriça > Visita de uma delegação escandinava às regiões libertadas > Novembro de 1970 > Foto nº 28 > Transporte de sacos de arroz em viaturas soviéticas. Segundo a inteligência militar portuguesa, o PAIGC dispunha, na Guiné Conacri, de cerca de 4 dezenas de camiões russos (havia dois modelos, o Gaz e o Gil) , que faziam o transporte dos abastecimentos de Conacri até a Kandiafara e, depois de queda de Guileje, em 22 de Maio de 1973, até mesmo para lá das fronteira... Recorde-se que o corredor de Guiledje (também chamado Caminho do Povo e Caminho da Liberdade) estendia-se de Kandiafra, Simbel e Tarsaiá (Guiné-Conacry) a Gandembel, Balana, Salancaur e Unal (na Guiné-Bissau).

Este corredor foi, para o PAIGC, o maior e mais importante corredor de infiltração e de abastecimento ao longo de toda a guerra. A sua função estratégica potenciou-se consideravelmente após o assalto ao quartel de Guiledje em Maio de 1973 até sensivelmente depois do 25 de Abril, quando se instituíram as tréguas entre os contendores. Depois do 25 de Avril e das tréguas estes camiões passaram mais vezes a transpor a fronteira desde Kandiafara, passando por Gandembel e parte importante do Carreiro de Guiledje no sentido Gandembel-Salancaur e Porto de Santa Clara.

Guiné > Região controlada pelo PAIGC, possivelmente no sector de Bedanda ou Cacine > Visita de uma delegação escandinava às regiões libertadas > Novembro de 1970 > Foto nº35 > Magnífica imagem de uma bolanha, com produção de arroz. Parte da população controlada pelo PAIGC tinha que ser reabastecida, em arroz, alimentação-base, por não ser autosuficiente. Como se pode ler no Supintrep, "este reabastecimento não se processa, no entanto, de igual modo para as duas Inter-Regiões, pois que (...), enquanto a Inter-Região Sul (à excepção da Frente Bafatá/Gabú Sul) é auto-suficiente na produção do alimento base, o arroz, a Inter-Região Norte não produz hoje o necessário para se abastecer, pelo que, além das colectas efectuadas às populações controladas, se torna necessário enviar para as bases da fronteira e interior quantidades muito apreciáveis deste produto".

Guiné-Bissau > PAIGC > Novembro de 1970 > Imagens obtidas algures, nas bases sediadas na Guiné-Conacri, e nos regiões libertadas do sul (possivelmente, Cantanhez), pelo fotógrafo norueguês Knut Andreasson. Recorde-se que o fotógrafo norueguês acompanhou uma delegação sueca (tendo à frente a antiga líder do parlamento sueco, Birgitta Dahl) na visita às regiões libertadas da Guiné-Bissau, em Novembro de 1970.

Segundo o sítio da
Nordic Africa Institute (uma agência dos países nórdicos, com sede na Suécia, em Upsala ), esta visita deu-lhe oportunidade de falar com Amílcar Cabral, em pleno palco da luta pela independência, e ficar a conhecer melhor o PAIGC, a guerrilha e a sua implantação no terreno.

Andreasson e Dahl publicaram mais tarde um livro em sueco sobre essa viagem. Andreasson, por sua vez, realizou uma exposição fotográfica e publicou um álbum fotográfica sobre esta visita. A maior parte das fotos deste período foram doadas ao Nordic Africa Institute pela viúva de Andreasson. A exposição foi , por sua vez, doada à
Fundação Amílcar Cabral pelo Nordic Africa Institute, sendo apresentada por Birgitta Dahl, a antiga líder do Parlamento Sueco, por ocasião das celebrações do 80º aniversário de Amílcar Cabral, em Setembro de 2004.

A Suécia foi o país ocidental que mais apoio deu ao PAIGC, no plano político, diplomático, humanitário e financeiro. Os manuais escolares eram impressos na Suécia. Este país escandinavo, nomeadamente sob a liderança do social-democrata Olof Palme (1927-1986), também fornecia gratuitamente ao PAIGC material médico e sanitário, como se reconhece no Supintrep, nº 32, de Junho de 1971, que temos vindo a publicar.

As fotos acima ilustram alguns aspectos da máquina logística do PAIGC de cuja grandeza e complexidade muitos de nós, combatentes portugueses, no terreno, não tínhamos uma ideia exacta... Ao ler este documento, insuspeito, ficamos a saber que a população e a guerrilha do PAIGC, no interior do TO da Guiné, era abastecida regularmente (em alimentos, medicamentos, armamento, equipamento, etc.). Ficamos a saber que havia evacuações (incluindo por meios aéreos) de feridos graves para os hospitais de rectaguarda (Ziguinchor, no Senegal; Conacri, Koundara e Boké, na Guiné-Conacri). Devo, no entanto, acrescentar que foi recentemente desmentida, por uma histórica e mítica dirigente do PAIGC, Carminda Pereira - no Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1 a 7 de Março de 2008) - que houvesse helicópteros ("O PAIGC nunca teve helicópteros ou outras aeronaves"). Agora também é verdade que foi fundamental para o PAIGC o apoio, sem reservas, dado pelo regime de Sékou Touré. Já no Senegal, o PAIGC não se movimentava tão à vontade.


Ficamos também a saber que havia evacuações de feridos graves, em tratamento, para outros países estrangeiros (nomeadamente, da Europa de Leste). Que nesses hospitais, na rectaguarda, havia médicos, estrangeiros, tanto ocidentais (por exemplo, holandeses) como do bloco soviético (cubanos, jugoslavos e russos). Curiosamente não se faz menção do português, natural de Angola, o Dr. Mário Pádua, médico, que desertou das fileiras do nosso exército, Angola, e dedicou parte da sua vida, como médico e como militante, ao PAIGC, no Hospital de Ziguinchor, Senegal)(Vd. o seu depoimento no filme-documentário de Diana Andringa e Flora Gomes, As Duas Faces da Guerra, 2007).

Este excerto do Supintrep sobre a logística do PAIGC deve ser lido em complemento do que já aqui escrevemos sobre a importância estratégica que tinha o corredor de Guileje e o significado da queda de Guileje (1).

Fonte:
Nordic Africa Institute (NAI) / Fotos: Knut Andreasson (com a devida vénia... e a competente autorização do NAI) (2) (As fotografias tem numeração, mas não trazem legenda. Legendagem de LG).


Continuação da publicação do Supintrep, nº 32, de Junho de 1971, documento classificado na época como reservado, de que nos foi enviada uma cópia, em 18 de Setembro de 2007 pelo nosso amigo e camarada A. Marques Lopes, Cor DFA, na situação de reforma, e a quem mais uma vez agradecemos publicamente (3):

PAIGC - Instrução, táctica e logística (11): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (Parte XI) > Logística


LOGÍSTICA

a. Generalidades


Para satisfação das necessidades resultantes da actividade desenvolvida, o PAIGC organizou nos países limítrofes (República do Senegal e República da Guiné) um “complexo logístico” com a finalidade de introduzir no nosso território os meios indispensáveis à manutenção do seu esforço de guerra. Os órgãos centrais dessa “máquina” – armazéns de víveres, depósitos de armamento e munições, de combustíveis, medicamentos, oficinas e fardamento – encontram-se em Conakry, om órgãos de menor capacidade em Boké, Kandiafara, Kambera, Foulamory e .

É pois a partir de Conakry que cerca de quatro dezenas de viaturas de fabrico soviético (marcas Gas e Gil) estabelecem a ligação entre os pontos atrás referidos, transportando pessoal, material e víveres.

Para Boké e Kandiafara e também Bissamala, onde o PAIGC dispõe de um complexo logístico de apoio ao Quitafine, é aproveitada ainda a navegabilidade dos rios Nunez e Kandiafara, os quais são percorridos por um conjunto de barcos de carga de que se destacam:

AROUCA (BI 72 L) – ex-SAGRES, é uma lancha a motor, casco de aço, casa de motor, porão e escotilhas, um mastro. O motor é Diesel Kelvin K3, n.º 26927, de 3 cilindros de 66HP e 750 RPM; tem 15,40 m de comprimento, 4,10 m de boca e capacidade para 19,700 tons. de carga.

MIRANDELA (BI 112 L) – ex-SADO, é um batelão a reboque, casco de ferro, alojamento para a tripulação com seis beliches, duas escotilhas, um porão de carga com duas coberturas de ferro corrediças que lhe servem de tampa, um mastro de ferro com dois paus de carga, motor com potência de 95/105 HP, 24,40 m de comprimento, 4,82 m de boca e capacidade para 65,054 tons. de carga.

2 BARCAÇAS – tal como são denominadas, que se julga tratar de duas embarcações tipo lancha de desembarque, talvez semelhantes às LDM da nossa marinha.

Os abastecimentos são enviados mensalmente de Conakry para as bases logísticas de apoio, sendo destinados ao mês seguinte, com níveis que se julgam bastante baixos, pois que, quando o reabastecimento se atrasa, que é frequente, logo as bases do interior insistem na sua falha. São polivalentes, incluindo géneros alimentícios, gasolina e óleos, material e munições.

Estas remessas são feitas nos últimos dias do mês, dando origem a concentrações de viaturas em Conakry.

Efectuados que são os reabastecimentos, algumas viaturas e embarcações regressam a Conakry, fazendo no retorno o escoamento dos produtos agrícolas cultivados nas “regiões libertadas” (arroz, milho, coconote...) e ainda evacuações, quer de feridos ou doentes, quer de material inoperacional.


b. Apoio exetrior à actividade logística


Em 21 de Março de 1966 foi celebrado um “protocolo” entre o Governo Senegalês e o PAIGC que estabelecia as modalidades de cooperação entre as autoridades senegalesas e os responsáveis do PAIGC, o qual, fundamentalmente, assenta nos seguintes pontos:

- Serão fixados pontos de reagrupamento obrigatórios pelas autoridades senegalesas para o estacionamento prolongado dos militantes combatentes. Os militantes combatentes detentores de armas e de munições deverão entregá-las obrigatoriamente nestes centros nas mãos das autoridades senegalesas. Toda a entrada de armas ou material destinado ao PAIGC em território senegalês deverá fazer-se com o acordo das autoridades encarregadas da segurança, que tomarão posse e assegurarão a entrega nas condições a definir.
- Para permitir aos militantes e combatentes do PAIGC abastecerem-se em território senegalês, os responsáveis designados pelo PAIGC devem dirigir-se às Autoridades Administrativas que se esforçarão para satisfazer os pedidos em toda a medida do possível. Este fornecimento de mercadoria e artigos diversos não são gratuitos.
- Os militantes e os combatentes do PAIGC doentes ou feridos beneficiam, como no passado, dos cuidados dispensados pelas formações sanitárias senegalesas.
- Para permitir a identificação dos militantes, os únicos beneficiários destas medidas, os responsáveis do PAIGC comprometem-se a entregar-lhes os documentos de identidade com fotografia e a remeter às Autoridades Senegalesas encarregadas da segurança a lista completa destas pessoas com os talões.
- Estas facilidades concedidas aos militantes e combatentes do PAIGC são susceptíveis de serem anuladas unilateralmente pelas Autoridades Senegalesas devido a factos imputáveis ao PAIGC ou devido a circunstâncias particulares.

Como se verifica analisando o teor do acordo, este, a ser cumprido, implicaria uma série de restrições que, em boa verdade, e com excepção de algumas alíneas, nunca foram totalmente impostas, continuando o PAIGC a proceder quase como se o referido acordo não existisse e com liberdade de acção em todo o Casamansa, muito provavelmente até pela força do Partido naquela região.

Muito mais amplo, no entanto, é o apoio incondicional dado pelo Governo de Sékou Touré ao PAIGC, que tem na Rep Guiné, como já se referiu, além dos órgãos de direcção central e de apoio logístico de base, uma total liberdade de circulação nos itinerários, as mais amplas facilidades de instrução militar das FARP e de educação dos futuros quadros, assistência sanitária e hospitalar, instalações e até empréstimos de material de guerra, quando o PAIGC dele carece.

Salienta-se, no entanto, que, dada a excentricidade de determinados “departamentos” fronteiriços, o que os liberta de certo modo do controle eficaz dos Governos Centrais, o apoio concedido ao PAIGC depende muitas vezes das Autoridades Civis e Militares que superintendem esses Departamentos, embora não o afectando e sendo este aspecto mais palpável na Rep Senegal.

O apoio concedido por outros países africanos não fronteiriços não tem significado, traduzindo-se apenas em manifestações de “solidariedade política”, o que, aliás, sucede com a maioria dos países e organizações internacionais, à excepção dos referidos em 3.a [do Supintrep].

c. Fabrico, confecção e manutenção


Muito pouco tem sido assinalado sobre o “fabrico, confecção e manutenção” presumindo-se, por isso, que, neste capítulo, o PAIGC está ainda numa fase muito incipiente. Admite-se que, nas oficinas referenciadas em Conakry, Boké, Kandiafara, Koudara e Ziguinchor, execute diversos escalões de manutenção do seu material auto, a qual se julga eficaz, dado que as dificuldades neste campo decorrem normalmente da quantidade e não do aspecto funcional. Igualmente se admite que as oficinas instaladas em Conakry para o efeito procedem a determinadas beneficiações no seu material de guerra, dadas as “evacuações” detectadas.

Em Boké está referenciado um estaleiro naval onde se procede a reparações nos barcos que o PAIGC possui.

Quanto ao “fabrico”, além da execução e arranjo de alfaias agrícolas e utensílios domésticos por processos rudimentares, há a referir, ligada aos Serviços de Economia e Produção e dentro do âmbito das actividades do Comité da Inter-Região Norte, a existência, algures na região do Morés, de uma pequena fábrica de sabão (marca Lolo), aproveitando a abundância da matéria prima utilizada, o óleo de palma. Muito embora não detectadas, admite-se a existência de outras fábricas deste tipo.

d. Alimentação


Mensalmente, tal como acontece com a generalidade dos reabastecimentos, são enviados de Conakry para as bases de apoio às Inter-Regiões géneros alimentícios, nomeadamente arroz, açúcar, sal e conservas, os quais são depois distribuídos pelos efectivos estacionados ao longo da fronteira e interior.

Este reabastecimento não se processa, no entanto, de igual modo para as duas Inter-Regiões, pois que, como veremos, enquanto a Inter-Região Sul (à excepção da Frente Bafatá/Gabú Sul) é auto-suficiente na produção do alimento base, o arroz, a Inter-Região Norte não produz hoje o necessário para se abastecer, pelo que, além das colectas efectuadas às populações controladas, se torna necessário enviar para as bases da fronteira e interior quantidades muito apreciáveis deste produto.

Em quase toda a Província o IN procede a colectas de arroz nas tabancas sob o seu controle. Estas colectas são feitas por tabancas ou por áreas e delas se encarrega o chefe da tabanca que faz a cobrança junto de cada morança, ou um delegado da área que tem por missão reunir o arroz colectado pelos cobradores distribuídos pelas tabancas da referida área.

Depois de reunido o arroz colectado é aguardada a chegada dos grupos que o vão buscar a cada uma das áreas ou tabancas. Estes grupos têm um efectivo de cerca de 10 elementos armados de maneira a poderem reagir a possíveis encontros com as NT. Por vezes vão efectivos maiores, cerca de 30 a 40 elementos, que se admite seja devido ao conhecimento que o IN possa ter da presença das NT na região.

A colecta exigida varia com a época do ano, razão por que na época seca as colectas são maiores que na das chuvas.

Do estudo feito a documentos bem como de declarações prestadas por elementos IN capturados pelas NT, é possível concluir da maneira como se processa o reabastecimento de géneros alimentícios às unidades IN sediadas ao longo da fronteira, bem como aos efectivos no interior. Assim:

Para as Unidades da Fronteira

Ao longo da Fronteira, as populações refugiadas encontram-se organizadas político-administrativamente, pelo que encontramos entre elas os comités de tabanca e de secção, órgãos primários da estrutura político-administrativa do PAIGC. As bases e acampamentos IN que se situam nesses locais apoiam-se nessa organização, do que resulta serem os referidos órgãos os encarregados de proverem aos reabastecimentos, efectuando colectas e, de seguida, a entrega dos géneros obtidos. Por outro lado, as unidades em deslocamentos ao longo da fronteira e em contacto com as referidas populações vão também efectuando, por sua vez, colectas.

Para as Unidades do Interior (só Inter-Região Norte)

Só a partir do corrente ano passaram a ser detectadas colunas de reabastecimento de arroz que, idas das bases logísticas do Casamansa, se destinem a prover as necessidades do interior.

Assim, a partir de Koundara o arroz é canalizado especialmente para a base de Cumbamore em colunas de viaturas, sendo depois transportado para o interior por colunas de carregadores através dos corredores de infiltração, como oportunamente se referirá.

e. Saúde

(1) O Desenvolvimento do Serviço de Saúde no PAIGC

Vencendo inúmeras dificuldades, resultantes muito especialmente da falta de quadros logo após a eclosão da luta armada, o PAIGC começou a instalar pouco a pouco em diversos pontos das Regiões Libertadas alguns postos de saúde, onde colocou os poucos enfermeiros que o Partido à data dispunha.

Sendo este número, porém, insuficiente, e segundo directivas da Direcção do Partido, estes enfermeiros procuravam dar a outros elementos recrutados nas escolas na Milícia Popular uma preparação mínima que lhes permitisse auxiliá-los no seu trabalho. Foram assim iniciados no serviço de enfermagem muitos elementos que, muito embora carecendo de preparação teórica, foram solucionando o problema até à formação e Escolas de Enfermagem no interior, entre as quais se destaca a Escola de Ajudantes de Enfermagem do Morés.

Entretanto, e dada a insuficiência a que estas escolas ainda conduzem, o Partido, no sentido da formação o pessoal qualificado necessário a um funcionamento mais eficaz dos centros de saúde, tem enviado para o estrangeiro muitos jovens que aí seguem estudos práticos de enfermagem e medicina, de modo a poder dispor, a curto prazo, de um número sempre crescente de pessoal capaz, o que irá permitir uma progressiva melhoria da actividade do Partido no domínio da saúde.

(2) O auxílio estrangeiro

Como já se referiu, o auxílio estrangeiro ao PAIGC no domínio da saúde reveste-se de uma importância muito grande, dado que é através do fornecimento de bolsas de estudo para a frequência de cursos médicos e de enfermagem que o PAIGC obtém elementos qualificados de cuja carência tanto se ressente. Assim, numerosos bolseiros do PAIGC cursam Medicina na Rússia e na Bulgária, enfermagem na Bulgária e Cuba e Profilaxia e Higiene Social na Checoslováquia.

Não termina, porém, aqui o auxílio estrangeiro ao Partido, pelo que se caracteriza também na cedência de pessoal médico, pelo que vamos encontrar médicos cubanos, jugoslavos, russos e holandeses nos principais estabelecimentos hospitalares. Este auxílio é completado com o fornecimento gratuito de medicamentos e material sanitário por parte de Cuba e dos países do Leste da Europa, revestindo-se também de particular importância a contribuição dada por particulares da Europa Ocidental, nomeadamente a Fundação Mondlane, com sede em Haia, e a Suécia.

(3) Como é prestada a assistência sanitária

A assistência sanitária aos combatentes e populações sob o controle IN é realizada através de enfermarias e hospitais existentes no interior do TO, formações sanitárias muito rudimentares, quase nunca dispondo de médico.

Os indisponíveis que denunciam casos graves são transportados em macas improvisadas desde essas enfermarias ou hospitais para as bases fronteiriças, onde normalmente o PAIGC dispõe de instalações mais apetrechadas, e daqui, em automacas ou viaturas de transporte, senão mesmo em meios aéreos, para os hospitais de Conakry, Ziguinchor, Koundara ou Boké.

No capítulo da assistência sanitária, mormente nos hospitais e enfermarias do interior, além da falta de pessoal qualificado surge ainda toda uma série de condicionamentos, nomeadamente o reabastecimento irrregular dos medicamentos, a conservação do sangue para transfusões e o transporte e feridos graves para o exterior, que muito afectam o funcionamento normal do serviço.

(4) Orgnização dos serviços de saúde (civil e militar) do PAIGC


Tanto quanto os elementos disponíveis o permitem, julga-se que estes centros sanitários (hospitais e enfermarias) se dividem em dois ramos, o civil e o militar, dependentes de entidades distintas.

No meio civil, ainda em estado incipiente de organização, compreenderá enfermarias ou mesmo hospitais existentes nas áreas libertadas, os quais se destinam a prestar assistência às populações controladas pelo IN. Estas enfermarias são accionadas nos escalões administrativos a que correspondem pelos responsáveis da Saúde dos respectivos Comités, e destacam, com o fim de efectuarem uma cobertura eficaz das respectivas zonas, brigadas sanitárias que percorrem as tabancas que não dispõem de serviço de saúde próprio. Julga-se que a saúde civil esteja dependente, a nível superior, da Direcção para os Assuntos Sociais do Departamento para os Assuntos Sociais e Cultura.

No ramo militar, o serviço de saúde encontra-se já num grau de desenvolvimento diferente, dispondo de estabelecimentos hospitalares (no exterior) de apreciáveis recursos. Julga-se que no topo de toda a organização sanitária militar se encontra o Serviço de Saúde do Departamento da Defesa, o qual acciona três Secções Sanitárias (Ziguinchor, Koundara e Boké) que abrangem todo o TO e zonas fronteiriças dos países limítrofes. Estas Secções Sanitárias corresponderam às três Frentes (Norte, Leste e Sul) em que o IN dividia o TO até à reorganização levada a efeito durante o ano de 1970, mas mantendo actualidade mesmo depois desta reorganização.

Cada Secção dispõe de um Hospital Central, dela dependendo os hospitais e enfermarias correspondentes aos Sectores e Frentes. As unidades, por sua vez, dispõem também de enfermeiros responsáveis pela assistência sanitária imediata aos guerrilheiros.

Continua

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Notas de L.G.:

(1) Vd. postes de:

2 de Fevereiro de 2008
Guiné 63/74 - P2499: Guiledje: Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008) (13): Enquadramento histórico (I): a importância estratégica de Guileje

3 de Fevereiro de 2008 >
Guiné 63/4 - P2502: Guiledje: Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008) (14): Enquadramento histórico (II): o significado da queda de Guileje

16 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2650: Uma semana involvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (6): No coração do mítico corredor de Guiledje

17 de Março de 2008 > Guine 63/74 - P2655: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (7): No corredor de Guiledje, com o Dauda Cassamá (I)

17 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2656: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (8): No corredor de Guiledje, com Dauda Cassamá (II)


(2) Mensagem anterior da
Webmaster do NAI:

Dear Luís Graça, I am glad to hear that you like the photos and that you use them. Best regards,

Agneta Rodling
Information/Webb
Nordiska Afrikainstitutet
The Nordic Africa Institute
Box 1703,
SE-751 47 UPPSALA
Tel +46-18 56 22 21

Mensagem enviada hoje pelo editor do blogue:

Dear Agneta:

I have written to you recently. My name is Luis Graca. I am the founder and main editor of the Portuguese blog Luis Graca & Camaradas da Guine, centred on the individual and collective experience of Guinea Bissau colonial war / liberation struggle, during the period of 1963/74.

Please notice that I have used again some photos from your album on Guinea-Bissau (see the text posted today, on my blog; subject: PAIGC logistics during the liberation struggle)… Blog members are war veterans, ancient fighters of both sides, or their relatives and friends of Portugal and Guinea-Bissau.

I have used, with your kind permission, the following photos, taken in November 1979, by Knut Andreasson: 07, 023, 025, 029, 030, 031, 032, 035 and 038.

Our blog has no commercial purpose, it intends to be a bridge of peace, reconciliation, co-operation and friendship and but also an information and knowledge database (research and dissemination, photo and paper documentation, poetry, life stories, fiction, scientific meetings, social events…). And my self, I appreciate very much your institutional support to the people of Guinea-Bissau.

Please feel free to use also our web materials.
Many thanks.
Luís Graça



(3) Vd. postes anteriores, desta série:

22 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2124: PAIGC - Instrução, táctica e logística (1): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (I Parte) (A. Marques Lopes)

24 de Setembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2126: PAIGC - Instrução, táctica e logística (2): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (II Parte) (A. Marques Lopes)

1 de Outubro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2146: PAIGC - Instrução, táctica e logística (3): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (III Parte) (A. Marques Lopes)

8 de Outubro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2164: PAIGC - Instrução, táctica e logística (4): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (IV Parte): Emboscadas (A. Marques Lopes)

29 de Outubro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2228: PAIGC - Instrução, táctica e logística (5): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (V Parte): Flagelações (A. Marques Lopes)

4 de Dezembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2327: PAIGC - Instrução, táctica e logística (6): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (VI Parte): Minas I (A. Marques Lopes)

17 de Janeiro de 2008 >
Guine 63/74 - P2446: PAIGC - Instrução, táctica e logística (7): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (VII Parte): Minas II (A. Marques Lopes)

19 de Janeiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2454: PAIGC - Instrução, táctica e logística (8): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (VIII Parte): Minas III (A. Marques Lopes)

13 de Fevereiro de 2008
Guiné 63/74 - P2535: PAIGC - Instrução, táctica e logística (9): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (IX Parte): Defesa anti-aérea (A. Marques Lopes)

7 de Abril de 2008 >
Guiné 63/74 - P2730: PAIGC - Instrução, táctica e logística (10): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (X Parte): Organização defensiva (A. Marques Lopes)

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2761: Convívios (53): CART 2412, no dia 17 de Maio de 2008 em Paços de Ferreira (Afonso Sousa)

1. Conforme informação do nosso camarada Afonso M. F. Sousa, ex-Fur Mil Trms, damos notícia do Convívio da CART 2412, (Bigene, Binta, Guidage e Barro) a realizar no dia 17 de Maio em Paços de Ferreira


CART 2412 > Sempre Diferentes

Porto, 27 de Março de 2008

Caros Companheiros
É com a maior satisfação que temos a honra de organizar o nosso Convívio Anual, que se realiza no dia 17 de Maio próximo, na Freguesia de Ferreira, no Concelho de Paços de Ferreira; em homenagem ao nosso companheiro falecido, Brandão. (Último companheiro - 2007)

A chegada está marcada para as 11 horas no Mosteiro de Ferreira (Monumento Nacional) e daí se fará uma romagem ao Cemitério, ao túmulo do nosso companheiro.

O Almoço realizar-se-á na Quinta das Palmeiras em Figueiró, Paços de Ferreira; terá o preço de 25€ por pessoa

Agradecemos a confirmação até ao dia 9 de Maio para os telefones:

António Machado - 917 508 280
Bento Machado - 914 067 463
Godinho - 917 508 292

Um grande abraço, até lá!

Guiné 63/74 - P2760: Notas de leitura (8): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros... ou a guerra que não estava perdida (A.Graça de Abreu)

Mensagem do António G. de Abreu, de 7 de Abril:

Meu caro Luís,

Enviei-te o mail abaixo (1) em Dezembro passado. Podias ter aproveitado qualquer coisa para o blogue. Mas não é por isso que te escrevo.
Estou a preparar um texto sobre uma questão fundamental da História da Guiné-Bissau e da História das Guerras de África e esse texto, peço-te que publiques no blogue. Por uma questão de higiene, pela veracidade e rigor que a História deve ter.

Estive na Guiné de 72 a 74, num comando de operações, no norte (Teixeira Pinto), no centro (Mansoa) e os últimos onze meses no sul (em Cufar, até Abril de 1974.

A guerra não estava militarmente perdida, ao contrário do que muita gente afirma e referiu recentemente no blogue o Beja Santos na crítica infeliz ao livro do Manuel Bernardo, "em 1973/74 (...) o PAIGC passou a ter a total iniciativa entre o norte e o leste, em todo o espaço fronteiriço com a Guiné-Conakry."


A tese de que a guerra, no terreno, estava perdida, é uma tese falsa, não corresponde à realidade. A tese de que depois de Maio de 1973, quando foram abatidos os cinco aviões pelos mísseis do PAIGC, as NT passaram a não ter apoio aéreo e por isso a superioridade do PAIGC passou a ser evidente e esmagadora, também é falsa.


Sei do que falo, e comigo muitos camaradas que estiveram nessa altura na Guiné. A partir de Julho de 1973 até Abril de 1974, os aviões continuaram a voar, com muito mais cuidado, é verdade, a "rapar", etc., mas continuaram a bombardear, continuaram (os helicópteros) a fazer evacuações directamente no mato, a levar géneros e frescos, a transportar carga, pessoal e armamento, sobretudo os Nord-Atlas, estes para Cufar, Bafatá e Nova Lamego.

Quem controlava a esmagadora maioria das cidades vilas e aldeias, com as suas populações, era ou não era o exército português?

É preciso demonstrar a falsidade de algumas teses. Sem nenhum patriotismo ou nostalgia de um passado bolorento quando um regime autocrático e cego nos enviou para África.

Vou fazê-lo num texto que te enviarei dentro de dias.

Um forte abraço

António Graça de Abreu
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Notas: adaptação do texto e sublinhados da responsabilidade de vb.

(1) Mensagem que o António G. Abreu nos enviou em 3 de Dezembro sobre a Companhia 4740 mais o médico Bagulho, camarada e amigo (e que não publicámos...sem perdão, Caro António):

Meu caro Luís
Não tenho dito nada, mas estou, dia a dia, atento ao blogue e há uma imensidade de camaradas com imenso para contar!

Eu contei quase tudo no meu livro Diário da Guiné 1972-1974.
O livro continua a circular com sucesso e fico sempre satisfeito por sentir que aqueles textos correspondem à vida de muitos de nós por terras da Guiné.

Estive sábado passado, dia 1 de Dezembro, em Fátima com o pessoal da Companhia 4740, os Leões de Cufar.

Reuniram-se pela primeira vez, ao fim de 33 anos e 161 dias. Foi uma festa!

Metade do meu livro tem a ver com a minha estadia em Cufar (Junho de 1973 a Março de 1974), vivências partilhadas com aqueles camaradas e amigos. Do cap mil João Gaspar da Silva (actualmente advogado em Alcobaça) aos alferes, furriéis, soldados, éramos trinta companheiros, quase irmãos, a recordar, por bem, tempos tão importantes, inesquecíveis da nossas vidas.

Esta é a Companhia do Enfermeiro António Manuel Salvador, que anda lá por Amesterdão e de vez em quando entra no blogue a falar de injecções sem dor dadas em Cufar a majores com vinte e poucos anos (não seria um tenente?...).

Eu não pertenci à 4740, mas ao CAOP1 (Comando de Agrupamento Operacional 1) e foi através do teu blogue que o pessoal que organizou este 1º convívio me descobriu. Ainda faltam mais homens da companhia 4740 e do meu CAOP 1.

Quem dá uma ajuda para nos descobrirmos e engrossarmos o leque majestoso destes quase heróis do fim da Guerra da Guiné?

Perguntas-me pelo Bagulho, o médico, cirurgião de Teixeira Pinto. Falo nele no meu livro, conheci-o bem quando cheguei a Teixeira Pinto, em Junho de 1972. Estava lá com outro médico, outro grande senhor chamado Pio de Abreu que é hoje professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e um dos maiores especialistas portugueses em Psiquiatria. Foram duas pessoas que me orgulho muito de ter conhecido.
Do Dr. Bagulho, filho do almirante Tierno Bagulho, sei que faleceu poucos anos depois de voltar da Guiné. Afinal tu conheces a viúva, a Raquel.

Infelizmente não tenho nenhuma fotografia do Bagulho e do Pio de Abreu, apenas uma onde apareço com o outro médico, o Mário Bravo, que veio substituir um deles em Teixeira Pinto. Um abraço ao Mário Bravo.

Meu caro Luís, agradeço-te por tudo, o blogue, a amizade, a disponibilidade para, via Guiné, nos reencontramos com os outros camaradas e connosco próprios.

Mais um abraço,
António Graça de Abreu
__________

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Guiné 63/74 - P2759: Convívios (52): BENG 447, Guiné (1964/74), dia 10 de Julho de 2008 em Fátima (Lima Ferreira)

1. A pedido dos nossos camaradas Lima Ferreira e Guedes Araújo, ex-Furiréis Milicianos do BENG 447, divulgamos o 25.º Encontro deste Batalhão.

BENG 447 - Que a Tamanhas Empresas se Oferece

2. É com o maior prazer que vimos convidar V.Exª. e Exma. família a participar num Almoço de Confraternização, a realizar no dia 10 de Maio de 2008, com o seguinte

PROGRAMA

07h30 - Porto - Partida da Rua Firmeza, 588
08h00 - Lisboa - Partida da Praça Dr. Francisco Sá Carneiro, 12-A

Viagem em moderno autopullman para Fátima

11h00 - Missa na nova Igreja da Santíssima Trindade
13h00 - Concentração no Restaurante Califórnia em Santa Catarina da Serra, seguida de Almoço de Confraternização com a seguinte

EMENTA:
Entradas - Martini, Vinho do Porto, Amendoins salgados, Pão, Broa, Azeitonas, Morcela, Linguiça assada, Queijo, Presunto e Salada de orelha de porco com grão.

Sopa - Creme de nabiças

Peixe - Bacalhau à Casa (posta) com batatinha assada no forno

Carne - Nacos de vitela com cogumelos, arroz e legumes

Bebidas - Vinho branco e tinto da Região, Águas minerais, Cerveja e Refrigerantes

Sobremesa - Delícia de maçã ou gelado

Digestivos - Café e Digestivo (Bagaço, Amêndoa amarga, Brandy e Whisky novo)

17h30 - Lanche - Caldo verde, Pão, Camarão cozido ao natural, Rolinhos de presunto, Salpicão, Fiambre, Frango assado, Rissóis de camarão, Pastéis de bacalhau, Caprichos do mar, Fruta e Café

Bolo e Champanhe

Animação - Conjunto musical
A instalação sonora estará à disposição de quem quiser relembrar os "Bons Velhos Tempos"

Pelas 19h00 - Despedida. Viagem de regresso ao Porto e Lisboa. Chegadas previstas para as 22h30 e 22h00, respectivamente.

Preço por pessoa

Só almoço - 22,50 euros
Viagem e Almoço - Porto - 45,50 euros
Viagem e Almoço - Lisboa - 45,50 euros

As crianças até 4 anos de idade nada pagam
Dos 5 aos 9 pagam 50%

Pela Comissão Organizadora,
Francisco Guedes Araújo

Guiné 63/74 - P2758: Blogoterapia (47): O tédio que às vezes nos invade (Torcato Mendonça / Carlos Vinhal / Virgínio Briote)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339, Os Viriatos (1968/69)> "Campo fortificado", chamava-lhe o PAIGC. "Colónia de férias", brincavam os tugas... E o tédio dos dias... que custavam a passar ?

"Uma clareira aberta no mato a golpes de catana e de motosserra, guarnecida de arame farpado, artilharia e abrigos-casernas à prova de canhão sem recuo (?), eis Mansambo. Os guerrilheiros chamam-lhe campo fortificado mas como este aquartelamento de mato há muitos – dizem-me – sobretudo no sul, e que são verdadeiros abcessos de fixação.

“Não há pista de aviação. Não há população civil, excepto meia dúzia de guias nativos com as respectivas famílias. Ora o isolamento nestas circunstâncias acarreta toda uma séria de perturbações psicológicas e até mentais. Apanhado pelo clima é a expressão que se utiliza na gíria deste universo concentraccionário em que se transformou a Guiné” (Luís Graça, Setembro de 1969).

Na Foto, um jovem turco tentando, em vão, vender peles de animais à porta de um abrigo-caserna... O tédio ? Usava-se a palavra em tempo de guerra ? Não sei, não me lembro... (LG)

Foto: ©
Torcato Mendonça (2008). Direitos reservados


1. Mensagem de 2 de Abril de 2008, do nosso amigo e camarada Torcato Mendonça:

Caros Editores:

Breve, muito breve, o suficiente para vos dizer que, o que venho sentindo alguma razão terá e não é mero fruto de alucinação.

Efectivamente ou este espaço caminha, de forma efectiva, para uma desejada pluralidade ou, pelo contrário, algo perturba alguns escritos (ou certas pessoas?)... Pensamos pela positiva, sempre pela positiva… mas!?... Para certos peditórios já dei… não é comigo e nisso não estou de modo algum interessado. Ou não tenho capacidade de entender… Que interessa isso? Nada, pode argumentar-se.

Sinto a memória a fechar-se, o tempo a regredir lentamente, o tédio a instalar-se. Problema meu, pois certamente há, felizmente, alguns ou muitos a pensar de forma diversa. Há ainda os de espírito mais esclarecido. Felizmente para eles, pois assim, melhor alcançarão o Reino dos Céus…

Bem hajam pela leitura e a todos um forte abraço do
Torcato Mendonça




2. Resposta do Carlos Vinhal, co-editor:

Caríssimo camarada e amigo Torcato:

A melhor maneira de combater o tédio é continuar interventivo, usando, como é teu timbre, ironia, sarcasmo e capacidade de crítica, sempre em doses correctamente servidas. Remédio indispensável para manter as massas activas.

Camarada, desistir nunca. Não podemos dar as costas ao inimigo.

Desculpa a brincadeira. É só para te animar, já que parece estamos todos carentes de algum ânimo. Não posso imaginar o Blogue sem determinadas participações. A tua é uma delas. Contamos contigo, não só com as tuas estórias, mas também com as tuas críticas sempre na hora.

Aquele abraço do
Carlos


OBS - Aprendi muito novo que aquilo que hoje parece importante, amanhã é nada, está esquecido. Por outro lado, em todos os lugares e em todas as funções, só faz falta quem está. Não me obrigues a particularizar.


3. Mensagem do Virgínio Briote, enviada ao Torcato, com conhecimento ao resto da equipa editorial, LG e CV.


Caro Camarada e Amigo (espero que não leves a mal por te tratar assim) Torcato:

Não sou do teu tempo, sou mais antigo na tropa e, como te habituaste a ouvir vezes sem conta (se calhar, vezes demais), a antiguidade naqueles tempos era um posto. Não quero com isto dizer que sou eu que tenho razão, já naqueles tempos nem sempre o era (como comprovámos vezes e vezes) quanto mais agora que nos fartamos de ouvir exactamente o contrário. Esta mistura de palavras é, ou quero com elas dizer, que o tédio não te pertence em exclusivo.

Depois de me ver obrigado a antecipar a reforma, por causa do aneurisma que me acompanha há meia dúzia de anos, vi-me pela primeira vez na minha vida sem objectivos. Aquela história que, com a idade que nos pertence, nos acontece.

E agora, que porra!, sem ter para onde olhar, a não ser para esta avenida com mais carros que gente, e agora? Papelada e livros arrumados e limpos dos pós, cinemas de Lisboa vistos, acompanhado do silêncio de uma pessoa só, PC à frente e sem grande vontade de o abrir, cansado por tantos dias e noites de o ver aberto no Excel, com os objectivos, as percentagens e o que faltava para os atingir, a cabeça às voltas, madrugadas, o PC na cama, acordar com ele ainda aberto, em rede com a sede em Lisboa e com a casa mãe em Basileia, nem vontade tinha de o abrir.

Público lido, anúncios classificados de casas para vender, alugar e trespassar, massagens e botões de rosa feitas por garotas sedentas, filmes, tudo lido, naquele dia abri-o mais por hábito e náusea do que por qualquer outra coisa. A olhar para o écrã, se calhar durante minutos (o tédio, o tal), lembrei-me da palavra Guiné.

Nem hoje sei porquê, escrevi-a no Google e, rápido como costuma ser, surgiram-me alguns locais para visitar. Pois que seja, não me lembro de o ter dito, mas deve ter sido assim que vim ter com o blogue do Luís Graça.

Guiné era uma palavra emprateleirada para mim, um caso arrumado há quase quarenta anos. À medida que fui lendo, o interesse foi aumentando, voltei a ver-me naqueles tempos e naquelas terras. Passei a ser um cliente diário, até que, vencida a relutância inicial, resolvi apresentar-me ao serviço outra vez.

Depois, é o que tens visto, continuo fiel à loja, embora nem sempre fique satisfeito com a qualidade do serviço. Estou, calculo como tu, numa fase de algum cansaço e saturação. Muitas vezes digo para mim que a Guiné foi chão que deu uvas, não há mais nada para dizer, toca mas é a fechar a porta e encerrar, o balanço já está feito por qualificados contabilistas. Por outro lado, dou também por mim a pensar que o que aconteceu comigo pode estar a tocar a outros Camaradas e isto tem-me obrigado a resistir e a ficar. E não falo agora do que se fala do blogue, que é comprometido com a esquerda, com a direita e com o centro, com os centros esquerdo e direito, com o rés do chão para já não falar de caves e sótãos. Como tu escreves, já dei para esse peditório.

O que me leva a abrir o blogue todos os dias é rebobinar os tempos que passei naquela terras e reviver a camaradagem que nunca mais a senti como naqueles anos. É isto que me leva a permanecer de sentinela no posto 4 em Cuntima, na companhia do s/r e de uma grade de bazookas, a contar as estrelas enquanto de muito longe, vindos dos lados do Senegal, toques de batuque soam ora muito nítidos ora esfumados.

Desabafei contigo, Caro Torcato, de rajada. Como se estivesse ao teu lado em Mansambo ou naquelas terras enlameadas que ninguém sabia se eram definitivamente do Corubal, como muitos dos que lá vivem hoje também não devem saber.
Um abraço,
vb

4. Novo comentário do Torcato, com data de 3 de Abril:

Citando António Lobo Antunes: Camarada, só quem esteve na guerra compreende inteiramente o sentido: não é bem irmão, não é bem amigo, não é bem companheiro, não é bem cúmplice, é uma mistura disto tudo com raiva e esperança e desespero e medo e alegria e revolta e coragem e indignação e espanto, é uma mistura disto tudo com lágrimas escondidas…

Não fui correcto por não ter respondido ao Carlos Vinhal, ontem ou hoje. Escrevi ao Virgínio Briote e não vou reler, nem o meu nem o texto dele. Martela, martela ainda como, há horas atrás, quando o li. Foi um entrar de ideias de coisas de vidas. É bom ler assim ou o de ontem, de forma diferente, mas a sentir porque ambos são sentidos… só nós sabemos porquê…ou por isso;

Vá-se lá saber porquê ou todos sabemos o porquê, a razão deste meu enfado, deste meu tédio, desta dispensável leitura de certos escritos (posts) de redondilha (não de verso mas de rabo na boca) …diz tu, direi eu, mete tu, meto eu…e mais...

Camaradas e Amigos: não posso, com as minhas emoções despoletar algo a que não tenho direito. Menos ainda gerar inquietações. Não. Isso não. Tranquilidade.

Tinha uma reunião que se foi. Ainda bem.

Martela o texto e ainda o vou reler. Ontem dizia o C. Vinhal: O que parece ter muita importância hoje, amanhã não. Referia-se à razão do tédio. Talvez.

Mas parece-me que regressei lá – ou nunca de lá saí? – é no que dá.

O Luis Graça é homem gerador de consensos em saberes sobre mentes perturbadas…a minha, claro. Não é, Camarada?

Boa noite e bom descanso. Fico por aqui. Sossegado, só, não desgosto, até gosto, mas…um período sabático até faz bem... De quanto? Bhá... de... ? Faz bem á bomba que não gosta de muita excitação... mas descansa na escrita e em certas leituras.

Recebam um abraço do,

Torcato Mendonça


5. Mensagem do V.B., respondendo ao L.G., que sugeriu que se publicasse estes nossos pensamentos em voz alta, tanto ao estilo do (ainda felizmente activo e nunca desactivado) blogue Tantas Vidas... [O blogue Guiné, Ir e Voltar, do Gil [Duarte], ou melhor do V.B.]... Um blogue intimista sobre a arte da guerra e do amor em tempo de guerra, da amizade, da camaradagem, da solidariedade, da cumplicidade, da alegria de viver, da recusa da lógica estreita do matar para não morrer, da memória, do retorno, do ir e voltar...


Caro Luís:

Há tipos que se podem ofender. É protagonismo em excesso. Não tenho coragem, tenho vergonha e já não tenho cão. Mas não me oponho a que tu ou o Carlos publiquem. Tirar o botão de rosa, é capaz de ser mais conveniente para não ofender a moral de alguns.

Um abraço,
vb

PS - Tive críticas negativas ao Tantas Vidas, quando o acabei. Da Maria Irene e dos meus filhos. Que nunca pensaram ter em casa um escritor de novelas erótico-pornográficas. Ri-me com eles e nunca mais falámos do assunto.


6. Novo comentário do Torcato Mendonça, de 6 de Abril:

Cheguei a casa e, por esquecimento meu, isto estava aberto. Antes de fechar cliquei no blogue e li…passei ao Outlook e zás, e zás…li em solavancos, entre limpidez e névoas, parando e lendo… parando e pensando, relembrando, cogitando: mas que gaita… a que puta de raça pertencemos nós… E ainda por cima, como diz o Abrunhosa, quem me leva os meus fantasmas, quem me leva os meus fantasmas, quem me faz ir não indo ou voltar…um pouco atrás…

É de facto o tédio, o escrito a puxá-lo… Ontem fartei-me e teclei e o Carlos Vinhal respondeu… e hoje dizes tu em escrita com leitura de solavanco e névoa…. Meus Amigos e Camaradas: eu fico agora brevemente na penumbra, a noite está a descer a mulher certamente a chegar. Cansada, stressada…e eu na penumbra espero... Só teclar no enviar… Abraços

Torcato Mendonça