Lourinhã, jardim da Senhora dos Anjos, c. agosto / setembro de 1947 >
Luis Henriques (1920-2012) com o filho primogénito, Luís Graça,
ao colo da mãe, aos 8 meses, Maria da Graça (1922-2014)
Foto: arquivo da família.
Fotos (e legendas): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.
Lembrando, no centenário do seu nascimento, a popular figura do lourinhanense Luís Henriques, o “Ti Luís
Sapateiro” (1920-2012) - Parte I
1. Figura muita popular e querida da sua terra, nasceu há 100
anos, na Lourinhã, em 19 de agosto de 1920 e morreu com 91 anos, os últimos cinco dos quais passados
no Lar e Centro de Dia de N. Sra. da Guia, na Atalaia.
Devido à atual pandemia de Covid-19, a família e os amigos vão ter que adiar a singela homenagem que tencionavam fazer-lhe, no corrente mês de agosto, a 22, no centenário do seu nascimento.
Haverá no entanto um missa em Ribamar, Lourinhã, terra da sua avó materna, no próximo sábado, dia 22, às 18h30. Os familiares e amigos que puderem e quiserem comparecer (dentro do limite dos menos de 100 lugares disponíveis na igreja da paróquia de Ribamar) serão bem vindos.
Está prevista ainda, em tempo oportuno,a publicação, pela família, de um pequena brochura, incluindo pequenos depoimentos daqueles que com ele ainda conviveram, nomeadamente filhos, netos e antigos jogadores do Sporting Clube Lourinhanense, das camadas mais jovens, que ele acarinhou, treinou e formou. Haverá também um almoço de "confraternização" entre família e amigos, bem como um jogo de futebol entre antigos jogadores treinados por ele.
A família recordo-a, pelo "grande exemplo de vida que nos deu na sua passagem pela terra" e como "lourinhanense que amava a sua terra, as suas gentes, a sua família"... "Conversador incansável que falava em verso, contador de histórias, que em todos via um amigo, apaixonado pelo futebol, pelos jovens que com amor treinou e ensinou, e com um coração enorme que sabia repartir por quem tinha menos do que ele" ("Alvorada", 7 de agosto de 2020, pág. 28).
Apresentamos hoje um breve resumo da sua história de vida que é também a história de muitos portugueses da sua geração, mobilizados durante a II Guerra Mundial, para defender a soberania portuguesa, nomeadamente nas ilhas atlânticas (Madeira, Açores e Cabo Verde)...
O jornal quinzenário "Alvorada", com sede na Lourinhã, na sua última edição (nº 1285. de 7 de agosto de 2020 , pp. 26-27), publicou um extenso texto, da autoria de Luís Graça e família, e que tomamos a liberdade de reproduzir com as necessárias adaptações, acrescentando-lhe mais fotos e texto de um brochura em preparação.
Cabo Verde > São Vicente > Mindelo > 1941 > Luís Henriques.
1º Cabo Inf da 3ª Companhia do 1º Batalhão do RI5. unidade mais tarde
integrada no RI 23. Foto:arquivo de família.
Luís Henriques (1920-2012), pai do nosso editor, Luís Graça, tem mais de 40 referências no nosso blogue, e nomeadamente na série "Meu pai, meu velho, meu camarada".
Era casado com Maria da Graça (1922-2014), doméstica. Deixou, como descendentes, 4 filhos (Luís, Graciete, Maria do Rosário e Ana Isabel), 12
netos, 8 bisnetos. Era filho de Domingos Henriques Severino, natural do
Montoito, e de Alvarina de Sousa, natural da Lourinhã, mas com raízes em
Ribamar.
Tinha raízes, pelo lado do pai, Domingos Henriques Severino, no Montoito, e pelo lado da avó materna, Maria Augusta de Sousa, em Ribamar. Ficou órfão, aos 2 anos, de sua mãe, Alvarina de Sousa, natural da Lourinhã.
O meu avô
paterno, que ainda conheci na infância, terá morrido também com 91 anos. Usava
muletas e fumava a sua “beata”: é a imagem que eu tenho dele. Dizia o meu pai
que ele “tinha ficado mal das pernas por causa dos resfriados do mar”: como
muitos agricultores das zonas ribeirinhas (Montoito, Atalaia, Areia Branca, Ribamar,
Porto Dinheiro...), era também nos tempos livres um mariscador, dedicando-se à
apanha tradicional de polvos e crustáceos.
Domingos
Henriques Severino [, ou só Domingos Henriques,] foi
homem de teres e haveres (, tinha “sete fazendas e três pinhais”, dizia-me o
meu pai), tendo casado três vezes. Do primeiro casamento, não teve filhos: a
esposa era de Torres Vedras, de uma família conhecida, os Fonsecas, ligada ao
comércio automóvel; do segundo matrimónio, teve o meu pai (Luís Henriques, de
seu nome completo), e o meu tio (e
padrinho de batismo), Domingos Inocêncio Severino, já falecido. É estranho os
dois irmãos não terem o mesmo apelido, mas era frequente na época, um filho
ficar com um primeiro apelido do pai (neste caso, Henriques), e outro filho
ficar com o segundo apelido paterno (,
no outro caso, Severino).
Do terceiro
casamento, o meu avô teve "uma equipa de futebol e um suplente", como
dizia, com graça, o meu pai. Casou com um senhora que era mãe solteira, natural
da Zambujeira ou Serra do Calvo. (Trazia pela mão o Manuel “Ferrador”, o
“suplente”.)
De entre
esses meios- irmãos, destaca-se o Afonso Henriques, o “Afonso das Bicicletas”,
também figura popular na sua terra, pela sua paixão pelo ciclismo. (Tinha uma
oficina de reparação de bicicletas e motorizadas, a Casa Osnofa, na Rua Miguel Bombarda, nº 17)
Alvarina de Jesus Sousa: s/d, c.
1920.
Foto: arquivo da família.
A mãe do meu pai era a Alvarina de Jesus Sousa [, foto acima], filha de Francisco José Sousa, da Lourinhã, comerciante de peixe, e de Maria Augusta, de Ribamar.
Morreu
jovem, em 1922, de tuberculose, terrível doença da época, facto que marcou o meu pai para toda a vida: a mãe nunca lhe pôde dar um beijo, punha-lhe apenas a mão, ou
a ponta de um dedo, na cabeça, na testa
ou na face… (Pergunto-me: como é que um miúdo de dois anos pode ter essa
recordação ?... Muito provavelmente, os tios contaram-lhe.)
E, nos seus
três últimos dias de existência, em que eu tive o privilégio de o acompanhar no
seu leito de morte, evocou o nome da mãe Alvarina, por mais de um vez.
Maria Augusta de Sousa (Ribamar,
1864- Lourinhã, c.1934). S/ d.
Foto: arquivo da família.
A sua avó materna,
Maria Augusta, nasceu em 28 de outubro de 1864, em Ribamar, ou melhor, em Casais
de Ribamar, hoje integrados na vila de Ribamar. Pertencia ao clã Maçarico:
filha de Manuel Filipe e Maria Gertrudes. ( A sua ascendência está documentada
até, pelo menos, a meados do séc. XVIII.)
Veio a casar na Lourinhã, com um peixeiro, Francisco
José de Sousa (1864-1939). O casal teve 7 filhos. Terá
morrido com “cerca de 88 anos”, segundo o meu pai, ou seja no início dos anos
50, o que ponho em dúvida. Já li ou ouvi algures outras datas: 1920, 1934…
O Luis Henriques, órfão aos dois anos, viveu nos primeiros anos de infância com a nova família do pai, que casou pela terceira vez. Ao todo teve uma dúzia de irmãos. Fez a instrução primária (na época quatro anos de escolaridade) na velha Escola Conde de Ferreira, (demolida pelo camartelo camarário antes do 25 de abril), sob a direção do saudoso Prof José António Simões Silva (1898-1964) que ainda conheci na minha infância e adolescência, pai do nosso conterrâneo Jorge Pedro e sogro da minha professora do ensino primário (da 2ª `4ª classe) e da admissão ao liceu, a dona Maria Helena Perdigão (, felizmente ainda viva).
Lourinhã, c. 1950/60: traseiras da escola Conde Ferreira, para rapazes (à direita) e raparigas (à esquerda). Edifício infelizmente demolido pelo camartelo camarário, "em nome do progresso"...
Em segundo plano, a igreja matriz da Lourinhã (séc. XVII) e a sua torre sineira. Fazia parte do convento de Santo António (fundado em finais do séc. XVI). Em primeiro plano, junto ao muro do recreio da escola das raparigas, o urinol público...
Foto: cortesia de Lourinhã Noutros Tempos, página do Facebook editada pela ADL Lourinhã - Associação de Desenvolvimento Local da Lourinhã
Lourinhã > Rua Miguel Bombarda, equivalente hoje ao nº 36 >
Loja de Manuel Lourenço da Luz: Artigos Fotográficos…
Mas também vendia “fazendas de lã e algodão, chapéus e sombrinhas”… S/d.
Foto: cortesia de Lourinhã Noutros Tempos,
página do Facebook editada pela ADL Lourinhã - Associação
de Desenvolvimento Local da Lourinhã
O seu primeiro emprego, em 1929¸ ainda com nove anos, foi como… “máquina registadora e de
calcular”, nas duas lojas do fotógrafo e comerciante Manuel Lourenço da Luz,
que veio da Praia da Vieira (n. 1903), para a Lourinhã, na segunda década do
séc. XX, e que foi pai do conhecido fotógrafo lourinhanense António José
Ferreira da Luz (Foto Luz) (, mais tarde, estabelecido em Angola).
Não sei em que circunstâncias ele foi trabalhar, depois de acabada a 4ª classe. Tinha apenas nove anos....Por um lado, era órfão de mãe e o pai tinha uma família numerosa a sustentar. Por outro, ele era “bom nas contas de cabeça”, razão por que terá sido contratado pelo comerciante Manuel Lourenço da Luz.
O meu pai recordava-se de, no verão, estar na loja da Praia da Areia Branca (, cujo plano de urbanização data dessa época, c. 1919/20), e de à segunda-feira ir com o patrão, caçar patos e perdizes, na foz do Rio Grande bem como ao longo do rio e nas dunas. (Essa loja situava-se na artéria principal na Praia, hoje Av António José do Vale, numa das primeiras casas térreas que se terão contruído nos anos vinte, ao lado do atual café Topa Mar, talvez no nº 40).
Tendo o seu pai casado pela terceira vez, e tendo este uma
prole numerosa, aos 13 anos, por volta de 1933/34, o Luís Henriques terá uma
nova família de acolhimento, a do seu tio materno, Francisco José de Sousa Jr. (de alcunha, “Fofa”), industrial de
sapataria e músico, membro da então Banda dos Bombeiros Voluntários da Lourinhã
(, atual Banda da AMAL - Associação Musical e Artística Lourinhanense, cujo
presidente da direção é um seu neto, Paulo José de Sousa Torres).
Aprende, como tio, o
ofício de sapateiro. É criado com os seus primos António Francisco Sousa,
Carlos Andrade de Sousa e Maria de Lurdes Andrade de Sousa, “Milu” [, esta felizmente ainda viva; e todos eles com excelentes
dotes musicais: o António tocava saxofone e fundou a primeira "banda de
música ligeira” da terra, o conjunto Sol
Do Ré Mi, onde tocou, também, entre outros o Manuel “Swing” (, estava na moda,
no pós-guerra, o jazz); o Carlos era um especialista em pratos na banda da
Lourinhã; e a “Milú” uma bela menina de coro, mãe do atual diretor da AMAL,
Paulo José de Sousa Torres)].
Curiosamente,
o meu pai nunca teve inclinação por nenhum instrumento, se bem que fosse sócio e
admirador entusiástico da Banda, e gostasse de cantarolar.
Em 5 de
setembro de 1940, “vai às sortes”, é apurado para todo o serviço militar.
Aos 20 anos assenta praça no Regimento de Infantaria nº 5
(RI 5), Caldas da Rainha, que ficava a trinta quilómetros de casa. Ia e vinha à Lourinhã, de bicicleta, aos fins de semana, por estradas ainda macadamizadas... Até aos setental e tal anos, andava, todos os dias de bicicleta, até ao dia em que as pernas comneçaram a falhar: tinha treino e constituição de atleta.
Em 18 de julho de
1941 parte para o Mindelo, Ilha de São Vicente, Cabo Verde, como
expedicionário, com o posto de 1º Cabo de
Infantaria da 3ª Companhia do 1º Batalhão do RI5, que vai integrar, mais tarde, o RI
23. Namora já a futura esposa, Maria da
Graça, que era natural do Nadrupe e que trabalhava em Lisboa (e depois na vila) como “criada de servir”.
Lourinhã > 5/9/1940 > “Os meus camaradas no dia das sortes”, lê-se no verso
da fotografia Luís Henriques é o do meio, na fila de pé.
Foto: arquivo da família
Caldas da Rainha > "15/7/41. A despedida das tropas expedicionárias
de Cabo Verde. R.I. 5, Caldas da Rainha. Luís Henriques"
[1º Cabo Inf da 3ª Companhia do 1º Batalhão do RI5].
Foto: arquivo da família.
A viagem das forças expedicionárias do RI 5 (e de outras
unidades) foi no T/T
"Mouzinho", da Companhia Colonial de Navegação, com
partida no Cais da Rocha Conde de Óbidos, conforme notícia do "Diário de
Lisboa", desse dia 18/7/1941. Salazar, em pessoa, assistiu à cerimónia. O
navio chegou ao Mindelo em 23/7/1941.
Diário de Lisboa (diretor: Joaquim Manso),
sexta-feira, 18 de julho de 1941, p. 5,
Cortesia da Fundação Mário Soares > Casa Comum > A
rquivos > Diário de Lisboa / Ruella Ramos.
As viagens dos nossos navios de transporte de tropas (T/T),
para as diferentes partes do "império", não eram isentas de risco... O oceano
Atlântico foi palco de sangrentas batalhas durante a II Guerra Mundial. Países neutrais como Portugal tinham
de pintar os seus navios de pesca e da marinha mercante com gigantescas
bandeiras e o nome do país nos cascos das embarcações.
Os nossos navios eram frequentemente intercetados tanto pelos Aliados como pelas potências do Eixo (e
em especial pelos alemães, cujos submarinos "infestavam" o
Atlântico...). Onze navios, sob bandeira portuguesa, foram afundados, durante a
II Guerra Mundial, entre 1940 e 1943, não obstante as embarcações estarem
claramente identificadas como sendo oriundas de Portugal, "país
neutral": 1 em 1940; 4 em 1941; 4 em 1942; e 2 em 1943.
Ilha da Madeira > Funchal > s/d [c. 1941] > "O Paquete Mouzinho. Oferecido
pelo meu amigo [e conterrâneo, da Lourinhã] José B[oaventura] Lourenço [Horta]
no dia em que o fui visitar ao Hospital em São Vicente. 26 de Julho de 1942." É provável que o José Boaventura Horta tivesse adquirido a foto a bordo. E, se não erro, o amigo do meu pai, meu conterrâneo e meu vizinho (no tempo em que vivi na Lourinhã, menino e moço) era da arma de artilharia (6ª Bateria Antiaérea do Grupo de Artilharia Contra Aeronaves)
Foto: arquivo da família
Os portugueses, hoje,
não conhecem de todo o enorme esforço militar, humano e financeiro que o país fez, na
época da II Guerra Mundial, para garantir a soberania portuguesa nos
territórios ultramarinos. Portugal manteve um exército de cerca de 180 mil homens nessa época. Em Cabo Verde chegou a temer-se a
invasão dos alemães e dos italianos, dado o valor estratégico do arquipélago, à
semelhança do arquipélago dos Açores, cobiçado pelos aliados.
Tal como no caso dos Açores (cuja guarnição militar foi
reforçada com 30 mil homens), para a defesa de Cabo Verde, e sobretudo das três ilhas com maior importância geoestratégica, a
ilhas de São Vicente, Santo Antão e Sal,
foram mobilizados 6358 militares, entre 1941 e 1944, assim distribuídos:
(i) 3361 (São Vicente):
(ii) 753 (Santo
Antão);
e (iii) 2244 (Sal).
Mais de 2/3 dos efetivos estavam afetos à defesa do Mindelo (, ou seja, do porto
atlântico, Porto Grande, ligando a Europa com a América Latina, a par
dos cabos submarinos).
Só havia “vapor” (barco), com mantimentos e correio, de dois
em dois meses… A saudade da terra era mitigada pela presença de diversos
lourinhanenses, o furriel miliciano António Correia Caxaria (1917-2020), o
Jaime Filipe, ambos da Atalaia, o Boaventura Horta, da Lourinhã, o Leonardo,
da Serra do Calvo, e outros, que pertenciam à mesma unidade (RI 23,
constituído na Ilha de São Vicente, 1941/44).
Numa época de elevado analfabetismo (, mais de 40% no grupo
etário dos 20-24 anos, em 1940), sacrificava os seus tempos livres escrevendo
dezenas de cartas por semana em nome de muitos dos seus camaradas. Aos 91 anos
ainda se lembrava dos números de tropa (!) de alguns dos seus camaradas, e até
das moradas (!) para onde enviava as cartas.
A seca e a fome que assolaram Cabo Verde nessa época, e que
fizeram milhares e milhares de mortos [inspirando o romance de Manuel Ferreira
(1917-1992), “Hora di Bai”, publicado em 1962, tiveram impacto na consciência
de bom português, bom cristão e bom
lourinhanense, que era o 1º cabo Luís Henriques. O seu "impedido", o
Joãozinho, que ele alimentava com as suas próprias sobras do rancho, também ele
morreu, de fome e de doença, em meados de 1943.
Os antigos expedicionários de Cabo Verde desta época
continuaram a encontrar-se durante muitos e muitos anos, até à década de
1990... O Luís Henriques costumava ir
aos encontros do 1º Batalhão do RI 5, nas Caldas da Rainha... até que as pernas
começarem a falhar e a maior parte deles, dos seus camaradas, acabou por
morrer. O mesmo se passava com os outros regimentos: RI 7 (Leiria), RI (11
(Setúbal), RI 15 (Tomar)... Cabo Verde, a sua “morabeza”, ficou-lhes no coração para sempre...
(Continua)
___________
Nota do editor:
Útimo poste da série > 2 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21031: Meu pai, meu velho, meu camarada (61): In Memoriam: António Correia Caxaria (Atalaia, Lourinhã, 17/12/1917 - São Bartolomeu dos Galegos, Lourinhã, 1/6/2020): o últmo expedicionário de Cabo Verde, ex-fur mil, RI 5 / RI 23, São Vicente, 1941/43