quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20440: Historiografia da presença portuguesa em África (191): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (6): "O Império Marítimo Português”, por Charles Ralph Boxer; Edições 70, 2017 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Janeiro de 2019:

Queridos amigos,
Os documentos falam por si, as nossas práticas coloniais pautaram-se pela discriminação e preconceito de caráter racial, não se podem abafar as provas. A questão não teria nada de grave se acaso não se tivesse fabricado o argumento propagandístico, para uso nacionalista, que a presença portuguesa na esfera colonial era multirracial, civilizadora e sustentada por valores humanistas e uma profunda tolerância religiosa. Não só não foi assim como na envolvente do tráfico negreiro se usaram práticas comuns às outras potências coloniais.
Como iremos proximamente apreciar.

Um abraço do
Mário


A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (6)

Beja Santos

Fez-se referência a uma obra de leitura obrigatória para entrar numa discussão fundamentada se houve ou não, e com que extensão, racismo no colonialismo português: “O Império Marítimo Português”, por Charles Ralph Boxer, introdução de Diogo Ramada Curto, Edições 70, 2017. O eminente historiador britânico lança-se na discussão com muitíssima documentação, e mostra à saciedade como as ordens religiosas praticavam no Oriente uma ostensiva discriminação, europeus de um lado, os muitos outros do outro. A situação brasileira era igualmente delicada, e a legislação que visava aplainar diferenças entre brancos, aborígenes cristianizados, mulatos e pretos, era muitas vezes letra morta. Os candidatos à ordenação deviam ser, entre outras coisas, isentos de qualquer mácula racial de “judeu, mouro, mourisco, mulato, herético ou de outra alguma infecta nação reprovada”. Nada de sangue impuro. Tal como tinha acontecido na Índia portuguesa, desenvolveu-se no Brasil uma rivalidade considerável entre os frades crioulos e os seus colegas de origem europeia.

Referiu-se anteriormente que não há abordagem linear nesta questão, há matizes de complexidade, e Boxer não foge a exemplificações que a fazem avultar. Os monges Beneditinos do Rio de Janeiro educavam alguns mulatos descendentes de mães escravas mas não admitiam mulatos nas fileiras da sua própria Ordem. A discriminação racial, omnipresente na Igreja que pregava ostensivamente a fraternidade, estendia-se a outras profissões: Forças Armadas, administração municipal e corporações nos artífices. Para ser admitido na Ordem de Santiago era preciso provar ser de sangue nobre e de nascimento legítimo, “sem qualquer mistura racial, ainda que remota, de mouro, judeu ou cristão-novo”, havendo posteriormente de provar que os pais e avós de ambos os lados "não haviam nunca sido pagãos, rendeiros, cambistas, mercadores, usurários nem empregados do mesmo género”.

Mas uma coisa eram os princípios, outra a prática, como Boxer exemplifica. A João Baptista Lavanha, Matemático-Chefe e Cosmógrafo Real de Portugal em 1591, foi concedido o grau de Cavaleiro da Ordem de Cristo, se bem que fosse descendente de judeus de ambos os lados. Um ameríndio puro, Dom Filipe Camarão, e um negro puro, Henrique Dias, obtiveram ambos o Grau de Cavaleiro da mesma Ordem pelos notáveis serviços prestados na luta contra os holandeses no Brasil.

E escreve Boxer:
“As desqualificações raciais limitavam-se inicialmente a indivíduos descendentes de judeus, mouros e hereges, tratando-se tanto de um preconceito religioso, como racial; mas, desde o início do século XVII, fazia-se uma discriminação legalizada e específica contra negros e mulatos, por causa da ligação estreita entre a escravatura humana e o sangue negro. Este facto foi confirmado e renovado por uma lei promulgada em Agosto de 1671, que relembrava que ninguém com sangue judeu, mourisco ou mulato, ou casado com uma mulher nessas condições, estava autorizado a ocupar qualquer posto oficial ou qualquer cargo público”.

Críticas a estes procedimentos foram muitas, e Boxer recorda-as, e depois volta a escrever o seguinte:
“Se os negros, mulatos e todos os indivíduos com mistura de sangue africano foram considerados durante séculos ‘pessoas de sangue infecto’ no Império Português, o mesmo aconteceu com os descendentes dos judeus que haviam sido convertidos à força ao catolicismo em 1497. A partir de então, a sociedade portuguesa ficou dividida em duas categorias, cristãos-velhos e cristãos-novos, e assim continuou durante quase três séculos (…). Infelizmente para os cristãos-novos, depois de 1530 nunca mais puderam contar com a protecção da Coroa, que, a partir de então, se colocou ao lado dos seus perseguidores. D. João III havia acabado de se convencer da realidade da ameaça dos cristãos-novos, e, por insistência sua, foi introduzido em Portugal o Santo Ofício da Inquisição”.
A vida dos cristãos-novos transformou-se num verdadeiro calvário, o alívio chegou com a revolução liberal de 1820.

Concluído o exame da pureza de sangue e das raças infectas, Boxer faz uma apreciação dos conselheiros municipais e dos irmãos de caridade. Diz que os portugueses conseguiram transplantar e adaptar com êxito estas instituições metropolitanas para meios exóticos, mas com menos severidade, havia discriminação racial.
E escreve:  
“A tendência foi para manter o elemento branco dominante durante o maior prazo de tempo possível. Isso aconteceu sem dúvida em locais como a Baía e o Rio de Janeiro, onde havia todos os anos uma penetração de sangue branco vindo de Portugal, e onde se havia fixado e estabelecido uma aristocracia local de senhores de engenho (…). Os preconceitos contra os cristãos-novos duraram também muito na administração principal. D. Manuel, apesar de os ter obrigado a converterem-se à força, fez posteriormente tudo o que pôde para integrar estes convertidos na sociedade portuguesa. Até 1572, a guilda dos ourives de Lisboa elegia ainda os seus representantes numa base de igualdade entre cristãos-velhos e cristãos-novos”.
Passando para a análise dos irmãos de caridade, os estatutos da Misericórdia eram bem claros: pureza de sangue logo em primeiro lugar.
E para que não haja lugar a dúvidas escreve:  
“As Misericórdias, tal como as irmandades religiosas exclusivamente para brancos, eram, de um modo geral, se bem que não invariavelmente, defensoras acérrimas da superioridade étnica da raça branca e das distinções classistas”.
Estas discriminações e preconceitos estendiam-se também ao funcionamento da administração, incluindo as câmaras municipais.

E voltando a falar de preconceitos, oiçamos o que escreve Boxer:
“Os preconceitos não oficiais eram muito mais profundos e duraram muito mais tempo do que as atitudes oficiais variáveis no que diz respeito a relações raciais. A correspondência de sucessivos vice-reis, desde o século XVI ao XIX, é fértil em queixas acerca da inferioridade moral e física, real ou pretensa, dos mestiços e canarins em relação aos Portugueses nascidos e educados na Europa. Sempre que possível, os vice-reis e governadores colocavam brancos nos cargos militares e administrativos mais importantes, tal como o faziam os arcebispos e os bispos quando escolhiam os ocupantes para altos cargos eclesiásticos. Os conselheiros municipais de Goa, a maioria dos quais eram casados com mulher euroasiáticas, queixavam-se à Coroa em 1607 de que quando havia comandos militares ou cargos governamentais que ficavam vagos, estes eram atribuídos a adolescentes recém-chegados de Portugal que nunca haviam assistido a qualquer combate”.

E vamos ver seguidamente as conexões entre escravatura e racismo, escolhe-se o exemplo do que era ser escravo em S. Tomé e, por outra via, far-se-á alusão às rotas da escravatura entre meados do século XV e finais do século XIX.

(continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 4 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20414: Historiografia da presença portuguesa em África (190): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (5): "O Império Marítimo Português”, por Charles Ralph Boxer; Edições 70, 2017 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20439: Feliz Natal de 2019 e Bom Ano Novo de 2020 (2): José Belo, o nosso camarada que tem o privilégio de ser vizinho do Pai Natal...


Foto nº 1 > "Mesmo que dentro do Círculo Polar Ártico o Natal é sempre quente !"... Mas aqui, na Lapónia sueca, até a rena tem nome bem português: "Chaparro “: e o dono diz  "poder garantir que é o único com esse nome entre os muitos milhares de alimárias locais"....


Foto nº2  >  A sede da Tabanca da Lapónia... Na  Lapónia sueca, esta é a casa da família Belo:  "uma casa com pão e vinho sobre a mesa e um cheirinho a alecrim!... ou seja, é uma casa  portuguesa, com certeza".

Fotos (e legendas): © José Belo (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem natalícia de José Belo, o nosso grã-tabanqueiro têm o privilégio de ser vizinho do Pai Natal. 

Recorde-se que ele:

(i) é  régulo da Tabanca da Lapónia, membro da Tabanca Grande, tem mais de 135 referências no nosso blogue:

(ii) jurista, vive na Suécia há mais de 4 décadas, e onde constituiu família: continua a ter uma pontinha de orgulho nas suas velhas raízes portuguesas,


(iii) foi alf mil inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70;


(iv) está reformado com  cap inf;

(v) reparte os dias do ano entre a Suécia, o círculo polar ártico, e Key West, na Flórida, EUA, onde a família tem negócios;



De: Joseph Belo
Date: segunda, 9/12/2019 à(s) 16:31
Subject: Votos de Natal

"Mesmo que dentro do Círculo Polar Árctico o Natal é sempre quente !" (Foto nº 1)

Tendo como vizinho próximo a casa do Pai Natal situada,  junto à  cidadezinha finlandesa de Rovaniemi (, a viajar-se em linha reta, seräo cerca de 350 quilómetros, o que nas distäncias da Lapónia não é nada tendo em conta que o meu vizinho mais próximo vive a 279 quilómetros da minha casa), näo posso deixar de "retransmitir" a todos os camaradas e suas famílias uma mensagem de Paz e Felicidade, vinda das...origens.

Nestes momentos tão especiais é impossível não deixar de recordar todos os camaradas da Guiné que já näo estão entre nós.

No entanto devemos lembrar-nos que, como nas matas e picadas de então,eram sempre os melhores de entre nós que seguiam à frente.

Mas este é um período do ano em que os pensamentos deverão prioritizar as novas gerações, os netos e crianças em geral.

Com tudo o resto que tantas vezes nos "confunde", quase é fácil de ser esquecido que talvez o melhor presente que por nós foi dado aos netos é o facto de não serem obrigados a partir para guerras distantes nos melhores anos das suas vidas.

Para todos os camaradas e familiares os votos de um Feliz Natal e um Bom Novo Ano! 

J.Belo

PS - Já regressei de Key West, Flórida, já estou de novo na Suécia (Foto nº 2) . (Apesar de ser cada vez mais difícil o afastamento do Sloppy Joe´s Bar, dos seus daiquiris,e não menos de algumas clientes).

Para mais seria indesculpável passar o Natal à beira da piscina, entre palmeiras (algumas de plástico!) iluminadas com lâmpadas coloridas quando a minha casa na Lapónia está a umas poucas centenas de quilómetros da casa do...Pai Natal na Lapónia finlandesa.

Torna-se mais fácil para ele trazer-me os inúmeros presentes que (obviamente!!!) tenho mais do que...direito!
___________

Nota do editor:

Último poste da série >  9 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20431: Feliz Natal de 2019 e Bom Ano Novo de 2020 (1): João Crisóstomo e Vilma Kracun (Nova Iorque)

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20438: Dossiê cap cav Luís Rei Vilar - IV (e última) Parte: declarações da segunda testemunha, fur mil op esp , da CCAV 2538, José Manuel Teixeira






Declarações da 2ª testemunha, fur mil op esp José Manuel Teixeira,  da CCAV 2538 (Susana, 1969/71), natural de Fafe,  no âmbito do processo por ferimento em combate de que resultou a morte do cap cav Vilar; foi instrutor do processo o cap cav Rogério Silva Guilherme, substituto do cap cav Luís Rei Vilar, no comando da companhia.

Local e data, Susana, 26 de fevereiro de 1970.

Fonte: Cortesia de cor art ref Morais da Silva


Cap cav Luís Rei Vilar (1941-1970).

Foto: cortesia de cor art ref Morais da Silva


1. Mais uma peça (, para já a última,) do processo do infausto cap cav Luís Rei Vilar  (1941-1970), ex-comandante da CCAV 2538 (Susana, 1969/71), morto em combate em 18/2/1970, no decurso da Op Selva Viva. (*)

Sobre as circunstâncias da morte deste intrépido oficial de cavalaria, no TO da Guiné,  publicámos em 3 postes,  publicar, sob a forma de dossiê, os documentos que nos enviou, gentilmente, o cor art ref Morais da Silva, autor de um notável trabalho de pesquisa sobre os 47 oficiais da Escola do Exército / Academia Militar, mortos em combate, na guerra colonial, que também temos vindo a publicar, no nosso blogue.
Hoje reproduzimos as declarações da 2ª testemunha, o fur mil op esp, José  Manuel Teixeira, natural de Fafe, no âmbito do "processo por ferimento em combate de que resultou a morte [do cap cav Vilar]". Foi instrutor do processo o cap cav Rogério Silva Guilherme, substituto do cap cav Luís Rei Vilar, no comando da CCAV 2538.

Seria interessante poder completar este dossiê com o que diz o relatório da autópsia, que  sabemos que existe, e que já é do conhecimento da família.

Entretanto, sabemos que os irmãos Vilar (Manuel, Miguel e Duarte) se preparam para voltar a Susana, em fevereiro de 2020,   onde há um escola que é frequentada por 700 alunos e tem o nome do valoroso cap cav Luís Rei Vilar (1941-1970). O meu amigo Duarte Vilar prometeu-me mandar, em breve,  uma notícia sobre o projeto Kasumai e sobre a próxima viagem dos 3 irmãos ao "chão felupe".
__________

Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série:


5 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20417: Dossiê Cap Cav Luís Rei Vilar (Cascais, 1941- Susana, 1970) - Parte II: declarações do ex-alf mil op esp, da CCAV 2538, Eurico Borlido

Guiné 61/74 - P20437: Lembrete (33): É hoje, 3ª feira, dia 10, às 21h30, em Beja, na Biblioteca Municipal José Saramago, o lançamento do livro do José Saúde, "Um ranger na guerra colonial" (Edições Colibri, Lisboa, 2019, 220 pp.)




Um das mais de 7 dezenas de crónicas deste livro é sobre o Natal de 1973, o último que os militares portugueses passaram na Guiné. Em Nova Lamego, o autor faz  "o rescaldo de um noite quente e de luar" (pp. 59-61).


1. Recorde-se que é hoje em Beja, na Biblioteca Municipal José Saramago, às 21h30 (*), a sessão de lançamento do último livro do José Saúde, "Um ranger na guerra colonial: Guiné-Bissau, 1973-1974: memórias de Gabu" (**).

No próximo dia 8 de fevereiro de 2020, na Casa do Alentejo, será feita a apresentação do livro em Lisboa.



Ficha Técnica:

Autor: José Saúde
Título: Um ranger na guerra colonial: Guiné-Bissau, 1973-1974: memórias de Gabu
Editora: Colibri, Lisboa
Ano: 2019

Capa: capa mole

Tipo: Livro
N. páginas: 220, ilustradas
Género: Memórias / autobiografia
Prefácio: Luís Graça
Formato: 23x16
ISBN: 9789896899158
Preço de capa: 16€


2. Na página 19, o autor deixa um agradecimento ao nosso blogue de que ele é um ativo colaborador, e de quem sempre tem tido, por parte dos editores, colaboradores e leitores, um especial carinho. Destaco aqui o papel do nosso coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro. Recorde-se que o José Saúde foi fur op esp / ranger, CCS / BART 6523 (Nova Lamego / Gabu, 1973/74, tendo mais de 170 referências no nosso blogue.

"Agradecimento 

"Deixo aqui explícito que esta obra surge por via do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné onde habitualmente debito narrativa acerca da minha presença militar por terras de Gabu.

"Uma experiência que ainda hoje recordo com uma sufragada nostalgia e que me conduz a uma literal elaboração de temas que considero transversais a todos os camaradas que partilharam temáticas idênticas durante a sua comissão na guerra da Guiné.

"Procurei, embora de forma sintética, cruzar histórias, deixar para memória futura realidades que nos vão na alma mas que jamais misturemos a veracidade do conflito real, porque entendo que o teor das opiniões resvalam normalmente para o campo de divergências. Neste contexto, fica o meu profundo respeito, bem como a minha enorme admiração por todos os camaradas que pisaram o solo guineense.

"Obrigado Luís Graça pela aceitação da minha pessoa neste universo de antigos combatentes e a tua singela gentileza como sempre me recebeste, não só como camarada de armas mas sobretudo como fidedigno amigo.  José Saúde".

____________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 
9 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20045: Lembrete (32): Lançamento do livro "Ferrel através dos tempos", do nosso camarada Joaquim Jorge, ex-alf mil, CCAÇ 616 (Empada, 1964/66)... Hoje, em Ferrel em Festa, sábado, dia 9 de agosto, às 17h00

Guiné 61/74 - P20436: (In)citações (140): Com qualidades e defeitos, temos sido, no essencial, um povo que, como escreveu o Padre António Vieira (1608-1697), "tivemos a terra portuguesa para nascer e temos toda a Terra para morrer" (António Graça de Abreu, escritor, sinólogo e professor de historiador)

1. Comentário, ao poste P20427 (*), de nosso camarada António Graça de Abreu [ ex-alf mil SGE, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74). membro sénior da Tabanca Grande, com  240 referências no nosso blogue; foto à esquerda, em Pequim, na famosa Praça Tianamen, s/d, c. 1977/83]


Diz o Zé Belo: "Um povo que se respeite, deverá sentir orgulho na sua História, nos seus heróis, nos seus mortos." É isto mesmo, meu caro Zé Belo. ´(*)

Eu, às vezes, nem é bem uma questão de orgulho, mas depois de viver durante nove anos fora de Portugal, em três continentes diferentes, de conhecer um pouco melhor as pátrias dos outros, gosto muito de ser português. 

Sou, desde 2012, professor de História na Universidade de Aveiro, dou a cadeira Relações Históricas Luso-Chinesas, no Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território, Mestrado em Estudos Chineses, Universidade de Aveiro. 

Tenho também um mestrado em História da Expansão e dos Descobrimentos Portugueses, o nosso passado pelos quatro cantos do mundo não me é estranho. 

Reconheço que houve racismo, colonialismo, escravatura, todo um rol de práticas e fenómenos sociais que hoje, ano 2019, e bem, deploramos. Mas toda a análise histórica deve ser inserida nas mentalidades e práticas da sua época, compreendida de acordo  com os valores, ou a ausência de valores, que prevaleciam na época. 

Não gosto que sistematicamente Portugal e os portugueses do passado sejam catalogados de quase uma espécie de dejecto, de escória da espécie humana. 

Não gosto que os nossos militares em África sejam considerados criminosos, como ficámos recentemente a saber neste blogue, segundo o escritor Mário Cláudio, que afirma que na nossa Guiné "se esmagava o crânio dos meninos negros nos capôs dos Unimogs" e "se esfaqueavam negras grávidas, arrancando-lhe os filhos do ventre.", militares criminosos que, segundo Mário Cláudio, depois recebiam as mais altas condecorações nacionais.  

Estas tenebrosas fake news, como hoje se denominam, circulam pela sociedade portuguesa.

Padre António Vieira, detalhe de quadro de pintor
desconhecido do séc. XVIII
Com qualidades e defeitos, como de resto todos os povos, inclusive os que colonizámos,temos sido no essencial um povo que, como escreveu o Padre António Vieira (1608-1697) , "tivemos a terra portuguesa para nascer e temos toda a Terra para morrer", gente muitas vezes à deriva pelo mundo, que partiu de uma pátria pobre e quase isolada na Europa, mas com pessoas que, na sua esmagadora maioria, têm sido dignas do seu destino e úteis no crescimento e desenvolvimento das desvairadas terras por onde se fixaram. 

Não gosto de quem despreza o chão que o viu nascer, não gosto de quem se entretém a arrancar as suas raízes para as lançar na fossa fétida do tempo. (**)

Não tenho consciência de culpa por crimes que nunca cometi.

Abraço,

António Graça de Abreu
_________________

Notas do editor:


(**) Último poste da série  > 15 de novembro de  2019 > Guiné 61/74 - P20349: (In)citações (139): Recuperação do Monumento Português de Newport, EUA: "Pelo que tem de significado hstórico, pela sua ligação ao oceano que une portugueses e norte-americanos, pela sua importância na afirmação da Comunidade Luso-Americana, o Presidente da República saúda todos os compatriotas que asseguram a preservação do Monumento Português em Newport (excertos de carta, pessoal, enviada ao João Crisóstomo, em data de 4/11/2019)

Guiné 61/74 - P20435: Parabéns a você (1720): Fernando Barata, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2700 (Guiné, 1970/72)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 9 de Dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20430: Parabéns a você (1719): Amaro Samúdio, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 3477 (Guiné, 1971/73)

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20434: Agenda cultural (717): O escritor Mário Cláudio (pseudónimo literário do nosso camarada Rui Barbot Costa) vai ser distinguido no dia 11 com o grau de Doutor "Honoris Causa" pela Universidade do Porto. A cerimónia terá lugar no Salão Nobre da Reitoria da Universidade, a partir das 15h00, e contará com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa


Mário Cláudio (*)

Foto: Gonçalo Rosa da Silva


Mário Cláudio - Doutor "Honoris Causa" 
pela Universidade do Porto (**)


1. Press release da Direção de Comunicação do Grupo Leya:

Exmos (as) Senhores (as)

Chamamos a vossa atenção para a seguinte informação:

O escritor Mário Cláudio vai ser distinguido esta quarta-feira, dia 11, com o grau de Doutor Honoris Causa – atribuído pela Universidade do Porto. 

A cerimónia, que terá lugar no Salão Nobre da Reitoria da Universidade, a partir das 15h00, contará com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Este é, sem dúvida, um reconhecimento do valor e importância que tem para aquela cidade a obra de Mário Cláudio, uma vez que a mesma se centra, em grande parte, precisamente no Porto, onde o autor nasceu e ainda reside, mas também para o Norte de Portugal, uma vez que dali são evocadas personagens, episódios, ambientes e épocas – recolhidas através de rigorosa e aturada investigação histórica e bibliográfica – que estão na base da sua ficção.

Para os promotores desta importante distinção, Mário Cláudio “tem sabido captar com invulgar perspicácia a matriz social e cultural, económica e política da cidade do Porto, fazendo dele um dos escritores que mais tem trabalhado a condição de ser português”, pode ler-se na proposta de atribuição do referido doutoramento, na qual é também assinalado que o autor o faz “numa espécie de escrita de filigrana, plena de erudição e, simultaneamente, de fala popular”.

Com mais de 60 títulos publicados ao longo dos seus 50 anos de Vida Literária, efeméride que tem vindo a ser assinalada ao longo do ano que agora que se aproxima do fim, Mário Cláudio é autor de uma longa obra que se estende pelo conto, a novela, a crónica, o teatro, a escrita infanto-juvenil, o ensaio e, sobretudo, pelo romance.

Mas os argumentos para a concessão do título Doutor Honoris Causa a Mário Cláudio não se ficam apenas pela qualidade da sua obra literária. O documento aprovado por unanimidade no Conselho Científico da Faculdade de Letras da Universidade do Porto destaca ainda “a colaboração cívica que desenvolve muito frequentemente a partir da cidade onde nasceu e vive”, que faz de Mário Cláudio não apenas um reconhecido escritor, mas também “um intelectual cujo pensamento independente lhe confere uma voz diferenciada em prol do bem comum”.

Acontece isto numa altura em que se assinalam os 50 Anos de Vida Literária de Mário Cláudio e, nesse âmbito, está patente na Biblioteca Almeida Garrett, desde o passado dia 21 de Novembro, uma exposição bibliográfica e documental sobre a vida e obra do autor, que ali ficará patente até ao próximo dia 4 de Janeiro.

Mário Cláudio, ficcionista, poeta, dramaturgo e ensaísta, é formado em Direito pela Universidade de Coimbra, diplomado com o Curso de Bibliotecário-Arquivista, da Faculdade de Letras da mesma Universidade, e Master of Arts em Biblioteconomia e Ciências Documentais, pela Universidade de Londres.

É autor de uma vasta e multifacetada obra que abarca a ficção, a crónica, a poesia, a dramaturgia e o ensaio e se encontra traduzida em várias línguas. Foi galardoado com, entre outros, o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores-DGLAB (atribuído duas vezes), o Prémio PEN Clube, o Prémio Eça de Queiroz, o Prémio Vergílio Ferreira, o Prémio Fernando Namora e o Prémio Pessoa, sendo igualmente titular de várias condecorações nacionais e estrangeiras.

Para mais informações, por favor, contactar:
Rui Breda
Grupo Leya
Direcção de Comunicação
Rua Cidade Córdova, 2
2610-038 Alfragide
rbreda@leya.com
938 527 410
____________

Notas do editor

(*)  Vd. poste de 23 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6630: Tabanca Grande (227): Rui Barbot / Mário Cláudio, ex-Alf Mil, Secção de Justiça do QG, Bissau (1968/70)

(...) Comentário de L.G.:

Mário, sê bem vindo à Tabanca Grande, a caserna virtual aonde se acolhem os camaradas (e os amigos) da Guiné... O tratamento romano é norma, entre homens que estiveram física e psicologicamente muito próximos uns dos outros no Teatro de Operações (TO) .

Não podemos ignorar que és mais famoso, pelos teus livros (e prémios), do que nós todos juntos. Isso não nos impede de nos sentirmos irmanados pelas circunstâncias da vida que nos levaram à Guiné, no longo período em que decorreu a a guerra do ultramar / guerra colonial / luta de libertação (1963/74) (conforme os 'óculos' do observador)...

Como fazemos gala de dizer (e de tentar praticar) os amigos e camaradas da Guiné têm como maior denominador comum a experiência de (ou a relação com) a guerra colonial, a guerra do ultramar ou a luta de libertação na Guiné, entre 1963 e 1974... Tudo o mais que nos possa separar (a idiossincrasia, a ideologia política, a religião, a nacionalidade, a origem social, a etnia, a cor da pele, as antigas patentes e armas, a orientação sexual, a riqueza, a fama, o proveito, etc.), é secundário. Direi secundaríssimo.

Sabemos que, pelos teus afazeres de escritor activo, produtivo e famoso, um dos maiores da língua portuguesa actualmente vivos, e potencialmente Nobelitável, não terás muito tempo para, com regularidade, escreveres no nosso (e doravante teu) blogue, e/ou compareceres nos nossos convívios períódicos (Tabanca Grande, anualmente, em Monte Real; Tabanca de Matosinhos, semanalmente, em Matosinhos; Tabanca do Centro, em Monte Real, trimestralmente, etc.). Mas fica a saber que será um grande prazer, para mim e para os restantes amigos e camaradas da Guiné, conhecer-te em pessoa, ao vivo, um dia destes. Somos calorosos, às vezes até demais, fervendo em pouca água com alguns ditos & escritos. Mas vamos regando, todos os dias, a nossa cultura da tolerância...

Já leste, de certo, os nossos "dez mandamentos" (disponíveis na coluna do lado esquerdo do nosso blogue), o último dos quais diz o seguinte: "(x) respeito pela propriedade intelectual, pelos direitos de autor... mas também pela língua (portuguesa) que nos serve de traço de união, a todos nós, lusófonos"...

Agradeço-te antecipadamente o envio do texto, soberbo (e julgo que inédito), "Para o Livro de Ouro do Capitão Garcez", que nos chegou, juntamente com as fotos, através do Carlos Nery... Oxalá o nosso blogue também te possa inspirar muitas outras e boas histórias relacionadas com este povo, fantástico e às vezes demasiado humilde, de soldados, marinheiros, poetas e aventureiros. de quem os altivos castelhanos diziam: "Portugueses, pocos, pero locos". (...)

Guiné 61/74 - P20433: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXXIII: Os "jogos olímpicos" do meu batalhão



Foto nº 11 > São Domingos, fins de Dezembro de 1968. Distribuição de prémios pelas equipas. Tive direito a beber uma cerveja pela taça dos campeões africanos.


Fotro nº 6 > Nova Lamego em 20 de Fevereiro de 1968. Um jogo de basquetebol. Grande confusão na área do cesto.   O autor também aparece na molhada, em segundo plano, de perfil.


Foto nº 7 > São Domingos, em 20 de Fevereiro de 1968. Um jogo de futsal. À baliza, o autor, sem óculos.


Foto nº 5 > São Domingos, em fins de Dezembro de 1968. Provas  de Atletismo:  salto (acrobático) em altura.


Foto nº 1 >  São Domingos, em fins de Dezembro de 1968. Início dos jogos de... inverno. Com 40º à sombra!... O comandante do BCAÇ 1933 a presidir. 


Foto nº 2 >  São Domingos,  fins de Dezembro de 1968. Jogo de futebol. Entrada das equipas em campo.


Foto nº 9 > São Domingos, em fins de Outubro de 1968. Veja-se o estado "relvado"... Estamos no final da época das chuvas.



Foto nº 3 > São Domingos, em fins de Dezembro de 1968. O autor., que habitualmente não participava, a não ser como fotógrafo...


Foto nº 10 > São Domingos, em fins de Outubro de 1968. Jogo de futebol, entre  metropolitanos e guineenses.  Eu a segurar a bandeirola para ela não cair...


Foto nº 12 > São Domingos, em fins de Dezembro de 1968. Mais uma jogatana de futebol. O pessoal a assistir à sombra dos poilões.


Foto nº  13 >  São Domingos, em fins de Dezembro de 1968. Foto de família. O autor, à direita,  de calções e mãos nos bolsos, a observar...


Foto nº 14  > São Domingos, no 4º Trimestre de 1968. Uma baliza de futebol no meio do nada.


Foto nº 15 >  São Domingos, no 1º Trimestre de 1969.Torneio e jogos de verão. Um jogo isolado, de futebol, não fazendo parte de nenhuma competição. 


Guiné > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação do álbum fotográfico  do nosso amigo e camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, chefe do conselho administrativo, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); economista e gestor, reformado; é natural do Porto; vive em Vila do Conde; tem já perto de centena e meia de referências no nosso blogue.



CTIG/Guiné 1967/69 - Álbum de Temas:

T040 – OS JOGOS OLIMPICOS  DO BCAÇ  1933 >A guerra também se fazia no TO ‘Campos de Jogos’


I - Anotações e Introdução ao tema:

Caros companheiros e camaradas:

Como era habitual em todas as unidades, um dos passatempos, eram os jogos ao ar livre, onde competiam, ou classes contra classes, operacionais e serviços, pelotões contra pelotões, companhias contra companhias.

A modalidade mais usual, como é natural, seria sempre o futebol, pois todos sabem dar um pontapé numa bola.

Havia outras modalidades: Basquete, Futsal, Salto em altura, Salto em comprimento, Atletismo, Corridas, e tudo o que convidasse a puxar pelo físico, naqueles paraísos com um clima tão ameno que convidava a estas aventuras de inverno.

Os jogos eram organizados a rigor, com as vestes e equipamentos competentes, o campo era pelado, lá se colocavam paus a fazer de balizas, e assim se competia.

Só não sei quem era o árbitro nomeado, se por sorteio na Liga, ou na FPF. E se já haveria o VAR?

No final eram entregues as respectivas taças, que continham os dizeres de cada jogo ou modalidade. Em Nova Lamego e principalmente em São Domingos fizemos vários torneios, com atribuição de taças. O mais importante torneio foi realizado no mês de Dezembro de 68, em S. Domingos.

Nunca participei em nenhum, entrava por vezes só para a fotografia, mais nada.

II - Legendas das fotos:

F01 – O início dos jogos de Inverno – Com 40º. Com direito a parada, Hino Nacional, o Comandante do Batalhão Caçadores 1933 a presidir, as equipas alinhadas, e o árbitro com a farda corrente.  Foto captada em São Domingos, em fins de Dezembro de 1968.

F02 – Entrada das equipas em campo. Vai iniciar a partida, as equipas entram em campo, as balizas lá estão, não sei quanto tempo durava o jogo, mas não eram de certeza, 45+45’.  Foto captada em São Domingos, em fins de Dezembro de 1968.

F03 – Estão a decorrer as provas de salto em altura.  Eu fiquei de fora, a ver, e a fazer as fotos. Foto captada em São Domingos, em fins de Dezembro de 1968.

F04 – Jogo de futebol a decorrer entre 2 companhias. O árbitro está lá, parado, não corre, o relvado não ajuda, a maioria da assistência está ao abrigo do Grande Poilão, o sol pesa nas cabeças. Foto captada em São Domingos, em fins de Dezembro de 1968.

F05 – Salto à vara em altura. É claro que ganharam as equipas de soldados pretos, é a especialidade deles, saltar. Foto captada em São Domingos, em fins de Dezembro de 1968.

F06 – Jogo de Basquetebol. Grande confusão na área do cesto. Agora a ver, parece que apareço por lá, mas sem óculos, pois não podia jogar nada com eles. Foto captada em Nova Lamego em 20 de Fevereiro de 1968.

F07 – Jogo de Futsal. Confirma-se a foto anterior, o guarda-redes é o autor, mas sem óculos. Desde pequeno que era onde mais gostava de jogar – na baliza  –, na rua com as famosas bolas de pano feitas com meias velhas. Foto captada em São Domingos, em 20 de Fevereiro de 1968.

F08 – (Nâo reproduzida por falta de qualidade.) Jogo de futebol. Os primeiros jogos feitos em Nova Lamego, a malta tinha acabado de chegar, e ali havia muita ‘matéria-prima’ para formar equipas. Foto captada em Nova Lamego em finais de Dezembro de 1967.

F09 – Aspecto do estádio durante os jogos. As instalações desportivas ficavam mal tratadas, aliás já estavam sempre, as chuvas destruíam tudo, estamos no fim da época. Foto captada em São Domingos, em fins de Outubro de 1968.

F10 – Jogo de futebol. Jogo entre malta branca e preta, parece que também há miúdos pretos, talvez.
Eu segurava a bandeirola do canto, para não sair com alguma jogada mais dura. Foto captada em São Domingos, em fins de Outubro de 1968.

F11 – Distribuição de prémios pelas equipas. Tive direito a beber uma cerveja pela taça dos campeões africanos.

Não percebo uma coisa agora que olhei para as chuteiras. Já os nossos soldados usavam em 1968, Ténis e Sapatilhas que estão hoje em moda, eu só comprei um par delas da Fred Perry há menos de dois anos, e não vou comprar mais, porque não gosto.

Por outro lado, eu já vestia calças de ganga americanas, usadas, que não havia na Metrópole, e também só experimentei uma vez há mais de 20 anos, teria de usar suspensórios, aquilo era uma grande palhaçada, ri tanto e nunca vesti depois de vir da Guiné, mais nenhuma ganga.n Foto captada em São Domingos, em fins de Dezembro de 1968.

F12 – Mais um jogo de futebol no Batalhão. Para apuramento das equipas foram vários os jogos realizados, este é mais um, e o pessoal a assistir está na sombra do Poilão. Foto captada em São Domingos, em fins de Dezembro de 1968.

F13 – Uma foto de família para mais tarde relembrar. Penso tratar-se de uma foto no final de tudo, mas pode ser antes de tudo. Vejo pessoal vestido com as camisolas, outros com fardas, temos lá o ‘Padeiro’, e o Alferes Teixeira a observar! Foto captada em São Domingos, em fins de Dezembro de 1968.

F14 – Baliza de futebol no meio de nada. Uma foto onde se faziam os jogos, mas pelo mato deve ser no fim das chuvas. Foto captada em São Domingos, no 4º Trimestre de 1968.

F15 – Torneio e jogos de Verão. Um jogo isolado, não fazendo parte de nenhuma competição. Foto captada em São Domingos, no 1º Trimestre de 1969.

«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BCAÇ 1933 / RI15, Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21Set67 a 04Ago69».

Fotos relegendadas em 2019-11-12, Virgílio Teixeira

Guiné 61/74 - P20432: Notas de leitura (1244): “Missão na Guiné, Cabedu, 1963-1965”, por António José Ritto e Norberto Gomes da Costa, com a colaboração de José Colaço; DG Edições, 2018 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Novembro de 2019:

Queridos amigos,

Não é propriamente a história da CCAÇ. 555, são depoimentos soltos e o do então Capitão António José Ritto é de uma extraordinária beleza, lê-se com comoção, é o respigar daquilo que se vincou na sua memória. E o que escreve desvela a Guiné de 1963: a impreparação com armamento adequado, a existência de uma população sujeita ao duplo controlo, a mata do Cantanhez tornara-se num eixo vital para o abastecimento das diferentes bases de guerrilha: lê-se o que foi uma empolgante adaptação ao terreno, cuidando da segurança e de dar mais conforto e assistência sanitária às populações locais.

Tudo escrito sem uma nesga de farronca, prosápia ou a jeito de grandiloquência para basbaque agradecer.

Documentos de grande simplicidade. E quando se lê que foi preciso esperar por Spínola para fazer ação psicossocial a sério, temos que reconhecer que só é novo aquilo que foi esquecido, para alimentar os mitos.

Um abraço do
Mário


Cabedu


A CCAÇ 555 em testemunhos pujantes de fraternidade

Beja Santos

A obra intitula-se “Missão na Guiné, Cabedu, 1963-1965”, escrevem António José Ritto e Norberto Gomes da Costa, a colaboração é de José Colaço, DG Edições, 2018. Lê-se com profunda admiração tudo quanto registou António José Ritto, um oficial octogenário que serviu na Índia, na Guiné e em Moçambique. A CCAÇ 555 era independente, fez a sua preparação só dispondo das Mauser. Logo na mobilização vem uma pincelada de humor: 

“Aproveitámos estar em Lisboa para arranjar quatro conjuntos de cartas militares de toda a Guiné, e como o nosso médico informou que se ajeitava a arrancar dentes, ainda conseguimos material próprio, que foi muito utilizado nas dores de dentes do pessoal da companhia, no da zona vizinha que era Bedanda, e que ali se deslocou de avioneta, e pela população de Cabedu”.

Chegaram a Bissau e houve que lidar com a G3, após oito dias de treino partiram para Cabedu em barcaça. Cabedu, ao tempo, resumia-se a quatro pequenas casas, sendo uma da Casa Comercial Gouveia e outra da Ultramarina e as duas restantes de dois libaneses que tinham abandonado a região e que a companhia aproveitou.

Mal chegados, encetam os patrulhamentos e as emboscadas, António José Ritto não é parco nos elogios, logo destaca a equipa das Transmissões. Havia igualmente muito a fazer no interior do quartel, lançaram mãos à obra, empreenderam a desmatação, fez-se um cano de aviação, aproveitando-se as palmeiras para criar abrigos. 

Segue-se uma pincelada de ternura: 

“Com tanta atividade operacional e tanto trabalho realizado, as energias estavam gastas ao fim de cada dia. Em dois anos nunca houve atritos ou discussões. Só amizade e camaradagem”

Pintou-se a tinta branca no telhado em letras garrafais “Visite Cabedu”. Agora que se fala tanto em descarbonização, veja-se como a tropa era bem ecológica: 

“Fizeram-se cadeiras com as aduelas das barricas e uma mesa com o tampo suportado por um tronco de palmeira, porque não havia cadeiras, nem mesas”.

 O diálogo com a população era ativíssimo, vivia-se então uma época em que era usual o duplo controlo. A três quilómetros havia uma tabanca com gente de etnia Nalu e Sossa. Os jovens tinham partido para a mata do Cantanhez, mas o relacionamento com os mais novos foi excelente, davam-se aulas de carpintaria, de mecânica-auto e um intenso apoio médico às populações. O resultado era bem o espelho do estado de espírito daquele povo: confiavam na cooperação da tropa mas davam arroz à guerrilha, a par disso também davam informações à tropa dos locais de passagem dos guerrilheiros. 

O autor justifica que era a única maneira de se poder manter a população naquela tabanca, sem proteção militar, sem arames farpados, tratando da subsistência. E deixa-nos um detalhe sobre o seu primor de caráter: 

“Entrámos uma vez numa palhota de onde saía um fumo que não permitia ver nada, mas com lanternas vi que tinha acabado de nascer uma criança e era assistida por uma velha feiticeira, que usava o fumo para anestesiar a parturiente e servia-se das cinzas para cauterizar o umbigo e ia utilizar uma agulha que era só ferrugem para cozer o umbigo. O médico agiu trazendo para o ar puro aqueles seres que já estavam desmaiados, tratou do bebé e da mãe. Comovi-me ao pensar nos meus filhos que tinham um e três anos e que já não via há um ano”.

1963 no Sul da Guiné é o mesmo que dizer acontecimentos explosivos, foi aqui, e na região do Morés, que se instalou o laboratório experimental do novo armamento do PAIGC:

“Tivemos a sorte em detetarmos e desativarmos as primeiras minas antipessoal que colocaram na Guiné. Tratava-se das minas POMZ de fabrico soviético, constituídas por uma granada explosiva de fragmentação, fixas ao solo por um espeto de madeira e detonadas através de arame de tropeçar. Tinham colocado seis minas com os arames interligados entre elas”.

 Com o tempo, foram chegando as beneficiações, construiu-se o cais acostável, veio um pelotão de reforço com três bocas de fogo, e um importante gerador elétrico. Houve tentativas de a administração colonial praticar disparates que podiam deitar por terra todo o diálogo estabelecido com as populações. E o autor conta: 

“Quase no final da comissão, chega, numa avioneta, um indivíduo acompanhado por dois sipaios. Apresentou-se como o novo chefe de Posto para Cabedu; disse-me que tinha sido Cabo numa companhia que tinha regressado ao continente. Quando lhe perguntei qual era a sua missão, informou-me que queria que a CCAÇ 555 lhe desse proteção, porque queria cobrar impostos na povoação vizinha e não tinha qualquer outro objetivo. Rapidamente pensei que ele iria destruir dois anos de trabalho, realizado num apoio àquela população. Nuns segundos, mandei dizer ao piloto que não levantasse, porque o dito chefe de Posto ia ser recambiado no mesmo avião. Assim, com protestos e ameaças de que se iria queixar, lá se foi”.

Quanto ao episódio de um soldado que desvairou, embrenhando-se no mato, lá se foi no seu encalço e um helicóptero recolheu-o numa ilhota, tinha ganho consciência do enorme disparate que cometera, ajoelhou-se: 

“Perdão, meu capitão, eu não faço mal a ninguém”

E segue-se um comentário: 

“Compreendi que o soldado andara, andara sempre e com o tempo as águas subiram uns 200 metros e ele ficou isolado e perdido naquele espaço que a água não ocupou. Teria morrido se não fosse encontrado e eu ficaria traumatizado toda a vida se não o trouxesse de regresso à família”

Tocantes recordações, que serão completadas com as de Norberto Gomes da Costa, ao tempo furriel da companhia, que elenca as ações militares, entre operações e flagelações, enaltece o bom senso do Comandante da Companhia que nunca arrastara levianamente os seus militares para situações que poderiam ser desastrosas.

 Recorda Seco Aidara, provavelmente a pessoa que o Comandante mais ouvia, dá conta dos jogos de futebol e da caça, os momentos empolgantes da chegada do correio, as avionetas e os barcos de abastecimento, os soldados que completaram a instrução primária, os abastecimentos e a comida, e é bem comovente o que escreve sobre a despedida da companhia, em setembro de 1965: 

“Vi gente a chorar, parecendo já antever o drama que se haveria de abater sobre eles, a partir de 1974. Aquela comunidade identificou-se muito connosco, provavelmente pela política da companhia, sempre lesta para resolver ou ajudar a resolver as dificuldades e a dar um pouquinho de bem-estar a quem precisava".

Junta-se um conjunto de documentos com o cabeçalho “Cabedu visto do lado do PAIGC” e José Colaço procede à narrativa de uma escolta em que havia um guia que intentou uma traição, foi denunciado e entregue a João Bacar Djaló, em Catió. Colaço escreve: 

“O João reprimia as traições com bastante dureza. Ele mostrou o pau com que agredia os traidores no estômago, mas a resposta do falso guia foi: - Mim murre… mas não diz nada”.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 6 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20420: Notas de leitura (1243): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (35) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20431: Feliz Natal de 2019 e Bom Ano Novo de 2020 (1): João Crisóstomo e Vilma Kracun (Nova Iorque)




João Crisóstomo & Vilma Kracun: o lindo par luso-esloveno-americano que nos escreve de Nova Iorque, desejando boas festas à Tabanca Grande

Foto: © João Crisóstomo (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de João Crisóstomo, fazendo "prova de vida" e desejando-nos boas festas de 2019/2020:

De: João Crisóstomo
Date: sábado, 7/12/2019 à(s) 09:44
Vilma Kracun e João Crisóstomo,
no 10 de Junho de 2018, Dia de Portygal,
em Mineola, Nova Iorque. Cortesia de
Henrique Mano Luso-Americano

Subject: Mensagem de Natal (e mais...)

[ João Crisóstomo, ex-alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67), nosso camarada da diáspora, a viver desde 1975 em Nova Iorque, conhecido ativista social (de causas como as Gravuras de Foz Coa, Timor Leste ou Aristides Sousa Mendes); casado com a nossa amiga eslovena, Vilma Kracun; régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona]



Meus caros camaradas,

Gostaria de poder  enviar um abraço individual e directo de Boas Festas  a cada um de vocês, via E mail ou mesmo por telefone se o tivesse!  É que... um  presente de  Natal que  "que    me exijo e me ofereço   a mim  mesmo" é um contacto quanto possível  pessoal e directo com os  que me concedem o favor da sua amizade. 

Se  não houvessem mais razões, esta seria  suficiente para eu   esperar  sempre com muita antecipação esta feliz quadra do ano.  E, embora  eu evidentemente nem conheça pessoalmente  a maior parte dos "camaradas da Guiné", o facto de termos vivido igual ou semelhantes experiências em terras africanas,  leva-me a sentir que, sem olhar a diferenças de opiniões e outras que existem sempre entre membros de qualquer família,  mais do que camaradas,  todos eles são meus irmãos.

E irmãos não se esquecem de dar um abraço nesta época festiva.    
E portanto , e só  porque a distância e outras razões não me permitem  fazê-lo pessoalmente, associo-me a  todos  os familiares e amigos de cada um  nos votos de que tenham um Natal e um Ano Novo tão bons quanto possam desejar. E a minha esposa  Vilma que nunca esteve  na Guiné, mas porque é a melhor metade de mim mesmo e faz sempre questão de ser e agir como tal,   junta-se a mim neste  grande abraço de amizade.

Permito-me esta ocasião  para uma explicação àqueles a quem por vezes devo uma resposta que fica sem ser feita: 

Para os que não me conhecem ainda esta infeliz faceta,  eu tenho muita dificuldade em tudo o que é de natureza digital, sejam eles os novos telefones, facebooks, blogues e outras redes sociais…  até parece que tudo o que é máquina  agora tem de ser digital senão "não presta"... (Até o raça do automóvel agora tem de ter meia dúzia de coisas  digitais que me  leva a pedir à  minha  Vilma, que até gosta de o fazer, que seja quase sempre ela a conduzir …). 

E isto sucede-me mesmo neste  nosso querido  blogue, "Luís Graça & camaradas da Guiné", onde eu  por vezes "me sinto perdido",  embora seja uma das poucas coisas que, salvo raras excepções alheias à minha vontade, eu  tento seguir religiosamente todos os dias.

Recentemente enviei uma informação ao Luis Graça (,um dos muitos camaradas como o saudoso Eduardo Jorge, o Rui Chamusco, o Horácio Fernandes, a "Helena do Enxalé", o  Henrique Matos   e outros "irmãos  de coração" que    me concedem o privilégio de os poder contactar pelo telefone  frequentemente),  sobre um "Monumento das Descobertas" que fui visitar. 

Dias depois o Luís Graça pelo telefone disse-me que a ia publicar. E fiquei esperando, mas não vi esse "poste"  e não insisti: " outras coisas mais  relevantes apareceram e este vai ter de esperar pela sua ocasião"  dizia  eu para os meus botões. E ontem de repente deparei com um comentário, relacionado com o monumento,  endereçado a mim pelo camarada Alberto Branquinho, de há umas três semanas atrás que merecia uma resposta. Intrigado,  comecei a  procurar uma e muitas vezes até que de repente vi o poste, publicado  no blogue quase logo a seguir ao seu recebimento,mas que eu nunca cheguei a ver..., até ontem.

Agradeço a vossa compreensão para estes meus lapsos, bem mais frequentes do que eu desejaria fossem. Aliás eu pergunto-me de vez em quando se esta minha falta de capacidade para isto ou aquilo, esta falta de  organização e concentração  de que muitas vezes  com pesar me apercebo, são  só por causa da idade ou se vêm de há muito tempo  já, talvez  como resultado das muitas experiências duras que como muitos de vocês eu passei na Guiné; se é o caso… ainda me posso considerar muito feliz pois vim de lá  são e salvo, e muitos dos nossos camaradas tiveram pior sorte e quantos deles infelizmente nem de lá  voltaram.  Coração ao alto portanto ! 

Deixo aqui os meus  endereços de  E mail (tenho dois):

crisostomo.joao2@gmail.com
jcrisostomo@earthlink.net

João Crisóstomo, Lourinhã, Porto das 
Barcas, 1 de julho de 2017.
Foto:  Luís Graça (2017)

A minha vontade  é de compartilhar também a minha morada, telefone e tudo o mais (  como já fiz no passado ! ), mas fui fraternalmente avisado de que não é aconselhável deixar toda esta informação no facebook ( que quase não uso) , blogues etc.  E portanto deixo aqui só os meus endereços de E mail, com a promessa  de os  enviar àqueles que me quiserem contactar directamente por E mail, se assim o desejarem, como já faço com  vários  camaradas em Portugal, Brasil, Holanda, Canadá…

Um importante PS - Uma outra ocasião em que gosto de chamar  os meus amigos (por telefone, quando possível)  é no dia do seu aniversário. e por   facebook … não é a mesma coisa!  só mesmo na   falta de outra e  melhor maneira.  

A quem me quiser dar essa informação, eu, quando possível (, pois por vezes não dá mesmo), gosto de corresponder com um abraço nesse dia.  

Um outro fraternal abraço,

João C.

Guiné 61/74 - P20430: Parabéns a você (1719): Amaro Samúdio, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 3477 (Guiné, 1971/73)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 5 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20415: Parabéns a você (1718): José Pereira, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 5 (Guiné, 1966/68) e Manuel Carvalho, ex-Fur Mil AP Inf da CCAÇ 2366 (Guiné, 1968/70)