segunda-feira, 4 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P20940: Os nossos seres, saberes e lazeres (389): "O Saltitão", Jornal da CCAÇ 2701 (4) (Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf)

1. Em mensagem do dia 21 de Abril de 2020, o nosso camarada Mário Migueis da Silva (ex-Fur Mil Rec Inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72), enviou-nos mais umas páginas de "O Saltitão", projecto em que esteve envolvido no Saltinho, a criação de um jornal para a CCAÇ 2701.

Quando, no final de Agosto/71, após as minhas primeiras férias na metrópole, regressei ao Saltinho, fui convidado pelo Capitão Carlos Trindade Clemente, Comandante da Companhia ali instalada (CCAÇ 2701), para levar avante a criação do Jornal da Unidade, que era uma coisa que ele tinha em mente há muito tempo. Só ele saberá das razões que o levaram a escolher-me para missão de tamanha responsabilidade, tanto mais que eu não fazia parte dos quadros da Unidade – estava lá em diligência desde Março/71, após estágio de informações, com a duração de cerca de três meses, em Bambadinca. Claro que logo aceitei a incumbência com o maior entusiasmo, ou não tivesse eu, sem que ele conhecesse o facto, grande experiência do antecedente naquelas coisas do jornalismo – fora, de parceria com um conterrâneo do mesmo pelotão, o grande feitor do Jornal de Parede da 5.ª Companhia no RI 5, nas Caldas da Rainha (recruta do 4.º turno de 1969 – Curso de Sargentos Milicianos), após termos afastado a indesejável concorrência à bofetada.
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Notas do editor

Poste anterior de de 20 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19998: Os nossos seres, saberes e lazeres (344): "O Saltitão", Jornal da CCAÇ 2701 (3) (Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf)

Último poste da série de 2 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20931: Os nossos seres, saberes e lazeres (388): Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20939: Notas de leitura (1282): “Corações Irritáveis”, por João Paulo Guerra, Clube de Autor, 2016 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Março de 2017:

Queridos amigos,
João Paulo Guerra centra a ação do seu romance num fenómeno que ainda hoje nos inquieta e sobre o qual procuramos passar ao lado: a perturbação pós-stresse traumático de guerra. Embora se duvide dos resultados do romance, em termos de qualidade literária, reconhece-se o mérito de voltar a pôr em cima da mesa as vidas escalavradas de muitos stressados de guerra, denunciar que a rede nacional de apoio aos militares e ex-militares vítimas desta doença funciona deficientemente.
Li este livro sempre a pensar no que o Mário Vitorino Gaspar aqui escreveu, o seu trabalho na APOIAR e no sofrimento anónimo destas vítimas que aguardam tratamento para lhes suavizar o sofrimento.

Um abraço do
Mário


Vidas escalavradas de gente que continua em guerra

Beja Santos

João Paulo Guerra
“Corações Irritáveis”, por João Paulo Guerra, Clube de Autor, 2016, é o segundo romance deste jornalista profissional que se tem distinguido como autor de livros centrados na pesquisa histórica, caso de "Memórias das Guerras Coloniais", "O Regresso das Caravelas", "Savimbi Vida e Morte". Coração irritável era o nome dado a uma doença no século XIX que hoje é conhecida por perturbação pós-stresse traumático de guerra. Esta doença foi reconhecida em Portugal 20 após o fim da guerra. Em 1995, lançou-se a base para a criação de uma rede de apoio a esses doentes, estimados na ordem de algumas dezenas de milhares. Existe hoje uma rede nacional de apoio aos traumatizados da guerra, o seu funcionamento é muito controverso.

A perturbação pós-stresse traumático é o eixo central deste romance de cariz policial, investigativo e confessional. Linguagem onde paira um certo sentido poético, um percurso fluido onde se irão acumular vários mortos, com desfechos perturbadores. Tudo começa quando se encontrou o corpo de Henrique Moreira no rio Jamor, houve dúvidas se se tratava de suicídio ou homicídio. A inspetora Diamantina Jesus procura mais informações junto da viúva de Henrique, Adélia. Tudo isto se passa algures na década de 1990. Henrique mostrava sinais de asfixia por submersão, calçava botas militares, o corpo não apresentava sinais de violência. A inspetora cedo se apercebe que Henrique Moreira, que fora alferes miliciano na guerra de Moçambique, transportara um drama, uma inquietação que não o largava, aquele casamento tivera anos felizes, ultimamente Henrique consumia-se e consumia a sua mulher.

A polícia investiga indivíduos que compareceram ao funeral, tem todos em comum terem frequentado as consultas de psicoterapia comportamental do Hospital Júlio de Matos, gente cheia de problemas, desempregados, com vidas familiares infernais ou expulsos do convívio familiar. Todos aqueles homens trazem o inferno dentro deles, mataram, viram matar, perderam-se no mato, assistiram à crueldade e à violência. Diamantina conversa com a psiquiatra e apura que a tal perturbação pós-stresse traumático é o elo entre todos aqueles doentes e estima o número deles em cerca de 50 mil doentes crónicos. Os amigos de Adélia procuram ajudar e até investigam. Entretanto, há mais mortes, constata-se que aqueles doentes são coniventes uns com os outros, têm formas muito singulares de entreajuda. E descobre-se que o Henrique fora punido porque não aceitara um relatório acerca de uma povoação destruída e população barbaramente assassinada. As histórias seguem-se umas às outras, enquanto Adélia encontra num quarto a estranha documentação de Henrique envolvendo os acontecimentos de Moçambique. Vão se contando histórias truculentas, caso do cabo Felisberto fizera operações com os Flechas, cortadores de cabeças da PIDE no Sudoeste de Angola, gente que decapitava velhos, mulheres e crianças. Diamantina junta documentação enquanto prosseguem mais mortes suspeitas: homicídios ou suicídios assistidos?

A todo o momento, durante as inquirições, vai surgindo gente estranhíssima, têm todos em comum estarem marcados pela guerra colonial. De pista em pista, encontra-se um elo de ligação entre todas estas mortes e o papel desempenhado pela morte de Henrique. Por vezes, João Paulo Guerra cria atmosferas inverosímeis para essas mortes, caso do antigo Cabo Valentim Brotas que se suicida no dia 10 de Junho em pleno Terreiro do Paço, cortara os pulsos e deixara extinguir-se a vida, irá ouvir-se no velório o Adágio para Cordas, de Samuel Barber, o lancinante tema da banda sonora do filme Platoon. E há os dramas familiares, mulheres ansiosas e deprimidas de homens incertos e inesperados nas explosões emocionais: “Os filhos nasceram, ou pelo menos cresceram e foram criados neste ambiente familiar doentio. E se a separação entre os pais e as mães tinha afastado para longe o foco mais primitivo do contágio, do mal-estar e de perigo, agora eram as mães quem transmitia aos filhos a ansiedade e o pânico que os pais tinham vivido, agravados pela situação dolorosa do pai ausente e da mãe que também ia saindo da sua vida ao mergulhar nos abismos da memória de guerras que não tinha vivido”.

Investigação chega ao fim, percebe-se finalmente o que há de comum em todos estes doentes crónicos com quem Henrique convivera. Adélia parte, à procura de si própria e quando volta encontra cartas de um dos seus amigos que é pintor e fora trabalhar a Paris. Depois da guerra, a ternura inundou a vida destes dois seres humanos que tiveram de conviver com um turbilhão de corações irritáveis.

É um romance bem-intencionado mas fruste, é um trabalho de secretária de quem vê a guerra através do estudo de uma doença. Melhor seria que João Paulo Guerra tivesse enveredado pela reportagem, os resultados teriam sido seguramente mais convincentes e socialmente mais impactantes. Não obstante, é uma trama narrativa meticulosamente organizada com fina simplicidade e trabalho sério na pesquisa de atalhos profundos onde se desfizeram vidas nessa guerra colonial em que ainda há muito para contar.
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20911: Notas de leitura (1281): Conversa entre homólogos na Guiné-Bissau: uma história hilariante (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20938: Parabéns a você (1797): José Martins Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CART 2716 (Guiné, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 3 de Maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20934: Parabéns a você (1796): António Estácio, Amigo Grã-Tabanqueiro, Escritor, natural da Guiné-Bissau e Delfim Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAV 3366 (Guiné, 1971/73)

domingo, 3 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P20937: Blogues da nossa blogosfera (130): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (45): Palavras e poesia


Do Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.

AntiDeuteronómio I

ADÃO CRUZ

© ADÃO CRUZ


A cidade está deserta por dentro e por fora de nós.
Começa a não haver vivalma neste lusco-fusco brumoso
neste irracional azul de um céu de chumbo
nesta descrença de manhãs de sonho
tem bicéfalas e bárbaras bandeiras de um
mundo informe e medonho.
Seguir em frente no deserto do fim do dia
dilatar a esperança até que raie a claridade
no ventre da manhã de fogo e sangue
entrar na vereda enlameada e fria
dos homens de aço sem perfil e sem destino
virar na esquina sem luz da esperança perdida
no contra-senso divino…
ou voltar para lugar algum.
Como seria bom continuar eternamente
o caminho que nascendo dentro de nós
em fio de regato cristalino
se perde ingloriamente à flor da pele.
Assim que for dia
se dia chegar a ser nesta aparência de paisagem
não podemos deixar que a nuvem negra sombria
e a negra miragem
venham toldar a aurora da razão
e semear ruínas no coração apodrecido das nações
e no cérebro corrompido por obscenas falas
armas e cifrões
de imperiais e acéfalos patrões.
Se libertarmos da nuvem negra
a aurora da nossa interrogação
se impedirmos a negra nuvem
de apagar a luz da inquietação
na incontornável unidade do pensamento e da razão
o poema incendiará as asas do vento
e queimará as garras dos abutres
devolvendo à humanidade algum alento.
A terra engolirá os exércitos genocidas
que à sombra da nuvem negra
de deuteronómicos evangelhos
a ferro e fogo se empanturram de vidas
e se embebedam de sangue
para glória do Senhor dos Exércitos…
e jamais haverá Deuteronómio que resista
por mais petróleo que na terra exista.
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20906: Blogues da nossa blogosfera (128): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (44): Palavras e poesia

Guiné 61/74 - P20936: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XXXVII: Fernando Assunção Silva, cap inf (Oliveira de Azeméis, 1945 - Tambambofa, Gadamael, 1971)




1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos 47 Oficiais, oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do ultramar ou guerra colonial (em África e na Ásia). 

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva [, foto atual à esquerda], membro da nossa Tabanca Grande [, tendo sido, no CTIG, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972 ]


2. A CCAÇ 2976 (Gaviões) tem cerca de duas dezenas e meia de referências no nosso blogue. 

Recorde-se que  o cap inf op esp Fernando Assunção Silva, morto em combate, em Tambambofa, subsetor de Gadamael, em 24 de janeiro de 1971, foi substituído pelo então cap art António Carlos Morais da Silva. Eram amigos e camaradas de curso. Era natural de Oliveira de Azeméis, está sepultado em Atouguia, Guimarães.


Guiné > Região de Tombali > Mapa de Cacoca / Gadamael (1960) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Bricama, Tambambofa e Caur.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)
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Guiné 61/74 - P20935: Blogpoesia (675): "Figueira do diabo", "Horrorosa modernidade" e "Os nós e os laços", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana:


Figueira do diabo

Amarelecido por fora
Sedoso na pele, raiada.
Amarelecido ao sol.
Carnudo e sadio.

Crava-se-lhe o dente.
Um arrepio na espinha.
Amargo de enxofre.
O raio do figo.
Que o diabo pariu nas noites de inverno.
Faltou-lhe o mel da seara.
Impregnado de fel,
Afugenta o sedento e arrasa o faminto.
Donde veio a praga que nem falta fazia?
Só alegra e colora o caminho, parecendo bendito.
A garotada da escola, à falta de trapos,
Faz dele uma bola ou uma bala de fisga, conforme a guerra, enquanto dura e resiste.

Mafra, 2 de Maio de 2020
16h13m
Jlmg

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Horrorosa modernidade…

Ficaram ermas as terras.
Se ausentaram as gentes em hordas.
A fome.
A inclemente adversidade.
A metralha a toda a hora.
A esperança morreu.
Recomeçar.
Enquanto há tempo.
A única salvação.
Noutros quadrantes.
Arriscar a vida.
Vender as forças, pelo pão da sobrevivência e da segurança.
E nada seria preciso.
Houvesse justiça e solidariedade.
As leiras de terra seriam bastantes.
E as colheitas certas.
Sol e chuva à farta, na hora exacta.
Como só o sabe a Natureza.
Cada povo em sua terra.
Assim Ela o destinou.
Mas, a humanidade se encapelou.
Os poderosos de um lado.
Do outro, os escravizados.
Se abalançam aos mares e ao deserto.
Uns chegam. Muitos não.
Batem à porta das fronteiras.
Mais uma vez se divide o mundo.
E, ó vergonha!
Se erguem gettos.
Como se não fosse uma só a humanidade...

Mafra, 29 de Abril de 2020
17h45m
Jlmg

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Os nós e os laços

Há percalços na vida. Surpreendem incautos e atentos.
Há buracos no chão.
Há rochas tapadas nos caminhos de terra.
Esfacelam as polpas dos dedos dos pés.
Corre o sangue e empapa as meias.
Precisávamos de asas.
Pesam-nos as botas nas pernas.
Desenham pégadas no chão e na lama.
As chuvas de Outono rasgam os caminhos de sulcos.
Restam troços de areia seca ao sol.
Fazem de praia no rio.
Pendem das árvores os ramos com nós.
Ferradas ao chão brotam raízes dos tocos com nervos, com nós e com laços.

Mafra, 24 de Abril de 2020
1055m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20905: Blogpoesia (674): "Sobre o Vinte e Cinco de Abril", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P20934: Parabéns a você (1796): António Estácio, Amigo Grã-Tabanqueiro, Escritor, natural da Guiné-Bissau e Delfim Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAV 3366 (Guiné, 1971/73)


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Nota do editor

Último poste da série de 1 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20926: Parabéns a você (1795): José Carlos Neves, ex-Soldado TRMS do STM/CTIG (Guiné, 1974) e Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703 (Guiné, 1964/66)

sábado, 2 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P20933: Tabanca dos Emiratos (4): Viagem até ao emirato de Fujairah - Parte II: O museu (Jorge Araújo)


Geografia dos Emirados Árabes Unidos [UAE] com indicação dos seus sete Emirados: Abu Dhabi, Dubai, Sharjah, Ajman, Umm al Quwain, Ra's al Khaimah e Fujairah.


Foto 1 > Emiratos Árabes Unidos > Março de 2020)  > Atravessando as «Montanhas Hajar» a caminho de Fujairah


Foto 3 – Emiratos Árabes Unidos > Março de 2020 > Entrada do «Museu de Fujairah»


Foto 4 > Emiratos Árabes Unidos > Março de 2020 > Painel na entrada do «Museu de Fujairah» inaugurado em 1991




Fotos (e legenda): © Jorge Araújo (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]






Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); um homem das Arábias... doutorado pela Universidade de León (Espanha) (2009), em Ciências da Actividade Física e do Desporto; professor universitário, no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), Portimão, Grupo Lusófona; vive entre entre Almada e Abu Dhabi; autor da série "(D)o outro lado do combate"; nosso coeditor.


IDA AO EMIRADO DE FUJAIRAH (FUJEIRA)
UMA VISITA PARA PARTILHAR
- O MUSEU DE FUJAIRAH (PARTE II)
1.  – INTRODUÇÃO

O aparecimento dos primeiros casos de infectados com o «COVID-19», levaram as autoridades locais a lançar o alerta junto dos seus residentes, propondo algumas alterações no seu comportamento social de modo a reduzir as fontes de contágio.

A primeira medida tomada, logo no início de Março, foi o encerramento de todos os estabelecimentos de ensino, desde o pré-escolar ao ensino superior. Nessa altura ainda não era possível antever o que, decorridos mais alguns dias, passou a ser inevitável – o "isolamento social" – com recolhimento no domicílio.

Foi neste quadro factual em evolução, onde a mobilidade interna ainda não contemplava restrições, que aproveitámos para nos deslocar de carro ao Emirato de Fujairah (Fujeira), situado a três centenas de quilómetros, na costa leste, banhada pelo Golfo de Omã, como aliás demos conta no P20818.

Continuando a partilhar esta viagem convosco, eis o segundo fragmento.  (*)    

2.  – OS EMIRADOS ÁRABES UNIDOS [EAU]


Situado no sudeste da Península Arábica, no Médio Oriente, o território dos Emirados Árabes Unidos [EAU ou UAE] faz fronteira com Omã (a leste), com o Qatar e Golfo Pérsico (a norte) e com a Arábia Saudita (a sul e a oeste).

Formado por uma confederação de monarquias árabes, chamados «EMIRADOS», estabelecida oficialmente em 02 de Dezembro de 1971, cada um dos sete emirados possui total soberania sobre os assuntos internos. Localizados na entrada do Golfo Pérsico, os sete emirados que constituem o país são: Abu Dhabi, Dubai, Sharjah, Ajman, Umm al Quawain, Ra's al Khaimah (a oeste) e Fujairah (a leste). A capital é Abu Dhabi, a segunda maior cidade dos Emirado Árabes Unidos (Vd. infografia acima).


3.   – O EMIRADO DE FUJAIRAH (FUJEIRA)

O Emirado de Fujairah está separado do resto do país pela linha irregular das «Montanhas Hajar», constituídas numa cordilheira situada entre o leste dos Emirados Árabes Unidos e o nordeste de Omã, sendo considerada a maior cadeia de montanhas no leste da península Arábica (Vd. foto nº 1, acima).

Em termos de superfície, Fujairah é o quinto maior entre os sete emirados dos EAU, e o único que está localizado no Golfo de Omã, ao contrário dos outros, que estão situados ao longo do Golfo Pérsico.

3.1 – O MUSEU DE FUJAIRAH (FUJEIRA)

O Emirado de Fujairah possui um dos museus mais importantes dos Emirados Árabes Unidos que regista a história e o património ancestrais através das antiguidades encontradas pelas missões de escavação e arqueólogos.

Este pequeno museu foi criado como parte da biblioteca geral Khalid IBN Waleed em 1969 e foi supervisionado directamente pelo Amiri Diwan, incluindo armas, cerâmica, moedas e ferramentas agrícolas.

Devido à expansão das descobertas exploratórias e arqueológicas, Sua Alteza Sheikh Hamad bin Mohammed Al Sharqi, Membro Supremo do Conselho e governante de Fujairah, emitiu um decreto em 27 de Maio de 1991 para a criação de um Departamento de Património e Antiguidades especializado na preservação do meio ambiente, herança do emirado que inclui castelos, fortes, mesquitas antigas, bem como a manutenção do museu e a supervisão de explorações de monumentos históricos no Emirado.

Com base nesse decreto, o Departamento de Antiguidades e Património reorganizou-se e construiu o «Museu Fujairah» para acomodar o grande número de artefactos descobertos em diferentes partes do Emirado. (Vd. fotos nºs 2 e 3, acima).

Em 30 de novembro de 1991, Sua Alteza, Governante de Fujairah, inaugurou oficialmente o «Museu de Fujairah», que consistia num único grande salão de antiguidades. Em 1998 o mesmo Departamento finalizou os planos de expansão do museu que incluíam dois amplos salões para antiguidades e três grandes salões para património, incluindo, também, uma secção para reformas, um laboratório e uma secção para escavações arqueológicas.
► Espaço Histórico

O primeiro salão exibe as ocupações conhecidas na região, como agricultura, pesca e comércio, além de meios para extrair água potável (Al Yazrah), bem como as actividades tradicionais, como a indústria de tecelagem e cerâmica.

O segundo salão inclui armas antigas usadas pela população local, vários trajes antigos que eram populares na região, além de utensílios usados no passado e entre as armas exibidas nesta sala, Om Fateela, Al Sawmaa e Al Roomeya, juntamente com um rifle antigo (arma portátil de cano longo) chamado Khedewi, fabricado em 1916. Existe, ainda, uma casa antiga feita de folhas de palmeira.

O terceiro salão corresponde à antiga loja de especiarias e souq.

► Salão de Antiguidades

O salão de antiguidades inclui diversos artefactos que foram descobertos em vários locais, incluindo vasos de esteatite (pedra de talco ou pedra-sabão) de clorito (mineral filossilicato), além de itens de latão e louça e conjuntos de canecas e xícaras antigas de várias formas e usos.
        FOTOGALERIA (PARTE II)










Seleção de fotos dos conteúdos do museu


Principal fonte de consulta:
Desdobrável do Fujairah Tourism & Antiquities Authority
Fujairah Fort
Tradução e adaptação do Inglês.



Termino, agradecendo a atenção dispensada.
Continuem vigilantes… e não facilitem… o "COVID-19" não passará!
Com um forte abraço (virtual).    (**)
Jorge Araújo.
14ABR2020
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Notas do editor:

(*) Vd. poste amterior > 5 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20818: Tabanca dos Emiratos (2): Viagem até ao emirato de Fujairah - Parte I: o forte (Jorge Araújo)

(**) Último poste da série > 11 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20842: Tabanca dos Emiratos (3): Cacei aqui, em Abu Dhabi, às 14h15, de ontem, mais um número redondo, os 10 milhões de acessos ao nosso blogue... Votos de Santa Páscoa para a Tabanca Grande (Jorge Araújo)

Guiné 61/74 - P20932: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (9): “Operação Confinamento II"

1. Em mensagem do dia 27 de Abril de 2020, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos esta Boa memória da sua paz, dedicada ainda ao confinamento.


BOAS MEMÓRIAS DA MINHA PAZ - 8

Op Confinamento II

Aparentemente, pouca gente terá lido a minha reportagem anterior (Op. Confinamento). No entanto, logo fui alertado de que os Bandalhos mais afastados, também vivem momentos difíceis (e estranhos) no combate à pandemia. Vou tentar informar o que se passa com eles, mas sem indicar os nomes, claro. Além disso, vou informar o que alguns continuam a fazer.

O caso mais grave parece ser o do Diniz Goa da Costa que, sabendo das dificuldades dos seus amigos do norte, devido à falta do prometido material sanitário, apanhou algumas máscaras (de vários tipos), arrancou os ventiladores das suas WC e fez-se à estrada.


Porém, como exibia a bandeira da Restauração, foi detido perto de Alcoentre, onde está preso numa das celas dos 2000 criminosos que, entretanto, foram libertados. Por mais que diga que aquela bandeira não é a do FCP, ninguém acredita. Será, porventura, por obsessão de alguém fanático, avesso ao azul e branco do F. C. Porto?


Quando soube deste incidente, o vizinho Duque da Amadora avançou em seu auxílio. Depois de manifestar a sua revolta, ele que é um Homem da Paz, foi submetido a um infame e rigoroso interrogatório, até o incriminarem. Imaginem a causa da sua prisão: trazer vestida, como camisola interior, uma T-shirt dos Super Dragões, que um seu familiar lhe havia dado como prenda.


Curioso é o confinamento em Gestosa de Boticas, nas encostas da Serra do Barroso. O José Bandalho Pires, que é o Morgado e dono de quase toda a aldeia, impôs-lhe o seu total isolamento (mais rigoroso que em tempos de grande nevão). Todavia, obriga ao convívio diário de todos os seus 9 habitantes. Desde então, as lareiras têm funcionado continuamente, com as respectivas panelas de ferro ao lume, consumindo os artigos de fumeiro com que ornamentam as cozinhas.


Quando o convívio é bom,
Merece o fabrico do pão!

Desenterraram o “vinho dos mortos” para as tainadas, que têm sido contínuas, pois já ninguém trabalha (fora da cozinha…) e reina por lá uma certa desorientação em atinar com o sítio onde dormir.

Preocupante, continua a ser o comportamento dos Maiatos.

O Alberto, cavou um abrigo junto do anexo, onde se isolou. Tem um buraco tapado com o fundo de um bidão. Deixam-lhe a comida por perto, mas não aceita quaisquer contactos. Nem “telelé”, nem “net”, nem televisão. Isolamento total!
Outro, o Galã, está detido, em casa. E ainda bem, porque quando ele anda fora, é uma grande confusão com as suas admiradoras. Anda preocupado com os alarmes de guerra que um seu cunhado anda a espalhar no meio familiar.

Os primos de Crestuma foram afastados pelas mulheres que os levaram; um foi para Gaia e outro para Lever. Este vive sacrificado, pagando bem caro os custos pela conquista da sua jovem mulher. Está incumbido de tratar cuidadosa e amorosamente a sua gentil sogra.
O outro, anda sempre desenfiado. Não alinha nas “redes sociais”, nem aparece com facilidade. Por um acaso, recentemente descobrimos onde passa grande parte do seu imenso tempo livre. Se não estiver no Dragão ou no Centro de Estágio de Crestuma/Olival, deve estar a preparar uns “cachorrinhos” especiais na cozinha do café da vizinha.

Quem está mal é o Augusto de Lamego. O tal amigalhaço que vive muito dos abraços. Ganhou aquele vício quando conviveu de perto, com alguns colegas artistas, no filme da Ferreirinha, sob a orientação do Manoel de Oliveira. Com as ruas desertas de gente (e a falta de abraços), ele sente mais a nossa falta. Ainda bem, porque quando ele vem cá abaixo (poucas vezes), leva abraços para meio ano. Vá lá que o Moreno tem passado por sua casa, a dar-lhe as mesinhas necessárias, para se manter em forma.

Do Brasil, também temos notícias “abandalhadas”.
A Luci está muito feliz com a família, lá para os lados da Baía. Sempre na farra, até parece muito crédula com as orientações governamentais.

A Elci, de Goiás, mais ligada ao mundo da saúde, por profissão, não perde a oportunidade de vincar teimosamente a sua opinião. Ainda bem, porque o Brasil pode vir a sofrer um bom bocado.


Do casal Carmenzita, nem uma palavra. Pela Junta de Freguesia de Touguinhó, soubemos que se refugiaram nas margens do Rio Leste, perto dum acampamento de imigrantes subsídio-dependentes que aguardam a justa e digna habitação. Vivem à base de caracóis dos grandes, perninhas de rã, agriões, escalos fritos e grilos salteados. Moram na tenda assinalada com uma bandeira encarnada com o n.º 37.

Homem aos grilos - Foto captado por “zoom”, pelos serviços exteriores do Gabinete de Crise Covid-19, da autarquia Touguinhense.

Por intermédio da filha Andreia que, aflita, nos procurou, soubemos que o luso-brasileiro de Fornelos, enfiou o camuflado, equipou-se com armas brancas e fugiu de Gaia, atravessando ilegalmente, os concelhos de Espinho, Feira, Arouca, Castelo de Paiva e Cinfães. A Andreia quer saber, através dos “Bandalhos”, se estamos ao corrente da ingrata situação. É que as armas que transporta, além de infectadas pela matança recente de ratazanas doentes, elas estão bastante enferrujadas e podem ser perigosas, no caso de alguém se espetar nelas.


Julgo que este assunto deveria ter a maior atenção do nosso “Presidente dos Bandalhos” que, independentemente da azáfama reinante nas nossas Forças Armadas, muito preocupadas com as festividades do 25 de Abril, teria uma boa oportunidade de lhes dar alguma ocupação.

Mandaram-nos uma foto, obtida há dias, numa espreitadela ao anexo da vizinha, ali perto de Rio de Moinhos. Tudo normal e corriqueiro. Só que a senhora vincou repetidamente:
- Olhe que, quem cabritos come e cabras não tem, nem quero pensar donde aquilo vem!


A insinuação é forte e é por isso que eu nem os nomes sei dizer.

Da Quinta Srª da Graça, propriedade do famoso casal Bandalho Luísa e Zé Manel, fomos informados de que as coisas não correm lá muito bem. Ele, sempre preocupado com a linha do “corpinho Danone” (engordou 226gr), já não come os mal-empregados petiscos que a mulher lhe faz, e não trabalha, alegando… fraqueza física.



Com tais petiscos da Quinta da Senhora da Graça, quem é que ficava fraco para trabalhar?

Temos fotos chocantes da sacrificada senhora a sulfatar a vinha, enquanto ele faz “selfies” tendo como fundo a paisagem duriense. Com a mania de que é mais esquerdista que os outros 93% dos portugueses que dizem que também são, queria ir à Assembleia da República, festejar o 46.º aniversário do 25 de Abril, mas foi rejeitado porque aquilo é mais para a elite que, “heroicamente”, não foi à guerra.


Recebemos uma mensagem, com foto, dando-nos a conhecer que o Tarzan Travesso, de Medas, ocupa agora, também, os galhos do 2.º Piso da Árvore n.º 3 da Rua do Loureiro, 4515-370 Medas - Gondomar

Reina uma tristeza enorme na Rua da Alegria. O bondoso Bandalho Jotex, que era conhecido por levar restinhos de pão-de-ló, para os cãezinhos da D. Vergília, não sai da cama. Inactivo, engordou de tal forma que, só sairá de casa pela janela grande, pendurado de um forte guindaste. A família, envergonhada, já fez constar que ele sofre dos joelhos, dos joanetes e... tal… e tal… No entanto, sabemos também, que está sob forte regime de dieta, a fim de recuperar a indispensável mobilidade, aliás exigível ao detentor do mais alto cargo da nossa hierarquia “bandalhada”.

Existem vários outros “Bandalhos” (uns com as quotas em dia e outros não), cuja inactividade recente, não dá para perder tempo atrás deles. O seu isolamento envergonhado (ou não), leva-nos a pensar que devem ser eles a dar sinais de vida.
Entre eles, devemos enaltecer o caso de um dos primeiros “Bandalhos”, o Grandalhão, que foi atleta do FCP e que, mesmo reformado da PJ, se mudou para a capital, oferecendo os seus serviços, em “pro bono”, no intuito de arranjar maneira de salvar o Rui Pinto, o tal jovem denunciante da corrupção em Portugal.
De resto, confirmamos que os “Bandalhos” se estão a safar bem nesta luta inglória, o que nos dá grande satisfação.

José Ferreira
(Silva da Cart 1689)
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Nota do editor

Último poste da série de 25 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20903: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (8): “Covidando” com os meus botões ou “Covidando” com o confinamento