1. Em mensagem do dia 27 de Abril de 2020, o nosso
camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART
1913, Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá,
1967/69), enviou-nos esta Boa memória da sua paz, dedicada ainda ao confinamento.
BOAS MEMÓRIAS DA MINHA PAZ - 8
Op Confinamento II
Aparentemente, pouca gente terá lido a minha reportagem anterior (Op. Confinamento). No entanto, logo fui alertado de que os Bandalhos mais afastados, também vivem momentos difíceis (e estranhos) no combate à pandemia. Vou tentar informar o que se passa com eles, mas sem indicar os nomes, claro. Além disso, vou informar o que alguns continuam a fazer.
O caso mais grave parece ser o do Diniz Goa da Costa que, sabendo das dificuldades dos seus amigos do norte, devido à falta do prometido material sanitário, apanhou algumas máscaras (de vários tipos), arrancou os ventiladores das suas WC e fez-se à estrada.
Porém, como exibia a bandeira da Restauração, foi detido perto de Alcoentre, onde está preso numa das celas dos 2000 criminosos que, entretanto, foram libertados. Por mais que diga que aquela bandeira não é a do FCP, ninguém acredita. Será, porventura, por obsessão de alguém fanático, avesso ao azul e branco do F. C. Porto?
Quando soube deste incidente, o vizinho Duque da Amadora avançou em seu auxílio. Depois de manifestar a sua revolta, ele que é um Homem da Paz, foi submetido a um infame e rigoroso interrogatório, até o incriminarem. Imaginem a causa da sua prisão: trazer vestida, como camisola interior, uma T-shirt dos Super Dragões, que um seu familiar lhe havia dado como prenda.
Curioso é o confinamento em Gestosa de Boticas, nas encostas da Serra do Barroso. O José Bandalho Pires, que é o Morgado e dono de quase toda a aldeia, impôs-lhe o seu total isolamento (mais rigoroso que em tempos de grande nevão). Todavia, obriga ao convívio diário de todos os seus 9 habitantes. Desde então, as lareiras têm funcionado continuamente, com as respectivas panelas de ferro ao lume, consumindo os artigos de fumeiro com que ornamentam as cozinhas.
Quando o convívio é bom,
Merece o fabrico do pão!
Desenterraram o “vinho dos mortos” para as tainadas, que têm sido contínuas, pois já ninguém trabalha (fora da cozinha…) e reina por lá uma certa desorientação em atinar com o sítio onde dormir.
Preocupante, continua a ser o comportamento dos Maiatos.
O Alberto, cavou um abrigo junto do anexo, onde se isolou. Tem um buraco tapado com o fundo de um bidão. Deixam-lhe a comida por perto, mas não aceita quaisquer contactos. Nem “telelé”, nem “net”, nem televisão. Isolamento total!
Outro, o Galã, está detido, em casa. E ainda bem, porque quando ele anda fora, é uma grande confusão com as suas admiradoras. Anda preocupado com os alarmes de guerra que um seu cunhado anda a espalhar no meio familiar.
Os primos de Crestuma foram afastados pelas mulheres que os levaram; um foi para Gaia e outro para Lever. Este vive sacrificado, pagando bem caro os custos pela conquista da sua jovem mulher. Está incumbido de tratar cuidadosa e amorosamente a sua gentil sogra.
O outro, anda sempre desenfiado. Não alinha nas “redes sociais”, nem aparece com facilidade. Por um acaso, recentemente descobrimos onde passa grande parte do seu imenso tempo livre. Se não estiver no Dragão ou no Centro de Estágio de Crestuma/Olival, deve estar a preparar uns “cachorrinhos” especiais na cozinha do café da vizinha.
Quem está mal é o Augusto de Lamego. O tal amigalhaço que vive muito dos abraços. Ganhou aquele vício quando conviveu de perto, com alguns colegas artistas, no filme da Ferreirinha, sob a orientação do Manoel de Oliveira. Com as ruas desertas de gente (e a falta de abraços), ele sente mais a nossa falta. Ainda bem, porque quando ele vem cá abaixo (poucas vezes), leva abraços para meio ano. Vá lá que o Moreno tem passado por sua casa, a dar-lhe as mesinhas necessárias, para se manter em forma.
Do Brasil, também temos notícias “abandalhadas”.
A Luci está muito feliz com a família, lá para os lados da Baía. Sempre na farra, até parece muito crédula com as orientações governamentais.
A Elci, de Goiás, mais ligada ao mundo da saúde, por profissão, não perde a oportunidade de vincar teimosamente a sua opinião. Ainda bem, porque o Brasil pode vir a sofrer um bom bocado.
Do casal Carmenzita, nem uma palavra. Pela Junta de Freguesia de Touguinhó, soubemos que se refugiaram nas margens do Rio Leste, perto dum acampamento de imigrantes subsídio-dependentes que aguardam a justa e digna habitação. Vivem à base de caracóis dos grandes, perninhas de rã, agriões, escalos fritos e grilos salteados. Moram na tenda assinalada com uma bandeira encarnada com o n.º 37.
Homem aos grilos - Foto captado por “zoom”, pelos serviços exteriores do Gabinete de Crise Covid-19, da autarquia Touguinhense.
Por intermédio da filha Andreia que, aflita, nos procurou, soubemos que o luso-brasileiro de Fornelos, enfiou o camuflado, equipou-se com armas brancas e fugiu de Gaia, atravessando ilegalmente, os concelhos de Espinho, Feira, Arouca, Castelo de Paiva e Cinfães. A Andreia quer saber, através dos “Bandalhos”, se estamos ao corrente da ingrata situação. É que as armas que transporta, além de infectadas pela matança recente de ratazanas doentes, elas estão bastante enferrujadas e podem ser perigosas, no caso de alguém se espetar nelas.
Julgo que este assunto deveria ter a maior atenção do nosso “Presidente dos Bandalhos” que, independentemente da azáfama reinante nas nossas Forças Armadas, muito preocupadas com as festividades do 25 de Abril, teria uma boa oportunidade de lhes dar alguma ocupação.
Mandaram-nos uma foto, obtida há dias, numa espreitadela ao anexo da vizinha, ali perto de Rio de Moinhos. Tudo normal e corriqueiro. Só que a senhora vincou repetidamente:
- Olhe que, quem cabritos come e cabras não tem, nem quero pensar donde aquilo vem!
A insinuação é forte e é por isso que eu nem os nomes sei dizer.
Da Quinta Srª da Graça, propriedade do famoso casal Bandalho Luísa e Zé Manel, fomos informados de que as coisas não correm lá muito bem. Ele, sempre preocupado com a linha do “corpinho Danone” (engordou 226gr), já não come os mal-empregados petiscos que a mulher lhe faz, e não trabalha, alegando… fraqueza física.
Com tais petiscos da Quinta da Senhora da Graça, quem é que ficava fraco para trabalhar?
Temos fotos chocantes da sacrificada senhora a sulfatar a vinha, enquanto ele faz “selfies” tendo como fundo a paisagem duriense. Com a mania de que é mais esquerdista que os outros 93% dos portugueses que dizem que também são, queria ir à Assembleia da República, festejar o 46.º aniversário do 25 de Abril, mas foi rejeitado porque aquilo é mais para a elite que, “heroicamente”, não foi à guerra.
Recebemos uma mensagem, com foto, dando-nos a conhecer que o Tarzan Travesso, de Medas, ocupa agora, também, os galhos do 2.º Piso da Árvore n.º 3 da Rua do Loureiro, 4515-370 Medas - Gondomar
Reina uma tristeza enorme na Rua da Alegria. O bondoso Bandalho Jotex, que era conhecido por levar restinhos de pão-de-ló, para os cãezinhos da D. Vergília, não sai da cama. Inactivo, engordou de tal forma que, só sairá de casa pela janela grande, pendurado de um forte guindaste. A família, envergonhada, já fez constar que ele sofre dos joelhos, dos joanetes e... tal… e tal… No entanto, sabemos também, que está sob forte regime de dieta, a fim de recuperar a indispensável mobilidade, aliás exigível ao detentor do mais alto cargo da nossa hierarquia “bandalhada”.
Existem vários outros “Bandalhos” (uns com as quotas em dia e outros não), cuja inactividade recente, não dá para perder tempo atrás deles. O seu isolamento envergonhado (ou não), leva-nos a pensar que devem ser eles a dar sinais de vida.
Entre eles, devemos enaltecer o caso de um dos primeiros “Bandalhos”, o Grandalhão, que foi atleta do FCP e que, mesmo reformado da PJ, se mudou para a capital, oferecendo os seus serviços, em “pro bono”, no intuito de arranjar maneira de salvar o Rui Pinto, o tal jovem denunciante da corrupção em Portugal.
De resto, confirmamos que os “Bandalhos” se estão a safar bem nesta luta inglória, o que nos dá grande satisfação.
José Ferreira
(Silva da Cart 1689)
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Nota do editor
Último poste da série de 25 de abril de 2020 >
Guiné 61/74 - P20903: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (8): “Covidando” com os meus botões ou “Covidando” com o confinamento