1. Sétimo poste da série Cartas, (JUL65 a SET65), de autoria de Carlos Geraldes, ex-Alf Mil da CART 676, Pirada, Bajocunda e Paúnca, 1964/66
2.ª FASE: O MATO
Paúnca, 03 Jul. 1965
As coisas estão a alterar-se bastante, quebrando a rotinas dos últimos tempos. Esta semana foi mesmo muito atribulada, mas não para mim que, nela fui apenas espectador.
A Lili (nome familiar da esposa do Castro) acabou por ter uma zanga terrível com o marido.
No início, já tinha notado uma certa frieza da parte dela para com ele. Vim depois a saber que a vida que os dois aqui levavam não era nenhum mar de rosas e que discutiam frequentemente, inclusivamente durante as refeições, feitas juntamente com os furriéis.
Na passada terça-feira, o Castro saiu de jeep para visitar outro alferes de um destacamento aqui próximo, mas de outra Companhia. Almoçou por lá e só regressou ao fim da tarde, demasiado alegre, parecendo vir até com um grão na asa.
Foram os dois logo para o quarto enquanto nós ficávamos a ouvir uns discos que ele tinha trazido.
Passado pouco tempo, repentinamente, a Lili abre a porta e sai a correr espavorida. Pelo que nos pudemos aperceber, ela ter-lhe-ia dito qualquer coisa sobre o estado eufórico dele, resultando daí uma zanga em que se insultaram mutuamente com os piores nomes, chegando mesmo à agressão física.
Nessa altura já era noite cerrada e eu lá fui atrás da Lili, que dominada por forte estado emocional, com choro, soluços e nem sei que mais, foi sentar-se no chão, no meio da enorme parada do quartel de Paúnca. Acorreram alguns furriéis mas afastei-os e fiquei só eu a acalmá-la, a tentar que desabafasse comigo. Quando finalmente vi que parou de chorar e de tremer convulsivamente, deixei-a e regressei à Messe onde ainda todos estavam reunidos, consternados com toda aquela cena.
Entretanto o Castro fez várias tentativas para chegar junto dela mas foi repelido aos gritos.
O jantar estava na mesa e nem um nem outro se decidia a vir fazer-nos companhia, ele no quarto, ela lá fora.
Foi então que faxina, ao entrar no quarto do Castro para o chamar para vir comer o foi surpreender a cortar as veias do pulso esquerdo com uma lâmina de barba. Acorremos imediatamente, o enfermeiro aplicou-lhe logo uma ligadura e nem chegou a haver perigo. O Castro caiu então num estado de completa prostração física e durante os três dias que se seguiram quase nem se levantou da cama, não comendo nem falando com ninguém.
A Lili, essa, nunca mais quis dormir na mesma cama com ele e tem teimado em dormir numa cama de lona na palhota-alpendre que cá fora servia de bar.
À medida que os dias foram passando, investiguei alguns factos passados, na mira de tentar ficar a saber o porquê de se ter chegado àquela situação. No entanto não o fiz apenas com o propósito de bisbilhotar os pormenores escabrosos do escândalo. Precisava de ter em meu poder o conhecimento de todos os factos que me ajudassem à compreensão e possível resolução deste problema.
Sim, porque estava determinado em ajudar estes dois. Ele em primeiro lugar, porque estava a fraquejar de modo lamentável, ela para que não enlouquecesse. E digo, enlouquecer pois é isso mesmo que aqui pode vir a acontecer aos espíritos mais fracos.
Assim constatei que as coisas estariam neste pé: o comportamento da Lili para com o marido era frio e distante já desde a primeira vez que ela cá tinha estado, ainda em Bissau. No entanto, quis vir para Paúnca, com o intuito de animar os soldados e todos os outros que aqui também viviam a sua solidão. Esse impulso levou-a talvez longe demais, pois nem todas as pessoas têm uma boa formação moral e, a maioria, vive dominada pelos mais estranhos e complexos traumas, quase todos de origem sexual.
Começaram logo por surgir os inevitáveis boatos sobre o comportamento dela, que era uma mulher leviana, que atraiçoava o marido, inclusivamente com um dos furriéis, enfim que não passava de uma vulgar libertina.
O Castro, se chegou a suspeitar disso, nunca a soube defender nem resguardar, pois ele tem aquela estranha mentalidade, segundo a qual a verdadeira e única camaradagem leal que existe entre os homens é a que se cria entre os que se embebedam em conjunto. E é também verdade que ele, antes e depois de ter cá a mulher, costumava embebedar-se na companhia dos seus soldados, talvez com a intenção de aumentar a sua popularidade (o que de facto conseguiu). Um dos indícios claros da sua personalidade é ter sempre um desejo incontrolável pelo luxo, o sonho de possuir bons carros, mulheres deslumbrantes, vida de playboy, etc. Mas para além disso tudo, a sua maior obsessão foi e será sempre a de ser popular.
Mas voltemos aos acontecimentos. Todos os dias falo com um ou com o outro, tentando serenar ao ânimos e fazer voltar tudo ao seu lugar.
Ela quer a separação a todo o custo. Ele quer que ela volte para ele e o acarinhe. Ela continua a manifestar total repulsa por ele. Até que ontem (sexta-feira) consegui convencê-lo de que a melhor atitude que poderia tomar, era levantar-se da cama, lavar-se, barbear-se, comer qualquer coisa e deixar de, teimosamente, tentar discutir ou pedir explicações à esposa. Mas logo em seguida, voltou a fazer o mesmo, a pedir que ela voltasse para ele, o perdoasse e contemporizasse com ele.
Mas ela cada vez mais se inteiriçava e se recusava a falar com ele, não querendo nem sequer que ele a tocasse. E o inevitável sucedeu novamente, uma tremenda discussão com um final outra vez grave.
Aproveitando uma distracção nossa, ela cortou-se selvaticamente nos dois pulsos e pelos braços acima em total desespero e descontrolo. Tivemos que a agarrar à força para que deixasse fazer os curativos, pois estava completamente desvairada. E o Castro, sempre de volta dela, massacrando-a insistentemente, perguntando porque é que ela estava assim, o que é que ele tinha feito de mal, numa cegueira tal que tive de empregar a violência para o afastar da mulher.
No fim de muita luta e muita paciência consegui que finalmente, ainda nessa noite, os dois jantassem connosco à mesa. Felizmente agora a crise está a abrandar, mas as coisas nunca voltarão a ser como dantes, nem haverá reconciliação, pois entre eles ficou decidido o divórcio.
Hoje de tarde o Castro não parava de chorar a perda daquilo que ele mais gostava. Pode-se dizer que hoje, tiveram uma recaída psicológica, talvez por cansaço. Ele, num acto de abandono, vagabundeava pela estrada, para baixo e para cima, sob uma enorme chuvada, como para se punir. Ela, não conseguia adormecer, dizendo que o estava constantemente a ouvir gritar e que ouvia também outras vozes a chamarem por ela. Apesar de eu lhe ter cedido por diversas vezes o meu quarto, ela nunca mais quis deixar a palhota-alpendre, teimando sempre em dormir na cadeira de lona. Por lá adormeceu, após o enfermeiro lhe ter administrado uma injecção calmante.
Como se calhar já repararam, a minha actuação aqui tem sido agora como a de um comandante. Por que de facto já o sou. Recebi ontem à noite uma ordem por escrito do nosso capitão a determinar que a partir de hoje (dia 3), o pelotão do Castro regressava a Pirada, vindo o meu para cá, beneficiando já da minha estadia aqui e alegando a tal prometida rotatividade dos destacamentos como teria sido combinado quando viemos para o mato. Aconteceu portanto aquilo que já ninguém esperava, eu vir a ser o comandante de Paúnca, o melhor e o mais cobiçado aquartelamento aqui da zona.
Isto acabou por arrasar ainda mais o Castro. A Lili chegou a pedir-me para a deixar ficar em Paúnca até vir a altura de poder embarcar para a Metrópole, mas por fim decidiu ir também para Pirada na condição de nem ver o marido, nem o capitão, que continua a detestar igualmente.
No entanto continuamos a construir o aquartelamento que querem criar aqui ao lado para um outro pelotão.
Paúnca, 10 Jul. 1965
Agora estou só em Paúnca. O Castro e a mulher foram para Bissau onde arranjou lugar para ela num avião da TAP, segundo contou num aerograma que mandou de lá, para o capitão. Parece também que, depois desta fita toda que aqui fizeram, já se reconciliaram de novo, o que me deixou boquiaberto.
Mesmo no último domingo ainda me deram que fazer, pois ela resolveu fugir, embrenhando-se pelo mato. Um pouco antes da hora do almoço, demos pela falta dela e depois de muito a procurar, soubemos por uns nativos que ela tinha sido vista a correr pela mata já longe do quartel. Fomos todos atrás dela e só a conseguimos agarrar perto das 4 horas da tarde, quando finalmente a encontrámos numa tabanca a 10 km daqui, estafada e cheia de sede. Só com uma grande dose de paciência é que conseguimos convencê-la a voltar para o quartel e tive pelo menos a satisfação que, se não tivesse sido pela minha presença, a crise teria tido contornos muito mais graves, ou vamos lá, até muito mais ridículos.
Mas já nem gosto mais de falar neste assunto, principalmente com quem tanto civis como militares se limitaram a ser simples espectadores, deste caso.
De uma coisa fiquei certo: ninguém está suficientemente autorizado para a poder julgar. Ela era uma pessoa de muito difícil compreensão para esta gente ainda com mentalidade de bichos-do-mato, chamemos-lhes assim.
Mas ainda não vos falei de Paúnca como deve ser.
O quarto que era do Castro, passou agora a ser o meu. Está dividido a meio por uma cortina verde-escura, comprada por ele mas que ma deixou ficar, pois em Pirada não lhe iria servir para nada. O quarto fica assim dividido em escritório e quarto propriamente dito. Já pendurei o meu canhangulo na parede e coloquei os tambores a um canto.
A minha lavadeira continua a ser a Ti Clara e até ver será sempre ela.
O quartel tem apenas dois edifícios cobertos de telha, a caserna e a Messe com os quartos dos sargentos e o meu. Os outros edifícios são simples cobertos, ou então, como no caso do Refeitório, edifícios com paredes de cimento mas cobertos com chapas de zinco ou lusalite, mais baixos que a caserna.
O aquartelamento fica logo à entrada da povoação, dominando a estrada que lhe dá acesso. Andando mais um pouco chega-se a um largo formado por cinco casas comerciais dispostas mais ou menos em quadrado. Aí é o centro do povoado, onde se faz o movimento principal.
Esta gente daqui é mais rica que a de Pirada, pois enquanto lá, os quatro comerciantes existentes, vivem principalmente do comércio que fazem com o Senegal, estes aqui (e são cinco!) vivem do comércio que fazem apenas com os indígenas desta região e com os que vêm do interior para se abastecerem.
Estamos agora na época em que se lavra a mancarra e o trigo e é precisamente nesta altura que os agricultores estão sem dinheiro. Mesmo assim ainda conseguem fazer algum negócio, vendendo arroz e tabaco para poderem comprar o que necessitam. É agora que nós aproveitamos também para lhes comprar os ovos e as galinhas que quisermos, pois deixam tudo muito mais barato.
Resumindo, gosto de estar aqui embora me sinta muito só. Mas por outro lado, fico contente por saber que os meus soldados finalmente estão a descansar das canseiras que tiveram em Pirada, sempre a fazerem obras aqui e ali. Quero mesmo que isto se venha a tornar um autêntico sanatório para eles.
Paúnca, 18 Jul. 1965
Ontem, sábado, organizámos um baile para o qual convidámos as duas filhas e a sobrinha de um comerciante negro de alcunha, o “Passarinhas”, que tem a loja mesmo aqui em frente do quartel do outro lado da estrada.
Elas coitadas, eram só três e nós quase 40, de maneira que acabaram todas derreadas. Mas foi uma noite divertida e alegre, com bebidas à discrição, galinhas à cafreal, batatas fritas, salada de frutas, etc., etc. Foi pelo menos uma coisa inédita aqui na vila, especialmente para os soldados que há muito tempo não davam o seu pezinho de dança…
As raparigas que, por acaso, até não são nada feias, ficaram deslumbradas com as amabilidades de que foram alvo, vestiram as suas melhores roupas e pentearam a carapinha o mais à europeia possível. Os soldados, obriguei-os a apresentarem-se com a farda n.º 1, ou então à civil e, assim, o baile teve um até um aspecto bastante decente.
Devo acrescentar que ninguém se embebedou, embora tivesse havido um soldado, mais emocionado que não resistiu a recitar o “Amor de Mãe”. Um sucesso!
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Recebi hoje as camisolas que me mandaram pelo Correio e já dei a dos quadrados à Ti Clara e a outra, a vermelha, à amiga dela, a Cumba. Quase lhes chegam aos pés, mas assim largas é que lhes ficam bem. Ficaram maravilhadas porque nunca ninguém lhes tinha feito tamanha oferta. Não se cansam de agradecer. As restantes vão ser distribuídas aos poucos por aqueles mais necessitados.
Aqui em Paúnca ainda não arranjei grandes amizades, a não ser com um rapaz, de nome Iaia que é o enfermeiro civil de cá. De raça Fula, muito simpático e muito mais culto que o normal sabe ler e escrever correctamente, tanto em árabe como em português. Como fala ainda vários dialectos locais tem sido muitíssimo útil como intérprete.
Paúnca, 25 Jul. 1965
Hoje fui a Pirada assistir a um jogo de futebol entre a equipa do meu Pelotão e a equipa do Comando da Companhia. Afinal o jogo acabou mal. Foi interrompido porque os jogadores envolveram-se à pancada, quando estavam empatados 0-0.
Mas mesmo assim prometemos vingança!
Paúnca, 01 Ago. 1965
De novo em Pirada agora a comandar a própria Companhia!
O capitão foi de férias e como o Cardoso, que é o alferes mais graduado, ainda se encontra na Metrópole, tive de vir eu para o comando das tropas, pois sou o alferes que se lhe segue quanto a graduação.
Assim fiquei instalado no quarto do capitão, nas novas instalações dentro do quartel, com luz eléctrica e quarto de banho privativo. Não é nada mau, embora o ruído do gerador seja um bocado chato. Mas é quase como estar a bordo de um navio. A gente habitua-se ao barulho e depois até deixa de o ouvir.
O quarto é pequeno, atulhado de armários com roupas, sapatos, botas e papelada, quase tudo do capitão. Também tenho uma ventoinha o que é muito bom pois agora, depois de chover, faz sempre um calor húmido e insuportavelmente abafante. Forneci-me de livros e revistas para me entreter e para não andar por aí feito parvo.
Continuo a ir todas as tardes e principalmente depois de jantar, a casa do M. Santos, onde jogamos umas partidas de xadrez, novo entretenimento que descobrimos. Mas perco sempre pois ele é um jogador muito mais forte que eu.
Agora, costumam juntar-se a nós, dois ou três furriéis, de maneira que os serões são muito mais animados. Discute-se política, cinema, literatura e de tudo um pouco, conforme as preferências de cada um.
Quanto às minhas novas atribuições no comando da Companhia, não me preocupam muito porque são poucas ou quase nenhumas. Daqui a poucos dias deve chegar o Cardoso e então regressarei de novo a Paúnca.
Pirada, 08 Ago. 1965
Amanhã entramos no 16.º mês de comissão. Isto está a andar depressa!
Para comemorar, fui com alguns furriéis almoçar a Paúnca a convite do Castro que, está lá agora a comandar o meu pelotão, enquanto eu estiver deslocado em Pirada. Os meus homens parecem ter ficado satisfeitos por me ver. Ao almoço paguei cerveja a todos para também aumentar a minha popularidade. Sinto que de dia para dia, principalmente nestes dois últimos meses (desde que regressei de férias) se tem vindo a criar um elo de amizade e compreensão entre mim e os soldados do meu pelotão. Já não se sente tanto aquela relação crispada de patrão e escravos, mas sim uma simples camaradagem do chefe com os seus fiéis companheiros.
Agora que estou ausente aqui em Pirada, sei que até têm perguntado bastante por mim, modéstia à parte.
Hoje tivemos também a festa de despedida do Gabriel aquele alferes de Cavalaria meu companheiro em Bajocunda, de quem me tinha tornado amigo e que, foi nada mais, nada menos, nomeado ajudante do Governador!
É claro que delirámos com a notícia e fizemos mais uma grande festa em casa do amigo M. Santos que, coitado, depois do jantar, já abria a boca até às orelhas, cansado e mortinho por se ir deitar.
O nosso médico, o Rafael, continua deslocado lá longe, em Canquelifá, onde está há quase um mês. Apesar das excentricidades dele, já sentimos um pouco de saudades da sua companhia. Mas quem mais sofre são alguns dos nossos soldados que sofrem de paludismo e outras doenças mais graves que, por causa disso não têm o tratamento adequado.
Pirada, 15 Ago. 1965
Continuo a comandar a Companhia e já estou a ficar farto disto!
Os outros alferes, o Carvalho e o Castro começam a evidenciar sinais nítidos de quererem abusar da situação, cientes de que eu, alferes como eles, não lhes poderei exigir uma obediência completa. Julgam que podem fazer tudo o que lhes apetece, dando as ordens que melhor entendem, pensando talvez que eu não ousarei contrariá-los. Claro que poderia e posso mesmo, mas na verdade se o fizesse era só para criar aborrecimentos e chatices.
Quando o capitão cá estava, não eram capazes (como o Carvalho fez anteontem) de pegar num jeep e ir para Nova-Lamego, sem dizer nada a ninguém. Assim vi-me na contingência de proibir todos os condutores de saírem com as viaturas do quartel, sem a minha autorização expressa. Enfim uma série de coisas que só servem para andar quase sempre chateado na maior parte dos dias.
Mas estou a aprender a dominar-me melhor, embora, de vez em quando, surja um dia não, como hoje foi um deles. Esqueci-me de entregar um envelope, com uma grande quantia, ao 1.º sargento e, quando me lembrei de o ir procurar à minha secretária (onde sabia que o tinha deixado) ele tinha desaparecido. Fiquei um bocado intrigado e ao mesmo tempo assustado com as consequências. Felizmente tudo se compôs, pois tinha sido o próprio 1.º sargento que o vira e o guardara.
Hoje entrei várias vezes na Secretaria para assinar uns papéis. Distraía-me depois com um outro assunto qualquer e tornava a sair sem nunca mais me lembrar do que tinha vindo ali fazer. E só muito mais tarde é que me lembrava do que deveria ter feito.
Pirada, 22 Ago. 1965
Imaginem qual não foi o meu espanto, quando ao entrar na Secretaria deparei com um monte de embrulhos que me eram destinados. A vossa encomenda chegou intacta. O tabaco e os fósforos vou guardá-los como relíquias. Um maço terá de durar dois dias pelo menos!
Os livros do Vilhena (um desenhador humorístico de muito renome, naquela época) foram acolhidos com muitos aplausos, pois não se falava noutra coisa e toda a gente os queria ler.
No outro dia aconteceu um desastre. Uma viatura pesada galgou por cima de um jeep quando regressava de Paúnca. Morreu um soldado e outros quatro ficaram feridos, um dos quais com gravidade. Estava de chuva e por motivos que ainda se desconhecem o jeep travou de repente e o camião passou por cima dele, pois os travões partiram-se e a estrada ainda por cima estava escorregadia. Foi uma grande balbúrdia. Os feridos foram logo evacuados de madrugada para Bissau e parece que se safam desta.
Quanto aos nossos amigos, continuam a passar cá por perto (pelo Senegal) e a mandar cumprimentos. A zona que está a ficar mais feia é a de Canquelifá, a mais de 50 kms daqui.
Estou a deixar crescer o bigode para mais tarde tirar umas fotografias. Mas depois, rapo-o, é claro. Aliás fica-me mal.
Pirada, 29 Ago. 1965
Tudo na mesma. Continuo um bocado azedo mas a coisa passa-me.
Só peço que o capitão chegue depressa, para poder regressar a Paúnca. Não fui ensinado para ocupar lugares destes e já estou farto de, quando quero fazer qualquer coisa, ter de andar a perguntar ao 1.º sargento (que também é uma boa bisca) se o posso fazer ou não.
As chuvas ainda não começaram e há já quem diga que este ano vai ser um ano de seca. Reparei que começaram a aparecer uns insectos a que chamam cáusticos por deixarem no sítio da nossa pele onde pousam, autênticas bolhas parecidas com as que são causadas por queimaduras. Segundo dizem os velhos a chegada destes insectos é, precisamente, o prenúncio do fim das chuvas. Mas pode acontecer que sejam só dois exemplares transviados.
De resto, a vida aqui em Pirada tem-se limitado a uma ida todos os dias ao quartel, assinar umas quantas mensagens que vão chegando e dar despacho a outras.
Depois almoça-se, dorme-se a sesta e se ainda há mais alguma coisa a tratar volta-se ao quartel, senão vai-se até ao balcão da loja do M. Santos dar à língua até a hora do jantar. À noite vai-se outra vez para lá, jogar às cartas com as crianças e também com alguns graúdos que já apanharam o vício.
Pirada, 05 Set. 1965
Agora em Setembro parece que entrámos no rigor da época das chuvas. Elas que até aqui tinham abrandado recomeçaram, não com tanta força, mas com mais persistência. Depressa ficaremos com as estradas totalmente impraticáveis com a lama que se vai formando.
E de cada vez temos menos viaturas. Está tudo a rebentar pelas costuras. Até o motor da luz já avariou e ficámos a chuchar no dedo, quando ontem apareceu por aqui uma equipa com uma magnífica máquina de projectar de 16 mm, dos Serviços de Cinema do Exército, para fazerem uma sessão para a malta e a energia eléctrica, só com o Petromax!
Pirada, 11 Set. 1965
Acabo de vir de casa do M. Santos, onde fui jantar juntamente com o capitão que, felizmente já cá está. Chegou ontem e fui eu próprio buscá-lo a Nova Lamego.
Por enquanto parece ainda um pouco abananado com a mudança da Metrópole para aqui e só me deixa voltar para Paúnca segunda-feira (hoje é sábado). Por um lado, isso até me convém, pois terei mais tempo para arrumar convenientemente todas as minhas coisas quando me mudar de vez para Paúnca. Inclusivamente, vou levar o armário guarda-fatos, feito por aquele carpinteiro daqui de que já vos falei, e que me vai ser muito útil.
Além disso ando a elaborar um auto de corpo delito contra um soldado que, num acto de ódio, bebedeira ou pura estupidez, puxou de uma arma contra o 1.º sargento e a disparou dentro da caserna, felizmente sem atingir ninguém, dos que lá se encontravam, quer deitados a descansar ou a fazer qualquer outra coisa. Imediatamente o dominaram e espancaram violentamente, deixando-o quase sem conserto. Se não fôssemos nós, eu e o 1.º sargento, termos interferido, matavam-no à pancada.
E como tudo isto sucedeu antes do regresso do capitão, ainda tive de ser eu a mandá-lo prender e proceder depois ao respectivo auto, o que certamente lhe trará uns anos de prisão em algum presídio militar. Poder-se-á dizer que vou estragar a vida do rapaz, mas nesta situação não se pode transigir com nada que se assemelhe. Se já receamos as balas do IN, só nos faltava recear também as balas dos próprios camaradas.
Quanto ao capitão continua estranho como sempre, querendo agradar a Deus e ao Diabo. Ficou aflito, quando lhe disse ter deixado de fazer a Ronda nocturna à volta da povoação com uma esquadra (meia Secção). Eu tinha simplesmente resolvido acabar com aquilo, por ter chegado à conclusão que afinal era apenas uma inútil sobrecarga de trabalho para os soldados e que, além disso, em caso de um ataque súbito, esses homens correriam o sério risco de ficarem desligados do quartel.
Mas o capitão, sempre receoso daquilo que só existe na cabeça dele, ontem à noite revogou logo a minha ordem em vez de uma Ronda mandou sair duas. Os soldados já começaram a dizer:
- Pronto, chegou o nosso capitão, começaram as guerras!
Ainda bem que segunda-feira me escapo para Paúnca.
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A filha mais nova do M. Santos fez oito anos e houve grande festa lá em casa. Ficámos todos muito alegres como não podia deixar de ser. Eu ainda fiz uma retirada a tempo mas o médico e alguns furriéis teimaram em ficar mais algum tempo. Acabaram a cantar e a gritar desalmadamente no meio da praceta. Tive de os mandar calar à força e o furriel enfermeiro tropeçou e deu um valente tombo. No dia seguinte andava de braço ao peito. Foi uma risota.
Paúnca, 19 Set. 1965
Estou em Paúnca morrendo de tédio, pois isto está cada vez mais monótono. Dois dos furriéis foram de férias e quase não tenho ninguém com quem conversar. Passo os dias metido no quarto a ler ou a ouvir os meus velhos discos de jazz.
Mas anteontem e ontem as coisas aqueceram um pouco e a vida quebrou a rotina.
Depois de ter feito um patrulhamento a pé até uma tabanca desconhecida, metida no meio do matagal mais denso que já conheci, quando regressava ao quartel, recebi pela rádio, uma ordem do capitão para que eu, no dia seguinte, passar também a comandar o pelotão do Castro que, ele me mandaria para aqui. Teríamos como missão fazer o reconhecimento de umas regiões a Sul de Paúnca. Como o combinado, logo de manhã bem cedo estava à espera deles. Fomos até à tabanca de Mansajã, mas as picadas não possibilitaram o trânsito das nossas viaturas (dois camiões pesados) e começámos a ficar atolados de tal maneira que não pudemos prosseguir mais. Ficámos imobilizados de vez.
Para maior azar recomeçou a chuva e quando digo chuva, quero mesmo dizer chuva. Chuva diluviana que transformou tudo no mais vasto, profundo e viscoso lamaçal. Para continuação da desgraça a porcaria do rádio avariou-se e só na manhã do dia seguinte, depois de ter conseguido enviar, por um portador, um bilhete escrito ao nosso capitão, é que finalmente nos foram buscar, pois os nossos carros ficaram de tal maneira enterrados na lama que só foi possível arrancá-los de lá com um guincho.
Tivemos de passar a noite na tabanca, cujo jarga, decerto amedrontado com a presença de tanta tropa, desfez-se em amabilidades connosco. Cedeu até a cama dele para eu dormir. Pôs a palhota à minha disposição e foi dormir para outra. Todos os habitantes tomaram como ponto de honra, acolher em cada uma das suas casas, um dos nossos, pelo menos. Molhados até aos ossos como estávamos, completamente estafados, não demorámos a aceitar.
Logo de manhã apareceram a oferecer laranjas e a mim chegaram a oferecer leite fervido com açúcar e ovos cozidos que, ainda reparti pelos quatro furriéis que me acompanharam. Como só tínhamos levado ração de combate para o almoço, pois contávamos estar de volta, ao princípio da noite, o facto de ficar sem comer, sem rádio, completamente exaustos com o esforço de desatolar as viaturas, completamente encharcados debaixo daquela chuva diluviana estava a deixar-nos numa situação muito precária, agravada ainda mais pela sensação de estarmos a participar numa movimentação totalmente gratuita. Ninguém conseguia descortinar qual o interesse ou o motivo de tão inusitado patrulhamento.
Quando conseguimos regressar, eu a Paúnca e os restantes, a Pirada, já eram 10H00 de hoje.
Portanto imagine-se a sofreguidão com que devorámos as laranjas e os ovos cozidos que aquele pobre, mas acolhedora gente, nos ofertou no meio de tantas vénias e sorrisos Ficámos tão sensibilizados que, na despedida resolvemos retribuir o melhor que podíamos.
Foi um belo e comovente espectáculo, ali no meio de uma clareira, no meio de uma mísera e ignorada aldeia, perdida algures do interior do mato mais negro da Guiné, ver um pequeno grupo de soldados brancos, desgrenhados, enlameados e sujos, alinhar-se com todo o garbo e aprumo para, em formatura e, perante o espanto de toda a população, proceder à cerimónia de apresentar armas, enquanto eu abraçava o régulo que embaraçado agradecia também, extraordinariamente comovido, a oferta que eu lhe fazia da minha camisola interior, um bem que ele considerou como a coisa mais valiosa que já lhe tinham dado.
Após a ordem de destroçar, com um forte batimento do pé esquerdo, com toda a cagança, foi então um correr desenfreado para a única viatura operacional, após termos finalmente recebido socorros de Pirada. Com jeito, coubemos todos e foi quase com aquele alívio que sentíamos quando regressávamos a Bissau, depois de mais uma daquelas operações de triste memória que, nos fizemos de novo à estrada, de regresso a casa, aos nossos aquartelamentos.
A primeira coisa que fiz quando cheguei a Paúnca, foi despir-me, lavar-me e deitar-me a dormir. Dormi quase todo o dia e agora à noite ainda tenho o corpo dorido, efeito também dos outros 15 km a pé de anteontem.
- Que rico fim-de-semana, disseram os soldados.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 7 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4916: Cartas (Carlos Geraldes) (6): 2.ª Fase - Abril a Junho de 1965
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Guiné 63/74 - P4932: Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar (org. José Martins) (XI): Final (MAI68-JAN70)
Final do Diário de Guerra, de Cristovão de Aguiar (XI)
Coimbra, 18 de Maio de 1968
Não merecia tanto. Há mais de um ano que regressei da guerra e não há maneira de me sentir inteiro. Ando por aí, caindo aos bocados, vomitando pelas ruas, agarrado às grades de ferro de certos muros, cheio de pânico no futuro, que o presente, estou-o desperdiçando, por isso me agarro doentiamente ao passado, que bem sei que nunca foi um paraíso e a prova visível sou eu próprio. As dores de cabeça são por vezes terríveis e prolongam-se por mais de um dia. Dizem-me os médicos que tenho de ajudar-me, caso contrário a vida deixa de me ter sentido. Já deixou. Pelo menos em certas ocasiões, que se estão multiplicando e tornando cada vez mais frequentes. Tenho feito exames e passado com classificações muito razoáveis, até fiz mais do que eu próprio esperava, talvez por pressentir que ninguém acreditava nas minhas possibilidades. Faltam-me apenas quatro cadeiras, três das quais de envergadura, para concluir o plano de estudos do meu curso. Por este andar ainda me formo em menos de um ano. Bem entendido que pago alto preço por cada disciplina que arrecado. Sempre que faço um exame, fico uns dias acrescentados de cama, desfalecido, pele e osso, o cérebro vazio, tentando reconstruir-me para enfrentar outro [...].
Tomar, 17 de Dezembro de 1968
Vim esperar meu irmão Artur. Chegou hoje de Moçambique. Quando me abraçou, disse-me à queima-roupa que eu parecia um esqueleto ambulante. Respondi-lhe que era do estudo intenso a que me tinha submetido, já que me estava preparando para concluir o curso dentro de pouco tempo. Menti-lhe. Nunca o meu estudo teve uma intensidade por aí além. E nunca a teve, não porque não desejasse, mas porque nunca tive tempo. O que me sobra, depois das preocupações que tenho comigo, pouco ou nada representa. De oficial de dia ao Regimento de Infantaria 15 estava o capitão da minha Companhia da Guiné, o que não veio connosco por ainda lhe faltar algum tempo para terminar a comissão de serviço. Enquanto meu irmão foi tratar da sua desmobilização, fui para o gabinete do oficial de dia, onde também eu já estivera algumas vezes de serviço, conversar um pouco com o velho capitão. Parecia que estávamos os dois na tropa. Quando o cabo de transmissões lhe veio trazer uma mensagem confidencial vinda do QG, leu e depois passou-ma, para que a lesse também. Tal qual como na Guiné. Valeu meu irmão, já desmobilizado, ter vindo buscar-me, caso contrário ainda me metia de novo na pele de alferes. Magreza quase igual à que trazia quando desembarquei, tenho-a também agora. De forma que só me faltava a farda. Meu irmão vem tão ansioso por embarcar para a América que me disse que vai já começar quanto antes a tratar dos papéis.
Gerês, 21 de Julho de 1969
Vim para as termas em cata de alívio. Perguntei ao Louzã Henriques se fazia bem em vir. Disse-me que sim, que mal não me faria. Vai sempre ao meu jeito e não sei se isso me faz bem. Estou aqui há mais de uma semana. Saiu o Doutor Quintela e vim eu para o seu lugar. Ficou combinado em Coimbra. Ele costuma dizer que vem limpar a isca. Não me queixo do fígado, mas a função que exerce está alterada. Deve ser dos nervos. Estou todo alterado. Enquanto aqui esteve o Doutor Paulo Quintela, enviei-lhe todos os comunicados da crise académica produzidos durante a sua ausência. Sem remetente, que nunca se sabe. Rebentou em 17 de Abril, dia em que se inaugurou o edifício das Matemáticas. Houve greve geral aos exames, que foi um êxito, o que abalou o regime primaveril de Marcelo. Cumpro à risca a dieta prescrita. Bebo as águas com fé, como a comida sem sal, tomo banho de agulheta. Ao princípio tomava apenas um. Dois dias mais tarde, queixei-me ao médico de que não dormia. Receitou-me mais um banho de agulheta, à tarde. Um de manhã e outro ao fim da tarde. De tal maneira me desceu a tensão arterial, que ando aos tombos e nem sequer consigo ler. O resto do tempo, que é quase todo, ouço as asneiras dos africanistas em férias. Vieram tratar da figadeira e encontram-se aqui na Pensão da Ponte. E entro em ebulição, porque não posso ficar calado. Suspiram por Salazar e ainda têm esperança num milagre que o reponha no poder. Quem há meses lhe sucedeu na Presidência do Conselho é ainda demasiado liberal para tal gente habituada a lidar com pretos, como se fossem animais de estimação. Bem lhes conheço a crónica. Mas hoje houve tréguas. O homem poisou na Lua. Vi tudo pela televisão com o coração nas mãos. E à noite fui passear para a ver com outros olhos boiando no mar do céu .
Leiria, 27 de Janeiro de 1970
Fui hoje a mais um consultório médico. Já tenho percorrido vários. O costume. Sou um doente crónico. Tenho bem a quem sair, isto é, a mim mesmo ou ao outro que coabita em mim. Mas, hoje, sentia-me terrivelmente angustiado. Tinha comprado ontem um livro intitulado Viva sem Medo. Li-o de uma assentada, mas fiquei na mesma ou com mais medo ainda. E há pouco resolvi ir a um médico para ver como se comportava comigo. Escolhi-o pela tabuleta. E gostei. Fez-me perguntas e mais perguntas sobre o meu passado. Até que eu próprio cheguei à raiz e à razão da minha redobrada angústia neste dia sentida ¾ faz hoje exactamente três anos que cheguei da guerra e o relógio psíquico interior acusou a efeméride e quis condignamente celebrá-la.
Cristóvão de Aguiar, em 27 de Novembro de 2008, na Biblioteca-Museu República e Resistência – Espaço Grandella, na apresentação da nova edição do seu livro Braço Tatuado.
__________
Notas de CV:
Vd. postes da série:
31 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P3823: Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar (org. José Martins) (I): Mafra, Janeiro de 1964
3 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3838: Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar (org. José Martins) (II): Mafra, Fevereiro/Março de 1964
5 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3843: Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar (org. José Martins) (III): Mafra, Maio/Junho de 1964
26 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3944: Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar (org. José Martins) (IV): Mafra e Tomar (Julho 1964/Abril 1965)
11 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4013: Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar (org. José Martins) (V): Do Tejo ao Geba (17 de Abril de 1965/25 de Maio de 1965)
19 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4838: Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar (org. José Martins) (VI): Estadia em Contuboel e férias na Metrópole (27MAI65 a 29SET65)
25 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4860: Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar (org. José Martins) (VII): Estadia em Contuboel e Dunane (OUT-DEZ 1965)
28 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4876: Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar (org. José Martins) (VIII): Estadia em Contuboel e Sonaco com a Otília (JAN-AGO 1966)
3 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4893: Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar (org. José Martins) (IX): Nascimento do primeiro filho (SET - DEZ 1966)
7 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4917: Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar (org. José Martins) (X): O difícil regresso à vida civil (JAN - JUN 1967)
Guiné 63/74 - P4931: Em busca de... (89): Camaradas da CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71 (João Rito Marques, ex-cabo quarteleiro, Soito, Sabugal)
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Crachá da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (1969/71). Design: Tony Levezinho (Fur Mil At Inf).
Foto: © António Levezinho (2006). Direitos reservados
1. Mensagem de Sandra Marques, com data de 6/8/2009, enviada para a minha caixa de correio (LG):
Boa tarde!
Antes demais vou identificar-me. Chamo-me Sandra Marques e sou filha do camarada 1º Cabo Manut Material João Rito Marques.
Quando andava a navegar pela Net deparei-me com o nome do meu pai; depois de ler grande parte do seu blog verifiquei que um dos camaradas da Guiné andava à procura de João Rito Marques. Falei de imediato com o meu pai e confirmou que realmente era mesmo ele.
O meu pai solicita que lhe envie o seu contacto para poderem falar. Vive no Soito - Sabugal, é casado e tem apenas uma filha. O contacto do meu pai é: 965464877.
Agradeço, pois "o homem está impaciente" para falar com os camaradas que marcaram bastante a sua vida. :)
Sandra Marques.
2. Em 8 de Setembro, nova mensagem, desta vez para a caixa de correio do Carlos Vinhal, edição de serviço:
Pensei que quem me respondesse fosse Luís Graça que ele, sim, foi camarada dele [, do do meu pai,] na Guiné, estiveram todos na Guiné, Zona Leste, Sector L1, Bambadinca, 1969/71 (*)
Quando navegava pela Net reparei que o Sr. Luís Graça tinha um blog onde constava o nome do meu pai e referia que nunca mais soube do paradeiro de alguns dos camaradas, entre eles constava o meu pai.
Mostrei o nome de todos os camaradas registados no blog e ele de imediato reconheceu a maioria deles.
Já enviei emails para o Sr. Luís Graça, no entanto não obtive resposta. Agradecia que me dessem o contacto dele ou doutro camarada para assim o meu pai entrar em contacto com o grupo, pois farta-se de falar "dessa gente e dessa guerra".
Irei contactar com o meu pai e entregarei os cumprimentos.
Atentamente e aguardando reposta.
Sandra Marques
3. Finalmente, a tão desejada resposta do L.G., a 9 de Setembro, já no regresso de férias:
Sandra:
Costumamos dizer que os filhos dos nossos camaradas nossos filhos são... Fico feliz pelo seu contacto e pelo amor filial que pôs na busca de informações sobre os camaradas do seu pai (CCAÇ 2590/ CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, Maio de 1969/Março de 1971) (*).
Acabo de falar com o seu pai, pelo número de telemóvel que me deu. Já tenho as coordenadas dele. Sei que vive no concelho de Sabugal, que ainda trabalha e que está de boa saúde... Reconheceu alguns camaradas desse tempo (O Galvão, o Sousa, o Almeida, o Monteiro...), aliás ele conhecia muito bem toda a gente, incluindo os condutores que eram "quase todos do Norte"...
Disse-me que vive na "maior freguesia de Portugal", mas eu não eu fixei logo o topónimo [Souto, ou melhor, Soito, para os seus habitantes, concelho de Sabugal, distrito da Guarda, uma terra do Portugal, com um vasto património histórico, arquitectónico, arqueológico, etnográfico, astronómico e natural, tornando-se visita obrigatória, nomeadamente no "nosso querido mês de Agosto", por causas das suas festas, romarias, touradas, garraiadas e e... capeias arraianas, que são únicas no mundo]...
Gostava de publicar uma foto do seu pai, digitalizada (se fossível, uma antiga e outra actual), para dar notícia dele no nosso blogue (Luís Graça e Camaradas da Guiné).
Com tempo e vagar, posso dar-lhe mais informações sobre o paradeiro desses camaradas da Guiné... Eu era o Furriel Miliciano Apontador de Armas Pesadas de Infantaria, o Henriques, "um bocado revolucionário" (lembrou-me agora o seu pai) - expressão que eu tomo como um elogio...
O João Rito Marques era o nosso cabo quarteleiro, o homem que tinha a tremenda responsabilidade pela limpeza, segurança e boa manutenção de todo o material que precisávamos, desde os colchões até às armas e munições... Sei que no final da comissão, em Março de 1971, lhe tive de pagar um colchão de espuma que requisitei, para um amigo de passagem por Bambadinca, e que deve ter voado na confusão dos últimos dias de fazer a mala e de dizer "adeus, Guiné!"...
Ele tinha uma grande paciência para nos aturar, mas no dia de fazer contas, "contas eram contas" à moda do Soito... Deve ter dado cabo do toutiço a conferir, periodicamente, o vasto e detalhado material que estava à sua guarda, não fosse o Cap Brito ou o Sargento Piça embrulhá-lo em papel selado e atrasar-lhe o tão desejado regresso à santa terra arraiana e, quiçá, ao forcão da capeia... [Sei que ele hoje ainda está no activo, tem o seu negócio de serralharia, é um português empreendedor que não come à mesa do Estado...]
Pode dizer ao seu pai que temo-nos encontrado todos os anos, em Maio, a malta de Bambadinca, de 1968/71 (incluindo os da CCAÇ 12, que eramos meia centenas, os de origem metropolitana) (*)... O próximo encontro é em 2010, em Óbidos, e é organizado pelo ex-Furriel Miliciano de Transmissões, o Almeida (**). Era bom que ele aparecesse...
Sei que você é professora de matemática, e vive na região de Lisboa, EM Cascais. Pode contactar-me por um telefone fixo: 21 751 21 93 (gabinete de trabalho, em geral das 9 às 18h) ou 21 471 0736 (casa)...
É pena que o seu pai não nos possa seguir directamente através do blogue, mas posso mandar-lhe os links em que se fala da nossa CCAÇ 12, de Bamdinca, etc. Há já centenas de referências sobre o nosso tempo, na zona leste, algumas das quais presumo que você já lhe tenha mostrado...
Veja também neste endereço: http://blogueforanada.blogspot.com/ (Luís Graça & Camaradas da Guiné, I Série).
Contacte-me sempre que precisar. Dê um grande abraço ao seu pai, quando o vir, do Henriques (hoje, Luís Graça)
__________
Notas de L.G.:
(*) Vd. post de 21 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXV: Composição da CCAÇ 12, por Grupo de Combate, incluindo os soldados africanos (posto, número, nome, função e etnia)
Além do pessoal que compunha os 4 grupos de combate da CCAÇ 2590/CCAÇ 12, havia ainda mais os seguintes especialistas e quadros de origem metropolitana:
1º Sarg Cav Fernando Aires Fragata;
2º Sarg Inf José Martins Rosado Piça;
2º Sarg Inf Alberto Martins Vieira;
Furriel Mil MAR Joaquim Moreira Gomes;
Fur Mil Enf João Carreiro Martins;
Fur Mil Trams José Fernando Gonçalves;
Fur Mil Arm Pes Inf Luís Manuel da Graça Henriques;
1º Cabo Aux Enf José Maria S. Faleiro;
1º Cabo Aux Enf Fernando Andrade de Sousa;
1º Cabo Aux Enf Carlos A. R. dos Santos;
1º Cabo Trams Inf António Domingos Rodrigues;
1º Cabo Cripto José António Damas Murta;
1º Cabo Cripto Gabriel da Silva Gonçalves;
1º Cabo Manut Material João Rito Marques;
1º Cabo Mec Auto Renato B. Semedos;
1º Cabo Mec Auto António Alves Mexia;
1º Cabo Escriturário Eduardo Veríssimo de Sousa Tavares;
1º Cabo Cond Auto Luís Jorge M.S. Monteiro;
1º Cabo Radiotelegrafista Manuel da Graça S. Zacarias;
1º Cabo Corneteiro Manuel Joaquim Martins Ferreira;
1º Cabo Cozinheiro José Campos Rodrigues;
1º Cabo Apont de Arm Pes José Manuel P. Quadrado.
Refira-se ainda os nossos soldados de origem metropolitana (para além dos operacionais já eventualmente citados, neste caso apenas o Sold At Inf Arménio Monteiro da Fonseca):
Sold Básico João Fernando R. Silva;
Sold Básico Salvador J. P. Santos;
Sold Mec Auto Gaudêncio Machado Pinto;
Sold Trams Inf José Garcia Pereira;
Sold TICA António Fernando Cruz Marchão;
Sold TICA José Leite Pereira;
Sold TICA António Dias dos Santos
Sold Cozinheiro Henrique Manuel;
Sold Corneteiro Orlando da Cruz Vaz;
Sold Corneteiro José de Sousa Pereira;
Sold Radioteleg João Gonçalves Ramos;
Sold Radiot Manuel Maria Catita André;
Sold Cond Auto António S. Fernandes;
Sold Cond Auto Manuel J. P. Bastos;
Sold Cond Auto Manuel da Costa Soares;
Sold Cond Auto Alcino Carvalho Braga;
Sold Cond Auto Adélio Gonçalves Monteiro;
Sold Cond Auto João Dias Vieira;
Sold Cond Auto Tibério Gomes da Rocha;
Sold Cond Auto António S. Fernandes;
Sold Cond Auto Francisco A. M. Patronilho;
Sold Cond Auto Manuel S. Almeida;
Sold Cond Auto António C. Gomes;
Sold Cond Auto Fernando S. Curto;
Sold Cond Auto Aniceto R. da Silva;
Sold Cond Auto Diniz G. Dalot;
Sold Cond Auto Manuel G. Reis.
Há ainda a referir dois soldados africanos que não eram operacionais ou que, pelo menos, não constavam da lista dos grupos de combate:
Sold Cozinheiro 82116869 Gale Camará
Sold Cozinheiro 81117669 Amadú Camará.
Vd. também os seguintes postes:
24 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1545: Lista do pessoal de Bambadinca (1968/71) (Letras A/B) (Humberto Reis)
21 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1773: Lista do pessoal de Bambadinca (1968/71) (Letras C / Z) (Humberto Reis)
(**) Vd. postes de:
20 de Abril de 2005 > Guiné 69/71 - V: Convívio de antigos camaradas de armas de Bambadinca (Luís Graça)
29 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXIV: Ao Fernando Sousa: Sei que estás em festa, pá (Luís Graça)
9 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1742: Convívios (2): Lisboa, Casa do Alentejo, 26 de Maio de 2007: Bambadinca 68/71, BCAÇ 2852, CCAÇ 12, etc. (Fernando Calado)
31 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4444: Convívios (138): Em Castro Daire, agora chão de Bambadinca, 1968/71 (1): O reencontro na capela de N. Sra. da Ouvida
31 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4446: Convívios (139): Castro Daire, agora chão de Bambadinca, 1968/71 (2): A música, a festa, a dança no planalto beirão
Foto: © António Levezinho (2006). Direitos reservados
1. Mensagem de Sandra Marques, com data de 6/8/2009, enviada para a minha caixa de correio (LG):
Boa tarde!
Antes demais vou identificar-me. Chamo-me Sandra Marques e sou filha do camarada 1º Cabo Manut Material João Rito Marques.
Quando andava a navegar pela Net deparei-me com o nome do meu pai; depois de ler grande parte do seu blog verifiquei que um dos camaradas da Guiné andava à procura de João Rito Marques. Falei de imediato com o meu pai e confirmou que realmente era mesmo ele.
O meu pai solicita que lhe envie o seu contacto para poderem falar. Vive no Soito - Sabugal, é casado e tem apenas uma filha. O contacto do meu pai é: 965464877.
Agradeço, pois "o homem está impaciente" para falar com os camaradas que marcaram bastante a sua vida. :)
Sandra Marques.
2. Em 8 de Setembro, nova mensagem, desta vez para a caixa de correio do Carlos Vinhal, edição de serviço:
Pensei que quem me respondesse fosse Luís Graça que ele, sim, foi camarada dele [, do do meu pai,] na Guiné, estiveram todos na Guiné, Zona Leste, Sector L1, Bambadinca, 1969/71 (*)
Quando navegava pela Net reparei que o Sr. Luís Graça tinha um blog onde constava o nome do meu pai e referia que nunca mais soube do paradeiro de alguns dos camaradas, entre eles constava o meu pai.
Mostrei o nome de todos os camaradas registados no blog e ele de imediato reconheceu a maioria deles.
Já enviei emails para o Sr. Luís Graça, no entanto não obtive resposta. Agradecia que me dessem o contacto dele ou doutro camarada para assim o meu pai entrar em contacto com o grupo, pois farta-se de falar "dessa gente e dessa guerra".
Irei contactar com o meu pai e entregarei os cumprimentos.
Atentamente e aguardando reposta.
Sandra Marques
3. Finalmente, a tão desejada resposta do L.G., a 9 de Setembro, já no regresso de férias:
Sandra:
Costumamos dizer que os filhos dos nossos camaradas nossos filhos são... Fico feliz pelo seu contacto e pelo amor filial que pôs na busca de informações sobre os camaradas do seu pai (CCAÇ 2590/ CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, Maio de 1969/Março de 1971) (*).
Acabo de falar com o seu pai, pelo número de telemóvel que me deu. Já tenho as coordenadas dele. Sei que vive no concelho de Sabugal, que ainda trabalha e que está de boa saúde... Reconheceu alguns camaradas desse tempo (O Galvão, o Sousa, o Almeida, o Monteiro...), aliás ele conhecia muito bem toda a gente, incluindo os condutores que eram "quase todos do Norte"...
Disse-me que vive na "maior freguesia de Portugal", mas eu não eu fixei logo o topónimo [Souto, ou melhor, Soito, para os seus habitantes, concelho de Sabugal, distrito da Guarda, uma terra do Portugal, com um vasto património histórico, arquitectónico, arqueológico, etnográfico, astronómico e natural, tornando-se visita obrigatória, nomeadamente no "nosso querido mês de Agosto", por causas das suas festas, romarias, touradas, garraiadas e e... capeias arraianas, que são únicas no mundo]...
Gostava de publicar uma foto do seu pai, digitalizada (se fossível, uma antiga e outra actual), para dar notícia dele no nosso blogue (Luís Graça e Camaradas da Guiné).
Com tempo e vagar, posso dar-lhe mais informações sobre o paradeiro desses camaradas da Guiné... Eu era o Furriel Miliciano Apontador de Armas Pesadas de Infantaria, o Henriques, "um bocado revolucionário" (lembrou-me agora o seu pai) - expressão que eu tomo como um elogio...
O João Rito Marques era o nosso cabo quarteleiro, o homem que tinha a tremenda responsabilidade pela limpeza, segurança e boa manutenção de todo o material que precisávamos, desde os colchões até às armas e munições... Sei que no final da comissão, em Março de 1971, lhe tive de pagar um colchão de espuma que requisitei, para um amigo de passagem por Bambadinca, e que deve ter voado na confusão dos últimos dias de fazer a mala e de dizer "adeus, Guiné!"...
Ele tinha uma grande paciência para nos aturar, mas no dia de fazer contas, "contas eram contas" à moda do Soito... Deve ter dado cabo do toutiço a conferir, periodicamente, o vasto e detalhado material que estava à sua guarda, não fosse o Cap Brito ou o Sargento Piça embrulhá-lo em papel selado e atrasar-lhe o tão desejado regresso à santa terra arraiana e, quiçá, ao forcão da capeia... [Sei que ele hoje ainda está no activo, tem o seu negócio de serralharia, é um português empreendedor que não come à mesa do Estado...]
Pode dizer ao seu pai que temo-nos encontrado todos os anos, em Maio, a malta de Bambadinca, de 1968/71 (incluindo os da CCAÇ 12, que eramos meia centenas, os de origem metropolitana) (*)... O próximo encontro é em 2010, em Óbidos, e é organizado pelo ex-Furriel Miliciano de Transmissões, o Almeida (**). Era bom que ele aparecesse...
Sei que você é professora de matemática, e vive na região de Lisboa, EM Cascais. Pode contactar-me por um telefone fixo: 21 751 21 93 (gabinete de trabalho, em geral das 9 às 18h) ou 21 471 0736 (casa)...
É pena que o seu pai não nos possa seguir directamente através do blogue, mas posso mandar-lhe os links em que se fala da nossa CCAÇ 12, de Bamdinca, etc. Há já centenas de referências sobre o nosso tempo, na zona leste, algumas das quais presumo que você já lhe tenha mostrado...
Veja também neste endereço: http://blogueforanada.blogspot.com/ (Luís Graça & Camaradas da Guiné, I Série).
Contacte-me sempre que precisar. Dê um grande abraço ao seu pai, quando o vir, do Henriques (hoje, Luís Graça)
__________
Notas de L.G.:
(*) Vd. post de 21 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXV: Composição da CCAÇ 12, por Grupo de Combate, incluindo os soldados africanos (posto, número, nome, função e etnia)
Além do pessoal que compunha os 4 grupos de combate da CCAÇ 2590/CCAÇ 12, havia ainda mais os seguintes especialistas e quadros de origem metropolitana:
1º Sarg Cav Fernando Aires Fragata;
2º Sarg Inf José Martins Rosado Piça;
2º Sarg Inf Alberto Martins Vieira;
Furriel Mil MAR Joaquim Moreira Gomes;
Fur Mil Enf João Carreiro Martins;
Fur Mil Trams José Fernando Gonçalves;
Fur Mil Arm Pes Inf Luís Manuel da Graça Henriques;
1º Cabo Aux Enf José Maria S. Faleiro;
1º Cabo Aux Enf Fernando Andrade de Sousa;
1º Cabo Aux Enf Carlos A. R. dos Santos;
1º Cabo Trams Inf António Domingos Rodrigues;
1º Cabo Cripto José António Damas Murta;
1º Cabo Cripto Gabriel da Silva Gonçalves;
1º Cabo Manut Material João Rito Marques;
1º Cabo Mec Auto Renato B. Semedos;
1º Cabo Mec Auto António Alves Mexia;
1º Cabo Escriturário Eduardo Veríssimo de Sousa Tavares;
1º Cabo Cond Auto Luís Jorge M.S. Monteiro;
1º Cabo Radiotelegrafista Manuel da Graça S. Zacarias;
1º Cabo Corneteiro Manuel Joaquim Martins Ferreira;
1º Cabo Cozinheiro José Campos Rodrigues;
1º Cabo Apont de Arm Pes José Manuel P. Quadrado.
Refira-se ainda os nossos soldados de origem metropolitana (para além dos operacionais já eventualmente citados, neste caso apenas o Sold At Inf Arménio Monteiro da Fonseca):
Sold Básico João Fernando R. Silva;
Sold Básico Salvador J. P. Santos;
Sold Mec Auto Gaudêncio Machado Pinto;
Sold Trams Inf José Garcia Pereira;
Sold TICA António Fernando Cruz Marchão;
Sold TICA José Leite Pereira;
Sold TICA António Dias dos Santos
Sold Cozinheiro Henrique Manuel;
Sold Corneteiro Orlando da Cruz Vaz;
Sold Corneteiro José de Sousa Pereira;
Sold Radioteleg João Gonçalves Ramos;
Sold Radiot Manuel Maria Catita André;
Sold Cond Auto António S. Fernandes;
Sold Cond Auto Manuel J. P. Bastos;
Sold Cond Auto Manuel da Costa Soares;
Sold Cond Auto Alcino Carvalho Braga;
Sold Cond Auto Adélio Gonçalves Monteiro;
Sold Cond Auto João Dias Vieira;
Sold Cond Auto Tibério Gomes da Rocha;
Sold Cond Auto António S. Fernandes;
Sold Cond Auto Francisco A. M. Patronilho;
Sold Cond Auto Manuel S. Almeida;
Sold Cond Auto António C. Gomes;
Sold Cond Auto Fernando S. Curto;
Sold Cond Auto Aniceto R. da Silva;
Sold Cond Auto Diniz G. Dalot;
Sold Cond Auto Manuel G. Reis.
Há ainda a referir dois soldados africanos que não eram operacionais ou que, pelo menos, não constavam da lista dos grupos de combate:
Sold Cozinheiro 82116869 Gale Camará
Sold Cozinheiro 81117669 Amadú Camará.
Vd. também os seguintes postes:
24 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1545: Lista do pessoal de Bambadinca (1968/71) (Letras A/B) (Humberto Reis)
21 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1773: Lista do pessoal de Bambadinca (1968/71) (Letras C / Z) (Humberto Reis)
(**) Vd. postes de:
20 de Abril de 2005 > Guiné 69/71 - V: Convívio de antigos camaradas de armas de Bambadinca (Luís Graça)
29 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXIV: Ao Fernando Sousa: Sei que estás em festa, pá (Luís Graça)
9 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1742: Convívios (2): Lisboa, Casa do Alentejo, 26 de Maio de 2007: Bambadinca 68/71, BCAÇ 2852, CCAÇ 12, etc. (Fernando Calado)
31 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4444: Convívios (138): Em Castro Daire, agora chão de Bambadinca, 1968/71 (1): O reencontro na capela de N. Sra. da Ouvida
31 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4446: Convívios (139): Castro Daire, agora chão de Bambadinca, 1968/71 (2): A música, a festa, a dança no planalto beirão
Guiné 63/74 - P4930: Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (14): Emboscada às NT em Sare Dicó, na estrada de Fajonquito – Canjambari
1. O nosso Camarada José Eduardo Reis de Oliveira (JERO), foi Fur Mil da CCAÇ 675 (Binta, 1964/65), enviou-nos a sua 14ª estória do seu livro "Golpes de Mao's - Memórias de Guerra", com data de 29 de Agosto de 2009, que mais uma vez muito agradecemos.
Camaradas e Amigos,
Sinto-me na necessidade de algumas palavras prévias em relação à história que se segue – a nº 14. Até aqui tenho pisado terreno que conheço bem – o da C.Caç. 675 – não só por vivência mas ter prova testemunhal – O “Díario” da Companhia impresso em 1965 – em relação a todos os temas que tenho abordado.
O aerograma que agora reproduzo está comigo na minha sala de estar desde que regressei da Guiné. Emoldurei-o como exemplo dum aerograma, por ser escrito por um amigo e por ter uma caligrafia lindíssima.
Emprestei-o há uns tempos atrás para uma exposição documental feita pela APVG, de Alcobaça. Tirei-o então da moldura e li-o. Como já estava num novo ciclo da minha vida – descoberta do blogue “Luís Graça e camaradas da Guiné - li-o com outros olhos.
É um documento impressionante: emboscado a um pequeno contingente das NT – 20 homens – de que resultaram 10 mortos. Procurei no nosso blogue e não encontrei nada sobre o assunto ou vi mal ou não há mesmo qualquer referência a este dia trágico dia 11 do ano de 1966 – mês de Janeiro – .
A única coisa que encontrei foi uma referência e fotos das campas aos nossos militares sepultados no cemitério de Bafatá.O aerograma do meu colega Carlos Dias fala em “massaricada” e faz críticas implícitas mas não explícitas.
Conheci-o bem – foi meu colega do CSM no HMP, da Estrela/Lisboa – e guardo memória de um militar consciente e ponderado. Não mais voltei a encontrá-lo. Vivia em Lisboa mas em pesquisa recente constatei que não consta da lista de telefones fixos.
Posto isto segue-se a narração:
Emboscada às NT em Sare Dicó, na estrada de Fajonquito – Canjambari
(11JAN1966, um dia trágico para os militares do BCAV 757)
À distância no tempo já não consigo recordar como é que a “má nova” chegou à minha companhia – a C. Caç. 675, que estava sedeada em Binta, no Cachéu, na região de Farim -.
Alguma coisa de muito grave teria acontecido às NT na zona onde actuava a nossa companhia “irmã” – a C. Caç. 674.
Utilizando os meios disponíveis na altura escrevi de imediato um aerograma ao meu amigo e colega dos bons velhos tempos do HMP de Lisboa, Carlos Cardoso Dias.
O Carlos era o Furriel Miliciano Enfermeiro da C. Caç. 674. Tínhamos viajado juntos no UIGE na viagem de 8 de Maio de 1964 que tinha chegado a Bissau em 13 do mesmo mês.
Ao longo dos meses trocávamos correspondência de vez em quando. E os aerogramas não tendo a “velocidade” dos actuais telemóveis tinham uma vantagem: permaneciam no tempo como documentos escritos.
O texto que reproduzo seguidamente a resposta do furriel Carlos Cardoso Dias ao meu aerograma, que também era conhecido na gíria militar como “bate-estradas”.
Com uma letra digna de um copista cisterciense escrevia o Carlos:
Fajonquito, 27 de Janeiro de 1966
Quinta-feira – 17h00
Amigo Oliveira:
Saúde da boa. Acabo de receber o teu bate-estradas e apresso-me a responder.
Antes de mais, os mortos foram do Bat. Cav. 757 de Bafatá e não nossos. Felizmente continuamos a manter as zonas da vida intacta. Vou descrever-te o que realmente se passou na operação “DURÃO”, à qual não fui e ainda estou para saber a causa.
Dia 10.01 – 20H00 – A nossa companhia, apenas com dois pelotões inicia uma marcha que os levaria ao limite do sector, junto ao Rio Canjambari. Claro que a velha caminhada foi feita pelo mato, pois a “velhice” sabe como é o Caresse e as suas estradas. Nada sucedeu durante toda a noite até de manhã.
Dia 11.01 – 04H00 – O pessoal do Batalhão, com o seu comandante e vários oficiais, sargentos e “manga” de pessoal, sai de Fajonquito com as viaturas, para se juntar à 674 e continuar a operação. O jipe do comandante a certa altura sofre o primeiro aviso: uma mina anti-pessoal rebenta sobre a roda dianteira, lado direito, salvo erro. Nada sucedeu à excepção do valente susto.
- Este Batalhão é conhecido pelo 7 de Espadas. –
O carro é içado para cima de uma Mercedes e vem para Fajonquito, onde não foi possível a reparação. A Mercedes volta para junto da coluna. Colocaram então na estrada um bocado de cartão da RC que dizia: “Isto para o 7 de Espadas é pouco”.Cerca das 15H00 uma GMC da coluna avaria.
O Comandante manda que a mesma seja rebocada por uma Mercedes até Fajonquito, visto no local o nosso mecânico não a poder reparar. São nomeados os homens, assim como o oficial e os sargentos, todos do Batalhão, para virem nas viaturas.
Três homens nossos um pouco adoentados pedem para se retirarem. O Comandante autoriza. O nosso mecânico vem também com as viaturas. Total: 20 homens.
Precisamente no mesmo local onde explodiu a mina anti-pessoal, sofreu uma forte emboscada. A primeira “roquetada” atinge quatro homens e envia-os ao céu. O pessoal salta das viaturas e só ouvem rebentamentos de GMD e tiros de armas automáticas, “costureirinhas”.
Ouve-se então resposta nossa mas fraca. O Alferes vê vários homens feridos e… foge com eles. Outros que vêem o gesto e pensam que ficam sós, imitam-nos. Entre eles 2 homens nossos que estavam a fazer fogo.
Lá atrás a nossa Companhia ouve o tiroteio, assim como o pessoal do Batalhão e vem todo o pessoal socorrê-los. Já era tarde, pois os 10 mortos, já não poderiam recuperar. Há algum pessoal ferido e outros sem uma única beliscadura. O nosso mecânico estava no mato.
A GMC passou-lhe por cima da coxa. Entretanto em Fajonquito a presença do médico e de socorros era reclamada para Sare Jamdarã (1ª serração). Lá fui mais o médico. Seis feridos à parte dos restantes, arrasados pela fuga de cerca de 15 Km.
Cerca da 22H00 aparece o restante pessoal com os feridos, mortos, etc. Mas faltava um homem nosso. Apareceu mais tarde. Preparava-se para entrar em Sare Jamdarã quando a rapaziada já se preparava para o ir encontrar. Todo o mundo veio para Fajonquito. Aqui, o peso que estava em cima de nós ausentou-se. Os nossos homens estavam “vivinhos da costa”. O trabalho durou até cerca da O1H30 do dia 12.
Aqui tens pois o resumo da “massaricada” de várias pessoas. Se a culpa é de A, B ou C, não compete a mim dizê-lo mas que houve não há dúvidas.
Muitas vezes fomos ao Caresse. Já nos vimos lá da cor dos “tomates”, mas a sorte e um pouquinho de conhecimento tem chegado para que sejamos hoje a 1ª Companhia na Guiné sem ter baixas. Tem havido sorte, não há dúvida, mas nunca tivemos “ garganta” como aconteceu ao 7 de Espadas.
Queriam fazer “ronco”, e houve, mas para os “turras”.
Tanto eu como a rapaziada da “674” agradecem à GRANDE 675 as palavras amigas e, creiam-nos que bastante fundo nos sensibilizaram.
É tudo por hoje caro Oliveira. Cumprimentos à rapaziada. Saúde, felicidades e até à próxima.
Um forte abraço do amigo certo,
Carlos Cardoso Dias
Quarenta e três anos depois não acrescentamos qualquer comentário ao relato do Carlos Dias.
Confirmámos com emoção o nome dos mortos referidos no seu aerograma que constam do 8º. volume da Resenha Histórico-Militar das Campanha de África (1961-1974) – Mortos em Campanha, edição do Estado-Maior do Exército, (pgs.166,167,168 e 169).
- Agostinho Monteiro. Soldado Atirador nº 447/65. Natural do Biombo – Bissau. Sepultado no cemitério de Bafatá.
- Aires Jesus Moreira. Soldado Explorador – Observador nº 1473/64. Natural de Calendário – Vila Nova de Famalicão. Sepultado no cemitério de Bafatá.
- Artur Mário Ferreira Duque. Soldado Condutor de Auto Rodas nº 2439/64. Natural de Dafundo/Carnaxide, Oeiras. Sepultado no cemitério de Bafatá.
- Braima Camará. Soldado Atirador nº 443/65. Natural de Nema, Bafatá. Sepultado no cemitério de Nema - Guiné.
- José António de Jesus Barreto. 1º Cabo de Reabastecimento nº 1390/64. Natural de São Sebastião da Pedreira, Lisboa. Sepultado no Cemitério da Amadora.
- José Dias Guimarães. 1º Cabo Explorador - Observador nº 1570/64. Natural de São Bento, Salvador, Arcos de Valdevez. Sepultado no Cemitério de Arcos de Valdevez.
- José Mota Braz. Soldado Básico nº 1380/64. Natural de Vila Nova, Casével, Santarém. Sepultado no cemitério de Bafatá.
- José Salvado Dias Raposo. Soldado Sapador nº 1591/64. Natural do Fundão. Sepultado no cemitério de Bafatá.
- Júlio Varela Dias. Soldado Atirador nº 47/65. Natural de São José, Bolama. Sepultado no cemitério de Bafatá.
- Norberto Pina Araújo Júnior. Soldado Atirador nº 45/65. Natural de Nossa Senhora da Graça, Bafatá. Sepultado no cemitério de Bafatá.
De todos os registos atrás referidos constam como local de operações Sare Dicó, na estrada de Fajonquito – Canjambari.
O dia 11 de Janeiro de 1966 foi sem dúvida um dia particularmente trágico para os militares do Batalhão de Cavalaria 757.
Um abraço,
JERO
Fur Mil Enf da CCAÇ 675
Imagens: José Eduardo Oliveira (2009). Direitos reservados.
___________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
Guiné 63/74 - P4929: Memória dos lugares (41): Estragos no quartel dos COMANDOS, Brá 1968 (Magalhães Ribeiro/Abreu dos Santos)
O nosso Amigo e Camarada-de-armas Abreu dos Santos (ex-Combatente em Angola), enviou-me oportuna e importante informação, que aqui muito lhe agradeço, sobre alguns pormenores que poderão contribuir para ajudar a esclarecer, o que é que se passou no aquartelamento dos COMANDOS, em Brá, no ano de 1968, que provocou os enormes estragos que se podem verificar nas fotos, que nos foram enviadas pelo nosso Camarada José Nunes, e foram publicadas no poste P4895 (*):
«Não é conhecido, que algum "quartel dos comandos" tenha sofrido «um forte ataque do IN», fosse na Guiné, em Angola ou em Moçambique. Não pela circunstância de ser "tropa especial" (tal como os camaradas pára-quedistas ou fuzileiros especiais, poderiam ter sido alvo de rocketadas e/ou morteiradas In), mas pela singela questão de, nos anais castrenses [e não só], se desconhecer um tal «forte ataque do IN aos comandos de Brá». Se alguém sabe, que avance e fundamentadamente contradite. Se não, deixem-se de estórias da carochinha...
Como toda a gente, minimamente informada, sabe, Brá não era "o" quartel dos Comandos: era um Campo Militar ou "grupo de aquartelamentos" (mal-acomparado, assim-a-modos-que um mini-polígono de Tancos, ou um Grafanil ou um Boane), no qual os Comandos tinham o sector próprio e perfeitamente delimitado, com a respectiva porta-de-armas para a estrada Bissalanca-Bissau. Aliás, o próprio BEng447, tanto quanto julgo ser correcto, também estava instalado "em Brá"...!, paredes-meias com os aludidos "Comandos". Portanto, aquelas imagens de abarracamentos meio-desmantelados – dir-se-ia "por um tornado" –, tanto poderiam ter sido produzidas em instalações do BEng447 como em qualquer outro dos quartéis que existiam naquele Campo Militar. Mas, acaso tenham sido obtidas "no quartel dos Comandos", tê-lo-ão sido: em que precisa data? por quem? e com autorização de quem?
Quanto às objectivas perguntas, colocadas pelo co-editor MR:
1. «Foi um temporal? Um incêndio? Um acidente? Um defeito de construção?»:
As fotos não demonstram, de forma concludente e iniludível, «um incidente que teve lugar no quartel dos COMANDOS em Brá»; ilustram, sim, uma das especulações relacionadas com o seguinte recorte noticioso (que poderia enquadrar, parcialmente, a 2ª pergunta)...
2. «Em que data, mais ou menos?»:
19Fev68 (2ªfeira) – Em Conackry, o PAIGC usa a emissora oficial guineana, para fazer propaganda sobre os seus últimos feitos, afirmando que lançou «ofensivas sobre as localidades de Bafatá, Gabu, Farim, Mansôa, Cansumbé e Bolama»; e que anteontem, numa acção chefiada por André Pedro Gomes, «atingiu com foguetes o aeroporto de Bissau»; mas omite, obviamente, que no cais de Conackry lhe foram recentemente entregues lanchas rápidas de origem soviética, com as quais iniciou a flagelação de destacamentos da Armada no rio Corubal.
– «Atacámos todos os centros urbanos do país, excepto Bissau, se não contarmos com o ataque [!?] ao aeroporto. O ataque ao porto [sic] de Bissau foi planificado por nós com todas as precauções. O único contratempo foi o de se não ter realizado na data marcada, por terem surgido dificuldades materiais: houve um atraso de alguns dias, mas foi planificado por nós no decurso de uma reunião com todos os camaradas; escolheram-se mesmo os homens que deviam tomar parte na acção.
Centros como Bafatá, Gabu, Farim, Mansôa, Cansumbé e Bolama foram atacados várias vezes; fizémos um certo número de prisioneiros; houve várias deserções e destruímos um grande número de barcos portugueses, o que nunca tínhamos conseguido.»¹
¹ (Amílcar Cabral, in "Cadernos Necessários", 1969)
3. «Que companhia lá estava na altura?»:
Como aquartelamento-base, a 3ªCCmds [operacional 02Nov66-08Abr68], comandada pelo cap mil inf cmd Álvaro Manuel Alves Cardoso.
Quanto à contemporânea 5ªCCmds (cap art cmd António Gabriel Albuquerque Gonçalves), foi deslocada em 19Jan68 para Cacine e mantida no sector sudoeste até seguir em 10Jul68 para o Gabu, pelo que à época não estava em Brá.»
Melhores cumprimentos,
Abreu dos Santos
(ex-Combatente em Angola)
Foto: © Virgínio Briote (2009). Direitos reservados.
___________
Notas de MR:
(*) Vd. poste com as fotos do José Nunes em:
Vd. último poste da série em:
9 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4925: Memória dos lugares (40): Fotos do “Resort” de Bissum - Naga, 1968 (José Nunes, ex-1º Cabo, BENG 447, Brá, 1968/70)
Guiné 63/74 - P4928: Parabéns a você (25): Tony Grilo, nosso camarada radicado no Canadá (Editores)
Dia 10 de Setembro é data de aniversário do nosso camarada Tony Grilo. Por esta razão aqui estamos a felicitá-lo e a desejar-lhe que a festeje com alegria junto dos seus familiares e amigos.
Não sabemos se o Tony ainda se encontra em terras do Canadá, uma vez que estaria nos seus planos regressar este ano a Portugal, mas onde quer que esteja, está concerteza muito feliz.
A Tabanca inteira quer comemorar esta data muitas vezes mais, desejando tudo de bom. São os votos dos seus 365 amigos do Blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné, aqui representados pelo editor do poste.
Tony Grilo está connosco desde Fevereiro passado. Recordemos as suas palavras:
Amigo Graça:
Desculpa o meu começo, pois eu sigo os teus conselhos. Na tabanca todos nos tratamos por tu, e aí vai.
Caro amigo Graça, primeiro que tudo quero felicitar-te pela tua obra.
Agora se me dás licença, vou-me apresentar: O meu nome é Tony Grilo, cumpri o serviço militar, um ano e meio, em Portugal, e em 1966 fui mobilizado para a Guiné.
Saímos, no dia 31 de Maio de 1966, do cais de Alcântara no navio Alfredo da Silva. A viagem demorou 6 dias, percorremos 3666 milhas marítimas e chegámos no dia 6 de Junho de 1966.
O navio ficou ao largo, à espera do capitão de porto para o rebocar para o cais. E ali também vinham 6 pessoas.
Isto é apenas uma pequena história que sucedeu.
Agora vou contar-te algo mais sobre a minha pessoa!
Estive 24 meses na Guiné, era Apontador do obus 8,8 e a nossa Bateria, estava situada no QG em Bissau.
Estive ali só 2 semanas, pois fui enviado logo para o mato, Cabedu, ao Sul da Guiné, na célebre mata do Cantanhez.
Estive lá longos 18 meses, onde a vida era difícil, muita fome aí passávamos.
Ao fim desse tempo regressei a Bissau.
Como era bom rapaz e o capitão engraçou comigo, disse logo ao Primeiro para me marcar viagem para o mato. O motivo foi por me desenfiar do quartel. Não havendo sítio melhor, fui logo para Cacine e Cameconde, também ao Sul, na área do Cantanhez.
Graça, isto é só um pequeno apontamento, pois agora que tenho o vosso E-Mail, já é mais fácil contar as minhas histórias da passagem pela Guiné.
Actualmente vivo no Canadá, já há 38 anos, estou reformado e estou a pensar regressar ao nosso lindo Portugal em fins de Maio deste ano.
Graça, em breve vou-te enviar as minhas fotos.
Para lembrarmos o militar Tony, aqui ficam as suas fotografias, infelizmente sem legendas
__________
Notas de CV:
Vd. postes de Tony Grilo, Apontador de obús 8,8, Cabedu, Cacine e Cameconde, 1966/68 com datas de:
5 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3986: O Nosso Livro de Visitas (57): Tony Grilo, Canadá: Artilheiro, apontador de obus 8,8 (Bissau, Cabedu, Cacine, Cameconde,1966/68)
24 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4073: Tabanca Grande (126): Tony Grilo, Artilheiro, Apontador de obús 8,8 (Guiné, 1966/68)
15 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4192: Estórias avulsas (28): Sorte na Vida... ou quando uma dor de dente te salva a vida (Tony Grilo, Canadá)
20 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4220: Cancioneiro do Cantanhez (2): Cabedu és nossa terra (Tony Grilo, Canadá)
16 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4358: Em busca de... (73): BAC1, CART 1692, CART 1427, 1966/68 (Tony Grilo)
Vd. último poste da série de 5 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4896: Parabéns a você (24): José Marcelino Martins, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 5 (Os Editores)
Não sabemos se o Tony ainda se encontra em terras do Canadá, uma vez que estaria nos seus planos regressar este ano a Portugal, mas onde quer que esteja, está concerteza muito feliz.
A Tabanca inteira quer comemorar esta data muitas vezes mais, desejando tudo de bom. São os votos dos seus 365 amigos do Blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné, aqui representados pelo editor do poste.
Tony Grilo está connosco desde Fevereiro passado. Recordemos as suas palavras:
Amigo Graça:
Desculpa o meu começo, pois eu sigo os teus conselhos. Na tabanca todos nos tratamos por tu, e aí vai.
Caro amigo Graça, primeiro que tudo quero felicitar-te pela tua obra.
Agora se me dás licença, vou-me apresentar: O meu nome é Tony Grilo, cumpri o serviço militar, um ano e meio, em Portugal, e em 1966 fui mobilizado para a Guiné.
Saímos, no dia 31 de Maio de 1966, do cais de Alcântara no navio Alfredo da Silva. A viagem demorou 6 dias, percorremos 3666 milhas marítimas e chegámos no dia 6 de Junho de 1966.
O navio ficou ao largo, à espera do capitão de porto para o rebocar para o cais. E ali também vinham 6 pessoas.
Isto é apenas uma pequena história que sucedeu.
Agora vou contar-te algo mais sobre a minha pessoa!
Estive 24 meses na Guiné, era Apontador do obus 8,8 e a nossa Bateria, estava situada no QG em Bissau.
Estive ali só 2 semanas, pois fui enviado logo para o mato, Cabedu, ao Sul da Guiné, na célebre mata do Cantanhez.
Estive lá longos 18 meses, onde a vida era difícil, muita fome aí passávamos.
Ao fim desse tempo regressei a Bissau.
Como era bom rapaz e o capitão engraçou comigo, disse logo ao Primeiro para me marcar viagem para o mato. O motivo foi por me desenfiar do quartel. Não havendo sítio melhor, fui logo para Cacine e Cameconde, também ao Sul, na área do Cantanhez.
Graça, isto é só um pequeno apontamento, pois agora que tenho o vosso E-Mail, já é mais fácil contar as minhas histórias da passagem pela Guiné.
Actualmente vivo no Canadá, já há 38 anos, estou reformado e estou a pensar regressar ao nosso lindo Portugal em fins de Maio deste ano.
Graça, em breve vou-te enviar as minhas fotos.
Para lembrarmos o militar Tony, aqui ficam as suas fotografias, infelizmente sem legendas
__________
Notas de CV:
Vd. postes de Tony Grilo, Apontador de obús 8,8, Cabedu, Cacine e Cameconde, 1966/68 com datas de:
5 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3986: O Nosso Livro de Visitas (57): Tony Grilo, Canadá: Artilheiro, apontador de obus 8,8 (Bissau, Cabedu, Cacine, Cameconde,1966/68)
24 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4073: Tabanca Grande (126): Tony Grilo, Artilheiro, Apontador de obús 8,8 (Guiné, 1966/68)
15 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4192: Estórias avulsas (28): Sorte na Vida... ou quando uma dor de dente te salva a vida (Tony Grilo, Canadá)
20 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4220: Cancioneiro do Cantanhez (2): Cabedu és nossa terra (Tony Grilo, Canadá)
16 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4358: Em busca de... (73): BAC1, CART 1692, CART 1427, 1966/68 (Tony Grilo)
Vd. último poste da série de 5 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4896: Parabéns a você (24): José Marcelino Martins, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 5 (Os Editores)
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Guiné 63/74 - P4927: Os Nossos Enfermeiros (3): Às vezes até fazíamos o que não sabíamos (Armandino Alves)
1. Mensagem de Armandino Alves, ex-1.º Cabo Auxilitar de Enfermagem da CCAÇ 1589, Beli, Fá Mandinga e Madina do Boé, 1966/68, com data de 8 de Setembro de 2009:
Caro Luís Graça
Tenho estado a ler os Postes sobre o Serviço de Saúde Militar e vamos a ver se nos entendemos.
Eu nunca pus em causa a competência de Médicos (Oficiais) ou Enfermeiros (Sargentos e Furriéis). Dentro das suas capacidades cada um fazia o que podia e sabia e às vezes o que não sabia. O que ponho em causa é a maneira como o Serviço de Saúde era tratado. E vou pôr um caso concreto.
Enquanto estivemos aquartelados no 600 em Stª. Luzia, o Furriel Enfermeiro teve um desaguisado com outro Furriel na Messe de Sargentos, em que andaram copos de vinho pelo ar. Foi punido com a saída da Companhia e colocado não sei onde. Eu nem o conheci.
Quando cheguei à Companhia não havia quem soubesse preencher os formulários para o Laboratório Militar pois isso era da competência dele. Só 3 a 4 meses depois é que foi substituído.
Nesse entretanto fui encarregado pelo meu Capitão, não por ser o mais antigo da Companhia, mas porque tendo estado no HMR 1 onde era eu, que a pedido do Sargento que nunca lá estava, elaborava os mapas, fazia a requisição dos medicamentos e quejandos, e fui tendo umas luzes, continuando na Academia Militar a fazer o mesmo a pedido do 1.º Sargento que era um tipo porreiro e me desenrascava nos fins de semana para vir ao Porto. Amor com amor se paga.
Ora isto não se aprendia nos cursos que eles nos davam. Nós é que por moto próprio íamos tentando aprender.
Por exemplo, o meu tirocínio foi em infecto-contagiosas. O que é que esta especialidade interessa para o mato? Absolutamente nada. Era uma especialidade hospitalar. No entanto em suturas era um zero. A primeira vez que vi suturar na Academia Militar, o Cabo que estava a executá-la teve que deixar o ferido para me atender a mim. No entanto na Guiné tive de fazer das tripas coração e fazê-las, pois tive colegas que delas precisaram.
Mas não foi o Serviço de Saúde do Exército que nos ministrou isso nos cursos. Mesmo os Enfermeiros nos Hospitais Civis, só quando passam pelos serviços de urgência é que aprendem alguma coisa além de dar injecções, medir a tensão ou distribuir comprimidos.
Armandino Alves
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 7 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4914: Os Nossos Enfermeiros (2): As malditas doenças venéreas e a bendita... penicilina (Armandino Alves, CCAÇ 1589, 1966/68)
Caro Luís Graça
Tenho estado a ler os Postes sobre o Serviço de Saúde Militar e vamos a ver se nos entendemos.
Eu nunca pus em causa a competência de Médicos (Oficiais) ou Enfermeiros (Sargentos e Furriéis). Dentro das suas capacidades cada um fazia o que podia e sabia e às vezes o que não sabia. O que ponho em causa é a maneira como o Serviço de Saúde era tratado. E vou pôr um caso concreto.
Enquanto estivemos aquartelados no 600 em Stª. Luzia, o Furriel Enfermeiro teve um desaguisado com outro Furriel na Messe de Sargentos, em que andaram copos de vinho pelo ar. Foi punido com a saída da Companhia e colocado não sei onde. Eu nem o conheci.
Quando cheguei à Companhia não havia quem soubesse preencher os formulários para o Laboratório Militar pois isso era da competência dele. Só 3 a 4 meses depois é que foi substituído.
Nesse entretanto fui encarregado pelo meu Capitão, não por ser o mais antigo da Companhia, mas porque tendo estado no HMR 1 onde era eu, que a pedido do Sargento que nunca lá estava, elaborava os mapas, fazia a requisição dos medicamentos e quejandos, e fui tendo umas luzes, continuando na Academia Militar a fazer o mesmo a pedido do 1.º Sargento que era um tipo porreiro e me desenrascava nos fins de semana para vir ao Porto. Amor com amor se paga.
Ora isto não se aprendia nos cursos que eles nos davam. Nós é que por moto próprio íamos tentando aprender.
Por exemplo, o meu tirocínio foi em infecto-contagiosas. O que é que esta especialidade interessa para o mato? Absolutamente nada. Era uma especialidade hospitalar. No entanto em suturas era um zero. A primeira vez que vi suturar na Academia Militar, o Cabo que estava a executá-la teve que deixar o ferido para me atender a mim. No entanto na Guiné tive de fazer das tripas coração e fazê-las, pois tive colegas que delas precisaram.
Mas não foi o Serviço de Saúde do Exército que nos ministrou isso nos cursos. Mesmo os Enfermeiros nos Hospitais Civis, só quando passam pelos serviços de urgência é que aprendem alguma coisa além de dar injecções, medir a tensão ou distribuir comprimidos.
Armandino Alves
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 7 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4914: Os Nossos Enfermeiros (2): As malditas doenças venéreas e a bendita... penicilina (Armandino Alves, CCAÇ 1589, 1966/68)
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