segunda-feira, 18 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1856: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (5): Gadamael, Junho de 1973: 'Now we have peace'

Lamego > Centro de Instrução de Operações Especiais > 1973 > O 1º cabo miliciano Carvalho

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/73) > o Fur Mil At Inf Op Esp Casimiro Carvalho junto ao monumento aos mortos e feridos da CCAÇ 3325 (que esteve em Guileje de Janeiro a Dezembro de 1971).






Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/73) > O Casimiro Carvalho no quotidiano de Guileje.


Fotos: © José Casimiro Carvalho (2007). Direitos reservados.

Cartas e aerogramas enviados pelo José Casmiro Carvalho (Fur Mil Op Especiais, CCAV 8350, 1972/74) à família, durante a 2ª quinzena do mês de Junho de 1973 (1). A última carta que publicámos anteriormente era de 30 de Maio, escrita em Gadamael, onde o Casimiro, vindo de Cacine, se juntou à sua destroçada e desmoralizada companhia (2).

Alguns dias depois (?), ele será ferido em combate, em Gadamael, depois de ter ajudado a salvar e a evacuar o seu comandante, o cap Quintas, ferido com gravidade (a 1 de Junho de 1993). Não temos cartas ou aerogramas desse período (1ª quinzena de Junho de 1973), em que os paraquedistas do BCP 12 tiveram que vir aliviar a pressão do PAIGC sobre Gadamael, a seguir ao abandono de Guileje pelas NT (em 22 de Maio de 1973). Não sei se o Carvalho escreveu à família, ou se não o pôde fazer. Ele não fala desse ferimento em combate (que terá sido ligeiro: um estilhaço de morteiro 120) (3).

De qualquer modo é muito interessante cruzar estas informação epistolográfica com as memórias do Victor Tavares, ex-1º cabo paraquedista da CCP 121 que esteve do inferno de Gadamael nesta altura (2), depois do inferno de Guidaje.

A selecção, a revisão e a fixação do texto, bem como os subtítulos, são da responsabilidade do editor do blogue. Mais um vez agradeço ao nosso herói de Gadamael, o Casimiro Carvalho, o carinho, a confiança, o apreço e a franqueza que ele teve para connosco, permitindo-nos entrar na sua intimidade, na intimidade da sua família, conhecer as suas emoções, as suas alegrias e tristezas. Espero que nos ajude a todos a conhecer melhor o duro quotidiano dos nossos camaradas que, em Maio/Junho de 1973, sofreram no sul da Guiné uma das maiores ofensivas do PAIGC em toda a história da guerra (LG) .




Ficar não era heroísmo, era suicídio


Gadamael, 19/6/73

Paizinho:

(…) Estou bem, àparte uma dor de estômago e diarreia, provocadas pela má alimentação e má água (…)

Isto, às 7 da manhã começa-se com cerveja, para acabar às 7 da noite. Já bebi mais cerveja aqui do que você em toda a vida. É o que nos vai aguentando.

Isto está a melhorar, só bombardeiam de vez em quando e fora do quartel, portanto sem consequências. Há agora muitas emboscadas feitas aos paraquedistas que cá estão (2 companhias). Já há alguns que foram evacuados: ficaram malucos com isto aqui. Eu ando porreiro.

Diga lá ao Fernando [ Carvalho, o irmão,] que se torna a mencionar a palavra cobarde, não lhe escrevo mais. Pois se eu fugi da emboscada [descrita em 3] é porque éramos 14 homens só com G-3 e quatro ficaram logo ‘prontos’; a outro encravou-se-lhe a arma e seis fugiram logo. Estava só eu a dar fogo e outro moço, eu fui o único que tirei outro carregador e o disparei. Ficar lá nestas condições, não era um acto heróico mas sim um suicídio. Portanto, cuidado com as palavras, sr. Fernando. Eu não estou zangado. Eu não devia falar na quantidade de homens. Adeus.



Em Gadamael, estamos a dormir nas cabanas dos pretos que fugiram


Gadamael, 20/6/73

Minha querida mãezinha:

Como você me pediu, cá estou eu a escrever-lhe como posso. Se não lhe escrevi mais amiúde foi por causa da situação, pois nem tínhamos com que escrever, roubaram tudo e nem apetecia fazer nada porque andávamos a fugir das granadas, e desmoralizados com isto tudo. Até tínhamos medo de ir tomar banho.

Além de tudo, não tínhamos condições para nada pois nunca parávamos em sítio certo. Agora estamos a dormir e viver em cabanas dos pretos que fugiram , cheias de ratos e mosquitos. Mas pelo menos já dormimos, e eu com um Lusospuma.

Pode acreditar que me encontro bem, felizmente, pois agora acabou a história dos bombardeamentos. Agora só há emboscadas, quando saímos para o mato. Vamos cheios de medo e eu principalmente, pois vou à frente sempre porque, voluntariamente, levo uma metralhadora ligeiro. É uma defesa pessoal e de grupo muito boa. Eu levo 200 balas e a minha equipa 400.

Outro dia eu e o meu grupo comprámos 5 cabritinhos e eu é que os cozinho, Sou elogiado por oficial e soldados que os comem, pois tornei-me AQUELE cozinheiro. Desenrasco-me muito bem. Limparam-me também a máquina fotográfica.

Informem-me também do que se diz acerca disto aí, pois eu gosto de saber. Como já disse, vou outra vez, mais a Companhia, para o Cumeré onde estive quando cheguei à Guiné.

O irmã da Ana [, a namorada,] não está em Catió mas sim em Cufar.

(…) Parece que Guileje fica abandonado. O General Spínola não deu nenhuma ordem acerca de Guileje. A aviação vem aqui todas os dias bombardear à volta do quartel e todos os dias as antiaéreas turras ripostam.

Não vou ficar aqui muito tempo. Ando com uma diarreia maluca. Mas há-de passar. Continuo a sair para o mato.

Vamos para o Cumeré porque a nossa cmpanhia tem muitos mortos e mais feridos, para virem mais soldados completar a Companhia.

Eu devo levar um louvor, e não só mo darão se forem injustos. Pois andei debaixo de fogo a transportar mortos e feridos e a curá-los (não havia enfermeiros) numa BERLIET que eu conduzia e a transportar motores de botes para ser possível fazer as evacuações. Transportei feridos graves (a pé), debaixo de fogo. Mas ESTOU OK!

Seu filho que a ama.



Grande ronco dos paraquedistas, em 23 de Junho de 1973 (2)


Gadamael, 24/6/73

Queridos pais:

Estou óptimo, verdade! E vocês, como têm passado ? Sempre em sobressalto, mas sem razão. Pois isto agora está mais ou menos normal, embora vivamos sem condições de higiene e de habitação.

(…) Ontem, uma das companhias paraquedistas que aqui está, surpreende um grupo de turras, entre os quais cubanos, e pô-los em debandada, apanhando-lhes fardamento, alimentos, armamento, munições, coisas que eles tinham apanhado no Guileje, etc. Dois mortos deles e muitos feridos (2).

Estamos perto de abandonar esta vida, pois devemos ir para Cumeré.

Gosto muito das cartas da mãezinha, nunca deixe de me escrever. Pois dão-me umas horas de vida, enquanto penso nelas. E o meu velhinho ? Então tem-se esquecido do seu filho ? (…).



Vêm aí os periquitos: vai haver bebedeira pela certa


Gadamael, 26/6/73

Now we have peace

Minha querida mãezinha:

É com imensa ternura que, mais uma vez, lhe dedico uns minutos do meu pensamento. Neste momento batem 8 horas numa emissora de London [sic] que ouvimos no rádio.

Então, como têm passado todos aí em casa, enquanto o vosso soldadinho finalmente tem sossego, pois os turras não nos têm chateado, nestes últimos dias ?!

Ontem chegou uma companhia nova aqui, veio substituir a companhia daqui, e há-de vir uma outra, daqui a uns dias, para nos substituir. Vai haver bebedeira, pela certa, e vamos para o Cumeré, para completar a Companhia, substituir mortos e feridos graves. O capitão também foi ferido gravemente, e foi evacuado para a Metrópole. O outro capitão, o daqui, também foi ferido.

Há já alguns dias que vivemos em paz de espírito, e agora, desde há alguns dias fui nomeado instrutor de um novo grupo de milícias (pretos, 40). Ensino-lhes desde armamento a táctica de combate a ginástica. É um passatempo e não saio para o mato, pela primeira vez em oito meses, feitos ontem, dia 25.

Já passou a nuvem negra que tapava o nosso amor, entre mim e a Ana (…).

Parece que há um aumento de 500$00 a partir de Março e que recebemos tudo junto em Agosto. Mande dizer quanto marca o saldo B.B. & Irmão (…).

___________

Notas de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores:

25 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1699: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (1): Abatido o primeiro Fiat G 9

13 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1727: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (2): Abril de 1973: Sinais de isolamento

14 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1759: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (3): Miniférias em Cacine e tanques russos na fronteira

24 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1784: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (4): Queridos pais, é difícil de acreditar, mas Guileje foi abandonada !!!

(2) Vd. post de 19 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1613: Com as CCP 121, 122 e 123 em Gadamael, em Junho/Julho de 1973: o outro inferno a sul (Victor Tavares, ex-1º cabo paraquedista)(3)

(...) "13 de Junho de 1973: aliviando a pressão sobre Gadamael

"No dia 13 de Junho, de manhã cedo, preparámo-nos para rumar [de Cacine] a Gadamael, sendo transportados em Zebros do Destacamento de Fuzileiros Especiais Africanos nº 21, dois grupos de combate sendo colocados nas margens do rio nas proximidades de Gadamael para onde seguimos em patrulhamento depois de serem desembarcados os outros dois grupos de combate da 121 que foram deslocados em LDM. No regresso, as embarcações seguiram para Cacine com os paraquedistas da CCP 122, aonde iriam recuperar durante um curto período.

"Chegados ao destacamento [ de Gadamael], verificámos que o estado do mesmo era na verdade aterrador, fruto dos constantes ataques, sendo bem visíveis os buracos dos rebentamentos das granadas do IN. Era evidente que quem lá tinha estado anteriormente, tinha passado por uns maus bocados.

"As nossas duas companhias de paraquedistas que se encontravam aqui estacionadas estavam em permanentes patrulhamentos no exterior do aquartelamento, indo a este simplesmente para remuniciamento e reabastecimento. Desta forma fomos alargando o raio de acção indo até junto à fronteira, para conseguir referenciar os locais de onde o PAIGC fazia os ataques, para dar indicações à nossa Artilharia e Força Aérea. A impossibilidade de referenciar, por ar, estes alvos, levou-nos a ocupar as zonas em que o IN poderia instalar as suas bases do fogo e deste modo a fazê-lo afastar-se. Foi o que, realmente, veio a acontecer.

"A partir desta altura fomos ao encontro dos locais de onde se ouviam os disparos das bocas de fogo e ocupámos essas áreas mesmo junto à fronteira, algumas vezes chegámos mesmo a ultrapassar a linha de fronteira com alguma profundidade - nunca por períodos longos, mas apenas porque havia aí bases de fogo IN. Nunca conseguimos apanhá-los desprevenidos, pois havia sempre forças de infantaria do PAIGC que os alertava com tiros acabando por retardar a nossa progressão.

"No entanto os ataque a Gadamael deixaram de ser tão frequentes, passando as flagelações a a realizarem-se com menos intensidade e sem a precisão até aí evidenciada, além de feitas a partir daí sempre de locais diferentes. Quando as nossas forças aí chegavam, já eles tinham partido para outro local.

"Mesmo já quando as forças do PAIGC não flagelavam o destacamento com tanta frequência, fomos mantendo a actividade de patrulha ao mesmo ritmo, por forma a manter as áreas próximas do braço do rio que dava acesso a Gadamael e que era a nossa única via de ligação para o exterior.

"Consequentemente a eficácia de tiro até aí verificada por parte do IN deixou de existir e a intenção e pressão inicial caiu por terra, as forças do nosso exército voltaram ao destacamento e com os paraquedistas fizeram vários patrulhamentos transmitindo-lhes os nossos conhecimentos e mais confiança nos deslocamentos em plena mata até aí de arrepiar" (...).


"23 de Junho de 1973: atolados num campo minado!


"A 23 de Junho de 1973, recebemos ordens para novo patrulhamento. Manhã cedo arrancámos desta vez saindo pela que era considerada porta de armas virada para o rio, o qual atravessámos. Avançámos para o local indicado pelos nossos superiores, em progressão lenta e com cuidados redobrados.

"Esta zona não era para brincadeiras. Nesse dia éramos acompanhados por 2 militares do exército que eram sapadores e montavam minas no terreno tentando proteger o destacamento da acção do inimigo. Passado algum tempo, recebemos ordens para parar na frente, estávamos num local minado pelos nossos novos companheiros e a sua missão era indicar-nos a localização das minas para podermos contornar o local sem qualquer incidente (...)".
(3) Vd. resenha biográfica do J. Casimiro Carvalho. Não há grande precisão nas datas, por parte do Casimiro Carvalho, no que diz respeito ao período em que esteve em Gadamael. O BCP nº 12, a duas companhias (CCP 122 e CCP 123) é enviado para Gadamael a 2 de Junho, seguindo-se a 13 a CCP 121, do Victor Tavares. Regressa a Bissau a 7 de Julho (as CCP 122 e 123) e a 17 de Julho (a CCP 121). Os páras cosneguiuram travar a ofensiva do PAIGC a partir do momento em que se instalam em Gadamael.
Eis como Carvalho descreve o seu ferimento, que deve ter ocorrido em finais de Maio de 1973 (a situação mais crítica em Gadamel é nos dias 31 de Maio, 1 de Junho e na noite de 1 para 2 de Junho; o cap Quintas, da CCAV 8350, é gravemente ferido na tarde do dia 1 de Junho, sendo ajudado pelo Fur Mil Carvalho, que estava operacional e foi um dos derradeiros defensores do aquartelamento antes da chegada dos páras - CCP 122 e 123 - a 2 de Junho) (4):
(...) "Em Gadamael, fugindo das morteiradas certeiras do 120
"Aqui vão alguns itens, e falo assim para não ser acusado de subverter a verdade dos factos.Em Gadamael não havia casamatas como em Guileje, só valas. Os bombardeamentos eram tão intensos que nem dava para acreditar, quando ouvíamos as saídas, tínhamos 22 ou 23 segundos até as granadas 120 caírem em cima de nós ou , muito raramente, caírem mais além. O pessoal começou a fugir para o rio, e as granadas caíam no rio, o pessoal corria para o parque Auto e as granadas caíam no parque Auto, o pessoal saltava para as valas e as granadas iam cair nas valas.Numa dessas quedas (voos) para a vala - e já lá ! -, senti as nádegas húmidas e, ao pôr lá a mão, esta veio encharcada em sangue... Berrei que estava ferido e fui evacuado num patrulha da Marinha para Cacine (entretanto no barco fui tratado e apaparicado pelos marujos).
"Em Cacine verificaram que era um estilhaço de morteiro 120 do IN, e que não havia necessidade de ser transferido para Bissau, pelo que fui nomeado chefe de limpeza em Cacine (um Ranger, imaginem) .
"Quando começaram a chegar as vítimas desse holocausto, e como ouvia os meus camaradas a embrulhar, deu um clique na minha cabeça e peguei numa Kalash que eu tinha, virei-me para um oficial e disse:- Ou me mandam já para Gadamael onde morrem os meus homens ou eu varro já esta merda!" (...)
(5) Ainda sobre o referido ferimento em combate, o Carvalho continua sem me responder às questões factuais (datas, etc.)... Enfim, a esta distância no tempo e no espaço, não se lhe pode pedir muito mais... Eis o que ele me escreveu, num mail recente:
"Fui ferido em Gadamael, por estilhaço de 120 (?) quando em voo para a vala. Fui evacuado por um patrulha até Cacine, onde me trataram e não viram motivo para ir para Bissau. Fiquei a ser chefe da limpeza em Cacine (um ranger...) até que me passei dos carretos a ouvir os bombardeamentos e a ver os meus camaradas a chegarem feridos aos magotes e resolvi voluntariar-me para regressar a Gadamael (insensatez própria da idade e da valentia de ser especial (Ranger).
"O Fernando é meu irmão mais novo e a Ana era minha namorada e hoje esposa".

Guiné 63/74 - P1855: Tabanca Grande (13): Jorge Canhão, ex-Fur Mil da 3.ª Companhia do BCAÇ 4612/72

1. Mensagem do Jorge Canhão, que pssa a ser um novo membro da nossa Tabanca Grande:


Camaradas da Tertúlia, aqui vai um mini - historial da minha Companhia e duas fotos minhas, ou seja, os dados necessários para ser mais um tertuliano. Concordo inteiramente com os princípios da Tertúlia. Desde já os meus parabéns pela vossa atitude face à guerra colonial
Abraços. Jorge Canhão




Sou o Jorge A. F. Canhão, natural de Lisboa e nascido em 1950. Vivo em Nova Oeiras-Oeiras. E-mail: jorge.aferreira@netcabo.pt. Telemóvel (que pode ser divulgado) > 91 274 85 56.


Fui Furriel Miliciano Atirador de Infantaria. Tive o privilégio de, com um grupo de miúdos sensivelmente da mesma idade, formarmos a 3ª CCAÇ do BCAÇ 4612/72 que prestou serviço na Guiné.




Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1974 > O Fur Mil da 3ª Companhia do BCAÇ 4612/72, junto a "restos de Gadamael" (não é indicado o dia nem o mês).

Foto: ©
Jorge Canhão (2007). Todos os dreitos reservados.

Chegámos à Guiné a 5/10/72, fizémos o IAO na zona do Cumeré e a 17/11/72 fomos para Mansoa.

A 18/6/73 deixámos o Batalhão e passámos a estar dependentes do COP 5 e do COT 9 como Companhia de Intervenção.

Fizémos operações nas zonas de Mansoa, Mansabá, Bissorã, Farim, Bula, Cacine e Gadamael, onde estiveos com as excepcionais Companhias de Pára-quedistas 121 e 123.

A 12/5/74 deixámos de ser Companhia de Intervenção e regressámos ao Batalhão.

Em 26/8/74 embarcámos de avião para Portugal.

Em toda a comissão e após algumas centenas de operações, tivémos 2 mortos (um furriel e um soldado), 2 feridos graves (soldados) e uma dezena de ligeiros, entre oficiais, furriéis e praças.

2. Comentário de L.G. e C.V. , editores do blogue:

Jorge: Em nome da nossa Tabanca Grande, ou seja, dos Camaradas e Amigos da Guiné, damos-te as boas vindas. Esperamos que te sintas confortável ao pé de nós, e que nos conte mais estórias da tua intensa actividade operacional. Aproveitamos para te perguntar em que altura foi tirada a fotografia de Gadamael, e em que operação ou operações participaste com as tropas paraquedistas do BCP 12. Tens uma cópia da história da tua companhia ou do teu batalhão ? Um abraço.

domingo, 17 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1854: Louvores e condecorações (1): o 1º Cabo Escriturário da CCS do BART 2893, Constantino Neves

Cópia do louvor atribuído ao 1º Cabo Escriturário Constantino Neves, da CCS do BART 2893, pelo tenente-coronel Fernando C. Magalhães (?)... Excerto do teor do louvor: (...) "porque durante a sua comissão de serviço na Província da Guiné demonstrou elevado espírito de bem servir, qualidades de trabalho e sentido de responsabilidade que o levaram a ocupar muitas das suas horas de descanso ou distracção a executar inúmeras tarefas cuja realização urgente se impunha, sendo por isso a colaboração, dada ao seu Comandante de Companhia, prestimosa.

"Em complemento, exibiu sempre aprumo e atavio invulgares e, com a sua conduta e trato afável, ganhou jus a que o seu exemplo seja de realçar perante os militares da Unidade"

Foto: © Tino Neves (2007). Direitos reservados


1. Mensagem do Tino Neves, d Almada, com data de 2 de Maio de 2007:

Camaradas Luís Graça e Carlos Vinhal:

Acabo de ver no blogue, o post P1722, de 2 de Maio de 2007 (1) , o tema que inclui louvores e punições em que o camarada Jorge Cabral mostra o seu Louvor com muito orgulho, assim como outros camaradas o fizeram atrás, o Mexia Alves (2) e Vitor Junqueira (3) e outros, aos quais eu tiro o quico ou a bóina, porque não há que ter vergonha de falar ou mostrar os seus louvores. De facto, se os tiveram, é porque os mereceram. E não é a mesma coisa como o puxar dos galões, já que muitos dos louvados eram simples soldados rasos.

Não vou deixar de mostrar o meu, que como 1º. Cabo Escriturário que era, não me foi atribuído por grandes feitos operacionais. De igual forma fui merecedor dele, e dele me orgulho.

O nosso blogue está cheio de estórias de grandes feitos, com bastante valentia, o que me leva a pensar que, na maior parte dos casos, os camaradas intervenientes terão sido louvados, pelo que, desde já, dou o mote ao editor, o Luís, para que seja criada uma galeria de louvores.

Um abraço

Tino Neves
Ex-1º Cabo Escriturário
CCS/BCAÇ 2893
Nova Lamego (Gabu) 1969/71


2. Comentário de L.G.: Tino, aceito a tua sugestão... Mas, para que isto não se torne uma feira de vaidades, fica também espaço para as punições... Os louvores e punições são, seguramente, documentos que, se sujeitos a uma boa análise de conteúdo, dizem muito sobre o que foram as nossas forças armadas, a nossa actividade operacional, os nossos comandantes, nós próprios (que estávamos longe de ser o "espelho da Nação"...).

Há camaradas que também se orgulham das porradas que apanharam na tropa e sobretudo na Guiné... Estou-me a lembrar, por exemplo, do nosso camarada João Tunes, que apanhou uma porrada no Pelundo, na sequência da desobediência a uma ordem absurda, arbitrária, exorbitante, numa típica situação de uso e abuso de poder por parte do seu comandante de batalhão...

A história é conhecida da nossa malta: por se recusar a dar um estalo num cabo de transmissões, desobedecendo à ordem do tenente coronel, o João Tunes acabou por ir parar ao sul, a Catió, sendo colocado noutra CCS, noutro Batalhão... Sabemos quem, no final, saiu pela porta grande, com louvor & distinção...

Vd. Blogue do João Tunes > Bota Acima > post de 7 de Abril de 2004 > Jogo de cartas

Já em tempos comentei que se tratava de um texto delicioso onde o João relata as noites, chatas p'ra burro, em que era obrigado a jogar king com o seu comandante, o tenente-coronel Romeira; em que evoca as bravatas sexuais dos tugas; e nos fala da famosa porrada que apanhou por recusar bater num cabo de transmissões sob o seu comando, porrada essa que o levou do Pelundo até ao Catió.
________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 2 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1722: Provetas, crime e castigo, louvores e punições, erros e perdões (Jorge Cabral)

(2) Vd. post de 18 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1674: Efemérides (3): A tragédia do Quirafo: rezar pelos mortos e perdoar aos vivos (Joaquim Mexia Alves)

(3) Vd. posts de:

15 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1526: Em louvor do comandante Vitor Junqueira (Lema Santos)

6 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1567: Operação Larga Agora, na região do Tancroal, com a CCAÇ 2753 (Vitor Junqueira)

Guiné 63/74 - P1853: Estórias do Zé Teixeira (18): Quando não se acautela a vida, a morte pode espreitar (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)

Mais uma estória do Zé Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381 (1968/70) - Os Maiorais

Caros amigos
Do sótão da minha memória vão continuando a sair umas estórias que serão o complemento do meu diário. A fidelidade textual não será a mesma, mas continuam a ser estórias verdadeiras que eu vivi e não saiem do sotão, por mais que queira (1).

Abraço fraternal com votos de bom fim de semana.
J. Teixeira
Esquilo Sorridente



QUANDO NÃO SE ACAUTELA A VIDA, A MORTE PODE ESPREITAR

por José Teixeira

Nos princípios de Março de 1969, os trabalhos da construção da estrada de Buba para Aldeia Formosa, iam decorrendo sem grandes problemas, aparte uma emboscada de vez em quando ou umas minas A/C e A/P detectadas em tempo útil.

Todos os dias, homens e máquinas, deslocavam-se de Buba, até ao local onde tinham ficado no dia anterior e o trabalho continuava. Partia-se de manhã cedo, faziam-se 8 a 10 Km para lá e ao fim do dia, novamente a marcha de regresso, sempre no fio das navalha. O IN ousou estudar bem o terreno por onde ia passar a estrada e colocar uma potente A/C no interior da mata, de modo a fazer ir ao ar o caterpillar de 14 toneladas, quando este se preparava para investir sobre uma árvore gigante para a derrubar, o que aparte o ferimentos ligeiros que provocou no operador e um susto ao alferes que, sentado no lugar do morto em amena cavaqueira procurava queimar o tempo, deu-nos uns dias férias, o que não foi nada mau.

Este vai-vem diário tornou-se extremamente cansativo e esgotante, tendo deixado a minha companhia reduzida a 36 operacionais activos. A CCaç 2317, oriunda de Gandembel (do Idálio Reis) , bem como a CCAÇ 2382 iam pelo mesmo caminho.


Ementas imaginárias

Julgo de interesse lembrar que também estavam estacionadas em Buba a 15º de Comandos e uma de Fuzileiros. Era um fartote de combatentes, o que provocava a apetência do IN para nos ir visitar. Era de dia no mato, era à noite, de madrugada ou manhã cedo no aquartelamento.

A juntar a este cenário, o barco que nos ia levar mantimentos foi metido ao fundo, ficando esta gente, uma temporada, a comer arroz com amostras de chispe ao almoço e amostras de chispe com arroz ao jantar.

Fomos visitados pelo Olho de Vidro e Pingalim que nos fez um discurso à sua maneira, tendo em determinada altura afirmado, mais ou menos isto:

Sei quanto está a ser difícil aguentar esta vida, mas é a Pátria que o está a exigir. Quando vos derem grão cozido, fechai os olhos e imaginai-vos em Lisboa a deliciar-vos com o belo peru recheado , ou uma lagosta suada (fiquei a saber que as lagostas também suam). Assim será mais fácil para vós, comer o grão. Precisais de comer para aguentar e sobreviver. Bla bla, bla….

O resultado da sua visita, foi transferir o centro de operações da estrada para um acampamento de lona em Samba Sabali, antiga tabanca abandonada, perto de Nhala, (onde hoje existe uma simpática povoação) onde havia um poço de água choca e lamacenta que nos permitiria refrescar o corpo.

Arroteada a terra, construída a paliçada com muros de terra e sacos cheios de terra, eis um moderno quartel, arejado, com cozinha, bar, e enfermaria ao ar livre, camas excelentes para combater os bicos de papagaio, pois a terra do chão estava macia, e, uma redondeza bem preparada para um cerco fácil a um pequeno espaço, sem luz eléctrica e com um grau de densidade populacional elevadíssimo.


Ataque a Samba Sabali

Três Gr Comb em quatro tendas tipo hospital de campanha, em redor, com um pequeno pátio no meio. Dois grupos de combate saíam para estrada e um ficava no acampamento, no dia seguinte, um ficava no acampamento e . . . dois seguiam para a estrada e ainda tínhamos a noite sem luz para o que desse e viesse.



Guiné > região de Quínara (Buba) > 1969 > Estrada (em construção) de Buba para Aldeia Formosa > Acampamento temporário de Samba Sabali (a noroeste de Uané)

Felizmente, quinze dias depois, apareceu uma Companhia de Piras e, como não cabíamos todos, abalámos para Buba, cansados, sujinhos até à medula, a roupa já não tinha cor, tanta era a terra encardida.

Apenas conheci de nome uma pessoa, o Banha, Cabo enfermeiro a quem passei o equipamento de enfermagem que havia. Foi para mim o adeus à estrada, pois uns dias depois regressei a Empada e só lá voltei em 2005 para matar saudades. ´

Uns dias depois, segunda feira de madrugada, lá parti para uma das últimas patrulhas, com montagem de emboscada e regresso ao fim da tarde.

Ao anoitecer e quando nos preparávamos para o regresso, rebenta um tremendo fogachal em Samba Sabali, eram as boas vindas aos periquitos, logo num quartel de lona sem condições mínimas de defesa e segurança. Pelo rádio ouvíamos as notícias e ainda houve tempo de recorrer à F.A. para calar o IN, caso contrário...

Um morto, três feridos graves e cinco menos graves, creio eu, foi o resultado da refrega.

A distância a que estávamos era relativamente longa do local do ataque, no entanto face à impossibilidade de o Helicóptero poder aterrar, por ser noite e por não haver local próprio, foi necessário fazer seguir uma coluna de socorro a partir de Buba. Como estávamos no terreno, recebemos ordem para seguir para a bolanha dos Passarinhos, ou seja a Lagoa de Cufada, sítio, historicamente de passagem não recomendada, sem as mais elementares cautelas, por ser um espaço muito conhecido pelas minas e emboscadas que o IN aí montava, proveniente de Sare Tuto, ali mesmo ao lado, aquando das colunas de e para Nhala e Aldeia Formosa ( Quebo).
Como era preciso proteger a coluna que partira de Buba, abalámos. 


Guiné-Bissau > Ilustração do livro Conhecer para amar, amar para proteger: Rio Grande de Buba e Lagoa de Cufada. Bissau: Tiniguena. 1995. Imagem gentilmente cedida por José Teixeira (2006).

Noite escura, de peito aberto, em passo de corrida acelarado, estômago vazio e garganta seca (tínhamos saído de madrugada com ração de combate para o almoço e prevíamos chegar a tempo de jantar), lá fomos nós estrada fora, até ao local que nos fora destinado. Já próximo embrenhmo-nos na mata e estacionámos precisamente no local, onde era hábito termos uma espera desagradável.

A coluna passou e regressou. Ainda ouvimos ruídos à nossa retaguarda e um tiro isolado, sem consequências. Apanhámos as últimas viaturas e regressámos a Buba. Eu segui para a enfermaria para continuar a minha missão em apoio dos meus colegas enfermeiros, e encontrei... o Banha. Estava morto, com um tiro de costureirinha na testa...

Zé Teixeira
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Notas de C.V.:

(1) Vd. último post desta série > 9 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1826: Estórias do Zé Teixeira (16): Eh fermero di caradjo, pára lá, a mim amigo di bó, amigo memo!

(2) Vd. post de 14 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVI: O meu diário (Zé Teixeira) (fim): Confesso que vi e vivi

sábado, 16 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1852: Convívios (17): CCS/BCAÇ 2856, lugar de Alfeizerão, 2 de Junho de 2007 (Jorge Tavares)

Jorge Tavares, ex-Furriel Miliciano, Radiomontador, da CCS do Batalhão de Caçadores 2856 (Bafatá, 1968/1970).


Mensagem de 6 de Junho de 2007 do nosso camarada Jorge Tavares (1)

No dia 2 de Junho último, reuniram-se em convívio, no lugar de Alfeizerão, elementos da CCS do BCAÇ 2856.

Esta CCS esteve em Bafatá de de Outubro de 1968 a Outubro de 1970, dando apoio às CCAÇ 2435, 2436 e 2437.

O convívio decorreu com uma missa na Igreja matriz local, celebrada pelo capelão do nosso Batalhão, em que foram lembrados os camaradas já desaparecidos, seguindo-se o almoço no restaurante Viamar.

Em anexo envio duas fotografias, uma dos convivas presentes e outra do corte do bolo, que teve uma introdução do ex-Alf Linheiro, ex-Fur Cruz e ex-1.º Cabo Gonçalves.


Alfeizerão > 2 de Junho de 2007 > Convívio da CCS do BCAÇ 2856 (Bafatá, 1968/70) > O grupo dos participantes no convívio

Alfeizerão > 2 de Junho de 2007 > Convívio da CCS do BCAÇ 2856 (Bafatá, 1968/70) > O bolo pronto a ser fatiado. Na imagen, o ex-Alf Linheiro, o ex-Fur Cruz e o ex-1.º Cabo Gonçalves.


Fotos: © Jorge Tavares (2007). Direitos reervados

Um abraço,

Jorge Tavares

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Nota de C.V.:

(1) Vd. post de 31 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CDVIII: A doce nostalgia de Bafatá (BCAÇ 2856, 1968/70) (Jorge Tavares / Luís Graça / Humberto Reis)

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1851: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (50): Do tiroteiro em Bambadinca na noite de 14 de Junho de 1969 à emboscada da bruxa


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Regulado do Cuor (a norte do Rio Geba) > Pessoal do 2º Grupo de Combate da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) atravessando em coluna apeada a bolanha de Finete na margem direita do Rio Geba. A tabanca de Finete, em autodefesa, guarnecida pelo Pelotão de Milicia nº 102, é visível ao fundo. Nesta época (finais de 1969/princípios de 1970), Finete dependia da autoridade militar de Beja Santos, comandante do Pel Caç Nat 52 (Missirá, 1968/70). Era sempre penosa a travessia da bolanha, mas obrigatória para se ir de (e para) Bambadinca, Finete e Missirá. Missirá era o destacamento mais avançado, a norte, do Sector L1 da Zona Leste.

No primeiro plano, para além de municiador da Metralhadora Ligeira HK 21, Mamadú Uri Colubali (se a me~mória não me atraiçoa), vê-se o Fur Mil Reis e o 1º Cabo Branco (LG).

Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).



Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados



50ª Parte da série Operação Macaréu à Vista, da autoria de Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) (1). Texto enviado a 25 de Maio de 2007. Subtítulos do editor do blogue.



Tiroteios inconsequentes em Bambadinca e Missirá... ou a 'emboscada da bruxa'
por Beja Santos

Seriam três da manhã de 14 de Junho [de 1969] quando os sons cavos das deflagrações começaram a sacudir Missirá. Não muito longe, alguém estava a ser atacado com morteiros, rockets e armas automáticas. Logo a seguir, ouviram-se as G3 e, espaçadamente, os morteiros 60 e 81. Levantei-me de imediato, supondo que chegara a vez de Finete. A tropa aglomerava-se no alto dos abrigos, nos postos dos sentinelas, em cima das viaturas. Os céus sulcavam-se de fogo descompassado, ouvia-se claramente o troar dos morteiros, até as rajadas das Daimlers.


Boleia de barco, do Mato Cão a Bambadinca


O que me surpreendia era um fogo que cuspia em várias direcções, mas não havia resposta, como se um quartel, electrizado, decidisse fazer fogo por capricho. As opiniões coincidiam: era de novo fogo em Bambadinca. Com auxílio do Teixeira, iniciou-se a comunicação com o batalhão, com o inevitável "maior deste" a perguntar ao "maior desse" o que se passava. E, subitamente, do outro lado informou-se que tudo estava calmo, não era necessário qualquer deslocação ao "maior deste".

Na parada confirmava-se o silêncio que passara a navegar para lá das matas do Cuor, só de quando em quando o tracejado das balas riscava o céu, até que tudo se acalmou em escassos minutos. Com a voz exausta, o Teixeira relembrou:
- Meu alferes, o contingente de barcos passa em Mato de Cão cerca das 8:30.

Pragmaticamente, fomos todos descansar, já que às cinco da manhã iríamos quebrar o capim encharcado pelo orvalho.

Com ligeiro atraso, o comboio de navios civis protegido por uma LDM entrou no Geba Estreito e deu-nos boleia até ao cais de Bambadinca. A vida na tabanca não conhecia alteração, ferviam gargalhadas no mercado, não se via sinal de destruição. No quartel, deparou-se o mesmo quadro, como se houvesse a maior casualidade nestas flagelações grandes ou pequenas.

Procurei falar com o Pimbas ou com o Major Pires da Silva, estava em reunião, ambos manifestaram interesse em falar-me, dividi tarefas pelos 20 homens que me acompanhavam, fui à messe escrever apressadamente um aerograma à Cristina, ajuntando as trivialidades do costume: que caiem chuvas diluvianas e as viaturas continuam empanadas; só encontro meias de nylon em Bafatá e ando a pedir meias de malha e altas a quem gosta de mim; tenho cada vez mais gente doente, fazem-se prodígios com duas secções desfalcadas que saem de Missirá, recolhem-se milícias em Finete, outro dia descobri que nem morteiros nem bazucas seguiam connosco, só dois apontadores de dilagramas; que está prometido ir a Bafatá dentro de dias tratar dos documentos para o casamento e aproveito para perguntar à minha futura mulher se já tem a minha certidão de baptismo; que o meu padrinho de baptismo me enviou um pacotão de livros mais ou menos fabulosos, entre eles Rumor Branco, de Almeida Faria, um amigo que ela tanta aprecia; que tenho muitas saudades e aguardo cheio de esperança o resultado o meu recurso.

Falo primeiro com o major Pires da Silva, um tanto insone que me relata a sequência do que se passou esta madrugada. Acho aquilo tudo estranho, que raio de inimigo é aquele que não consegue atingir uma instalação, um telhado, uma viatura? Aliás, nos comentários breves que escutei de alguns camaradas, acorre uma palavra aparentemente enigmática mas que teria correspondido à natureza do ataque e ao volume da respostas: uma comboiada.

A seguir, fala-me na operação Goldfinger II o mesmo é dizer que eu vou estar em Aldeia do Cuor, alguém virá por Santa Helena e Mero e patrulhará esmiuçadamente a outra margem do Geba, na expectativa de uma cambança onde eu apanharei os possíveis rebeldes. A operação terá lugar na madrugada de 16.


O último encontro com o Pimbas (2)

Com a serenidade possível, recordo ao Major de Operações que tenho 9 homens que vão ser examinados pelo David Payne, não podem dar um passo; que as camas em Missirá e Finete não estão cheias de gente indolente mas gente que sofre esta permanente canseira de Missirá a Mato de Cão, sem nenhum apoio da tropa de Bambadinca.

O Major Pires da Silva lembra-me que raramente somos chamados a operações. Respondo-lhe que sair com duas secções de Missirá e Finete, neste momento, e por mais de três noites, é comprometer todo o sistema defensivo.
- Ainda bem que me fala nisso, em Julho preciso exactamente de si e de mais 12 homens.

Despedimo-nos e sigo para o gabinete do Pimbas. Está jovial e prazenteiro.
- Menino, penso que tenho um consolo para te dar. Mais mês, menos mês, vais para Fá e depois trabalharás só para as operações de Bambadinca e no sector do Cossé. Até lá, não me tragas mais problemas, aguenta estoicamente.

Fora ali mais para cumprimentar os camaradas flagelados dessa Bambadinca que eu trago no coração. Não regresso nenhuma resposta com mais efectivos, não há disponibilidade para se apoiar o Cuor. Furioso, junto-me aos meus homens, não há almoço para ninguém, petisca-se no Zé Maria, o rumo é Finete, onde tenho a premonição de um duro ataque, a qualquer hora.

A marcha pela bolanha é um calvário, a ponto de se ter feito uma padiola em que levamos o gigante Serifo Candé que anda com as pernas entrapadas que escondem as úlceras. É uma coluna em que se levam cunhetes de granadas à cabeça, por cima de uma rodilha, e pacotes de espaguete nos bolsos.

Trabalhamos com Bacari nas folhas de pagamentos dos milícias de Finete e aproveito para vistoriar as obras de um abrigo, praticamente pronto. Serifo não vem connosco, a marcha para Finete é enriquecida por uma dezena de civis que vieram de Galomaro e vão ajudar nas fainas agrícolas os Soncó e os Mané. É uma progressão difícil de 14 Km cheios de lama, com o olhar sempre atento às possíveis minas.

São 17:30, o céu é chumbo, o entardecer esfria quando, no preciso instante em que uma coluna de militares e civis abatidos pela chuva inclemente entram pela porta de armas, o fogo de morteiros 82 e rockets vem de Cancumba para o interior de Missirá. É a debandada, os militares vão para as posições preestabelecidas, os civis, enlouquecidos, esparvoados, gritando socorro, atiram-se para qualquer sítio. As nossas armas respondem, Cherno começa a sua corrida , o seu olhar perscruta a mata, põe e tira cargas nas granadas de morteiro, manda os seus recados para Cancumba.

É no meio do caos deste foguetório que dou comigo no abrigo de morteiro 81 com o Queirós. Este prepara-se para meter a primeira granada, quando lhe suspendo o gesto:
- Pá, aconteceu qualquer coisa, os gajos retiram, não há mais fogo.

E não havia mesmo, tal como em Bambadinca, um grupo não estimado limitou-se a deixar um cartão, um aviso de que sempre que podem e querem, os de Madina têm ao seu dispor a nossa intranquilidade. Os próximos minutos destinaram-se a mandar silenciar as armas e avaliar os estragos. Felizmente, estragos mínimos, umas pernas e braços escoriados, o Adão teve trabalho para as horas seguintes, tem até mesmo comprimidos para pôr a dormir os mais excitados.

Tudo somado, jantou-se mais tarde e chegou-se ao cúmulo de cumprir as ordens emanadas de Bafatá, 15 homens foram emboscar a cerca de 600 metros, vi-os seguir com o coração apertado, não há nenhuma lei que defina que a seguir a uma curta flagelação não venha um ataque demolidor. Mas, de facto, tudo não passara de um grupo que a pretexto de um patrulhamento se limitara a dar conta da sua existência. Deixara como lembrança vários buracos na parada e pedaços de rockets. O patrulhamento ao princípio da manhã confirmará exactamente isto: eram poucos e retiraram pela estrada de Moruncunda. Trouxemos alguns cartuchos inteiros e cápsulas que mais tarde entreguei em Bambadinca.


Operação Goldfinger II

O dia 15 seria imperativamente dedicado às obras, já que nos competia sair para a Aldeia do Cuor pelas 4 da tarde. A Goldfinger II é uma acção sem história, é um dos picantes de todas as guerras, que por natureza são imprevisíveis. Chovia a cântaros, lá levámos a capa dita impermeável e rações de combate. De acordo com o plano, ficámos primeiro dentro da Aldeia de Cuor e quando anoiteceu totalmente caminhámos para a orla da bolanha, uma emboscada que garantia total visibilidade para o caminho que vinha de Fá Madinga e da antiga tabanca de Canchebeu, a seguir a Biana.

As horas passaram, de novo vi chegar um pelotão (era o Pel Caç Nat 53, comandado pelo Alves Correia, tanto quanto me recordo), ouviam-se gritos desta unidade militar a tornear toda a bolanha, como se procurasse acossar um presumível grupo que tivesse vindo abastecer-se ali perto. Mais tarde, vim a saber que houvera um novo roubo de vacas em Bissaque, perto de Mero, espalhou-se o boato que 100 rebeldes iriam procurar entrar no quartel de Fá. Pois bem, nada aconteceu até às cinco da manhã, e com a primeira luz do dia regressámos moídos a Missirá.

Eu pedi há dias ao Queta Baldé que viesse conversar comigo sobre acontecimentos que mais tarde aqui se descreverão, ligados sobretudo à flagelação de 15 de Julho. A remexer os meus papéis, encontrara um louvor que lhe fora concedido e onde se referia concretamente que ele ripostara ao fogo do inimigo como apontador de metralhadora ligeira, a despeito desta ter sido atingida, tendo concorrido para baixas ao inimigo e captura de armamento.


Nosso alfero, eu que sei que não acredita em bruxas, mas que as há, há - assegura o Queta Baldé


Como a memória do Queta é praticamente infalível, depois de eu lhe ter pedido confirmação sobre os acontecimentos de Bambadinca, Missirá e Aldeia de Cuor, tudo ocorrido em escassas horas, ele que me ouve sempre a manear a cabeça, erguendo de quando em quando um dedo para depois dar uma explicação ou fazer um complemento, a certa altura disse:
- Nosso alfero, tudo isso aconteceu, mas ainda não falou na emboscada da bruxa, que foi logo a seguir, quando levámos população civil para Finete.

Olhei-o atónito, nunca tinha ouvido falar numa emboscada da bruxa e pedi-lhe pormenores.
-Nosso alfero, eu sei que não acredita mas as bruxas são os maus espíritos que andam pelas matas. Inderissa Mané, um dos filhos de Mussá, e quero lembrar que o pai de Mussá era o guarda-costas de Bacari Soncó, o pai de Malã, estava possuído por esses maus espíritos. Então, depois das flagelações a Bambadinca e Missirá, depois de termos passado a noite em Aldeia de Cuor, creio que dois dias depois de tudo isto, e ainda sem viaturas, fomos de Missirá a Finete para juntar mais gente e seguir para Mato de Cão. Estávamos a chegar junto do sítio onde fora a grande tabanca de Canturé, quando Inderissa, um rapaz que fora sempre doente, desatou a babar-se, roubou uma G3 e ameaçou que disparava sobre nós. Felizmente que ia connosco o padre Lânsana que falou com ele de mansinho e acalmou a bruxa. Olhe que podíamos ter morrido ali muitos. Nesse dia, a bruxa perdeu.

Ouvi esta explicação do Queta em completo silêncio, tomei nota de tudo e do alto da minha suficiência para encontrar outras explicações plausíveis, ocorreu-me pensar que Inderissa era epiléptico e que fazia parte dos jogos da vida morrer em acidentes, tão imprevisíveis como aquele.


Leituras: Do Prazer de Matar (F. Brown) ao Rumor Branco (Almeida Faria)

A época das chuvas prossegue desalmada, caminhamos pela bolanha de Finete enregelados com água pela cintura. Fazemos todas as acrobacias possíveis para aguentar a falta de recursos. Escrevo muito, recebi correio do meu padrinho, do Carlos Sampaio, a caminho do norte de Moçambique, de amigos de S. Miguel, cartas íntimas da Cristina, da minha mãe, chegou mais apoio do Ruy Cinatti. Procuro embalar-me nestes estímulos enquanto desabam todas as chuvas do mundo sobre o Cuor, alastrando para a Guiné.

Capa do romance policial O Prazer de Matar, de F. Brown. Lisboa: Livros do Brasil, s/d. (Colecção Vampiro, 137). Capa: Lima de Freitas.

Foto: © Beja Santos / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.



Apetecia-me poetar, mas relembro a obra do Cinnati descubro a minha falta de vocação. Pego em O Livro do Nómada Meu Amigo e meço a força de um poema de Sophia de Mello Breyner Andersen endereçada ao Cinatti:

Intacta é a sua ausência
Como a estátua de um Deus
Poupada pelos invasores de uma cidade em ruínas.

O Ruy, que me tem enviado alguns dos seus poemas sintéticos, escreve em Ilha: Ave!/Prenúncio de arvoredo . Como é que se pode ser tão admiravelmente simples? Ou então:

Não sei quem me criou. Deus sobre todos
Paira. Esta canção pertence-lhe:
O pão de cada dia nos dai hoje.
Não sei quem me criou. O ar que respiro
Não me deixa ser menos do que sou.

Não me deixa o mar omnipotente,
A terra inteira erguida ao céu profundo.
Cada passo da História me é presente.
Sou o compasso do Mundo.

Volto a reler Frederic Brown, um autor prolífico que tudo experimentou na ficção, desde o policial à ficção científica. O prazer de matar é mais um desses livros da Colecção Vampiro que felizmente se pode encontrar em Bafatá. É um livro soberbo. O detective não o é, é um redactor a quem mandaram fazer a notícia sobre um jovem que sofreu um acidente mortal na montanha russa, num parque de diversões. Este jovem foi identificado devido a uma carteira onde constavam os seus elementos. Afinal não era bem assim, a carteira era de outro jovem, e começa uma investigação informal na semana de férias de Sam Evans, este polícia por empréstimo e curiosidade. No final, o jornalista é confrontado com uma história de esquizofrenia, alguém aparentemente normal que tem sede a toda a hora de destroçar vidas humanas.


Capa do romance Rumor Branco, de Almeida Faria. Lisboa: Portugália Editora, 1962. (Colecção Novos, Série Novos Romancistas, 1). Prefácio de Virgílio Ferreira.

Foto: © Beja Santos / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.

A grande surpresa é a leitura de Rumor Branco, por Almeida Faria. Ele não tinha ainda 20 anos quando se estreou na literatura e recebeu o Prémio Revelação de Romance, da Sociedade Portuguesa de Escritores. No prefácio, Virgílio Ferreira anuncia o aparecimento de um futuro grande escritor e refere-se a obra fragmentada, uma história sem história, catadupas de frases onde mudam as pessoas, uma bebedeira que lembra Faulkner ou James Joyce.

O personagem é um tal Daniel João, que se vai colando a vários personagens, é pequeno burguês, mas é operário, uma vezes é muito culto, outras vezes não tanto, leva uma vida carregada de mistério, cola-se à nossa pele recorrendo a múltiplos disfarces, procurando empolgar-nos através da descoberta das suas experiências. A pontuação do texto é terrível mas original, obrigado a uma leitura concentrada, a voltar atrás, a perceber a voz e o tumulto interior. Fala da vida cosmopolita mas também do Alentejo, rescreve as palavras à luz do sotaque alentejano, sobe ao sonho da burguesia e desce à miséria dos proletários alentejanos. É preso e perseguido e condenado a uma prisão quase perpétua. Visita Paris e percorre esfuziante Saint-German e Montparnasse. Maneja os cânones do novo romance e do neo-realismo. Lê-se em exaltação e fica-nos uma secura na despedida.

Tenho que escrever à Cristina para lhe contar esta novidade, já que o Almeida Faria é seu colega de curso. Vou escrever e depois deito-me, poderá ser um sono mais regrado, só ao fim da tarde é que parto para Mato de Cão. Todo o mês de Junho vai ser assim. Mas em Julho virá o ciclone, depois um novo período e operações. Ora oiçam.

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Notas de L.G.:


(1) Vd. relação dos dez últimos posts anteriores desta série:
11 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1833: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (49): Cartas de além-mar em África para aquém-mar em Portugal (4)

1 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1806: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (48): Junho de 1969: Missirá em estado de sítio

25 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1786: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (47): Finete já está a arder ? Ou o ataque a Bambadinca, a 28 de Maio de 1969

20 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1770: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (46): Encontros de morte em Sinchã Corubal, com a gente de Madina

11 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1748: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (45): A visita do Coronel, o Grande Inquiridor~

4 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1730: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (44): Uma temerária e clandestina ida a Bucol

27 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1704: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (43): Em louvor de Bambadinca, a nossa tabanca grande

20 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1680: Operação Macaréu á Vista (Beja Santos) (42): O Tigre de Missirá volta a rugir

13 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1657: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (41): Cartas de além-mar em África para aquém-mar em Portugal (3)

30 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1637: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (40): Cartas de além-mar em África para aquém-mar em Portugal (2)

(2) Será o último encontro do autor com o tenente-coronel Pimentel Bastos, comandante do BCAÇ 2852, e seu amigo; punido por Spínola, é colocado em Bissau, ou melhor, posto na prateleira... Uma situação humilhante, para ele. Beja Santos só voltará a encontrar o seu amigo em Lisboa.

Guiné 63/74 - P1850: O 10 de Junho, o Hernâni Lopes e a malta da tertúlia (Ayala Botto / A. Marques Lopes / Hugo Moura Ferreira / Lema Santos)

Lisboa > Belém > Forte do Bom Sucesso > Memorial aos Mortos do Ultramar > 10 de Junho de 2007 > Ramos de flores de diversas associações de antigos combatentes.

Lisboa > Belém > 14º Encontro Nacional de Combatentes > 10d e Junho de 2007 > Malta da nossa tertúlia > Da esquerda paara a direitra, reconheço, entre outros o António Santos(e a esposa), o Tino Neves, o Hugo Moura Ferreira (e a esposa), o Marques Lopes e, por fim, o Fernando Chapouto (e a espoa).

Lisboa > Belém > 14º Encontro Nacional de Combatentes > 10 de Junho de 2007 > O Vacas de Carvalho, O Fernado Franco e o Hugo Moura Ferreira (e esposa)


Lisboa > Belém > 14º Encontro Nacional de Combatentes > 10 de Junho de 2007 > O Marques Lopes e o Fernando Chapouto
Fotos: © Hugo Moura Ferreira (2007). Direitos rerservados.

Ainda a propósito do 14º Encontro Nacionald e Combatentes, Lisboa, Belém, 10 de Junho de 2007 (1), aqui ficam mais alguns apontamentos e esclarecimentos:


1. Caro Marques Lopes:

Eu também lá estive mais uma vez, mas como não conheço pessoalmente ninguém da tertúlia não dei por vocês. Foi pena.

Em relação ao Hernâni Lopes, ele próprio referiu que embora tenha feito o Serviço Militar na Reserva Naval, nunca esteve no Ultramar e que não era antigo combatente.

Um abraço para todos
Carlos Ayala Botto


2. Caro Ayala Botto:

As minhas desculpas. Confesso que não estive atento ao discurso do Hernâni Lopes, pois estava na conversa com os amigos. Por isso perguntei ao Lema Santos da razão por ser o Hernâni Lopes a fazer o discurso. E foi ele que me disse que ele tinha estado na Reserva Naval, a cuja Associação pertence, tal como o Lema Santos. Pareceu-me também - e mal, então - que ele me disse que o Hernâni Lopes tinha estado na Guiné. Fica a correcção. Os meus agradecimentos.

Abraço
A. Marques Lopes

3. Caros Amigos e Camaradas;

Os meus agradecimentos a todos e também um esclarecimento: O Ernâni Rodrigues Lopes (escreve-se mesmo assim) foi do 7º CEORN (Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval) e entrou para a Escola Naval em 15.8.1964 para a classe de Administração Naval. Como Oficial da Reserva Naval, não esteve na Guiné no seu tempo de permanência ao serviço da Marinha de Guerra.

É presidente da Mesa da Assembleia Geral da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval (2) e julgo que terá sido nessa qualidade que esteve presente na cerimónia do 10 de Junho.

O Almirante Nuno Gonçalo Vieira Matias foi Chefe da Estado-Maior da Armada e, enquanto 1º tenente, comandou o destacamento nº 11 de Fuzileiros Especiais na Guiné de 1968 a 1970. É também sócio honorário da Associação.

Um abraço para todos,
Manuel Lema Santos

2. O A. Marques Lopes aproveitou tamnbém para nos mandar mais umas fotos da malta da tertúlia que esteve no 10 de Junho em Belém. Sem legendas...Autoria: Hugo Moura Ferreira.
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Nota de L. G.:

(1) Vd. posts de:

12 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1841: Estive no 10 de Junho... e que bem que me soube olhar aquela multidão de boinas e de cabelos brancos... (A. Mendes, 38ª CCmds)

13 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1842: 10 de Junho: Nós também estivemos lá (A. Marques Lopes / Lema Santos)

(2) O nosso camarada Jorge Santos, na sua página Guerra Colonial tem (e mantém actualizada) uma lista bastante completa de dezenas de associações de antigos militares e combatentes portugueses, dos três ramos das forças armadas, sediadas em Portugal e no estrangeiro, incluindo os respectivos contactos (endereço postal, telefone, fax, e-mail, URL). Dessa lista também consta a AORN.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1849: Quero prestar a devida homenagem ao meu tio, o Alf Mil Manuel Sobreiro, da CART 1612, morto em Mampatá em 1968 (Nelson Domingues)






Guiné > Guileje > BART 1896 > CART 1612 (1967/69) > O Alf Mil de Minas e Armadilhas, Manuel Sobreiro, natural de Leiria, morto numa acidente com um granada defensiva, em Mampatá, em Fevereiro de 1968. Alguém se lembra dele e das circunstâncias em que morreu ?

Fonte: Nelson Domingues > Blogue > As Verdades do Sobreirito(2007). (com a devida vénia...).

1.Mensagem de Nelson Domingues:

Boa noite!

Espero que se encontre de boa saúde.

(i) Sou sobrinho de Manuel Sobreiro, Manuel Jesus Rodrigues Sobreiro (1942-1968).
(ii) Tombou a 24 de Fevereiro de 1968.
(iii) Causa (oficial ou oficiosa): Acidente .
(iv) Unidade Mobilizadora: RAP 2.
(v) Ramo das Forças Armadasa: Exército.
(vi) Naturalidade: Chã da Laranjeira, Sto. Carpalhosa.
(vii) Posto e nº mecanográfico: Alferes Miliciano de Artilharia nº 0022363.
(viii) Unidade a que pertencia no CTIG: Alferes Miliciano Manuel Sobreiro – 2º comandante da CART 1612.

Eu e a minha família sempre ouvimos falar de muitas verdades sobre o acidente que vitimou o meu tio, mas por mais histórias que haja, o meu desejo é recolher o máximo de informação sobre o meu tio para o homenagear condignamente no dia 28 Fevereiro de 2008, no 40º aniversário do seu desaparecimento.

Não o vou maçar mais, agradeço desde já a sua amabilidade para consultar o humilde blogue que estou a iniciar.

Os meus cumprimentos,

Nelson S S Domingues
Rua de Leiria nº 117 1º Andar
2425-039 Monte-Real

Blogue > As Verdades do Sobreirito


2. Reprodução do post de 12 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXLV: As malditas formigas pretas do José Teixeira (Zé Neto)

Luís:

A minha intenção era ficar aqui caladinho no meu canto para não entupir a formidável sequência de factos das campanhas da Guiné. (Creio que estamos a construir um monumento histórico e inédito). Mas o José Teixeira tem o condão de me despertar recordações dispersas, pois fala de sítios por onde andei. Admiro-o muito.

E, a propósito das desgraçadas formigas, veio-me à memória a morte inglória do meu conterrâneo Alferes Miliciano Manuel Sobreiro (2º comandante da CART 1612, por ser o mais classificado dos alferes). O Sobreirito (como eu o tratava na intimidade) tinha a especialidade de Minas e Armadilhas.

Em Fevereiro de 1968, precisamente na área de Mampatá, foi encarregado de desarmadilhar uma zona por onde iam alargar uma picada. Quando já tinha bem presa a alavanca duma granada defensiva instantânea e se preparava para introduzir a cavilha foi mordido num artelho por uma dessas formigas. Ao fazer o gesto de sacudir o insecto escorregou-lhe a alavanca e... sucumbiu crivado de estilhaços.

O Alferes Miliciano de Artilharia nº 0022363, Manuel de Jesus Rodrigues Sobreiro, natural de Riba de Aves, Souto da Carpalhosa, Leiria, não morreu em combate. Os senhores da guerra determinaram que foi "morto por acidente". Tanta injustiça que se cometeu!!! Um dia hei-de abordar este tema (1).

3. Comentário de L.G.:

Infelizmente o nosso amigo e camarada Zé Neto (1929-2007) já não está entre nós para poder dar esclarecimentos adicionais sobre a morte do Alf Mil Sobreiro, seu conterrâneo, e que pertencia ao mesmo batalhão (BART 1896). A menos que a sua neta Leonor, de 17 anos, descubra algum escrito, no computador do avô, que volte a abordar este acidente.

De qualquer modo, as nossas saudações ao Nelson, seu sobrinho, por este gesto público de grande ternura para com o tio Manuel Sobreiro, o Sobreirito. Veremos o que pode fazer a nossa tertúlia, de modo a honrar a memória do tio e do sobrinho. Todos nós temos direito à verdade, a começar pelos familiares e amigos dos nossos camaradas que tombaram na Guiné, em combate, por acidente, por doença ou por qualquer motivo. L. G.

__________

Nota de L.G.:

(1) A CART 1612 era um das três companhias operacionais do BART 1896 (As outras duas eram a 1613 e a 1614). Segundo o Zé Neto, esta última, a CART 1614 era "a subunidade turista da Guiné que nunca ninguém do Batalhão conseguiu descobrir a razão de ficar sempre de fora dos petiscos que calharam às outras duas companhias operacionais (1612 e 1613)". E acrescenta, com ironia: "Eu desconfio, mas, para misérias do Celestino já basta!"...

Sobre esta unidade, há já algumas referências na Net. «Vd. o post de:

23 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1779: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (6): Maio de 1968, Spínola em Gandembel, a terra dos homens de nervos de aço

(...) "Pesadas baixas para a CART 1612, na sequência do recrudescimento da actividade operacional do PAIGC

"Há documentos oficiais que confirmam que em resultado de uma mina anti-carro com emboscada, na estrada Mampatá−Uane, morrem 4 soldados da CART 1612. Não tenho elementos que me permitam concluir se estas acções se interconectam, pois o que então me afirmaram é que a captura dos elementos fora operada num ataque com assalto a um pequeno destacamento.

"Esta Companhia de Artilharia, num curto espaço de tempo, é agressivamente fustigada, e relacionada com as colunas Buba − Aldeia Formosa − Gandembel, perdendo um número incrível de militares, em mortos e feridos" (...).

Guiné 63/74 - P1848: Aviso à navegação (1): Temporariamente indisponível a minha página pessoal (Luís Graça)

Amigos & Camaradas:


Há problemas técnicos no acesso à minha página pessoal (Luís Graça, sociólogo > Saúde e Trabalho ), devido à reformulação da sítio da ENSP/UNL onde aquela está alojada... Esses problemas estão pendentes de resolução até, pelo menos, à próxima 2ª feira, dia 18 do corrente... Até lá, santa paciência, vocês não têm acesso, a partir do nosso blogue, a: (i) página da tertúlia; (ii) cartas da Guiné; e (iii) memórias dos lugares...

O blogue é independente (não depende do servidor da minha instituição): podem, no entanto, não aparecer algumas fotos, nalguns posts mais antigos, ou podem surgir links quebrados, etc.

Como dizem os economistas, não há almoços grátis... São os custos da dependência... Mas os amigos e camaradas poderão continuar a consultar tudo o mais que está disponível no nosso blogue e a engrossar o nosso número de visitantes e de visitas (que são já cerca de 10 mil por semana). Poderão continuar a utilizar, nomeadamente, para efeitos de correspondência, os endereços de e-mail dos editores, Luís Graça e Carlos Vinhal, incluindo o endereço oficial Luís Graça & Camaradas da Guiné (que é da nossa conta do Google).

Peço desculpa pelo incómodo. Mas quem passou pela Guiné está habituado a estes relativos desconfortos: às vezes também não havia avioneta, frescos, helicanhão, barco, cerveja, gasóleo, munições, vontade, homens (para não falar das mulheres!), etc. ... Aprendemos, contudo, a sorrir às adversidades, de dentes cerrados...

Obrigado pela vossa confiança e apoio.

Aproveitem, os que residem na área da Grande Lisboa, para irem ao Teatro da Trindade ver a peça Namanha Mackbune (até 1 de Julho de 2007, de 4ª feira a domingo) e matar saudades dos sons, das cores e das emoções ligadas à nossa Guiné, à sua cultura, à sua história, às suas gentes... Aproveitem para ouvir, ao vivo, o grande mestre José Braima Galissá, mandinga, tocador de Kora (que eu já ouvira uma vez no Museu de Etnologia).

Eu já vi, no passdo dia 13 de Junho… Voltei à Guiné, às tabancas mandingas e fulas de Contuboel!!! Grande encenação, belíssimo texto, ambiência magnífica, magníficos actores (entre os quais 8 guinenses, do Grupo Os Fidalgos), sem esquecer o Braima Galissa, a tocar Kora e a cantar como didjiu (tocador e cantor que ia, de tabanca em tabana contando estórias)…

Fabulosa reflexão sobre o poder e a vida, a amizade, o amor e a traição… Sempre actual, e para mais em contexto africano…

O teatro continua a ser a mais universal das artes. No feriado municipal de Lisboa, miseravelmente o número de espectadores não deveria ultrapassar o número de actores (que são para aí dúzia e meia).

Por favor não percam este espectáculo (quem viver em Lisboa ou perto). No Teatro da Trindade (que pertence ao INATEL). Até 1 de Julho, de 4ª feira (21.30h) a domingo (16h). Preço: 10 euros (plateia) a 12 euros (balcão lateral), com descontos (30%) para os sócios do INATEl, malta mais jovem (até 25) ou mais velha (65 ou mais).

PS – Actualizem a vossa lista de endereços de email: temos novos camaradas e amigos (António Bartolomeu, César Dias, Germano Santos, Gilda Brás, Manuel Amante, etc.)

Guiné 63/74 - P1847: Tabanca Grande (12): Miguel Vareta da 38ª Companhia de Comandos, 1972/74

Guiné > Gampará > 38ª Companhia de Comandos (1972/74 > Os Furriéis milicianos Miguel Vareta e Artur Fabião (algumas semanas antes de este morrer em combate em Caboiana – Churo).

Foto: © Miguel Vareta (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem de Miguel Vareta


Caro Luís Graça,

No passado Sábado dia 9 tive o prazer de conhecer o Paulo Santiago durante a 3ª parte de um jogo de rugby de veteranos. Conversa aqui, copo acolá, fomos parar à Guiné onde ambos estivemos. O Paulo falou-me do blog, deu-me o endereço e aqui estou.

O meu nome é Miguel Vareta, fui Furriel Miliciano na 38ª Companhia de Comandos na Guiné, entre 1972 e 1974.

Conforme sugerido pelo Paulo Santiago, junto 2 fotos- 1 da Guiné e 1 actual. Na da Guiné (onde estou com T shirt branca) apareço em Gampará (1), com o meu grande amigo e saudoso furriel Artur Fabião que passadas algumas semanas morreria em combate ao meu lado, em plena Caboiana – Churo (2).

Aproveito para mandar um abraço ao Amílcar Mendes que já vi ser visitante regular (3).

Parabéns pelo magnífico blog, um abraço fraterno a todos os ex-combatentes no Ultramar e um abraço muito especial em particular a todo o pessoal da 38ª CCmds.

Cptos

MV

2. Mensagem do Paulo Santiago para o A. Mendes, com data de 9 de Junho do corrente:

Camarada Mendes:

Saí há uma hora de um jantar onde conheci um camarada teu da 38ª.Explico desde o início.

Tive hoje um jogo de rugby de veteranos,disputado entre a minha equipe(Rugby Club da Bairrada) e o CDUP. Na terceira parte (o jantar) de leitão e bom vinho, ficou perto de mim, o Miguel Vareta, que com conversa sobre idades, enquanto se comia e bebia, me disse ter estado na Guiné na 38ª CCmds.

Falei-lhe no blogue do Luís Graça e nos posts que escreveste. Lembra-se de ti, apesar de não seres do grupo de combate dele. Disse não ter estado em Guidaje (2), parece, se percebi bem, entre os copos que se iam bebendo, que estava a recuperar de um ferimento no hospital.

Ficou de pedir para entrar para a Tertúlia, da qual lhe dei o endereço. Na foto que te mando em anexo o ex-FurMil Vareta é o 5º da direita para a esquerda na fila de cima. Está em boa forma.

Abraço

P. Santiago

3. Comentário do editor do blogue: Miguel, obrigado pelas tuas referências elogiosas ao nosso blogue, que pretende ser mesmo um blogue colectivo, feito por e para todos os camaradas que passaram pela Guiné, e os demais amigos da Guiné e dos guineenses. Obrigado pelo teu abraço. És bem-vindo. Ficamos a aguardar que nos contes algumas das tuas estórias. Passas a ser o lídimo reporesentante da 38ª CCmds, a par do A. Mendes, que já é um veterano nestas lides... LG

________

Notas de L. G.:

(1) Gamparà fica(va) situada na margem esquerda do Rio Corubal, mais ou menos frente à Ponta do Inglês (vd. carta de Fulacunda): vd. post de 21 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1540: Os paraquedistas também choram: Operação Pato Azul ou a tragédia de Gamparà (Victor Tavares, CCP 121)

(2) Qual a grafia correcta ? Tu escreveres Coboiana - Churro, o Amílcar há tempos falava em Cubiana-Churro (vd. post de 22 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1200: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (2): Um dia de Natal na mata de Cubiana-Churo ) ... Na carta o nome que lá vem (e que eu uso) é Caboiana ( junto ao Rio Caboiana...).

(3) Vd. alguns dos posts do Amílcar Mendes:

9 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1827: Convívios (14): 38ª Companhia de Comandos, Pínzio, Vilar Formoso, 9 de Junho de 2007 (A. Mendes)

15 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1280: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (7): Um tiro de misericórdia em Caboiana

30 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1223: Soldado Comando Raimundo, natural da Chamusca, morto em Guidaje: Presente! (A. Mendes, 38ª CCmds)

24 de Outubro de 006 > Guiné 63/74 - P1210: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (6): Guidaje ? Nunca mais!...

23 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1205: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (5): uma noite, nas valas de Guidaje

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1846: 10 de Junho: Cerimónia no Cemitério nº 1 de Leça da Palmeira (Carlos Vinhal)

Cerimónia no Cemitério nº.1 de Leça da Palmeira, no dia 10 de Junho de 2007, em Memória dos Militares leceiros falecidos na Guerra Colonial (1961/74) (Carlos Vinhal)

Os ex-combatentes da Guiné, Manuel Agostinho, António Maria e José Oliveira (Cartaxo), com a preciosa e indispensável colaboração da Junta de Freguesia, organizaram no dia 10 de Junho, no Cemitério nº 1 de Leça da Palmeira, no Memorial aos Combatentes da Grande Guerra ali existente, uma singela mas tocante cerimónia.

A Junta de Freguesia de Leça da Palmeira fez-se representar pelo seu Presidente, Dr. Pedro Tabuada, Tesoureiro, senhor Eduardo Pereira e Vogal, senhor Basílio Ramos.
Esteve também presente o senhor Tenente-Coronel Gonçalves em representação da Delegação do Porto da Liga dos Combatentes.

Assistiram ao acto muitos ex-combatentes com as suas famílias, assim como familiares dos homenageados.

Foram descerradas duas lápides lembrando os leceiros falecidos na Guerra do Ultramar entre 1961 e 1974 em Angola, Guiné e Moçambique.
Seguiu-se ainda a deposição de uma coroa de flores.

Usaram da palavra o Ten Cor Gonçalves, o Dr. Pedro Tabuada e finalmente o camarada Manuel Agostinho que realçou o facto de não haver no Concelho de Matosinhos um Memorial que lembre, reconheça e perpetue o esforço dos jovens matosinhenses na Guerra do Ultramar.

Às 12 horas foi celebrada uma missa na Igreja Matriz pelo Padre João, nosso conterrâneo, sufragando a alma dos nossos camaradas falecidos.


Foto n.º 1 - Descerramento das Lápides evocativas dos militares falecidos

Foto n.º 2 - O Tenente-Coronel Gonçalves quando usava da palavra

Foto n.º 3 - José Oliveira, António Maria e, Manuel Agostinho no uso da palavra


Foto n.º 4 - Memorial aos Combatentes, agora também dedicado aos Mortos da Guerra do Ultramar de Leça da Palmeira


Texto e fotos: Carlos Vinhal

Guiné 63/74 - P1845: Em busca de: Carlos Soares Pinto Ribeiro, ex-Soldado do BCAV 705, Guiné 1964/66

1. Mensagem do nosso camarada Carlos Soares Pinto Ribeiro

Caro amigo, li que poderia dar-me informações que já há algum tempo procuro. Fui soldado no Batalhão de Cavalaria 705 e gostaria de entrar em contacto com alguém que me pudesse dar informações de como encontrar os colegas com quem vivi durante quase dois anos.

Estive fora do País 40 anos, estou reformado e só agora é que tenho tempo para confraternizar.

Mais uma vez lembro-lhe a composição do Batalhão com as suas Companhias 703, 704 e 705 à qual eu pertencia.

Um grande abraço e um muito obrigado por me ler.

Carlos Soares Pinto Soares
Soldado 2609/63
E-mail: carleunicevpa@sapo.pt



2. Mensagem do co-editor do Blogue

Caro Carlos Pinto Ribeiro:

Não há na nossa Tertúlia ninguém que tenha pertencido ao seu Batalhão. Mandei a sua mensagem a todos os tertulianos, na expectativa de aparecer alguém que o possa ajudar.

Fui entretanto ao sítio do nosso camarada Jorge Santos em www.guerracolonial.home.sapo.pt/ e, na secção de Convívios/Ponto de Encontro, encontrei um seu camarada a pedir contactos. É ele Álvaro Baptista com o endereço r.l.baptista@mail.telepac.pt
Acho que deve contactá-lo.

Julgo termos dado o primeiro passo para que possa reencontrar velhos camaradas. A amizade não se esfuma apesar do silêncio de longos anos. Desejamos-lhe boa sorte.

Receba um abraço e votos de muita saúde.

Carlos Vinhal
Co-editor do Blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné

Guiné 63/74 - P1844: Estórias do Gabu (6): Já chegámos à Madeira, ou quê ?! (Tino Neves)

Região Autónoma da Madeira > Ilha da Madeira > Maio de 2007 > Pico do Areeiro, o sítio mais alto da ilha (1818 m) a seguir ao Pico das Torres (1852 m) e ao Pico Ruivo (1862 m). Acessível por carro, é o mais visitado... Um deslumbramento... Ao fim de muitos anos (e de várias tentativas), consegui lá chegar, de carro, ao Pico do Areeiro e vê-lo, em dia sem nuvens nem frio nem chuva... Enfim, não basta chegar ao (e ficar no) Funchal, é preciso conhecer os picos e as veredas da Ilha e, claro, as suas gentes afáveis e hospitaleiras...

Esta estória do Tino Neves levanta-me uma questão (delicada): qual será exactamente a origem (e, portanto, a história) da expressão Já chegámos à Madeira ou quê ?!, que é claramente ofensiva para os madeirenses ?... Se alguém quiser, puder e souber responder, a gente agradece... Aproveito para mandar um abraço ao meu amigo e ex-camarada da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71), José Vieira de Sousa, um madeirense dos quatro costados... (LG).

Foto: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.

1. Texto do Tino Neves , ex-1º Cabo Escriturário, CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego (Gabu), 1969/71, enviado em 7 do corrente:

Caros camaradas Luís e Carlos:

Ontem enviei uma pequena estória de um Madeirense (1), e lembrei-me de uma outra, que resolvi primeiro analisar se a mesma teria conteúdo e que não fosse contra às regras do blogue.

Achei então, que para além de não quebrar as regras, serve a mesma para homenagear o homem que foi o ex-Sargento Ajudante Jaime Pitta, madeirense do Funchal e Porto Santo, que, sendo da GNR e para poder entrar no quadro de oficiais da GNR, teve que fazer, aos 54 ou 55 anos de idade, uma Comissão de Serviço na Guiné.

Foi para a Secretaria do Batalhão de Caçadores 2893, o meu batalhão, em rendição individual, alguns meses depois do Batalhão já estar em Nova Lamego (Gabu).

Senhor muito simpático e que eu prezava muito. Depois do episódio que vou aqui relatar, ainda mais o tive em consideração.

Faleceu em Março de 2005, com 88 ou 89 anos, depois de ter adoecido em 2003, nas vésperas de se deslocar a Lisboa para estar presente no 1º Encontro/Convívio da CCS do BCAÇ 2893, em Leiria, encontro pelo qual tanto ansiou.

Aí vai a estória. Um abraço do Tino.


Já chegámos à Madeira, ou quê?!
por Tino Neves


Foi capturado um soldado do PAIGC, e foi levado para as celas do Aquartelamento novo, de Nova Lamego (Gabu), ficando a aguardar transporte por via aérea, para Bissau.

E isso foi uma grande novidade para todos nós Como ainda nunca tínhamos visto um soldado do PAIGC, muito menos fardado a rigor, de caqui creme ou castanho claro - já não me lembro ao certo o tom - , com quico e botas de lona como as nossas, só com diferença na sola (que a deles tinha umas ranhuras que formavam umas divisas de sargento).

Toda a gente queria ver e falar com ele, pois ele falava bem português. Era um rapaz novo, de 18 ou 19 anos, e era apontador de lança-granadas-roquete, com a especialidade tirada em Moscovo.

Estava eu e mais alguns camaradas a falar com o preso, quando chega o Capitão Rodrigues (Cmdt da CCS). Oo soldado que estava de guarda ao preso, reclamou para o Capitão, de que já eram 2 horas da tarde e ainda não tinha sido substituído para almoçar. Então o Capitão pediu-me (ordenou) para ficar no lugar dele enquanto ele almoçava.

Mais tarde, ainda durante o meu posto de guarda ao preso, surge o meu Ajudante Jaime Pitta, que estava de Oficial de Dia, e vendo ali tanta gente agarrada às grades da cela para verem e falarem com o preso, resolveu correr com todos dali:

- Vá, todos embora daqui já ! - grita ele, empurrando a malta e indicando a porta de saída...

Mas eu fiquei, dizendo que não saía porque estava de guarda ao preso. Ele, não acreditando (os Cabos Escriturários não faziam guardas), tornou a repetir:

- Vá, todos embora daqui já! - e empurrando-me com uma certa violência, de tal modo que eu ía caindo.

Eu - como sempre, fui um pouco respondão, principalmente, quando me maltratavam, pois nunca admiti que me faltassem ao respeito - respondi:

- Mas o que é isto, já chegámos à Madeira ou quê ?! … (um termo muito usado nesse tempo).

Ele, o Sr. Ajudante Jaime Pitta, o Oficial de Dia, ouvindo isto, como madeirense que era, não gostou da minha resposta, e correu direito a mim com o braço no ar e de punho cerrado, gritando qualquer coisa que não entendi... Percebi é que ele tinha intenções de me agredir, pelo que fugi, pois não era oportuno fazer frente a um homem da idade dele, em fúria e um pouco tocado (bebido)... E principalmente porque ele tinha toda a razão, eu não tinha nada que responder aquilo, saiu-me...

Depois de fugir, fiquei à porta da prisão, pois não podia abandonar o meu posto, e fiquei a aguardar que ele chamasse o guarda ao preso, pois sabia que ele o faria, uma vez a G3 dele estava lá encostada à parede. quando o fez, respondi:
- Sou eu! - e pedi licença para entrar e explicar tudo.

Depois da minha explicação, ele respondeu:
- Espero que seja verdade, vamos aqui esperar por ele... - Assim que ele acaba de dizer isto, chegou o soldado, acabado de almoçar, que confirmou a minha versão.

Passadas 1 ou 2 horas depois, fez tenções de me convidar a ir ao ser quarto, e eu fui, aí vi um homem com uma grande satisfação e com uma lágrima no canto do olho, a mostrar-me fotos da sua esposa de 20 e poucos anos de idade, e sua filha bebé, e com uma das fotos de sua esposa na praia em fato de banho, dizia:
- Olha, ão é muito bonita e geitosa, a minha esposa querida?!<- É, sim - respondi eu. - Pois é - retorquiu ele - desculpa o acontecido há pouco, pois eu tinha bebido uns copos para matar as saudades dela e da minha filhinha... Aí sem mais palavras e muito emocionado, respondi que o culpado tinha sido eu em dizer aquilo, e que não fora por mal, não queria ofender, tinha saído da boca sem querer. Como já disse atrás já simpatizava com ele e, depois disto, aumentou ainda mais a minha consideração para com ele, e conto hoje esta estória em sua homenagem e que Deus o tenha em descanso._ ________ Nota de L.G.: (1) Vd. último post desta série Estórias do Gabu > 7 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1822: Estórias do Gabu (5): Nunca chames indígena a ninguém (Tino Neves)