> Depósto de Adidos > Junho de 1969 > Na minha função de Oficial de Dia. Normalmente fazia as minhas rondas na minha própria motorizada, quando não tinha Jeep disponível, uma vez que a área a percorrer era grande. Era uma Honda Azul, de 50 cc, que depois, quando regressei, deixei por lá abandonada. Pode observar-se a existência de valas abertas fundas, para escoamento das chuvadas diluvianas, quando apareciam.
Foto nº 1 >Guiné > Região de Bissau > Brá > Depósto de Adidos > Junho de 1969 > Na porta de armas do Quartel de Brá, vista de dentro, com a guarita da sentinela e a nossa bandeira nacional.
Foto nº 2 > Guiné > Região de Bissau > Brá > Depósto de Adidos > Junho de 1969 > O aquartelamento visto de fora, da estrada. Tinha uma extensão à volta de 1000 metros, de frente para a estrada, e uma quantidade indeterminada de instalações militares. [Em finais dos anos 40, havia aqui
F04 > Guiné > Região de Bissau > Brá > Depósto de Adidos > Junho de 1969 > Instalações da Casa do Oficial de Dia,
Foto nº 6 > Guiné > Região de Bissau > Brá > Depósto de Adidos > Junho de 1969 > Um camião com tropa a regressar de Bissau, após saída nocturna, em dia de chuva. Existia transporte de meia em meia hora, de Brá para Bissau e regresso, até ao final da noite.
Foto nº 3 > Guiné > Região de Bissau > Bissau > Junho de 1969 > Num barco patrulha, da nossa Marinha de Guerra, na foz do Rio Geba, nas instalações da Marinha. [Ao fundo, o
Foto nº 7 > Guiné > Região de Bissau > Brá > Depósto de Adidos > 6 de Março de 1968 > O interior do CA – Conselho Administrativo.
Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, chefe do conselho administrativo, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); é economista e gestor, reformado; é natural do Porto; vive em Vila do Conde. (*)
CTIG - Guiné 1967/69 - Álbum de Temas: T036 – O QUARTEL DO DEPÓSITO DE ADIDOS EM BRÁ
I - Anotações e Introdução ao tema:
Quase todos os militares que passaram pelo TO do CTIG, conhece o Grande Quartel do Depósito de Adidos, localizado em Brá, na estrada alcatroada que liga Bissau ao aeroporto de Bissalanca, sensivelmente a meio caminho, uns 5-6 quilómetros de cada lado.
Infelizmente o autor não conhece os dados, mas seriam demasiados, muitos militares nunca tiveram o prazer de conhecer e visitar a capital daquela Província Ultramarina, que não sendo uma grande coisa, sempre era muito melhor do que em qualquer outro local do interior. Podiam ter tido uma ideia melhor do que era o CTIG, e não chegaram a conhecer, sempre havia bastantes esplanadas, cafés, restaurantes, bares, cinema, e o ícone de todas as coisas, o café do Bento, a chamada 5ª Rep, mesmo ali no centro da cidade, ao lado da Catedral de Bissau, do QG da Amura, da Avenida e Praça do Império, e o Palácio do Governo.
Além é claro da vida mundana e obscura, pois era tudo escuro, a maioria das pessoas, e depois quando não havia energia ficava tudo a preto, apenas com a claridade do céu, e era uma coisa bonita de se ver, era uma situação recorrente, todas as noites os geradores da cidade eram desligados umas horas, por falta de combustível.
Não falando, não podia esquecer, as visitas ao famoso Pilão, o imenso ‘Bairro de Lata’ da cidade grande, naquela altura deviam habitar cerca de 200 mil pessoas na sua totalidade. Para além de ser um bairro dormitório, sem nenhuma espécie de condições para uma vida decente, sem água canalizada e sem esgotos ou saneamento, sem energia e luz eléctrica, era tudo ou quase tudo iluminado a candeeiros de petróleo, que cada casa o tinha.
Falar aqui do bairro do Pilão, também designado por Cupilão, é uma tarefa ingrata e brutal para as nossas actuais sensibilidades, eu conhecia tudo aquilo muito bem, tinha uma viatura especial só minha, uma motorizada de 50 cc, que me levava a todo o sítio onde quisesse, sem dependências de nada, de horas de ninguém. Por isso sei do que falo, a maioria pouco ou nada sabe, posso afirmar isso, pois eu estava lá no terreno e contavam-se pelos dedos, os militares que por lá andavam, pois sem transporte, aquilo é uma zona imensa, numa cidade tão pequena, era preciso andar muito naquele labirinto imenso.
Abundava a podridão humana, e vamos chegar a isso, por ali e para sobreviver, muita da população feminina se dedicava à prostituição, gostava mais de falar do negócio do sexo, era um negócio rentável, para quem não tinha mais nada que fazer e sem rendimentos, e tinha uma família para sustentar, pais, irmãos, filhos, avós, sei lá que mais. Não gostava de tratar deste assunto aqui, e duma forma abadalhocada, pois isto carecia de se entender bem a situação social e financeira daquele imenso e desordenado aglomerado urbano, sem nenhumas infraestruturas, das mais elementares.
Todas as ruas de terra batida, com enormes buracos abertos que não se podiam ver, depois as enormes trincheiras ou valas a céu aberto por onde circulavam os esgotos, os montes de lixo que nunca acabavam, os mini mercados a céu aberto carregados de moscas e mosquitos, com um cheiro nauseabundo, a elementar falta de água potável e a sua canalização. Tudo era transportado em baldes à cabeça, de água vinda de uma fonte qualquer, sem haver uma leve certeza de que poderia ser bebida por um ser humano.
Mas apesar de tudo, e talvez por isso, era o lugar mais frequentado por muita tropa, rapazes de 21 e 22 anos, carregados pela solidão, do isolamento do mato meses e meses sem ver uma mulher, branca ou preta. Tinha tanto para contar, mas não é este o tema de agora, ficará para um dia, mais tarde, mas antes teria de se perceber as raízes e as razões de tudo isto.
Voltando a Brá:
Era para lá que se mandavam algumas das tropas acabadas de chegar da Metrópole, ali ficavam a aguardar transporte para os seus locais de destino, feitos normalmente por via fluvial, uma vez que por estrada pouco ou nada havia com condições de circular, mas claro havia as excepções, aqueles que desembarcavam directamente para as Lanchas em direcção aos seus destinos no mato, sem nunca pisarem a terra de Bissau, o chão papel.
Também era para lá que ia parar toda a tropa, vindos dos seus aquartelamentos espalhados pelo CTIG, para o embarque de regresso a casa. Mas também, as tropas em deslocações dentro do território, aguardando que lhes fosse destinado um novo aquartelamento.
Foi isso que aconteceu ao meu Batalhão (BCAÇ 1933), quando regressou de Nova Lamego com chegada a Bissau em 26Fev68, e ficou em regime de quadrícula um mês em Bissau, tendo as suas instalações no Depósito de Adidos de Brá, onde cabia tudo.
Pois ali também iam parar as tropas, e eram muitas, ou que passavam férias em Bissau, ou que estavam em regime de Consulta Externa no HM 241 em Bissau, bem como as tropas que eram evacuadas para Lisboa, e as que regressavam também da metrópole, findo o período de tratamento.
E ainda aqueles que vinham do mato para passar férias na metrópole, ficavam uns dias antes do embarque, e depois no regresso a mesma coisa, até partirem para os seus quarteis.
Quero dizer que era um Quartel – mais propriamente chamado de ‘Depósito de Adidos’ – e por isso haveria sempre um grande movimento neste quartel, chegando os mapas de registo das refeições a ter cerca de 1000 militares, adidos a este Quartel.
Era por isso um enorme aglomerado de grandes barracões, tudo bem organizado, não sei ao certo a quantidade de casernas, mas sei que os refeitórios eram enormes, na hora do almoço e também do jantar, era uma grande confusão, e toda a gente protestava contra a qualidade e quantidade de comida servida.
Durante a estadia do meu Batalhão, no mês de Março de 1968, tive a oportunidade de ver in loco como era aquilo, no dia em que era escalado para o serviço de ‘Oficial de Dia’ e ser o responsável pela boa ordem nesse quartel, em especial nas refeições, pois não eram permitidos ‘levantamentos de rancho’.
Todas as queixas e culpas de tudo, e a resolução de todos os problemas ficavam a cargo do Oficial e Sargento de Dia. Aquilo era o fim do mundo. Aparecia lá de tudo, brancos e pretos, gente boa educada, mas a maioria estava já ‘marada’ da cabeça e aproveitavam-se para só fazer confusão e descarregar as suas fúrias, legítimas, contra tudo e contra todos. Tive muita dificuldade em lidar com tudo isto, foi uma das razões que me levaram ao HM 241 para fazer uma cura de sono, já não tinha capacidade no fim da comissão para aguentar tanta desordem, pois não conhecia praticamente ninguém por ali.
Estávamos no período de Maio de 69 quando acabo a minha missão e fico sem uma ocupação e mandam-me para os Adidos, que não gostei, faltavam-me 2 meses para regressar a casa.
À noite após o jantar o pessoal podia ir visitar a cidade de Bissau, comer mais, ou apenas embebedar-se, isso era a ordem do dia, está-se mesmo a ver o estilo. O pessoal tinha à sua disposição os camiões militares, que faziam as suas carreiras regulares entre Bissau e Brá, de meia em meia hora, isto até à meia-noite se não me engano.
Eu próprio estive lá no mês de Março de 1968, e mais tarde, após ter terminado a Comissão Liquidatária do meu Batalhão, também fui mandado para lá, e sobre este tema, terei ainda muito que contar. Finalmente a dois meses da minha saída, fui colocado como Adjunto no Conselho Administrativo daquela Unidade fixa, cujos problemas eram enormes.
Eu tinha acabado de sair do Hospital Militar de um internamento de 15 dias na Psiquiatria, e tinha todas as possibilidades de ter regressado antes do Batalhão, como evacuado, o que muita gente conseguiu fazer. Mas eu queria era mesmo regressar com a minha Unidade, e cumprir tudo aquilo com que tinha sonhado, desembarcar de um navio no Cais de Alcântara, depois desfilar naquela marginal, e mais tarde voltar a desfilar nas ruas de Tomar até o RI15, a minha Unidade Mobilizadora, e assim foi tudo feito.
Em relação ao ajuntamento de barracões de madeira de que era composto o imenso terreno de Brá, era tudo muito fraco, construído na maioria em madeira e tapado com folhas de zinco, que transformavam aquele interior numa verdadeira fornalha. As madeiras e as suas brechas, eram ninhos de milhares de baratas, que era a principal população daquelas habitações, e para mim isto foi terrível, pois é o animal que mais me repugna. Nem vou mais falar nisto. Tudo a juntar às nuvens de mosquitos que pairavam por todo o lado.
Sem que fosse o Tema do Poste, desviamos a conversa por locais incontornáveis, como o Pilão, os sítios icónicos da cidade de Bissau, o Hospital Militar, a viagem de regresso, o desfilar pelas ruas de Tomar, e outras divagações.
Desculpem mas quando escrevo não penso no que estou a escrever, a mente manda-me para outros temas e conversas.
II – As Legendas das fotos:
Não tenho grande quantidade de fotos deste Mega aquartelamento. Estive lá no mês de Março de 1968, quando o meu batalhão esteve um mês em Bissau, vindo de Nova Lamego e partindo seguidamente para São Domingos. Neste período apenas fiz fotos na cidade de Bissau, pois havia mais motivos.
No fim da comissão, muito atribulado, só pensava no dia da partida e pouco liguei às fotos, até ao final, no dia do embarque onde realmente consegui imagens que se podem considerar inéditas.
Ficam aqui algumas, para dar uma ideia àqueles que nunca conheceram, como era o Depósito de Adidos de BRA em Bissau, no CTIG, no meio do ano de 1969.
F01 – Na porta de armas do Quartel de Bra, vista de dentro, com a guarita da sentinela e a nossa bandeira nacional. Pode ver-se um Unimog pronto a sair, a estrada do aeroporto está lá, as guaritas e tudo bem arranjado, estradas interiores asfaltadas, muitas plantas e algumas árvores. Foto captada em Bissau, no quartel dos Adidos em Bra, em Junho de 1969.
F02 – O aquartelamento dos Adidos em Brá, visto de fora, da estrada. Tem uma extensão à volta de 1000 metros, de frente para a estrada, e uma quantidade indeterminada de instalações militares. Era tudo em asfalto, e os barracões em madeira e zinco. Era tudo fortificado, com arame farpado a toda a volta, e com Postos de Observação ao longo de todo o Perímetro do Quartel. Foto captada em Bissau, no quartel dos Adidos em Bra, em Junho de 1969.
F03 – Num barco patrulha, da nossa Marinha de Guerra, na foz do Rio Geba em Bissau. Faltavam poucos dias para a viagem de regresso, mas fui convidado para um almoço no Patrulha, julgo que se chamava o ‘Órion’, sem ter a certeza. Foto captada em Bissau, nos Estaleiros da Marinha, no mês de Julho de 1969.
F04 – Instalações da Casa do Oficial de Dia, com boa localização. Não se pode comentar negativamente, pois tinha o que era preciso, incluindo quarto para descansar e dormir, esplanada, cadeiras, e tudo o mais. Foto captada em Bissau, no quartel dos Adidos em Bra, em Junho de 1969.
F05 – Na minha função de Oficial de Dia, no aquartelamento dos Adidos em Br+a. Normalmente fazia as minhas rondas na minha própria motorizada, quando não tinha Jeep disponível, uma vez que a área a percorrer era grande. Era uma Honda Azul, de 50 cc, que depois quando regressei deixei por lá abandonada. Pode observar-se a existência de valas abertas fundas, para escoamento das chuvadas diluvianas, quando apareciam. Foto captada em Bissau, no quartel dos Adidos em Bra, em Junho de 1969.
F06 – Um camião com tropa a regressar de Bissau, após saída nocturna. Conforme já disse, existia transporte de meia em meia hora, de Brá para Bissau e regresso, até ao final da noite. Esta noite estava chuvosa, está escuro, a foto não sai bem. Foto captada em Bissau, no quartel dos Adidos em Bra, em Junho de 1969.
F07 – O interior do CA – Conselho Administrativo, em Brá. Não tenho grandes recordações neste periodo, pois só lá passei menos de um mês, e andava sempre por fora, a tratar de assuntos da minha função. Esta foto foi captada no gabinete, em Março de 68, quando passamos por lá, vindos de Nova Lamego a caminho de S. Domingos. Fotos ainda a preto e branco. Na saída, para a esquerda vai a caminho do aeroporto, e para a direita para Bissau. Foto captada em Bissau, no quartel dos Adidos em Bra, em 6 de Março de 1968.
Direitos de Autor:
«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM.
Chefe do Conselho Administrativo do BCAÇ 1933/RI15/Tomar, CTIG/Guiné de 21 Set 67 a 04Ago69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos,».
Legendadas hoje, em, 2018-09-24
Virgílio Teixeira
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