Foto: © Mário Dias (2006) . Direitos reservados
Guiné-Bissau > Bissau > Fortaleza da Amura (ou de São José da Amura> Talhões dos Heróis da Pátria, ao lado do Mausoléu de Amílcar Cabral > Túmulo do Domingos Ramos (1935-1966) que fez a recruta, em 1959, com o Mário Dias, tendo os dois frequentado, juntos, com aproveitamento, o 1º CMS - Curso de Sargentos Milicianos, organizado na Guiné. Promovidos a 1ºs cabos milicianos, separaram-se em Novembro de 1959: o Domingos foi para Bolama dar uma recruta, o Mário ficou em Bissau (2).
O Mário Dias, sargento dos comandos do Exército Português, sempre o considerou como amigo. Encontraram-se pela última vez, em 1965, nas matas do Xitole. Reconheceram-se, cumprimentaram-se por sinais, e afastaram-se, com os seus homens, sem uma única troca de tiros... Uma das histórias mais bonitas da amizade em tempo de guerra, entre dois homens que as circunstâncias separaram e colocaram em campos opostos, como amigos inimigos... Foi na região do Xitole, na zona entre Amedalai e os rápidos de Cussilinta, perto da estrada Xitole-Aldeia Formosa-Mampatá... Vale a pena reler o segredo que o Mário guardou estes todos e revelou, em primeira mão, aos seus amigos e camaradas de tertúlia. Foi um dos momentos altos do nosso blogue (2).
Foto e legenda: © Luís Graça (2008). Direitos reservados
Guiné-Bissau > Bissau > Fortaleza da Amura > Homagem dos participantes do Simpósio Internacional de Guiledje a Amílcar Cabral e a outros heróis da luta de libertação nacional > 7 de Março de 2008
O Domingos Ramos morreu prematuramente em combate, em 10 de Novembro de 1966, em Madina do Boé, ao lado do cubano Ulisses Estrada (aqui presente, nesta cerimónia), tendo-se tornado num dos heróis da luta de libertação nacional. Sepultado no Boé, os seus restos mortais foram depois traslados para a Amura, o Panteão Nacional guineense. O Mário Dias sempre teve palavras de grande apreço e admiração pelo Domingos Ramos. Escreveu ele :"Se um dia tiver a oportunidade de regressar à Guiné, é meu firme propósito ir visitar a sua campa e prestar-lhe merecida homenagem. Não é pelo facto de termos combatido em campos opostos que deixei de ser seu amigo e de o admirar".
No dia 7 de Março de 2008, eu estive, juntamente com os demais participantes do Simpósio Internacional de Guiledje, junto aos túmulos dos heróis da luta de libertação nacional, entre eles, o Domingos Ramos. Tive um breve momento de recolhimento, em homenagem à sua memória, e não deixei de pensar nesse grande homem e grande português que é o nosso amigo e camarada Mário Dias, que viveu a sua adolescência e juventude em Bissau. Saiu da Guiné em 1966, como sargento comando (3).
Foto e legenda: © Luís Graça (2008). Direitos reservados
1. Mensagem do sargento dos comandos, na situação de reforma, Mário Dias, com data de 13 de Março de 2008. Era civil, em Bissau, quando em 1959 foi cumprir o seu serviço militar, juntamente com futuros dirigentes do PAIGC. Foi nomeadamente amigo de Domingos Ramos que desertou para o PAIGC (em Novembro de 1960).
Caro Luís e caros co-editores.
Depois de muito pensar e de muitas hesitações sempre me resolvi a "soltar este desabafo" que segue em anexo. Não é importante mas tive que fazê-lo para bem do meu equilíbrio emocional.
Um grande abraço para todos.
Mário Dias
Mário Dias
2. DESABAFO, por Mário Dias... [Ou o preço da mancarra no final dos anos 50]
Não tenho por hábito vir a terreiro debater afirmações produzidas na nossa Tabanca Grande. Acontece, porém, que um dilema se apoderou de mim pela dúvida que me tem assaltado em relação a dever, ou não, esclarecer afirmações que um tal Raul Fodé, de Empada, fez ao nosso prezado Zé Teixeira e que este reproduz num recente post (4).
Ao ler o referido post – e abro aqui um parêntese para dizer o agrado com que leio todas as intervenções do Zé Teixeira - fiquei perplexo com as afirmações do Raul Fodé no que se refere ao preço da mancarra dizendo que por um saco o comerciante de Empada lhe pagava “um peso”. Zé Teixeira, foste aldrabado. A não ser que os sacos fossem de meio quilo. Passo a explicar:
Nos meus tempos de empregado na NOSOCO, entre 1955 e 1959 ano em que fui para o serviço militar, comprei directamente aos indígenas muita mancarra, várias toneladas, sobretudo em Farim donde era escoada para os nossos armazéns em Binta e aí embarcada. Também em Bafatá exerci igual mister. Quando li que o tal comerciante de Empada pagava um peso por saco (um saco tem entre 15 a 20 quilos) fiquei, como se costuma dizer, “com a pulga na orelha”, pois me recordava perfeitamente que o preço praticado era à volta de dois pesos por quilo e era fixado anualmente por portaria do governo e publicado no Boletim Oficial.
Mas, como não gosto de fazer afirmações sem delas ter a certeza absoluta, pesquisei como pude na esperança de encontrar um Boletim Oficial da Província da Guiné. Não tive êxito mas, como quem procura sempre alcança, acabei descobrindo o sítio Memória de África onde no Boletim Semanal do Banco Nacional Ultramarino Nº 473 de 23 de Janeiro de 1958 se pode ler o seguinte no que se refere aos preços fixados para a compra e exportação de amendoim nesse ano:
Ao produtor indígena por Kg
- Nos portos de exportação.... 2$20
- Nos centros comerciais do interior
servidos por vias fluviais.....2$00
- Nas regiões fronteiriças:
Circunscrição de Gabú e Postos Administrativos
de Contuboel e de Cuntima..... 1$90
Recordo-me perfeitamente que, a quem ia entregar o produto nos nossos armazéns de Binta (porto de exportação), era paga a mancarra a 2$20 o quilo e isso acontecia tanto ao produtor directo como aos pequenos comerciantes, sobretudo libaneses, que a compravam nos seus estabelecimentos e utilizando camiões próprios ou alugados a transportavam para Binta.
Igualmente recordo de muitos dos produtores da área de Cuntima se deslocarem com os seus burros carregados de mancarra até Farim onde valia mais 0$10 por quilo do que no comércio daquela localidade.
Havia depois a cotação em bolsa que, por exemplo em 22 de Maio de 1958 (Boletim Semanal do BNU Nº 489), atingia o preço FOB de 52$50 a arroba (15 Kg.), ou seja, 3$50 o quilo. Para quem não estiver tão familiarizado com estes termos, FOB são as iniciais de free on board isto é, o preço do produto colocado a bordo e que era o pago pelo importador ficando as despesas do frete e seguro por conta deste.
Assim, conhecendo o hábito dos naturais da Guiné, capazes de andar longas distâncias só porque em determinada localidade um comerciante dava mais uns cobres pela mancarra ou os presenteava com o chamado labaremos (gorjeta ou qualquer tentadora oferta), estou em crer que o Raul Fodé faltou à verdade nas informações que prestou ao nosso querido Zé Teixeira. Não sei quem seria o comerciante a que se referiu. Eu conheci pessoalmente um comerciante de Empada, em 56 e 57, que se deslocava frequentemente a Bafatá efectuando inclusivamente alguns negócios com a NOSOCO onde eu trabalhava. Era um homem relativamente pequeno e magro. O nome já se me varreu da memória embora o seu aspecto e fisionomia estejam bem presentes. Creio ser Lúcio.
Também o referido post - até pelo subtítulo “Um exemplo de exploração colonial” - pretende reduzir a dita exploração (que de facto existiu e existe um pouco por todo o mundo) à ideia simplista de o colono rouba e o indígena é roubado. Ora, as coisas não são assim tão lineares porque a tentativa de enganar existia nos dois lados e era consequência uma da outra. Posso afirmá-lo com a relativa autoridade que me advém da experiência decorrente dos muitos anos em que na Guiné trabalhei no comércio. Alguns exemplos:
Cheguei a Farim em 1954 como empregado da NOSOCO onde na época da campanha da mancarra nós a comprávamos em grandes quantidades. No quintal do estabelecimento existia uma balança para pesar os sacos, balaios e outros recipientes com a mancarra transportada, pagando-se de seguida o respectivo valor ao proprietário. A primeira vez que fui para a balança, todo eufórico, pesei dois sacos que o agricultor transportava num burro e paguei rigorosamente a importância correspondente ao peso exacto da mercadoria. De imediato o Sissau Sama, um mandinga meu colega de trabalho, muçulmano íntegro e que sendo mais velho foi para mim como que um pai, me chamou à parte e repreendeu dizendo que o negócio não podia ser feito assim pois deveria ter tirado alguns quilos ao peso. Porquê? - perguntei-lhe. Ele colocou aqueles dois sacos à parte e disse-me que depois me explicava.
No fim do dia de trabalho pegou nos dois sacos e despejando-os numa tarara procedeu à sua limpeza. Quando terminou, o autêntico lixo daí resultante (pauzinhos, cascas, pequenas pedras, etc) foi pesado: 4 quilos. Fiquei pasmado! Vês? - disse ele. - Temos sempre de tirar alguns quilos no peso porque depois de limpa a quebra é grande e, como antes do embarque em Binta, toda a mancarra é passada na tarara porque os importadores são exigentes, a diferença, em muitas toneladas, seria grande e o gerente da firma responsabilizava-nos.
- Há ainda outra coisa que devemos ter em conta - acrescentou- A mancarra quando é trazida para cá está ainda muito húmida e por vezes até a molham para pesar mais. Depois ela seca no armazém e ao ser pesada para o embarque (a pesagem era fiscalizada pela guarda fiscal e alfândega) não corresponde ao que está registado no livro de aquisição.Por isso temos que nos defender das inevitáveis quebras.
Sabiam os camaradas que a Guiné foi exportadora de apreciáveis quantidades de cera e borracha até finais dos anos 50? E que essa exportação terminou porque os importadores deixaram de adquirir devido às vigarices dos produtores?
No que se refere à borracha, era apresentada no formato de novelos, como os de lã –salvaguardadas as devidas proporções. Os fios eram bastante grossos, sensivelmente com dois ou três centímetros de espessura, e com eles eram feitos novelos que atingiam as dimensões de uma bola de futebol. Recordo-me que eram bem pesados. Pois essa exportação terminou porque os inocentes produtores enrolavam a borracha em torno de uma pedra e até de pedaços de ferro para aumentar o peso. Com este estratagema causaram graves prejuízos à indústria pois alguma maquinaria que processava a borracha foi danificada. E assim a Guiné deixou de exportar borracha.
Algo de semelhante se passou com a cera. Os importadores exigiam que fosse exportada em blocos com dimensões normalizadas e isenta de qualquer tipo de impureza. Aí começou a “dor de cabeça” dos comerciantes exportadores porque quando a compravam aos indígenas ela era tudo menos limpa. Assim, viam-se na necessidade de a purificar.
Em Bafatá –certamente alguns estarão recordados- havia um comerciante, de seu nome João Batista Pinheiro, cujo estabelecimento comercial e residência se situava na parte baixa da vila numa casa de primeiro andar ao lado do mercado. No estabelecimento vendia-se e comprava-se de tudo como era hábito (ainda será?) na Guiné mas com a particularidade de ser também a farmácia lá da terra. Aí pontificava um sobrinho dele, o Albino, sensivelmente da minha idade e de quem eu era grande amigo. Aliás, a amizade era uma constante entre todos nós.
Voltando ao assunto da cera. No quintal, para onde os camiões podiam entrar através de um pórtico que passava por baixo da casa, o velhote João B. Pinheiro arranjou a sua fabriqueta para a depuração da cera. Sistema um tanto artesanal mas eficiente, consistia num enorme bidão de ferro onde era colocada a cera e seguidamente aquecido com uma fogueira por baixo a fim de que fosse derretendo. Quando esta já se encontrava no estado líquido era retirada cuidadosamente com o auxílio de um enorme caço de cabo bem comprido e vertida numas formas de madeira de formato e dimensões semelhantes às de fabricar blocos de cimento e previamente untadas com óleo de palma para facilitar a extracção uma vez arrefecida e solidificada. Desta maneira, como só era retirada a parte que se encontrava no estado líquido, ficavam no fundo todas as impurezas.
Parece que ainda estou a ver o velho João B. Pinheiro a vociferar impropérios cada vez que verificava a enorme quantidade de resíduos acumulados no fundo do bidão (terra, pregos, casca de árvores etc.) depois de retirada a cera aproveitável. O homem quase chorava e só não arrepelava os cabelos brancos porque os usava rapados. Lamentava o prejuízo enorme que a comercialização lhe dava e acabou por desistir. Como ele, muitos outros comerciantes deixaram de comprar cera e assim acabou a exportação.
Poderia citar outros casos mas estes são suficientes para lançar a pergunta: - Afinal, quem enganava quem?
Um outro assunto que merece reparo é o que está contido na frase “A Avenida principal de Empada estava plena de palacetes de estilo colonial...” (O sublinhado é meu)
O termo palacete é exagerado. As casas onde residiam os colonos eram sem dúvida melhores e mais confortáveis do que as palhotas dos indígenas mas não poderão considerar-se “palacetes”. Aliás, a questão da habitação está relacionada não exclusivamente ao poder económico mas também à própria maneira de ser e à cultura tradicional dos povos.
Eu conheci vários naturais da Guiné, africanos, que viviam em casas em tudo semelhantes às dos europeus. Outros mantinham-se na moranças tradicionais por opção própria. Cito um caso regressando ao Sissau Sama de Farim.
O Sissau tinha por mim grande estima e foi um conselheiro, um mestre que muito contribuiu para a formação do meu carácter. Tendo eu chegado com a bonita idade de 16 anos, ele preocupou-se com o meu comportamento que poderia não ser o mais adequado devido à falta de experiência e bom senso próprio dos verdes anos. Levava-me à sua morança situada na Morocunda (saída de Farim na estrada para Cuntima) depois de terminado o trabalho. Ensinava-me a forma como devia tratar as pessoas, a distinguir o certo do errado e apoiava-me em tudo. Jamais o esqueci nem esquecerei.
Pois o Sissau, como em geral todo o bom muçulmano, tinha 3 mulheres e era dono de enormes lugares de mancarra. (Aproveito para esclarecer que os campos onde era cultivada a mancarra se chamavam “lugares de mancarra”. Nas bolanhas cultivava-se o arroz). Acontecia que ele, melhor dizendo, as mulheres dele, só cultivavam uma pequena parte desses lugares. O suficiente, dizia ele, para ter algum dinheiro que lhe desse para a roupa, comida e mais nada.
Um dia sugeri-lhe que, se lavrasse a totalidade dos seus campos arranjaria dinheiro mais que suficiente para ter uma casa melhor. Poderia colocar telhas ou zinco em vez de colmo, pavimentar o chão, instalar electricidade, comprar um frigorífico (que na Guiné chamávamos geleira, djeladêra em criolo) e outros confortos semelhantes. Respondeu-me que não queria nada disso. Essas coisas eram para os brancos e eles gostavam mais de viver assim conforme estavam habituados.
Que dizer disto? Nada a não ser que não podemos forçar ninguém a viver segundo os nossos padrões e que por vezes pessoas que invejam o viver de outrem nem sempre se esforçam por melhorar a sua própria vida. Não precisamos de ir muito longe. Cá em Portugal existem muitas pessoas a viver em barracas de péssimas condições com grandes carros à porta, tv satélite e outras mordomias que muita gente que habita em casas normais e decentes, segundo os nossos padrões de vida, não têm.
Por aqui me fico porque esta lenga-lenga já vai longa e não quero aborrecer os caros tertulianos com as minhas lamentações. Acrescento que não pretendo de forma alguma criticar seja quem for mas somente prestar alguns esclarecimentos na tentativa de fazer ver que muitas das coisas que se dizem sobre a colonização não passam de estereótipos. Que houve erros, houve, nem tudo foi bom, não foi. Porém a colonização – prefiro chamar-lhe acção civilizadora - não pode ser posta em causa por eventuais erros de alguns porque, globalmente, não temos de que nos envergonhar. Por exemplo nos finais de 1974 Luanda, quando já lá se encontravam os líderes dos movimentos de libertação, recebeu vários jornalistas africanos curiosos para ver como se iria processar o futuro de Angola. A um jornalista do vizinho Congo perguntaram a sua opinião sobre o desenvolvimento daquelas terras bem como o ambiente do dia a dia. (Ainda não tinham começado os confrontos que depois opuseram MPLA, FNLA e UNITA). Pois o referido jornalista mostrou-se admirado com tudo o que viu dizendo: quem nos dera termos sido colonizados pelos portugueses.
E chega por hoje.
Mário Dias
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(1) Vd. postes de:
12 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXV: Antologia (24): Elisée Turpin, co-fundador do PAIGC (Élisée Turpin)
(...) "Para além das células, estabeleceram-se pontos focais, ou seja, elos de ligação no interior do País. Por exemplo, o elo de ligação em Farim era o Dionísio Dias Monteiro; em Bolama era Carlos Domingos Gomes (Cadogo Pai); em Catió era Manuel da Silva.
"Lembro-me de algumas pessoas que se movimentavam na altura como activistas políticos e muitos deles envolvidos na criação do Partido: Amilcar Cabral, Aristides Pereira, Rafael Barbosa, Luís Cabral, Abílio Duarte, Fernando Fortes, João Rosa, Inácio Semedo, Victor Robalo, Júlio Almeida, João Vaz, Domingos Cristovão Gomes Lopes.
Contudo, no dia 19 de Setembro de 1956, na fundação (criação formal do Partido, denominado PAI - Partido Africano da Independência), compareceram apenas 6 pessoas: Amilcar Cabral, Aristides Pereira, Luís Cabral, Fernando Fortes, Júlio Almeida, Elisée Turpin" (...)
26 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXIX: Pidjiguiti: resposta do Mário Dias ao Leopoldo Amado
(...) "Reiterando os meus agradecimentos e admiração ao Leopoldo Amado, termino respondendo à sua estranheza por eu não ter referido a presença no cais do Pidjiguiti do Domingos Ramos, Constantino Teixeira e outros soldados africanos. Claro que eles lá estiveram, não no recinto do cais propriamente dito, mas nas imediações do mesmo tal como os restantes soldados. Eles faziam parte da companhia que regressava do aeroporto e para lá foi desviada.
(...) "Como tem sido recentemente muito referido o João Rosa, guarda-livros (actualmente designados contabilistas ou técnicos de contas) da NOSOCO, resolvi anexar uma fotografia tirada em Bissalanca na despedida do gerente da referida firma, monsieur Boris, que nesse dia regressava a Paris (está ao centro de fato e gravata). O João Rosa está na segunda fila à direita; à sua frente, o 2º da direita, é o Toi Cabral. Não sei se será o mesmo que o Luis Cabral refere como um dos principais obreiros na fuga do Carlos Correia. Gostaria obter essa confirmação mas não sei como consegui-la. Os restantes elementos da foto são alguns (quase todos) dos empregados do escritório da NOSOCO em Bissau (...).
Segundo o historiador e membro da nossa tertúlia Leopoldo Amado, o nacionalista João da Silva Rosa terá morrido às mãos da PIDE, em Abril/Maio de 1961.
João Rosa começou por ser um dos fundadores do MLG - Movimento de Libertação da Guiné, que antecedeu a criaçõ do PAIGC: Vd. poste de 25 de Fevereiro de 2006 >
Guiné 63/74 - DLXXXVI: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - II Parte
(...) " João Rosa, um dos líderes históricos do MLG lembra (segundo o seu auto de interrogatório na PIDE datado de 1962) de ter integrado este movimento a convite de José Francisco Gomes e de ter participado na primeira reunião do MLG em princípios de 1958, na qual estiveram igualmente César Fernandes, Ladislau Lopes, este último mobilizado por Rafael Barbosa, elemento que viria a revelar a grande veia mobilizadora, chegando mesmo a protagonizar em entre 1959 e 1959 uma rotura que praticamente definhou a estrutura residual do MLG em Bissau" (...).
(...) "Na sua meteórica passagem por Bissau, Amílcar Cabral acordou com os seus principais colaboradores, na altura Aristides Pereira, Luís Cabral, Fernando Fortes, Rafael Barbosa e João da Silva Rosa em como largaria tudo e seguiria para a República da Guiné (Conakry) de onde enviaria directrizes. Efectivamente, a decisão de Amílcar Cabral de escolher um poiso de apoio na Guiné-Conakry foi devidamente sustentada com o exemplo de Pindjiguiti, pois que para ele era a prova iniludível da natureza permanentemente violenta do sistema colonial que, sintomaticamente, tinha maior força nos centros urbanos, donde a razão porque era preciso proceder a uma extensa e meticulosa preparação para a guerra de libertação e a mobilização dos camponeses para responder com violência à violência colonial" (...)..
(2) Vd. postes do Mário Dias (e outros) sobre o Domingos Ramos:
2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCI: Domingos Ramos, meu camarada e amigo (Mário Dias)
2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIII: Domingos Ramos e Mário Dias, a bandeira da amizade (Luís Graça / Mário Dias)
2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIV: O segredo do Mário Dias, ex-sargento comando
12 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2343: PAIGC - Quem foi quem (5): Domingos Ramos (Mário Dias / Luís Graça)
20 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2461: Blogoterapia (38): Dois heróis, dois homens com valores, Domingos Ramos e Mário Dias (Torcato Mendonça)
(3) Vd. outros postes do Mário Dias:
(i) Memórias de Bissau:
9 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXII: Memórias do antigamente (Mário Dias) (1): Um cabaço de leite
19 de Fevereirod e 2006 > Guiné 63/74 - LDXVI: Memórias do antigamente (Mário Dias) (2): Uma serenata ao Governador
15 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXX: Memórias do antigamente (Mário Dias) (3): O progresso chega a Bissau
(ii) Op Tridente (Ilha do Como, Janeiro-Março de 1964):
15 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLI: Falsificação da história: a batalha da Ilha do Como (Mário Dias)
17 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXCV: A verdade sobre a Op Tridente (Ilha do Como, 1964)
15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXII: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): Parte I (Mário Dias)
16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXV: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): II Parte (Mário Dias)
17 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXX: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): III Parte (Mário Dias)
(4) Vd. poste de 17 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2545: Blogoteria (41): Guileje, Gadamael, Mata do Cantanhez... e a memória das gentes (José Teixeira)
(...) Disse-me ele:
- A região do Tombali, tal como a de Forreá, foram outrora muito ricas em arroz, milho, madeiras, peixe, etc. As etnias tinham os seus chefes, as suas normas e conseguiam entender-se de modo a que tudo estava bem. Chegaram os brancos vindos de Bissau, a produção aumentou muito, desenvolveu-se a produção da mancarra, que deu cabo da terra. A população começou a trabalhar para os brancos, dividiu-se e lentamente empobreceu, apesar de trabalhar e produzir muito mais. Os brancos, esses, ganharam muito dinheiro. Repara, eu, Fodé, vou na bolanha, com mulheres e filhos, rasgo a terra e semeio mancarra. Arranco as ervas más, cavo a terra para amolecer e provocar o enraizamento, passo lá todo o tempo a defender de animais e do bandido. Quando está seco, corto separo e ensaco, transporto para loja do branco, que me paga um peso [moeda antiga que correspondia a um escudo] por saco. Quando chega o barco, tenho de fazer o transporte desde a loja do branco. Isto é tudo trabalho meu. Agora sabes quanto recebe o branco por cada saco de mancarra ?
- Dois pesos - disse eu convictamente.
- Dois? Era bom! Por cada saco de mancarra, cultivada, secada, ensacada e embarcada por mim, o branco recebe quinze pesos" (...).