Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
Guiné 63/74 - P9126: Agenda Cultural (173): Prémio Fundação Calouste Gulbenkian, entregue a Julião Soares Sousa, na Academia Portuguesa da História, dia 7 de Dezembro de 2011 pelas 15 horas
1. Mensagem de Julião Soares Sousa(1) dirigida a Mário Beja Santos que por sua vez a reencaminhou para o nosso Blogue:
Acabo de ser distinguido com o prémio Fundação Calouste Gulbenkian, História Moderna e Contemporânea de Portugal, da Academia Portuguesa da História, pelo livro "Amílcar Cabral (1924-1973) Vida e morte de um revolucionário africano" (Nova Vega, 2011).(2)
A cerimónia de entrega do prémio terá lugar no dia 7 de Dezembro, pelas 15 horas, na Academia Portuguesa da História.(3)
Julião Soares Sousa
____________
Notas de CV:
(1) - Sobre o Doutoramento de Julião Soares Sousa vd. poste de 17 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2447: Julião Soares Sousa, o primeiro guineense a doutorar-se pela Universidade de Coimbra (Carlos Marques Santos)
(2) - Sobre a recensão de Mário Beja Santos ao livro de Julião Soares Sousa "Amílcar Cabral (1924-1973)" vd. postes de:
5 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8508: Notas de leitura (253): Amílcar Cabral – Vida e morte de um revolucionário africano, por Julião Soares Sousa (1) (Mário Beja Santos)
13 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8549: Notas de leitura (256): Amílcar Cabral – Vida e morte de um revolucionário africano, por Julião Soares Sousa (2) (Mário Beja Santos)
19 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8570: Notas de leitura (257): Amílcar Cabral – Vida e morte de um revolucionário africano, por Julião Soares Sousa (3) (Mário Beja Santos)
e
2 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8629: Notas de leitura (261): Amílcar Cabral – Vida e morte de um revolucionário africano, por Julião Soares Sousa (4) (Mário Beja Santos)
Vd. último poste da série de 30 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9115: Agenda Cultural (172): Lançamento do livro A Primeira Derrota de Salazar, de Paulo Aido, dia 1 de Dezembro pelas 17 horas, na Casa de Goa, em Lisboa (Teresa Almeida)
(3) - A Academia Portuguesa da História situa-se no Palácio dos Lilases, na Alameda das Linhas de Torres, 198-200 - Lisboa
Guiné 63/74 - P9125: In Memoriam (98): Daniel Matos (1949-2011): Agradecimentos da família aos camaradas da Guiné (Joana Matos)
Guiné > Região de Tombali
> Gadamael > CCAÇ 3518 (1970/74) > Album fotográfico de Daniel Matos
> Foto 12 > "O autor, junto às águas do Rio
Sapo, afluente do Rio Cacine, que banhava Gadamael Porto"...
Foto (e
legenda): © Daniel Matos (2010)/ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.
Todos os direitos reservados
Tardiamente, e sem saber que o Daniel Matos já não está fisicamente entre nós, outro camarada de Gadamael, o Manuel Vaz, acaba de deixar o seguinte comentário ao poste P7186, de 28/10/2010:
"Camarada Daniel Matos: Estive a visionar as fotografias de Gadamael que muito apreciei e tentei fazer um cronograma da estadia das várias Companhias que lá estiveram. Verifiquei que há várias em sobreposição, o que me levantou uma dúvida: - se a partir de determinada altura, havia mais de uma Companhia aquartelada em Gadamael. Quanto ao rio que banha Gadamael, não é o rio Sapo. Este corre mais a sul, junto de Sangonha. Podes confirmar pela Carta Militar. Um abraço, Manuel Vaz".
O rio em questão, afluente do Rio Cacine, parece ser o Rio Queruane (ou Rio Axe), segundo a carta de Cacoca (1960), escala 1/25000. O Rio Sapo corre mais a sul de Gadamael, situando-se a noroeste de Sangonhá... É afluente de um afluente do Rio Cacine, o Rio Unconde. Isto a fazer fé nos nossos cartógrafos, que eram os melhores do mundo... (LG)
Em meu nome, da minha mãe e dos meus irmãos, quero agradecer as mensagens deixadas via facebook e blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.
Agradecemos ainda o apoio que deram ao meu pai nestes últimos dois e dolorosos anos, mas que lhe deram força para lutar, de forma digna e corajosa, contra a doença de que foi vítima e acabou por lhe tirar a vida.
Acreditamos que não perdeu esta batalha... apenas terminou.
Descansa em paz e um beijo cheio de saudades.
___________
Nota do editor:
(*) Vd poste de 21 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9073: In memoriam (97): Daniel Matos, ex-Fur Mil da CCAÇ 3518 (Gadamael, 1972/74), falecido no dia 13 de Novembro de 2011
Guiné 63/74 - P9124: Porto de Abrigo (Carlos Rios) (4): Troca de mensagens
1. Quarto episódio de "Porto de Abrigo", as memórias passadas a escrito pelo nosso camarada Carlos Luís Martins Rios, ex-Fur Mil da CCAÇ 1420/BCAÇ 1857, Mansoa e Bissorã, 1965/66.
PORTO DE ABRIGO - IV
Mensagens de Manuel Joaquim e Carlos Rios
Manuel Joaquim diz:
20 Janeiro 2010 às 20:44
Meu caro Carlos Rios:
Que surpresa ler as tuas palavras por aqui! A última vez que nos vimos foi quando me entraste pela sala de aula, na Amadora, já lá vão muitos anos. Um grande abraço, meu “velhote coxo e surdo”. Desculpa-me se não te agradar o que vou dizer:
Amigos frequentadores deste blogue, Carlos Rios foi condecorado com a Cruz de Guerra, muito muito merecida! “Coxo e surdo” não é uma expressão irónica, é o resultado dos ferimentos sofridos em combate por um militar exemplar no serviço, na camaradagem, de coragem e humanismo transbordantes! Este fur. mil. da CCaç.1420 representa para mim a coragem, as angústias, os sucessos, mesmo os desastres desta Companhia.
Até sempre, Carlos Rios
Manuel Joaquim, Fur. Milº CCaç.1419
Carlos Rios diz:
1 Agosto 2009 às 10:53
Uma profunda triste saudade me fizeram os nomes dos meu amigos Passeiro e Duarte, também eu estive no K3, em tempos em que se dormia debaixo de cibes e terra, a única construção era a “messe”, pertenci se se lembram à 1420. Esse forno do pão foi feito ou reconstruído pelo amigo Banharia, isso de ter tectos e outros é um luxo.
Um abraço amigo a todos e as desculpas por algum lapso de memória.
Saudades do velhote coxo e surdo. Notável o empenhamento e dinâmica já na altura do meu querido amigo CABRAL; ele tem ainda fotografias muito mais notáveis.
Carlos Rios diz:
1 Agosto 2009 às 11:10
As minhas desculpas, agora me lembrei penso que estive foi no k10, a caminho de Mansabá indo de Mansoa, reitero e reforço os cumprimentos escrevendo os inconvenientes da saga do hospital militar principal; parece que há preocupação de limpar aquele nojo de “guerra”.
Carlos Rios, diz:
14 Julho 2010 às 15:43
Estas fotografias branqueiam os horrores do que foi realmente a passagem da CCaç 1420, por aqui, senão vejamos:
a) o 1º Comandante de Companhia assim que pôde (1 mês?) evacuou-se para a metrópole.
b) neste período de tempo teve tempo de punir com pena de prisão alguns praças por levantamento de rancho (o cheiro e apresentação da comida era imundo).
Logo a seguir acompanhados de outra Companhia, fizemos uma operação onde perdemos o meu grande amigo, Alf. Mil. Vasco Cardoso e mais 5 praças (entretanto já tinha falecido outro camarada) as tropas regressaram em pequenos grupos a Fulacunda. Que nulidade de Comandante.
Carlos Rios, Fur Mil da CCaç 1420, diz:
14 Julho 2010 às 16:14
Espanto é o sentimento que me assalta, bonitas e saudosas fotografias, mas não posso deixar de sentir a falta de outras que façam sentir o quotidiano da vivência desta terra durante a guerra colonial. As ruas esburacadas, a prisão onde eram torturados os desgraçados que fossem apontados por qualquer outro, o lago do crocodilo que um militar qualquer matou a tiro, alguns elementos da população com a sua corrente de misérias, o desaparecimento de alguns militares, as passeatas do padre para (contactos) com a população. Capturado, fardado um IN, e uma vez chegado ao quartel de Mansoa teve o Sr. Comandante de Sector um gesto heróico (enfiou uma valente bofetada no homem que se encontrava em sentido e com as mãos atadas). Que vilania. Muito mal preparados estavam os homens que nos conduziam. Uns nadas. (Referência a Mansoa)
Carlos Rios, Fur Mil da CCaç 1420, diz:
27 Fevereiro 2011 às 14:39
Obrigado Manuel Joaquim!
As coisas mais lindas, marcantes, e emocionais não podem ser vistas ou tocadas, mas sim sentidas pelo coração. É inenarrável a emoção e alegria com que li o que fizeste o favor de dizer acerca de mim e que necessariamente se torna extensivo a ti próprio e aos nossos queridos e sofredores companheiros a quem endereço um profundo abraço de solidariedade. Pena é que não haja maior participação, onde se possa aquilatar das agruras desta geração. O anexo do hospital Militar (anexo) era um autêntico campo de sofrimentos e humilhações. No prosseguimento desta desumana situação fomos ainda deslocados para o DI (Depósito de Indisponíveis), onde estando em recuperação e tratamento os militares eram englobados nas escalas de serviço. Recordo um dia em que estando de comandante da guarda, já coxo e surdo como sabes, tive que vir a exterior comandando a secção fazer o içar de bandeira. Calcularás o caricato da cena.
Carlos Rios, Fur Mil da CCaç 1420, diz:
23 Fevereiro 2011 às 18:22
Inenarráveis são os sentimentos e emoções que me assaltam ao ver as fotos e ler o expresso por todos os camaradas. Também por aqui passei, vim ser ouvido num auto levantado para descobrir quem seria o culpado pelo desaparecimento do meu querido amigo Alf. Mil. Vasco Sousa Cardoso, quando por um tremendo erro estratégico do comandante da Operação Cap. […] hoje reformado pelo menos como coronel (vicissitudes dos ineptos Comandantes) numa tremenda emboscada toda a coluna se partiu vindo o regresso de diversos grupos a Fulacunda a ser feito durante toda a noite, devo ao meu grande amigo Soleimane Djaló e ao Salu (já falecido) ter regressado já alta noite a Fulacunda.
O meu amigo fugiu juntamente com cinco praças para o lado errado vindo a ser perseguidos e abatidos durante dois dias, um suicidou-se e apenas um dos elementos foi capturado e trocado através da CVI com prisioneiros do PAIGC. O Comandante da Operação foi dos primeiros a chegar ao Quartel com o maior troço de tropas.
Que ignorante eu era destas questões. Não quero deixar de referir que no dia imediato uma Companhia a sério Comandada pelo Cap. Carlos Fabião – (Companhia dos Camelos), a quem rendo a minha homenagem – Um HOMEM – a sério, onde me integrei, pesquisou intensamente a área do incidente mas infrutiferamente. Pequenos episódios tristes demonstrativos da incipiente preparação dos nossos comandantes. Nesta deslocação a Bolama tive a oportunidade de me banhar na praia da Ilha – OFIR se chamava ela. Quando no decorrer da operação que deu azo ao levantamento do auto pelo qual me fizerem ir a Bolama ser ouvido; e sendo elementos do IN detectados em plena picada a caminho de S. João, junto de Nova Sintra (ainda não existia o destacamento nosso, criado a posteriori) estando eu como de costume a testa da coluna, avançámos de rompante metralhando o grupo e provocando dois feridos e capturando a primeira metralhadora PPSH, apanhada no campo de batalha na Guiné. Após o que regressamos ao ponto de encontro marcado pelo comandante de Operação;
Não havia ninguém.
Legenda:
A) - Primeiro morto em combate
B) - Morte do 2.º Sargento Monteiro e Ferimentos graves em diversos camaradas (Raimundo fica estropiado e amputado de dedos de uma mão)
C) - Grave ferimento do Rui (estilhaços nas pernas)
D) - Rios atingido por rajada (fica estropiado)
E) - Desaparecimento (em confrontação directa ) do Alf Mil Vasco Cardoso e mais 5 praças.
____________
Nota de CV:
Vd. poste da série de 29 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9112: Porto de Abrigo (Carlos Rios) (3): A nossa estada em Bissorã e Mansoa, e as baixas em combate
PORTO DE ABRIGO - IV
Mensagens de Manuel Joaquim e Carlos Rios
Manuel Joaquim diz:
20 Janeiro 2010 às 20:44
Meu caro Carlos Rios:
Que surpresa ler as tuas palavras por aqui! A última vez que nos vimos foi quando me entraste pela sala de aula, na Amadora, já lá vão muitos anos. Um grande abraço, meu “velhote coxo e surdo”. Desculpa-me se não te agradar o que vou dizer:
Amigos frequentadores deste blogue, Carlos Rios foi condecorado com a Cruz de Guerra, muito muito merecida! “Coxo e surdo” não é uma expressão irónica, é o resultado dos ferimentos sofridos em combate por um militar exemplar no serviço, na camaradagem, de coragem e humanismo transbordantes! Este fur. mil. da CCaç.1420 representa para mim a coragem, as angústias, os sucessos, mesmo os desastres desta Companhia.
Até sempre, Carlos Rios
Manuel Joaquim, Fur. Milº CCaç.1419
Carlos Rios diz:
1 Agosto 2009 às 10:53
Uma profunda triste saudade me fizeram os nomes dos meu amigos Passeiro e Duarte, também eu estive no K3, em tempos em que se dormia debaixo de cibes e terra, a única construção era a “messe”, pertenci se se lembram à 1420. Esse forno do pão foi feito ou reconstruído pelo amigo Banharia, isso de ter tectos e outros é um luxo.
Um abraço amigo a todos e as desculpas por algum lapso de memória.
Saudades do velhote coxo e surdo. Notável o empenhamento e dinâmica já na altura do meu querido amigo CABRAL; ele tem ainda fotografias muito mais notáveis.
Carlos Rios diz:
1 Agosto 2009 às 11:10
As minhas desculpas, agora me lembrei penso que estive foi no k10, a caminho de Mansabá indo de Mansoa, reitero e reforço os cumprimentos escrevendo os inconvenientes da saga do hospital militar principal; parece que há preocupação de limpar aquele nojo de “guerra”.
Carlos Rios, diz:
14 Julho 2010 às 15:43
Estas fotografias branqueiam os horrores do que foi realmente a passagem da CCaç 1420, por aqui, senão vejamos:
a) o 1º Comandante de Companhia assim que pôde (1 mês?) evacuou-se para a metrópole.
b) neste período de tempo teve tempo de punir com pena de prisão alguns praças por levantamento de rancho (o cheiro e apresentação da comida era imundo).
Logo a seguir acompanhados de outra Companhia, fizemos uma operação onde perdemos o meu grande amigo, Alf. Mil. Vasco Cardoso e mais 5 praças (entretanto já tinha falecido outro camarada) as tropas regressaram em pequenos grupos a Fulacunda. Que nulidade de Comandante.
Carlos Rios, Fur Mil da CCaç 1420, diz:
14 Julho 2010 às 16:14
Espanto é o sentimento que me assalta, bonitas e saudosas fotografias, mas não posso deixar de sentir a falta de outras que façam sentir o quotidiano da vivência desta terra durante a guerra colonial. As ruas esburacadas, a prisão onde eram torturados os desgraçados que fossem apontados por qualquer outro, o lago do crocodilo que um militar qualquer matou a tiro, alguns elementos da população com a sua corrente de misérias, o desaparecimento de alguns militares, as passeatas do padre para (contactos) com a população. Capturado, fardado um IN, e uma vez chegado ao quartel de Mansoa teve o Sr. Comandante de Sector um gesto heróico (enfiou uma valente bofetada no homem que se encontrava em sentido e com as mãos atadas). Que vilania. Muito mal preparados estavam os homens que nos conduziam. Uns nadas. (Referência a Mansoa)
Carlos Rios, Fur Mil da CCaç 1420, diz:
27 Fevereiro 2011 às 14:39
Obrigado Manuel Joaquim!
As coisas mais lindas, marcantes, e emocionais não podem ser vistas ou tocadas, mas sim sentidas pelo coração. É inenarrável a emoção e alegria com que li o que fizeste o favor de dizer acerca de mim e que necessariamente se torna extensivo a ti próprio e aos nossos queridos e sofredores companheiros a quem endereço um profundo abraço de solidariedade. Pena é que não haja maior participação, onde se possa aquilatar das agruras desta geração. O anexo do hospital Militar (anexo) era um autêntico campo de sofrimentos e humilhações. No prosseguimento desta desumana situação fomos ainda deslocados para o DI (Depósito de Indisponíveis), onde estando em recuperação e tratamento os militares eram englobados nas escalas de serviço. Recordo um dia em que estando de comandante da guarda, já coxo e surdo como sabes, tive que vir a exterior comandando a secção fazer o içar de bandeira. Calcularás o caricato da cena.
Carlos Rios, Fur Mil da CCaç 1420, diz:
23 Fevereiro 2011 às 18:22
Inenarráveis são os sentimentos e emoções que me assaltam ao ver as fotos e ler o expresso por todos os camaradas. Também por aqui passei, vim ser ouvido num auto levantado para descobrir quem seria o culpado pelo desaparecimento do meu querido amigo Alf. Mil. Vasco Sousa Cardoso, quando por um tremendo erro estratégico do comandante da Operação Cap. […] hoje reformado pelo menos como coronel (vicissitudes dos ineptos Comandantes) numa tremenda emboscada toda a coluna se partiu vindo o regresso de diversos grupos a Fulacunda a ser feito durante toda a noite, devo ao meu grande amigo Soleimane Djaló e ao Salu (já falecido) ter regressado já alta noite a Fulacunda.
O meu amigo fugiu juntamente com cinco praças para o lado errado vindo a ser perseguidos e abatidos durante dois dias, um suicidou-se e apenas um dos elementos foi capturado e trocado através da CVI com prisioneiros do PAIGC. O Comandante da Operação foi dos primeiros a chegar ao Quartel com o maior troço de tropas.
Que ignorante eu era destas questões. Não quero deixar de referir que no dia imediato uma Companhia a sério Comandada pelo Cap. Carlos Fabião – (Companhia dos Camelos), a quem rendo a minha homenagem – Um HOMEM – a sério, onde me integrei, pesquisou intensamente a área do incidente mas infrutiferamente. Pequenos episódios tristes demonstrativos da incipiente preparação dos nossos comandantes. Nesta deslocação a Bolama tive a oportunidade de me banhar na praia da Ilha – OFIR se chamava ela. Quando no decorrer da operação que deu azo ao levantamento do auto pelo qual me fizerem ir a Bolama ser ouvido; e sendo elementos do IN detectados em plena picada a caminho de S. João, junto de Nova Sintra (ainda não existia o destacamento nosso, criado a posteriori) estando eu como de costume a testa da coluna, avançámos de rompante metralhando o grupo e provocando dois feridos e capturando a primeira metralhadora PPSH, apanhada no campo de batalha na Guiné. Após o que regressamos ao ponto de encontro marcado pelo comandante de Operação;
Não havia ninguém.
Legenda:
A) - Primeiro morto em combate
B) - Morte do 2.º Sargento Monteiro e Ferimentos graves em diversos camaradas (Raimundo fica estropiado e amputado de dedos de uma mão)
C) - Grave ferimento do Rui (estilhaços nas pernas)
D) - Rios atingido por rajada (fica estropiado)
E) - Desaparecimento (em confrontação directa ) do Alf Mil Vasco Cardoso e mais 5 praças.
____________
Nota de CV:
Vd. poste da série de 29 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9112: Porto de Abrigo (Carlos Rios) (3): A nossa estada em Bissorã e Mansoa, e as baixas em combate
Guiné 63/74 - P9123: Se bem me lembro... O baú de memórias do José Ferraz (11): Uma cena do Júlio, em combate: Furriel, os meus t... ?!
Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Xime > António Fernando Marques e Arlindo Teixeira Roda, dois camaradas da 1ª geração da CCAÇ 12 (1969/71), junto ao monumento da CCAÇ 1550 (1966/68), unidade de quadrícula do Xime que antecedeu a CART 1746 (1968/69), a CART 2520 (1969/70), a CART 2715 (1970/71), a CART 3494 (1972/73) e a CCAÇ 12 (1973/74)... A CCAÇ 12 conheceu bem e duramente, o subsetor do Xime, entre 1969 e 1974... (LG)
Foto: © Arlindo Roda (2010)/ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
1. Texto do Zé Ferraz, português radicado nos EUA desde 1970 (vive atualmente em Austin, Texas), ex-Fur Mil Op Esp, CART 1746 (Xime, 1969; CCS/QG, Bissau, 1969/70):
Curiosamente fui eu que fiz os prisioneiros na tal [Op Baioneta Dourada, iniciada em 2 de Abril de 1969, às 0h00, com a duração prevista de dois dias, e com o objetivo de se completarem as destruições dos meios de vida na área, executadas aquando da Op Lança Afiada (8-18 de Março de 1969), na região de Poindon]...
Íamos a sair da mata para uma abertura com capim, talvez de meio metro de altura, e um trilho que cruzava essa abertura em sentido perpendicular ao nosso sentido de marcha... Se bem me lembro, eram dois [turras] e não um... Quando nos demos conta que eles vinham na nossa direcção a conversar e, portanto sem se darem conta de nós ( ainda bem que tinha ensinado ao meu pessoal balanta os sinais aprendidos em Lamego...), dei ordens para que se alapassem e eu deitei-me de costas para o chão, ao lado desse trilho.
Eles [, os turras,] só se deram conta de mim talvez a um par de metros donde eu estava deitado. Levantei o torso, apontei-lhes a G3 e disse:
Eles [, os turras,] só se deram conta de mim talvez a um par de metros donde eu estava deitado. Levantei o torso, apontei-lhes a G3 e disse:
- A boó firma aí!
Tremiam como se tivessem visto um fantasma e eu ri-me... Foram então levados para junto do comandante dessa operação, e interrogados. O resto da história vocês já sabem.
Também me lembro agora de mais uma história com o Júlio que, como responsável pelos dilagramas, andava sempre ligado a mim. Quando o contra-ataque se desencadeou, ele e eu abrigámo-nos atrás de um bagabaga enorme. Começámos a responder, o Júlio por um lado do baga baga e eu pelo outro.
Tivemos, entretanto, que nos desabrigar, disse-lhe para onde atirar os dilagramas e e nisto dou-me conta de que o Júlio está de joelhos no chão a disparar dilagramas e que cai prá frente, redondo. Atirei-me para junto dele com terrível ansiedade porque estava convencido que ele tinha sido ferido, mas dei-me conta de que felizmente estava vivo. A primeira coisa que me perguntou, foi:
Também me lembro agora de mais uma história com o Júlio que, como responsável pelos dilagramas, andava sempre ligado a mim. Quando o contra-ataque se desencadeou, ele e eu abrigámo-nos atrás de um bagabaga enorme. Começámos a responder, o Júlio por um lado do baga baga e eu pelo outro.
Tivemos, entretanto, que nos desabrigar, disse-lhe para onde atirar os dilagramas e e nisto dou-me conta de que o Júlio está de joelhos no chão a disparar dilagramas e que cai prá frente, redondo. Atirei-me para junto dele com terrível ansiedade porque estava convencido que ele tinha sido ferido, mas dei-me conta de que felizmente estava vivo. A primeira coisa que me perguntou, foi:
- Furriel, os meus tomates? !
Houve mais tiroteio, acabou o contacto, levanto-me, ajudo o Júlio a levantar-se e, quando de pé ele puxa as calçaas debaixo dos tomates, vejo que aí estava um buraco de bala... Uns centímetros mais a cima... e pobre do Júlio! Disse-lhe, em descarga nervosa:
Houve mais tiroteio, acabou o contacto, levanto-me, ajudo o Júlio a levantar-se e, quando de pé ele puxa as calçaas debaixo dos tomates, vejo que aí estava um buraco de bala... Uns centímetros mais a cima... e pobre do Júlio! Disse-lhe, em descarga nervosa:
- Ah, Júlio ainda bem ..senão nunca mais comíamos galinha!
____________
Nota do editor:
Último poste da série > 30 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9116: Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz (10): Júlio, o pilha-galinhas do Xime
(...) Quando estava a recordar vendo as fotos da RTX [, Rádio Televisão do Xime,] lembrei-me de outra história do Júlio, homem desenrascado e esperto até dizer chega...Ora bem, havia um acordo tácito de que galinha que entrasse para dentro do arame farpado era nossa e ia para o tacho (...)
Último poste da série > 30 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9116: Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz (10): Júlio, o pilha-galinhas do Xime
(...) Quando estava a recordar vendo as fotos da RTX [, Rádio Televisão do Xime,] lembrei-me de outra história do Júlio, homem desenrascado e esperto até dizer chega...Ora bem, havia um acordo tácito de que galinha que entrasse para dentro do arame farpado era nossa e ia para o tacho (...)
Guiné 63/74 - P9122: O nosso fad...ário (3): Fado Sangue, suor e lágrimas (Manuel Moreira, CART 1746, Ponta do Inglês e Xime, 1968/69)
Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Xime > CART 1746 (Bissorã e Xime, 1967/69) > 1968 > O Manuel Moreira Vieiria junto ao obus 10.5... A CART 1746 (i) teve como unidade mobilizadora o GCA 2, (ii) seguiu para a Guiné em 20/7/1967, (iii) regressou em 7/6/1969; (iv) esteve em Bissorã e no Xime (aqui desde princípios de 1968); comandante: Cap Mil António Gabriel Rodrigues Vaz.Antes desta unidade de quadrícula, passou pelo Xime a CCAÇ 1550 (1966/68) (estivera antes em Farim; era comandada pelo Cap Mil Inf Agostinho Duarte Belo). À CART 1746, seguiu-se a CART 2520 (1969/70), a CART 2715 (1970/71), a CART 3494 (1972/73) e a CCAÇ 12 (1973/74)... (LG)
Foto: © Manuel Moreira (2009)/ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
1. Letra que nos foi enviada pelo nosso camarada, e poeta de Águeda, Manuel Vieira Moreira, ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746 (Bissorã, Xime e Ponta do Inglês, 1967/69):
Sangue, Suor e Lágrimas
por Manuel Vieira Moreira (*)
Adapt do Fado Saudade, silêncio e sombra
Letra (**): Nuno de Lorena: Música: Pedro Rodrigues-Fado Primavera; criação: Teresa Tarouca [Vd. vídeo aqui no TouTube] (**)
Muitas noites tenho passado,
Na Guerra bem acordado,
Por não conseguir dormir.
Com os olhos sempre alerta,
Pois é sempre pela certa
Que os Turras cá possam vir. (Bis)
Certa noite fui acordado
E por estrondos alarmado,
Às duas da madrugada.
Mas rapidez é comigo,
Corri logo a um abrigo
P'ra responder de rajada. (Bis)
A nossa bela Nação
Defendo-a do coração,
Estas são as minhas dádivas.
Misturadas com a dor,
Lágrimas, Sangue e Suor,
Suor, Sangue e Lágrimas. (Bis)
Por não conseguir dormir.
Com os olhos sempre alerta,
Pois é sempre pela certa
Que os Turras cá possam vir. (Bis)
Certa noite fui acordado
E por estrondos alarmado,
Às duas da madrugada.
Mas rapidez é comigo,
Corri logo a um abrigo
P'ra responder de rajada. (Bis)
A nossa bela Nação
Defendo-a do coração,
Estas são as minhas dádivas.
Misturadas com a dor,
Lágrimas, Sangue e Suor,
Suor, Sangue e Lágrimas. (Bis)
(Final)
Xime, 20 de Dezembro de 1968 (****)
Xime, 20 de Dezembro de 1968 (****)
© Manuel Moreira (2009)/ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
________________
Notas do editor:
é o martírio maior
da minha vida em pedaços,
desde a tarde desse dia
em que ao longe se perdia
pra sempre o som dos teus passos.
Saudades fazem lembrar
silêncios do teu olhar,
segredos da tua voz.
E essa antiga melodia
que o vento na ramaria
murmurava só para nós.
Lembraste daquela vez,
quando eu cantava a teu pés
trovas que não tinham fim.
Quando o luar prateava
e quando a noite orvalhava
as rosas desse jardim.
Jardim distante e incerto,
sinto tão longe e tão perto
o passado que te ensombra,
devaneio e irrealidade,
silêncio, sombras saudade,
saudades silêncio e sombra.
(****) Postes anteriores da série > 29 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9111: O nosso fad...ário (2): Fado Tudo isto é tropa (Gabriel Gonçalves, ex-1º Cabo Cripto, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)
Guiné 63/74 - P9121: Parabéns a você (346): Carlos Schwarz da Silva (Pepito), Director Executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento da Guiné-Bissau
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 26 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9096: Parabéns a você (345): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil Art da CART 2412 (Bigene, Guidage e Barro, 1968/70)
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 26 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9096: Parabéns a você (345): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil Art da CART 2412 (Bigene, Guidage e Barro, 1968/70)
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
Guiné 63/74 – P9120: Memórias de Gabú (José Saúde) (16): Protecção avançada a um avião que trazia novidades…
1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabú) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua série.
PROTECÇÃO AVANÇADA A UM AVIÃO QUE TRAZIA NOVIDADES…
E NÓS LÁ ÍAMOS PARA PROTEGER A ATERRAGEM E A DESCOLAGEM
Dia em que o Capitão me chamava para organizar o grupo e avançar para a protecção à pista, era dia marcado pelo sofrimento. Horas a fio a olhar para o ar, tentando, por outro lado, ouvir os motores dos velhos Noratlas ao longe, era um dilema com o qual o pessoal se debatia quando a obrigação se deparava.
No terreno, e já devidamente instalados, o frenesim do tempo imperava: “Furriel, isto é gozar com a malta!”, confidenciava-me o mais pacato militar. “Uma manhã inteira aqui e até agora avião nem vê-lo!”, adiantava o cabo Rodrigues. “São quase horas do almoço a nós aqui continuamos!”, afirmava o soldado Damásio.
Eu, calmamente, confortava rapaziada com umas dicas avulsas a fim de criar um ambiente entre o grupo.
Num repente começavam-se a ouvir estridentes motores do Noratlas.”Vem aí, bolas, custou mas foi!”, dizia-me o soldado Carvalho com um ar bonacheirão. “Está a fazer-se à pista!”, reforçava o Silva.
Depois de tantas interrogações seguia-se o momento de levantar voo. Tudo corria pelo melhor quando o tempo em terra era rápido. Porém, havia ocasiões que o tempo de espera se prolongava de tal forma que o pessoal desesperava por completo, voltando o trocadilho de acusações face ao sucedido. Problemas que se prendiam com o transporte de feridos que obrigavam a incertezas profundas.
O sorriso voltava quando ouvíamos de novo o reactivar dos motores e a descolagem da aeronave.
Num início de uma noite recebemos ordens para ir iluminar a pista com pequenas candeias imbuídas em gasóleo. Foi um trabalhão enorme! Sabíamos que se tratava de evacuar feridos vindos de Piche. Particularmente não procurei saber ao certo o que se passara. Fomos para o terreno. Todo o grupo foi incansável. Ninguém se escusou à tarefa. A nossa entrega à causa foi determinante para uma aterragem e descolagem calma do avião. Ou seja: para facilitar uma melhor visão ao comandante a bordo no momento da descolagem.
De vez em quando uma candeia apagava-se e prontamente havia um voluntário para contornar o problema.
Os feridos de Piche começaram a chegar. Nós, ansiosos para saber o que se tinha passado, não parávamos na nossa entrega.
À medida que os feridos chegavam à pista trazidos em cima dos Unimog's, fomos tendo conhecimento do acidente.
Dizia-me o Alferes, um dos feridos, que na última saída para o mato e com o grupo nos últimos retoques para saber se tudo estava em ordem, o homem da bazuca descuidou-se, virou a arma e a granada rebentou no meio do pessoal. O atirador teve morte imediata e o resto é o que se via.
Muitos feridos, gritos de dor e de revolta pelo sucedido, tendo em conta que a comissão do Batalhão de Piche já tinha terminado e o pessoal aguardava com alegria o regresso à Metrópole.
Infelizmente o imprevisto aconteceu e a revolta abateu-se sob almas desesperadas!
Eu com um camarada enquanto aguardávamos novas de uma aeronave que tardava
Esperando sinais para a chegada do avião a Gabú
Um abraço a todos os camaradas,
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
Fotos: © José Saúde (2011). Direitos reservados.
Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
___________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
26 DE
NOVEMBRO DE 2011 > Guiné 63/74 –
P9100: Memórias de Gabú (José Saúde) (15): Lavadeiras: duquesas do quartel
Guiné 63/74 - P9119: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (11): Sexo - a quanto obrigas
1. Mensagem do nosso camarada José Ferreira da Silva* (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 28 de Novembro de 2011:
Caros Camaradas
Esta é mais uma história que não gostaria de contar. Para quê falarmos das
misérias e mal-estares que passámos na guerra da Guiné? Porém, seguindo o
princípio do Blogue LG, que nos incentiva a sermos nós a contar as nossas
histórias e, por outro lado, sentindo a necessidade de que tudo deve ficar
registado, junto este testemunho denominado "Sexo - a quanto obrigas".
Um abraço do
Silva da Cart 1689
Outras memórias da minha guerra (11)
Sexo - a quanto obrigas!
O furriel Silveirinha nunca se envolvia em conquistas pontuais com as mulheres nem, tão pouco, era visto a aproveitar algum contacto com as bajudas ou com a sua lavadeira. Portava-se tão bem que elas se deixavam “apanhar” a banhar-se, com ele a olhar. Normalmente dizia que as respeitava porque, quando as via, imaginava a namorada, as irmãs e a sua própria mãe. Por outro lado, sentia muita relutância por causa da falta de higiene. Até porque eram abundantes as notícias de doenças contraídas nesses contactos.
À medida que o tempo ia passando, maior era a sua luta pela abstinência sexual. Ele lia muito, banhava-se mais, rezava bastante e procurava distrair-se permanentemente. Seguramente, tinha um comportamento mais comedido que o de alguns religiosos missionários.
Porém, em conversa com os seus militares mais directos, por vezes, confessava as suas carências e a sua crescente necessidade sexual.
Estávamos em Outubro de 1968. Fomos fazer a coluna de reabastecimento a Nova Lamego, capital do Gabu. Gozava-se de um bom período de paz naquela zona, que era visível no ambiente relativamente alegre que ali se vivia. A povoação, de ruas largas em terra batida e algumas casas de madeira com primeiro andar e varandas, até parecia uma “city” do Texas, nos tempos da corrida ao ouro.
O Soldado Montalegre, também conhecido por Montacabras, depois que um seu vizinho de Boticas o descobriu numa das nossas passagens por Bambadinca, era o terror do sexo oposto. Pelo menos, fama de “montar” não lhe faltava quer na nossa Companhia quer, pelos vistos, naquela região transmontana. Ele tinha ido a Bissau arrancar dois dentes do siso e estava ali há alguns dias, à nossa espera, para regressar a Canquelifá. Como se dava muito bem com o Silveirinha, veio dizer-lhe que estava cansado de tanto foder e que tivera a sorte de apanhar a melhor miúda de Nova Lamego. Acrescentou que, como costumava ir dormir com ela, podia dar-lhe a vez.
À noite foram a um pequeno Bar indígena. O Silveirinha viu aquela miúda linda a sorrir-lhe, não acreditava no que estava a acontecer.
O Montacabras despediu-se e o Silveirinha seguiu logo atrás da miúda. Efectivamente, tratava-se de um “borrachinho” de “mama firme”, bastante jovem, de carnes duras, pele cor negro/bronzeado, com feições arredondadas. Não teria mais que 14 anos. Tinha caído ali, em Nova Lamego, há pouco tempo e, com tanta tropa carente de sexo, ela não tinha tempo para descansar.
A miúda acendeu uma vela, que colou no chão, tirou o vestido amarelado, fino e curto, que era a única peça de roupa que vestia. E ficou nua à frente do Silveirinha. Este, sentado na cama, atrapalhado, não conseguia despir as calças porque se esquecera de descalçar as botas. Quando ele se lançou ao ataque, já a miúda tinha apagado a vela e se estendera na cama.
Depois da "primeira", a moça, que não falava crioulo e que falava uma língua que o Silveirinha não entendia, por gestos, pediu para descansar, porque era evidente o cansaço resultante do desgaste no “emprego” recente. Ela virou-se e ele não esperou muito tempo para ela recuperar.
Faminto como andava, não aguentou a demora e toca a forçar a jovem, para "dar outra". Ela, cansada e com o sono pesado, fazia um esforço enorme para corresponder à volúpia do Silveirinha. Ele descarregou os tomates, mas a miúda já dormia. Entrou em sono profundo.
O Silveirinha ainda voltou ao ataque, mas a jovem nem se mexia. Inclinou-se para a berma da cama e adormeceu também.
Quando acordou, já se sentia uma nesga de claridade. Voltou-se de barriga para cima e começou a reagir à medida que ia despertando. E, quando se apercebeu de que estava com a miúda, excitou-se rapidamente. Voltou-se para ela, que estava de bruços, e deu início a nova investida. Como ela não reagia, puxou-a pelas pernas mais para baixo. Porém, não conseguiu acordá-la. Tentou a penetração e lá concluiu da forma que pôde esta última relação.
Relaxou um pouco e pareceu-lhe estar a despertar de um sonho estranho. Caiu na real. Olhou a parede/divisória marcada de escarros e cuspidelas, levantou-se de repelão e sentiu os joelhos “enlameados” naquele lençol imundo. Pôs-se a pensar que essa “lama” era de outros e que ali nem se podia limpar sequer.
Ficou apavorado. Veio-lhe tudo à cabeça, recuperando assim, todas as suas preocupações e o seu comportamento exemplar.
Largou apressadamente a caminho do Quartel e não descansou enquanto não foi directamente ao chuveiro lavar-se de uma noite que nunca esqueceria.
A partir dali, sempre que se falava em relações sexuais, o Silveirinha não demorava cinco minutos para passar com toalha e sabonete na direcção do chuveiro.
Silva da Cart 1689
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 24 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9087: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (25): O Zé Maria ou as cambanças da nossa geração
Vd- último poste da série de 18 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9056: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (10): O grande choque (2)
Caros Camaradas
Esta é mais uma história que não gostaria de contar. Para quê falarmos das
misérias e mal-estares que passámos na guerra da Guiné? Porém, seguindo o
princípio do Blogue LG, que nos incentiva a sermos nós a contar as nossas
histórias e, por outro lado, sentindo a necessidade de que tudo deve ficar
registado, junto este testemunho denominado "Sexo - a quanto obrigas".
Um abraço do
Silva da Cart 1689
Outras memórias da minha guerra (11)
Sexo - a quanto obrigas!
O furriel Silveirinha nunca se envolvia em conquistas pontuais com as mulheres nem, tão pouco, era visto a aproveitar algum contacto com as bajudas ou com a sua lavadeira. Portava-se tão bem que elas se deixavam “apanhar” a banhar-se, com ele a olhar. Normalmente dizia que as respeitava porque, quando as via, imaginava a namorada, as irmãs e a sua própria mãe. Por outro lado, sentia muita relutância por causa da falta de higiene. Até porque eram abundantes as notícias de doenças contraídas nesses contactos.
À medida que o tempo ia passando, maior era a sua luta pela abstinência sexual. Ele lia muito, banhava-se mais, rezava bastante e procurava distrair-se permanentemente. Seguramente, tinha um comportamento mais comedido que o de alguns religiosos missionários.
Porém, em conversa com os seus militares mais directos, por vezes, confessava as suas carências e a sua crescente necessidade sexual.
Estávamos em Outubro de 1968. Fomos fazer a coluna de reabastecimento a Nova Lamego, capital do Gabu. Gozava-se de um bom período de paz naquela zona, que era visível no ambiente relativamente alegre que ali se vivia. A povoação, de ruas largas em terra batida e algumas casas de madeira com primeiro andar e varandas, até parecia uma “city” do Texas, nos tempos da corrida ao ouro.
O Soldado Montalegre, também conhecido por Montacabras, depois que um seu vizinho de Boticas o descobriu numa das nossas passagens por Bambadinca, era o terror do sexo oposto. Pelo menos, fama de “montar” não lhe faltava quer na nossa Companhia quer, pelos vistos, naquela região transmontana. Ele tinha ido a Bissau arrancar dois dentes do siso e estava ali há alguns dias, à nossa espera, para regressar a Canquelifá. Como se dava muito bem com o Silveirinha, veio dizer-lhe que estava cansado de tanto foder e que tivera a sorte de apanhar a melhor miúda de Nova Lamego. Acrescentou que, como costumava ir dormir com ela, podia dar-lhe a vez.
À noite foram a um pequeno Bar indígena. O Silveirinha viu aquela miúda linda a sorrir-lhe, não acreditava no que estava a acontecer.
O Montacabras despediu-se e o Silveirinha seguiu logo atrás da miúda. Efectivamente, tratava-se de um “borrachinho” de “mama firme”, bastante jovem, de carnes duras, pele cor negro/bronzeado, com feições arredondadas. Não teria mais que 14 anos. Tinha caído ali, em Nova Lamego, há pouco tempo e, com tanta tropa carente de sexo, ela não tinha tempo para descansar.
A miúda acendeu uma vela, que colou no chão, tirou o vestido amarelado, fino e curto, que era a única peça de roupa que vestia. E ficou nua à frente do Silveirinha. Este, sentado na cama, atrapalhado, não conseguia despir as calças porque se esquecera de descalçar as botas. Quando ele se lançou ao ataque, já a miúda tinha apagado a vela e se estendera na cama.
Depois da "primeira", a moça, que não falava crioulo e que falava uma língua que o Silveirinha não entendia, por gestos, pediu para descansar, porque era evidente o cansaço resultante do desgaste no “emprego” recente. Ela virou-se e ele não esperou muito tempo para ela recuperar.
Faminto como andava, não aguentou a demora e toca a forçar a jovem, para "dar outra". Ela, cansada e com o sono pesado, fazia um esforço enorme para corresponder à volúpia do Silveirinha. Ele descarregou os tomates, mas a miúda já dormia. Entrou em sono profundo.
O Silveirinha ainda voltou ao ataque, mas a jovem nem se mexia. Inclinou-se para a berma da cama e adormeceu também.
Quando acordou, já se sentia uma nesga de claridade. Voltou-se de barriga para cima e começou a reagir à medida que ia despertando. E, quando se apercebeu de que estava com a miúda, excitou-se rapidamente. Voltou-se para ela, que estava de bruços, e deu início a nova investida. Como ela não reagia, puxou-a pelas pernas mais para baixo. Porém, não conseguiu acordá-la. Tentou a penetração e lá concluiu da forma que pôde esta última relação.
Relaxou um pouco e pareceu-lhe estar a despertar de um sonho estranho. Caiu na real. Olhou a parede/divisória marcada de escarros e cuspidelas, levantou-se de repelão e sentiu os joelhos “enlameados” naquele lençol imundo. Pôs-se a pensar que essa “lama” era de outros e que ali nem se podia limpar sequer.
Ficou apavorado. Veio-lhe tudo à cabeça, recuperando assim, todas as suas preocupações e o seu comportamento exemplar.
Largou apressadamente a caminho do Quartel e não descansou enquanto não foi directamente ao chuveiro lavar-se de uma noite que nunca esqueceria.
A partir dali, sempre que se falava em relações sexuais, o Silveirinha não demorava cinco minutos para passar com toalha e sabonete na direcção do chuveiro.
Silva da Cart 1689
Fur Mil Silva e o seu vizinho, Alf Mil Armando Alves
Chegada da coluna de reabastecimento a Nova Lamego, a caminho de Canquelifá.
____________Notas de CV:
(*) Vd. poste de 24 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9087: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (25): O Zé Maria ou as cambanças da nossa geração
Vd- último poste da série de 18 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9056: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (10): O grande choque (2)
Marcadores:
BART 1913,
Canquelifá,
CART 1689,
Catió,
Fá Mandinga,
Gandembel,
José Ferreira da Silva,
Outras memórias da minha guerra,
Prostituição,
sexo
Guiné 63/74 - P9118: Contraponto (Alberto Branquinho) (41): (Somos uns) Mal-agradecidos
1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 28 de Novembro de 2011:
Olá Carlos, Boa noite!
Junto vai o texto para o Contraponto (41), fresquinho, acabado de sair.
Abraço
Alberto Branquinho
CONTRAPONTO (41)
MAL-AGRADECIDOS!!
Há três dias que olho atentamente o blogue e nem um agradecimento, uma homenagem, um simples escrito!
Sim, porque a pensão atribuída aos antigos combatentes, bem avantajada nos seus cem (sem?) euros ANUAIS, atribuída por Sua Excelência o (então) Ministro da Defesa Sr. Dr. Paulo Portas, com pompa e circunstância (a pensão, claro!), NÃO vai sofrer qualquer corte no Orçamento de Estado para 2012.
Assim foi anunciado e só quem é surdo não ouviu!
Façam já um abaixo-assinado, atento, venerador e obrigado, seus mal-agradecidos! E enviem-no para as redacções de todos os jornais diários de Lisboa e Porto!
Epílogo
Como o Luís escreveu para nós mandarmos letras de fados, eu conheço o “Fado do 31”, mas só me lembro desta passagem:
“ … como ele não há nenhum
tudo baila e tudo canta
o Fado do 31.
Olarilóléla!
Como ele não há nenhum…
(etc., etc..)”.
(Tenham cuidado com os etc.s!)
Alberto Branquinho
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 27 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8826: Contraponto (Alberto Branquinho) (40): Assim foi o primeiro Encontro da Tabanca de Setúbal
Olá Carlos, Boa noite!
Junto vai o texto para o Contraponto (41), fresquinho, acabado de sair.
Abraço
Alberto Branquinho
CONTRAPONTO (41)
MAL-AGRADECIDOS!!
Há três dias que olho atentamente o blogue e nem um agradecimento, uma homenagem, um simples escrito!
Sim, porque a pensão atribuída aos antigos combatentes, bem avantajada nos seus cem (sem?) euros ANUAIS, atribuída por Sua Excelência o (então) Ministro da Defesa Sr. Dr. Paulo Portas, com pompa e circunstância (a pensão, claro!), NÃO vai sofrer qualquer corte no Orçamento de Estado para 2012.
Assim foi anunciado e só quem é surdo não ouviu!
Façam já um abaixo-assinado, atento, venerador e obrigado, seus mal-agradecidos! E enviem-no para as redacções de todos os jornais diários de Lisboa e Porto!
Epílogo
Como o Luís escreveu para nós mandarmos letras de fados, eu conheço o “Fado do 31”, mas só me lembro desta passagem:
“ … como ele não há nenhum
tudo baila e tudo canta
o Fado do 31.
Olarilóléla!
Como ele não há nenhum…
(etc., etc..)”.
(Tenham cuidado com os etc.s!)
Alberto Branquinho
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 27 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8826: Contraponto (Alberto Branquinho) (40): Assim foi o primeiro Encontro da Tabanca de Setúbal
Guiné 63/74 - P9117: (In)citações (36): Para melhor compreendermos a África... (Artur Augusto Silva, 1963)
Cota: A7/1.3_013.002
Assunto: Província da Guiné, Conselho de Governo, Acta da Sessão de 7 de Julho de 1964 - n.º 2
Membros presentes: Presidente: Governador da Província, Brigadeiro Arnaldo Schulz;
Vogais Eleitos: Mário Lima Wahnon, Dr. Artur Augusto Silva, Joaquim Baticã Ferreira;
Vogais Natos: Secretário-Geral, Inspector Administrativo, James Pinto Bull, Comandante Militar, Brigadeiro, Gaspar Maria Chaves de Sá Carneiro, Delegado substituto do Procurador da República, Dr. Severino Gomes de Pina, Chefe dos Serviços de Fazenda e Contabilidade, Director de 2.ª classe interino, Tomaz Joaquim da Cunha Alves
Secretário: Manuel Trindade Rodrigues Lisboa
Termos de referência: Ordem do dia: projecto de D.L. sobre a entidade a quem competirá o controle da migração de nacionais e estrangeiros; projecto de D.L. aprovando o regulamento de publicidade radiodifundida; projecto de portaria para aprovação do 1.º orçamento suplementar ao ordinário para o ano económico de 1964 dos C.T.T.; projecto de portaria fixando normas, disciplinando o exercício de comércio nas diversas localidades da Província e alterando a Portaria n.º 971, de 1-2-958.
Data: 7.JUL.1964
Tipo de Documento: Actas
Fundo: DIP - Documentos INEP/A7 - Fundo do Gabinete do Governador
INEP / A7-Fundo Gabinete do Governador / 2-Cons. Legislativo e de Governo / Actas
Fonte: Fundação Mário Soares / INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Bissau) (Com a devida vénia...)
1. Pequena homenagem no âmbito de um duplo aniversário: o de um homem (Carlos Schwarz da Silva - Pepito, para os amigos - que fará amanhã 62 anos de vida, vida de um lutador e de um sobrevivente) e o da sua obra (AD - Acção para o Desenvolvimento, de que foi um dos co-fundadores há 20 anos, e de que é o diretor executivo)...
Uma dupla reprodução: por um lado, uma cópia de um ata de uma sessão do Conselho do Governo da Província da Guiné, com data de 7/7/1964, presidida pelo Governador da Província, Brigadeiro Arnaldo Schulz, com a presença do Dr. Artur Augusto Silva, na sua qualidade de vogal eleito...
Desconhecíamos este dado biográfica, o lugar que o pai do Pepito chegou a ter no Conselho do Governo da Província, em 1964 (ao lado régulo manjaco, Joaquim Baticã Ferreira, e de Mário Lima Wahnon), antes de ser preso pela PIDE, em 1966, no aeroporto de Lisboa, e impedido de voltar à Guiné, à terra dos seus antepassados, que ele tanto amou ao ponto de lá ter morrido, em 1983.
Por outro, reprodução de mais um excerto, com a devida vénia do livrinho Pequena viagem através de África, de Artur Augusto da Silva (1912-1983), pp. 15-18 (Originalmente, uma "conferência pronunciada em 1963 no Salão Nobre da Associação Comercial da Guiné, no 46º aniversário da sua fundação", publicado em Bissau, 2009; ed lit, Henrique Schwarz, João Schwarz e Carlos Schawarz). [Os destaques, palavras-chave e realce a cores, é da nossa responsabilidade] (LG)
(…) Para melhor compreendermos a África, torna-se necessário descrever, embora sumariamente, as diversas formas de organização social que a tradição ainda mantém para, em seguida, lançarmos um olhar ao que se está tentando levar a cabo.
Anarquia
O primeiro sistema social, aquele que mais fere a compreensão dos ocidentais, é a anarquia que vigora nalguns povos africanos.
Tomemos, por exemplo, os balantas. A sua organização social corresponde à definição etimológica de anarquia: ausência de governo.
O sistema vigora em todos os agregados africanos de pequenas dimensões — agrupamentos sociais lhes chamaríamos nós — tenham eles por base a família, a religião ou associações de carácter defensivo-ofensivo, como as classes de idade.
O primado das condições materiais é o fulcro da organização anárquica: não existe, nem é necessária, uma autoridade nem força, porque as disputas são reduzidas ao mínimo pela aceitação tácita dos costumes imemoriais.
Sanção: desprezo da comunidade, suicídio, doença e morte, banimento
A desobediência tem como sanção um elemento moral da mais alta transcendência: o desprezo da comunidade. O homem que as sofre, na maioria dos casos, só no suicídio encontra uma fuga para o terrível isolamento em que passa a viver.
Por vezes, pode juntar-se ao desprezo da comunidade uma outra sanção moral, de fundo religioso: a doença e a morte provocadas pelos espíritos dos antepassados que velam pela boa ordem do povo.
Só em caso de extraordinária gravidade é que a colectividade toma uma deliberação extrema: o banimento daquele que infringiu o costume instituído pelos antepassados.
O parentesco ou a ligação em classes de idade é o vínculo que une os homens.
Regulação do(s) conflito(s)
E as próprias lutas dentro da tribo, mais se assemelham a competições desportivas do que a guerras, porque nunca ultrapassam o aspecto desportivo. Veja-se como entre os felupes, por exemplo, quando duas tabancas entram em guerra, logo surge outra tabanca que vai apreciar a luta e não deixa que esta atinja grande crueldade. Quando os árbitros vêm que a contenda toma foros de crueldade, logo intervêm e apaziguam os beligerantes.
Este sistema anárquico não vive, como pretendiam os teorizadores europeus do século passado, de um individualismo sublimado, mas de um comunitarismo onde o indivíduo não existe.
Entre estes grupos anárquicos, não existe nenhum chefe — os balantas e os felupes, por exemplo, não os têm — e o único comando ou regra de vida é o costume legado pelos antepassados.
Poder-me-ão dizer que entre os felupes existe um chefe, «o Aiu». Mais uma observação precipitada daqueles que querem generalizar as nossas instituições a todos os povos.
O Aiu é um chefe que não comanda, nem é obedecido. Limita-se a revelar o costume. Mas porque o costume tem base mística, o Aiu é também o grande revelador.
O poder das crenças religiosas, uma liberdade ampla, uma vida comunitária sólida e uma igualdade de fortuna, mantêm a paz social e a felicidade do povo.
Entre os felupes, há uma palavra comum para designar LIBERDADE, PAZ, FELICIDADE: «kasumeie».
Como acontecia na Roma antiga, tudo o que perturbe a ordem, é considerado um sacrilégio. E sacrilégios são a ambição, a riqueza, a vaidade…
Do regulado ao império
O regime de regulados é outra forma de organização tradicional africana, ainda em vigor, e floresce normalmente nas regiões de estepe ou de savana.
Aí, a necessidade da defesa num ambiente aberto às razias ou algaras, obrigou as famílias a reunirem-se em volta de um chefe simultaneamente político e religioso.
Aliás o binómio temporal-sacral das nossas sociedades é completamente desconhecido em África. Quem detêm o poder temporal, guarda também o poder religioso.
Por vezes, esta poeira de pequenos regulados aglutina-se e surgem os impérios que a história africana regista: do Gana, do Mali, dos Zulus, etc. etc…
As dificuldades da comunicação cedo vêm quebrar a unidade e de novo se volta ao sistema dos regulados.
Quem conhece a história da Europa medieval, facilmente compreenderá este fenómeno. (…)
_________________
Nota do editor:
Último poste da série > 29 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9114: (In)citações (35): Museu Memória de Guiledje, em que a história é o conjunto das histórias de todos (Pepito)
Guiné 63/74 - P9116: Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz (10): Júlio, o pilha-galinhas do Xime
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xime > 1972 > Militares da CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/74), em passeio despreocupado pela tabanca do Xime. O Sousa de Castro, o nosso tertuliano nº 2 (ou o nosso tabanqueiro mais antigo), é o segundo a contar da esquerda para a direita. Por outros arruamentos, três anos antes, também andou a parelha Zé Ferraz-Júlio... (LG)
Foto: © Sousa de Castro (2005) / Blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
1. Mais um história do Zé Ferraz, português radicado nos EUA desde 1970 (vive atualmente em Austin, Texas), ex-Fur Mil Op Esp, CART 1746 (Xime, 1969; CCS/QG, Bissau, 1969/70):
Caríssimo companheiro e camarada Luis: Hoje [,24 do corrente,] estou de folga e tenho passado algumas horas a ler várias histórias. Formidável, o nosso Blogue. Digo nosso, por ousadia...
Quando estava a recordar vendo as fotos da RTX [, Rádio Televisão do Xime,] lembrei-me de outra história do Júlio, homem desenrascado e esperto até dizer chega...Ora bem, havia um acordo tácito de que galinha que entrasse para dentro do arame farpado era nossa e ia para o tacho ...
Júlio, mais do que qualquer outro, era formidavel com a sorte que tinha em apanhar as pobres galinhas ou assim pensava eu até que me dei conta que não era tanta a sorte como a esperteza...
Aqui vai o resto da história: o Júlio numa coluna que fizemos até Bafatá disse-me que ia comprar milho e eu perguntei-lhe:
- Milho?
- Pois, meu furriel, se quer comer galinha ... - E lá foi.
Não pensei mais no milho até que regressámos ao Xime e, no dia seguinte, tínhamos galinha como reforço do rancho... Aí lembrei-me do milho e questionei-o:
- Ó Julio, o que é isso com o milho ?
Diz-me ele com um sorriso de esperto:
- Vê, meu furriel ... - E mostra-me um buraco no bolso dos calções, continuando:
- Encho o bolso de milho, dou um passeio pela tabanca e vou deixando cair o milho... Quando volto cá prá dentro, as galinhas vêem o milho e seguem-me até entrar no quartel. Aí, pumba, e tacho com elas!...
Que eu saiba nunca ninguém na tabanca se deu conta disto e o pessoal balanta reforçava o seu rancho... Ah grande Júio!
Um forte abraço, Zé.
________________
Nota do editor:
Postes anteriores da série < 29 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9110: Se bem me lembro... O bau de memórias do Zé Ferraz (9): E aqui estou eu hoje vivo...
(...) Numa dessa operações de inflitração em território inimigo, [ no subsector do Xime,] com o propósito de destruição dos seus meios de vida, entrámos por uma tabanca em que as cubatas eram de paredes redondas com um poste central que suportava o tecto, e à volta do qual havia uma parede cilíndrica que formava um silo para a bianda [, arroz] (...)
27 de Novembro de 2011> Guiné 63/74 - P9106: Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz (8): O meu colega do Liceu do Oeiras que fui encontrar em Mansambo e em Bambadinca...
(...) Uma vez cheguei a Bambadinca e a minha farda de campanha consistia em calças camufladas, dólman a que tinha cortado as mangas, uma écharpe de seda que havia pertencido a minha mãe; como armamento, a G-3 com a tanga do primeiro turra que lerpei, atada ao tapa-chamas; como galhardete, cinturão sem cartucheiras, um punhal enorme, fula, cujo cabo era um cartucho calibre 50; e cinco granadas de mão. (...)
26 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9101: Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz (7): Um acidente... no Pilão
(...) Um dos meus amigos fixes desse tempo era um furriel miliciano, destacado no Cacheu, que sempre que conseguia desenfiava-se e aparecia em Bissau, quase sempre de madrugada. Abreviadamente, era o A. T....Vinha bater a porta do meu quarto sempre com a burra e o mesmo grito:
- Zé, acorda vamos pró Pilão que as meninas estão à MINHA espera (...).
25 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9095: Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz (6): Não matem a bajudinha...
(...) Falando de acção psicossocial, de que sempre fui partidário, lembrei-me que durante uma operação de penetração ao sul do Xime, aprisionámos 2 elementos IN. Depois de interrogados, guiaram-nos a uma tabanca IN. Fizemos um assalto e durante esse combate ferimos uma miúda, bajuda, com um tiro por detrás do joelho que lhe destroçou a patela [ ou rótula]. (...)
24 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9090: Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz (5): O desenrascanço... na justiça militar!
(...) Quando prestava serviço na CCS/QG em Bissau, uma vez por mês tinha que prestar serviço como sargento da guarda na prisão do QG (à direita da porta d'armas do dito quartel), guarda de honra em funerais locais e ainda montar segurança no Pidjiguiti ao navio de abastecimento quando atracado nas suas fainas. (...)
23 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9084: Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz (4): Quando os nossos soldados indígenas se suicidavam...
(...) Já estava no QG, [em Bissau, em meados de 1969,] quando um dia, por volta do almoço, apareceu lá um jeep da PM [ Polícia Militar]. Queriam falar comigo urgentemente (...)
22 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9080: Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz (3): Hugo Spadafora, o Che Guevara italopanamiano (1940-1985), terá estado no (ou passado pelo) Fiofioli nos idos anos de 1965/67
(...) Da conversa que tive com o Hugo Spadafora, nessa tarde tão interessante, houve de princípio certa reserva da minha parte devido à multitude de emoções que sentia nesse momento. Passado isso, fomo-nos abrindo pouco a pouco e aqui está o que me lembro (...)
21 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9070: Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz (2): Hugo Spadafora (1940-1985), que combateu como médico e guerrilheiro nas fileiras do PAIGC (entre 1965 e 1967), e que encontrei na década de 1980 no Panamá...
(...) Na década de 80, quando era Zone service manager - para a América Central e Caraíbas - da divisão Detroit Diesel Allison da General Motors, ia muitas vezes ao Panamá. (...)
20 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9068: Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz (1): O valente soldado Júlio
(...) Uma manhã ao alvorecer saí do Xime com a minha malta para montar segurança na área do costume, entre o Xime e Amedalai para uma coluna de reabastecimentos que sairia pouco depois. Sem novidades passaram e nós regressamos ao Xime. Essas colunas de reabastecimento de costume regressavam por volta das 3 da tarde. Chegam as três e nada... Quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze e nada. Nunca soube porque os meios rádio nesse dia estavam de rastos e não conseguíamos comunicar com Bambadinca. (...)
Guiné 63/74 - P9115: Agenda Cultural (172): Lançamento do livro A Primeira Derrota de Salazar, de Paulo Aido, dia 1 de Dezembro pelas 17 horas, na Casa de Goa, em Lisboa (Teresa Almeida)
1. A pedido do nossa tertuliana Teresa Almeida (Bibliotecária da Liga dos Combatentes), damos a conhecer o lançamento do livro A Primeira Derrota de Salazar, de autoria de Paulo Aido*, dia 1 de Dezembro pelas 17 horas na Casa de Goa. Narana Coissoró** será o apresentador.
[...] "A Primeira Derrota de Salazar" acompanha os eventos em Goa nos dias do fim desta colónia portuguesa. Lisboa procura, por todos os meios, influenciar os países amigos a interceder a nosso favor contra o colosso indiano, mas, com o passar do tempo, percebe-se que a invasão vai mesmo acontecer. Todos sabem que é impossível vencer militarmente, mas Salazar ordena que só pode haver soldados vitoriosos ou mortos! Nem sequer admite a hipótese da rendição, mas a catástrofe está iminente.[...] Fonte: sítio Zebra Edições.
(*) Paulo Aido tem 49 anos, é jornalista há mais de duas décadas e, actualmente, vereador [,independente,] na Câmara Municipal de Odivelas. É também autor de diversos livros de temática religiosa que se têm revelado verdadeiros bestsellers. É o caso de "A Mensagem da Irmã Lúcia", "O Peregrino de Fátima" e "As Mais Belas Orações", apenas para citar os mais recentes. Em "A Confidente de Sá Carneiro", embora não abdicando do rigor que sempre pautou a sua escrita, assume uma clara mudança de registo, enveredando pela primeira vez pela literatura de memórias biográficas. Fonte: sítio Zebra Edições.
(**) Sobre Narana Coissoró:
Nasceu em Goa a 3 de Outubro de 1931. É um advogado e professor português.
Licenciado em Direito, na Universidade de Coimbra e doutorado pela Universidade de Londres, é advogado, professor catedrático jubilado do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, onde preside ao Instituto do Oriente, e professor catedrático da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Militante histórico do Centro Democrático Social, foi eleito deputado nas I, II, III, IV, V, VI, VIII e IX Legislaturas, liderando o Grupo Parlamentar do CDS, entre 1978 e 1991. Autor de vários livros, é membro da Academia Internacional de Cultura Portuguesa. (...) Fonte: Wikipédia
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 26 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9098: Agenda Cultural (171): Ciclo de Conferências-debate Os Açores e a Guerra do Ultramar - 1961-1974: história e memória(s) (Carlos Cordeiro) (9): Rescaldo da sessão do dia 23 de Novembro de 2011 (Carlos Cordeiro)
CONVITE
[...] "A Primeira Derrota de Salazar" acompanha os eventos em Goa nos dias do fim desta colónia portuguesa. Lisboa procura, por todos os meios, influenciar os países amigos a interceder a nosso favor contra o colosso indiano, mas, com o passar do tempo, percebe-se que a invasão vai mesmo acontecer. Todos sabem que é impossível vencer militarmente, mas Salazar ordena que só pode haver soldados vitoriosos ou mortos! Nem sequer admite a hipótese da rendição, mas a catástrofe está iminente.[...] Fonte: sítio Zebra Edições.
(*) Paulo Aido tem 49 anos, é jornalista há mais de duas décadas e, actualmente, vereador [,independente,] na Câmara Municipal de Odivelas. É também autor de diversos livros de temática religiosa que se têm revelado verdadeiros bestsellers. É o caso de "A Mensagem da Irmã Lúcia", "O Peregrino de Fátima" e "As Mais Belas Orações", apenas para citar os mais recentes. Em "A Confidente de Sá Carneiro", embora não abdicando do rigor que sempre pautou a sua escrita, assume uma clara mudança de registo, enveredando pela primeira vez pela literatura de memórias biográficas. Fonte: sítio Zebra Edições.
(**) Sobre Narana Coissoró:
Nasceu em Goa a 3 de Outubro de 1931. É um advogado e professor português.
Licenciado em Direito, na Universidade de Coimbra e doutorado pela Universidade de Londres, é advogado, professor catedrático jubilado do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, onde preside ao Instituto do Oriente, e professor catedrático da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Militante histórico do Centro Democrático Social, foi eleito deputado nas I, II, III, IV, V, VI, VIII e IX Legislaturas, liderando o Grupo Parlamentar do CDS, entre 1978 e 1991. Autor de vários livros, é membro da Academia Internacional de Cultura Portuguesa. (...) Fonte: Wikipédia
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 26 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9098: Agenda Cultural (171): Ciclo de Conferências-debate Os Açores e a Guerra do Ultramar - 1961-1974: história e memória(s) (Carlos Cordeiro) (9): Rescaldo da sessão do dia 23 de Novembro de 2011 (Carlos Cordeiro)
Subscrever:
Mensagens (Atom)