Gabriel Gonçalves |
(...) Já que estamos em maré de fados, junto um fadinho, de que não sei quem é o autor. Também não me lembro como o aprendi (...), mas é bastante giro, pois retrata bem a nossa triste vida, na tropa!
Já agora, dei-me ao luxo de alterar a última quadra; onde se lê "cuidado" [2º verso da IV quadra], substituí por "azar" e para rimar..."estás a lerpar"!... Achei que era mais giro.
De resto, acho que este fado é anterior ao nosso tempo [de Guiné,] porque fala em botas cardadas. No nosso tempo as botas já não tinham cardas! (...)
2. Renovo aqui o que em tempos escrevi sobre o "Arcanjo São Gabriel" ou "Guê-Guê":
Não sei por que te fizeram arcanjo e santo ... Talvez porque, simbolicamente, nos ajudaste, a nós, operacionais da CCAÇ 12, a dar de beber à dor... e assim nos inunizaste e nos protegeste!
Sempre foste um grande senhor e um camaradão... Com a tua viola e a tua bela voz, animaste muitas das nossas noites, quer no bar de sargentos de Bambadinca, quer também no nosso quarto (conhecido por quarto das 'putas'. como a devida vénia ao Humberto Reis, o autor da expressão: não por elas terem autorização de lá entrar, mas por ser o quarto da rebaldaria, só habitado por anjos e arcanjos: eu, o Humberto Reis, o Tony Levezinho, o Joaquim Fernandes e o José Luís Sousa - o madeirense...). Não era o céu, era o que se podia arranjar mais próximo do céu, naquele cantinho do inferno...
Sempre foste um grande senhor e um camaradão... Com a tua viola e a tua bela voz, animaste muitas das nossas noites, quer no bar de sargentos de Bambadinca, quer também no nosso quarto (conhecido por quarto das 'putas'. como a devida vénia ao Humberto Reis, o autor da expressão: não por elas terem autorização de lá entrar, mas por ser o quarto da rebaldaria, só habitado por anjos e arcanjos: eu, o Humberto Reis, o Tony Levezinho, o Joaquim Fernandes e o José Luís Sousa - o madeirense...). Não era o céu, era o que se podia arranjar mais próximo do céu, naquele cantinho do inferno...
Tenho eu, temos nós, uma dívida de gratidão. para contigo, Guê-Guê! E mais grato ainda te fico por teres salvo e enviado esta letra de fado que tu cantavas, nós cantávamos, nesses tempos, juntamente com outras que já recuperámos e que já fazem (ou vão fazer) parte de O Cancioneiro da Nossa Guerra (**)
É justo lembrar que tu eras, de todos nós, o que tinhas mais "cultura fadista", sendo alfacinha e rapaz vivido...A tua viola e a tua voz animarama muitas noitadas e tainadas em Bambadinca... Muitas ? Aquelas que conseguíamos roubar ao tempo da guerra, do teu serviço cripto e das nossas saídas para o mato, das nossas operações, etc. Não tenho sabido de ti. Dá notícias.
3. Letra fado "Tudo isto é tropa"
Com música de "Tudo isto é fado" (Letra: Aníbal Nazaré; Música: Fernando Carvalho; criação de Amália Rodrigues).[Clicar no atalho para ver e ouvir vídeo no YouTube]
Tudo isto é tropa
I
Perguntaste-me outro dia
O que era a vida militar,
Eu disse que não sabia
Mas estava-te a enganar.
II
Sem saber o que dizia,
Menti-te naquela hora,
Eu disse que não sabia
Mas vou-te dizer agora.
Refrão
Botas cardadas, mal engraxadas, sempre a marchar.
Batendo a pala, como um magala, sem refilar.
Toda a semana, numa má cama, sem ter cachopa.
Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é tropa.
III
Se pensas tomar chuveiro,
E andar bem asseado,
Perde a esperança, companheiro,
Pois vais ser desenganado.
IV
Quando limpas a espingarda,
Quer tenhas ou não cuidado, [azar]
Vais sujar de massa a farda,
E depois ser castigado, [ estás a lerpar].
Refrão
Botas cardadas, etc., etc.
[ Recolha: Gabriel Gonçalves, Lisboa, 2011. Revisão e fixação de texto: LG]
______________
Nota do editor:
(*) Vd. poste de 29 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9111: O nosso fad...ário (2): Fado Tudo isto é tropa (Gabriel Gonçalves, ex-1º Cabo Cripto, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)
(**) Último poste da série > 14 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18921: O Cancioneiro da Nossa Guerra (9): Os bravos de Bambadinca
É justo lembrar que tu eras, de todos nós, o que tinhas mais "cultura fadista", sendo alfacinha e rapaz vivido...A tua viola e a tua voz animarama muitas noitadas e tainadas em Bambadinca... Muitas ? Aquelas que conseguíamos roubar ao tempo da guerra, do teu serviço cripto e das nossas saídas para o mato, das nossas operações, etc. Não tenho sabido de ti. Dá notícias.
3. Letra fado "Tudo isto é tropa"
Com música de "Tudo isto é fado" (Letra: Aníbal Nazaré; Música: Fernando Carvalho; criação de Amália Rodrigues).[Clicar no atalho para ver e ouvir vídeo no YouTube]
Tudo isto é tropa
I
Perguntaste-me outro dia
O que era a vida militar,
Eu disse que não sabia
Mas estava-te a enganar.
II
Sem saber o que dizia,
Menti-te naquela hora,
Eu disse que não sabia
Mas vou-te dizer agora.
Refrão
Botas cardadas, mal engraxadas, sempre a marchar.
Batendo a pala, como um magala, sem refilar.
Toda a semana, numa má cama, sem ter cachopa.
Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é tropa.
III
Se pensas tomar chuveiro,
E andar bem asseado,
Perde a esperança, companheiro,
Pois vais ser desenganado.
IV
Quando limpas a espingarda,
Quer tenhas ou não cuidado, [azar]
Vais sujar de massa a farda,
E depois ser castigado, [ estás a lerpar].
Refrão
Botas cardadas, etc., etc.
[ Recolha: Gabriel Gonçalves, Lisboa, 2011. Revisão e fixação de texto: LG]
Nota do editor:
(*) Vd. poste de 29 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9111: O nosso fad...ário (2): Fado Tudo isto é tropa (Gabriel Gonçalves, ex-1º Cabo Cripto, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)
(**) Último poste da série > 14 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18921: O Cancioneiro da Nossa Guerra (9): Os bravos de Bambadinca