segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20461: E os nossos assobios vão para... (2): A Liga dos Combatentes... O nome do infortunado ex-alf mil pilav Francisco Lopes Manso (1944-1970) ainda não consta do sítio da Liga dos Combatentes... Morreu em 25/7/1970, quando o heli AL III se despenhou nas águas do Rio Mansoa, transportando 4 deputados e um oficial do exército. O seu corpo nunca apareceu (António Martins de Matos / Luís Graça)



Pesquisa no sítio da Liga dos Combatentes > Mortos do Ultramar > Aparece o nome do infortunado cap cav José Carvalho de Andrade, mas não a do alf mil pil Francisco Lopes Manso, ambos mortos no acidente do helicóptero AL III que se despenhou no rio Mansoa, em 25/1970, quando regressava, de Teixeira Pinto para Bissau, com 4 deputados da Assembleia Nacional, em  digressão pela província da Guiné. Morrem todos os 6 ocupantes da aeronave. O corpo do nosso camarada Francisco Lopes Manso nunca foi encontrado.


1. Comentário de António Martins de Matos [, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74; ten gen pilav ref António Martins de Matos, membro da nossa Tabanca Grande (desde 2008, com cerca de uma centena  de referências no nosso blogue), autor do livro de memórias "Voando sobre um Ninho de Strelas" (Lisboa: BooksFactory, 2018, 375.pp.)]  [, foto atual à esquerda] (*)

Francisco Lopes Manso [1944-1970] foi um Camarada do meu Curso da Academia Militar, fazendo parte do Tirocínio de Piloto Aviador em Sintra (1968-69).

Por motivos de ordem pessoal resolveu desistir do Curso, acabando mais tarde, e já como Oficial Miliciano, a ser brevetado em helicópteros (Brevet Militar nº 1309).

Mobilizado para a Guiné, aí se manteve até ao fatídico acidente de 25-07-70.

Passados que foram 35 anos depois da sua morte na Guiné, o seu nome continuava a estar ausente na 
parede do Monumento em Belém, que referia:

" À MEMÓRIA DE TODOS OS SOLDADOS QUE MORRERAM AO SERVIÇO DE PORTUGAL”.

A esse propósito escrevi no meu livro “Voando sobre um Ninho de Strelas” [Lisboa: BooksFactory, 2018], a páginas 263:
Eu sei que é um trabalho complexo e moroso, mas também, que diacho, já se passaram mais de vinte anos desde a sua inauguração…

… E certamente não compete às famílias dos militares o andarem a alertar as autoridades para as respectivas falhas e a solicitarem a inclusão deste ou daquele nome!!!

Não sei se já lhe aconteceu, pela minha parte já passei pela vergonha de ser confrontado pela viúva de um camarada do meu curso que morreu na Guiné em 25Jul70, aos comandos de um AL-III. A senhora foi visitar o Monumento, o nome do seu marido não constava. Ui, de quem foi a falha????
…. ficou-me a dúvida se teria sido do Gago Coutinho ou do Sacadura Cabral.

O caso até tinha vindo nos jornais, 4 deputados em visita à Guiné tinham falecido num acidente de helicóptero.

Consultado o site da Liga dos Combatentes… também nada constava, ainda hoje o nome do piloto e o do eventual mecânico do AL-III continuam ausentes.

Safou-se um capitão de cavalaria, oficial de ligação e que acompanhava os Deputados, tem lá o nome, devia ser ele que ia a pilotar…

No final desta história, e depois de algumas lutas com várias entidades, finalmente lá chamaram um pedreiro e acrescentaram uma adenda ao Monumento.

A viúva já pode sorrir, o seu Francisco já tem o nome inscrito lá na parede de mármore. Mas, aqui que ninguém nos ouve, oxalá se dê por satisfeita e não queira ir consultar o site da Liga dos Combatentes.

A terminar:

A parede do Monumento já foi corrigida, mas, na Liga dos Combatentes, hoje, 15Dez19, continuam sem saber quem foi o meu amigo Manso.

Cumprimentos
AMM

2. Não gostamos de "assobios" (*), e muito menos de "pateadas", ou seja, de manifestações ruidosas dos nossos desagrados a relação a instituições, castrenses ou outras, que, em princípio, merecem o nosso respeito e apreço como é o caso da Liga dos Combatentes. Mas,  desta vez, parece que não temos alternativa... A Liga vai apanhar uma "assobiadela" (**)...

De facto, comprovámos, hoje mesmo,  o que o nosso camarada António Martins de Matos diz acima: o nome do saudoso alf mil pil Francisco Lopes Manso (que já consta, finalmente, no memorial, em Belém, aos mortos da Guerra do Ultramar), ainda não figura no sítio da Liga dos Combatentes... Admitamos que é um mero lapso técnico... Mas, bolas!,  é um lapso que,   ao fim destes anos, quase meio século do trágico acidente no rio Mansoa, ainda está por corrigir...

É verdade que o seu corpo nunca apareceu, contrariamente aos corpos dos 4 deputados e do oficial do exército que os acompanhava.  Mas o seu nome sempre constou na lista dos falecidos da Força Aérea no Arquivo Histórico da FAP. (***(

PS - Já aqui explicámos que o Jorge Caiano, mecânico do alf pilav Manso trocou de lugar, à última hora, com o cap cav Andrade, que acompanhava os deputados. Essa troca salvou-lhe a vida.  Ele vive (ou vivia, há 10 anos atrás, ) em Toronto, Canadá (***)
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Notas do editor:

(*) 15 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20458: Recortes de imprensa (108): A morte dos quatro deputados à Assembleia Nacional, em visita ao CTIG, no acidente de helicóptero, em 25/7/1970 ("Diário de Lisboa", 26/7/1970)

(**) Último poste da série > 18 de junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2958: E os nossos assobios vão para... (1): Um embaixador que não honra Portugal... (Luís Graça / Pepito)

(***) Vd. poste de 10 de fevereiro  de 2009 > Guiné 63/74 - P3866: FAP (7): Troca de lugar no ALL III salvou-me a vida, em 25 de Julho de 1970 (Jorge Caiano, mecânico do Alf Pilav Manso)

(...) Por decisão do comandante da esquadrilha, o Cap Pilav Cubas, e aparentemente por uma questão de peso, o Caiano seguiu com ele e não com o Alf Manso, na viagem de regresso a Bissau... (Em princípio, era aos mecânicos que competia avaliar o peso dos helis. Mas neste caso, o Jorge teve que seguir as ordens do seu comandante.)

Ia o Manso à esquerda, o Cubas ao meio, o Coelho, à direita. Os três helis voavam em formação quando foram apanhados por uma tempestade tropical. Havia muito pouca visibilidade. Mas deu para ele, Jorge Canao, se aperceber de uma pequena explosão ("uma chama") no interior do heli do Manso. Segundo a sua teoria, o passageiro ao lado do piloto (um dos deputados ? o oficial do Exército ?) deve ter accionado a alavanca do gás (sic). Por inadvertência ou pânico...

O Manso, que era "periquito" (tinha chegado há dois meses), deve ter perdido o controlo da situação...

O Jorge Caiano foi testemunha deste caso em tribunal militar. E lembra que, a partir daí, a FAP proibiu que os passageiros viajassem, nos helis, ao lado do piloto, no lugar do mecânico. Os oficiais do Exército (e sobretudo os oficiais superiores) gostavam muito desse lugar por que tinha uma vista panorâmica. Via-se muito melhor a paisagem....

O heli do Manso despenhou-se no Rio Mansoa, "por volta das 15 horas", do dia 25 de Julho de 1970 (não parece ter dúvidas sobre a data), tendo morrido ou desaparecido 4 deputados da Nação (incluindo o Dr. Pinto Leite, chefe da chamada ala liberal da então Assembleia Nacional), além do Manso e de um oficial do exército do QG. Um dos deputados era o guineense Pinto Bull, que também tinha um filho, mecânico da FAP, a cumprir o serviço militar na Guiné (Bissalanca, BA12). Por sua vez, a mulher do piloto era pressuposto chegar de Lisboa, no dia seguinte.

O Jorge confessa que deve a vida ao destino, à troca de lugar, imposta pelo Cap Pilav Cubas. Essa foi a razão por que ainda hoje está vivo, diz ele, do outro lado do telefone... E acredita que o destino marca a hora. Este acidente de guerra marcou-o para toda a vida. (...)


Vd. também, entre outros, o poste de 11 de fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3875: FAP (8): O meu saudoso amigo e camarada Francisco Lopes Manso (Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref)

Guiné 61/74 - P20460: Notas de leitura (1246): “Capim Rubro”, de José Monteiro; Chiado Books, 2018 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Dezembro de 2019:

Queridos amigos,
Não se discute o empenho didático do autor que, do princípio ao fim da sua obra de ficção nos dá apontamentos sobre a instrução na recruta e na especialidade, o que é um aerograma, onde se situa a Guiné, como eclodiu a guerrilha, as etnias existentes, o pormenor das operações, vê-se claramente que se documentou, o que é questionável é o modo como entremeia um acervo de dados consabidos no evoluir da trama.
Alude-se nesta obra de ficção a um drama vivido na região de Fulacunda, o desaparecimento, em plena atividade operacional, de um alferes e um conjunto de militares, seguramente uma das histórias mais dramáticas que se viveu naquele teatro de operações.
Mais um livro autobiográfico, certamente bem intencionado, talvez para que aqueles militares que andaram por Fulacunda e perto do Morés tenham mais um rosário de recordações ao seu dispor.

Um abraço do
Mário


Novamente, com rumo a Fulacunda e depois ao Morés

Beja Santos

“Capim Rubro”, de José Monteiro, Chiado Books, 2018, apresenta-se como uma obra de ficção, tem como palco a guerra de Guiné entre 1965 e 1967, o leitor, em dado momento, constatará existirem claras aproximações com a obra de Rui Alexandrino Ferreira “Rumo a Fulacunda”, obra a que aqui já se fez recensão.

Tudo começa com uma visita, em maio de 1968, do Furriel Silveira à aldeia de António Ribeiro, não longe de Lamego, e antes de sabermos as razões que o ali levam, retornamos ao passado, António dos Santos Ribeiro está em Estremoz, é informado que vai gozar dez dias de férias e depois apresenta-se no Regimento de Infantaria 2, onde irá formar-se o seu Batalhão. António Ribeiro é conhecido pelo 127. Segue-se a paixão assolapada entre o mancebo e a sua apaixonada, Maria do Céu. Com o sangue a ferver, ambos perdem as estribeiras num local chamado a “Pedra da Moura”, António irá para a Guiné, a Maria do Céu ficará grávida enquanto António anda por Abrantes e o Campo Militar de Santa Margarida. Estamos em 31 de julho de 1965, o Batalhão parte para a Guiné a bordo do Niassa. António vai conversar com o Capelão, o Padre Miguel Sampaio, primo direito da sua Maria do Céu, é um capelão muito original, só fala aos palavrões, talvez porque vai a caminho da sua segunda comissão na Guiné, o bispo não o quer a paroquiar, andou envolvido com uma senhora casada. Estamos em agosto de 1965, o autor entremeia a narrativa com dados da vida guineense. Vão a caminho de Santa Luzia, passaram em frente da capela mortuária em cujo interior se amontoava uma pilha de caixões a aguardar barco para Lisboa. Começa a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional, um soldado dispara inadvertidamente e atinge mortalmente um companheiro. É a primeira baixa.

Na Cervejaria Bento, o Alferes Varela de Castro disserta sobre o Estatuto do Indigenato, é uma alocução em que ele diz que a guerra colonial foi resultado lógico e natural da conjugação de dois fatores: imobilismo e intransigência do Estado Novo sobre a questão colonial; incapacidade de negociação para responder aos apelos de negociação, repetidas vezes feitos pelos movimentos de libertação. O Furriel Silveira assiste a toda esta exposição e pensa que existe motivação séria para um povo reclamar a sua libertação e definir o seu destino coletivo.

Maria do Céu é maltratada pelos seus pais, é bem acolhida pelos pais de António, este embarca rumo a Fulacunda, os bens dos militares chegam praticamente deteriorados, houvera muita chuva, as malas de cartão prensado desfaziam-se, tudo quanto era papel tornou-se em pasta pegajosa. Descreve-se Fulacunda, começa a atividade operacional, em setembro ocorre a primeira incursão a uma base do PAIGC, é o batismo de fogo, destrói-se o acampamento. Em outubro, durante uma operação, sucede o impensável, o Alferes Varela de Castro desaparece com mais cinco militares, sucedem-se as tentativas de encontrar os desaparecidos à volta de Gamol, onde a tragédia ocorrera (a tal propósito, tem bastante utilidade ler a obra de Rui Alexandrino Ferreira, é um documento pungente em que se procura recriar o drama daqueles homens perdidos dentro da mata e perseguidos pelas forças do PAIGC). Para substituir o malogrado Varela de Castro chegou o Alferes Miliciano Rodrigo, inicialmente recebido de forma fria, quase hostil. Rodrigo ir-se-á impondo, definiu uma estratégia de aproximação, irá ganhar a confiança de todos. Continuam as operações, apreende-se armamento, as abelhas atacam, há mortos e feridos.

O autor não poupa o Capitão Cordeiro, Comandante de Companhia, um manhoso que tudo faz para ser evacuado. Tivera uma ligeira fratura de costelas na queda de um cavalo, preparou a atmosfera para voltar a cair, acabou por ser evacuado para o Hospital Militar de Bissau, em Lisboa tratou da vidinha, reformou-se.
Como escreve o autor:  
“O capitão Mário dos Santos Sobral Cordeiro, no exercício das suas funções do comando no CTI, em plena zona de forte ação da guerrilha, no local em que, com a sua companhia, em plena zona de campanha, montou uma emboscada às tropas inimigas, caiu desamparadamente numa ravina, agravando, de forma irreversível, lesões anteriormente sofridas em duas costelas. E assim se livrou de Fulacunda, se livrou da Guiné e se livrou definitivamente da guerra”.

A Companhia sai de Fulacunda no início de janeiro de 1966, nova conversa entre António Ribeiro e o Padre Sampaio, o palavrão ferve. António parte para Bissorã, é a sede do seu Batalhão. Multiplicam-se as missões, por exemplo, manter a segurança à ponte de Braia, no caminho de Mansoa para Bissorã. A amizade entre o Furriel Silveira e António Ribeiro cresce com o tempo. Há as escoltas a Cutia, bom pretexto para António rever o capelão. Assim se passou o primeiro ano de guerra e inopinadamente há uma forte emboscada entre Mansoa e Bissorã, o Alferes Rodrigo é agora um verdadeiro exemplo de dedicação aos seus homens.

Nasce o filho de Maria do Céu e António, é uma menina. António está delirante, as operações prosseguem. Vamos saber tudo sobre o currículo do Padre Sampaio, de seu nome Miguel dos Santos Almeida Sampaio, e do adultério que o senhor bispo puniu. São frequentes os encontros entre António e o capelão, tudo regado a uísques no clube Os Balantas, em Mansoa. Segue-se a descrição dos quartos-de-final do campeonato mundial de futebol de 1966, entre a Coreia do Norte e Portugal e saltamos para a ponte de Uaque onde um grupo de guerrilheiros do PAIGC ataca furiosamente.
E aqui nos fica um texto, da melhor prosa que se encontra ao longo destas quinhentas páginas:
“Aparentemente não era coisa grave, apenas um pequeno orifício, onde se tinha alojado um estilhaço.
Contudo, por esse minúsculo orifício começou a perder massa encefálica, foi ficando pálido, quedou-se nos movimentos, perdeu a voz, toldou-se-lhe a vista.
Natural de uma pequena aldeia das proximidades de Aveiro, pensou na beleza do pôr-do-sol espraiando-se mansamente na ria. Como por magia, a lona da maca em que se encontrava deitado, foi-se transformando num espelho de água, refulgente de luz, de quando em vez entrecortado pela passagem ritmada e dolente de um moliceiro, como ele aflito e afoito, que na sua profusão de cores deixava nas águas da ria um rasto de rara beleza.
Por breves momentos, recordou a arte da xávega e, numa dolência que já não controlava, recuou aos seus tempos de menino e viu seu pai vestido de camisa branca e curta, feita de estopa, manaia e barrete preto de malha, apanhando o moliço.
Pensou no resto da família. Depois, sem um único gemido, no rosto antes queimado pelo sol e pela maresia, começaram a correr-lhe, ritmada e silenciosamente, lágrimas sofridas. Pensou na namorada, nos sonhos que ambos tinham para concretizar. A cara marfínea em agonia a coalhar de vítreo os olhos glaucos, alguns espasmos e, traiçoeira e injusta, a morte levou-o”.

Não se pode roubar ao leitor a curiosidade em desvendar a trama final, o que aproxima e pode afastar estes dois amigos, Silveira e António.
Intuitivamente, e nada mais, fica-nos a ideia que Silveira é o alter-ego de José Monteiro.
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20448: Notas de leitura (1245): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (36) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20459: Recortes de imprensa (109): Ainda o acidente de helicóptero, de 25/7/1970, no CTIG, em que morreram 4 deputados e 2 camaradas nossos... No dia em que Salazar morreu, ainda não se sabia que o aparelho tinha caído no rio Mansoa ("Diário de Lisboa", 27/7/1970)






Recortes da primeira página do "Diário de Lisboa", nº 17097Ano: 50, Segunda, 27 de Jjulho de 1970, 1ª edição (Director: António Ruella Ramos).

Citação:
(1970), "Diário de Lisboa", nº 17097, Ano 50, Segunda, 27 de Julho de 1970, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_6808 (2019-12-16)
Reprodução, com a devida vénia:

Fonte: Casa Comum
Instituição:
Fundação Mário Soares
Pasta: 06616.154.24969
Título: Diário de LisboaNúmero: 17097Ano: 50Data: Segunda, 27 de Julho de 1970Directores: Director: António Ruella RamosEdição: 1ª ediçãoObservações: Inclui supl. "Desporto".Fundo: DRR - Documentos Ruella RamosTipo Documental: IMPRENSA

1. Salazar morria às 9h15 do dia 27 de julho de 1970, segunda feira, na Casa de Saúde da Cruz Vermelha. O funeral foi marcado para quinta feira, em Santa Comba Dão, sua terra natal. 

Entretanto, na Guiné prosseguiam intensas buscas, mobilizando "milhares de soldados de todas as armas, auxiliados pelas populações locais" (,segundo notícia dfa ANI),  nas imediações do Rio Mansoa, na zona  em que se presumia que tivesse caido o helocópterio, pilotado pelo alf mil Francisco Lopes Manso. e que transportava 4 deputados da Assembleia Nacional, em visita ao CTIG  (James Pinto Bull,  Pinto Leite,Leonardo Coimbra e José Vicente Abreu) mais um capitão do exército (cap cav José Carvalho de Andrade), que os acompanhava. O helicóptero, com mais outros dois, vinha de Teixeira Pinto para Bissau quando terá sido apanhado por um violento tornado.

Durante o resto do mês de julho não haverá mais notícias, no "Diário de Lisboa",  sobre este "acidente" na Guiné...
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Nota do editor:

domingo, 15 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20458: Recortes de imprensa (108): A morte dos quatro deputados à Assembleia Nacional, em visita ao CTIG, no acidente de helicóptero, em 25/7/1970 ("Diário de Lisboa", 26/7/1970)





Notícia de primeira página do "Diário de Lisboa", nº 17096, ano 50,  domingo Domingo, 26 de Julho de 1970, 1ª edição.(Diretor: António Ruella Ramos). Edição, obviamente, visada pel censura...

Citação:

(1970), "Diário de Lisboa", nº 17096, Ano 50, Domingo, 26 de Julho de 1970, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_6804 (2019-12-13)

Fonte:

Casa Comum
Instituição: Fundação Mário Soares~
Pasta: 06616.154.24967
Título: Diário de Lisboa
Número: 17096
Ano: 50
Data: Domingo, 26 de Julho de 1970
Directores: Director: António Ruella Ramos
Edição: 1ª edição
Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos
Tipo Documental: IMPRENSA

 1. Era o tempo em que não havia internet, blogues, Facebook, redes sociais e a imprensa (rádio, TV e jornais) estavam sujeitos à censura (agora rebatizada com um eufemismo: "exame prévio").  E a comunicação era num só sentido, unilateral, de cima para baixo. 

Da guerra em África só se sabia aquilo que os soldados escreviam nos aerogramas para as famílias, ou que contavam quando vinham de férias ou depois de passarem à peluda.  Claro, havia a imprensa internacional, a BBC, etc., que só chegava a alguns, privilegiados. Havia a propaganda dos movimentos nacionalistas. Havia a boataria. Havia a contra-propaganda... E havia os comunicados das Forças Armadas.  A informação oficial e oficiosa era canalizada  pela Secretaria de Estado da Informação e Turismo. Chegava aos jornais sob a forma de "comunicados", lacónicos demais para se poder criar confiança no leitor, crítico e independente...  Não havia opinião pública, desgraçadamente, num país como o nosso.

Uma notícia como esta, publicada na primeira página do "Diário de Lisboa", de 26/7/1970, era susceptível de ter várias leituras (*) e dar origem aos mais desconcertados e desconcertantes boatos. Não havia liberdade de imprensa nem investigação independente. Era o tempo da "evolução na continuidade"... da ditadura.

Neste caso, temos um "comunicado da província da Guiné" (sic) a  dar conta de um grave acidente de helicóptero que transportavam  dois militares e quatro deputados à Assembleia da República que estavam a acabar uma visita ao interior do território... Eram eles os deputados James Pinto Bull, José Pedro Pinto Leite, Leonardo Coimbra e José Vicente de Abreu.  Os três primeiros eram "doutores" e o último era "senhor".

Saberemos depois que a aeronave, que serviu de caixão aos nossos seis compatriotas (, dois dos quais nossos camaradas de armas,) acabará por ser encontrada, dias depois,  no fundo do Rio Mansoa, ou melhor na foz de um dos seus afluentes, o rio Baboque  (**).

Era o tempo em que era governador da Guiné o general Spínola, acumulando com o cargo de comandante-chefe. Era um homem poderoso e, em geral, amado pelos seus homens e admirado por muitos "guinéus". Não sabemos quantos o amavam: nunca foi feito nenhuma referendo ou plebiscito. Seria interessante ele poder ter disputado  eleições, livres, como na livre Inglaterra, com o Amílcar Cabral, que ainda não tinha sido assassinado. (E nunca saberemos às ordens de quem, diga-se "en passant".)

Quem sabe hoje, os nossos filhos e netos, quem foi José Pedro Maria Anjos Pinto Leite (Cascais, 1932 - Guiné, 1970) ?  Acreditou, em 1969, na "Primavera Marcelista", ou seja, que era possível reformar, "por dentro", o velho Estado Novo... Foi eleito  deputado à "Assembleia Nacional", para rapidamente se converter no líder da chamada "Ala Liberal". Morreu ingloriamente na Guiné, aos 38 anos,  neste desastre de helicóptero, nas proximidades de uma ilha chamada Lisboa (que fica no estuário do rio Mansoa).

Sucedeu-lhe Francisco Sá Carneiro (Porto, 1934 - Loures, 1980) à frente dessa quixotesca ala liberal, que quis, contra a extrema-direita do regime,  democratizar o  corporativo e autoritário Estado Novo. Estranha, sinistra,  coincidência: Sá Carneiro irá morrer igualmente num desastre de avião em circunstâncias que nunca virão a ser cabalmente esclarecidas: falha humana. erro técnico, atentado...

Estranho país este, o que coube em sorte a Pinto Leite e a Sá Carneiro que foram bons (senão dos melhores) portugueses do seu tempo... LG
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Notas do editor:

(*) Último poste da série  > 8 de dezenbro de  2019 > Guiné 61/74 - P20428: Recortes de imprensa (107): Homenagem, em Ribamar, Lourinhã, aos 23 pescadores, de um total de 38 mortos, que ficaram insepultos no mar nos últimos 50 anos ("Alvorada", 15 de novembro de 2019)

Guiné 61/74 - P20457: Blogpoesia (650): "Igreja Matriz", "Palavras perdidas" e "Diametralmente oposto", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana, que continuamos a publicar com prazer:


Igreja Matriz

Igreja velhinha de pedra, lavada
Das chuvas e neves mortais,
Erguida no pé de um monte que a natureza ergueu.
Torre sineira, esguia, ostentando a cruz,
Fonte de bênçãos.
Aldeia singela, perdida, nos longes da serra,
Longe do mar.
Banhada de sol e de azul.
Terra das gentes singelas.
Vivem do pão e do vinho
Que a terra lhes dá.
Sabem de cor as horas do dia,
Banhado de sol.
Puxam a pé seus carros de bois
Com lenha seca dos montes.
Aquecem o lar e cozem o pão.
Lavram os campos com arados e raviças de aço.
Colhem e secam as ceifas nas medas e eiras ao sol.
Festejam os santos e fazem promessas,
Rogando as bênçãos,
Afastados do mundo, mas voltados para Deus

Berlim, 8 de Dezembro de 2019
9h12m
Jlmg

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Palavras perdidas

Como folhas secas, cobrem o chão as palavras que os costumes e a moda desmaiou.
Perderam o sentido.
O tempo o matou.
Diversos os valores.
Diversas as cores que, hoje,
Vestem a vida.
Por vezes, inversas.
Se baralharam as palavras que os traduziam.
Definharam. Perdidas,
Jazem mortas no chão.
Tempos avessos. Os tempos modernos.
Modernidade estéril, utilitarista e Edonista.
Apegou-se ao estrangeiro.
Ergueu-se uma fronteira entre
Os maiores e a gente moderna.
Por isso morreram.
Não serviam para nada.

Berlim, 10 de Dezembro de 2019
13h20m
Jlmg

********************

Diametralmente oposto

Este mundo moderno atingiu alturas de desenvolvimento técnico impensáveis face às origens primitivas.
Se infiltrou nas profundidades dos saberes.
Dentro e fora do nosso corpo.
Perscrutou segredos na constituição da matéria e da vida quase divinos.
Se alcandorou aos remotos escaninhos do universo.
Trepou à Lua e Marte.
Viu a Terra doce e azul, uma bolinha a vaguear no mar do céu como as estrelas e os astros.

Mas errou na rota de valores que elegeu para viver.
Se prendeu à lama das riquezas ilusórias.
Ergueu altares ao deus-dinheiro e ao capital.
É cruel com os mais fracos e desprotegidos.
Abandona náufragos enquanto se banqueteia lautamente em palácios de vergonhosa ostentação.
Tomou o rumo diametralmente oposto ao da vontade de quem o criou...

Ouvindo Schubert
Berlim, 14 de Dezembro de 2019
10h17m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20426: Blogpoesia (649): "África negra das ventanias e vendavais", "Nem com Wagner..." e "Cataratas da minha terra", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P20456: Feliz Natal de 2019 e Bom Ano Novo de 2020 (5): Jorge Araújo (ex-fur mil op esp / ranger, Xime e Mansambo, 1972/74)





Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, 
CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, 
indigitado régulo da Tabanca de Almada; régulo da Tabanca dos Emiratos; 
tem 234 referências no nosso blogue: nosso coeditor
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Nota do editor:

Vd. postes anteriores:




Guiné 61/74 – P20455: Agenda cultural (719): Fotos da sessão de lançamento do livro do José Saúde, “Um Ranger na Guerra Colonial: Guiné-Bissau 1973/74: Memórias de Gabu”, Beja, 10 de dezembro de 2019


Foto nº 1 > José Saúde com o sub-comandante do Regimento de Infantaria 1 de Beja, tenente-coronel Pratas e outros militares da unidade militar que o acompanharam; 


Foto nº 2 >   De ranger para ranger, José Saúde com o tenente-coronel Pratas


 Foto nº 3 >  A mesa formada por: (da esquerda para a direita)  dr.ª Paula Santos, diretora da Biblioteca Municipal José Saramago de Beja; Comandante de Mar e Guerra Almada Contreiras, um militar que integrou o MFA aquando a Revolução dos Cravos, 25 de Abril; Luís Godinho, diretor do Diário do Alentejo;  José Saúde, autor da obra;  e Fernando Mão de Ferro, editor da Colibri; 


Foto nº 4 >  O José Saúde, com o major Pereira, presidente do Núcleo dos Combatentes de Beja


Foto nº 5 > Troca de conversa no final da sessão


Foto nº 6 > O escritor José Saúde junto ao cartaz que anunciava o evento


Foto  nº 7  > José Saúde com Fernando Mão de Ferro, editor da Colibri.

Beja > Biblioteca Municipal José Saramago > 10 de dezembro de 2019 > 21h30 > Fotos da sessão de lançamento do livro do José Saúde, “Um Ranger na Guerra Colonial: Guiné-Bissau 1973/74:  Memórias de Gabu”.

Fotos (e legendas): © José Saúde  (2019). Todos os direitos reservados. [Edição; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Reveja-se aqui a ficha técnica do livro:

Autor: José Saúde
Título: Um ranger na guerra colonial: Guiné-Bissau, 1973-1974: memórias de Gabu
Editora: Colibri, Lisboa
Ano: 2019
Capa: capa mole
Tipo: Livro
N. páginas: 220, ilustradas
Género: Memórias / autobiografia
Prefácio: Luís Graça
Formato: 23x16
ISBN: 9789896899158
Preço de capa: 16 €


2. Luís Graça, editor do nosso blogue, escreveu no prefácio a esta obra, o nono livro do autor:

(...) O José Saúde, desportista e jornalista, é também o exemplo de um "coraçºão grande", de um grande lutador, de um grande sobrevivente e de um grande comunicador. Bastaria ler a sua história de vida e os seus livros “AVC – Acidente Vascular Cerebral na Primeira Pessoa” (Estarreja: Mel Editores, 2009, 162 pp.), ou AVC Recuperação do Guerreiro da Liberdade (Chiado Editora, 2017, 179 pp). 

Com o seu nono livro, agora dado à estampa e complementado com novas narrativas, ele não vem (nem precisa de) provar nada a si próprio nem aos outros: vem apenas confessar que viveu, que viveu momentos difíceis mas também bonitos e solidários no seu Gabu, na sua Guiné, naquela terra verde e vermelha, por cuja sorte o seu bom coração, de alentejano e português, ainda continua a bater. (...)
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Guiné 61/74 - P20454: Parabéns a você (1723): Francisco Santos, ex-1.º Cabo Condutor Radiotelegrafista da CCAÇ 557 (Guiné, 1963/65) e Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494 (Guiné, 1971/74)


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Nota do editor

Último poste da série de 14 de Dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20449: Parabéns a você (1722): José Vargues, ex-1.º Cabo Escriturário do BART 733 (Guiné, 1964/66)

sábado, 14 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20453: Feliz Natal de 2019 e Bom Ano Novo de 2020 (4): Mário Gaspar (ex-fur mil art, MA, Cart 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)



Votos de Mário Vitorino Gaspar



(ex-fur mil art, minas e armadilhas,   
CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68; 
tem mais de 110 referências no blogue)

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Nota do editor:

Último poste da série >  13 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20447: Feliz Natal de 2019 e Bom Ano Novo de 2020 (3): "Festas Felizes. Até ao meu regresso!"... Era assim há 50 anos... (José Martins, ex-fur mil trms, CCAÇ 5, "Gatos Pretos", Canjadude, 1968/70)

Vd. postes anteriores:

11 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20439: Feliz Natal de 2019 e Bom Ano Novo de 2020 (2): José Belo, o nosso camarada que tem o privilégio de ser vizinho do Pai Natal...

9 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20431: Feliz Natal de 2019 e Bom Ano Novo de 2020 (1): João Crisóstomo e Vilma Kracun (Nova Iorque)

Guiné 61/74 - P20452: Os nossos seres, saberes e lazeres (368): Elogio do Penedo do Granada, do Zêzere e do Cabril (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Junho de 2019:

Queridos amigos,
Sim, por aqui há incêndios, de Ansião a Vila Velha de Ródão está o maior coberto florestal europeu, é uma fonte de riqueza para pequenos e médios proprietários que aqui vêm buscar receita em eucaliptos e pinheiros, sobretudo. Há muito absentismo, muita aldeia abandonada, matos em estado deplorável, são combustão em expetativa nos tempos da canícula. Mas beleza não falta, em penedias, praias fluviais, meandros do Zêzere, não muito longe de Piódão, as aldeias de xisto, e das especialidades gastronómicas nem é bom falar.
E do alto da barragem do Cabril vos saúdo e vos convido a dar uma saltada para apreciar esta dimensão da interioridade, aparentemente sem nenhuma saída à vista.

Um abraço do
Mário


Elogio do Penedo do Granada, do Zêzere e do Cabril (1)

Beja Santos

Quando acabou a II Guerra Mundial, Salazar confirmou que o país pobre tinha um Estado rico, havia o imperativo de gerar outras formas de bem-estar para as classes apoiantes, fomentar a industrialização, ter uma política energética nacional. É por isso que se diz que a década de 1950 foi a década de ouro da hidroeletricidade, deu-se um aproveitamento espantoso do Cávado e do Zêzere. Quanto a este último rio, que nasce lá para os lados da Serra da Estrela e desagua em Constância, fizeram-se três barragens, Bouçã, Cabril e Castelo de Bode. Para além dos grandes benefícios advindos da hidroeletricidade, nasceram bairros singulares na Bouçã, em Cabril e Castelo de Bode, todas as obras que investigam a arquitetura deste tempo consideram que estes empreendimentos de bairros quase com autossuficiência, com moradias para os engenheiros, moradias para os trabalhadores, posto médico, casa de convívio, corte de ténis, piscina, cooperativa, uma extrema articulação interna, com escadas para todos os sítios. Um dia, no princípio do século, o viandante aqui arribou, neste Cabril instalado em Pedrógão Pequeno, enamorou-se dos espaços desafogados, havia ali uma moradia com bom granito, criminosamente abandonada, com o miolo todo arruinado, comprou-se à EDP, refez-se a preceito, aqui está uma das vistas possíveis da casinha, e o que se avista mais próximo é Pedrógão Grande. Neste preciso instante faz-se silêncio, os sinos de cinco igrejas dão horas, desde a Matriz e a Igreja da Misericórdia em Pedrógão Grande, a Senhora dos Milagres, e desta banda a Igreja de Pedrógão Pequeno e a Senhora da Confiança.



Quem diz casa diz jardim e o que aqui se apresenta é uma pequena apoteose primaveril, o viandante está convicto que na altura em que se pôs este empreendimento de pé vieram umas toneladas de boa terra preta a cobrir estas mega toneladas de pedra, não havia condições mínimas para a jardinagem. Dentro da lógica da autossubsistência, havia galinheiro quando se adquiriu a casa em ruínas, removeu-se o ferro velho, deixou-se o chão cimentado, com ajuda de um profissional trataram-se árvores de fruto, uma tangerineira e três laranjeiras, tenta-se, com pouquíssimo êxito, pôr as vinhas a engavinharem-se em novas latadas, é uma lástima, e tentam-se as plantas que não sejam muito comilonas de água. Há surpresas gratificantes, vejam-se estes chorões, de cíclame, a lavanda dá-se bem, o osteospermo prolifera, também as margaridas. Às vezes perde-se a cabeça e plantam-se dálias, é um autêntico totobola, o verão é fornalha e o inverno acompanha-se de geada, coisa curiosa, a japónica dá-se bem e os catos admiravelmente.










Temos aqui outra vista, quando o viandante recebe visitas leva-as à berma da propriedade, impressiona-as com este tabuleiro sobre o Zêzere, ao fundo há a foz de uma ribeira e eleva-se o Penedo do Granada, segundo a lenda aqui meditou e preparou as suas obras Frei Luís de Granada, por ali calcorreou Luís Vaz de Camões antes de ir a Constância curtir amores. Do outro lado avista-se Pedrógão Pequeno, aldeia de xisto, com panoramas dramáticos que cativaram artistas de mérito, como Alfredo Keil e Luigi Magnini, este tirou daqui ideias para cenários de óperas exibidas no Teatro Nacional de São Carlos. Vamos de seguida até esse passeio com escarpas dramáticas, com o Zêzere ao fundo, a serpentear para a foz.


(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20424: Os nossos seres, saberes e lazeres (367): A quintessência do ultrarromantismo: Monserrate (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 – P20451: Agenda cultural (718): “Um Ranger na Guerra Colonial Guiné-Bissau 1973/74 Memórias de Gabu” (José Saúde)

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.

Camaradas, 
Para vosso conhecimento envio o seguinte texto e uma foto da capa do meu próximo livro, o nono. 


Foi apresentada a obra em Beja a 10 de Dezembro e seguir-se-á Lisboa, Casa do Alentejo, de entre outras iniciativas que já tenho programadas.

Uma ida ao Porto não está fora dos meus planos, estando a programar-se esta eventual possibilidade.


“UM RANGER NA GUERRA COLONIAL GUINÉ-BISSAU 1973/74
MEMÓRIAS DE GABU”

“UM RANGER NA GUERRA COLONIAL GUINÉ-BISSAU 1973/74 – MEMÓRIAS DE GABU” é o nono livro do meu pecúlio como jornalista/escritor e o segundo como ex-combatente em solo guineense.

A temática, agora sustentada com novos textos, sendo certo que alguns deles foram recuperados e trabalhados face ao tema tratado da  primeira edição – “GUINÉ-BISSAU AS MINHAS MEMÓRIAS DE GABU” -, é mais um desafio à nossa existência como antigos militares lançados à força para as frentes de combate.

Procurei, embora sinteticamente, ser o mais abrangente possível, diligenciando trazer à estampa temáticas que mexem irreversivelmente com a nossa comum presença num espaço que nos fora substancialmente cruel.

As memórias da guerra não se apagam e cada um de nós ainda hoje revive situações horripilantes pelas quais passou. Reconheço que existem camaradas que recusam abordar vivências passadas que lhe vão na alma. Respeito escrupulosamente essa forma de sentir.  

Há camaradas que procuram olvidar realidades que na generalidade todos ou quase todos conhecemos. Recusam o confronto com cenas atrozes onde foram incontestáveis guerrilheiros numa luta por vezes desigual. Fica, pois, a nossa plena aceitação.

Mas esta obra contempla, também, a presunção deste vosso velho camarada que não se esconde num templo onde as lamentações jamais deverão esbarrar num muro em que as lamúrias tendem em cair no esquecimento.

A guerra Colonial não está assim tão distante no tempo. É recente. Porém, raros têm sido os órgãos de decisão governamental, e não só, a abordar o tema que mexeu com gerações e abalou futuros que se perspetivavam risonhos.

Neste contexto, o livro aborda temáticas exuberantes no que concerne a vicissitudes de que fomos alvos por terras da Guiné e simultaneamente ao agitar gritos de revolta quando em causa se coloca o nosso próprio estatuto como antigos combatentes.

Hoje, a guerra Colonial perdeu visibilidade. Poucos são aqueles que dela falam em público, sobretudo em meios de comunicação social nacional e que por ordem analógica das coisas se deixam levar por tédios e brandos costumes. Poucos são, também, aqueles que se debruçam sobre a inequívoca veracidade onde a morte, estropiados, ou os stressados de guerra, de entre outras doutrinas que recaem sobre os climas dos pós traumáticos, designadamente, são meras personagens de um país que simplesmente os esqueceu.

O livro aborda também o tema dos abandonados. Sim, os abandonados, aqueles que ingloriamente lutaram pela Pátria, uma Pátria que não sendo aquele sumptuoso manto doutrinal que nos fora “vendido” nos bancos da escola, foi também aquela na qual todos nós nos envolvemos.

A guerra, essa desumana realidade, foi propícia a inegáveis circunstâncias que desabaram para incertezas futuras. Da guerra colonial sobram infalibilidades que há restos mortais de camaradas que por lá ficaram literalmente abandonados.

Camaradas, vale a pena através da leitura deste livro revermo-nos no tempo em que nós jovens fomos atiradas para as frentes de combate como uma mera mercadoria chamada “carne para canhão”.

O livro tem o preço de capa 16 euros, sendo o primeiro lançamento no dia 10 de dezembro de 2019, 21h30, na Biblioteca José Saramago, em Beja.

Depois seguir-se-ão outros lançamentos. Lisboa será, em princípio, o destino seguinte. Por mim estarei disponível em deslocar-me por o País fora, levando na minha “mala de cartão” um rol de experiências que são tão-só as tuas próprias experiências.

Camaradas, bebemos água da mesma fonte e comemos do pão que o diabo amassou. Digamos, em uníssono, que somos gentes e proclamamos simplesmente justiça, não obstante o universo de dificuldades até agora deparadas.   

Deixo aqui expresso que a obra “UM RANGER NA GUERRA COLONIAL GUINÉ-BISSAU 1973/74 - MEMÓRIAS DE GABU” só foi possível vir a público graças aos textos que amiudadamente transcrevo no nosso blogue – Luís Graça & Camaradas da Guiné -. Este foi, para mim, uma rampa de lançamento para investir no cosmos da escrita sobre outras temáticas entretanto não abordadas, neste caso o da guerra.

Por fim, fica o meu profundo agradecimento ao Luís Graça, o fazedor do prefácio, ao meu camarada ranger Magalhães Ribeiro pela sua amável disponibilidade em me colocar os textos no blogue e a todos vocês camaradas que fazem o favor em me aturarem nas minhas eloquentes dissertações guerrilheiras, que também são as vossas, neste terreno de jogo onde fomos meros figurantes no conflito na Guiné. 

Um abraço, camaradas 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. também os postes: 


 

14 DE NOVEMBRO DE 2019 > Guiné 61/74 – P20345: Agenda cultural (712): “Um Ranger na Guerra Colonial Guiné-Bissau 1973/74 Memórias de Gabu” (José Saúde)