Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 18 de março de 2009
Guiné 63/74 - P4048: Estórias do Jorge Fontinha (5): Lavadeiras de Bula
Aí vai mais uma Estória. Esta para descontrair, nostálgica e saudosa.
Transmite o meu abraço a toda a Tabanca.
Jorge Fontinha
LAVADEIRAS DE BULA
Aeródromo de Bula
As minhas Estórias nem sempre seguem uma ordem cronológica. Também não tenho a pretensão de me recordar de tudo e não é minha intenção escrever a História da CCAÇ 2791, até porque me preocupo somente por descrever o que vivi ou presenciei, durante o tempo que permaneci naquelas paragens.
Hoje, até vou saltar uns meses, sobre os últimos acontecimentos relatados. Vou localizar-me no período dos Reordenamentos, já em pleno ano de 1972.
Como referi, aquando da descrição do meu Grupo de Combate, o 4.º, este esteve no destacamento de Mato Dingal. Naturalmente que várias atribuições nos eram confiadas, como por exemplo promover, principalmente, o apoio sanitário, assistência medicamentosa e humanitária, defesa da Tabanca e ensino escolar básico às crianças. Eu próprio fui o professor oficial. Era igualmente da nossa responsabilidade, proceder à substituição das velhas Palhotas “Tabancas”, construindo outras de blocos e telhados de zinco.
Naturalmente que tínhamos as obrigações próprias da defesa e manutenção das instalações Militares, bem assim, como providenciar o reabastecimento de bens alimentares e fornecimento de água potável.
Para o efeito, pelo menos dia sim, dia não, uma Secção deslocava-se a Bula que era relativamente perto, para na Sede do Batalhão requisitarmos o que era necessário. Na mesma viagem ia outro Unimog atrelado a um auto-tanque e com bidões recuperados, dos postos de abastecimento de combustível, para complemento de fornecimento de água.
Este serviço, por se tratar duma escapadela à rotina, era feita por rotação de secções, que eram três. A do Alferes Gaspar, a do Furriel Fontinha e a do Furriel Chaves.
O episódio que vou contar é um daqueles momentos espectaculares e inesquecíveis e é também daqueles das boas lembranças, que nos fazem olhar para trás com saudade e nostalgia…
Em certo dia, tínhamos já saído do Batalhão, com os reabastecimentos carregados, faltando deslocarmo-nos ao fontanário para reabastecimento de água, o que acabamos por fazer, pois este ficava num caminho mesmo em frente à porta de armas e a muito pequena distância, 100 a 200 metros. Era natural que o local não estivesse totalmente livre, pois o enchimento do auto-tanque e dos bidões levava algum tempo.
Não me lembro de todo quem estava à minha frente a fazer o mesmo que eu iria fazer, mas efectivamente estava outra secção, doutro Grupo de Combate e até podia ser de outra Companhia do Batalhão. Não tenho ideia, passados estes anos quem eram. O que fica para a História, foi o que eu assisti, enquanto conversava com o meu camarada da outra secção, que terminassem e nós iniciássemos a nossa tarefa.
Ora, o que aconteceu foi o seguinte:
O local era composto por um fontanário que jorrava bastante água potável para o interior de um tanque rectangular, seguramente com uma frente de 6 metros por 4 de largura e daí escorria para um lago de média dimensão, com algumas pedras salientes, e depois seguia por um riacho directamente para a bolanha. Era no tanque e no lago que as lavadeiras, BAJUDAS e as restantes mulheres, lavavam a nossa roupa e a delas. Cada um de nós tinha a sua lavadeira. Bastante alegres e ruidosas, na sua azafama.
Bajudas lavando roupa
Todas elas, salvo umas poucas, faziam o seu trabalho completamente nuas, enquanto não chegava nenhuma tropa para se reabastecer de água. Ficariam assim, se não fossem molestadas com gracejos ou até apalpadas por alguns militares mais brincalhões. Depois de chegarmos, normalmente cobriam-se com uns ligeiros panos, que de um certo modo, nada cobriam.
Passando ao relato dos acontecimentos, os militares que se encontravam no local, haviam lavado alguns bidões, que tinham sido esvaziados de gasolina dias antes, no tanque onde elas deveriam lavar a roupa, o que originou que bastantes resíduos de gasolina tivessem ficado na água. Naturalmente, uma camada de cerca de meio centímetro de gasolina, cobria a superfície.
O engraçado do episódio deu-se quando um militar, inadvertidamente, se lembra de lançar um cigarro acabado de fumar, que viria a cair no interior do tanque. Escusado será retratar a cena que se passa. O tanque incendeia-se, provocando espanto e medo em toda a gente, dando lugar a grande alarido entre elas que atropelando-se umas as outras, se põem em fuga, deixando cair os panos e passando a correr em direcção as suas tabancas, mesmo à frente da porta de armas em grande algazarra e completamente nuas. Foi um espectáculo hilariante e felizmente sem consequências.
Lavadeiras lavando no lago, junto ao tanque
Nem sempre nos dedicávamos à Guerra. Por vezes até nos divertíamos.
Fur MIl Jorge Fontinha e Sold Álvaro Lobo
Fotos e legendas: © Jorge Fontinha (2009). Direitos reservados
Um abraço para a Tabanca.
Jorge Fontinha
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Nota de CV:
Vd. último poste de 13 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3888: Estórias do Jorge Fontinha (4): O primeiro morto do 4.º GCOMB/CCAÇ 2791
Guiné 63/74 - P4047: Resumo das actividades do Pel Mort 912 (OUT63/OUT65) (Fotos) (Santos Oliveira)
Digitalização do Relatório e Fotografias
Relatório do Comandante do Pelotão de Morteiros 912 (1)
Relatório do Comandante do Pelotão de Morteiros 912 (2)
Relatório do Comandante do Pelotão de Morteiros 912 (3)
Cômo - Edifício do Comando
Como - Quartel - Vista para NE - Ao fundo a Camarata do Pel Mort
Cômo - Av. do Porto. Picada de troncos desde o local de acostagem do barco até ao Cavalo de Frisa (ao fundo)
Cômo - Abrigo primário, antibomba, construido para dar acesso ao Paiol Clandestino, do Pel de Mort
Cômo - Embalagens de Granadas de Morteiro disparadas a 16NOV64, encimada pelo Cartaz da frase FORAM SÓ 216 GRANADAS
Cômo - Cozinha e Messes Oficiais e Sargentos
Vista da saída para o poço fedorento (E)
Fotos e legendas: © Santos Oliveira (2009). Direitos reservados
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Nota de CV
Vd. poste de 17 de Março > Guiné 63/74 - P4044: Resumo das actividades do Pel Mort 912 (OUT63/OUT65) (Santos Oliveira)
Guiné 63/74 - P4046: Ainda a atroz dúvida da Cidália, 37 anos depois: O meu marido morreu mesmo na emboscada do Quirafo ? (Paulo Santiago)
Foram utilizados LGFog e Canhão sem recuo. Houve 9 militares mortos, da CCAÇ 3490, nais 1 desaparecido (o António Batista, capturado pelo PAIGC)... Houve ainda mais 3 mortos: 1 sargento de milícia e 2 civis ao serviço das NT.
No relatório da CCAÇ 3490, faz-se ainda referência a 6 feridos, 4 militares e 2 civis. No início deste dossiê, falámos aqui num "número indeterminado de baixas, entre os civis, afectos à construção da picada Quirafo-Foz do Cantoro", o que não parece estar documentado. Sabemos hoje quem comandou o bigrupo que montou esta emboscada, o comandante Paulo Malu.
A brutal violência da emboscada ainda era visível em Fevereiro de 2005, mais de três décadas depois, nas imagens dramáticas obtidas pelo Paulo Santiago e seu filho João, na viagem de todas as emoções que eles fizeram, na altura, à Guiné-Bissau.
Fotos: © Paulo e João Santiago (2006). Direitos reservados.
Cópia do relatório da CCaç 3490, Saltinho, 21 de Abril de 1972 [, já aqui publicado por nós, no P2422, de 8d e Janeiro de 2008]. Transcrição de Virgínio Briote, nosso co-editor; bold, do editor L.G.:
Exemplar nº...
CCaç 3490
Saltinho
210800ABR72
Anexo B (Relação do pessoal morto e ferido em combate) ao relatório de emboscada nº 03/72.
1.Causas que deram origem às baixas sofridas pelas NT
-Contacto com o IN na emboscada sofrida pelas NT no dia 17 de Abril de 1972, na
região do Quirafo (Contabane 9. B7-60).
i) Relação numérica e nominal dos militares, milícias e elementos da População
colaborantes com as NT, mortos em combate:
- Sr. Alf. Mil. Nº 00788271 – Armandino da Silva Ribeiro
- Furriel Mil. Nº 01142371 – Francisco Oliveira dos Santos
- 1º Cabo Radioteleg. Nº 08845271 – António Ferreira
- 1º Cabo A.P.Met. nº 14964771 – Sérgio da costa Pinto Rebelo
- Soldado nº 09334069 – António Marques Pereira
- Soldado nº 10665171 – Bernardino Ramos de Oliveira
- Soldado nº 10896771 – Zózimo de Azevedo
- Soldado nº 10998071 – António da Silva Baptista
- Soldado nº 11117671 – António de Moura Moreira
- Sargento Mil. Nº 044665 – Demba Jau
- Civil – Serifo Baldé
- Civil - Tijane Baldé
ii) Relação numérica e nominal dos militares desaparecidos em combate
- Soldado nº 11331671 – António Oliveira Azevedo
iii) Relação numérica e nominal dos militares, feridos em combate
- 1º Cabo Atirador nº 11549071 – Augusto Carlos Leite
- Soldado Atirador nº 10819171 – José Manuel de Barros Fernandes
- Soldado Atirador nº 10977271 – Manuel Hernâni Martins Alves Gandra
- Soldado Atirador nº 11060971 – Manuel da Costa Almeida
- Civil – Saico Seidi
- Civil – Cabirú Baldé
Assina pelo Comandante da Companhia (Dário Manuel de Jesus Lourenço, Cap Mil Inf ) o Alf Mil Alexandrino Luís F.... [restante ilegível].
AUTENTICAÇÃO
P'lo Comandante da Companhia (Dário Manuel de Jesus Lourenço, Cap Mil Inf ), Alf Mil Alexandrino Luís F. [restante ilegível].
1. Mensagem, com data de ontem, do nosso camarada e amigo Paulo Santiago
Assunto - A Guerra e o luto continua presente
Luís, Briote,Vinhal
Recebi em 3 de Março passado um mail, que reencaminho, enviado por uma jovem, Cátia Félix, a pedido de Cidália Nunes, viúva do 1º Cabo Radiotelegrafista António Ferreira, morto em combate em 17/04/1972 na emboscada do Quirafo (*).
Como imaginam, ao receber aquele mail, dois sentimentos brotaram de mim: satisfação e tristeza. Satisfação pelo que escrevi sobre a Tragédia do Quirafo, satisfação, também, por existir este blogue que o Luís em boa hora lançou, permitindo aos ex-combatentes da Guiné contarem a verdade que, a maior parte das vezes, não vem nos documentos oficiais. Tristeza, porque adivinhei que por trás daquele mail estava um luto com quase trinta e sete anos. Tanto tempo...
Há poucos minutos, tive um longo telefonema da Cidália, onde pressenti uma imensa saudade e uma imensa resignação, ainda que ponteada por algumas dúvidas, sendo a principal "O meu marido morreu naquela emboscada ?"
A esta pergunta pude afiançar-lhe que foi naquela emboscada e naquele local que o marido morreu. Existem outras dúvidas que eu, em consciência, não soube nesta altura dissipar, caso saber se o António Ferreira estava reconhecível, é uma pergunta que irei pôr aos meus amigos Cosme e Mário Rui, respectivamente 1º Cabo e Fur Mil do PEL CAÇ NAT 53, e que foram ao Quirafo recolher os corpos.
Quero, quando me encontrar pessoalmente com a Cidália, quem sabe em 17/04/09, ter respostas para lhe dar com VERDADE. Se algum dos camaradas que me lê souber algo sobre isto, agradeço que me informe.
O António Ferreira, segundo percebi, frequentava a Faculdade de Engenharia no Porto e tinha uma filha (que tem hoje 38 anos), com um ano e poucos meses quando embarcou para a Guiné, numa viagem sem regresso.
Quando a Cidália soube da aparição do Batista (**) em Setembro de 1974, que oficialmente tinha morrido no mesmo dia do marido, correu para a Maia, procurando saber se aquele "morto-vivo" lhe poderia dizer mais alguma coisa sobre o Ferreira. Infelizmente o Batista apenas se lembra, como também sabemos, das explosões e de o terem agarrado à mão, mais nada, quem morreu, só o soube já em Portugal após a sua libertação.
Devo dizer, inconscientemente, talvez tenha lançado algumas dúvidas no espírito da Cidália, ela não me disse, mas até encontrar o Batista estava convencido que o militar apanhado à mão no Quirafo - penso que está nos meus postes - era de transmissões e também havia a troca de nomes.
Lamentavelmente nunca apareceu ninguém daquela CCAÇ a dizer nada. A Cidália contou-me que em 74 recebeu um telefonema de um Furriel, já não se lembra do nome, daquela Companhia dizendo-lhe que gostaria de falar com ela sobre a morte do marido mas teria de ser uma conversa a sós (?) marcando um dia. Jovem de 22 anos, viúva recente, resolveu ir acompanhada por familiares, mas o dito graduado não apareceu.
Termino dizendo que a Cidália e o António Ferreira têm um neto de 16 anos que faz muitas perguntas sobre o avô.
Não é fácil dominar as emoções quando se recebem telefonemas destes.
Abraço a todos
P. Santiago
2. Mensagem anterior (3 de Março) do Paulo Santiago (após conversa telefónica comigo, L.G.):
Luís
Em seguimento da nossa conversa, reencaminho o mail recebido. Agora pensei melhor e penso que o António Ferreira é um dos mortos do Quirafo. Não sei se vou encontrar no blogue uma lista publicada pelo José Martins, vou tentar, e tu vê também se a encontras.
Vou responder à Cátia, disponibilizando-me para me encontrar com a esposa do António Ferreira. Vai ser um encontro, possivelmente doloroso, mas, como diz a Cátia, as histórias da Guiné permanecem na vida de todos.
Diz-me qualquer coisa.
Abraço
Paulo
3. Mail enviado ao Paulo Santiago, em 3 de Março último, por Cátia Félix
Assunto - As histórias da Guiné...
Caro Paulo Santiago
Sou leitora assídua do blog dos ex-combatentes da Guiné pois apesar da minha tenra idade (25 anos) sempre me suscitou muito interesse as histórias verídicas por todos vocês vividas.
De tudo o que li, a Tragédia do Quirafo foi sem dúvida a que mais me impressionou, talvez por conviver com uma familia de um militar da CCAÇ 3490. Possivelmente já ouviu falar desse militar, António Ferreira (Porto), que era das Transmissões (radiotelegrafista) dessa companhia.
Estou a enviar-lhe este email a pedido e em nome da esposa do Ferreira, Cidália Cunha, que gostaria imenso de entrar em contacto consigo para trocarem impressões, pois apesar de já terem passado muitos anos as histórias da Guiné permanecem na vida de todos.
Porquê enviar um email ao Paulo? Porque de tudo o que lemos, sentimos que se tem dedicado imenso a todas as causas mal explicadas que se passaram naquelas terras áridas.
Desde já agradecemos imenso todo o seu empenho e sabedoria na forma como consegue transmitir na perfeição todos os assuntos relacionados consigo e com os seus camaradas.
Ficamos a aguardar uma resposta.
Com os melhores cumprimentos
Cátia Félix
(P'la Cidália Cunha)
4. Comentário de L.G.:
Obrigado, Paulo. Tu és um homem de grande sensibilidade e com forte sentido de solidariedade e compaixão. Melhor do que ninguém, tu irás representar-nos, a todos nós, que fomos camaradas do António Ferreira, num próximo encontro, a aprazar com a Cidália Cunha, viúva do António, e a sua amiga Cátia Félix, possivelmente até no próprio dia em que passam os 37 anos da tragédia do Quirafo, no próximo 17 de Abril de 2009.
Como vês pela lista (nominal) acima publicada, o único militar de transmisões que foi dado como morto, na sequência da emboscada do Quirafo, em 17 de Abril de 1972, foi o António Ferreira, 1º Cabo Radiotelegrafista nº 08845271...
O que é poderás dizer mais aos familiares e amigos do nosso infortunado António Ferreira, que não tenhamos já dito aqui no blogue ? Se calhar, mais do que dizer, importa saber ouvir, mostrar disponibilidade para ouvir...
Muito provavelmente, eles/elas nunca fizeram, como devia ser, o luto pela perda do António (marido, pai, filho, amigo...), porque nunca viram o corpo (chegou-lhes um caixão selado, chumbado...).
Como houve pelo menos um caso de troca de identidades (o António Batista, desaparecido, foi dado como morto, em vez do António Oliveira Azevedo) e, além do mais, os cadáveres estavam irreconhecíveis, desmembrados e carbonizados (de acordo com o testemunho do Alf Mil Médico Alfredo Pinheiro de Azevedo e do Fur Mil Enfermeiro Álvaro Basto, que tu mesmo recolheste: vd. poste P1985, de 22 de Julho de 2007 ), ficou, fica, ficará sempre a atroz dúvida: Será que o meu marido morreu mesmo nessa emboscada ?
Paulo, podemos estar perante um caso de luto patológico, ou seja, de um processo mental associado à perda de uma pessoa amada e decorrente da interrupção do processo normal do luto, eternizando ou tornando crónica a sensação de perda e todas as suas manifestações... É horrível, provoca um grande sofrimento psíquico e crises emocionais, sempre que se fala em (ou se evoca) a pessoa... desaparecida ('e que pode não estar morta').
Acho que a melhor maneira de ajudar a Cidália é voltar a contar a história (e repeti-la, se necessário), com todos os pormenores, mesmo os mais horrendos... E mostrar-lhe a foto da viatura, a GMC, onde o António e os seus companheiros morreram, carbonizados... Mostrar as fotos do Saltinho e dos lugares, à beira do Rio Corubal, onde ele também viveu bons momentos e onde sentiu saudades da mulher e da filha...
Como homem das transmissões, levando as costas o seu rádio, o António seguramente que ia na GMC, perto do Alf Mil Armandino, comandante da coluna... Diz-lhe que foi uma carnificina horrível, mas que tudo se passou num ápice.
Entretanto, será desejável que apareçam mais depoimentos, nomeadamente de malta que conheceu e conviveu de mais perto com o António Ferreira, no Saltinho, como é o caso da malta do teu Pel Caç Nat 53 e da CCAÇ 3490 ou do BCAÇ 3872 (Galomaro).
Do Batalhão, temos apenas, aqui, como membros da Tabanca Grande, o Carlos Filipe Coelho, o Luís Dias, o Juvenal Amado, o Joaquim Guimarães e o António Batista, se não me engano. O Luís Borrega também teve contactos com a malta deste batalhão.
Da CCAÇ 3490 são só mesmo o António Batista e o Joaquim Guimarães. Até agora julgo que não apareceu mais ninguém, embore eu não confie muito na minha memória. Há um outro camarada, identificado pelo Carlos Vinhal, e que pertenceu à CCAÇ 3490: Justino Sousa - contacto: 255 776 190. Tens, por fim, o Joaquim Guimarães, que vive nos Estados Unidos e que era professor no Saltinho (***). Ele deve estar lembrado do António. Mas acredito que seja doloroso para ele e para o resto da malta da CCAÇ 3490 lidar, ainda hoje, com este pesadelo.
Paulo, confio na tua sabedoria e experiência para lidar com este difícil caso. Mas conta com todo o nosso apoio. Sabemos que farás o teu melhor. Transmite aos familiares e amigos do António a nossa solidariedade e compaixão.
____________
Notas de L.G.:
(*) Sobre a tragédia do Quirafo, vd. postes de:
21 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1980: Blogoterapia (26): Os nossos fantasmas, os nossos Quirafos (Virgínio Briote / Torcato Mendonça/Luís Graça)
17 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1962: Blogoterapia (25): Os Quirafos do nosso Passado (Torcato Mendonça / Virgínio Briote)
12 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1947: O Coronel Paulo Malu, ex-comandante do PAIGC, fala-nos da terrível emboscada do Quirafo (Pepito / Paulo Santiago)
15 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1077: A tragédia do Quirafo (Parte V): eles comem tudo! (Paulo Santiago)
28 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1000: A tragédia do Quirafo (Parte IV): Spínola no Saltinho (Paulo Santiago)
26 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P990: A tragédia do Quirafo (parte III): a fatídica segunda-feira, 17 de Abril de 1972 (Paulo Santiago)
25 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P986: A tragédia do Quirafo (Parte II): a ida premonitória à foz do Rio Cantoro (Paulo Santiago)
23 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P980: A tragédia do Quirafo (Parte I): o capitão-proveta Lourenço (Paulo Santiago)
(**) É já vasto, no nosso blogue, o dossiê do António Batista, a quem chamamos o 'morto-vivo' do Quirafo:
26 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2885: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (9): António Batista, ex-prisioneiro de guerra
25 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2680: O caso do nosso camarada António Batista (Carlos Vinhal / Álvaro Basto / Paulo Santiago e Pereira da Costa)
1 de Fevereiro de 2008 Guiné 63/74 - P2497: O dossiê António da Silva Batista: um caso de indignidade humana (Torcato Mendonça)
31 de Janeiro de 2008 Guiné 63/74 - P2494: Sr. Ministro da Defesa, parece que não há Simplex que valha ao António da Silva Batista! (Paulo Santiago)
8 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2422: Quem terá sido o Camarada que ficou na campa do António Baptista? (Prisioneiros de Guerra) (Virgínio Briote)
25 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2381: Diana Andringa, com o teu apoio, podemos ajudar o António Batista, o morto-vivo do Quirafo (Álvaro Basto)
21 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2371: O Sold António Baptista não constava das listas de PG (Prisioneiros de Guerra) (Virgínio Briote)
28 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2140: Tabanca Grande (35): Notícias do Tony Tavares (CCAÇ 2701) e do António Batista (CCAÇ 3490) (Ayala Botto)
9 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2040: No almoço da tertúlia de Matosinhos com o António Batista, o nosso morto-vivo do Quirafo (Paulo Santiago)
30 de Julho de 2007 >Guiné 63/74 - P2011: Vamos ajudar o António Batista, ex-Soldado da CCAÇ 3490/BCAÇ 3872 (Júlio César / Paulo Santiago / Álvaro Basto / Carlos Vinhal)
26 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1999: Vamos arranjar uma caderneta militar nova para o António Batista (Rui Ferreira / Paulo Santiago)
24 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1991: O Simplex, o Kafka e o Batista ou a Estória do Vivo que a Burocracia Quer como Morto (João Tunes)
24 de Jullho de 2007 > Guiné 63/74 - P1990: Carta aberta ao Cor Ayala Botto: O caso Batista: O que fazer para salvar a sua honra militar ? (Paulo Santiago)
23 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1986: António da Silva Batista, o morto-vivo do Quirafo: um processo kafkiano que envergonha o Exército Português (Luís Graça)
22 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1985: Prisioneiro do PAIGC: António da Silva Batista, ex-Sold At Inf, CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 (2) (Álvaro Basto / João e Paulo Santiago)
22 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1983: Prisioneiro do PAIGC: António da Silva Batista, ex-Sold At Inf, CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 (1) (Álvaro Basto / João e Paulo Santiago)
21 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1980: Blogoterapia (26): Os nossos fantasmas, os nossos Quirafos (Virgínio Briote / Torcato Mendonça/Luís Graça)
17 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1959: Em busca de... (2): António da Silva Batista, de Crestins-Maia, o morto-vivo do Quirafo (Álvaro Basto / Paulo Santiago)
(***) Vd. postes de:
1 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2019: Álbum das Glórias (23): O mestre-escola do Saltinho (Joaquim Guimarães, CCAÇ 3490, 1972/74)
28 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3097: Álbum fotográfico do Joaquim Guimarães (1): Saltinho
(...) "Quero também agradecer ao Paulo Santiago pela maneira como descreveu a passagem do Quirafo, com honestidade, sem dramatizar ou exagerar. Prestou a devida homenagem aos meus companheiros, alguns dos quais não tive grande contacto, mas como dizia respeitou a memória de "eles" e quem sabe dos seus familiares e em particular a minha.
"Eu pessoalmente ainda não tive a coragem de me mostrar. Neste momento ando numa luta com os meus companheiros de Companhia mas ninguém se quer envolver ou comentar. Mais de que nunca penso na minha, na nossa culpabilidade do Quirafo.
"Num dos blogs refere-se em comemtário a questão da recuperação dos corpos. Eu penso que esse pormenor deve ser excluído, não importa como foi, o importante é que tudo foi feito com amor, com respeito e muita dor mas foram dignificados em todo o processo" (...).
1 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3104: Álbum fotográfico do Joaquim Guimarães (2): Saltinho
4 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3109: Álbum fotográfico do Joaquim Guimarães (3): O Rio Corubal no Saltinho
terça-feira, 17 de março de 2009
Guiné 63/74 - P4045: Nino: Vídeos (3): Em Portugal, um vizinho meu, antigo combatente, reconheceu-me e tratou-me por 'comandante Nino'...
Guiné-Bissau > Bissau > Palácio Presidencial > 6 de Março de 2008 > Excerto da audiência que o Presidente João Bernardo 'Nino' Vieira (1939-2009) deu, por volta das 12h, a cerca de duas dezenas de participantes estrangeiros do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de Março de 2008).
Ao todo, na sala, estariam cerca de duas dezenas de pessoas. A audiência foi decidida à última hora, por vontade expressa do 'Nino' Vieira, na qualidade de histórico comandante da guerrilha do PAIGC e um dos seus mais destacados militantes. Não estava prevista no programa do Simpósio. Uma hora antes, o grupo fora também recebidos pelo então 1º Ministro, Martinho N'Dafa Cabi. Não estava prevista, de resto, qualquer intervenção no Simpósio, por parte do Presidente da República - presumo que por razões de segurança - embora ele fizesse parte da comissão de honra.
Vídeo (6' 49''): © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Alojado em You Tube > Nhabijoes
Neste excerto da sua intervenção (*), 'Nino' pede aos portugueses, presentes, para transmitir ao seu Governo o pedido de envio (urgente) de mais professores de português. “Já alguns, mas não são suficientes. Não faltam no interior, em Bafatá, no Gabu”….
E lembra que são, ao fim e ao cabo, os cubanos quem está a fazer o maior esforço de alfabetização das populações no interior. São eles que ensinam o português. As duas línguas, português e castelhano, são próximas e facilmente se compreende o "portunhol"... Foram também os cubanos que criaram a Faculdade de Medicina (**), que ostenta o nome do comandante Raúl Díaz Argüelles (***), morto em Angola, e que está a funcionar no Hospital Nacional Simão Mendes, em Bissau. A ideia nasceu de uma conversa de ‘Nino’ com Fidel Castro.
'Nino' aponta o analfabetismo como a causa de muitos problemas estruturais da Guiné-Bissau… E remata: “Estamos agora todos do mesmo lado. No passado, nós estávamos a lutar contra um regime, não contra o povo português”... Recorda um episódio do seu exílio em Portugal: "Eu era vizinho de um antigo combatente português, que um dia me me reconheceu e me tratou como comandante 'Nino'...
Reconhece que há um problema, na Guiné-Bissau, de crescente perda da memória da luta de libertação… “A nossa história está a desaparecer. Vou ver se tenho um tempinho para ir aí a esse Simpósio, logo à tarde”.
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Notas de L.G.:
(*) Vd. postes anteriores:
9 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4002: Nino: Vídeos (2): O amigo de Cuba... e de Portugal, que em Março de 2008 pedia mais professores de português (Luís Graça)
8 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3996: Nino: Vídeos (1): Ouvindo a versão do Coutinho e Lima sobre a retirada de Guileje (Luís Graça)
(**) Lembre-se que esta Faculdade, que recebe assessoria técnica e científica dos cubanos, propõe-se dar continuidade à formação de quadros que estava a cargo da Escola Nacional de Saúde (ENS), encerrada com o eclodir da guerra civil de 1998/99.
Criada em 1986, a ENS teria formado já cerca de uma centena de médicos guineenses. A parte terminal da licenciatura era (é) depois feita em Cuba.
A Faculdade de Medicina reabriu em 2006, sendo enquadrada na Universidade Amílcar Cabral (UAC), a única instituição do ensino superior pública existente na Guiné, e que lecciona, além de medicina, mais os cursos de licenciatura: Administração e Gestão, Educação e Comunicação, Sociologia, Economia, Jornalismo, Engenheira Informática.
A Guiné-Bissau dispõe ainda de uma Faculdade de Direito (FDB) cuja assessoria técnica e cientifica é dada pela cooperação portuguesa através da Faculdade de Direito, da Universidade de Lisboa.
(***) Raul Diaz Argüelles, chefe da missão militar cubana que veio em apoio do Governo do MPLA, a seguir à independência de Angola, proclmada a 11 de Novembro de 1975, morreu ao accionar uma mina anti-tanque no município do Ebo, província do Kwanza Sul, a 12 de Dezembro de 1975. Está sepultado no Cemitério do Alto das Cruzes, em Luanda.
Guiné 63/74 - P4044: Resumo das actividades do Pel Mort 912 (OUT63/OUT65) (Santos Oliveira)
Camaradas Luís, Briote e Vinhal
Há algum tempo (26FEV) foi-vos remetido um Mail resultante da publicação do P3938: Brasões, guiões ou crachás (7): Pelotão Independente de Morteiros 912(*), o qual despoletou reparos, dúvidas e pedidos de informações e ou esclarecimentos por parte de Camaradas interessados e, simultaneamente, intervenientes.
Os reparos de ilegibilidade são legítimos. As digitalizações do Relatório Final do Pel Ind Mort 912 não podem ser melhoradas pelas condições dos originais, como se pode verificar. Por outro lado há erros de palmatória e omissões incompreensíveis no Documento, que careciam ser esclarecidos e anotados.
Foi um trabalho duro, que resultou dos testemunhos de inúmeros sobre vivos que se prestaram a colaborar, informando e procurando esclarecimentos entre outros intervenientes na Op. Tridente, sobretudos os visados de Armas Pesadas/Morteiros, que se sentem injustiçados pelas omissões e tentativa de desvio de factos reais, dos "Escribas" daquela acção tão marcante.
Agradeço, publicamente, ao Manuel Costa, do Pel Mort 916 e ao Alf Mil Sales dos Santos, do Pel Mort 917, a disponibilidade de buscar nas suas lembranças vividas ou do apurar as mesmas junto de outros Camaradas das suas Unidades. Por este facto, o resultado das anotações que faço ao Relatório Final do meu Pelotão, pode, agora, ser considerado fiel e fiável.
De modo a poder “tornar” perfeitamente “legível”, procedi à elaboração de uma transcrição do RELATÓRIO DO PELOTÃO DE MORTEIROS 912, utilizando, à letra, todo o tipo de linguagem utilizado e que no final adendarei.
Assim:
COMANDO TERRITORIAL INDEPENDENTE DA GUINÉ
PELOTÃO DE MORTEIROS N.º 912
Resumo das actividades do Pelotão no período que decorre de Outubro de 1963 a Outubro de 1965.
Nos últimos dias de Agosto de 1963 chegaram a Abrantes os elementos que haviam sido designados para a formação do Pelotão de Morteiros n.º 912.
Receberam os primeiros ensinamentos militares no RI10 e em seguida foram transferidos para os RI7, onde lhe foram ministrados todos os conhecimentos necessários à sua especialidade. Por terem sido mobilizados pelo RI2, dali partiram para a Guiné a 12 de Outubro de 1963. Em 18 do mesmo mês desembarcaram e nesse próprio dia chegaram a Tite.
O Pelotão de Morteiros 912 ficou pertencendo ao BCaç 599 e rendeu o Pelotão de Morteiros 19 que se encontrava na província há 27 meses.
O aquartelamento em que o Pelotão de Morteiros 912 se instalou situa-se num local privilegiado e as instalações precárias e insuficientes para as necessidades a princípio logo foram aumentadas e melhoraram as condições. Todo o pessoal se acomodou perfeitamente aos costumes que vigoravam e facilmente se compenetrou dos deveres e obrigações que o assistiam.
Em 23 de Outubro iniciou-se a primeira saída para o mato, levou a missão de patrulha a zona de IUSSE e ao mesmo tempo exercer um trabalho que desse à população uma inteira confiança na presença das nossas tropas.
Na noite de 28 de Novembro de 1963 deu-se o primeiro encontro com o IN. O Pel Mort levava a missão específica de montar uma emboscada nocturna a cerca de 2km do quartel. Antes de atingir o local e apenas a umas escassas centenas de metros do quartel, estava o inimigo. Depois de alguns minutos de fogo o inimigo retirou apressadamente. Do nosso lado houve a morte de um furriel e o ferimento de um soldado num pé.
Em 7 de Dezembro de 1963 teve lugar a Operação JOTA na área de Jabadá e Jufá; mais uma vez este Pelotão tomou parte da Operação, usando os seus morteiros para apoio das nossas tropas.
No final de 1963, 27 de Dezembro, realizou-se uma outra Operação em que este Pelotão tomou parte, usando novamente as suas potentes armas, protegendo as tropas avançadas. Facilitou a penetração das nossas tropas e demonstrou ao inimigo um maior poder das nossas forças. Entretanto a acção do Pelotão ia-se desdobrando em saídas de reconhecimento, emboscadas nocturnas, limpeza de estradas e acção psico-social junto das populações das tabancas vizinhas. Com este contacto directo foi-se eliminando a desconfiança que os indígenas possuíam com a presença da tropa. Este estado de temor manifestava-se pela fuga precipitada para o mato logo que se apercebiam da aproximação da tropa.
Várias vezes o Pel Mort pode verificar o estado de insegurança em que vivia a população pois a mesma fugia logo que nos avistava. No entanto, foi fácil trazer toda essa gente para o nosso lado.
Em fins de Dezembro o Comandante de Pelotão baixou ao Hospital Militar, donde seguiu para a Metrópole.
Mais alguns elementos nativos (a) vieram pertencer a este Pelotão, oferecendo a sua colaboração principalmente no que respeita a dialectos. Conhecedores destes e sempre de acordo com a tropa, procuravam obter tudo o que pudesse dar indícios que levassem a uma pista certa.
No ano de 1964 desenvolveu-se a seguinte actividade.
Em 27 de Janeiro partiu uma esquadra (b) deste Pelotão para a Ilha do Cômo, levando a missão de apoio às nossas tropas, (c) com os seus morteiros. Na zona estava instalado o quartel-general do inimigo e dele espalhavam os seus elementos de subversão e distribuíam o armamento e munições para todo o sul da província. Apoiou sempre o avanço das nossas tropas e durante seis meses suportou privações de todo o género. Os ataques ao aquartelamento eram frequentes dando origem a que os nossos dois morteiros trabalhassem durante longo tempo. As comodidades não existiam e só nos últimos dias, já em local mais ou menos adequado, (d) puderam improvisar algo que lhes facilitassem melhores comodidades.
Uma segunda esquadra (b) foi ocupar a vaga da primeira em princípios de Outubro (e). Continuou exercendo a mesma actividade que a anterior.
Em 10 de Janeiro de 1963 (f) chegou um Furriel que veio ocupar a vaga do falecido, anteriormente citado.
A 7 de Março de 1963 (f) chegou o actual Comandante de Pelotão, tomando directamente contacto com o pessoal, assegurando todo o bom andamento deste Pelotão.
No dia 31 de Março realizou-se uma longa saída juntamente com um Pelotão da CCav 353. Quando regressava a Tite e depois de um dia inteiro de exaustiva caminhada, o inimigo tentou fazer explodir um fornilho que anteriormente tinha colocado num local de passagem quase obrigatória. Não houve nada de anormal e o inimigo iniciou uma fuga rápida e precipitada, abandonando o local.
Em 18 de Julho regressou a esquadra (b) que estava na Ilha do Como.
Na parte final de Agosto registou-se um aumento sensível na actividade operacional para privar o inimigo de deslocações que estava levando a efeito. Mais uma vez este pelotão prestou a sua ajuda em saídas e emboscadas constantes.
Em 11 de Agosto tentou-se fazer a ligação por estrada entre as Companhias deste sector usando para tal uma coluna auto e uma apeada para a limpeza e patrulhamento da estrada. A estrada foi patrulhada por este Pelotão, permitindo uma segurança quase total à coluna auto. Foram removidas árvores e construídos alguns pontões para que a referida coluna pudesse continuar o percurso previsto. Chegamos ao aquartelamento já de noite sem termos qualquer contacto com o inimigo.
Na primeira semana de Outubro (g) deu-se mais uma substituição neste Pelotão, motivada pela punição de um furriel deste, que acompanhou uma esquadra (b) na Ilha do Como. Mais um novo elemento veio juntar-se ao Pelotão de Morteiros.
Em 11 de Outubro morreu um soldado afogado no rio Geba, altura em que este Pelotão foi ocupar o destacamento do Enxudé.
Em 31 de Outubro fomos novamente incumbidos de levar a efeito a mesma missão que na Operação de 11 de Agosto. Mais uma vez a estrada Tite-Nova Sintra e daqui para Fulacunda, numa extensão de 8km foi patrulhada por este pessoal. Em Aldeia Nova, cerca de 8km do quartel foi detectada uma mina, previamente colocada pelo IN com a finalidade de rebentar à passagem de uma viatura. À frente cerca de 6km o inimigo esperava-nos emboscado atrás dos montes de baga-baga. Com a nossa rápida e violenta reacção, rapidamente empreendeu a fuga. A missão foi levada até final sem mais algum incidente. Chegamos ao quartel por volta das 19,00 horas. Decorrido cerca de uma hora o inimigo atacou o quartel, obrigando o pessoal que se encontrava cansado a empreender mais uma defesa ao mesmo.
Em meados de Dezembro este Pelotão deslocou-se novamente para o Enxudé, onde permaneceu mais um mês. Foi lá passado o Natal e Ano Novo e novas esperanças se criaram para o ano de 1965.
Novo Ano principia em 1965 e as actividades continuam sem parar.
Em 30 de Janeiro iniciou-se a Operação Braçal com forças da CCaç 423 uma Companhia de Milícia e 3 Pelotões de Tite. Enquanto uns trabalhavam na preparação de instalações para fixação de um quartel (h) outros batiam-se na frente tentando aniquilar e pôr em fuga o inimigo. Este resistiu intensamente e durante vários dias não deu descanso à nossa tropa. Todas as noites flagelava o destacamento com fogo de armas ligeiras e pesadas tentando que a tropa abandonasse o local. Em 10 dias foram enviadas para o destacamento, por parte do inimigo, 126 granadas de morteiro 8cm (i) não tendo alguma dele provocado qualquer acidente. Mais uma vez incutiu-se no espírito do inimigo que a tropa faz o que quer e não são eles que facilmente nos impedem de levar a efeito qualquer objectivo. Em 8 de Fevereiro este Pelotão regressou a Tite.
Durante mais algum tempo o Pelotão cooperou em saídas de rotina, acção psico-social e emboscadas.
Em 15 de Abril o Pelotão foi novamente para Jabadá e ali permaneceu cerca de seis meses e meio. Durante este tempo limitou-se apenas a defender o aquartelamento, que diariamente era flagelado pelo inimigo.
Em 23 de Outubro regressou definitivamente a Tite a fim de se preparar para embarcar em fins do mesmo mês.
Durante esta comissão foram dados seis louvores colectivos e três individuais.
Quartel em TITE, 27 de Outubro de 1965
O COMANDANTE DE PELOTÃO
Ass: António Fernandes Oliveira Rodrigues
Alf Mil
ANOTAÇÕES AO RELATÓRIO DO PELOTÃO DE MORTEIROS 912:
(a) - É omissa a quantidade de elementos, serventes, integrados no Pelotão, como não são conhecidas as identidades dos mesmos;
(b) - Uma "Esquadra" corresponde a um Morteiro e tem o Comando de um 1º Cabo Apontador; obviamente que se trata de uma "Secção", Comandada por um Sargento (Furriel), reduzida, na sua composição Orgânica, em elementos humanos.
(c) - Esta Secção “Autónoma", do Pel Ind Mort 912 destinou-se a integrar e "formar" uma Espécie de Pelotão tripartido, que nunca o foi como tal, assim como, jamais, as três Secções (Pel Mort 912, uma Secção; Pel Mort 916, uma Secção e Pel 917, uma Secção), estiveram articuladas por um Comando unificado ou predeterminado, sendo que as actuações no terreno, eram dependentes das solicitações, directas, de Apoio de Fogo das forças em presença, e desencadeadas conforme as necessidades no decurso da Operação Tridente.
O Comando, se assim se pudesse designar, foi uma fugaz e única aparição pelo tempo que mediou uma Maré, do Alf. Leal Mendes, Comandante Titular do Pel Mort 916.
Este foi o único dispositivo de Armas Pesadas/Morteiros 81, que poderia constituir um Pelotão e, como tal é tomado, para operar em toda a Operação Tridente.
Não era (e jamais foi) o Pel. de Morteiros do BCaç 600 (Pel Mort 916) que operou na Operação Tridente; apenas uma Secção do mesmo.
A deslocação da Secção do Pel Mort 912, seria a que durasse toda a Operação. Tal não aconteceu. Terminada que foi, inexplicavelmente (nunca ninguém o fez), a mesma, continuou no Cachil (Ilha do Cômo), como que abandonada à sua sorte, enquanto as restantes Secções dos outros Pelotões de Morteiros, foram regressando às suas Unidades fixadas nos seus Quartéis Base.
Este abandono real e consciente (ou inconsciente mas consequente), acabou por dar origem á Insubordinação (calculada e consciente) do Furriel Comandante da Secção do 912 e que resultou na concretização do seu desejo pessoal de, por via disciplinar, beneficiar da respectiva transferência de Unidade, o que veio acontecer, conforme estava previsto no RDM, livrando-se, assim, do lugar e das sinistras condições de sobrevivência.
Deste modo, como consequência da falta de Comando, o restante Pessoal que compunha a Secção regressou a Tite, a 18 de Julho de 1964, doutro modo, a substituição provável (?) bem poderia considerar-se a data de Rotação da CCaç 557, a 27 de Novembro de 1964.
(d) - Tão-somente o desbaste da Mata (sem ferramentas apropriadas) e a construção da paliçada, qual forte do "farwest". De resto, as condições mantinham-se inadequadas e desumanas como antes, como se pode verificar nas fotos.
(e) - O Destacamento desta Secção do P.Mort 912 (de Comando tacitamente autónomo, tal como a anterior) teria a duração de 3 meses mas que ( por “continuado e deliberado esquecimento” do Comandante) se prolongaram até Julho de 1965, sem que ao longo de todo o longo período houvesse um único contacto do Comando ou sido dado provimento a qualquer dos inúmeros e legítimos anseios a solicitar rotação e substituição.
(f) - Evidente ser referido a 1964
(g) - 20 de Setembro, com precisão.
(h) - Omisso o nome, mas que se reporta a Jabadá.
(i) - Considere-se Morteiro 82mm.
Anexam-se a digitalização do Relatório e algumas fotos do Aquartelamento do Cachil, com as respectivas legendas.
Espero poder ter contribuído para esclarecer um pouco mais aquele período e lugar, que ainda está longe de ter, definitivos, todos os dados Históricos. Há, sabe-se, a cada dia que passa, bem mais que contar que o que já foi narrado.
Abraços, do
Santos Oliveira
OBS: - Em próximo poste serão exibidas fotos enviadas pelo nosso camarada Santos Oliveira, juntamente com este Relatório de Actividades
CV
__________
Comentário de CV
(*) Vd. poste de 25 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3938: Brasões, guiões ou crachás (7): Pelotão Independente de Morteiros 912 (Santos Oliveira)
Guiné 63/74 - P4043: Falando do General Carlos Azeredo (José Belo / Joaquim Queirós)
Todo o já largo tempo em que tenho procurado acompanhar a Tabanca Grande me surpreendi com "a falta" da presença do "Major" Azeredo, respeitado, admirado e estimado, comandante do C.OP. de Aldeia Formosa em 1968.
Por inconveniente nas suas ideias e posições frontais, tão fora do vulgar no nosso Exército de então, fora continuamente perseguido, e punido, pela hierárquia. Com a chegada de Spínola e o arranque do programa "por uma Guíné melhor", justiça foi finalmente feita ao "Major" Azeredo com a nomeação pelo Comando Chefe para, então, tão importante cargo operacional. Com o conhecido entusiasmo e frontalidade, acompanhado sempre do seu exemplo pessoal, o Major Azeredo conseguiu, de imediato, motivar mesmo os "menos crentes", transformando desde o primeiro dia do seu comando todo o sector operacional.
Dizia conhecido general romano:
- O carácter não se inventa, o carácter forma-se!
Daí não resistir lembrar aos Camaradas um acontecimento passado com o Capitão Carlos de Azeredo aquando da queda da Índia portuguesa onde então prestava serviço.
Após tentativa de fuga de militares portugueses prisioneiros no campo de Pondá, efectuou-se uma formatura de emergência para contagem de prisioneiros no campo de Alparqueiros onde o Cap. Carlos de Azeredo se encontrava detido. Os prisioneiros foram obrigados pelos militares indianos a comparecer em acelerado. Foi então que o Cap. Azeredo, indiferente às ordens recebidas, se diriguiu calma e compassadamente para a formatura. Advertido por um militar indiano, este intimidou-o a correr. Como o Cap. Azeredo tivesse reagido verbalmente, o Cap. Nahir do 4.º Bat Sik da 17.ª Div. Inf., deu ordem a três soldados indianos para o agredirem à coronhada, o que fizeram. O Cap. Azeredo, violentamente agredido e arremessado ao solo, comportou-se com excepcional coragem e dignidade, perante a admiração dos militares portugueses que assistiram à cena.
(Do livro - Queda da India Portuguesa - Carlos A. de Morais)
Meu General, aqui da tão distante Suécia quero "gritar-lhe" que sentirei sempre orgulho em ter servido sob as suas ordens no humilde destacamento de Mampatá!
Estocolmo
14/Mar/09
José Belo
2. Artigo publicado na edição do dia 11 de Março de 2009, no Matosinhos Hoje Online, de autoria do jornalista senhor Joaquim Queirós, fundador e Director do mesmo Jornal em papel.
Convívio de mais de centena e meia de matosinhenses ex-combatentes na Guiné, com a presença do general Carlos Azeredo.(**)
“Sim, meu general”
No passado sábado, nas magníficas instalações do restaurante “Mauritânia”, na rua de Mousinho de Albuquerque, realizou-se o 3.º encontro de convívio entre os militares matosinhenses que combateram na Guiné-Bissau, então Guiné portuguesa.
Foi um momento de grande companheirismo, em que não faltaram as boas e más recordações, tendo estado presente, a presidir a tão significativo momento, no qual também esteve a deixar um abraço o presidente da Câmara de Matosinhos, dr. Guilherme Pinto, o general Carlos Azeredo, que para além do militar exemplar que ainda o é, na Reserva do Exército português, foi um chefe que se fez respeitar sem quebrar o sentimento de solidariedade e amizade com todos os seus subordinados.
O “Matosinhos Hoje”, convidado para o convívio, não podia deixar de aproveitar a oportunidade para conversar com tão elevada e histórica figura militar, agora com 78 anos, que esteve em comissão de serviço por duas vezes em Goa (Índia), tendo sido até feito prisioneiro quando da invasão daquele território pelos indianos; em Cabinda (Angola) e por duas vezes na Guiné. Foi assessor militar de Sá Carneiro e chefe da Casa Civil do Presidente da República Mário Soares. Ocupou, ainda, a chefia militar da Região do Porto.
Dada a actual conjuntura de tragédia na Guiné-Bissau com o assassínio do Presidente Nino Vieira e do chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, Tagmé Na Waié, o general Carlos Azeredo não teve dúvidas em afirmar:
- Há inúmeras etnias, mas é um povo extraordinário. Mas é um também um país que, noutros tempos tinha hipóteses de criar a sua subsistência e até exportar arroz, enquanto agora é a miséria que se sabe, tomando o Estado conta de todo o espaço e dando uns quintais aos balantas. Depois, há o facto importante de ser um pequeno país que, quando a maré sobe o mar cobre metade do território.
Quanto aos actuais e trágicos acontecimentos, é o resultado natural da luta étnica e dos caminhos negros do envolvimento do país no narcotráfico, tal como se pode depreender pelas notícias. O Presidente Nino, quanto a mim foi um grande guerrilheiro, embora um bárbaro, um Viriato daquelas paragens e estes homens terão de ter sempre morte violenta. As é horrível ter conhecimento destas desgraças e da desgraça destes povos.
O jornalista via na face do grande chefe militar uma nota de inconformismo sobre a situação actual guineense:
- Um grande povo, trabalhador, mas infelizmente envolvido numa situação que não se sabe como irá acabar.
O bacalhau já havia sido digerido e todos procuravam que o “nosso general” também provasse o porco preto, mas ele não acedeu à “ordem de serviço”:
- Já tenho bacalhau quase até sair da boca!
E continuou a curta conversa com o jornalista, não deixando de lhe dar uma ordem”: coma, homem, aqui tem o prato”.
Mas o jornalista antes queria beber a solicitude do general e a sua amabilidade, a força que ainda o velho militar demonstra. Recordamos quando Carlos Azeredo, perante a admiração da população da cidade do Porto, via o então brigadeiro transitar, quando no comando da Região Militar, montado na sua “vespa”. O general deu uma gargalhada:
- Você lembra-se disso? Era uma “Vespa”. Mas também tive uma motorizada igual à dos pedreiros. Era para fugir ao trânsito e chegar ao quartel general a tempo e a horas. Olhe (e dá uma gargalhada bem sonora) um dia descia a Rua da Boavista, montado na tal bicicleta a motor, e na Carvalhosa, o sinaleiro quando me viu passar, fez-me a continência e rodou, de boca aberta, porque não queria acreditar. Eu era e sou assim.
- Mas há mais situações?...
- Sim, por exemplo, quando fui nomeado Chefe da Casa Militar do Presidente Mário Soares estava com uma perna partida e engessada. Parti o gesso, calcei as botas e apresentei-me, correndo o risco de ficar com uma mazela. Mas tinha de estar presente. Se tinha!
- Fui Governador Militar e representante da República na Ilha da Madeira, tive as minhas discussões bravas com o dr. Alberto João Jardim, algumas que até não quero recordar porque se sabe como é o meu feitio, mas hoje somos grandes amigos e ele fez da Madeira um exemplo de governação. Aqui no Continente bem precisávamos de dois ou três.
A conversa continuou, com parte dela a não ser conveniente reproduzi-la pois falava da “porrada” que houve na guerra colonial e pelas “porradas” que constavam das relações do general com as suas tropas, muito embora estas admirassem o seu comandante, aliás como aquele momento bem o demonstrava.
Carlos Azeredo, nascido, por acaso, em Marco de Canaveses, ainda antes dos nove meses de gestação, situação que, segundo se lê e ouve é sinal do nascimento de alguém que vai fazer história de relevo, hoje, com 78 anos rijos como o “pinguelim” dos oficiais de Cavalaria. Hoje vive na sua propriedade do Douro (“se quiser ir a minha casa, vai à Régua, encosta-se no edifício da estação dos caminhos de ferro, olha para o lado de lá do rio e a minha casa é ali. E tem boa pinga…”) quando lhe apetece, como ele diz no seu ar bem disposto “escrevo umas coisas para O Diabo”.
Foram uns momentos bem passados, de óptima recordação. O nosso obrigado a inúmeros amigos que ali vimos e que soubemos que, alguns, já visitaram as terras onde viveram momentos de sofrimento.
Por: Joaquim Queirós
Com a devida vénia ao Matosinhos Hoje
__________
Notas de CV.
(*) Vd. poste de 8 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3998: Tabanca Grande (124): José Belo, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70), actualmente Cap Inf Reformado a viver na Suécia
(**) Vd. poste de 14 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4030: Convívios (100): Ex-combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos, ocorido no dia 7 de Março de 2008 (Carlos Vinhal)
Guiné 63/74 - P4042: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (4): Ajudas de memória (Abreu dos Santos)
O Abreu dos Santos é, além disso, um estudioso da guerra da Guiné (1963/74)... Na única foto que teve a gentileza de me mandar, para meu conhecimento pessoal, tirada em Angola, tinha a seguinte legenda: "equipa 'comando' em formação, na qual estão (não 'estavam', estão...!) em maioria rapazes, portugueses como este vosso leitor, mas nascidos naquele território [, Angola,], um dos quais cuanhama e que viria a morrer em combate" (...).. Acabei por retirar essa foto, respeitando a vontade do nosso leitor de não querer ver as suas fotos copiadas "e, principalmente, utilizada(s) por outros e para 'outros' fins".
2. Comentário ao poste P3955 (*)
Aos estimados veteranos que andaram por matos e bolanhas da Guiné, e a quem mais interessar possa, aqui ficam algumas "ajudas de memória", relacionadas com o tema «Madina do Boé 1969-1973» (**)
[...]
1969 – Fevereiro.9
No sudeste desertificado da Guiné, os guerrilheiros da Frente Sul do PAIGC entram em Madina-do-Boé e instalam-se no recém-abandonado campo fortificado onde - até à manhã do anterior dia 6 - estavam aquarteladas tropas portuguesas.
– «Havia certa relutância em retirar a companhia da sua posição insustentável e dispersa, uma vez que, se assim fosse, o PAIGC declararia a região como ‘livre’. Já anteriormente acontecera uma situação idêntica na zona oriental de Beli e com a retirada das tropas portuguesas o PAIGC declarara a área como ‘zona libertada’. O mesmo acabou por acontecer com a retirada da companhia de Madina em 1969 e o PAIGC passou a receber os jornalistas estrangeiros em território português, com a consequente e indesejada publicidade. A área não tinha qualquer valor económico, a escassa população não era estrategicamente importante para qualquer dos lados e as tropas portuguesas poderiam ser melhor utilizadas noutras tarefas.»¹
– «[O caboverdeano Silvino da Luz] guarda especialmente viva na memória [em Fev94], ‘a luta em torno do quartel de Madina do Boé’, no final dos anos 60. “Antes de o abandonarem, os portugueses armadilharam-no, com minas. Três companheiros meus ficaram sem pernas”.»²
¹ (cf Hélio Felgas, em 22Nov94 a John Cann);
² (Castanheira, op.cit pp.297)
[...]
1970 – Março.14 (sábado)
De Bissalanca seguem por via aérea para o chão Gabu dos futa-fulas e futa-forros no leste da Guiné, o ministro do Ultramar, o comandante-chefe general Spínola e o comandante da ZACVG coronel Diogo Neto, que em Nova Lamego inauguram o novo aeródromo com uma pista asfaltada de 2100mts por 50mts de largo, construído em 10 meses e que, com os do Quebo (Aldeia Formosa) no sul e Cufar (perto de Catió) no sudoeste, integra o programa anual de desenvolvimento das comunicações aéreas provinciais.
– «Só em 1970 foram construídas mais três pistas asfaltadas: Nova Lamego, Cufar e Aldeia Formosa [Quebo], para cobertura operacional do sul e leste, Gabu e Boé. Nova Lamego tinha sido preparada para aviões FIAT e passou a contar com um destacamento permanente de aviões ligeiros.»¹
Seguidamente a comitiva percorre em automóvel o concelho do Gabu, viajando a seguir de helicóptero para sul, aterrando primeiro em Béli e depois sem escolta em Madina-Boé que, segundo Amílcar Cabral, é uma «região libertada» pelo PAIGC. No regresso a Bissau, sobrevoam a baixa altitude as tabancas do Cheche e Canjadude, e ao fim da tarde no QG do forte da Amura o ministro assiste ao briefing de rotina diária.
¹ (Diogo Neto, em 19Jul94 a Freire Antunes)
[...]
1973 – Outubro.24
No sudeste da Guiné, o novo governador e comandante-chefe general Bettencourt Rodrigues – após ter tomado o pulso à situação da província –, desloca-se com 2 jornalistas alemães a Madina-do-Boé e percorre sem escolta a designada «capital da República», proclamada pelo PAIGC exactamente há 1 mês.
[...]
– «O novo comandante-chefe estudou a situação e, quando se considerou de posse de todos os elementos para fazer o seu diagnóstico, voltou a Lisboa onde expôs a sua opinião ao Governo, indicando os meios que considerava necessários para actuar com segurança. Pouco antes, haviam-se verificado ataques esporádicos a povoações da zona leste próximo de Nova Lamego (Gabu) e da zona sul.
A opinião do comandante-chefe era a de estes últimos tinham o carácter de manobra de diversão. O objectivo real do inimigo era isolar uma zona na faixa leste da província, que incluia Madina do Boé, para poder instalar-se no nosso território e assim pôr termo à situação ridícula de afirmar que o dominava, ter proclamado a sua independência e continuar com a sede dos seus orgãos dirigentes em Conackry, onde era forçado a receber os representantes dos organismos internacionais e dos Estados que haviam reconhecido a pseudo-República da Guiné-Bissau... Bethencourt Rodrigues compreendeu a manobra e preparou-se para a inutilizar.
Foram-lhe dados mais meios e outros em breve lhe seriam enviados, que anulariam ou pelo menos atenuariam substancialmente o desnível que se dizia existir entre os nossos meios e os do inimigo.»¹
– «A propósito é de recordar uma crónica publicada por um jornal da Alemanha Federal, de um seu enviado especial e oriunda de Medina [sic] do Boé. Começava por afirmar o seguinte: “Não existe uma República da Guiné-Bissau. Embora 70 Estados tenham reconhecido esta República, a partir do momento da proclamação da independência da Guiné Portuguesa efectuada pelo movimento terrorista PAIGC, o certo é que isto se traduz no reconhecimento de uma fantasia. Nem sequer a povoação de Medina, na zona do Boé, no sul do território e na qual 120 deputados reunidos em assembleia nacional dos rebeldes do PAIGC, teriam proclamado a República, se encontra nas mãos dos rebeldes.”»²
Enquanto isso no QG da NATO em Bruxelas, o secretário-geral Joseph Luns solicita aos delegados da Holanda, Noruega e Dinamarca que os seus governos não reconheçam³ a "independência da Guiné-Bissau".
¹ (Silva Cunha, op.cit pp.56-57);
² (Thomaz, op.cit pp.328);
³ (mas só no início de Abr74 o MNE dinamarquês vai distribuir, em nome dos países nórdicos, um comunicado conjunto nesse sentido)
__________
Notas de L.G.:
(*) 1 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3955: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (3): O local estava minado e o PAIGC sabia-o (Jorge Félix) Vd. postes anteriores desta série:
Vd. postes anteriores desta série:
18 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3911: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (1): Em 1995, confirmaram-me que o local da cerimónia foi mais a sul (Miguel Pessoa)
20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3920: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (2): Opção inicial, uma tabanca algures no sul, segundo Luís Cabral (Nelson Herbert)
(**) Vd. poste de 18 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3909: (Ex)citações (16): Por que é que a FAP não bombardeou Madina do Boé em 24/9/1973 ? (Luís Graça / A. Graça de Abreu)
Guiné 63/74 - P4041: O Spínola que eu conheci (4): Mansoa, 17 de Março de 1970, com o Ministro do Ultramar (Jorge Picado)
Caros Amigos, Luís, Briote e Vinhal
Neste dia quente e soalheiro, que mais parece ser no pino de verão e não ainda de inverno, ao consultar os apontamentos verifiquei, que comemorava anos em que tinha conhecido pessoalmente o então General Spínola.
Aí vai a nota descritiva do facto, que julgo possa ter algum interesse, não por o ter conhecido, mas pelo que dele ouvi e me deixou meio "apalermado" então.
Como sempre deixo ao vosso critério o que fazer da notícia.
Abraços para todos os camaradas.
Jorge Picado
2. O Spínola que eu conheci (*) > Terça-feira, 17 de Março de 1970
Passam hoje 39 anos desde aquela longínqua terça-feira em que conheci finalmente o tão famoso, naquele tempo, Governador-Geral e Comandante-Chefe do CTI da Guiné.
Durante aqueles primeiros 22 dias de Mansoa já tinha ouvido falar, por diversas vezes, nesta personalidade, por aqueles que contavam quer boas quer menos boas histórias dele, tratando-o pelos mais diversos nomes. General Spínola, Com-Chefe, Governador, Caco Baldé ou simplesmente Caco e até Cavalo Branco, que era o indicativo, creio, de quando se deslocava de helicóptero.
Pois nesse dia, da semana e mês, realizou-se a visita a Mansoa de Suas Excelências, o Ministro do Ultramar, Dr. Silva Cunha (**) e o GG, Gen António de Spínola. Aquele, de visita ao CTIG, para observar e conhecer in loco os êxitos da aplicação das medidas militares e políticas determinadas nas Directivas do Com-Chefe, traduzidas no consagrado slogan “UMA GUINÉ MELHOR” deslocou-se a vários locais, incluindo também a sede do BCaç 2885, Mansoa, onde lhe foi preparado um “Banho de multidão” condigno.
Toda a “sociedade civil nativa”, daquelas redondezas (reordenamentos) foi mobilizada para vir receber e saudar o Homem Grande do Puto, mostrando ao mesmo tempo como “adoravam” o que o famoso Caco Baldé fazia para bem daquele Povo.
Dada a minha situação privilegiada, forças da CCaç dispersas, não tive que alinhar nas medidas de segurança adoptadas, como outros camaradas tiveram de fazer, no mato em patrulhamento ou emboscados para salvaguardar alguma desagradável surpresa do IN. As Altas Individualidades estavam ali para receber cumprimentos e manifestações de regozijo, mas não daquelas que o IN costumava fazer.
Consta da HU – História da Unidade, CAP II:
“Em 17MAR70, recebido o reforço de 2 GComb do Batalhão de BISSAU, são adoptadas mediadas especiais de segurança durante a visita de Sua Ex.ª o Ministro do Ultramar ao Concelho de MANSOA”.
É curiosa esta simples menção, pois nem se dignam indicar a companhia do GG e Com-Chefe. Seria usual?
Portanto fui apenas um digno observador, que devo ter feito parte dos que estiveram perfilados ao lado, enquanto se prestavam as honras militares devidas e, talvez, os cumprimentos da praxe. Pude assistir e ouvir os discursos respectivos, especialmente o do Com-Chefe e é por isso que redijo esta pequena nota.
Eis a razão desta minha evocação.
A certa altura do discurso, ouço, com espanto meu, o General dizer algo que, face a não ter presente a esta distância as palavras exactas, resumo em “se estar a viver um momento especial e já não faltar muito para o fim da guerra”!!!
Estava há 22 dias, como disse, em Mansoa, rodeado dos meus medos sobre o que me iria acontecer e eis que me apontam a perspectiva da guerra estar prestes a terminar?
Sinceramente, não percebi onde queria chegar com tais palavras. Para mim tudo aquilo não passava de mera propaganda. Pensei com os meus botões, afinal seria normal que estando a falar, não só para as POPs, mas também para os militares e na presença dum Ministro, tentasse exercer a sua APSICO, afim de levantar a moral dos soldados e convencer os gentios.
Mas não foram precisos muitos dias, para compreender tais afirmações. Trinta e quatro dias depois o sonho desmoronou-se. A 20 de Abril a noticia correu célere. Tinham sido mortos os 3 Majores e o Alferes Miliciano, na estrada para Jolmete. Era no seu trabalho que se alicerçava a crença do General.
Nota: A páginas 590 da publicação Guerra Colonial: Angola, Guiné, Moçambique , de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes, editada pelo Diário de Noticias, escreve-se:
“1970.04 Referência, num discurso em Mansoa, feito por Spínola diante do Ministro do Ultramar, Silva Cunha, ao facto de a Guiné estar a viver um grande momento, por se aproximar o fim da guerra.”
Esta citação está incorrectamente datada, pois foi no dia que agora indico e não num dia indeterminado de Abril.
E já agora, antes de terminar e por mera coincidência: No mesmo dia e mês, 17MAR, mas do ano seguinte tenho a seguinte inscrição no mesmo intervalo da agenda: “Mansoa-Mansabá, 0700. Visita SEXA GG à estrada." (***)
Trocando por miúdos: Estava em 1971 na CART 2732 e tinha ido a Bissau em DO no dia 15. A 16 segui de Bissau para Mansoa de camioneta (?!) e a 17 apanhei uma coluna de Mansoa para Mansabá que saiu às 7 da manhã. Nesse dia o General Spínola visitou as obras na estrada Mansabá-Farim. Sobre este acontecimento talvez os amigos Carlos Vinhal ou Vítor Junqueiro possam esclarecer melhor.
Um abraço do Mansoa ao Cacheu do
Jorge Picado
__________
Notas de L.G.:
(*) Vd. postes anteriores desta série (O Spínola que eu conheci):
1 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3953: O Spínola que eu conheci (3): Um homem de carácter (Jorge Félix)
24 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3935: O Spínola que eu conheci (2): O artigo da Visão e o meu direito à indignação (Vasco da Gama)
24 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3929: O Spínola que eu conheci (1): Antes que me chamem spinolista... (Vasco da Gama)
(**) Joaquim Moreira da Silva Cunha nasceu em 1920. Começou como por secretário do Ministro das Colónias em 1944, num dos governos de Salazar, iniciando assim uma carreira que o levaria a subsecretário de Estado do Ultramar, em 1962, e depois a ministro, em Março de 1965 (cargo que ocupará até finais de 193).
(...) "Sempre ligado às questões coloniais, foi professor da antiga Escola Superior Colonial, dirigente da Mocidade Portuguesa para o Ultramar, vogal do Conselho Ultramarino, procurador à Câmara Corporativa e subsecretário de Estado da Administração Ultramarina (Dezembro de 1962)".
Como ministro do Ultramar durante oito anos (1965-1973), é destacar a sua fidelidade e entusiasmona na defesa da política ultramarina do então Governo de Salazar e depoia de Marcelo Caetani. Participou na revisão constitucional de 1971, foi o impulsionador do mega-projecto de construção de Cahora Bassa, em Moçambique, apoiou a tentativa de Costa Gomes de aliciar Jonas Savimbi para fazer face ao avanço do MPLA no Leste de Angola, tal como apoiou a política de Spínola ("Por uma Guiné Melhor").
Já em plena crise desencadeada pelo Movimento dos Capitães, substituiu o general Sá Viana Rebelo na pasta da Defesa, em finais de 1973.
Fonte: Adapt de Guerra Colonial, dir. Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes, Lisboa, Editorial Notícias, 2000.
Natural de Santo Tirso, licenciou-se em Direito, em 1943, pela Faculdade de Direito da Universidade Lisboa. Doutorou-se tembém em Dierito, pela mesma Universidade, com uma tese sobre "O Sistema Português de Política Indígena. Subsídios para o seu estudo", hoje considerada uma obra de referência para quem quiser conhecer as perspectivas de reestruturação e evolução do sistema colonial no pós-Segunda Guerra Mundial.
(...) "Até à tomada de cargos de direcção no Ministério do Ultramar - -, realiza um percurso académico e político que tem como principais coordenadas: a actividade docente no ensino superior (cadeiras de Direito e Administração Colonial na Faculdade de Direito de Lisboa, no Instituto do Serviço Colonial e na Escola Superior Colonial - escola que se encontra na origem do Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina) e o desempenho de funções no Centro Universitário da Mocidade Portuguesa de Lisboa, no Conselho Ultramarino e em várias comissões e associações científicas de índole colonialista.
"No que respeita à actividade governativa, integra o grupo de condutores da última fase da política colonial portuguesa, cabendo-lhe maior protagonismo no período de agudização da guerra de África e de execução dos últimos planos de fomento ultramarino.
"Atendendo à produção legislativa, às iniciativas do Ministério e à sua produção discursiva da época [vd Memória de África > Publicações de Silva Cunha] , podemos sugerir que a sua actuação é coordenada: em primeiro lugar, pela intensificação progressiva do 'esforço de guerra' nos planos militar, propagandístico, orçamental e de fomento das vias de comunicação, mas também no que toca à maior eficácia do sistema de repressão policial (que se inicia com o encerramento da Casa dos Estudantes do Império, em 1965, prossegue, por exemplo, com o Plano Geral de Contra-Subversão e termina com as remodelações dos Conselhos Provinciais de Segurança, em Setembro de 1973); em segundo lugar, pelas medidas tendentes a regulamentar e a dar execução às reformas de 1961-64, designadamente nos sectores do desenvolvimento económico e das infra-estruturas produtivas, da educação, da saúde e da assistência social" (...).
Fonte: Dicionário de História do Estado Novo, 2 vols, dir. Fernando Rosas e J.M. Brandão de Brito, Venda Nova, Bertrand Editora, 1996.
[Em linha] [Consult. 17 de Março de 2009] Guerra Colonial: 1961-1974.
(***) O Jorge Picado só chegou à fala com Spínola numa outra visita, já no destacamento de Cuti, no Natal desse ano (1970):
Vd. poste de 31 de Dezembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3687: O meu Natal no mato (20): Visita de Natal do COMCHEFE a Cutia (Jorge Picado)
segunda-feira, 16 de março de 2009
Guiné 63/74 - P4040: Quando o apreço se transforma em apresso, por causa das pressas (Luís Faria)
Amigo Vinhal
Mais um pouco de trabalho para que te mantenhas em forma!
Era para ser um comentário a um comentário, mas resolvi mandar-to para publicação, se assim o achares.
Um abraço
Luis Faria
PS: - Se puder ser publicado hoje, fica em sintonia com o Poste comentado. Obrigado
CONSIDERAÇõES
Relendo agora, o meu comentário ao Poste 4007(**), reparo que escrevi APRESSO e não APREÇO, como devia no caso.
“Se entra lixo... sai lixo”, diz o Luís Graça e bem, no comentário a esse mesmo Poste.
Também acho que devemos ter um pouco mais de cuidado com os pequenos grandes "lixos" que possamos enviar (os "lixos" de que fala), contribuindo um pouco para a poupança de tempo e de cabeça dos nossos incansáveis Timoneiros a quem não damos descanso.
Um abraço e um obrigado ao LUIS, VINHAL e BRIOTE
A grande parte de "lixo maior" também é reciclável, mas como já constatámos, a Tabanca encarrega-se de o reciclar, “rapidamente e em força”.
Também há o não reciclável e esse tem de ser, a meu ver incinerado à nascença (antes de contaminar), pelos Timoneiros desta BARCA-TABANCA se por eles detectados, como também já tem acontecido.
Caso consigam passar o crivo, cada vez e ainda bem, há mais remadores e “Olheiros” atentos que se encarregam de à pazada e à gadanhada o meter no incinerador, como também já aconteceu.
Não quero acabar sem deixar também um abraço de apreço aos vários e assíduos COMENTADORES - J. Picado, Mexia, M. Fitas - e o seu grande Cumbijã -, J.Dinis, A. Pinto, A.H. Matos, António G. Matos, T. Mendonça , M. Ribeiro, H. Sousa e tantos outros que com a sua atitude interventiva contribuem e em muito para a vivacidade do nosso Blogue, para além de incentivarem também as participações no mesmo, em especial àqueles que possam pensar que, por não receberem comentários, os seus dizeres têm pouco ou nenhum interesse para os restantes Tertulianos e daí se coibirem de expressar as suas estórias, que a meu ver têm sempre interesse, já que são vivências pessoais/colectivas que ajudam a compor o “puzzle” intrincado desses anos de guerra na Guiné.
Não me levem a mal os Editores o apelar também ao Pessoal da Marinha, F. Aérea que alarguem e aumentem os vôos e milhas náuticas, recrutem mais pessoal, trazendo-nos mais e novos contributos que fazem falta à consolidação do dito “puzzle”.
Já vai longo o texto, era para ser um comentário ao segundo comentário do Luís Graça no dito Poste 4007 (já 4007 postes!!). Não sei porquê, mando-o para o Vinhal para publicar, se achar.
A todos, um outro Abraço e desculpem a intromissão.
Luís Faria
2. Comentário de CV
Peço-te desculpa Luís Faria por só hoje publicar este teu comentário, mas só agora reparei que pretendias que isto fosse para o ar no próprio dia 11.
Na verdade atravessei duas semanas em que a minha vida particular me afastou do Blogue. Já pedi desculpa ao Luís Graça. Agora estendo o mesmo pedido ao resto da tertúlia, principalmente aos meus clientes, que viram os seus trabalhos publicados com algum atraso.
Como disse em outras ocasiões, uma das nossas funções, ao editar, é filtrar uma ou outra gralha, quando as detectamos, pois nós próprios também damos os nossos pontapés na gramática. Não se diz que a língua portuguesa é muito traiçoeira?
Claro que os comentários ficam à responsabilidade de quem os faz, tanto na ortografia como no sentido que dão ao texto.
Luís, tens razão quanto à necessidade de pluridade dos interventores no Blogue. Temos muita tropa macaca, mas precisamos de muita Força Aérea e muita Marinha. Esta última Arma não estará muito representada, neste momento, mas da FA temos já uns quantos tertulianos activos e, cereja no bolo, tivemos há pouco tempo a adesão da nossa querida camarada Giselda, representante daquela classe tão pequenina, mas tão importante, que é a das nossas Enfermeiras Pára-quedistas.
Portanto, camaradas da Marinha, Força Aérea e do Exército, apareçam e venham conversar connosco para ajudarem a construír o puzzle da guerra da Guiné.
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 14 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4031: As abelhinhas nossas amigas (4): Desculpem qualquer coisinha (Luís Faria)
(**) Vd. poste de 10 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4007: Blogoterapia (95): Há mais vida no alfabeto da guerra, para lá dos G: Guileje, Gadamael, Gandembel, Guidaje... (António Matos)