Lisboa, Campus da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa > 6 de Setembro de 2007 > O Pepito, entre o Nuno Rubim (à esquerda) e o Luís Graça (à direita).
Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.
1. Texto do editor do blogue:
Anésia Fernandes
Por detrás de um grande líder, há sempre uma grande equipa. No caso da organização do Simpósio Internacional de Guiledje - uma ideia que nasceu no seio da ONG AD há dois anos e tal - esse líder chama-se Pepito e a equipa é constituída, pelo menos, por oito magníficos, três dos quais são mulheres: a Anésia Fernandes, a Cadidjatu Candé e a Conceição Vaz...
É justo conhecê-los, a eles e a elas, na véspera de arrancar este evento que tem despertado uma certa curiosidade, bastante interesse e até algum entusiasmo tanto em Portugal como na Guiné-Bissau.
Militarmente ou apenas simbolicamente, Guileje foi um passo de gigante no caminho para a indepência da Guiné-Bissau... No fundo, é esta mensagem que se quer passar, interna e externamente.
Cadidjatu Candé
Mas, por outro lado, acentua-se que este simpósio não pretende celebrar a derrota de ninguém, pelo contrário, representaria o triunfo da vida sobre a morte, da paz sobre a guerra, da memória colectiva sobre o esquecimento e o branqueamento da história, da ciência sobre a propaganda, da amizade sobre o ódio...
É também a afirmação (ou a reivindicação) da apropriação da história por parte dos guineenses , e de certo modo da recusa do círculo vicioso da pobreza e da dependência...
Mas ainda é cedo para fazer um balanço de uma iniciativa que está em marcha. Falemos depois dos actores que, na sombra, têm estado a organizar tudo isto...
Conceição Vaz
Comecei a contactar com o Pepito em finais de 2005. Pessoalmente conheci-o em Fevereiro de 2006, numa das suas deslocações a Lisboa. Apesar da sua agenda sempre apertada, ele foi de uma extraordinária gentileza para comigo, ao fazer questão em deslocar-se ao meu local de trabalho, na Escola Nacional de Saúde Pública, só para me conhecer pessoalmente, dar-me notícias da sua terra (que ele ama com um coração muito grande), falar-me, com entusiasmo contagiante, da menina dos seus olhos, que era já o Projecto Guiledje (com dj, como ele gosta que se escreva), e, ainda, ter a ternura de presentear-me com o livro de contos O Cativeiro dos Bichos, do seu querido pai, Artur Augusto Silva (Ilha Brava, Cabo Verde, 1912- Bissau, 1983), um homem de leis e de cultura, um paladino do combate pela justiça e da liberdade nas terras que ele tanto amava (Portugal, Cabo Verde, Guiné-Bissau).
O nosso querido amigo, o saudoso Capitão José Neto (1927-2006), que entrou para a nossa tertúlia logo a seguir ao Pepito, já me tinha preparado o terreno, ao apresentá-lo nestes termos, naquela linguagem franca e chã com que ele se exprimia, no nosso blogue: " (...) Tenho a pretensão de conhecer o carácter dos homens ao fim de dois dedos de conversa. Não tão cientificamente como tu, profissional do ramo, mas, como dizia o outro, raramente me engano.
"E asseguro-te que o Pepito é do melhor que há. Talvez um pouco sonhador, porque abdica duma vida confortável que poderia gozar cá em Portugal, em troca das mil e uma tarefas que desenvolve na sua querida Guiné em prol do seu povo. É fácil entender que o seu espírito superior choca com certo primitivismo que grassa naquela região, mas não desiste e essa é a qualidade que faz dele um amigo que muito admiro e a quem dispenso a minha modestíssima colaboração sem reticências" (...).
Honório Correia
Pude comprovar, de imediato, as palavras sábias do Zé Neto, neste convívio de apenas dois anos e picos (que é necessariamente esporádico, e em grande virtual, já que só nos encontrámos, em Lisbia, três ou quatro vezes, se a memória me não falha).
No nosso primeiro encontro, em Fevereiro de 2006, eu e o Pepito falámos - como se fôssemos já velhos amigos - da então situação económica, social e política da Guiné-Bissau, dos medos e das esperanças que os guineenses sentiam em relação ao futuro, dos demónios étnicos, do perigoso retorno à pertença e à identidade étnico-linguísticas na ausência de um Estado de direito que garantisse a protecção e o respeito do indivíduo e da família...
Enfim, falámos idos terríveis acontecimentos de 1998, a guerra civil, que levaram o Pepito e a família a refugiar-se em Cabo Verde, terra de seu pai... E do doloroso regresso a Bissau, um ano e tal depois, o retorno à casa completamente pilhada, violada, destruída... Os livros, as fotografias, as memórias de uma vida...
Leopoldo Amado
O que foi espantoso foi ouvir este homem, que é um profissional do optimismo, que é um gigante com coração de ouro, contar isto sem ódio, sem ressentimentos, sem rancor, quase sem mágoa... Disse-me que tinha vindo a recuperar algumas coisas, naturalmente com emoção: uns negativos, umas cartas, uns livros... E isso era suficiente para lhe dar alento para continuar a viver e a trabalhar na sua terra e no seu continente, de que muitos fogem...
Tanto quanto me é dado observar e saber, a ONG guineense AD - Acção para o Desenvolvimento, fundada no início dos anos 90, tem-se vindo a impôr, entre as ONG que operam na Guiné-Bissau, justamente pela sua liderança, seriedade, competência, qualidade, eficácia e metodologia de participação comunitária.
Moisés Pinto
E isso é um motivo de honra para o seu fundador, a sua direcção e os seus colaboradores, mas também e sobretudo um motivo de esperança para a população que é é objecto e sujeito do trabalho da AD, através dos seus projectos nas mais diversas áreas do desenvolvimento económico, social e cultural.
A AD tem merecido, até hoje, o meu profundo respeito e admiração que, creio, é partilhado por muitos dos nossos amigos e camaradas da Guiné, que se reunem à volta deste blogue.
Temos procurado, discretamente, sem desvio dos nossos próprios objectivos como grupo e como blogue (e sem interferência na vida interna deste novo país-irmão que é a Guiné-Bissau), levar ao conhecimento dos que nos visitam e lêem o trabalho feito por esta ONG guineense, em prol da democracia, da cidadania, da participação comunitária, da protecção da natureza, da educação e formação das suas gentes, do desenvolvimento sustentado e integrado da daquela terra e daquele povo, bem como da preservação da sua identidade histórica e cultural, nos mais diversos sectores e domínios.
Tomané Camará
Reitero, por isso, mais uma vez os parabéns que aqui dá dei ao Pepito, por ter conseguido concretizar este sonho, e ganho pelo menos a nova batalha de Guiledje - ainda por cima a ele que é um homem de muitos outros combates, mas que nunca foi um combatente de armas de guerra na mão!..
À distância, só posso imaginar as dificuldades e os obstáculos que representam pôr em marcha este projecto como este: foi preciso lutar contra moinhos e marés e congregar os meios (científicos, humanos, técnicos, logísticos, financeiros) bem como o apoio político e institucional do Estado e de instituições relevantes da sociedade civil guineenses, uns e outros necessários para que este Simpósio Internacional de Guildeje: Na Rota da Independência da Guiné-Bissau venha a ser, como todos o esperamos e desejamos sinceramente, uma realização de sucesso, com contrapartidas reais, materiais e simbólicas, para o povo guineense e não apenas para as suas elites...
Há um núcledo duro de colaboradores da AD que estiveram mais directamente empenhados na organização do Simpósio. Não sei exactamente o que é que cada toca na orquestra, mas não tenho dúvidas que são todos excelentes executantes sob a batuta do maestro. Pessoalmete, só conheço o Leopoldo Amado. E estou desejoso de conhecer os restantes magníficos...
Estás de parabéns, Pepito, tu e os teus colaboradores. Boa sorte para o resto dos trabalhos! Vemo-nos amanhã!
Luís Graça & Camaradas da Guiné.PS - Pepito, obrigado também pelas fotos que me mandaste, a meu pedido, dos teus colaboradores (na organização do Simpósio)... Se faltar alguém a culpa é tua...