1. Mensagem que recebemos do nosso camarigo Joaquim Mexia Alves [, foto à direita], com data de 18 do corrente:
Meus caros camarigos:
Escrevi um texto que anexo. Nele não me meto, julgo eu, por considerandos políticos, mas apenas na forma como os combatentes continuam a ser tratados.
Tenho algumas dúvidas se tal texto deve ser publicado na Tabanca Grande, por isso, como sempre, deixo à vossa consideração essa tarefa, afirmando-vos desde já que a vossa decisão será por mim recebida de igual modo, quer seja pela publicação ou pela "cesta secção".
Ou seja, com a amizade que vos tenho.
Um abraço amigo do
Joaquim
Como
não podia deixar de ser, logo vieram aqueles que, achando-se donos da verdade,
atacam tudo o que possa ser, no seu entender, alguma espécie de elogio ao
anterior regime que governou Portugal.
Tomando
a “nuvem por Juno”, decidiram que o PR estava a elogiar o regime, em vez de
perceberem que o referido Senhor estava a prestar uma homenagem à abnegação e
coragem daqueles que combateram na guerra do Ultramar em nome de Portugal.
(Curioso
até que o PR tenha referido os combatentes africanos que connosco combateram e
foram na maior parte vilmente abandonados à sua sorte.)
Estes
impolutos “pensadores”, (a maior parte criancinhas em 1974), vieram com uma
certeza inabalável, explicar aos “ignorantes” Portugueses as nossas motivações,
e até como foi a guerra, etc., etc., como se lá tivessem estado e o seu
conhecimento da coisa fosse o único correcto.
E
em vários lugares lá fomos apelidados daquilo que há muito não ouvíamos, com
termos como: colonialistas, assassinos, torturadores, bárbaros, fascistas e por
aí fora.
E
então a grande razão para que não pudesse haver elogio, nem homenagem, à nossa
geração, era porque não tínhamos sido voluntários, porque tínhamos sido
obrigados, que se pudéssemos tínhamos fugido, e por isso mesmo, não havia
determinação, nem desprendimento, nem coragem, nem lugar para homenagem.
Quer
isso então dizer que se os militares que forem para uma guerra, (uma guerra a
sério com aquela de que falamos), não forem voluntários, não são determinados,
não são desprendidos, não são corajosos, não são merecedores de homenagem.
Esquece-se
esta “malta” que assim fala, que esses jovens não tiveram a vida fácil, porque
nada era fácil naquele tempo em Portugal.
Mas
para a coisa se tornar mais complicada foi-lhes “dada” uma guerra que tiveram
de fazer, e ao regressar, (aqueles que regressaram, apesar de tudo uma
maioria), ainda tiveram que lutar sozinhos para se readaptarem à vida do seu
país, uns a trabalharem que nem uns “desalmados”, outros a fazê-lo nos bancos
das escolas superiores ou não, alguns, (muitos, quase todos), a lutarem
diariamente com os fantasmas que trouxeram e a eles vieram agarrados, com a
incompreensão de todos, às vezes até da própria família.
E
foram estes jovens por todos desprezados, quer no passado, quer no depois
presente próximo, que foram construindo o país em que agora estes
pseudo-intelectuais peroram, como se lhes tivesse custado alguma coisa a vida
que agora vivem.
Realmente
continuamos a ser “carne para canhão” mas, desculpem-me o “marialvismo”,
gostava que um desses me viesse dizer na cara aquilo que diz aos microfones, ou
escreve em jornais, ou blogues.
Talvez,
dos meus fracos quase 62 anos, ainda saísse algum desprendimento ou
determinação para lhe enfiar duas lambadas bem merecidas.
E
não me venham dizer que estou a branquear isto ou aquilo! Eu
não sou Omo nem Tide e por isso não lavo, nem branqueio, estou apenas, repito
apenas, a falar de combatentes e da forma como foram e são tratados.
Tenho
dito.
Monte
Real, 18 de Março de 2011
Joaquim
Mexia Alves