sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22471: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (66): A funda que arremessa para o fundo da memória

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Agosto de 2021:

Queridos amigos,
Ao que consta, nada de mais sangrento ocorreu na comissão militar de Paulo Guilherme que aquela operação denominada Tigre Vadio. Coisa curiosa, ele veio a descobrir mais tarde, o criador do mais conceituado blogue da guerra da Guiné, intitulado Luís Graça e Camaradas da Guiné, nela participou e amiudadas vezes escreveu sobre o sofrimento vivido por aquelas centenas de homens. No momento em que tudo isto se passa, Paulo Guilherme está completamente exausto e vai quebrar, está com um ataque de paludismo, ainda não retemperado volta à atividade operacional e depois quebra. Como fora punido com dois dias de prisão simples, nunca teve direito a férias, o comandante, comiserado, pretexta um tratamento psiquiátrico, voltará ao repouso, desta vez não em casa de um amigo mas em pleno hospital militar. Virá recomposto, mas afazeres não faltarão até ao início de agosto.

Um abraço do
Mário



Rua do Eclipse (66): A funda que arremessa para o fundo da memória

Mário Beja Santos

Annette adorée, preparava-me para dar pronto seguimento aos aspetos mais truculentos da Operação que levou à destruição da base de Belel e ao aniquilamento expressivo de guerrilheiros, narrando o que foi a pronta retirada a corta-mato por florestas inóspitas, debaixo da frigideira do sol, apoiando militares cada vez mais insolados, os próprios carregadores a marchar com cada vez mais dificuldade, nunca na vida vira tanta gente a mascar cola, certamente que para enganar a sede, e tu introduzes uma nova questão, que eu não me esqueça de ir tomando nota de casos bizarros ou excêntricos que tenha vivido e que possam tornar mais entusiasmante a leitura do romance. Sintetizo duas situações, prometo ir aos escaninhos da memória à procura de mais.

A primeira tem a ver com um daqueles oficiais em trânsito, era muito frequente aparecer alferes ou capitães que tinham apanhado um voo até Bambadinca ou mesmo aqui arribado numa embarcação, e com destino para o Xime ou Mansambo ou Xitole e mesmo para Bafatá e daqui para Geba, Nova Lamego, Pitche, que sei eu. Um dia regresso dos Nhabijões, e encontro à hora de jantar um capitão desconhecido, aproveitara uma boleia até Bambadinca, seguia para a Colina do Norte, ia formar em Dunane uma unidade militar. Homem seco de carnes, de fala económica, sem prejuízo de responder ao que lhe ia perguntando. Viera à Guiné numa primeira comissão, entre 1963 e 1965, coubera-lhe uma experiência inédita, acabou em comandante interino de uma companhia de corrécios, fora o que lhe coubera na rifa, alguém na hierarquia militar tinha entendido que competia ao Exército tentar redimir pessoas com crimes mais civis que militares e que se oferecessem para ir à guerra.

Formou-se uma companhia de instrução em Chaves, apareceram entre 180 a 200 corrécios, coube ao então alferes Amílcar Vespeira, apoiado por um primeiro sargento de craveira excecional selecionar 120 homens, só para a soldadesca, apareceu depois mais um alferes punido, um médico e 12 cabos milicianos. O capitão Vespeira tudo me contou depois do jantar, num canto da messe, enquanto bebericávamos um uísque, e acabou toda esta descrição completamente inédita para mim do nosso quarto-camarata, eu, o Abel Rodrigues e o Magalhães Moreira tínhamos uma cama disponível onde o Vespeira ficou e acabou a sua narrativa que parecia um conto fantástico. Contou como esta gente vinda de Penamacor ou Trafaria chegava a Chaves pelo comboio da linha do Tua, como lhes foi dando a recruta básica e especializada, como se gerou uma comunicação digna entre todos, como eles se sentiram aprumados por terem feito o Juramento de Bandeira vestidos de camuflado. E partiu para a Guiné como comandante interino, o comandante nomeado nunca apareceu. Descobriu-se mais tarde que destas unidades de ensaio de corrécios só a do Vespeira vingou. Fizeram uma comissão duríssima, começaram em Buba, seguiu-se Bissorã, Olossato, não faltaram idas ao Morés, curiosamente a última etapa foi em Fá, ali tão perto de nós. Tinha muito orgulho em dizer que esta companhia operacional fora condecorada com 12 Cruzes de Guerra, a soldadesca, tanto quanto ele sabia estava a integrar-se perfeitamente na vida civil. E recebera agora a incumbência, ditada pelo próprio Spínola, de formar uma nova companhia que arrebanhava antigos agentes da polícia administrativa, milícias e caçadores nativos que por esta ou aquela razão tinham tido problemas disciplinares passados à disponibilidade e que agora manifestavam interesse em regressar ao ativo. O capitão Vespeira sorriu quando comentou que já que se estava a formar uma companhia de comandos africana cabia-lhe agora formar uma companhia de gente corrécia ou aparentada. De olho arregalado, desejei-lhe a melhor sorte.

A outra história, adorada Annette, tem a ver com o nosso excêntrico alferes sapador, quando visitava Missirá tudo queria armadilhar, até mesmo entre as fiadas de arame-farpado, nunca me entregou um documento com a localização fidedigna dos engenhos que ele colocava nas proximidades, era um zaragateiro de primeira, descobri em Bambadinca que fugia à convivência com toda a gente. Encontrei-o mais tarde em Lisboa, trabalhava então no Ministério da Educação, quando o convidei para almoçar rejeitou perentoriamente, ainda não sabia se eu tinha qualquer ligação à CIA ou ao KGB, temia estes serviços secretos, deu o pretexto de que um dia seria raptado e obrigado a voltar à missão de sapador em operações terroristas. Tens aqui, meu adorado amor, duas bizarrias que tu apalavrarás ao teu jeito de escrita.

Voltemos ao Tigre Vadio, que tanto nos fez sofrer. Fizemos uma progressão cautelosa e a escassos dez metros da nossa entrada no espaço onde se espalhavam, bem dissimuladas, as toscas moranças de guerrilheiros ou população civil, o sentinela disparou o seu RPG2, felizmente que foi atingido um pouco antes do disparo e todos os estilhaços se espalharam na vegetação, descobri depois que Sadjo Seidi fora atingido, felizmente com pouca gravidade. Desencadeou-se um ataque fulminante, guardo os sons atordoadores, os estoiros das bazucas e das diligramas, o morteiro 81 manuseado pelo cabo Queirós contribuía para gerar o pânico entre aqueles que se punham em fuga. Pôs-se Belel a arder, grito desalmadamente para que haja mais fogo sobre quem foi apanhado de surpresa e que pode querer reagir perto, é preciso afugentá-los. Vejo as armas carbonizadas, não quero que ninguém entre nas barracas a arder, sabe-se lá se não há lá granadas. O chão está juncado de cadáveres, bicicletas destruídas, pilões, peças de roupa, ainda se faz uma pequena perseguição, o melhor é retirar e a corta-mato, é o que proponho aos dois capitães, prontamente aquiesceram. Há também um ferido da companhia de caçadores de Bambadinca, um pouco mais adiante na retirada instala o pânico com um ataque de abelhas, procura-se desesperadamente uma clareira para ligar o rádio e pedir a evacuação dos feridos.

A sorte está do nosso lado, respondem com a promessa de uma evacuação em breve. É nessa espera que anda às voltas a ver o estado e que se encontra um contingente de centenas de homens, clamam por água, ninguém ignora que há muitos quilómetros a percorrer, ainda por cima é aquele emaranhado agreste de vegetação, aquele solo espalha uma poeira vermelha que entra constantemente dentro da farda, não se avista um charco, um curso de água. É então que me lembro de pedir aos capitães para aproveitando a evacuação dos feridos ir buscar garrafões de água a Bambadinca e o Teixeira informa a sede do batalhão que ponha rapidamente na pista o maior número possível de garrafões e jerricãs. Chega o helicóptero, traz um médico de Bambadinca, subo com os dois feridos e enquanto aquele pássaro metálico ganha balanço vejo um vidro partir-se, alguém disparou e acertou, um ar quente esguicha por todo o lado, vou inclinado e vejo na oblíqua a extensíssima floresta que une o Cuor ao Enxalé, sempre a baloiçar com aquela ventania quente, e assim aterramos em Bambadinca, onde os garrafões estão a chegar à pista. Aparece o comandante, dirige-se-me uma gritaria desbragada, o que me levou a interromper a operação, ela está bem, graças a Deus, precisa menos de mim e muito mais da água, se tem dúvidas embarque comigo, o comandante parece aturdido pela minha resposta, deseja-me felicidades, não as vou ter. Regressamos com os jerricãs e garrafões a dançar de um lado para o outro, num ponto estranhíssimo, e desconhecendo o piloto e eu por onde para o contingente militar com Cibo Indjai à frente com ordens para ziguezaguear os terrenos mais ásperos e sempre visando a estrada do Enxalé, o piloto manda-me descer, olhei-o de tal maneira e ele percebeu perfeitamente que eu não estava disposto a deixar-me aprisionar ou andar sozinho na mata, como herói incerto. Lá reconsiderou e deixou-me no Xime com toda aquela água que não serviu para dessedentar aqueles 300 homens com quem não houvera possibilidade de comunicar.

Meu adorado amor, podes imaginar como passei o resto da tarde e a noite, ao amanhecer assisto à chegada de toda a tropa em esgotamento físico e psicológico. A todos peço desculpa por não lhes ter feito chegado a água prometida. E regressamos a Bambadinca. Quando mais tarde recebemos a mensagem do comandante-chefe a congratular-se com os resultados da operação, ninguém se sentiu ufano, era melhor ter chegado a água a tempo e horas. Convoquei os meus soldados na manhã seguinte, abracei todos aqueles bravos com o maior apreço, tinham sido eles que destruíram Belel, pela primeira vez tropa apeada entrara e saíra do corredor do Oio, em Belel, como vencedores. Estou fisicamente mal, e sinto que regressaram os problemas psicológicos. Os pés estão inchados, interrogo-me se não cheguei ao esgotamento. Somos mandados para a ponte do rio Undunduma, adoeci, o major de operações diz que espera o meu restabelecimento para breve, está na forja uma nova operação. Pela primeira e única vez vou sofrer de paludismo, não me dá tremores nem vómitos, é a pele a gotejar, dias a fio com arrepios, continuo a beber litradas de água para não desidratar, tapo-me com dois cobertores nestes dias quentíssimos.

Annette adorée, continuo a fazer um esboço das nossas férias, tenho a promessa dos meus filhos, eles acompanharão Jules na sua estada em Lisboa. Não sei se decorrente da rememoração da operação Tigre Vadio e dos suplícios que nos provocou, me interrogo agora se é justo (não falo na prudência de procurarmos ter uma velhice financeiramente equilibrada e onde possamos apoiar os nossos filhos) viver o nosso amor a conta-gotas, resigno-me a saber que me privilegias com o teu amor tão intacto, que reverencio. Mils bisous plus a million de bisous, Paulo.

(continua)

Um dos meus mais queridos amigos, Mamadu Djao, bazuqueiro de elite, coube-lhe a ingrata missão de aguentar o caos em Canturé, em 15 de outubro de 1969, depois de uma mina anticarro, regressei com crianças a Finete, daqui partiu auxílio, e segui para Bambadinca onde os meus camaradas se multiplicaram em solidariedade. Em 1990, quando o visitei pela primeira vez, apareceu-me vestido à europeia e estava plenamente convencido de que eu o vinha buscar e viria trabalhar para Lisboa, comovi-me profundamente com a confiança que ele depositava em mim
Fodé Dahaba, imagens tiradas a primeira em Lisboa, quando estava a tratar as suas amputações decorrentes do sinistro de 22 de fevereiro de 1969, a segunda tirada em Santa Helena, onde dormi enquanto me fui despedir dos meus soldados, em 2010, é o olhar de um cego que continua a recordar a bela amizade que se cruzou nas nossas vidas
Uma tentativa de mostrar ao leitor o itinerário da Operação Tigre Vadio, a travessia do Geba em vários pontos, concentração em Missirá, percurso até perto do rio Salá, inflexão para Quebá Jilá, notícia da existência de uma grande queimada entre Quebá Jilã e Madina, contraordem do major de operações para seguir para Belel o conjunto dos dois destacamentos, entrada em Belel passava das duas horas da tarde, foi destruída a base, capturado algum equipamento e pronta a retirada a corta-mato descendo em direção à estrada do Enxalé, começava o inferno das insolações e da sede
Quartel de Bambadinca, o edifício em frente mostra as instalações do Comando e alguns serviços, os quartos dos oficiais e a messe, trata-se de um edifício em U, a outra extensão eram as instalações dos sargentos e na continuação, do lado direito, a manutenção de viaturas, a delegação da engenharia e outros serviços; em frente ao grande U, a capela
Cartaz do filme Doze Indomáveis Patifes, realizado por Robert Aldrich, inspirado no romance The Dirty Dozen de E. M. Nathanson
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Nota do editor

Último poste da série de 13 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22453: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (65): A funda que arremessa para o fundo da memória

Guiné 61/74 - P22470: Meu pai, meu velho, meu camarada (66): Lembrando, no centenário do seu nascimento, a popular figura do lourinhanense Luís Henriques, o “Ti Luís Sapateiro” (1920-2012) - Parte IV


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Lazareto [?] > Novembro de 1941 > "Em diligência no paiol [?], eu e 30 colegas. Eu, ao centro”… Pormenor do grupo: ao centro. Luís Henriques está assinalado com um retângulo a amarelo. Foto: arquivo da família.



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > RI 23 > "Num dos funerais que cá se realizou , ao passar nas salinas (?) em São Vicente. 1942. Luis Henriques" Foto: arquivo da família.



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > RI 23 > No dia 15 de Fevereiro de 1942, os três amigos íntimos [, da direita para a esquerda,] Luís Henriques, António F. Delgado e José Leonardo... os três bigodinhos, à revelia do RDM,  querem é dizer que têm bigode... discreto, à Clark Gable (1901-1960)... [Eram três 1ºs cabos inseparáveis, todos da mesma companhia, sendo o José Leonardo, da Serra do Calvo, Lourinhã: emigrará depois para a América onde irá faleceu]. Foto: arquivo da família.



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > RI 23 > "Duas secções [. Menos de um pelotão,] em diligência. No paiol, São Vicente, novembro de 1941. Luis Henriques". Foto: arquivo da família



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > RI 23 > "Duas secções [. Menos de um pelotão,] em diligência. No paiol, São Vicente, novembro de 1941. Luis Henriques". Pormenor da foto anterior: o 1º cabo inf Luís Henriques é o segundo a contar da direita para a esquerda. Foto: arquivo da família


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Novembro de 1941. "(Ao fundo, navio italiano) Para as refeições [ilegível] nos juntávamos todos os 30 [do pelotão]". [Ao lado esquerdo, um grupo de miúdos, à espera dos restos...]. Foto: arquivo de família.



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > RI 23 > 1941 > O primeiro Natal passado na ilha. Foto: arquivo de família.


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.


Lembrando, no centenário do seu nascimento,
 a popular figura do lourinhanense Luís Henriques, 
o “Ti Luís Sapateiro” (1920-2012) - Parte IV




Cabo Verde > São Vicente > Mindelo > 1941 > Luís Henriques.
1º Cabo Inf da 3ª Companhia do 1º Batalhão do RI5. unidade mais tarde
integrada no RI 2.  Esteve no Mindelo entre julho de 1941 e setembro de 1943.  
Foto: arquivo de família.



4.  Figura muita popular e querida da sua terra natal, Lourinhã, e ainda ali  lembrado com saudade, nasceu há 101 anos,  em 19 de agosto de 1920 e morreu com 91 anos, os últimos cinco dos quais passados no Lar e Centro de Dia de N. Sra da Guia, na Atalaia. Foi um pequeno empresário (sapateiro), seccionista e treinador de futebol de camadas jovens do SC Lourinhanse (, de que era,antes de morrer, o sócio nº 1). 

Devido à pandemia de Covid-19, a família e os amigos  tiveram  que adiar a singela homenagem que tencionavam fazer-lhe, no dia 22 agosto de 2020, no centenário do seu nascimento. Também não será ainda neste ano da (des)graça de 2021, que essa homenagem se fará. Mas a família, no próximo domingo, irá recordar, em cerimónia privada, a sua figura: faria ontem 101 anos, se fosse vivo. Vamos continuar a publicar uma série de postes que já preparados, há um ano,  sobre a sua história de vida,  para publicação no nosso blogue  (*)


 
O RI 23 foi constituído em Cabo Verde, na Ilha de S. Vicente, sob o comando do Brigadeiro Augusto Martins Nogueira Soares (Agosto de 1941 a Dezembro de 1944). Faziam parte deste regimento as seguintes unidades (**):

  • 1 Batalhão do RI 5 (Caldas Rainha) ( a que pertencia o Luís Henriques e outros camaradas, naturais do concelho da Lourinhã)
  • 1 Batalhão do RI 7 (Leiria)
  • 1 Batalhão do RI 15 (Tomar)
  • Bateria de Artilharia Costa 1
  • Bateria de Artilharia Costa 2
  • Bateria Artilharia Contra Aeronaves 9,4 cm
  • Bateria Artilharia Contra Aeronaves 4 cm
  • Bateria de Referenciação, a 2 Divisões
  • 2ª Companhia de Sapadores Mineiros do Regimento de Engenharia 2

Ao RI 23 pertenciam ainda os seguintes serviços de apoio:

  • Parque de Engenharia
  • Secção de Padaria
  • Depósito de Subsistências e Material
  • Laboratório de Análise de Águas
  • Hospital Militar Principal de Cabo Verde
  • Depósito Sanitário
  • Tribunal Militar

À semelhança dos Açores (cuja guarnição militar foi reforçada com 30 mil homens, bem como da Madeira, com mil homens), para a defesa de Cabo Verde, e sobretudo das duas ilhas com maior importância geoestratégica, a ilha de São Vicente e a ilha do Sal, foram mobilizados 6358 militares, entre 1941 e 1944, assim distribuídos por 3 ilhas (i) 3361 (São Vicente): (ii) 753 (Santo Antão); e (iii) 2244 (Sal).

Mais de 2/3 dos efetivos estavam afetos à defesa do Mindelo (, ou seja, do porto atlântico, Porto Grande, ligando a Europa com a América Latina, a par dos cabos submarinos).

Os portugueses, hoje, desconhecem ou conhecem mal o enorme esforço militar que o país fez, na época da II Guerra Mundial, para garantir a soberania portuguesa nos territórios ultramarinos. Cerca de 180 mil homens foram mobilizados nessa época.

Em Cabo Verde chegou a temer-se a invasão dos alemães, dado o valor estratégico do arquipélago, à semelhança do arquipélago dos Açores, cobiçado pelos aliados. Quantas vezes me falava disso, o “meu pai, meu velho, meu camarada”... Ele, que simpatizava com os Aliados, falava-me da presença discreta dos alemães na ilha: chegaram a fazer um desafio de futebol com a tripulação de um navio alemão (, não posso afirmar se civil ou militar). E antes do reforço do nosso dispositivo de defesa da ilha de São Vicente e Santo Antão, o que só começa a ocorrer em meados de 1941, os submarinos alemãs eram com relativa frequência avistados ao la largo da ilha de São Vicente,e  das que estão mais próximas (Santo Antão, São Nicolau mas também Santiago) (Vd. Adriono Miranda Lima - Forças Expedicionárias  a Cbo Verde na II Guerra Mundial, edião de autor, Tipografia S. Vicente, Mindelo, 2020,  pp. 105 e ss.)

No Mindelo, tal como em Lisboa, havia espiões de um lado e do outro, alemães, italianos, ingleses, portugueses... E terá sido nesta época de fome, de guerra e de desgraça que se começou a desenvolver o nacionalismo cabo-verdiano que estará na origem do futuro PAIGC, fundado e liderado por Amílcar Cabral (a partir de 1956).

Só havia “vapor” (barco), com mantimentos e correio, de dois em dois meses… A saudade da terra era mitigada pela presença de diversos lourinhanenses, o furriel miliciano Caxaria, o Jaime Filipe, ambos da Atalaia, o Boaventura Horta, da Lourinhã, o Leonardo, da Serra do Calvo, e outros, que pertenciam à mesma unidade (RI 23, constituído na Ilha de São Vicente, 1941/44). 

Todos, infelizmente, já falecidos, o último, o António Caxaria, com 102 anos (**)... Já há não sobreviventes dessa geração... Para mais, foi uma geração sem cronistas. É uma pena que as suas memórias desapareçam com a sua morte física, a  morte física nossos pais, últimos soldados do império tal como nós... Mas todos eles trouxeram consigo algumas lembranças da ilha, e nomeadamente fotografias do célebre estúdio Foto Melo... 

Enfim, estas pequenas histórias que aqui se deixam, do Luís Henriques e outros "expedicionários",  fazem parte da história comum de Portugal e Cabo Verde (**)...

Numa época de elevado analfabetismo (, mais de 40% dos homens no grupo etário dos 20-24 anos, em 1940, eram analfabetos!), o Luís Henriques sacrificava, com gosto, os seus tempos livres, escrevendo dezenas de cartas por semana em nome de muitos dos seus camaradas. Aos 91 anos ainda se lembrava dos números de tropa (!) de alguns dos seus camaradas, dos seus nomes completos e até das moradas (!) para onde enviava as cartas.

Em nome do Fortunato Borda d'Água, do Cercal, Azambuja, por exemplo, chegava a escrever 22 cartas por semana... O Fortunato tinha duas namoradas, uma morena e outra loura, "uma que chorava ao pé da mãe dele, e outra que se ria, em plena rua" (sic)... O meu pai um dia teve que o ajudar a decidir-se:

- Ó Fortunato, afinal de quem é que tu gostas mais ? Com quem queres casar, quando voltares à terra ? Quem é que vai a ser a mãe dos teus filhos ? A que se ri, na rua, ou a que chora no ombro da tua mãe ?...

- Ó Luís, claro que é da que chora np ombro da minha mãezinha...que eu gosto mais.

Durante anos, visitaram-se mutuamente.

Lembrava-se também dos nomes e de algumas histórias dos seus oficiais, alguns, bem “prussianos, militaristas, germanófilos”, de acordo com figurino da época, um deles herói da Guerra de Espanha, "com as pernas todas furadas por balas" (sic)...

Lembrava-se até dos resultados dos renhidos torneios de futebol e de voleibol que se realizavam no Lazareto, entre o Mindelo e o Monte Cara, entre tropas de diferentes subunidades... e em que ele participava. 

Claro, lembrava-se das praias e dos tubarões, dos navios, e até dos espiões (que lá também os havia, como em Lisboa, ao serviço de um lado ou do outro das potências beligerante)... E a chegada de qualquer navio era uma festa, tanto para os expedicionários como para os naturais da ilha...Chegou a ir a bordo de um navio da marinha mercante para estar com um vizinho, membro da tripulação, que era natural de uma povoação vizinha da Lourinhã (, Atougia da Baleia, se não erro).

Ia a missa aos domingos, como bom católico. E tinha uma menina, uma "Bia", que gostava dele, encontravam-se na igreja de N. Sra. Luz... O sonho das raparigas da ilha era arranjar um namorado metropolitano e sair daquela miséria...

Tinha o bom hábito de ler. Tinha uma bela caligrafia e uma escrita com desenvoltura. Fez a 4ª classe com 9 anos, e começou logo trabalhar. Era bom em números... No Mindelo, escreverá centenas e centenas de cartas, em nome daqueles que na época (e eram muitos...) não sabiam ler e escrever... Escrevia uma média de 20 e tal cartas por semana...

Muitas vezes eram os próprios rapazes cabo-verdianos, engraxadores de rua, escolarizados, alguns estudantes do liceu Gil Eanes (o único que havia nas ilhas, e cujo reitor era um professor goês, culto...) que liam as cartas recebidas pelos expedicionários, metropolitanos, analfabetos... Que triste ironia!... 

Para mais numa época de pavorosa seca e epidemia de fome que roubou a vida a milhares de cabo-verdianos (cerca de 25 mil) (**)... Apesar de menos sentida na ilha de São Vicente do que nas outras ilhas, a fome foi também aqui mitigada graças à solidariedade dos "nossos pais, nossos velhos, nossos camaradas"...

Mas, coisa linda e fantástica, os ex-expedicionários de Cabo Verde desta época continuaram a encontrar-se durante muitos e muitos anos, até à década de 1990... O meu velhote costumava ir aos encontros do 1º Batalhão do RI 5, nas Caldas da Rainha... até que as pernas começarem a fraquejar  e a maior parte deles, dos seus camaradas, acabou por morrer.  O António Caxaria  costumava dar-lhe boleia,de carro (***). 

O mesmo se passava com os outros regimentos: RI 7 (Leiria), RI (11 (Setúbal), RI 15 (Tomar)... Cabo Verde ficou-lhes no coração para sempre...

Capa do romance de Manuel Ferreira (1917-1992), que fazia parte da exposição comemorativa
do 1º centenário do escritor Manuel Ferreira (1917-1992), também ele expedicionário em São Vicente, neste período, com o posto de furriel miliciano


O autor de "Hora di Bai" (1962) era natural da Gândara dos Olivais, Leiria, onde tenho amigos e familiares que o conheceram em vida. Morreu em Linda a Velha, Oeiras.

Expedicionário do RI 7 (Leiria), o fur mil Manuel Ferreira (1917-1992), futuro capitão SGE e escritor, conheceu, no Liceu Gil Eanes, aquela que virá a ser a sua muher e mãe dos seus filhos, também ela escritora, notável contista, Orlanda Amarílis (1924-2014). Ambos frequentavam este liceu. Orlanda era colega de turma do Amílcar Cabral (1924-1973) ... A família de Amílcar Cabral mudou-se para o Mindelo em 1937: é de todo provável que nos dois anos e tal que lé esteve, entre julho de 1941 e setembro de 1943, o meu pai se tenha cruzado com o futuro dirigente do PAIGC.

Manuel Ferreira acabou por ficar seis anos no Mindelo (1941-1947) e ser um dos cofundadores e animadores da revista literária "Certeza" (1944), de vida efémera mas com grande impacto na vida cultural da ilha.



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "Dia 14 de agosto [de 1942], data gloriosa para a nossa gente lusa (Aljubarrota). Recordando essa data em Mindelo com o içar da bandeira nacional junto ao liceu Gil Eanes e marchando o regimento de infantaria 5 nas ruas da cidade". Foto: arquivo de família.

É um edifício com história, hoje conhecido como Liceu Velho... A elite do Mindelo passou por aqui... O liceu Gil Eanes (antes, Infante Dom Henrique) funcionou aqui de 1938 a 1968. A sua construção data de meados do séc. XIX. Teve vários usos, além de estabelecimento de ensino, foi quartel e correios...



A seca e a fome que assolaram Cabo Verde nessa época, e que fizeram milhares e milhares de mortos (inspirando o romance de Manuel Ferreira (1917-1992), “Hora di Bai”, publicado em 1962), tiveram impacto na consciência de bom português, bom cristão e bom lourinhanense, que era o 1º cabo Luís Henriques. O seu "impedido", o Joãozinho, que ele alimentava com as suas próprias sobras do rancho, também ele morreria, de fome e de doença, em meados de 1943.

Ainda se comovia, passados tantos anos, ao dizer-me que deu à família do miúdo todo o dinheiro que tinha em seu poder (c. de 16$00) - na altura, estava hospitalizado -, para ajudá-la nas despesas do enterro. 

Lembro-me de ele me dizer que um 1º cabo, em comissão em Cabo Verde, ganhava na época qualquer coisa como 130$00 por mês... De volta à metrópole, não terá mais do que 200$00 ou 300$00 no bolso. Para ele o dinheiro “nunca foi fêmea”...

Para se ter um ideia do valor do dinheiro nessa época de racionamento alimentar e especulação de preços dos géneros mais essenciais, podemos acrescentar o seguinte: 

(i) um quilo de bacalhau, em 1943, no Porto, custava 10$40, preço tabelado, ou 16$00, no mercado negro; 

(ii) um quilo de arroz, em 1941, na Guarda variava entre os 2$80, preço tabelado, e os 4$00, no mercado negro; 

(iii) o preço de um litro de azeite, em 1941, na Guarda, variava entre os 7$50 (azeite corrente) e os 8$50 (azeite extra), mas no mercado negro os preços podiam atingir 3, 4 ou 5 vezes mas;

(iv) um assalariado agrícola, na década de 1950, dez anos depois, não ganhava mais do que 20$00.

Numa população, como a do Mindelo, que não devia ultrapassar os 15 mil habitantes, a passar por graves problemas como o desemprego crónica, a seca, a fome e a emigração forçada, a presença de mais de 3300 “expedicionários” na ilha, entre 1941 e 1944, teve um grande impacto, com aspetos positivos e negativos (Vd. o livro do nosso camarada Adriano  Lima, 2020)(**). Manuel Ferreira, por ex., refere o seguinte, no seu livro “Morabeza” (1ª edição, 1958):

“Durante a última guerra, com a presença da tropa, o ritmo da vida do arquipélago, em muitos aspetos foi alterado, e daí terem surgido várias mornas alusivas a factos que mais chocaram a população, principalmente a de São Vicente [B.leza, pseudónimo de Xavier Cruz, compôs uma morna intitulada “punhal de vingança” onde refere que as moças agora só se encantam com “furrié”]. [p. 30]

 [ Citado por João Serra, in: 4 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17507: Memória dos lugares (361): Mindelo em plena II Guerra Mundial, visto por Manuel Ferreira (1917-1992) (João Serra). Disponível em https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2017/06/guine-6174-p175007-memoria-dos-lugares.html   ]

(Continua)
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Notas do editor:

(*) Vd. postes anteriores:

22 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21282: Meu pai, meu velho, meu camarada (65): Lembrando, no centenário do seu nascimento, a popular figura do lourinhanense Luís Henriques, o “Ti Luís Sapateiro” (1920-2012) - Parte III


(**) Vd. também:

14 de junho de  2021  > Guiné 61/74 - P22279: Notas de leitura (1361): "Forças Expedicionárias a Cabo Verde na II Guerra Mundial", de Adriano Miranda Lima; Março de 2020, Edição de Autor (Mário Beja Santos)

11 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21346: Notas de leitura (1306): "Forças Expedicionárias a Cabo Verde na II Guerra Mundial", livro de Adriano Miranda Lima (edição de autor, Mindelo, 2020, 241 pp.): a história escrita com paixão, memória e coração (José Martins)

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22469: Blogues da nossa blogosfera (162): Um modelo de comparação - Um piropo dirigido ao Cap PilAv Miguel Pessoa, publicado no Blogue da Tabanca do Centro


Com a devida vénia ao nosso camarada Miguel Pessoa (Coronel PilAv Ref, ex-Capitão PilAv da BA 12 - Bissalanca, 1972/74) e ao Blogue da Tabanca do Centro, reproduzimos o Poste 1306, ali publicado, onde o Miguel, Oficial do Quadro Permanente da Força Aérea Portuguesa, se confessa lisongeado por um "piropo" que lhe foi dirigido por um militar daquele Ramo das Nossas Forças Armadas, quando o equiparou, pelo seu relacionamento e camaradagem, a um Oficial Miliciano.

Também ficamos a saber que o então nosso Tenente Piloto Aviador Miguel Pessoa ainda foi Capitão nos últimos 8 meses da sua comissão de serviço na Guiné.


UM MODELO DE COMPARAÇÃO

UM PIROPO...

Na Guiné, como “piloto da caça”, no dia-a-dia o meu relacionamento com o pessoal da linha da frente dos Fiat G-91 era algo reduzido, limitando-se ao período imediatamente antes do voo e após este, o que não se prestava a um conhecimento profundo do pessoal que nos apoiava. Talvez o facto de ser um oficial do quadro habituado a alguma reserva no relacionamento hierárquico tenha contribuído também para esse distanciamento.

Por outro lado, o ambiente na Esquadra dos AL-III era algo diferente, dada a coesão naturalmente desenvolvida entre a tripulação – pilotos, mecânicos de bordo, atiradores do heli-canhão e as enfermeiras paraquedistas, que complementavam a tripulação nas missões de evacuação.

Embora com as limitações decorrentes desse maior isolamento, os meus contactos no decorrer das missões foram proporcionando um maior conhecimento do pessoal da linha da frente, o que acabou por permitir uma maior aproximação aos mesmos fora das horas de serviço.

Lembro-me de, a convite de um deles, ter assistido a várias sessões de ensaio de uma “banda de garagem” constituída por mecânicos da FAP, e de em outras ocasiões ter participado em alguns convívios por eles organizados.

Como ponto forte deste tempo relembro a recepção que me foi feita à chegada à Base de Bissalanca, no regresso do hospital, comemorando o excelente trabalho desenvolvido por todos na minha recuperação na sequência do abate do meu avião.

Esse relacionamento mais informal que se foi desenvolvendo ao longo da minha comissão permitiu-me uma maior integração e aceitação no grupo, de tal modo que um dia recebi de um deles um piropo que terá constituído para o próprio a melhor apreciação que ele poderia fazer da minha pessoa:
- “O Senhor Capitão(*) é um tipo porreiro! Até parece miliciano!...”


Miguel Pessoa

(*) - Embora em todas as minhas histórias da Guiné se fale sempre do Tenente Pessoa, a verdade é que os últimos oito meses da minha comissão os passei como Capitão, no período entre Novembro de 1973 e Agosto de 1974...

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Nota do editor

Último poste da série de 5 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22434: Blogues da nossa blogosfera (161): PANHARD - Esquadrão de Bula (Guiné, 1963/1974) (5): Garraiada na Monumental Arena do Real Solar Esquadrão - 1972 (José Ramos, ex-1.º Cabo Condutor de Panhard AML do EREC 3432)

Guiné 61/74 - P22468: Fotos à procura de... uma legenda (154): A imagem da capa do livro de Pedro Marquês de Sousa, "Os números da guerra de África" (Guerra e Paz Editores, 2021)

 
Pormenor da imagem, reduzida a preto e branco, da capa do livro de Pedro Marquês de Sousa, "Os números da guerra de África: Angola, Guiné, Moçambique; mortos, feridos, armas e combates, custos, desertores". Lisboa: Guerra e Paz Editores, 2021, 384 pp.). (Com a devida vénia ao autor e editora...).


1. Comentários aos poste P22463 (*)

 
(i) Valdemar Queiroz:

Que me desculpe Pedro Marquês de Sousa, ilustre autor deste livro.

A imagem da capa do livro parece ser em instrução, "prá fotografia", ou não sendo, a escolha da fotografia para capa é de escolha propositada para demonstrar o que nunca se deveria fazer e evitar mortos entre os próprios militares (?).

Naquela estrada de campo aberto e plano, a coluna só podia ter sido atacada de um dos lados, por isso a NT só deveria estar do lado do ataque e não dos dois lados da estrada. Nem o IN e muito menos a NT queria ser atingida pelo seu próprio fogo. (**)

17 de agosto de 2021 às 23:32

(ii)  Tabanca Grande Luís Graça:

O Valdemar "não brinca em serviço", esta sempre no seu "posto de observação" e tem um "olho clínico" como poucos... Esta sempre atento ao pequeno erro ou lapso que escapa ao comum dos leitores.

Não sei de quem é a responsabilidade da escolha da capa. Muitas vezes é tarefa que o autor declina à editora...

O autor, que eu saúdo, não tem felizmente idade para ter andado nas "guerras de África"... Esta imagem não passa de uma encenação... O fotógrafo está em cima de um veículo... O que se vê ao fundo é uma autometralhadora ligeira Fox, com dois militares, o condutor e o apontador,  "de peito feito as balas"... Os "infantes" (tropa metropolitana e africana) "fingem" tomar posição na berma da picada, de um lado e do outro... Parece ser uma foto de Angola, tirada "na reinação" para o pessoal mandar às namoradas...

É a minha primeira leitura, feita às 5 da manhã, no "escritório" do WC...

18 de agosto de 2021 às 05:11

 (iii) Valdemar Queiroz: 

Luís, o mais certo é ser uma "reinação".

Mas, o tema do "Os Números da Guerra de África" é um assunto muito sério e quem ver a capa e não tenha sido periquito ao papagaio sabichão fica alarmado com um 'coitados, assim caiam que nem tordos'. Calhando até foi esta a ideia da capa.

A propósito daquele capim, numa operação com dois pelotões da minha CART 11, tivemos de caminhar em fila pelo meio do capim por um carreiro, que os nossos soldados fulas conseguiram descobrir só possível em tempo de seca. Não me lembro porquê, deixe de ver o pessoal que vinha atrás de mim e fiquei uns segundos à espera, depois nem os de trás apareciam nem conseguia ver os da frente. Fiquei perdido meia dúzia de segundos, meia dúzia de aflitivos segundos.

18 de agosto de 2021 às 13:09


 Capa do livro do tenente-coronel Pedro Marquês de Sousa, "Os números da guerra de África: Angola, Guiné, Moçambique; mortos, feridos, armas e combates, custos, desertores". Lisboa: Guerra e Paz Editores, 2021, 384 pp. Disponível nas livrarias a partir de 24 do corrente. (*)
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Notas do editor:

(**) Último poste da série > 24 de julho de 2021  > Guiné 61/74 - P22399: Fotos à procura de... uma legenda (146): Uma vez por todas, não havia nem há "jacarés" na Guiné-Bissau, mas "crocodilos" (e outros répteis)

Guiné 61/74 - P22467: Parabéns a você (1984): Mário Fitas, ex-Fur Mil Op Especiais da CCAÇ 763 (Cufar, 1965/66)

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Nota do editor

Último poste da série de 18 de Agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22464: Parabéns a você (1984): Maria Alice Carneiro, Amiga Grã-Tabanqueira, esposa do nosso Editor Luís Graça

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22466: Agenda cultural (781): O livro da autoria do nosso camarada Carlos Silva, "Os Roncos de Farim", foi apresentado no dia 14 de Agosto no habitual convívio da Tabanca dos Melros

1. Mensagem do nosso camarada Carlos Silva (ex-Fur Mil Inf CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Jumbembem, 1969/71) com data de 17 de Agosto de 2021:

Amigos Luís e Vinhal
O lançamento do livro "Os Roncos de Farim" no passado sábado na Tabanca dos Melros foi um êxito, pois estiveram talvez mais de 50 pessoas, amigos, camaradas e familiares, seguido do almoço convívio como é costume ao 2º sábado de cada mês.
Acompanhara-me na mesa o Dr. José Manuel Pavão que falou sobre os combatentes e sobre o congresso a realizar em Bissau entre combatentes.
O Sr. Mário Brito representante da editora 5Livros que também proferiu algumas palavras sobre o livro e sobre a editora.

O livro está esgotado, mas já pedi uma reedição e no futuro será comercializado através de plataformas.

Abraço
Carlos Silva


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Nota do editor

Vd. poste de 5 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22435: Agenda cutural (778): "Os Roncos de Farim", de Carlos Silva (Porto, 5 Livros, 2021): lançamento do livro, na Tabanca dos Melros, Fânzeres, Gondomar, no próximo dia 14, sábado

Último poste da série de 17 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22463: Agenda cultural (780): lançamento oficial no dia 9 de setembro, em Lisboa, Palácio da Independência: "Os Números da Guerra de África", de Pedro Marquês de Sousa (Guerra e Paz Editores, 2021, 384 pp.)

Guiné 61/74 - P22465: Historiografia da presença portuguesa em África (276): O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (13) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Dezembro de 2020:

Queridos amigos,
Pareceu-me da maior utilidade complementar as Actas das sessões do período fundador da Sociedade de Geografia, onde pontificou Luciano Cordeiro, seu primeiro secretário perpétuo, com leituras complementares. Este é o segundo trabalho editado pela própria Sociedade, é referente aos 75 anos de atividade, obviamente que nos cingimos ao período que vai até 1900. Seguir-se-á uma interessante dissertação de mestrado que foi apresentada na Faculdade de Ciências e Tecnologia por José Manuel da Silva Veríssimo. Ele dirá que "A Sociedade de Geografia de Lisboa é a referência incontornável para o estudo aprofundado das relações e da conjugação entre Ciência, Tecnologia e Império". Esta conjugação de curiosidades científicas, de interesse e de conjuntura, estabeleceu-se entre 1875 e 1926. O leitor ficará assim com um leque abrangente de interpretações sobre o período de arranque do pensamento imperial e quem o protagonizou, até ao dobrar do século.

Um abraço do
Mário



O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (13)

Mário Beja Santos

Antes de continuarmos as referências à bibliografia complementar para este conjunto de artigos referentes aos sócios fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa, no período estimado entre 1875 e o dobrar do século, recorde-se que já se fizeram alusões a duas obras: "Uma Corrente do Colonialismo Português", por Ângela Guimarães, Livros Horizonte, 1984; e "A Sociedade de Geografia, As Suas Origens e a Sua Obra de 50 Anos (1875-1925)", por António Ferrão, sem data, como se disse obra incompleta. Iremos hoje referir outra edição da Sociedade de Geografia alusiva aos "75 anos de Atividades ao Serviço da Ciência e da Nação", edição interna com data de 1950. Mais adiante, daremos ao leitor a súmula de duas obras que reputamos como importantes para o estudo do pensamento dos pais-fundadores e que são "A Sociedade de Geografia e as Expedições Africanas de Portugal a Sul do Equador entre 1855 e 1926", dissertação de mestrado apresentada na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, por José Manuel da Silva Veríssimo (pode-se consultar na Biblioteca da Sociedade de Geografia); e "Nos Caminhos de África, Serventia e Posse, Angola, Século XIX", por Maria Emília Madeira Santos, Instituto de Investigação Científica Tropical, 1998.

Vejamos agora a súmula desta obra dos 75 anos da Sociedade de Geografia. O autor (desconhecido) retoma o tema da fundação e os fins da Sociedade, recordando que a assembleia-geral dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa, em que foram eleitos os primeiros corpos gerentes, reuniu em 3 de abril de 1876 na Sociedade de Ciências Médicas, que então ocupava um prédio da Rua do Príncipe, sito no local onde hoje se encontra a Estação Central dos Caminhos-de-Ferro. A primeira sede da Sociedade funcionou no segundo andar do prédio n.º 89 da Rua do Alecrim, na esquina para o Largo do Barão de Quintela, onde a Sociedade se manteve com notório desenvolvimento até 1883, ano em que se transferiu para o primeiro andar do prédio n.º 5 da Travessa da Parreirinha (depois Rua Capelo) e transferiu-se em 1891 para o palacete da Rua das Chagas n.º 5 (onde mais tarde funcionará o Instituto Comercial de Lisboa) que ocupou até à sua instalação, em 1897, no edifício da Rua das Portas de Santo Antão. Nesta data, no vestíbulo, havia duas pequenas peças de artilharia e nas paredes havia panóplias de armas gentílicas, algumas das quais são verdadeiras raridades. No primeiro andar existiu um salão de leitura de jornais, bem como um ginásio, mais tarde em duas divisões deste primeiro andar funcionaram a Escola Superior Colonial e a Escola Superior de Educação Física; o segundo andar albergou sempre a Sala Portugal, as salas Algarve e Índia. A biblioteca que está hoje no primeiro andar chegou a estar no andar superior, bem como secções do museu. O Museu Colonial tem a sua história, vale a pena aqui uma referência. Chamava-se Museu Colonial e Etnográfico, foi criado em janeiro de 1871, e foi afetado à Direção-Geral do Ultramar, da Secretaria de Estado dos Negócios, da Marinha e Ultramar, tendo sido transferido para a Sociedade de Geografia de Lisboa em março de 1892.

Este historial dos 75 anos procede a uma descrição de como funcionou a Escola Superior Colonial e a Escola Superior de Educação Física. O leitor interessado encontrará também aqui uma nota breve sobre o intercâmbio científico internacional; uma relação das atividades de Defesa, Vulgarização e Propaganda Ultramarina.

Tal como já se verificou da apreciação das atas das sessões, logo nessas primeiras reuniões, a preocupação dos sócios-fundadores manifestou-se em prol da defesa dos nossos interesses ultramarinos e daí se ter sugerido ao governo a conveniência de se realizar uma expedição portuguesa a África, cujo plano o sócio H. Bandeira de Mello Madureira apresentou na sessão de 28 de outubro de 1876. Nesta mesma sessão se tomou conhecimento das atas da conferência que, durante cerca de um ano, se reunira em Bruxelas, a convite do rei Leopoldo II, para se ocupar do seu projeto de ocupação pacífica da África Central. Os sócios aperceberam-se dos perigos para as nossas possessões, e a provou-se um voto para que “o Governo e a Ciência Naval se empenhassem em manter vigorosamente a honra e o direito da Nação”, sugerindo-se que esta reclamada exposição a África procedesse à ratificação definitiva dos limites do território sob a nossa soberania. E também se apelou à redação em várias línguas uma memória descrevendo o que Portugal tinha feito em matéria de estudos respeitantes à geografia africana.

Como já se percebeu, as preocupações com a geografia em Portugal continental e insular vão sendo preteridas toda a questão africana. O sócio Pinheiro Baião salienta “a conveniência de se promover o reconhecimento e ocupação efetiva do território ao norte de Ambriz, devendo uma expedição explorar a ligação das duas costas, aproveitando-se o curso do Cunene, Cubango e Zambeze”.

Em junho de 1877, comunicava o governo à sociedade terem sido nomeados Serpa Pinto, Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens para levarem a efeito a expedição, “devendo os ditos oficiais, antes da sua partida, fazerem na sociedade uma expedição do seu programa e itinerário provável”. Dão-se, nas sessões da Sociedade, ao longo de 1877, 78 e 79 informações sobre as viagens dos exploradores. É neste ambiente de natural exaltação patriótica que a recém-criada “Comissão Africana” da Sociedade lança a ideia da constituição de um fundo africano destinado a incentivar a obra de exploração e civilização de África. Decidiu a Comissão Administrativa deste Fundo apelar ao país, numa exposição da nossa situação em África, acompanhada de um mapa em que se apresentava, colorida, a larga faixa territorial que nos levaria de Angola a Moçambique, o “Mapa Cor-de-Rosa”. A viagem de Henrique de Carvalho, através da Lunda, de 1884 a 1888, obedece também à doutrina que presidiu ao estabelecimento de estações, que eram verdadeiros marcos de ocupação pacífica.

E findamos aqui porque chegámos a 1900, ano em que se realizou o primeiro Congresso Colonial Nacional, o pensamento imperial está em mutação.


Carta de Angola, Sociedade de Geografia de Lisboa

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 11 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22449: Historiografia da presença portuguesa em África (275): O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (12) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P22464: Parabéns a você (1984): Maria Alice Carneiro, Amiga Grã-Tabanqueira, esposa do nosso Editor Luís Graça

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Nota do editor

Último poste da série de 17 de Agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22461: Parabéns a você (1983): José Manuel Cancela, ex-Soldado Apontador de Metralhadora da CCAÇ 2382 (Aldeia Formosa, Contabane, Mampatá e Buba, 1968/70)

terça-feira, 17 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22463: Agenda cultural (780): lançamento oficial no dia 9 de setembro, em Lisboa, Palácio da Independência: "Os Números da Guerra de África", de Pedro Marquês de Sousa (Guerra e Paz Editores, 2021, 384 pp.)




1. Press-release da editora Guerra e Paz, que nos acaba de chegar por mão do nosso camarada António Graça de Abreu:



Os números da Guerra de África 
como nunca foram apresentados


1, Uma nova e objectiva luz sobre a Guerra de África, é esta a proposta de Pedro Marquês de Sousa, tenente-coronel do Exército português doutorado em História, no livro Os Números da Guerra de África.



Resultado de uma ampla e rigorosa investigação, a obra reúne, pela primeira vez, os dados constantes dos relatórios dos três ramos das Forças Armadas que participaram na Guerra de África (1961-1975) e ainda os números dos movimentos independentistas. Os mortos e os feridos, militares e civis, o armamento mobilizado, os desertores, as despesas do Estado.

A realidade dos números, num livro que servirá para clarificar os debates do presente e de vital referência para o futuro. Com prefácio do major-general João Vieira Borges, presidente da Comissão Portuguesa de História Militar, Os Números da Guerra de África chegam à rede livreira nacional no próximo dia 24 de Agosto, com a chancela da Guerra e Paz Editores e o apoio da Comissão Portuguesa de História Militar, da Comissão Cultural da Marinha, da Direção de História e Cultura Militar, da Força Aérea Portuguesa e da Associação 25 de Abril.

O lançamento da obra acontece no dia 9 de Setembro no Palácio da Independência em Lisboa.


2. Já muito fora escrito sobre a Guerra de África, no que aos aspectos políticos e sociais, e até geoestratégicos, diz respeito, mas os dados estatísticos analisados nessas abordagens apenas reflectiam os relatórios do Exército português, o ramo das Forças Armadas que mais interveio em combate. Era preciso clarificar a realidade dos números e Pedro Marquês de Sousa, tenente-coronel do Exército doutorado em História pela Universidade Nova de Lisboa, fê-lo neste Os Números da Guerra de África.

No caso das baixas em combate, por exemplo, as informações oficiais apontavam, até aqui, para os 8 mil militares portugueses mortos, mas, segundo a investigação de Pedro Marquês de Sousa, foram mais de 10 mil os homens que perderam a vida nas três frentes.

Esta ampla investigação dá-nos também a conhecer quantas foram as baixas dos movimentos independentistas, de guerrilheiros, de civis, assim como a real mobilização dos militares portugueses, as despesas do Estado Português, a quantidade de armas, de aeronaves, de navios, de viaturas. Até são apresentados os números dos desertores. Toda a logística dos três ramos das Forças Armadas, enriquecida com tabelas, gráficos e mapas.

O impacto que a guerra de África teve na sociedade, na economia e na história dos povos de quatro nações faz desta uma obra obrigatória para clarificar os debates do presente, mas também um documento histórico de vital referência para o futuro.

É esse impacto que João Vieira Borges, major-general, presidente da Comissão Portuguesa de História Militar, destaca no prefácio da obra;

«Sustentado por fontes primárias existentes nos diferentes arquivos das Forças Armadas Portuguesas, o autor divulga novos dados e actualiza outros relativos a uma guerra que marcou e marca profundamente, ainda hoje, toda uma geração de cidadãos, em especial os combatentes.»

Os Números da Guerra de África chega à rede livreira nacional no próximo dia 24 de Agosto. A obra estará ainda disponível, em edição digital, nas principais plataformas de distribuição de ebooks, da Amazon à portuguesa Wook, da espanhola Casa del Libro à americana Barnes & Noble, da Kobo à Scribd, com distribuição da Libranda.

Esta é uma edição da Guerra e Paz Editores com o apoio da Comissão Portuguesa de História Militar, da Comissão Cultural da Marinha, da Direção de História e Cultura Militar, da Força Aérea Portuguesa e da Associação 25 de Abril.

O lançamento oficial da obra acontece no próximo dia 9 de Setembro, pelas 18h00, no Palácio da Independência, em Lisboa, e contará com a apresentação do prefaciador da obra, o major-general João Vieira Borges.

Ficha técnica:

Os Números da Guerra de África

Pedro Marquês de Sousa

Não-Ficção/História

384 páginas · 15x23 · 16 €

Nas livrarias a 24 de Agosto

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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22442: Agenda cultural (779): "Um caminho de quatro passos", o livro autobiográfico do António Carvalho (ex-Fur Mil Enf, CART 6250/72, Mampatá, 1972/74), a ser apresentado na Tabanca dos Melros, Fânzeres, Gomndomar, no próximo dia 11 de setembro

Guiné 61/74 - P22462: António Damásio: um português nos EUA que muito honra Portugal e a nossa geração (José Belo, Key West, Florida)


O médico neurologista e neurocientista 



Um dos livros mais livros de António Damásio, 
"Ao Encontro de Espinosa" (2003)



Capa do livro de António Damásio,  edição portuguesa, 
Temas & Debates, 2012 "Ao Encontro de Espinosa: 
as emocões sociais e a neurologia do sentir" (364 pp, 
preço de capa, em papel: 19,90 euros)

Sinopse:

«A minha [anterior] invocação de Descartes foi puramente emblemática de uma perspetiva sobre um problema científico e filosófico e pouco tinha a ver com o personagem histórico. A minha relação com Espinosa, porém, é inteiramente diferente. Espinosa é uma pessoa impar e as suas ideias e maneira de ser fundem-se com os problemas psicológicos que aborda e com a correspondente neurociência.»


1. Mensagem de José Belo, o nosso luso-sueco, cidadão do mundo, membro da Tabanca Grande, que reparte a sua vida entre a Lapónia (sueca), Estocolmo e Key-West (Flórida, EUA). Foi nomeado por nós régulo (vitalício) da Tabanca da Lapónia (. Na outra vida, foi alf mil inf, CCAÇ 2391, "Os Maiorais", Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70); é cap inf ref. ; durante anos alimentou a série "Da Suécia com Saudade"... Agora escreve sobre o que lhe apetece, dentro da(s) temática(s) do nosso blogue, onde também cabem descritores como "EUA",  "Suécia", "Portugal", "diáspora", "médicos" e "lusofonia".)


Data - sábado, 24/07, 20:10



Assunto - António Damásio: Um português nos Estados Unidos a não esquecer

Não sendo propriamente desconhecido em Portugal,  não creio haver, por parte de muitos, consciência de quão considerado e admirado este nosso compatriota é.

Isto não só nos Estados Unidos como também pela comunidade científica mundial especializada
na sua área de investigação.
 
Não creio existir hoje, nem mesmo nunca (!) ter existido anteriormente, representante científico português com tais prémios, louvores e cargos docentes ao mais alto nível.

Infelizmente o nosso único prémio Nobel de Medicina (1949), Egas Moniz (1874 - 1955), está hoje bastante desvalorizado após os seus estudos e práticas sobre a lobotomia serem agora  olhados de modo muito crítico pelos actuais especialistas internacionais.

Não tendo andado ultimamente muito preocupado quanto à “Busca de Espinoza”  (por o ter encontrado há muito ),  contínuo a sentir a falta de uma referência, no Blogue,  ao tão nosso António Damásio.

Ele é um dos grandes portugueses na diáspora, da nossa geração, e felizmente ainda está muito activo tanto na sua vida de investigação como na carreira de docente e, não menos importante, como  escritor.

Nunca será demasiado salientar que a sua educação básica e superior foi adquirida em Portugal! E é hoje figura científica de topo tanto nos meios norte-americanos como mundiais.

António Damásio:

Professor universitário, Professor de Psicologia, Filosofia, Neurologia e Neurociência. | Director do Instituto do Cérebro e Criatividade da Universidade da Califórnia do Sul | Professor do Instituto Skalk em La Jolla, Califórnia.

Damásio têm contribuído para uma compreensão fundamental dos processos cerebrais subjacentes às emoções, sentimentos, decisões e consciência.

É autor de inúmeros trabalhos científicos. (O seu Índide h no Google Scholar é de 99 com um total de mais de 170 mil citações). 

A sua actividade como nvestigador  tem vindo a receber contínuo subsídio económico federal (EUA) nos últimos 30 anos.

É Doutor Honoris Causa em inúmeras Universidades, entre outras: Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2013); Universidade de Leuven (2013); Universidade C’a Foscari/Veneza; Escola Politécnica Federal de Lausanne (2011); Universidade de Coimbra (2010); Universidade de Leiden (2010); Universidade Raman Llull (2010); Universidade de Copenhagen(2009); Universidade de Nangin (2005); Universidade de Aachen(2002).

Entre outros, recebeu os seguintes prémios:

Prémio Príncipe das Astúrias em Ciências e Tecnologia (2005); Prémio Gravwemayer(2014);
Prémio Honda Fundation (2010); Prémio Melhores Médicos Americanos; Prémio da Associação Internacional de Psicoanálise,  por extraordinários resultados científicos (2004); Prémio Sigoret em Neuro-Ciência Cognitiva (2004).

É membro do Instituto de Medicina da Academia Nacional de Ciências e da Academia Americana de Artes e Ciências. Membro da Academia Bávara de Ciências e da Academia Europeia de Ciências e Artes.

Foi nomeado “Investigador Altamente Citado” pelo Instituto de Informação Científica (USA); Prémio da Universidade da Califórnia de Criatividade e Escolaridade (2012); Prémio Jimenez (2012); Prémio Literário Corine International (2011).

Nomeado membro do Conselho Escolar da Livraria do Congresso (2009/USA); Leitor Distinto da Universidade da Califórnia do Sul (1985); Primeiro prémio Pfizer para o melhor artigo de investigação nas ciências médicas (1974); Prémio do Conselho Britânico de Pesquisa e Treino (1970); Prémio Boleeringer para o melhor estudante em Farmacologia Médica (1966).

António Damásio é um dos reconhecidos líderes internacionais em neurociências. As suas investigações têm vindo a ajudar a compreender a base neural dos sentimentos e emoções. Tem também demonstrado o papel central do afecto na consciência social e na tomada de decisões. O seu trabalho têm contribuído e influenciado a actual compreensão dos sistemas neuronais subjacentes à memória, linguagem e consciência.


- A Estranha Ordem das Coisas (2018)
- O Erro de Descartes (2005)
- Na Busca de Spinoza (2003)

Um abraço do J. Belo


Guiné 61/74 - P22461: Parabéns a você (1983): José Manuel Cancela, ex-Soldado Apontador de Metralhadora da CCAÇ 2382 (Aldeia Formosa, Contabane, Mampatá e Buba, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 4 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22430: Parabéns a você (1982): TCor Inf Ref Rui Alexandrino Ferreira, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1420/BCAÇ 1857 (Fulacunda, Bissorã e Mansoa, 1965/67); ex-Cap Inf, CMDT da CCAÇ 18 (Aldeia Formosa, 1970/72)