quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25079: Casos: a verdade sobre... (41): "Canquelifá era o seu nome" - Uma batalha de há 50 anos (José Peixoto, ex-1º cabo radiotelegrafista, CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883, 1972/74) - IV (e última) Parte: O nosso batismo de fogo, na bolanha do Macaco-Cão, em 29 de agosto de 1973


Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Sector L4 (Piche) > Canquelifá >  CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883 (1972/74) > 29 de agosto de 1973 > Cópia da mensagem original com o pedido de meios aéreos para transporte de feridos: Escrita pelo então 1º cabo cripto Jacinto Teixeira, e difundida pelo 1º cabo radiotelegrafista José Peixoto para o CAOP 2, Nova Lamego  e Bissau.


Guiné > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Sector L4 (Piche) > Canquelifá >  CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883 (1972/74) > s/d> s/l > "Dois bons amigos de então, Luís Henriques, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, mais conhecido por "Alcanena” e Manuel Claro, ex-Atirador, dos quais junto foto na bolanha",





Fotos (e legendas): © José Peixoto  (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Crachá da CCAÇ 3545, "Os Abutres" (Canquelifá e Dunane, 1972/74

(cortesia do José Peixoto)



José Peixoto, Canquelifá, c. 1973


José Peixoto, hoje, inspetor 
da CP, reformado



1. Quarte (e última) parte da narrativa do José Peixoto com as suas memórias sobre a Canquelifá do seu tempo (*). 

Recorde-se que:

(i) foi 1º cabo radiotelegrafista, CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883 (Canquelifá, 1972/74);

(ii) vive no concelho de Vila Nova de Famalicão, reformado da CP como inspetor;

(iii) é membro da Tabanca Grande nº 731, entrado em 30/10/2016.(**)

Deixou-nos um relato memorialistico, dramático, dos últimos tempos da sua comissão, de 12/13 páginas, que foi escrevendo ao longo dos anos, e que intitulou "Arauto da Verdade".

O texto, extenso, foi publicado na íntegra (**). Estamos agora a republicá-lo, em postes por episódios, e cruzá-lo com outros postes que temos publicado sobre Canquelifá, com referênica à situação militar que se agravou, naquele aquartelamento e povoação do nordeste da Guiné, região de Gabu, a partir de agosto de 1973.


"Canquelifá era o seu nome" - IV (e última) Parte:   

O nosso batismo de fogo,
na bolanha d0 Macaco-Cão,
em 29 de agosto de 1973

por José Peixoto


Outro episódio não menos importante na nossa passagem por aquelas terras de além-mar, foi o dia 29 de agosto de 1973: primeiro contacto com o IN na bolanha do Macaco-Cão cerca das 16h00, emboscada perpetrada às nossas tropas com graves consequências, pois saldou-se por 2 mortos, o Gomes e o Nunes, e vários feridos, alguns com gravidade.

Encontrava-me eu de serviço no posto de rádio quando se fez ouvir o disparar de armas automáticas à mistura com morteiradas e RPG 2 ou 7 (da parte do IN) e bazucada (da parte das NT). Essa emboscada foi  a cerca de 3 km de distância de Canquelifá.

Logo chegou o pedido via rádio, da evacuação dos feridos, não me recordo quem era o operador (tenho dúvidas se era o Matos ou o Coelho),

Escrita a mensagem pelo então cripto Jacinto Teixeira, a mesma por mim foi difundida ao CAOP 2, Nova Lamego e Bissau.

A confirmar a veracidade do exposto, mantenho em meu poder o original da mensagem do pedido da evacuação, que exibo (vd. foto acima).

A referida emboscada ficou marcada por uma série de acontecimentos entre eles destaco!..

  • aquando da chegada dos hélis ao local, em número de 3, foi constatado viajarem militares cujo destino era a passagem para Bissau, e desta à metrópole a fim de passarem férias, dificultando deste modo a total evacuação dos feridos;
  • o capitão Cristo, que também fazia parte daquela operação, ao aperceber-se de tal, logo ordenou o desembarque dos referidos militares, dando-lhes como justificação não ser aquele momento e meio de transporte para fazerem turismo.

A talho de foice, como é usual dizer-se, no passado dia 4 junho 2016, no decorrer do almoço- convívio em Amarante, foram estes momentos lembrados, mais uma vez, pelo veterano José Carvalheira, a residir ali para os lados de Barcelos, que fez parte deste lote de feridos. Com todo o seu bom humor de pessoa simples, não deixou de sublinhar o facto de naquele dia lhe ter saído o totoloto duas vezes:

(i) o primeiro sorteio tocou-lhe uma boa meia dúzia de estilhaços na zona lombar, mas apesar de tudo está vivo sem sequelas;

(ii) no segundo sorteio, que foi em função do primeiro, o prémio está sendo dividido ao longo da sua vida, atribuído pelo Estado Português, e que muito jeitinho lhe faz no final de cada mês!..

E exclamava o Veterano ironizando:

- Caríssimos Veteranos, todos quantos fizeram parte da CCAÇ 3545, o relato que aqui deixo gravado não se trata de uma ficção! Fazer um relato de guerra não é tarefa fácil mesmo tendo passado pelos acontecimentos.

Creiam, estas são memórias que se encontravam alojadas no meu subconsciente e que foram trazidas para o computador com algumas lágrimas à mistura, mesmo considerando o facto de poder dizer bem alto “correu bem, cheguei vivo”. Mas, mesmo assim, não se pode esquecer nunca aqueles que tombaram a meu lado e por isso temos orgulho em todos que combateram na terra, no ar ou no mar!

Aproveitando a circunstância, quero aqui deixar a todas as Famílias a eterna saudade.

Ao lerem todos estes escritos que antecedem, vão com certeza recordar aqueles momentos que muito particularmente marcaram para sempre as nossas vidas, e bem assim as das nossas famílias.

Todo este “Arauto da Verdade” foi escrito há vários anos, todos os acontecimentos transcritos são de uma percentagem de erro muito reduzida, considero eu. Relativamente aos seus meandros relatados, no tocante às datas dos acontecimentos, aceito alguma eventual discrepância. 

Por outro lado, também quero dedicar este capítulo que não deixou de ser menos histórico, à minha família, especialmente aos meus filhos, Rui e Vera, hoje pessoas adultas, com a sua formação académica nas áreas de engenharia mecânica e ciências farmacêuticas, respetivamente, para que se possam orgulhar de o seu pai ter cumprido um dever de cidadania, mesmo sendo este de causas desconhecidas.

O caminho é feito caminhando, como o nosso povo costuma dizer! Era tempo de iniciar outro capítulo de vida que também não se apresentava fácil.

O construir de uma família, a subsistência dela, tudo eram interrogações que se colocavam e que apenas tinha uma só saída, escolher e seguir uma carreira profissional.

Para concluir, gostaria de registar que durante a vida devemos aproveitar todos os momentos para dizer àqueles que amamos, o quanto são importantes. Amanhã pode ser tarde para dizermos que amamos e precisamos!

Às leis do divino chefe, se efetivamente ele existe, o meu obrigado, e um bem-haja por não me ter abandonado nos momentos difíceis.

Como todos bem sabem, haveria a mencionar muitos outros momentos não menos difíceis, muito gostaria que outro camarada pertencente à CCAÇ 3545 lhe desse continuidade, se o caso o merecer.

Para dar por terminado estes meus simples capítulos, só pretendia abrir aqui um outro, na tentativa de encontrar dois bons amigos de então:

(i) Luís Henriques, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, mais conhecido por "Alcanena” e Manuel Claro, ex-Atirador, dos quais junto foto na bolanha (vd. foto acima).

Os não menos amigos:


(ii) Alcino Teixeira, o nosso destacado cozinheiro;

(iii) Arnaldo Pinho, o responsável pela padaria, onde se assavam os cabritinhos;

(iv) Teles Dias, o braço direito da messe dos oficias, creio ser de Ponte de Sor;

(v) Carlos Sarmento, e o Teixeira, dupla de Operadores Criptos da Companhia.

E bem assim tantos outros que não recordo nomes, mas gostaria de os encontrar. Ergam o dedo, e digam que estão vivos, vamos a um almoço?!

Se por ventura alguém tiver dificuldade em se deslocar, relativamente a transporte, não há inconveniente ser eu a fazê-lo, de qualquer parte do país. .

Para contacto, o meu correio eletrónico é jspeixotolord@hotmail.com

Um bem.haja a todos!
José Peixoto

(Seleção, revisao/fixação de texto, negritos: LG)
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Notas do editor

(*) Último poste da série : 14 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25068: Casos: a verdade sobre... (40): "Canquelifá era o seu nome" - Uma batalha de há 50 anos (José Peixoto, ex-1º cabo radiotelegrafista, CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883, 1972/74) - Parte III: 21 de março de 1974, Op Neve Gelada, 22 cadáveres de guerrilheiros são trazidos para o quartel, lavados, fotografados e enterrados na pista de aterragem

Vd. postes anteriores:


Guné 61/74 - P25078: S(C)em Comentários (25): Salvemos a nossa correspondência de guerra, e nomeadamente os aerogramas que escrevemos (amarelos) e que recebemos (azuis)



Um exemplar do aerograma amarelo, gratuito para os militares. "Este Aerograma foi-me devolvido tal como está, traçado de balas ou estilhaços na emboscada de 26/10/1971, efectuada à coluna Piche-Nova Lamego, em que faleceram o Alf Mil Soares, o 1º. Cabo Cruz, o Sold Cond Ferreira e o Sold Manuel Pereira, todos da CART 3332. Guardo-o religiosamente comigo..." (Carlos Carvalho,, ex-fur mil, CCAV 2749/BCAV 2922, Piche e Ponte Caium, 1970/72).


Aerograma azul recebido pelo nosso camarada João Crisóstomo, SPM 2918 (a viver hoje em Nova Iorque, EUA). O aerograma azul era vendido a familiares e madrinhas de guerra, ao preço unitário de 20 centavos (até 1971), e depois 30 centavos (a partir de 1971) (a preços de hoje, e na moeda em vigor, seriam 9 e 8 cêntimos, respetivamente).

Fonte: Arquivo (digital) do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)


1. Foram 376 milhões os aerogramas distribuidos pelo Movimento Nacional Feminino durante a guerra colonial / guerra do ultramar, de acordo com a investigadora Sílvia Espírito-Santo. Foi criado em meados de 1961.  (*)

...Mesmo que 20% não se tenha usado (metido no correio), temos 300 milhões de aerogramas amarelos e azuis escritos, que circularam no "Portugal multirracial e pluricontinental" de então...

A grande maioria já se perdeu irremediavelmente: foram parar ao caixote do lixo, à Feira da Lada, à Feira da Vandoma, ao OLX, etc. É pena, são documentos de uma época, de uma geração, de uma sociedade... São documentos nossos, pedaços da nossa pequena história que devem alimentar a História com H grande, 

Os amarelos, sobretudo, os que eram de distribuiçãoo gratuita aos militares.  Os que os nossos camaradas mandaram, de África (e nomeadamemte da Guiné, Angola, Moçambique) para a família, as namoradas, as noivas, as madrinhas de guerra, os amigos, os vizinhos, os colegas de escola e de trabalho, os camaradas de armas, etc. (**)

Reforçamos aqui o apelo do nosso blogue para que os salvemos e os divulguemos.) (***)

2. Por seu turno, o nosso grão-tabanqueiro Antrón J. Pererira da Costa, cor art ref, já aqui,  por várias vezes,  chamou  a nossa atenção para um projecto do Arquivo Histórico Militar (AHM): 

"Chama-se 'Faltam Elementos'  e resume-se a enviar, se possível tratados pelo próprio, todos os documentos de todos os tipos que possam (e devam) ser arquivados no AHM.

"Uma carta não é assim muito cara e basta acrescentar a identificação do dono dos documentos e dar, por seu turno, autorização para utilização e estudo do AHM" (...).
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Notas do eidtor:

(*) Vd. poste de 28 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23119: Bibliografia (50): Movimento Nacional Feminino: Área de apoio material: secção de aerogramas (Sílvia Espírito-Santo, excerto de artigo em preparação, cortesia da autora)

(**) Vd., poste de 16 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25074: As mulheres que afinal foram à guerra (20): Cerca de 400 aerogramas estavam ainda esta manhã à venda, ao desbarato, no OLX - Parte I - O remetente era o nosso camarada José..., ex-1º cabo radiotelegrafista, nº mec. 1491/64, CCAÇ 763, "O Lassas" (Cufar, 1965/67), a companhia do nosso grão-tabanqueiro Mário Fitas

(***) Último poste da série > 28 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P25009: S(C)em Comentários (24): Os últimos anos do Amadu Djaló (1940-2015) devem ter sido de uma grande amargura e de arrependimento (Cherno Baldé, Bissau)

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25077: Convívios (976): A CCAÇ 4544/73 (Cafal Balanta, 1973/74) vai realizar o seu convívio comemorativo dos 50 anos do regresso a Portugal, em Setembro próximo, na zona de Coimbra (António Agreira, Fur Mil TRMS)


1. Mensagem do nosso camarada António Agreira (ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 4544/73, Cafal Balanta, 1973/74), com data de 15 de Janeiro de 2024:

A CCAÇ 4544/73, que esteve em Cafal Balanta, vai realizar o seu Convívio de 2024 na zona de Coimbra, que será levado a efeito depois do dia 8 de Setembro, data em que se completa os 50 anos da chegada da nossa Companhia a Portugal.

Os interessados deverão contactar-me  (ex-Fur Mil de Transmissões, António Pereira Agreira), para o telemóvel 913 899 360.

Cumprimentos
António Agreira

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Nota do editor

Último poste da série de 9 DE DEZEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24933: Convívios (975): Tabanca de Faro: 7.º almoço-convívio dos ex-combatentes do concelho de Faro na Guiné-Bissau, em 18/11/2023 (José Anónio Viegas)

Guiné 61/74 - P25076: Memórias cruzadas: o que o PAIGC sabia sobre Bubaque, em 1969... "O antigo governador Schulz ia lá de vez em quando, com outros militares e algumas mulheres. O atual governador nunca lá esteve morado. Foi só visitar."...


Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > 1978  >  O "Palácio do Estado" (hoje, 2024, em completa ruína)... Edifício da época colonial, de arquitetura alemã,conhecido também como "Palácio do Governador"... Do lado esquerdo,  uma outra casa que terá sido construida, para efeito de lazer,  para os oficiais superiores portugueses...  ("Foto tirada pelo médico cirurgião Dr. Luís Tierno Bagulho em 1978, como cooperante, já falecido"). Cortesia de Patrício Ribeiro (*)


Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > Dezembro de 2023 > O "Palácio do Estado" "ou "Palácio do Governador", hoje uma total ruina...


Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


ORGANIZAÇÃO, FORNAÇÃO POLÍTICA E IDEOLÓGICA
2-12-69
Audição de camaradas vindos de Bijagós
(A láspis,no alto da folha,está escrito: "Informações recolhidas pelo camarada Vasco Cabral")


(...) BUBAQUE não tem quartel. Tem lá padres italianos (2) e co-
merciantes cabo-verdianos, que são 4. Um deles, sabe-se de certeza
que é contra o Partido e está como empregado encarregado da
Casa Gouveia em Bubaque. A loja da Gouveia vende tecido, compra
coconote, compra óleo de palma. Vende também arroz.
 

Há 3 tugas que trabalham na fábrica de extração de óleo de 
palma. Esta fábrica pertenceu em tempos aos alemães. Esses
tugas estão armados com armas de defesa pessoal - pistolas.
Estão em Bubaque uns 10 cipaios que se enontram armados 
de carabinas Mauser, mas só usasm as armas em momentos
de serviço. O serviço de vigilância é montado poe 2 cipaios : um que circula 
na ilha eoutro que monta a guarda à Administração. Drante o
dia não usam armas no seu serviço. De noite usam as armas.
Por volta das 10h da noite o cipaio da guarda à Administração
custuma ir dormir. Mss o cipaio que vigia a iha faz  ua roda
até de manhã.

De uma maneira eral as pessoas da ilha são favoráveis ao Partido.







ORGANIZAÇÃO, FORNAÇÃO POLÍTICA E IDEOLÓGICA
3-12-69
Audição de camaradas vindos de Bijagós

(...) 2. BUBAQUE - Está contra o Partido um comerciante cabo-verdiano de     
[nome 
Juca Ferraz que pertence à Pide. Também pertence  à
à Pide um outro empregado cabo-verdiano de nome Alberto
dos Santos.

Cada cipaio trabalha 24 h seguidas: das 7h da manhã de um 
dia às 7h da manhã do dia seguinte.

As tabancas grandes têm um nº de pessoas que oscila



entre 600 e 1 000.

Há um outro elemento favorável ao Partido e que ouvia frequente-
mete as nossas emissões. Trata-se de Luís de Barros, empregado da Casa
Espinheiro [? ] .

Há carreiras turística de avião e de barco que vêm de Bissau para
gente visitar as praias ao fim de semana. Em geral, trata-se de oficiais do Exér-
cito português que aí vão com as suas famílias. Às vezes, alguns, aproveitando
o tempo de férias ou gozando um certo tempo de licença, permanecem 15 dias e
até um mês. Existe em construção ainda uma casa destinada a albergar esses
oficiais. Trata-se de um edifício em  3 blocos, cada um com uns 4 quartos,
o que perfaz um total de 12 quartos. Situa-se à beira-mar.

Há também cerca deste edifício a casa do Governador da Guiné que já
está pronta. Trata-se de uma casa grande com 4 grandes quartos, também


está na praia. O antigo governador Schultz  [sic, Schulz ]   ia lá 
de vez  em quando,
com outros militares e algumas mulheres. O atual governador nunca lá
esteve morado. Foi só visitar. (*)

Uns aspirantes [cadetes ] da Marinha, um grupo vindo 
de  Portugal,  comeram  lá perto por altu- 
ras do mês de março e abril. Comeram numa pensão à beira-mar que é des-
tinada aos turistas e que foi construída pelos alemães. Esta casa pertence
ao Estado, mas é explorada comercialmente por um tal Teodoro Romano Pe-
reira.  Há ainda mais 2 casas semelhantes a esta, que pertencem ao
Estado e onde moram os empregados portugueses da Fábrica de Extração de
Óleo de Palma, em nº de 3, havendo um outro ainda de nome Lourenço de Pina.

  [ Seleção, edição,  transcrição, revsão / fxação de texto, parênteses retos: LG ]

Citação:
(1969), "Informações sobre o Arquipélago dos Bijagós. Organização, formação política e ideológica dos Bijagós", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_41391 (2024-1-16) (Com a devida vénia...)

Fonte: Casa Comum | Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 07073.128.006 | 
Título: Informações sobre o Arquipélago dos Bijagós. Organização, formação política e ideológica dos Bijagós. | Assunto: Informações de carácter militar, extraídas da audição com os "camaradas" vindos dos Bijagós, sobre Soga, Bubaque, Formosa, Uno, Caravela, Orango, Orangozinho, Canhabaque, Galinhas e Uracane. Organização e formação política e ideológica dos Bijagós, manuscritos por Vasco Cabral. | Data: Terça, 2 de Dezembro de 1969 | Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Relatórios 1965-1969. | Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral | Tipo Documental: Documentos.

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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 15 de janeiro de  2024 > Guiné 61/74 - P25073: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (32): Os encantos e os mistérios da ilha deBubaque (incluindo o "Palácio do Governador", hoje em total ruína, onde o PAIGC quis matar Spínola)

Guiné 61/74 - P25075: (In)citações (263): Falemos dos Combatentes Portugueses e da forma como sempre foram tratados (Carlos Pinheiro)


1. Mensagem do nosso camarada Carlos Pinheiro (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70), com data de 13 de Janeiro de 2024, trazendo até nós este seu artigo onde fala dos Combatentes de Portugal e da forma como sempre foram tratados pelo poder político:


Falemos dos Combatentes Portugueses e da forma como sempre foram tratados

Sem pretender fazer um tratado sobre os Combatentes, teremos que começar pelo CEP Corpo Expedicionário Português que mobilizou, mal e apressadamente, cerca de 100.000 soldados.
Portugal enviou dezenas de milhar de militares para Angola e principalmente para Moçambique que a Alemanha queria conquistar.

É certo que Portugal, como aliado da Inglaterra tinha apresado dezenas de navios alemães nos nossos portos e essa terá sido uma das razões para que a Alemanha atacasse Moçambique de forma feroz. Morreram na guerra em Moçambique dezenas de milhar de militares portugueses, a maior parte dor doença na medida em que não iam preparados para aqueles climas e os serviços de saúde eram exíguos e quanto a armamento nem é bom falarmos.

Entretanto, em 1917 foram também para França outros milhares de Soldados portugueses, também sem condições, sem preparação e sem armamento conveniente e foram mesmo carne para os canhões dos alemães enquanto viviam, ou sobreviviam nas trincheiras.

Porque a miséria era muita em todos os aspectos, em 1921 foi criada a Liga dos Combatentes chamada da 1.ª Grande Guerra, a fim de auxiliar os sobreviventes, especialmente os feridos e doentes, as viúvas e os órfãos dada a miséria que grassava no país.

Como a 1.ª Grande Guerra nunca ficou bem resolvida, em 1939 rebentou a 2.ª que durou até 1945, mas nessa não tomámos parte, apesar do país ter sofrido fome e miséria a rodos enquanto outros se encheram de dinheiro à custa do trabalho escravo na pesquisa do dito volfrâmio que era vendido a peso de ouro aos dois beligerantes.

Depois, em 1961 rebentaram as guerras de África que duraram até 1974, na Guiné, em Angola e em Moçambique já depois da Índia se ter tornado independente da Inglaterra em 1947 e ter começado a invadir os enclaves de Dradá e Nagar Aveli em 1954 no chamado Estado da Índia Portuguesa e em 18 de Dezembro de 1961 ter invadido por terra, mar e ar os enclaves de Goa, Damão e Diu e tornados presos todos os militares portugueses sobreviventes, porque ainda houve alguns mortos, apesar das nossas forças em nada se pudessem comparar com as Forças Indianas.

As Nossas tropas foram presas e seguiram para campos de concentração depois do Governador Vassalo e Silva não ter respeitado a Ordem de Lisboa para que resistíssemos até ao último homem.

O regresso a Portugal desses militares aconteceria em Maio de 1962, com uma ponte aérea de Goa para Carachi, no Paquistão. Daí, os militares foram transportados em navios até Lisboa.
À chegada, foram chamados de traidores. Oito oficiais, incluindo o governador-geral, foram demitidos como era a política da época, sem mais comentários.

Isto é um pequeno resumo, muito resumido, do que as nossas forças armadas ali passaram até serem repatriadas como acima se refere.
Mas nessa altura já estavam em marcha as três Guerras de África, Guiné, Angola e Moçambique, mas também tínhamos tropas em Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe e até em Macau e Timor, com as dificuldades inimagináveis, em territórios com climas tórridos e escaldantes, sem estradas, sem pontes, sem pistas de aviação, sem quartéis, sem nada.

Foram os nossos soldados, que para além de combaterem o inimigo, também foram construindo algumas estradas, inventando algumas pontes e algumas pistas de aviação, e construindo alguns barracões para servirem de quartéis, outros aproveitando antigos celeiros que também passaram a servir de quartéis e normalmente viviam cercados de arame farpado, muitas vezes cheios de minas e armadilhas, para que se evitassem incursões indesejáveis.
Muitos viveram em abrigos subterrâneos cobertos por troncos imensos de árvores, tempos infinitos debaixo do chão como foi o caso da CCAÇ 1790 que viveu nessas condições em Madina do Boé até que um dia houve ordem para abandonarem o local e depois deu-se a tragédia da jangada que se virou e onde morreram largas dezenas de soldados.

O material de transportes, pelo menos nos primeiros anos, eram as velhas GMC e os Jipões da 2.ª Grande Guerra. Era a guerra.

A Liga dos Combatentes criada, foi organizada em 1921 e tem vários serviços de apoio aos Combatentes mas vive com orçamentos insignificantes mas mesmo assim mantém dois Lares para Combatentes idosos, um em Estremoz e outro no Porto, certamente com ajudas locais e agora, recentemente, abriu-se-lhe uma oportunidade de criar uma nova unidade no centro do País, mais concretamente no Entroncamento, fruto da oferta da Câmara Municipal do Entroncamento dum terreno para a construção de um Centro de Dia, de uma Creche, de um Lar para Idosos e de uma Unidade de Cuidados Continuados.

Como se pode imaginar, uma obra de vulto que os Combatentes bem merecem e bem precisam.

Claro que a Liga não tem meios para tão grande como útil obra, e ter-se-á candidatado a Fundos da UE, parece que ao PARES, mas exigiram-lhe um projecto da obra, o que é natural. Porém, esse projecto custará cerca de 150.000 euros e parece não haver dinheiro para o projecto até porque não há garantia que o financiamento fosse garantido.
Aliás a Liga, na sua Revista de Dezembro de 2022, no Editorial do Presidente General Chito Rodrigues, denuncia claramente esta situação que põe em risco a construção de uma unidade polivalente para os Combatentes na sua fase final da vida terrena.
Mas não se conhecem respostas ou comentários do poder instituído, o que é lamentável, para quem deu o melhor da sua juventude ao serviço de Portugal.

É assim que os Combatentes são tratados. Aliás já estão habituados a serem bem tratados com a esmola de 70 ou 100 Euros anuais que normalmente recebem em Outubro, sujeita a impostos.
E está tudo bem e ninguém diz nada.
Não temos dinheiro para ajudar os nossos que precisam, mas mesmo assim vamos ajudando outros lá longe, que também precisam, é certo, mas para os nossos não há nada.

É triste, mas é o que temos.

Carlos Pinheiro

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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE JANEIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25069: (In)citações (262): "A Rainha" (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887, Canquelifá e Bigene, 1966/68)

Guiné 61/74 - P25074: As mulheres que afinal foram à guerra (20): Cerca de 400 aerogramas estavam ainda esta manhã à venda, ao desbarato, no OLX - Parte I - O remetente era o nosso camarada José..., ex-1º cabo radiotelegrafista, nº mec. 1491/64, CCAÇ 763, "O Lassas" (Cufar, 1965/67), a companhia do nosso grão-tabanqueiro Mário Fitas







Fonte: OLX  > https://www.olx.pt/d/anuncio/aerogramas-guerra-colonial-frica-ultramar-cufar-guin-bissau-car (a página já não existe) (reprodução com a devida vénia...)


1. O nosso querido amigo e camarada Mário Beja Santos, nosso correspondente permanente (que é um verdadeiro "rato de biblioteca", no bom sentido do termo) mandou-nos esta "preciosidade"  

Data - segunda, 15/01/2024, 13:58

Assunto - Aerogramas Guerra Colonial África Ultramar Cufar Guiné Bissau cartas Campanhã • OLX Portugal

https://www.olx.pt/d/anuncio/aerogramas-guerra-colonial-frica-ultramar-cufar-guin-bissau-car

Abrimos o link, no portal do OLX (passe publicidade..., é um sítio "on line", uma verdaderia "feira da ladra digital"  onde tudo se compra e vende: velharias, livros, móveis, documentos, etc.), e fomos saber algo mais :

Anúncio publicado em 2 de janeiro de 2024

Aerogramas Guerra Colonial África Ultramar Cufar Guiné Bissau cartas 

470 € | Negociável

Descrição:

"Cerca de 400 aerogramas e cartas na totalidade, do período da Guerra Colonial. Algumas poucas cartas são trocadas na metrópole. E m bom estado e escritas com uma caligrafia facilmente legível."

O vendedor é um tal Jorge, do Porto, Campanhã. ID: 641692604 | Cliques: 291.

O anúncio estava "on line" esta manhã... Depois do almoço já não consegui abri-lo. O maço de aerogramas já tem outro dono... Esperemos que os saiba estimar e faça bom uso deles...


2. Comentário do editor LG.:

É chocante ver este maço de aerogramas vendido em leilão "on line", ao desbarato. Foram escritos por uma camarada nosso, José..., ex-1º cabo radiotelegrafista, nº mec 1491/64, CCAÇ 763, "O Lassas (Cufar, 1965/67), a companhia do nosso camarada Mário Fitas, e que teve um intensa atividade operacional no sul da Guiné. (Tem, de resto, mais de 70 referências no nosso blogue.)

O remetente pode já ter morrido. Os aerogramas foram remetidos a uma senhora que ele tratava (pelo que conseguimos reconhecer nalgumas imagens de que fizemos um "print screen", com pouca resolução) como "menina", "meu amor", "minha mulherzinha"... Tanto podia ser uma namorada, como uma esposa ou até uma madrinha de guerra...  

Muito provavelmente,  um dos dois terá morrido e os herdeiros "mandaram para o lixo" ou puseram à venda na "feira da Vandoma" o maço de aerogramas...agora na posse de um tal Jorge, de Campanhã, Porto, que os quer vender por 470 euros (valor "negociável").. Aliás, a esta hora, já os vendeu..

Fica aqui mais uma veemente  apelo: camaradas e amigos, não mandam para o lixo as vossas cartas e aerogramas, dirigidas em muitos casos "às nossas mulheres que, afinal, também foram à guerra"... Façam-nas chegar aos vossos netos, bisnetos e trisnetos... 

Recorde-se que a nossa amiga  Alice Carneiro disponibilizou a sua coleção de cartas e areogramas da guerra colonial (cerca de três centenas e meia, que lhe foram envidadas por irmãos, familiares, vizinhos, "afilhados", etc., dos três teatros de operações da guerra colonial) para um projeto de investigação, chamado FLY. Todos os documentos foram devidamente digitalizados, sendo depois devolvidos à proprietária (e, no caso das cartas do mano, José Ferreira Carneiro, fiel depositária). 

Citámos aqui, há uns anos, a investigadora e doutoranda Leonor Tavares, da Equipa FLY, do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa (*):

(...) "O projecto FLY - Cartas Esquecidas (1900-1974) é um projecto que procura recolher, digitalizar e editar cartas do século XX dos contextos de prisão, exílio, guerra (colonial e mundial) e emigração. Este projecto continua o projecto CARDS - Cartas Desconhecidas (1500-1900) que já conta com 2000 cartas transcritas. Os dois projectos estão neste momento parcialmente disponíveis no site http://alfclul.clul.ul.pt/cards-fly/.

"O objectivo do projecto FLY é recolher e editar 2000 cartas dos contextos referidos, sendo que se estipulou um total de 700 cartas para o contexto da guerra colonial. Este arquivo digital (composto pelas 2000 cartas do projecto CARDS e as 2000 do projecto FLY) estará disponível para investigadores de várias áreas (principalmente as áreas da Linguística, da História e da Sociologia), para que os documentos (as cartas) sejam imortalizados como objectos históricos de grande relevância linguística. Os estudos que podem ser feitos a respeito deste tipo de documentos compreendem, entre muitas outras hipóteses, aspectos relacionados com a sintaxe, a fonologia, a pragmática, a história cultural e/ou social e aspectos da sociologia das migrações, das desigualdades e classes sociais.

"O projecto FLY compromete-se a omitir todos os dados pessoais dos intervenientes nas cartas, nas transcrições e nas imagens disponibilizadas on-line. (...)".

Recolha de cartas portugueses do Século XX (1900 a 1974) > Apelo

“Se guarda em sua casa cartas particulares e deseja que ela sejam dignificadas enquanto objeto de conhecimento, por favor contacte os investigadores do projeto FLY 1900-1974 (Cartas Esquecidas).”

Rita Marquilhas
Centro de Linguística da Universidade de Lisboa
Avenida Professor Gama Pinto, 2, 1649-003 Lisboa
Telefone : 21 790 49 57 | Fax : 21 796 56 22

Email : fly@clul.ul.pt
Endereço do site : http://alfclul.clul.ul.pt/cards-fly/

(Parece-me que o projeto já acabou em meados de 2013. 

Descrição:

O projeto FLY 1900-1974 corresponde a uma campanha de recolha, edição eletrónica e estudo interdisciplinar de um conjunto de documentos do século XX produzidos na esfera privada e escritos por autores de todos os estratos sociais. Trata-se de uma amostra de 2.000 cartas portuguesas compostas em contexto de guerra, emigração, prisão ou exílio entre 1900 e 1974, amostra essa que tem o duplo formato de corpus linguístico e de edição crítica disponibilizada na internet e comentada nas perspetivas histórica, linguística e sociológica. O FLY oferecerá ao público neste endereço, e até finais de 2013, a edição electrónica de 2.000 cartas particulares do século XX acompanhadas de indexação linguística, histórica e sociológica.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25073: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (32): Os encantos e os mistérios da ilha de Bubaque (incluindo o "Palácio do Governador", hoje em total ruína, onde o PAIGC quis matar Spínola)

 

Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > Dezembro de 2023 > Canoa de transporte junto à ilha de Rubane


Foto nº 2A > Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > Dezembro de 2023 >  A canoa (tipo nhominca) a chegar ao porto

Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > Dezembro de 2023 > 

Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > Dezembro de 2023 > Ponte-cais de Bubaque


Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > Dezembro de 2023 > Canal de Bubaque, de águas profundas


Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > Dezembro de 2023 > Hotel na zona do palácio ("Hotel Cajou Lodge",  passe a publicidade... ,  acrescenta o editor LG que nunca foi a Bubaque).


Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > Dezembro de 2023 > Hotel Kasa Afrikana, ao fundo a ilha de Rubane


Foto nº 7 > Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > Dezembro de 2023 > Vivendas com vista para o mar

Foto nº 8 > Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > 178 >  O "Palácio do Estado": Foto tirada pelo médico cirurgião Dr. Luís Bagulho em 1978, como cooperante (já falecido). (*)


Foto nº 8A > Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > 1978  >  O "Palácio do Estado"... Edifício da época colonial, conhecido também como "Palácio do Governador"... Do lado esquerdo, não pode ser a antiga casa de Luís Cabral, construída depois da independência pelos jugoslavos, em estilo pós-moderno...  e que em 2013já estava em ruínas (ver aqui foto do nosso camarada José Martins Rodrigues)


Foto nº 9B > Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque >  1978 >  Muito provavelmente uma "casa de função", para oficiais superiores do exército português, que estava em construção em 1969...

Foto nº 9A > Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > Dezembro de 2023 > O "Palácio do Estado" "ou "Palácio do Governador", hoje uma ruina...


Foto nº 9 > Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > Dezembro de 2023 > O "Palácio do Estado" ou "Palácio do Governador"... Ao que parece, o PAIGC chegou a pensar assassinar aqui o Spínola, quando em férias...  


Foto nº 10 > Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > Dezembro de 2023 > O "Palácio do Estado", frente ao canal, hoje em ruina...


Foto nº 10A > Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > Dezembro de 2023 > O "Palácio do Estado", hoje uma ruina...

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem (e fotos) que nos foi enviada pelo  Patrício Ribeiro (nosso correspondente em Bissau, colaborador permanente da Tabanca Grande para as questões do ambiente, economia e geografia da Guiné-Bissau, onde vive desde 1984, e onde é empresário, fundador e diretor técnico da Impar Lda; tem mais de 130 referências no blogue; autor da série, entre outras, "Bom dia desde Bssau"):



Data - domingo, 14/01/0204, 23:15   | Assunto- Bom dia desde Bissau                                                                                                                                                                              Luís, junto uma fotos... São fotos de dezembro de 2023, durante os meus passeios pela Guiné. Aconselha-se uns passeios pelas águas quentes dos Bijagós, para fugir à chuva e ao frio na Europa.

Em dezembro do ano passado (há umas semanas atrás),  voltei a dar uma volta pela ilha de Bubaque. (**)

Para lá ir, há diversos transportes, de ida e volta, principalmente ao fim de semana, a partir de Bissau, para esta ilha e dali é possível apanhar transportes para as restantes ilhas, onde há alguns hotéis, espalhados por algumas das ilhas dos Bijagós.

Na ilha de Bubaque, há alguns hotéis novos, outros já os conheço há dezenas de anos.

Os principais clientes são franceses (da minha idade) que vêm diversas vezes ao ano, à pesca. Já o fazem há muitos anos.

Logo de manhã, entram nos botes e vão para a pesca todo o dia, nos canais entre ilhas, também há os que compram ou constroem hotéis, ou casas.

Hotéis de famílias portuguesas, já não há.

Tenho pena, do que está a acontecer aos Palácios do Estado em Bubaque (ver fotos). O que era do Spínola (era o nome que me informaram, das primeiras vezes que lá fui). Era ali que PAIGC o ia tentar assassinar, “como dizem”.

Também cheguei a dormir lá.

Assim como o outro Palácio, ou antiga "casa do Luís Cabral", na falésia, construído após a independência, com arquitectura tipo “Jugoslávia”, que não foi possível tirar foto, porque é só mato. (O Rosinha, que informe que arquitetura é esta, ainda existem alguns edifícios, com estas linhas arquitectónicas. )

PS - A foto antiga do Palácio foi tirada pelo médico cirurgião Dr. Luís Bagulho em 1978, como cooperante (já falecido).(*)

Abraço

Patricio Ribeiro
impar_bissau@hotmail.com
__________

Notas doo editor:

(*) Luís Tierno Bagulho: esteve em 1972 Teixeira Pinto, como alf mil médico,  com o nosso camarada António Graça de Abreu (que era do CAOP1). Outros médicos desse tempo: Pio de Abreu (psiquiatra, Coimbra) e Mário Bravo (ortopedista, Porto). 

 Vd. postes:

27 de fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1552: Lançamento do livro 'Diário da Guiné, sangue, lama e água pura' (António Graça de Abreu)



(**) Último poste da série > 20 de novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24867: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (31): Já estava com saudades de Farim e das canoas de transporte público...

Vd. também poste de:

9 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23339: Recortes de imprensa (123): Bubaque: alterações climáticas e educação ambiental (Excertos de reportagem de Carla Tomás, Expresso, 18 de abril de 2019, com a devida vénia...)

8 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23336: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XXVII: O "meu" regresso à Guiné (3): Os Bijagós que muitos de nós nunca vimos - II (e última) Parte

7 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23334: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XXVI: O "meu" regresso à Guiné (2): Os Bijagós que muitos de nós nunca vimos - Parte I

13 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13136: Memória dos lugares (265): Bubaque, cada vez mais bonita... (Patrício Ribeiro)

12 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13132: Notas de leitura (590): Bubaque foi uma colónia alemã... antes da I Guerra Mundial (Luís Vaz)

4 de abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8043: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (7): Os encantos e as armadilhas das ilhas de Bubaque e Rubane (Bijagós), 11/13 de Dezembro de 2009 (Parte III, o regresso a Bissau)


12 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7931: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (5): Os encantos e as armadilhas das ilhas de Bubaque e Rubane (Bijagós), 11/13 de Dezembro de 2009 (Parte I)

Guiné 61/74 - P25072: Notas de leitura (1658): "Reflexos da Carta Secreta - Caso 12 de abril", por Samba Bari; Nimba Edições, 2021 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Julho 2022:

Queridos amigos,
O Dr. Samba Bari escreveu uma narrativa com bastante detalhe sobre os acontecimentos do golpe militar de 12 de abril de 2012, apoiado por uma parte da sociedade civil. O seu trabalho culmina com uma análise política quanto à doença crónica das insurreições militares que pautam a vida guineense depois do golpe de 14 de novembro de 1980, a partir desta data os militares sentiram carta branca para impor condições aos políticos.

 Como é público e notório, a Guiné-Bissau possui uma das Forças Armadas mais originais de África, tem mais chefes que soldados, é tudo uma questão de soldada, e na indigência ou na cupidez estes militares sentem-se à vontade para participar nos negócios da cocaína ou estar sempre a reclamar aumentos.

 É outra pecha do regime, nunca se encontrou solução idónea, depois da independência, para motivar os antigos combatentes a encontrar um rumo para a vida. Samba Bari dá-nos um bom registo de acontecimentos, pena é que não tenha levado a objetividade ao ponto de documentar as muitas alfinetadas que espeta em Carlos Gomes Júnior, isto de fazer reportagens requer distanciamento e absoluta isenção para que tais trabalhos se tornem documentos para a História.

Um abraço do
Mário



Tentar compreender a impunidade das insubordinações militares na Guiné-Bissau

Mário Beja Santos

Reflexos da Carta Secreta - Caso 12 de abril, por Samba Bari, Nimba Edições, 2021, é um relato detalhado dos acontecimentos de um golpe militar conduzido por António Indjai, um general ligado ao narcotráfico, tudo aconteceu em 2012 e não restam dúvidas que a vida guineense ainda não se restabeleceu deste doloroso caso insurrecional, onde, uma vez mais, vieram à tona apetites oligárquicos, casos de puro mercenarismo, em que uma organização regional (a CEDEAO - Comunidade Económica dos Estados de África Ocidental) mostrou claramente que quer, pode e manda do que ocorrer em território da Guiné-Bissau.

Samba Bari, no final da sua narrativa, procura interpretar as causas do contínuo golpismo na Guiné-Bissau. O Estado independente nasceu sob um projeto ideológico de Amílcar Cabral, a condução política pertencia ao PAIGC, os militares estavam completamente integrados e subordinados – foi assim na luta armada depois de Cassacá, prosseguiu com Luís Cabral, após 1974. 

Nino Vieira, com a sua rebelião de novembro de 1980, potenciou os militares na ribalta política, tinha nascido a cultura do golpismo, das negociatas e cumplicidades de ocasião, da tentativa de predomínios étnicos nas Forças Armadas, a entrada das altas patentes militares em negócios corruptos e no narcotráfico. Este cenário estará presente no afastamento do presidente da República interino e do primeiro-ministro legítimo, em 2012.

Samba Bari não esquece o cenário violento que se seguiu à independência, a ferocidade contra antigos militares das forças coloniais, todos os responsáveis do PAIGC não estiveram isentos de culpas; em 1985, 

Nino Vieira desembaraçou-se do comandante Paulo Correia, tudo num quadro arrepiante de tortura e mentira, assim se chegará ao levantamento conduzido por Ansumane Mané e ao afastamento temporário de Nino Vieira e da sua claque. 

O período que se segue envolve tempos de derrisão com Kumba Ialá, destituições, assassinatos, incluindo o de Nino Vieira. É nesse tempo que chefia as Forças Armadas o vice-almirante Zamora Induta, tendo como ajunto o general António Indjai, o presidente da República eleito, Malam Bacai Sanhá, eleito em 2009, gera um período de estabilidade, mas o presidente está gravemente doente, irá falecer no início de janeiro de 2012.

 Segue-se o período eleitoral, o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior não consegue obter a fasquia dos 50%+1, iria à segunda volta com Kumba Yalá, este e outros derrotados insurgem-se perante os resultados eleitorais, reconhecidos pela comunidade internacional como legítimos. Entramos no quadro irrespirável do golpe.

Sem contestar a linha diacrónica utilizada por Samba Bari, confesso o meu desapontamento pelo teor acusativo que vai relevando para certas personalidades, o pior é que não consegue demonstrar documentalmente os fundamentos dessa franca hostilidade. Carlos Gomes Júnior, ou Cadogo, é no seu relato um verdadeiro bombo de festa, parece assumir as funções de um príncipe de Maquiavel, ora apoiando-se numa fação militar ou noutra, mas decididamente com provas provadas de que Indjai tinha ligações diretas ao narcotráfico. 

Aliás, os EUA, que tinham informações claras de quais os militares envolvidos com a droga, depois da nomeação de Indjai para o alto cargo de Chefe de Estado-maior das Forças Armadas, retiraram o seu apoio à reforma do setor da defesa e segurança, Indjai odiava Zamora Incuta, tudo fez para o destratar. A CEDEAO queixava-se repetidas vezes não haver progressos na Guiné-Bissau contra a impunidade, matava-se e não havia culpados, e era preocupante haver naquele ponto de África Ocidental um ponto de passagem de cocaína destinada à Europa, com envolvimento das altas patentes militares.

Estes acontecimentos decorrem num período em que Bacai Sanhá contava com o apoio de José Eduardo dos Santos, Angola garantia ajuda, que se concretizou, a CEDEAO não gostou, entendeu que era uma interferência na sua capoeira. 

Assim se chegará ao quadro bizarro de uma carta que terá sido escrita por Cadogo a José Eduardo dos Santos, depois mostrada pelos órgãos de comunicação social, nunca comprovada como fidedigna, e que terá espoletado a insurreição que conduziu à detenção dos altos dirigentes, a uma quase crise diplomática entre a Guiné e a Angola. Samba Bari esclarece que fez três entrevistas para este seu trabalho, ao Tenente-coronel Daba Naualna, porta-voz dos golpistas, a Manuel Serifo Nhamadjo, presidente da República de transição e a Idriça Djaló, político e analista, não se pode compreender não ter ouvido o Carlos Gomes Júnior, Zamora Induta e António Indjai, figuras de primeiro plano em toda esta trama, isto para já não falar no presidente da República interino, Raimundo Pereira. 

Nunca se documenta se houve ou não alguma fraude eleitoral ou se Kumba Ialá e outros candidatos não se sentiram imediatamente tentados a colaborar no golpe militar.

Saúda-se o modo como são descritos o golpe e o comportamento dos golpistas, não se entende porque é que não foi ouvida a fundo a direção do PAIGC, a força política predominante, e que o golpe expusera ao lamaçal. E fica claro que à CEDEAO era indiferente a essência do golpe, houve que manter internacionalmente as aparências e apoiar uma política de transição, a CEDEAO não queria investir mais apoios financeiros naquele quadro insurrecional, os doadores cortaram todos os apoios e os golpistas entraram na lista negra das Nações Unidas.

 A avidez aos cargos manifestou-se prontamente, abandonaram-se partidos, ir para ministro ou secretário de Estado tem imensas conveniências, abre portas a negócios, a despeito da suspensão de projetos financiados por doadores que podem permitir habilidades.

E no relato também são referidos os acontecimentos de 21 de outubro, um grupo de homens armados tentou tomar de assalto um regimento de elite em Bissau, mau sucedido. Foi preso o cabecilha, Pansau Ntchama, antigo subordinado de António Indjai. Como especular era fácil e demonstrar nunca acontece, as autoridades de transição atribuíram cumplicidades de Portugal, da CPLP e a Cadogo, seriam estes os três autores morais do atentado. 

O objetivo era derrubar o Governo de transição e trazer Cadogo de volta ao poder. O primeiro-ministro Rui Duarte Barros foi mais longe, tudo apontava para uma ação concertada entre elementos recrutados na zona de Casamansa e comandados pelo capitão Pansau Indjama. Toca de enviar uma carta ao Governo português exigindo extradição de Cadogo para Bissau para responder sobre o seu alegado envolvimento nos assassinatos ocorridos nos últimos anos na Guiné-Bissau.

A oposição aos golpistas não esteve propriamente de mãos atadas, formou uma frente, os seus líderes foram surrados, sequestrados, batidos, tiveram que vir fazer tratamento a Portugal. E Bari escreve: 

“Após o ataque armado de 21 de outubro, a situação do país piorou com relatos frequentes de violações graves aos direitos humanos, incluindo espancamento de cidadãos.

Para além disso, alguns elementos do grupo étnico Felupe foram acusados de apoiar o ataque. Os serviços militares de inteligência do país montaram operações de busca. E foi na sequência de uma dessas operações que aconteceu o rapto e tortura do líder da FRENAGOLPE, e Iancuba Djola N’djai, e o líder do Movimento Democrático da Guiné, Silvestre Alves.”

Vejamos como funciona a justiça na Guiné-Bissau com o julgamento de Pansau N’tchama: 

“No dia 26 de abril de 2013, em julgamento no Tribunal Superior Militar, Pansau N’tchama, Jorge Sambu e Braima Djedju foram acusados de crimes de traição à pátria e uso indevido de armas de fogo, condenados a 5 anos de reclusão efetiva. Mas em setembro de 2014 todos beneficiaram de indulto e foram libertados pelo presidente da República José Mário Vaz.”

A situação modificar-se-á com as eleições de 2014, José Mário Vaz é eleito presidente da República. A imprensa, de um modo geral, abona em prol da competência e integridade de Vaz. No entanto, Samba Bari escreve que ele foi peça central de acusação de um alegado caso de desvio de 12 milhões de dólares de ajuda orçamental doados por Angola ao governo do PAIGC de Cadogo. E depois das eleições, Vaz nomeia Domingos Simões Pereira, também do PAIGC, como primeiro-ministro, recomeçam as tricas e as faltas de respeito a nível institucional. Resta registar que foi o único mandato presidencial levado do princípio ao fim.
Os golpistas de 12 de abril de 2012 não esqueceram os roubos e as destruições
Militares no quartel de Amura, após o golpe de Estado
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Nota do editor

Último poste da série de 12 DE JANEIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25061: Notas de leitura (1657): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (7) (Mário Beja Santos)