quinta-feira, 3 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1727: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (2): Abril de 1973: Sinais de isolamento

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/73) > O espaldão do morteiro à guarda do Fur Mil Op Esp José Casimiro Carvalho.



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/73) > O Furriel Mil Op Esp J. Casimiro Carvalho, posando para a fotografia com uma das mais temíveis armas do PAIGC: um RPG, lança-granadas-foguete.

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/73) > 1973 > O heliporto... Após a queda das primeiras aeronaves, abtidas pelos Strella, de finais de Março a meados de Junho de 1973 deixa de ser possível, à FAP;: dar apoio aéreo ou voar no sul da Guiné. O correio e os víveres chegam com dificuldade, em colunas que vêm de Gadamael, sendo esta por sua vez abastecida de barco a partir de Cacine.

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/73) > 1973 > Março/abril de 1973 > Um dos passatempos favoritos do Casimiro Carvalho era a caça... aos pardais.

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/73) > O José Casimiro Carvalho, armado até aos dentes, numa saída para o mato, empunhando a um dos nossos lança-granadas-foguete, de calibre 3,7.

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/73) > Março de 1973 > A inauguração do bar!... O acontecimento do mês, depois do ataque ao aquartelamento e à queda do primeiro Fiat G.91 em 25 de Março... Escreveu o nosso camarada a uma bajuda [creio que irmã ou cunhada], em carta de 21/3/73: "Mando-te mais uma foto da inauguração do nosso bar. O careca é o major, o furriel que está à minha direita é o enfermeiro, e vai aí a casa, este mês, recebam-no bem".


Fotos: © José Casimiro Carvalho (2007). Direitos reservados.

Não há correio nem evacuações no sul da Guiné, o que começa a afectar profundamente o moral das NT, acontonadas no perímetro dos aquartelamentos. J. Casimiro Carvalho - nas poucas cartas que escreve, no mês de Abril de 1973, ao pai, à mãe, ao irmão - começa a dar sinais do isolamento e do stresse em que se vive, em Guileje... É incapaz, no entanto, de prever a tragédia que se avizinha, a batalha de Guileje (17 a 22 de Maio de 1973) e que levará à decisão de abandonar, em 22 de Maio de 1973, o aquartelamento e a tabanca de Guileje.

Nessa altura, o Casimiro estava em Cacine e irá escrever aos seus pais a carta que começa assim (e que reproduziremos na íntregra em próximo post): "Cacine, 22/5/73. Queridos pais: Vou contar-lhes uma coisa difícil de acreditar, como vão ter oportunidade de ler: Guileje foi abandonada" (...).

A selecção, a revisão e a fixação do texto são da responsabilidade do editor do blogue (LG) .


Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (2): Abril de 1973: Sinais de isolamento


Guileje, 6/4/73
(…) Nos últimos dias o meu grupo tem saído quase interruptamente para a mata e, quando devia descansar, está de serviço. Andamios extenuados. Chiça!

Guileje, 12/74/73
(…) A vontade de escrever não é muita, mas sinto necessidade disso. Hoje, ou melhor, ontem o meu grupo foi dar fogo de treino e ouviu-se dois rebentamentos. Pensou-se logo: rebentaram armadilhas (das muitas que rodeiam o quartel).

Hoje saiu a milícia nver o que tinha sido e estva lá um turra com o pé cortado pela armadilha. Tinha uma arma mauser semi-automática. Outro dia, não sei se disse, apresentou-se aqui um outro turra, com a pila cortada e um testículo… Foi para Bissau.

Como os aviões e avionetas andam a cair devido a uma arma nova, um míssil terra-ar, desconhecido para nós, quase não há transportes para o mato, e portanto o correio atrasa muito (…).

Guileje, 17/4/73

(…) Devem estar admirados com a falta de correio mas a culpa não é minha mas sim é devida à falta de transporte aéreo para as zonas perigosas. Tal é o nosso caso. Os turras têm uma arma que deita a aviação abaixo e agora não há correio, só há em caso de evacuções ou colunas. Portanto, não se admirem.

Houve aqui batuque, é emocionante.

Matei uma espécie de onça, a pele é maravilhosa. Hoje matei uma águia a 350 metros.

Estou óptimo, mas fartíssimo de estar aqui isolado do resto do mundo sem ver coisas novas (…).

Guileje, 22/4/73

(…) Hoje foi um dia de fartura cá em Guileje, recebi nada mais do que 10 cartas. (…) Recebi as cacholas, até dá para gozar. Recebi o salpicão, estava uma delícia (….).

Desde o princípio do mês que não recebia notícias vossas. Não há aviões, nem para feridos que haja. Não há, portanto, evacuações para estas zonas. Isto está mau. Mas não se preocupe (…)..

Guileje, 27/4/73

(…) No último dia 25, quando fizemos 6 meses de Guiné, e um mês que fomos atacados, voltámos a ser flagelados com canhões sem recuo, mas sem consequências, é claro. As granadas caem à volta do quartel, eles não acertam, e foi de noite (…).

Aqui tudo decorre normalmente, com alguns problemas de isolamento e é só.

Guileje, 30/4/73

(…) Esta é mais uma das cartas que eu escrevi e que vai ficar junto com as outras, que vão seguir em coluna auto até Gadamael, donde seguem de batelão até Bissau. Todas juntas, claro. Não se admire, pois a culpa é de não haver aviação.

Estamos num total isolamento, mas vai-se aguentando, e saímos muito pouco do quartel, pois não havendo evacuações não pode haver feridos.

Hoje choveu em abundância (o pessoal saiu cá fora), pela primeira vez, no Guileje. Foi uma festa, mas é só uma pequena amostra do que há-de chover. Junto envio algumas fotos para o paizinho. A da bajuda com o jubi às costas é para si, OK?

Amanhã vou finalmente ter notícias da Metrópole, pois haverá uma coluna (…).

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Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 25 de Abril de 2007

Guiné 63/74 - P1699: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (1): Abatido o primeiro Fiat G 91

Guiné 63/74 - P1726: Álbum das Glórias (12): Bissau: Clube Militar, mais conhecido por Biafra (Mário Bravo)

Guiné > Bissau > 1971 > "É uma imagem do Clube Militar, o local onde nos eram servidas as refeições. Alguns de nós estarão recordados. E será que ainda existe algo de ruínas (?!), deste complexo ?"
Guiné > Bissau > 1971 > "Isto é a imagem das traseiras do complexo habitacional (?), onde nos alojavam quando de passagem pela capital – Bissau. Que ronco de quartos, sem qualquer tipo de conforto, mas que era o que existia".

Fotos e legendas: © Mário Bravo (2007). Direitos reservados


1. Mensagem do Mário Bravo (Ex-Alf Mil Médico, CCAÇ 6, Bedanda, 1971/72, actualmente a viver e a trabalhar no Porto onde é ortopedista) (1):

Meu Caro Luís Graça:

Não consegui organizar a minha vida para estar presente em Pombal, o que lamento e peço desculpa.

Tenho estado um pouco afastado do teu tão estimado blogue, mas prometo retomar em força. Hoje à noite estava a ver umas fotos da Guiné e encontrei esta que se refere ao chamado Clube Militar. Quando cheguei a Bissau, em Novembro de 1971, fiquei instalado neste complexo militar. Junto desta messe havia um espaço onde dormiam os oficiais, em passagem por Bissau. Quem é que não se lembro do famoso Biafra ?

Para o devido reconhecimento, como se dizia em gíria militar (ainda me lembro), envio duas fotos referentes à situação descrita.

Cumprimenta
Mário Bravo

2. Comentário de L.G.:

Mário: Ainda não foi desta que a gente se passou a conhecer pessoalmente, ao vivo. Há dias estive no Porto, com o Amaral Bernardo que me disse que tu tinhas aparecido por lá, pelo serviço dele, no Hospital de Santo António. Há 30 anos que não se viam, foi o nosso blogue que vos juntou, a vocês dois que são médicos e vivem na mesma cidade... Sei que estás no Hospital da Lapa. Um belo dia destes faço-te uma surpresa.

Agradeço-te as fotos do Biafra. Vão enriquecer o nosso Álbum das Glórias (2).

O António Graça de Abreu, que tu conheceste em Teixeira Pinto (3), almoçou connosco no Pombal, conversámos um bocadinho, mas ele seguiu depois para o Porto. Ofereceu e vendeu exemplares do seu último livro, Diário da Guiné. Perdeste também a oportunidade de conhecer o teu colega Vitor Junqueira, que foi o nosso caloroso e bom anfitrião. Vive em Pombal, tendo já trabalhado no Hospital de Leiria.

Mantenhas. Luís

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Notas de L.G.

(1) Vd. post de 23 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1457: Tertúlia: Apresenta-se o Alf Mil Médico Mário Bravo, CCAÇ 6, Bedanda (1971/72)

(2) Vd. último post desta série > 27 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1703: Álbum das Glórias (11): O autocarro da carreira Bissau/Bissalanca (Victor Barata)
(3) Vds. posts de:

Guiné 63/74 - P1725: II Encontro em Pombal (10): O nosso bom gigante J. Mexia Alves (Vitor Junqueira)

Pombal > 28 de Abril de 2007 > 2º encontro da nossa tertúlia > O Joaquim Mexia Alves que, além de ter um metro e noventa e tal, tem uma belíssima voz para o fado (1) e é um grande camaradão. Já se ofereceu para organizar o próximo encontro da nossa tertúlia, que - segundo a sua sugestão - poderia voltar a realizar-se na região centro (Ortigosa / Monte Real, concelho de Leiria).


1. Resposta do Vitor Junqueira ao mail do Joaquim Mexia Alves (2):

Joaquim Mexia Alves,

Posso tratar-te apenas por Joaquim ou Quim?

As tuas palavras e simpatia fazem-me bem ao ego. Fico-te grato e com o pesado sentimento de que se calhar não sou merecedor. Pois, meu querido amigo e vizinho, entre as coisas mais gratas que me aconteceram neste encontro, registo a oportunidade que tive de te conhecer pessoalmente.

Através dos teus escritos eu pude construir uma certa imagem da tua pessoa, inteiramente corroborada pela curta troca de impressões que ocorreu entre nós em final de jornada: Um homem de ferro com coração de passarinho. Talvez te pareça excessivamente familiar e, se assim for, aqui vai o meu antecipado pedido de desculpas. Mas sabes, não é qualquer um que se pode vangloriar de ter por amigo o Bom Gigante de Monte Real!

Um dia destes, vamos encontrar-nos para tomar um cafezito e, se houver vagar, daremos também um pouco à língua, que esse é um privilégio exclusivista que eu recuso às mulheres.

Um abraço do,

Vitor Junqueira

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Nota de L.G.:

(1) Vd. posts de:

1 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1720: Tertúlia: Encontro em Pombal (9): (Não) me tirem daqui (Sousa de Castro / Vacas de Carvalho / Mexia Alves)

1 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1717: Tertúlia: Encontro em Pombal (8): Ah, tigres! Ou uma dupla de fadistas (J.L. Vacas de Carvalho / J. Mexia Alves)

(2) Vd. post de 30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1712: Tertúlia: Encontro em Pombal (3): Obrigado e até ao próximo, em Monte Real (Joaquim Mexia Alves)

(...) Caros Luís Graça, Vítor Junqueira e Camaradas da Guiné: Ainda a refazer-me das emoções de Sábado, venho agradecer - quer queiram, quer não queiram: (i) ao Luís Graça, pela ideia do blogue, pelo trabalho que nele tem e também porque por causa disso nos proporciona momentos como os de Sábado; (ii) Ao Vítor Junqueira e a quem o ajudou a organização e tudo o que naquele dia nos quis dar, sobretudo a intimidade que nos deu de si próprio ao colocar a sua família como nossa anfitriã, mais o belíssimo gesto da condecoração; (iii) A todos os camaradas, pelo amizade, o acolhimento, a alegria, a franqueza do abraço" (...).

Guiné 63/74 - P1724: Em 1968 eu vi ser abatido um Fiat G.91 sob os céus de Gandembel (Zé Teixeira)

Sintra > Granja do Marquês > Base Aérea nº 1 > Academia da Força Aérea Portuguesa > Fiat G-91, em exposição.

O Fiat G.91 era um avião monomotor de reacção, subsónico, de asa baixa e trem retrácill. Projectado como caça táctico padrão para a NATO, teve seu baptismo de voo em 1956.
Por divergências políticas entre os membros da NATO, nomeadamente com a França, acabou por ser adoptado apenas pelos países do consórcio construtor (Itália e Alemanha). No total, foram construídos menos de 700 unidades.

Em Portugal, esta aeronave chegou em 1966, tendo sido abatida ao serviço em 1993. A Força Aérea Portuguesa chegou a possuir 74 aviões, nas versões R/3 e R/4. Portugal foi, de resto, o único país da NATO a utilizar o G.91 em situações reais de combate, durante a guerra colonial. O G.91 serviu em 2 esquadras de ataque baseadas em Moçambique e numa esquadra baseada na Guiné (a famosa Esquadra 121 - Os Tigres).

Na guerra colonial, o G.91 foi utilizado como avião de ataque ao solo e de reconhecimento. Para reconhecimento fotográfico o avião estava equipado com câmaras fotográficas no nariz. O efeito psicológico provocado pelo troar do reactor era mais eficaz que propriamente o seu poder de fogo e o seu curto alcance limitava operacionalmente a sua acção. Armamento: Estava equipado com 2 canhões DEFA 30 mm ou 4 metralhadoras Colt-Browning de 12,7 mm.

Segundo outras fontes consultadas, teriam sido abatidos cinco Fiat G.91, da Esquadra 121, na Guiné, a partir de 1973, na sequência da introdução dos mísseis terra-ar Strella , de origem soviética. Não encontrei até hoje qualquer referência à aeronave abatida em 1968, conforme testemunho do nosso camarada Idálio Reis, agora corroborado pelo Zé Teixeira. (LG).

Foto e texto (adaptado) > Fonte: Wikipedia (com a devida vénia..)


1. Mensagem do Zé Teixeira, autor de um notável documento humano, já aqui publicado > O Meu Diário... O José Teixeira foi 1º cabo enfermeiro, na CCAÇ 2381 (Buba, Quebo, Mampatá, Empada, 1968/70).


Caríssimos Idálio e Luís:

Quando eu nos encontros com antigos combatentes ouvia dizer que o primeiro Fiat abatido foi em Fevereiro/Março de 1973, eu reagia afirmando que não era verdade, pois em 28 de Julho de 1968 eu tinha visto um Fiat que estava a acompanhar uma coluna de mantimentos para Gandembel, cuja segurança estava a ser efectuada pela minha companhia. Coluna que felizmente não teve incidentes, durante o percurso, talvez a única.

Mas ao chegarmos a Gandembel, levámos uma carga de lenha em pleno dia. Valeu-nos a experiência dos camaradas do Idálio, [a CCaç 2317,] que tiveram o cuidado de nos fazer recolher de imediato para as suas casernas.

Estranhamente toda a gente reagia com incredualidade à minha informação que tinha visto um Fiat cair em 1968 e rejeitavam-na categoricamente. Afirmavam a pés juntos que era falso. Seria que eu depois de regressar imaginava coisas ?

No meu Diário escrevi:

Aldeia Formosa, 28 de Julho de 1968
Ontem Aldeia Formosa voltou a ser atacada. Três vezes numa semana é muito.

Hoje fui fazer uma coluna a Gandembel. Tudo correu bem. O IN não atacou nem colocou minas na picada. Só tivemos uma tempestade de chuva. Começámos por ouvir um ruído assustador que se aproximava de nós. De repente surge uma forte ventania que nos arrastava, seguida de uma tromba de água que transformou a picada num rio. Um quarto de hora depois tudo desapareceu e voltou o sol quente que rapidamente nos secou.

Pouco antes de chegar a Gandembel vimos o IN atacar um Fiat das FAP que se incendiou, tendo o piloto saltado de paraquedas.

Passei no sítio onde há pouco tempo se deu uma terrível emboscada que roubou seis vidas. Quinze fornilhos colocados em série num local onde a tropa ao sentir as primeiras balas da emboscada se esconde. Doze rebentaram no momento em que se iniciou a emboscada e ceifaram seis vidas. Foi uma sorte não ter lá ficado toda a Companhia.

Quando chegámos a Gandembel, fomos saudados pelo IN com um pequeno ataque ao aquartelamento, sem consequências. Os Camaradas que estão aqui estacionados dizem que comem disto todos os dias e mais que uma vez.

Como é terrível...
Encontrei em Gandembel o Mário Pinto, meu colega de escola, contou-me coisas terríveis que se têm passado neste aquartelamento fortificado, junto à Fronteira com a Guiné-Conacri que tem como objectivo cortar os carreiros de ligação à estrada da morte impedindo o IN de fazer os abastecimentos.
-Será verdade que vamos ficar nesta zona por muito tempo ?

Odeio... Odeio os homens que se guerreiam e matam. No entanto eu também sou um deles...
O Inimigo também tem namorada, mulher, filhos... também se agarra aos seus santos protectores...

Pergunto-me se, quantas vezes ao sair para o mato as portas das Tabancas se abrem e surgem caras, um sorriso, um braço no ar ... um desejo de 'bom biaje', se não serão essas mesmas caras com o ódio estampado que nos esperam no meio da bolanha, prontas a matar quem não quer fazer guerra, mas foi obrigado pelo sentido de Pátria em que foi educado ?

Toda a cara preta me parece um IN. Odeio o IN, porque é traiçoeiro, porque mata . . .
Efectivamente, ouvi fogo no meio da mata cerrada, suficientemente longe de nós e vi um dos Fiat deixar um rastro de fumo negro, começar a perder altura e afocinhar lá longe. Entre os meus colegas, houve quem afirmasse que viram o piloto saltar de paraquedas.

No dia seguinte, apareceram os Páras para bater a zona e recolher o Piloto. Ficaram por Aldeia Formosa uma temporada.

A coluna anterior tinha deixado as marcas bem visíveis nos fornilhos que rebentaram, e nas quais cabia uma GMC.

A coluna seguinte foi terrível. A cerca de um Km, à nossa frente, abre-se um enorme e violento fogachal, que nos levou a parar e aguardar, pois prevíamos que o Grupo de Comb da Companhia do Idálio que corajosamente vinha ao nosso encontro, estava em apuros. Efectivamente, algum tempo depois recebemos uma mensagem a pedir-nos para regressarmos para trás, porquanto, tinham sido violentamente atacados, tinham caído num campo de minas e iam recuar com feridos, mortos e um desaparecido.

Demos meia volta e voltamos para trás, sem incidentes. O IN tinha gasto as energias com os camaradas de Gandembel, mas se estes não tivessem o cuidado de nos avisar, seria terrível, pois passados 15 dias e já com a limpeza da mata feita pelos páras que levantaram n minas e armadilhas, detectámos 57 minas conforme escrevi no meu Diário embora eu tivesse ficado a salvo no Destacamento de Mampatá Forreá, onde fora colocado temporariamente.


Mampatá, 23 de Agosto de 1968

Mais uma etapa díficil para a Companhia 2381. Quem diria que, após uma coluna a Gandembel na qual se levantaram 57 minas A/P e quatro fornilhos, depois da passagem por Xamarra e sem ninguém contar surge a terrível emboscada que provoca cinco feridos.

É sempre assim, onde menos se conta, quando a calma e a confiança voltam ao espírito, quando se julga que o perigo já passou, surge de entre o arvoredo, traiçoeiramente, o inimigo.

Um viver constante em estado de guerra arrasa o espírito. A parte física ressente-se, as conversas entre camaradas tornam-se por tudo ou nada exaltadas, pequenos quezílias tornam-se problemas.

O homem é fruto do ambiente em que vive. Se o ambiente é de paz, sente-se a vida nos corações, a calma e a confiança no outro, vive-se a paz. Quando o troar dos canhões se ouve longe ou perto, quando existe guerra entre os homens, existe guerra no seu espírito. O espírito torna-se selvagem. Trava-se uma luta entre o antigo e o novo, entre o amor e o sangue. Um jovem que ainda ontem só pensava em amar, hoje não vacila em disparar sobre um inimigo, mesmo ferido inofensivo, inutilizado, a precisar de uma mão salvadora....

Antes de ontem e ontem, Buba foi atacada. Os Páras têm tido um trabalho intenso. Hoje bateram a zona de onde costumam atacar Aldeia Formosa. Há alguns dias que patrulham a zona envolvente de Gandembel e com bons resultados. vários mortos, manga de feridos e material apreendido.
Hoje escrevi para a Metrópole. As minhas últimas cartas não me agradam . Será que o meu amor está a diminuir ?... ou a ânsia de amar mais, me faz julgar que não consigo dar a entender quanto amo.
Registe-se que, nesta coluna, um dos grupos de combate da minha companhia que fazia a protecção do flanco, encontrou os restos mortais de um camarada do Idálio Reis que tinha sido dado como desaparecido. Estavam no meio da mata, entrançados entre duas árvores. A carne tinha sido sugada pelas formigas. Havia indícios de que esteve consciente e fez tentativas de sair da posição em que se encontrava, pela terra mexida junto aos seus pés. Não vi nem vivi esta cena, mas esta imagem persegue-me ainda hoje.


Obrigado Idálio por me ajudares a repôr a verdade (2). Um fraternal abraço muito especial para ti, irmão.

J.Teixeira
Esquilo Sorridente

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Nota de L.G.

(1) Vd. post de 14 Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVI: O meu diário (Zé Teixeira) (fim): Confesso que vi e vivi.

Vd posts os 18 posts anteriores:

1 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDX: O meu diário (José Teixeira, CCAÇ 2381) (1): Buba, Julho de 1968

(...) Buba, 21 de Julho de 1968: Agora me lembro, hoje é Domingo... Saí às cinco da manhã em patrulha de reconhecimento à estrada de Aldeia Formosa. Voltei a Buba onde assento desde ontem pelas treze e trinta, depois de uma marcha de cerca de vinte quilómetros debaixo de sol abrasador. O resto da tarde foi para dormir, estava completamente esgotado (...).

2 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXI: O meu diário (José Teixeira, CCAÇ 2381) (2): Buba/Aldeia Formosa, Julho de 1968

(...) Buba/Aldeia Formosa, 24-26 de Julho de 1968: (...) A noite começou mais cedo neste negro dia de vinte e quatro de Julho! Esta vida salvava-se, mas um mal nunca vem só. A viatura atingida era o carro do rádio e consequentemente desde aquela hora (16 h) ficamos completamente isolados do resto do mundo. O ferido mais grave e que veio a falecer era o radiotelegrafista. Isto é guerra...Quando nos dispúnhamos a montar acampamento o radiotelegrafista morreu. Com o impacte do rebentamento tinha ido ao ar e caíu de peito, rebentando por dentro. Eu e o Catarino nada pudemos fazer (...).

2 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXIII: O meu diário (José Teixeira, CCAÇ 2381) (3): Aldeia Formosa, Julho de 1968

Aldeia Formosa, 9 de Agosto de 1968: (...) Um pelotão de milícia de Aldeia Formosa foi bater a zona de Mampatá, para confundir o IN e sofreu dois mortos e três feridos. Trouxe orelhas de vários IN, mortos durante o combate. É horrível, Senhor... dois mortos e três feridos e... orelhas de vários IN mortos. Alguns, foi a sangue frio, segundo dizem, depois de serem descobertos com ferimentos que os impediam de fugir. Tudo isto é guerra, enquanto uns estavam na rectaguarda feridos, outros, autênticas feras, procuravam IN, irmãos de raça, para os assassinarem (...).

2 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXIV: O meu diário (José Teixeira, CCAÇ 2381) (4): Aldeia Formosa, Agosto de 1968

(...) Aldeia Formosa, 28d e Julho de 1968: (...) Encontrei em Gandembel o Mário Pinto, meu colega de escola, contou-me coisas terríveis que se têm passado neste aquartelamento fortificado, junto à fronteira com a Guiné-Conacri que tem como objectivo cortar os carreiros de ligação à estrada da morte, impedindo o IN de fazer os abastecimentos (...).

6 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXVII: O meu diário (José Teixeira, CCAÇ 2381) (5): Mampatá, Agosto-Setembro de 1968

(...) Mampatá, 7 de Setembro de 1968: Tenho que reagir. Estou-me portando pior que os outros. Onde está a minha força de vontade de viver segundo o meu projecto de vida ? Sinto-me só... recomeço a luta tanta vez... como fugir ?...Eu não quero matar. Eu não quero morrer. Quero viver, mas esta vida, não (...).

11 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXL: O meu diário (José Teixeira, CCAÇ 2381) (6): Mampatá, Setembro-Outubro de 1968

(...) Mampatá, 17 de Setembro de 1968: Dia de correio. Ainda cedo sentiu-se a avioneta de Sector em direcção a Aldeia Formosa. Aguardamos com ansiedade a viatura que partiu para lá....O Vitor escreveu-me. Por Bissorã nem tudo corre bem. Segundo ele, num pequeno incidente ficaram dois soldados inutilizados para toda a vida, ambos com uma perna amputada e um outro com a cara cheia de estilhaços. Além destes, uma nativa morta e outra sem uma perna. Tudo por rebentamento de minas A/P, montadas pelo IN.Numa saída em patrulha a malta vingou-se fazendo sete mortos e dois prisioneiros. O último a morrer foi o tipo que montou as minas e, pelo que ele conta, teve morte honrosa. Todos os africanos verificaram a eficiência das suas facas no seu corpo (...)

(...) Mampatá, 25 de Setembro de 1968: Como é belo sentir nas próprias mãos o pulsar de um coração novo que acaba de vir ao mundo. Um corpo pequenino, branco como a neve, puro como os anjos e no entanto, este corpo vai crescer, a pouco e pouco a natureza encarregar-se-á de o tornar negro como os seus progenitores, negro como os seus irmãos que hoje não cabiam em si de contentes. É puro como os anjos, a sua alma está imaculada, mas virá o tempo em que conhecerá o pecado, terá de escolher entre o bem e o mal (...).

Guiné 63/74 - CDLIV: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (7): Mampatá, Outubro-Dezembro de 1968

(...) Mampatá, 29 de Outubro de 1968: (...) A família do sargenti di milícia Hamadu (1) estava toda reunida. No meio, um alguidar cheio de vianda (arroz) com um pequeno bocado frango frito:- Teixeira Fermero, vem na cume (Enfermeiro Teixeira vem comer). - Sentei-me meti a mão no alguidar, fiz uma bola com arroz bem temperado com óleo de palma e meti à boca (Em Roma sê romano). Estava apetitoso e eu estava cheio de comer massa com chispe que o cozinheiro confeccionava na cozinha improvisada ao ar livre, porque não havia mais nada. Estamos no tempo das chuvas, a Bolanha dos Passarinhos está intransponível pelo que não há colunas a Buba para trazer mantimentos (...).

19 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXI: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (8):

Chamarra, Janeiro de 1969(...) Mampatá, 5 de Janeiro de 1969: (...) Admiro esta população de Mampatá. Quando souberam que eu ia de serviço na coluna em substituição do Lemos vieram despedir-se de mim. Fui abraçado, as bajudas beijavam-me e cantavam uma melodia triste. Até dá gosto viver com esta gente.A mãe da Binta veio trazer-ma para lhe dar um beijinho e fazer um festinha como era meu hábito (Pegava nela e atirava-a ao ar dando a miúda e a mãe uma gargalhada).A Maimuna tinha oito luas quando cheguei a Mampatá (...).(...) Chamarra,

23 de Janeiro de 1969: (...) Ontem ao anoitecer, em Aldeia Formosa, alguém, lançou uma granada de mão para a Messe dos sargentos. Não se sabe quem foi. Branco ou negro. Por vingança, por descuido. Os resultados foram tremendos. Dois soldados, meus camaradas, tiveram morte imediata e houve ainda dez Furriéis feridos, alguns com gravidade. As medidas tomadas pelo Comandante para descobrir o assassino ainda não resultaram.Aqueles dois colegas que casualmente se encontravam à porta encontraram a morte, pela mão de um companheiro cego pela loucura ou pelo ódio, tudo leva a crer (...).

24 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXIV: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (9): Buba, Fevereiro/Março de 1969, 'manga de chocolate'

Buba, 20 de Fevereiro de 1968: Estou em Buba desde 7 de Fevereiro e as perspectivas não são muito boas. Gandembel foi abandonada e o IN entretinha-se por lá. Agora, talvez porque se está a construir uma estrada nova para ligar Buba a Aldeia Formosa, esta linda terra está a ser a preferida pelo IN para as suas brincadeiras.A estrada nova já causou um morto, o primeiro da minha Companhia quando eu ainda estava em Chamarra. O IN estava emboscado com dois fornilhos montados e, ao fazer rebentar a emboscada, provocou a explosão das armadilhas e um homem, o velho, foi pelos ares. Mais uma vida roubada (...).

30 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXXVI: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (10): Abril/Maio de 1969, 'Senhora, nem Tu me salvaste!" (...)

Buba, 19d e Abril de 1969: (...) Um pequeno incidente de palavras entre um soldado da minha Companhia [CC 2381] e um Comando Africano, quando tomavam banho, originou uma luta entre Fuzileiros e Comandos com consequências graves. Parece estar tudo louco (...).

6 de Fevereio de 2006 > Guiné 63/74 - DII: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (11): Desenfiado, em férias na Metrópole (Maio/Junho de 1969)

(...) Bissau, 19 de Junho de 1969: Regressei a Bissau depois de um mês de férias na Metrópole onde pude participar no casamento do meu irmão Joaquim.A minha [licença] de férias foi cheia de aventura. O Comandante não assinou o Passaporte, pelo que não podia ir, apesar de ter a viagem comprada. Mandei um rádio para Bissau a anular a viagem e entretanto o Comandante foi para uma Operação.(...) Entretanto aparecem dois bombardeiros no ar e o lugar do atirador vago. Ao pressentir que iam aterrar, fardei-me, peguei na mala e dirigi-me à pista com intenções de pedir ao Comandante da Esquadrilha para me levar, só que vejo sair do outro Bombardeiro nada menos que o meu Comandante que regressava da Operação (...).

8 de Fevereiro de 2006 >A Guiné 63/74 - DV: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (12): A morte do Cantiflas (Julho de 1969)

(...) Buba, 18 de Julho de 1969: (...) Para morrer basta estar vivo, não interessa o local ou meio. De paz ou de guerra. A morte aparece em qualquer sítio e a qualquer hora. O Cantinflas estava na guerra.. Caíu debaixo de fogo várias vezes, sofreu os efeitos de uma guerra traiçoeira, sem o mais pequeno ferimento, mas a morte espreitava-o impiedosamente e há dias, através de um choque eléctrico, veio ter com ele (...).

9 de Fevereirod e 2006 > Guiné 63/74 - DVIII: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (13): Vi a morte à minha frente (31 de Julho de 1969)

Buba, 31 de Julho de 1969: Vi a morte à minha frente. Saí de manhã até à Bolanha de Beafada, a montar segurança à coluna que ia para Aldeia Formosa. Tinha como missão assistir os Picadores que iam à frente a tentar detectar as possíveis minas que o IN costuma colocar. Coloquei a bolsa na 1ª viatura e segui à frente da mesma.Como havia muitas poças de água, instalei-me ao lado do condutor. Em determinado momento tive um pressentimento e saltei da viatura seguindo à sua frente. Não andei 50 metros e senti um rebentamento, fui projectado pela deslocação do ar e senti algo a cair em cima de mim, deduzindo que eram estilhaços. Pensei:- Desta não escapo (...).

11 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXX: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (14): De que lado estaria Deus ? (Agosto de 1969)

(...) Buba, 7 de Agosto de 1969: As colunas de abastecimento a Aldeia Formosa e povoações limítrofes continuam a dar que falar. Ontem, seguiu mais uma e, ao chegar ao Pontão de Uane, uma mina anticarro rebentou debaixo da 14ª viatura, projectando os seus ocupantes a grande altura, pois a viatura seguia sem carga. Três mortes instantâneas, todas de africanos e nove feridos graves, entre os quais dois colegas meus. Foi este o resultado (...).

20 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXVII: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (15): um dia negro para a 15ª Companhia de Comandos (Setembro de 1969)

(...) Empada, 9 de Setembro de 1969: Na estrada de Fulacunda, mais 8 Comandos e 3 soldados ficaram sem vida. Houve ainda sete feridos graves, entre os quais o meu amigo Zé João, enfermeiro comando. Uma mina anti-carro de grande potência atirou com a viatura cheia de militares, que estiveram comigo em Buba (15ª Companhia de Comandos) contra um tronco de árvore que se debruçava sobre a estrada, matando uma série deles instantaneamente. No buraco feito pela bomba pode-se esconder uma viatura, tal era a sua potência... (...)

8 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXVII: Dia Internacional da Mulher (5): 'Fermero, ká na tem patacão pra paga, fica ku minha mudjer' (Zé Teixeira) .XVI Parte de O Meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (16)

9 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXX: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (17): Este gajo estava mesmo apanhado

(...) Empada, 16 de Outubro de 1969: Do pelotão que está em Buba chegam novidades. Há dias houve por lá um terrível ataque com tentativa de assalto. Atacaram do sítio habitual do lado do rio com 10 Canhões s/r (...)Segundo dizem os meus colegas eram mais de duzentos, a avançarem em arco para que se as nossas forças saíssem a envolverem. Felizmente estava emboscado um Pelotão que os detectou. Parece que foi um tremendo fogachal, enquanto os Fuzas perseguiam os que atacaram do lado do rio que pretendiam reforçar as forças de assalto (...).

12 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXII: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (18): Empada, Novembro/Dezembro de 1969

Empada, 20 de Novembro de 1969: O Kebá aparecia todos os dias na Enfermaria. É o nosso ajudante no tratamentos da população. Trata as pequenas feridas. Elas já sabem:- Kebá põe mercuro ! - e ele põe.- Kebá, parte quinino! - e ele vai buscar LM. Vão-se embora todos contentes.Ao Almoço lá lhe trazemos uma cantina cheia de comida. É a nossa paga. Há dias deixou de aparecer. Estranho, mas como tem duas mulheres e vários filhos no mato, admiti que tivesse ido embora.Ontem vi-o a carregar barricas de água, da fonte para o jardim do chefe de posto. Perguntei-lhe porque deixou de aparecer e fiquei horrorizado. Estava preso por não pagar o Imposto de Pé Descalço.Vim para o Quartel e a minha revolta fez-me agir. Um quarto de hora depois estava a casa do Chefe de Posto cercada por militares armados de G3 a exigirem a libertação do Kebá (...).

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1723: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (4): A epopeia dos homens-toupeiras

Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (1968/69) > Abril de 1968 > Foto 215 > "A comida que devia ser abundante e variada, começava a ser pouco tragável, à míngua de víveres fundamentais a uma alimentação equilibrada".


Foto 207 > "Removidas as terras, havia que arranjar uma cobertura, para que pelo menos, houvesse alguma sensação de menor perigo. Numa primeira fase, com os troncos de árvores".

Foto 208 > "O buraco estava escavado, mas era necessário muito engenho e força, para colocar os toros"

Foto 209 > "Havia uma luta contra o tempo, para se deixar de descansar ao ar livre, onde a segurança era nula"

Foto 210 > "E por cima dos toros, em geral um tapume metálico do aproveitamento dos bidões e a terra vegetal devidamente calcada".

Foto 211 > "E estes abrigos-toupeira, davam guarida a uma vintena de homens, que descansavam em contacto com a terra húmida"


Foto 212 > "E no princípio, alguns pareciam esconder-se entre as árvores da mata, que esperavam a sua vez do abate".


Foto 213 > "As nossas vidas, fora das canseiras dos trabalhos, desenrolavam-se à volta destes abrigos, já que eram aí que estavam as nossas coisas e também a arma. Mesmo lá, uns sentados, outros de pé, tentavam comer algo".

Foto 214 > "Era também aqui, que desfrutávamos de algum merecido descanso".


Foto 216 > "O abrigo tinha uma entrada lateral. E o soldado Sá Pereira, parece em posição de sentinela, atento e vigilante".


Foto 217 > "O Comandante da Companhia pernoitava junto a este morteiro 81. O seu guarda-costas, Albino Melo, está atento. O fio ligava-se ao posto-rádio, ali bem perto".


Fotos e legendas: © Idálio Reis (2007). Direitos reservados.

IV Parte da história da CCAÇ 2317, contada pelo ex-Alf Mil Idálio Reis (ex-alf mil da CCAÇ 2317, BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana 1968/69) (1).


Parte IV - Instalação e início da construção do aquartelamento de Gandembel (continuação) > Ilustração fotográfica (vd. acima): Incluí o período de tempo entre 8 de Abril de 1968 - partida de Guileje para Gandembel e início da construção do aquartelamento de Gandembel - e a chegada da energia eléctrica, a 9 de Maio de 1968. A epopeia dos homens-toupeiras.

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Nota de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores:

16 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1530: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (1): Aclimatização: Bissau, Olossato e Mansabá


9 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1576: Fotobiografia da CAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (2): os heróis também têm medo


12 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1654: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (3): De pá e pica, construindo Gandembel

Guiné 63/74 - P1722: Provetas, crime e castigo, louvores e punições, erros e perdões (Jorge Cabral)



Cópia do louvor atribuído pelo Comandante do CAOP2 ao Alf Mil Art Jorge Cabral (Fá e Missirá, 1969/71), comandante do Pel Caç Nat 63, transcrito na Ordem de Serviço nº 188, de 9 de Agosto de 1971, do Batalhão de Artilharia 2917 (pag. 774). Classificação Reservado.

Foto: © Jorge Cabral (2007). Direitos reservados

1.Mensagem do Jorge Cabral, de 20 de Abril de 2007:

Amigo Luís,

Continuo a acompanhar o teu / nosso blogue, o qual me ajuda a reconstituir um tempo demasiado importante da minha vida. Claro que escrevemos de nós para nós, sendo muito difícil a quem nunca foi a África, fez a tropa ou viveu a Guerra, entender.

Os meus alunos às vezes espreitam... mas não percebem nada. Como explicar-lhes o que era habitar Missirá?

Há anos, o meu irmão Carlos visitou a Guiné e quis ver Missirá. Conseguiu que o levassem e, lá chegado, imaginando-me ali, chorou...

Fui sempre um paisano incorrigível, desalinhado, marginal, mais do que crítico, um gozador... com óbvia falta de vocação militar. Para que serviam os Serviços Psicotécnicos do Exército? Com que critérios me classificaram como Atirador e depois me fizeram Comandante de Destacamentos?

Devia ter sido Alferes - Básico, e o certo é que se tivesse sido incorporado um ou dois anos mais tarde, acabaria também eu, tal como muitos dos meus Colegas, em Capitão - Proveta (1).

Como tu, ou o Mexia Alves, fui louvado, afirmando-se que "o (meu) trato afável e habilidade para lidar com tropa africana e populações, (me) grangearam grande prestígio".

Alguém nos ensinou essa capacidade para lidar com o outro, para o entendermos, para nos adaptarmos? Não se ensina, nem se aprende, é inata!

Tivéssemos servido entre chineses ou esquimós e os nossos louvores diriam o mesmo.

Excluindo a preparação física, muito pouco de útil, me transmitiram na Recruta e na Especialidade.

Mais ou menos Provetas éramos todos! Nos últimos meses comandei três operações. Numa delas, fui obrigado a tomar decisões complicadas. Como teria agido no início da Comissão?

Na Guerra como no Amor, só a experiência é Mestra!

Quero crer que nenhum Capitão falhou deliberadamente. Alguns obedeceram a ordens absurdas. Não tiveram coragem para desobedecer...

Erros cometemos todos. Lá e cá. Não podemos voltar atrás. Quem foi culpado de, por tibieza ou estupidez, ter contribuido para tão trágicos episódios, certamente sentiu durante todos estes anos, profundo arrependimento e enorme mágoa.

Falar hoje em perdão terá algum sentido?

Abraço Grande
Jorge


PS - Junto, muito amarfanhado, o meu Louvor.

2. Comentário do editor do blogue:

Jorge, amigo e camarada: Estou em total sintonia contigo. Não se nasce soldado. Não se nasce oficial nem cavalheiro. Não se nasce líder nem comandante. Todos fomos provetas, ou pelo menos periquitos. Todos estávamos mal preparados para compreender e fazer aquela guerra. Ou até simplesmente lidar com aquele(s) povo(s). Todos aprendemos, fazendo, errando... Com sangue, suor e lágrimas... quase sempre.

Pessoalmente, tenho dificuldade em ser juiz de quem quer que seja, o mesmo é dizer, condenar ou perdoar. Muito menos ser juiz de ex-combatentes. Só posso falar do que conheci, vivi, testemunhei... Em relação aos combatentes, de um lado e de outro, que morreram, curvo-me perante a sua memória. Outros rezarão por eles. São duas formas de respeito pelos mortos em combate. Esquecer os erros, não esqueço. Erros ou negligências graves dos nossos comandantes que estiveram na origem de morte de camaradas nossos...

Perdoar os crimes (de guerra ou contra a humanidade), tenho muito mais dificuldade, mas felizmente não participei em (nem creio ter sido testemunha de) nenhum... Mas não era sobre isso a que te querias referir, tu que és perito em direito penal.

Crime e castigo, erros, louvores, punições, perdões... Ao menos, temos uma norma (saudável), na nossa tertúlia, que é a da recusa da autoculpabilização e da responsabilidade colectiva. Crime e castigo devem ter sempre um rosto... Nem o povo português nem o povo guineense podem - ontem, hoje ou amanhã - ser acusados de crimes cometidos em seu nome, pelos seus líderes políticos e militares...

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Notas de L.G.:

(1) Vd. posts de:

18 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1674: Efemérides (3): A tragédia do Quirafo: rezar pelos mortos e perdoar aos vivos (Joaquim Mexia Alves)

17 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1669: Efemérides (1): A tragédia do Quirafo, há 35 anos (Paulo Santiago / Vitor Junqueira / Luís Graça)

23 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P980: A tragédia do Quirafo (Parte I): o capitão-proveta Lourenço (Paulo Santiago)

21 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P976: A morte do Alf Armandino e a estupidez do capitão-proveta (Joaquim Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P1721: O primeiro Fiat G-91 foi abatido em 28 de Julho de 1968 (Idálio Reis)


1. Mensagem do Idálio Reis:

Grandes companheiros Luís (editor) e José Carvalho (escriba):

O J. Casimiro de Carvalho narra nas suas cartas do corredor da morte (1), enviadas da fatídica Guileje, e datadas do período de Fevereiro/Março de 1973, duros testemunhos com que se então se confrontou.

Eu, que por lá passei, precisamente 5 anos antes, já então se vivia uma situação bastante delicada. Jamais poderei esquecer que a 28 de Julho de 1968, no cruzamento de Guileje, perdi 2 dos meus homens, como resultado de um contacto quase directo com os guerrilheiros do PAIGC, onde se incluíam cubanos (2).

Mas fundamentalmente o que desejo é repor a veracidade num dos factos descritos, quando se refere que o abate de um FIAT G-91, a 25 de Março de 1973, teria sido o primeiro a registar-se na história da guerra da Guiné.

Nas narrativas que já tive oportunidade de enviar ao Luís, na parte II/IV de Gandembel, pormenorizo o abate de uma destas aeronaves, sob o efeito de impactos de metralhadora anti-aérea, ocorrido em 28 de Julho de 1968. O avião incendeia-se e o piloto, o tenente-coronel Costa Campos, ejecta-se de modo a cair nas imediações do aquartelamento. Para sua felicidade, consegue almejar os seus intentos, pelo que foi prontamente socorrido, e resgatado são e salvo. E de imediato, um helicóptero aterra em Gandembel para o levar para Bissau.

É tudo quanto me compete esclarecer.

Calorosos abraços. Até muito breve em Pombal (3).
Idálio Reis


2. Comentário do J. Casimiro Carvalho:

Nem de longe nem de perto quero pôr em causa os teus conhecimentos de factos verificados antes da minha comissão. Se é verdade, desculpem, mas o que relatei foi o que constou na altura.
Um abraço,
J. Carvalho


3. Comentário do Idálio Reis:

Meu caro Casimiro Carvalho:

Procurei tão-só descrever um facto que presenciei, o da queda de um FIAT G-91. Não sei de todo quantas aeronaves foram postas abaixo pelo PAIGC. O que fui ouvindo, muito em especial, na época em que andaste por aquelas terras, é que o PAIGC começara a destruir a nossa aviação, pois já utilizava mísseis.

De qualquer modo, num espaço de 5 anos, 2 aeronaves de combate viriam a despedaçar-se a distâncias muito curtas.

O blogue do Luís tem essa particularidade, a de poder fazer a história sumida (não oficial) da Guiné, pela importância da compilação das nossas narrativas. E é da leitura de todos os nossos depoimentos, que conseguimos que ela seja verdadeiramente autêntica. O que desejei dar a conhecer...

E desses teus tempos de Guileje, rogo desde já os teus favores para me prestares algumas informações.

Um cordial abraço do Idálio Reis
(Ex-alf mil da CCAÇ 2317,
BCAÇ 2835,
Gandembel e Ponte Balana ,
1968/69)
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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 25 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1699: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (1): Abatido o primeiro Fiat G 91

(2) Vd. post de 9 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1576: Fotobiografia da CAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (2): os heróis também têm medo

(3) A foto do Idálio que se publica em cima, foi tirada em Pombal, no nosso encontro do dia 28 de Abril de 2007.

terça-feira, 1 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1720: II Encontro em Pombal (9): (Não) me tirem daqui (Sousa de Castro / Vacas de Carvalho / Mexia Alves)



Videoclipe (2 m 48 s) > Miscelânea: Tirem-me desta merda!... Vozes: Joaquim Mexia Alves e J. L. Vacas de Carvalho. Viola: J. L. Vacas de Carvalho. Para reproduzir o vídeo, basta clicar duas vezes na imagem.

Vídeo: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.

Vídeo alojado no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau_Videos. Copyright © 2003-2007 Photobucket Inc. All rights reserved.

Pombal > 28 de Abril de 2007 > 2º encontro da malta do nosso blogue > Restaurante O Manjar do Marquês > Fim de tarde > Audiência: Eu, o Paulo Santiago e o seu filho João, o Humberto Reis e a Teresa, o Tino Neves e esposa (acabados de chegar... de Coimbra), o Victor Tavares, o Artur Soares e o António Barroso.... Artistas: o J.L. Vacas de Carvalho, viola e voz; e o Joaquim Mexia Alves, voz. O resto da maralha, desafinada, também deu uma ajuda... (LG).


1. Mensagem do Sousa de Castro:

Depois de ver os vídeos (1) fiquei com uma certa nostalgia de não estar presente, foi pena não estar programado o momento musical!... Se têm alertado o nosso Junqueira... Certamente que o fim de tarde seria bem mais delicioso.

Não só eu como também o António Figueiredo Pinto, de Monção, pernoitámos em Pombal. Que bom, se soubéssemos da tarde de fados e então seria um fim de tarde mesmo fantástico. Fica para a próximo encontro.
Sousa de Castro


2. Comentário do editor do blogue:

Amigos & camaradas: O momento musical foi espontâneo, não-programada, completamente à revelia (ou à margem) da programação oficial... Já tinha acontecido na Ameira (2), que como sabem teve muito menos gente (cinquenta e picos)... Mas haverá mais marés (e marinheiros)...

Tenho mais vídeos desse fim de tarde musical, a qualidade da imagem é má, devido à fraca iluminação do nosso recanto no restaurante... Vou ver o que consigo salvar... Mandem-me também as vossas fotos de grupo... Gostei de conhecer os ‘novos’ camaradas e estar com os ‘velhos’... Infelizmente, é sempre curto o raio do tempo... (LG).
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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 1 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1717: Tertúlia: Encontro em Pombal (8): Ah, tigres! Ou uma dupla de fadistas (J.L. Vacas de Carvalho / J. Mexia Alves)

(2) Vd. posts de:

18 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1188: Periquito vai no mato, olé lé lé, velhice vai no Bissau, olaré lé lé (J.L. Vacas de Carvalho)

24 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1208: Eu ouvi o passarinho, às quatro da madrugada (J.L. Vacas de Carvalho / Fernando Calado)

Guiné 63/74 - P1719: Álbum fotográfico de Humberto Reis (3): Vista aérea da Ponte sobre o Rio Geba, na estrada Geba-Bafatá

Guiné > Zona Leste > 1969 > Vista aérea da Ponte sobre o Rio Geba, na estrada entre Geba e Bafatá.

Foto: © Humberto Reis (2007). Direitos reservados.


Luís

Aqui vai a 1ª de uma centena de imagens que o Albano Costa me tinha digitalizado dos meus diapositivos e trouxe no sábado, [28 de Abril de 2007].

Humberto

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Nota de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores:

22 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXLIX: Álbum fotográfico de Humberto Reis (1): Bambadinca, vista aérea

27 de Fevereiro 2006 > Guiné 63/74 - DXCI: Álbum fotográfico do Humberto Reis (2): Mansambo

Guiné 63/74 - P1718: Lendo de um fôlego o livro do Rui Ferreira, Rumo a Fulacunda (Virgínio Briote)


Pombal > 28 de Abril de 2007 > 2º encontro da nossa tertúlia > Foto (parcial) do grupo: assinalado com um círculo a amarelo, o Rui Alexandrino Ferreira, coronel na reforma, autor do livro de memórias Rumo a Fulacunda (1).

Legenda completa: 1ª fila > Esparteiro (camarada do Rui Albino, foi o fotógrafo oficioso da CAÇ 2701), Eduardo Magalhães Ribeiro (mais conhecido como o pira de Mansoa), Benjamin Durães, João Varanda e, por fim, um camarada que não consigo, de memória, identificar;

2ª fila > Humberto Reis, J. Casimiro Carvalho e Luís Moreira;

3ª fila > Raul Albino, Artur Soares, mais um camarada não identifcado, mais uma senhora e, na ponta, o António Pinto;

4ª fila > Almeida (e, escondido, o António Rosinha), Carlos Santos, Rui Alexandrino Ferreira, José Bastos (tendo ao lado um grupo de acompanhantes que quiseram ficar na fotografia);

5ª fila > João Parreira, Vitor Barata e a família do Vitor Junqueira (duas filhas e os respectivos companheiros, além de duas netas).



1. Mensagem do Virgínio Briote (que esteve connosco em Pombal, acompanhado da esposa e da sogra, e com quem infelizmente só falei dois ou três minutos, durante o almoço, não tendo desta vez nem sequer tido tempo para lhe tirar uma fotografia, ele que o gentleman da nossa tertúlia) (2):

Caro Luís,

Envio-te o teor da mensagem que acabo de enviar ao Rui Ferreira. Tens toda a liberdade para a publicar, uma vez que o livro está à venda.

Gostei muito de te ver.
Um abraço,
vb



2. Caro Rui,

Apesar de não termos praticamente falado, para além de uma apresentação muito breve, tive muito gosto em te ver. Foste muito amável em me teres oferecido o teu livro e, no meio daquela gente toda, acho que nem te agradeci o gesto. Fico-te agradecido.

Pois acabei agora de o ler na totalidade. Como vês, não perdi tempo.

Somos do mesmo tempo e não só, pelo que acabo de ver. Fui mobilizado em Janeiro de 65, para o BCAV 490, o tal que esteve na Op Tridente na ilha do Como. Em rendição individual, em substituição de um alferes que tinha sido evacuado. Fui para Cuntima, para a CCAV 489 e por lá me mantive até quase o Batalhão acabar a comissão. Tive conhecimento que o Cor Cavaleiro tinha conseguido colocação em Bissau para os que estavam em rendição individual e que ainda não tinham tempo suficiente para a desmobilização.

Não me quis ver no meio dos papéis do QG e ofereci-me para os Comandos. Foi meu instrutor o então Cap Nuno Rubim, o também então Ten Saraiva e outros. Acabado o curso, fizeram-se 4 grupos, os Centuriões (Alf Rainha), os Apaches (Neves da Silva), os Vampiros (Vilaça) e os Diabólicos (3), de que fui o chefe até à chegada da 3ª CCmds (Cap Alves Cardoso) e da 5ª (Cap Albuquerque Gonçalves) em 30 de Junho de 66. Por ordem do Comandante Militar R. Nogueira ainda estive em Mansoa até 30 de Agosto, com elementos a quem faltavam ainda uns meses para acabar a comissão.

Corri a Guiné toda, como calculas. E, ao ler o teu livro, acabo por constatar que ambos percorremos aqueles trilhos da zona do Oio. Contas histórias que me são familiares. E são várias.
(i) Aquela do guia que se pirou, foi com o meu grupo. Nessa saída acompanhava-nos o então Cap Garcia Leandro. E foi como a contas, com um ou outro pormenor que já não recordo. Tenho ideia que o guia ia amarrado a um milícia de Mansoa , que a fuga ocorreu ainda de noite e não tenho presente que tenha havido fuzilaria. Eu era o 3º homen do grupo e, se a memória me não atraiçoa, o Marcelino (3) era o 1º , logo a seguir ao milícia e ao guia .

(ii) Outra é passada em finais de Junho, em Mansabá. A história do cão que não recordo alguma vez de ter ouvido falar, mas que não duvido que alguém do grupo tenha feito essa asneira. Na pág. 248, referes que nem um Km andado já estávamos a "cagar". Meia dúzia de linhas à frente, reduziste o km a que estávamos do destacamento para apenas 100 metros. E, meia dúzia de linhas abaixo, já são apenas meia dúzia de metros. São pormenores, caro Rui, que não têm muita importância. Para mim, importância tem o resultado. Entrámos no acampamento sem sermos detectados, fizemos aquilo que tínhamos a fazer e sem baixas do nosso lado.

Não posso falar sobre o caso da "perna partida" do Rainha, e de, por já ser dia, ter passado a hora de ataque ao acampamento. Surpreende-me. Porque foram várias as acções em que actuámos de dia. Que era, quanto a mim, uma altura privilegiada. Tive até a oportunidade de, precisamente com o Rainha, ser largado em Sitató, junto ao Senegal, zona de Cuntima, para uma nomadização de 48 h. Três ou 4 horas depois entrámos por um acampamento, com alguns elementos lá dentro na limpeza das armas. Fizemos isso várias vezes, por isso repito, acho estranho toda essa história.

Não terá ocorrido algo que tenha levado o Rainha a abortar a operação?




Guiné > Mapa assinalando os muitos sítios, de norte a sul, de leste a oeste, por onde andou, em actividade operacional, o ex-alf mil comando Virgínio Briote, de 1965 a 1966.

Foto: © Virgínio Briote (2005).- Direitos reservados



Do resto, emites algumas opiniões generalizadas sobre os cmds, opiniões a que tens evidentemente todo o direito. "Que corria à boca cheia que num bambúrrio de sorte....", que entraram numa arrecadação, coisa e tal, e que aquilo durou até ao fim da comissão...E perguntas-te a ti próprio se terá sido verdade. "Actuações terrivelmente confrangedoras..." "E se operacionalmente não era aquela CCmds um valor efectivo nem o podia ser nunca, pois ...., mal preparados..." Opiniões.

A CCmds actuou de Jun 64 a Jun 66. Os efectivos rondaram os 200 homens. Tiveram 12 mortos e 19 feridos. Cerca de 70 armas capturadas, para falar só de armas. Foram estes os resultados. Não são opiniões.

Àparte esta questão, repito, caro Rui, tive muito gosto em ler o livro. Rever aquelas terras, página a página, os nomes dos intervenientes quase todos meus conhecidos, foi uma leitura muito interessante.

Caro Rui Ferreira, um grande abraço e até um dia destes.
vb

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Notas de L.G.

(1) Vd. post de 17 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1285: Bibliografia de uma guerra (14): Rumo a Fulacunda, um best seller, de Rui Alexandrino Ferreira (Luís Graça)

(2) O Briote está connosco desde Outubro de 2005 > Vd. post de 23 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLV: Virgínio Briote, ex-comando da 1ª geração (1965/66)

Em 7 de Fevereiro de 2006, criu o sue próprio blogue > Tantas Vidas. Sob o pseudónimo do Gil Duarte, reconstroi na primeira pessoa do singular o puzzle das suas memórias do tempo em que andou lá pela Guiné (1965/67), incluindo amores e desamores... Uma notável escrita e um grande documento humano que merecia passar a suporte de papel, sob a forma de livro.
Vd. também o seu álbum fotográfico > Imagens da guerra colonial.

(3) Vd., entre outros, os seguintes posts:

10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1354: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (1): De 1º Cabo Comando a Torre e Espada (Virgínio Briote)

10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1357: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (3): Nem a cruz nem o altar (Mário Dias / Luís Graça)

19 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1381: Feliz Natal, Próspero Ano Novo, Adeus e Até ao Meu regresso (6): comandos de Brá em 1965, crime e castigo (João S. Parreira)

Guiné 63/74 - P1717: II Encontro em Pombal (8): Ah, tigres! Ou uma dupla de fadistas (J.L. Vacas de Carvalho / J. Mexia Alves)




Videoclipe (1 m 55 s) > Fado: Montemor é praça cheia. Letra: Joaquim Mexia Alves; música: Manuel Maria. Acompanhamento à viola: J. L. Vacas de Carvalho. Para reproduzir o vídeo, basta clicar na imagem.
Vídeo: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.
Vídeo alojado no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau_Videos. Copyright © 2003-2007 Photobucket Inc. All rights reserved.

Pombal > 28 de Abril de 2007 > 2º encontro da malta do nosso blogue > Restaurante O Manjar do Marquês > Fim de tarde > Um pequeno grupo de privilegiados (eu, o Paulo Santiago e o seu filho João, o Humberto Reis e a Teresa, o Victor Tavares, o Artur Soares e o António Barroso) formam a audiência (selecta e exigente...) de dois grandes artistas do fado: o J.L. Vacas de Carvalho, à viola, e o Joaquim Mexia Alves, autor e cantor...

Em relação a este último, já ouvíramos falar do seu talento como fadista (1), mas ainda não o tínhamos visto ser posto à prova do grande público... O Vacas de Carvalho - com quem vim de Lisboa, à boleia, no carro do Humberto Reis -, esse, anda sempre com a sua inseparável viola... Já o conhecíamos bem de Bambadinca (1969/71) e da Ameira (14 de Outubro de 2006): não só toca como canta como um passarinho... às quatro da madrugada (2). Um e outro são, de resto, fadistas amadores.

Foi pena que as condições de som e de luz não fossem as melhores... Mas mesmo assim aqui fica o registo, para partilhar com todos aqueles dos nossos camaradas que já não estavam no restaurante àquela hora...incluindo o nosso anfitrião, o Vitor Junqueira... Permitam-me que faça aqui uma sugestão aos organizadores do próximo encontro (em Monte Real, em Vouzela ou noutro sítio): por favor, arranjem um pequeno momento musical como este... Permitam-me ainda que dedique este momento, mais intimista, ao Vitor Junqueira e à sua família que foram inexcedíveis em matéria de hospitalidade e de carinho para todos nós...

Neste vídeo, o Mexia Alves canta um fado cuja letra é da sua autoria, como se depreende do diálogo travado, no final, entre ele e eu. Trata-se do Montemor é praça cheia, um fado com música do Manuel Maria, e que foi gravado pelo Nuno da Câmara Pereira, num disco de 1992, editado pela EMI- Valentim de Carvalho... (LG).
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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 16 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1078: Estórias avulsas (2): Uma boleia 'by air' até Nova Lamego para uma noite de fados (Joaquim Mexia Alves)

(2) Vd. posts de:
18 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1188: Periquito vai no mato, olé lé lé, velhice vai no Bissau, olaré lé lé (J.L. Vacas de Carvalho)

24 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1208: Eu ouvi o passarinho, às quatro da madrugada (J.L. Vacas de Carvalho / Fernando Calado)

segunda-feira, 30 de abril de 2007

Guiné 63/74 - P1716: II Encontro em Pombal (7): Camaradas radicais (Paulo Santiago / Vitor Junqueira)



Pombal > 28 de Abril de 2007 > 2º encontro da nossa tertúlia > O Paulo Santiago e o João, seu filho (foram os dois, juntos, à Guiné, em Fevereiro de 2005).


Pombal > 28 de Abril de 2007 > Aldeia do Vale > Vista do nosso grupo a uma casa serrana de turismo rural, pertencente a um amigo do Vitor Junqueira, e que se situa na Aldeia do Vale, a mais antiga das aldeias (ainda habitadas) do concelho de Pombal... Um sítio frondoso e fresco, com belíssimos e centenários carvalhos... Infelizmente, neste percurso da serra, uma parte dos nossos camaradas perdeu-se e não nos voltámos a encontrar. Outros, tiveram que voltar mais cedo a casa (LG).

Fotos: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem do Paulo Santiago:

Camarada Vitor:

Não gostas que diga obrigado, seja então muito agradecido pelo Encontro que organizaste na tua antiga e bela cidade. Gostei,principalmente,da cerimónia da medalha. Foi bonito!

Tomei apontamento: fazer o passeio pedestre que passa pela Aldeia do Vale.

Bem hajas.

Um grande abraço do
Paulo Santiago

PS - Não estavas presente [, ao fim da tarde, no restaurante,] o Mexia Alves tem uma excelente voz para cantar Fado.

2. Comentário do Vitor:

Paulo,

Em relação ao nosso convívio de ontem, nem me digas nada. Não quero que ninguém seja piedoso comigo. Mas que foi uma ganda barraca, foi!

O Carlos Vinhal já me passou uma caixa de charutos, o que me levou a remeter-lhe o e-mail que reproduzo abaixo. Eu até me esqueci que as senhoras [também têm as suas... necessidades] (...).

Mudando de assunto, tu fazes-me falta aqui por perto! Ontem deste-me oportunidade de confirmar totalmente o retrato que eu tinha construído a teu respeito. Para além de amigo, és o camarada de que eu precisava para a desbunda. Acho que temos algumas coisas em comum, e entre elas uma enorme capacidade de resistência. Resistimos ao conformismo, aos lugares comuns e às ideias feitas. Resistimos à quietude, à acomodação, ao fatalismo. Havemos de resistir ao S. Pedro que se vai ver em palpos de aranha para gozar da nossa companhia!

Só não resistimos a tudo o que seja puxar pelo cabedal, castigar o coirão, desporto macho. Àquela sensação de calor espinhaço acima e pêlo eriçado graças à mistura fantástica de uns cagagésimos de testo com uns micro de adrenalina.

Isso é o que eu chamo estar vivo. Pois espera um pouco que há-de aparecer um projecto em que possamos ambos participar. Espero ansiosamente por isso.

Peço que transmitas ao teu filho po meu pedido de desculpas pela seca monumental que ele apanhou na hora da despedida. Coimbra, tem mais encanto...

Um xi do,
Junqueira
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Nota de L.G.:

(1) Vd posts anteriores:

29 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1709: Tertúlia: Encontro em Pombal (1): Malta de cinco estrelas (José Martins)

29 de Abril de 2007 > Guiné 63/74: P1710: Tertúlia: Encontro de Pombal (2): Saudades (João Parreira / António Pinto / Vitor Junqueira)

30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1712: Tertúlia: Encontro em Pombal (3): Obrigado e até ao próximo, em Monte Real (Joaquim Mexia Alves)

30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1713: Tertúlia: Encontro em Pombal (4): O nosso bom humor (Tino Neves / Vitor Junqueira)

30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1714: Tertúlia: Encontro em Pombal (5): Perdidos & achados (Carlos Vinhal / Vitor Junqueira)

30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1715: Tertúlia: Encontro em Pombal (6): Vitor, não temos a tua pedalada, mas foi bom (Sousa de Castro)

Guiné 63/74 - P1715: II Encontro em Pombal (6): Vitor, não temos a tua pedalada, mas foi bom (Sousa de Castro)

Pombal > 2º Encontro da tertúlia Luís Graça & Camaradas da Guiné (1) > Visita ao castelo de Pombal, da parte da tarde > Na foto, o Sousa de Castro (CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74) e o J. Armando F. Almeida ( CCS do BART 2917, Bambadinca, 1970/72) (1).

Foto: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem do Sousa de Castro (que é historicamente o tertuliano nº 2) e que veio de Viana do Castelo, com a esposa, para conhecer o resto da tertúlia (2):

Olá, Junqueira, parabéns pela excelente organização do 2º encontro tertuliano. Mostraste o que há de bom no concelho de Pombal, se assim não fosse não conseguiria conhecer o que conheci, mas digo-te, foi difícil acompanhar-te serra acima. Outros tertulianos, pelas mais variadas razões, não o conseguiram. Faltou tempo para que todos os presentes se conhecessem. Depois de consultar a lista escaparam-me alguns. Fica para a próxima.

Obrigado pelos bons momentos.
Sousa de Castro

2. Comentário do Vitor:

Sousa de Castro,

Obrigado pelas tuas palavras simpáticas. Caem sempre bem e acima de tudo, são um estímulo.
Por outro lado, tenho que dizer-te que estás cheio de razão quanto às tuas observações. Se fores ao blogue lá encontarás o meu mea culpa. Vamos aprendendo de um ano para outro. Entretanto, aqui vai um abraço e até sempre

Vitor Junqueira
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Notas de L.G.

(1) Vd. post de 12 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1655: Tertúlia: Apresenta-se o ex-Furriel Mil Trms Almeida (Bambadinca, CCS/BART 2917, 1970/72)

(2) Vd. posts anteriores sobre o nosso encontro em Pombal:

29 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1709: Tertúlia: Encontro em Pombal (1): Malta de cinco estrelas (José Martins)

29 de Abril de 2007 > Guiné 63/74: P1710: Tertúlia: Encontro de Pombal (2): Saudades (João Parreira / António Pinto / Vitor Junqueira)

30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1712: Tertúlia: Encontro em Pombal (3): Obrigado e até ao próximo, em Monte Real (Joaquim Mexia Alves)

30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1713: Tertúlia: Encontro em Pombal (4): O nosso bom humor (Tino Neves / Vitor Junqueira)

30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1714: Tertúlia: Encontro em Pombal (5): Perdidos & achados (Carlos Vinhal / Vitor Junqueira)

Guiné 63/74 - P1714: II Encontro em Pombal (5): Perdidos & achados (Carlos Vinhal / Vitor Junqueira)

Pombal > 28 de Abril de 2007 > 2.º encontro da nossa tertúlia > Passeio cultural > O Vítor Junqueira, nosso anfitrião e guia, falando de cátedra sobre o velho Castelo de Pombal, sob o olhar atento de alguns dos nossos camaradas: Idálio Reis, à esquerda; António Pimentel, J. Armando F. Almeida e Sousa de Castro, à direita.

Pombal > 28 de Abril de 2007 > Passeio pela parte velha da cidade, à tarde, depois do almoço-convívio no Restaurante O Manjar do Marquês. Na foto, o Carlos Vinhal e a esposa...

Fotos: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem do Carlos Vinhal (próximo voluntário à força para ser co-editor do blogue, aliás já foi afixada a ordem de serviço na caserna):

Vítor:

As minhas desculpas por só hoje e agora estar a comunicar contigo.

Mais um encontro concretizado, este da tua responsabiliade. Nunca será demais salientar o bom que é estes maduros encontrarem-se, confraternizarem e mais parecerem adolescentes, que avôs, quando encontram os companheiros de brincadeira. Quanta nostalgia de tempos difíceis, mas inesquecíveis e irrepetíveis. Desta vez vi ainda mais intimidade, já somos velhos conhecidos.

Sou de opinião que o teu passeio da tarde impediu uma confraternização que se queria mais prolongada, mas não se pode ter tudo. Claro que temi pelo meu pobre carrinho pouco habituado, tal como eu, às picadas pelas quais nos encaminhaste. Maroto, levaste o jeep...

Uma das vezes que nos perdemos foi por falta de ligação dos carros que iam à minha frente com a frente da caravana. Outra foi logo à saída do estacionamento pois não havia indicação de se virar à direira ou à esquerda. Valeu a sinalização de Castelo existente logo ali. Precalços naturais numa caravana demasiado extensa. Para a próxima há que aplicar a propriedade associativa e tentar diminuir assim o número de viaturas.

Queria pedir desculpa pelo meu abandono extemporâneo da caravana mas, sendo tu médico reconheces, as mulheres quase na casa dos 60, têm problemas fisiológicos mais prementes. Assim tive que recorrer a um café e, quando tentei recolar, já não vos encontrei. Vi uma indicação para Pombal e antes que me desorientasse de todo, ali rumei.

Fico desde já ans.cioso pelo próximo encontro. A ti e à tua simpática família os nossos agradecimentos.

Já agora, julgo que no blogue nunca te referiste ao modo como conquistaste/mereceste a tua medalha. Se sim, peço desculpa pela ignorância. Se não, está na hora de contares à gente como se ganha uma condecoração como a tua. Fico(amos) à espera.


Até sempre. Recebe um abraço do camarada
Carlos Vinhal

Carlos Esteves Vinhal
Ex-Fur Mil Art MA
CART 2732
CTIG 1970/72
Mansabá
SPM1388

Leça da Palmeira
Telem 916 032 220

2. Resposta do Vitor Junqueira:

Carlos,

Na verdade, eu devia pintar a minha cara de preto! As tuas observações são justíssimas, ainda que demasiado brandas. Para ser totalmente sincero, eu acho-me merecedor de uma bela pissada à ordem. Publique-se no Blog.

Por um lado, tive mais olho de que barriga. Por outro, não tive em consideração uma série de factores a que tinha obrigação de estar atento. Será que tu e a tua esposa poderão perdoar a minha manifesta aselhice? Posso apresentar alguns factos atenuantes?

A natureza abençoou-me com uma saúde até agora sem precalços. Isto leva-me a esquecer as quase seis décadas de ... experiência. Dizem os meus amigos e eu sinto-o, que continuo tão louco como quando tinha vinte anos. São as viagens malucas por terras onde Cristo nunca andou, é o entusiasmo fácil por qualquer tontice com cheiro a aventura, é a atracção pelos desporto radicais ... estás a ver o animal? Pois é, foi isso que levou a minha ex-mulher a desistir há cerca de um ano. Não aguentou mais, demitiu-se!

Uma das actividades em que costumo envolver-me é nas andanças dos jipes. Já temos tido colunas com mais de quarenta viaturas, e tal como diz o lema dos nossos camaradas paraquedistas, aqui com outro sentido felizmente, "ninguém fica para trás". Armado em tótó, convenci-me de que seria possível fazer algo semelhante com os meus amigos e camaradas e ainda chegar a tempo de continuar a confraternização tarde e noite fora. Deu no que tinha que dar, claro!

O que isto tem de bom, é que como penitência vou oferecer-me para ficar à frente de um próximo emprendimento aqui em Pombal, e com os erros cometidos ontem hei-de aprender a fazer melhor.

Aceita um abraço do,
Vítor Junqueira
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Nota de L.G.:

(1) Vd. postes anteriores:

29 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1709: Tertúlia: Encontro em Pombal (1): Malta de cinco estrelas (José Martins)

29 de Abril de 2007 > Guiné 63/74: P1710: Tertúlia: Encontro de Pombal (2): Saudades (João Parreira / António Pinto / Vitor Junqueira)

30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1712: Tertúlia: Encontro em Pombal (3): Obrigado e até ao próximo, em Monte Real (Joaquim Mexia Alves)

30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1713: Tertúlia: Encontro em Pombal (4): O nosso bom humor (Tino Neves / Vitor Junqueira)