Todo o já largo tempo em que tenho procurado acompanhar a Tabanca Grande me surpreendi com "a falta" da presença do "Major" Azeredo, respeitado, admirado e estimado, comandante do C.OP. de Aldeia Formosa em 1968.
Por inconveniente nas suas ideias e posições frontais, tão fora do vulgar no nosso Exército de então, fora continuamente perseguido, e punido, pela hierárquia. Com a chegada de Spínola e o arranque do programa "por uma Guíné melhor", justiça foi finalmente feita ao "Major" Azeredo com a nomeação pelo Comando Chefe para, então, tão importante cargo operacional. Com o conhecido entusiasmo e frontalidade, acompanhado sempre do seu exemplo pessoal, o Major Azeredo conseguiu, de imediato, motivar mesmo os "menos crentes", transformando desde o primeiro dia do seu comando todo o sector operacional.
Dizia conhecido general romano:
- O carácter não se inventa, o carácter forma-se!
Daí não resistir lembrar aos Camaradas um acontecimento passado com o Capitão Carlos de Azeredo aquando da queda da Índia portuguesa onde então prestava serviço.
Após tentativa de fuga de militares portugueses prisioneiros no campo de Pondá, efectuou-se uma formatura de emergência para contagem de prisioneiros no campo de Alparqueiros onde o Cap. Carlos de Azeredo se encontrava detido. Os prisioneiros foram obrigados pelos militares indianos a comparecer em acelerado. Foi então que o Cap. Azeredo, indiferente às ordens recebidas, se diriguiu calma e compassadamente para a formatura. Advertido por um militar indiano, este intimidou-o a correr. Como o Cap. Azeredo tivesse reagido verbalmente, o Cap. Nahir do 4.º Bat Sik da 17.ª Div. Inf., deu ordem a três soldados indianos para o agredirem à coronhada, o que fizeram. O Cap. Azeredo, violentamente agredido e arremessado ao solo, comportou-se com excepcional coragem e dignidade, perante a admiração dos militares portugueses que assistiram à cena.
(Do livro - Queda da India Portuguesa - Carlos A. de Morais)
Meu General, aqui da tão distante Suécia quero "gritar-lhe" que sentirei sempre orgulho em ter servido sob as suas ordens no humilde destacamento de Mampatá!
Estocolmo
14/Mar/09
José Belo
2. Artigo publicado na edição do dia 11 de Março de 2009, no Matosinhos Hoje Online, de autoria do jornalista senhor Joaquim Queirós, fundador e Director do mesmo Jornal em papel.
Convívio de mais de centena e meia de matosinhenses ex-combatentes na Guiné, com a presença do general Carlos Azeredo.(**)
“Sim, meu general”
No passado sábado, nas magníficas instalações do restaurante “Mauritânia”, na rua de Mousinho de Albuquerque, realizou-se o 3.º encontro de convívio entre os militares matosinhenses que combateram na Guiné-Bissau, então Guiné portuguesa.
Foi um momento de grande companheirismo, em que não faltaram as boas e más recordações, tendo estado presente, a presidir a tão significativo momento, no qual também esteve a deixar um abraço o presidente da Câmara de Matosinhos, dr. Guilherme Pinto, o general Carlos Azeredo, que para além do militar exemplar que ainda o é, na Reserva do Exército português, foi um chefe que se fez respeitar sem quebrar o sentimento de solidariedade e amizade com todos os seus subordinados.
O “Matosinhos Hoje”, convidado para o convívio, não podia deixar de aproveitar a oportunidade para conversar com tão elevada e histórica figura militar, agora com 78 anos, que esteve em comissão de serviço por duas vezes em Goa (Índia), tendo sido até feito prisioneiro quando da invasão daquele território pelos indianos; em Cabinda (Angola) e por duas vezes na Guiné. Foi assessor militar de Sá Carneiro e chefe da Casa Civil do Presidente da República Mário Soares. Ocupou, ainda, a chefia militar da Região do Porto.
Dada a actual conjuntura de tragédia na Guiné-Bissau com o assassínio do Presidente Nino Vieira e do chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, Tagmé Na Waié, o general Carlos Azeredo não teve dúvidas em afirmar:
- Há inúmeras etnias, mas é um povo extraordinário. Mas é um também um país que, noutros tempos tinha hipóteses de criar a sua subsistência e até exportar arroz, enquanto agora é a miséria que se sabe, tomando o Estado conta de todo o espaço e dando uns quintais aos balantas. Depois, há o facto importante de ser um pequeno país que, quando a maré sobe o mar cobre metade do território.
Quanto aos actuais e trágicos acontecimentos, é o resultado natural da luta étnica e dos caminhos negros do envolvimento do país no narcotráfico, tal como se pode depreender pelas notícias. O Presidente Nino, quanto a mim foi um grande guerrilheiro, embora um bárbaro, um Viriato daquelas paragens e estes homens terão de ter sempre morte violenta. As é horrível ter conhecimento destas desgraças e da desgraça destes povos.
O jornalista via na face do grande chefe militar uma nota de inconformismo sobre a situação actual guineense:
- Um grande povo, trabalhador, mas infelizmente envolvido numa situação que não se sabe como irá acabar.
O bacalhau já havia sido digerido e todos procuravam que o “nosso general” também provasse o porco preto, mas ele não acedeu à “ordem de serviço”:
- Já tenho bacalhau quase até sair da boca!
E continuou a curta conversa com o jornalista, não deixando de lhe dar uma ordem”: coma, homem, aqui tem o prato”.
Mas o jornalista antes queria beber a solicitude do general e a sua amabilidade, a força que ainda o velho militar demonstra. Recordamos quando Carlos Azeredo, perante a admiração da população da cidade do Porto, via o então brigadeiro transitar, quando no comando da Região Militar, montado na sua “vespa”. O general deu uma gargalhada:
- Você lembra-se disso? Era uma “Vespa”. Mas também tive uma motorizada igual à dos pedreiros. Era para fugir ao trânsito e chegar ao quartel general a tempo e a horas. Olhe (e dá uma gargalhada bem sonora) um dia descia a Rua da Boavista, montado na tal bicicleta a motor, e na Carvalhosa, o sinaleiro quando me viu passar, fez-me a continência e rodou, de boca aberta, porque não queria acreditar. Eu era e sou assim.
- Mas há mais situações?...
- Sim, por exemplo, quando fui nomeado Chefe da Casa Militar do Presidente Mário Soares estava com uma perna partida e engessada. Parti o gesso, calcei as botas e apresentei-me, correndo o risco de ficar com uma mazela. Mas tinha de estar presente. Se tinha!
E sem nos deixar continuar:
- Fui Governador Militar e representante da República na Ilha da Madeira, tive as minhas discussões bravas com o dr. Alberto João Jardim, algumas que até não quero recordar porque se sabe como é o meu feitio, mas hoje somos grandes amigos e ele fez da Madeira um exemplo de governação. Aqui no Continente bem precisávamos de dois ou três.
A conversa continuou, com parte dela a não ser conveniente reproduzi-la pois falava da “porrada” que houve na guerra colonial e pelas “porradas” que constavam das relações do general com as suas tropas, muito embora estas admirassem o seu comandante, aliás como aquele momento bem o demonstrava.
Carlos Azeredo, nascido, por acaso, em Marco de Canaveses, ainda antes dos nove meses de gestação, situação que, segundo se lê e ouve é sinal do nascimento de alguém que vai fazer história de relevo, hoje, com 78 anos rijos como o “pinguelim” dos oficiais de Cavalaria. Hoje vive na sua propriedade do Douro (“se quiser ir a minha casa, vai à Régua, encosta-se no edifício da estação dos caminhos de ferro, olha para o lado de lá do rio e a minha casa é ali. E tem boa pinga…”) quando lhe apetece, como ele diz no seu ar bem disposto “escrevo umas coisas para O Diabo”.
Foram uns momentos bem passados, de óptima recordação. O nosso obrigado a inúmeros amigos que ali vimos e que soubemos que, alguns, já visitaram as terras onde viveram momentos de sofrimento.
Por: Joaquim Queirós
Com a devida vénia ao Matosinhos Hoje
__________
Notas de CV.
(*) Vd. poste de 8 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3998: Tabanca Grande (124): José Belo, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70), actualmente Cap Inf Reformado a viver na Suécia
(**) Vd. poste de 14 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4030: Convívios (100): Ex-combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos, ocorido no dia 7 de Março de 2008 (Carlos Vinhal)
- Fui Governador Militar e representante da República na Ilha da Madeira, tive as minhas discussões bravas com o dr. Alberto João Jardim, algumas que até não quero recordar porque se sabe como é o meu feitio, mas hoje somos grandes amigos e ele fez da Madeira um exemplo de governação. Aqui no Continente bem precisávamos de dois ou três.
A conversa continuou, com parte dela a não ser conveniente reproduzi-la pois falava da “porrada” que houve na guerra colonial e pelas “porradas” que constavam das relações do general com as suas tropas, muito embora estas admirassem o seu comandante, aliás como aquele momento bem o demonstrava.
Carlos Azeredo, nascido, por acaso, em Marco de Canaveses, ainda antes dos nove meses de gestação, situação que, segundo se lê e ouve é sinal do nascimento de alguém que vai fazer história de relevo, hoje, com 78 anos rijos como o “pinguelim” dos oficiais de Cavalaria. Hoje vive na sua propriedade do Douro (“se quiser ir a minha casa, vai à Régua, encosta-se no edifício da estação dos caminhos de ferro, olha para o lado de lá do rio e a minha casa é ali. E tem boa pinga…”) quando lhe apetece, como ele diz no seu ar bem disposto “escrevo umas coisas para O Diabo”.
Foram uns momentos bem passados, de óptima recordação. O nosso obrigado a inúmeros amigos que ali vimos e que soubemos que, alguns, já visitaram as terras onde viveram momentos de sofrimento.
Por: Joaquim Queirós
Com a devida vénia ao Matosinhos Hoje
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Notas de CV.
(*) Vd. poste de 8 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3998: Tabanca Grande (124): José Belo, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70), actualmente Cap Inf Reformado a viver na Suécia
(**) Vd. poste de 14 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4030: Convívios (100): Ex-combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos, ocorido no dia 7 de Março de 2008 (Carlos Vinhal)