Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 25 de dezembro de 2019
Guiné 61/74 - P20499: Historiografia da presença portuguesa em África (193): Relatório Anual do Governador da Guiné (1921-1922) - Velez Caroço e um relato incontornável para a história da Guiné (2) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Janeiro de 2019:
Queridos amigos,
O Governador Velez Caroço encontrou a Guiné pacificada, ou quase (haverá operações na região Bijagó, ainda insurgente), traz carta branca para pôr cobro à moleza e à corrupção, encontra uma resistência feroz da classe mercantil de Bolama, o Governo de Lisboa está sem dinheiro, a crise financeira na Guiné é acentuada, Velez Caroço toma medidas, verga um antigo Secretário-Geral da Colónia, consegue ultrapassar a questão dos cambiais, caminha sempre em cima da lâmina, reorganiza serviços, lança-se no fomento em plena crise fiduciária.
É o nome sonante da governação republicana na Guiné, bem merecia um estudo mais aturado à sua obra.
Um abraço do
Mário
Velez Caroço e um relato incontornável para a história da Guiné (2)
Beja Santos
A I República não ofereceu grandes vultos governativos na Guiné. A figura excecional, que se irá projetar no trabalho dos governadores seguintes, como Leite Magalhães, Carvalho Viegas ou Ricardo Sá Monteiro, é Jorge Velez Caroço, teve dimensão político-cultural e entusiasmo para deixar obra. Apanhou a paz, tinha suficiente prestígio político (era Senador) para atacar interesses instalados de gente inescrupulosa. E o mais relevante deste relatório, correspondente ao seu primeiro ano de gerência, foi a dinâmica introduzida. Já se falou do saneamento das contas, do seu pensamento sobre a política indígena, vamos continuar. Reorganizou o seu gabinete e a secretaria do Governo.
É neste momento que ele vai afrontar um tabu, a questão cabo-verdiana, veja-se o que ele envia ao Ministro das Colónias:
“Sabido é por todos os funcionários que por aqui têm transitado, que, devido à falta de instrução nesta colónia, não podem os nativos preencher os lugares que vagam nas diferentes repartições, até mesmo os de simples amanuenses. A Província encontrava-se enxameada de empregados recrutados em Cabo Verde e que, com raras exceções, as suas habilitações e competências não iam além das manifestadas pelos nativos. São raros os cabo-verdianos que falam português. A linguagem por eles empregada, até mesmo no desempenho dos seus cargos oficiais, é esse estropiado dialeto que nos envergonha aos olhos dos estrangeiros. O português ouve-se falar em Bolama e Bissau por alguns funcionários e comerciantes portugueses. Os próprios estrangeiros que forçados pela sua vida comercial se vêm obrigados a aprender a língua da colónia aprendem e falam o crioulo, julgando falar o português! A obra de desnacionalização desta colónia era lenta, mas era contínua e persistente. É preciso que não se continue a dizer que a Guiné Portuguesa é uma colónia de Cabo Verde. Façamos do guineense um cidadão português com plena consciência dos seus direitos e correlativos deveres, e assim, prestando-lhe esse serviço, cumprimos ao mesmo tempo um dever patriótico ligando esta região pelo comunismo de ideias, pela conjugação de interesses e pelo amor e veneração à mesma bandeira, à terra onde nascemos e que para todos, europeus e coloniais, será sem distinções mãe extremosa”.
Velez Caroço estudara os dossiês à exaustão, daí a profundidade com que fala dos serviços da Fazenda, da política aduaneira, do movimento comercial e marítimo, dos serviços de fomento da Província, cuidando até ao pormenor do que se tinha feito nas obras públicas, satisfeito com os serviços novos, com a radiotelegrafia, registando o que se estava a fazer na saúde e nos serviços da Marinha, lembrando que se concluíra o edifício do Observatório Meteorológico em Bolama, bem como a modernização que puder imprimir aos serviços militares.
Dá igualmente conta das explorações agrícolas, é interessante o que ele nos diz:
“As explorações agrícolas mais importantes da Província são as existentes na região de Bambadinca-Bafatá. Entre elas destaca-se a dirigida pela Companhia de Fomento Nacional, que na sua exploração tem já empregado quantiosas somas. Todas estas explorações são dignas de protecção, pois do seu desenvolvimento resultarão fatalmente grandes benefícios para a Província, ensinamento para o indígena, familiarizando com os modernos engenhos, aperfeiçoadas alfaias agrícolas, emprego de tracção animal, aperfeiçoamento da pecuária, modernos processos de sementeira de arroz, cana-sacarina, milho, etc., serração de madeiras, construção de carros – tanto na parte referente a obra de carpintaria como na relativa a ferragens”.
Debruça-se sobre a pecuária, os correios e telégrafos, o orçamento colonial, exalta a honestidade de funcionários cumpridores, enumera o muito que há a fazer no setor da saúde; mais adiante, analisa os serviços da Marinha e os melhoramentos que prevê mandar executar.
E deixa um retrato duríssimo sobre os serviços militares:
“Encontrei as unidades militares da Província em condições de não poderem prestar qualquer serviço de valia, caso a elas tivéssemos de recorrer, quer para a manutenção da ordem nas populações urbanas, quer as tivéssemos de empregar para dominar qualquer revolta do gentio.
Os soldados não têm disciplina, não tinham instrução militar, nem mesmo sabiam fazer uso da arma que lhes estava distribuída. Mantinham-se as aparências, porque os indígenas são respeitadores da autoridade do branco e isto, para olhos profanos, podia dar a ilusão de haver disciplina militar. Afinal, eles distinguiam-se dos outros indígenas, simplesmente porque vestiam uma farda de caqui, em geral mal feita e deselegante.
Impunha-se uma nova organização acabando com a caótica composição das companhias mistas de infantaria e artilharia que ninguém sabe para que serviam, desdobravam-se em uma companhia de artilharia de guarnição com sede em Bissau, e em duas companhias de infantaria indígena, uma com sede em Bissau, outra em Bolama.
A instrução dos quadros tem sido lamentavelmente descurada. As exigências de competência e aptidão dos postos inferiores das tropas coloniais são mínimas, e assim chega-se a dar ingresso no quadro dos oficiais sem cultura correspondente às exigências do meio social em que vão viver e sem preparação militar para o desempenho das múltiplas obrigações hoje impostas a um oficial”.
É minucioso, daí a relevante importância que tem este documento para o estudo da Guiné no arranque da década de 1920: dá-nos conta do funcionamento da Imprensa Nacional, do municipalismo, do ensino, do fomento, até do pessoal administrativo das circunscrições. No final do seu relatório apensa documentos e dados estatísticos de grande importância. Junta-se uma imagem curiosa do croqui da Guiné Portuguesa em 1922, a ser verdade o que ali se escreve sobre etnias dominantes, os Fulas-Pretos, os Fulas-Forros e os Futa-Fulas ocupariam quase metade do território, Beafadas e Nalus a zona do Quinara e do Tombali, a norte temos Banhuns, Baiotes, Cassangas e depois os Mandingas, até chegar ao Oio, os Papel predominariam em Bissau. É um croqui interessante mas há sérias dúvidas que tenha validade para estudos etnológicos e até antropológicos.
Recomenda-se a todos os interessados por estudos desta natureza que releiam a obra “A Presença Portuguesa na Guiné, História política e militar, 1878-1926”, por Armando Tavares da Silva, Caminhos Romanos, 2016, a partir da páginas 762, estão ali dados extremamente úteis sobre a governação de Velez Caroço, o relato das hostilidades que encontrou, destaca-se este relatório, as operações militares empreendidas nos Bijagós, a ação de fomento por ele empreendida.
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Nota do editor
Último poste da série de 18 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20467: Historiografia da presença portuguesa em África (192): Relatório Anual do Governador da Guiné (1921-1922) - Velez Caroço e um relato incontornável para a história da Guiné (1) (Mário Beja Santos)
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Guiné 61/74 - P20498: Parabéns a você (1730): Ismael Augusto, ex-Alf Mil Manut do BCAÇ 2852 (Guiné, 1968/70)
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Nota do editor
Último poste da série de 24 de Dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20492: Parabéns a você (1729): Fernando Jesus Sousa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 6 (Guiné, 1970/71)
Nota do editor
Último poste da série de 24 de Dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20492: Parabéns a você (1729): Fernando Jesus Sousa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 6 (Guiné, 1970/71)
terça-feira, 24 de dezembro de 2019
Guiné 61/74 - P20497: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (19): Visualizações e o laço de Natal em rede, ligando editores, autores, comentadores e leitores por meio da Tabanca Grande (Jorge Araújo, coeditor)
1. Mensagem do nosso coeditor Jorge Araújo, que acaba de chegar dos Emiratos Árabes Unidos:
Caro avô Luís,
Bom dia.
Na sequência da recente chegada dos «Emirates», o meu tempo tem sido escasso para dar resposta a todas as missões em agenda.
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Nota do editor:
Último poste da série > 24 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20496: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (18): José Pinela, ex-1º cabo, CCS/BCAV 3846, Os Grifos (Ingoré, 1971/73), DFA
Bom dia.
Na sequência da recente chegada dos «Emirates», o meu tempo tem sido escasso para dar resposta a todas as missões em agenda.
Ainda assim, e a poucas horas da realização da tradicional reunião familiar planeada para a Quadra Natalícia, também designada por Consoada, onde à volta da mesa de jantar, cada um dos presentes irá saborear os diferentes alimentos confeccionados com grande dedicação e amor, tive a sorte de registar, no contador de visualizações do nosso blogue, mais um número redondo - o 9.800.000 (nove milhões e oitocentos mil).
Considerando esse facto, e a exemplo dos casos anteriores, anexo, para memória futura, esse registo, representado a partir do actual contexto natalício, onde adiciono valores de fraternidade e paz para todos os tertulianos.
BOM NATAL... BOA CONSOADA... BOM ANO, com muita saúde.
Jorge Araújo.
BOM NATAL... BOA CONSOADA... BOM ANO, com muita saúde.
Jorge Araújo.
Nota do editor:
Último poste da série > 24 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20496: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (18): José Pinela, ex-1º cabo, CCS/BCAV 3846, Os Grifos (Ingoré, 1971/73), DFA
Guiné 61/74 - P20496: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (18): José Pinela, ex-1º cabo, CCS/BCAV 3846, Os Grifos (Ingoré, 1971/73), DFA
Para todos os camaradas ex combatentes da Guiné e seus familiares, desejo um Santo e feliz Natal, assim como um ano de 2020, com muitas esperanças de que seja melhor do que o que está a terminar.
José Maria Pinela, BCAV 3846, Os Grifos, Ingoré, 71-73)
José Maria Pinela, BCAV 3846, Os Grifos, Ingoré, 71-73)
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Nota do editor:
Último poste da série > 24 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20495: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (17): Jorge Ferreira, ex-alf mil da 3ª CCAÇ (Bolama, Nova Lamego, Buruntuma e Bolama, 1961/63), fotógrafo amador
Guiné 61/74 - P20495: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (17): Jorge Ferreira, ex-alf mil da 3ª CCAÇ (Bolama, Nova Lamego, Buruntuma e Bolama, 1961/63), fotógrafo amador
Lisboa > Natal de 2019 > Iluminações da Baixa, Praça de Camões / Chiado, Avenida da Liberdade, Marquês de Pombal. Cortesia do fotógrafo Jorge Ferreira.
Fotos (e legenda): © Jorge Ferreira (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Para todos os meus Amigos que fui granjeando ao "longo da Vida": Bairro, Liceu, Institutos... Para os Camaradas da Guiné a quem me encontro muito "ligado", para as tertúlias dos meus convívios frequentes, um grande abraço com votos de Feliz Natal e de um Novo Ano, pleno de Alegrias e Saúde!!!
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Nota do editor:
Último poste da série 24 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20494: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (16): Augusto Mota (Brasil), António Graça de Abreu, Cristina Silva (filha do Jacinto Cristina), João Azevedo / Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes, João Sacôto, José Colaço, Lucinda Aranha, Núcleo de Ponte de Lima da Liga dos Combatentes
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Nota do editor:
Último poste da série 24 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20494: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (16): Augusto Mota (Brasil), António Graça de Abreu, Cristina Silva (filha do Jacinto Cristina), João Azevedo / Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes, João Sacôto, José Colaço, Lucinda Aranha, Núcleo de Ponte de Lima da Liga dos Combatentes
Guiné 61/74 - P20494: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (16): Augusto Mota (Brasil), António Graça de Abreu, Cristina Silva (filha do Jacinto Cristina), João Azevedo / Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes, João Sacôto, José Colaço, Lucinda Aranha, Núcleo de Ponte de Lima da Liga dos Combatentes
1. Mandaram-nos boas festas, por email ou telemóvel, por estes dias, mais os seguintes camaradas e/ou amigos/as, aproveitando também para fazer "prova de vida":
António Graça de Abreu, Cristina Silva (filha do Jacinto Cristina), João Azevedo / Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes, João Sacôto, José Colaço e Lucinda Aranha Antunes.
2. Mensagem do Augusto Mota
[ex-1º cabo, Grupo Material e Segurança Cripto (Bissau, QG/CTIG, 1963/66); viveu em Bissau até 1974, e depois no Brasil, até hoje; natural do Porto, tem a dupla nacionalidade: é o nosso grã-tabanqueiro nº 726, desde 6/9/2016; tem 7 referências no nosso blogue]
Amigos!
Muito tempo se passou desde que contatei vocês. Infelizmente as vicicitudes do dia a dia não têm permitido mais atenção para acompanhar vossa causa. Enfim...
Ainda não é hoje que lhes vou dar notícias mais concretas, mas pelo menos quero desejar-vos UM BOM NATAL e MELHOR ANO NOVO!!!!
Tudo de bom para vocês.
O Núcleo de Ponte de Lima da Liga dos Combatentes, aproveita esta quadra natalícia, para desejar um SANTO NATAL e que NOVO ANO traga saúde e Bem Estar.
A Direcção
Manuel Oliveira Pereira
António Mário Lopes Leitão
Leonardo Costa Gonçalves
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Nota do editor
Último poste da série de 24 de Dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20493: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (15): António Marques Lopes, Cor Art DFA Ref, ex-Alf Mil Art da CART 1690; Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208; José Firmino, ex-Soldado At da CCAÇ 2585; Luís Fonseca, ex-Fur Mil TRMS da CCAV 3366 e Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf
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Guiné 61/74 - P20493: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (15): António Marques Lopes, Cor Art DFA Ref, ex-Alf Mil Art da CART 1690; Domingos Gonçalves, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1546; Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208; José Firmino, ex-Sold At da CCAÇ 2585; Luiz Fonseca, ex-Fur Mil TRMS da CCAV 3366 e Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf
BOAS FESTAS DOS NOSSOS CAMARADAS
1. Mensagem do nosso camarada Ernestino Caniço (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá, Mansoa e Bissau, 1970/71):
Caros amigos
Votos de um Feliz Natal e um ótimo ano 2020, extensivos aos familiares.
Um abraço
Ernestino Caniço
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2. Mensagem do nosso camarada José Firmino (ex-Soldado Atirador da CCAÇ 2585/BCAÇ 2884, Jolmete, 1969/71):
Amigos e camaradas da Tabanca Grande
Para todos vós e respectivas famílias, os meus votos de um Santo Natal e um 2020 cheio de saúde.
José Firmino
CCAÇ 2585
Jolmete
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3. Postal de Boas Festas do nosso camarada António Marques Lopes, Cor Art DFA, na reforma, ex-Alf Mil Art da CART 1690, Geba, e CCAÇ 3, Barro (1967/68):
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4. Postal de Boas Festas do nosso camarada Luiz Fonseca, ex-Fur Mil Trms da CCAV 3366/BCAV 3846, Suzana e Varela, 1971/73.
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5. Mensagem do nosso camarada Mário Migueis da Silva (ex-Fur Mil Rec Inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72):
Prezado amigo:
O tempo é um verdadeiro campeão olímpico - corre que se farta. E, por via disso, fui por ele uma vez mais ultrapassado, perdendo a oportunidade de, por outra via, e em tempo útil, desejar aos editores do blog, e bem assim a todos os nossos camarigos, um Natal Feliz e um Ano Novo que satisfaça plenamente.
Se puderes partilhar um pouquinho desta mensagem com cada um dos restantes editores, Luís Graça incluído (provavelmente os endereços que possa ter, além do teu, já estarão desatualizados), ficava-te grato.
Um grande abraço e sê muito feliz junto dos teus.
Mário Migueis
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6. Mensagem do nosso camarada Domingos Gonçalves, (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1546 / BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68):
Nesta quadra festiva desejo a todos os camaradas que o MENINO JESUS, tão divinal e terno, a todos deixe no sapatinho um bom Natal e um ano de 2020 cheio de coisas boas, em especial saúde, e alegria de viver.
Quanto ao pai natal, esse velhote barrigudo, tenham cuidado com ele, que só espalha ilusões. O mundo venturoso, que parece espalhar, dentro só tem quimeras.
Para todos um abraço de Boas Festas.
Domingos Gonçalves
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Nota do editor
Último poste da série de 23 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20491: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (14): Esperança Natalícia (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux. Enfermeiro da CCAÇ 2381)
Guiné 61/74 - P20492: Parabéns a você (1729): Fernando Jesus Sousa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 6 (Guiné, 1970/71)
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Nota do editor
Último poste da série de 23 de Dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20484: Parabéns a você (1728): Albano Costa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 4150/73 (Guiné, 1973/74); Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS do STM/QG/CTIG (Guiné, 1968/70); Felismina Costa, Amiga Grã-Tabanqueira e José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2679 (Guiné, 1970/71)
Nota do editor
Último poste da série de 23 de Dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20484: Parabéns a você (1728): Albano Costa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 4150/73 (Guiné, 1973/74); Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS do STM/QG/CTIG (Guiné, 1968/70); Felismina Costa, Amiga Grã-Tabanqueira e José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2679 (Guiné, 1970/71)
segunda-feira, 23 de dezembro de 2019
Guiné 61/74 - P20491: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (14): Esperança Natalícia (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux. Enfermeiro da CCAÇ 2381)
1. Mensagem do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70, com data de hoje 23 de Dezembro de 2019:
Esperança Natalícia
Quero agarrar o sonho que me prende à vida,
Me acompanha como uma sombra escondida
Do sol ardente,
Por vezes, forte, nítida, deslumbrante
Outras, ténue nuvem envolvente
Que se perde no espaço, distante.
Sempre presente.
Sonho de toda a gente,
Faz me acreditar que é possível
Tirar o impossível da frente
E fazer do Natal um tempo diferente.
São os meus votos de um Bom Natal e um ano de 2020 feliz, a construir por todos nós, para todos os tabanqueiros e suas famílias.
José Teixeira
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Nota do editor
Último poste da série de 23 de Dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20489: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (13): As luzes que se viam da serra (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo CAR da CART 3493)
Guiné 61/74 - P20490: Notas de leitura (1249): “Dias Sem Nome, Histórias soltas de um médico na guerra da Guiné”, por João Trindade; By the Book, edições especiais, 2019 (1) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Dezembro de 2019:
Queridos amigos,
Enquanto lia estas peças memoriais de João Trindade, inevitavelmente que a memória rodopiou até aos meus médicos de Bambadinca que assistiram os meus doentes civis e militares, o David Payne Pereira e o Joaquim Vidal Saraiva. Nunca se pagará este dívida de gratidão e eles, os profissionais de saúde, também não nos esqueceram.
Já aqui se fez referência às ditosas enfermeiras-paraquedistas que deixaram relatos pungentes, em 2014 aqui se saudou o relato "Senhor médico, nosso alferes", de José Pratas, um soco no estômago, um estilo económico, bem castigado, com sorrisos e lágrimas.
E saúda-se agora este médico que nos vai deixar um relato impressionante da sua passagem por Guidage. Afinal, Salgueiro Maia tem concorrente na descrição apocalítica do que se passou naquele ponto da fronteira, em maio de 1973. Acompanha-se o relato de João Trindade de forma compulsiva, é faceto, não esconde os prazeres da vida, não há vislumbre de farronca em ter feito o bem que fez e é de uma sinceridade que nos comove na tragédia que viveu em Guidage e que o deixou marcado para toda a vida.
Os médicos entram com o pé direito na literatura de guerra, está visto.
Um abraço do
Mário
O médico que presenciou os dias infernais de Guidage (1)
Beja Santos
São inúmeras as referências a profissionais de saúde na literatura de guerra. Deixa-se aqui o desafio a candidatos a mestrados e doutoramentos, trará revelações, nalguns casos bem surpreendentes, trazer à tona médicos, enfermeiras e enfermeiros, maqueiros que acompanharam tão carinhosamente os feridos, que assistiram os moribundos, que fizeram partos, que foram flagelados, emboscados e participantes em cenários infernais.
O relato do médico João Trindade em “Dias Sem Nome, histórias soltas de um médico na guerra da Guiné”, By the Book, edições especiais, 2019, tem uma pitada de tudo, como se suportou Mafra, como se desgostou da Escola do Serviço de Saúde Militar, e quando a vida parecia estar a correr bem, em novembro de 1971, recebe-se um telefonema do Hospital Militar para receber um envelope urgente, a Guiné está à vista.
“Saí de casa com as duas filhas ainda a dormir, despedi-me da Lígia. Saí debaixo de uma chuva miudinha, chata, e de um frio de rachar. Eram cinco e meia da manhã”. Embarca num avião a jato na Base Aérea de Figo Maduro. É uma comissão que começa a 15 de janeiro de 1972 e termina a 9 de dezembro de 1973. É um livro de caráter memorial, com belíssimas fotografias, logo que possa encontrar este médico reformado irei de mão estendida pedir-lhe que autorize a publicação de algumas destas imagens no blogue.
Chega e tem como destino Empada, nas imediações do rio Grande de Buba. Experimenta as primeiras flagelações, e faz um registo de toda a comissão:
“Em Empada estive dez meses e eram pelo menos três ou quatro por mês; na intervenção militar na zona de Guidage, onde estive dezassete dias, eram vários ataques diariamente; e em Cufar, a Sul, na operação em Caboxanque, onde estive um pouco mais de duas semanas, também os sofri por várias vezes”.
Tem muitas histórias para contar, logo o seu primeiro parto, nas condições mais deploráveis:
“Ao entrar, duas sensações me assaltaram: a grata surpresa de ouvir o choro de um recém-nascido e uma náusea e vómito, que consegui reprimir, pelo cheiro quente e fedorento do ambiente. Três máscaras de cirurgia embebidas em álcool disfarçaram o nojo. Calcei luvas e observei o bebé que já merecia os cuidados da velha que o ajudou. Só que a placenta não havia meio de sair. Pedir à parturiente para fazer força e ajudar às nossas massagens no abdómen era inútil. Nem ela tinha já forças nem sequer para gemer, pois estava em trabalho de parto há muitas horas. Decidi fazer o toque, meter a mão, o colo ainda muito aberto permitiu-me entrar na cavidade uterina e, a dedo, ir descolando a placenta. O sangue, o cheiro, o calor intenso, a casa mal iluminada constituíram o cenário tétrico, indescritível e tremendamente difícil que tive de viver durante largos períodos”.
Não esqueceu o muito peixe que comeu em Empada, aliás, foi à pesca numa lancha de fiscalização pequena, arrependeu-se da temeridade.
Dá-nos conta do seu trabalho em Empada, não conseguiu esquecer a burocracia da Delegacia de Saúde, tudo a carimbar, como mandava a lei. Presta por vezes serviço a Aldeia Formosa, foi lá três vezes, pelo menos. “Era em Aldeia Formosa que eu passava, de quando em vez, quinze dias que me sabiam a férias. Ataques, raríssimos; comunicações, fáceis”. Relata um novo parto, também com algumas peripécias. É em Aldeia Formosa que recebe uma prenda inesquecível. Cherno Rachide, uma verdadeira entidade espiritual do islamismo na Guiné, ofereceu-lhe um Corão escrito pela sua mão a tinta de ouro.
Após todos aqueles meses em Empada, é transferido para Bissau, vai para o Hospital Militar. Mas há um acontecimento inesperado, o avião em vez de o deixar em Bissau, aterra em Cufar, então ocupada por centenas e centenas de militares, o cenário lembrou-lhe o filme Apocalypse Now, acontece que ele tinha sido destacado para dar apoio médico durante a operação do Cantanhez, a “Grande Empresa”. Vai fazendo voos para as diferentes posições que estão a ser ocupadas pelas forças portuguesas.
Passa o Natal no mato. No dia 31 de dezembro recebe ordem para regressar a Bissau. Desdobram-se as peripécias, tem trabalho em Bubaque.
“Durante a minha comissão estive por duas vezes em Bubaque. Não de férias, mas antes cumprindo uma missão que cabia, semanalmente e por escala, a cada um dos médicos militares sediados em Bissau. Partia-se a meio da manhã e aterrávamos numa pista rasgada na mata, de bom piso e bem cuidada. Alguém nos vinha buscar e íamos cumprimentar o administrador no seu local de trabalho. Feita a conversa, ia ao posto médico onde um enfermeiro dava conta dos doentes inscritos. Fazia-se a consulta sempre com a tradução de alguém porque a etnia dominante era o Bijagó, uma fala muito rápida e com sons esquisitos, gente que pouco ou nada entendia de português”.
O melhor vinha depois, o bom peixe e o marisco, com regresso a Bissau de avioneta. Trabalhava igualmente no Hospital Civil em Bissau.
“Ao nosso serviço tínhamos um empregado a quem devotávamos todo o carinho porque cuidava do nosso bem-estar, da limpeza das instalações e das nossas refeições. Permanecia por ali desde manhã cedo até perto das dez horas da noite. Falava bem o português. Tinha apenas uma dificuldade que era pronunciar o nome das especialidades médicas. Resolveu-a usando uma fórmula curiosa que todos nós percebíamos e adotámos. Ao ortopedista chamava dótou di osso, ao oftalmologista, dotou di olhio, ao dermatologista, dótou di peli, e assim por diante.
- Pergunta lá a este gajo do que é que ele se queixa, o que é que tem, se lhe dói alguma coisa…
Ele ouvia o paciente e traduzia-nos. Mas antes tinha sempre o cuidado de, baseado no seu diagnóstico, feito de longa experiência, adiantar a orientação.
- Esti é para o nosso dótou di barriga, está com diarrêa desdi muitos dias.
Raramente se enganava na especialidade indicada para a patologia do doente. Mas certo dia aconteceu, e acho que não foi só comigo, que chegou um homem magro, muito ativo, como quem vem a protestar, sem aparente queixa, que falava, falava, falava e ninguém o calava nem entendia. Chamámos o João. Ele ouviu o homem durante um, dois, três, cinco minutos, e eu, já com pouca paciência e com mais que fazer, interrompi o discurso.
- João, diz lá o que é que o homem está para aí a dizer há meia hora, porra!
E o João mandou calar o tipo e disse-me com ar paciente.
- Dótou, o gajo té agora só falou, não dissi nada!”
(continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 20 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20474: Notas de leitura (1248): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (37) (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P20489: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (13): As luzes que se viam da serra (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo CAR da CART 3493)
Com a devida vénia a Biblioteca Municipal de Penela
1. Mensagem do nosso camarada António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493/BART 3873, Mansambo, Fá Mandinga e Bissau, 1972/74) com data de 23 de Dezembro de 2019:
As luzes que se viam da serra
Naquele dia, manhã cedo, o Pedro deixou a aldeia e guiou o rebanho até à serra, como fazia todos os dias, quando lá chegou estava muito frio, o sol ainda se não via, olhou em direção à vila sede do concelho e estranhamente viu muitas luzes, eram brancas, azuis, amarelas, verdes, um sem fim de cores. Depois de muito pensar o que seria que por lá estaria a acontecer, respirou fundo e disse para consigo - "Com tantas luzes e de tantas cores, só pode ser feira!" - E logo imaginou que não faltariam por lá os carrosséis, os carrinhos de choque, o circo, a barraca das farturas e tantas coisas bonitas que raramente podia ver. Nesse mesmo instante decidiu. Na amanhã do dia seguinte depois de levar as ovelhas a pastar à serra, também ele havia de ir à feira.
E assim fez, no dia seguinte chegou a casa “arranjou-se” e pôs-se a caminho, por veredas e atalhos depressa chegou à vila, as luzes cada vez lhe pareciam mais, mas não encontrava o largo da feira continuou procurando só que depois da caminhada que fizera e de tanto procurar começava a sentir algum cansaço. Aquilo que imaginara ir ver não encontrava. Apenas via muitas pessoas numa correria louca, carregadas de sacos de plástico e de vários embrulhos, e a feira ele não encontrava.
Aproximou-se duma velhinha e perguntou:
- "Senhora pode informar-me onde fica o local da feira?"
A velhinha sorriu e disse:
- "Olha menino, de facto parece uma feira mas não é! Começa hoje a época de Natal aqui na vila e a Câmara Municipal mandou iluminar as ruas para ficarem mais bonitas e para que mais gente venha até cá, e assim, os comerciantes possam fazer mais negócio".
O Pedro agradeceu à velhinha a informação prestada, cansado, triste, e desiludido voltou à sua aldeia. Era tempo de Natal, mas apesar de muito ter caminhado, coisas que lhe fizessem lembrar essa época ele não encontrara. O Presépio como sempre havia na sua aldeia ou a pequena árvore de natal não vira em nenhum lado. Desejava contar à mãe, viúva há já alguns anos a desilusão que tinha sido a sua ida à vila. Mas também não pôde porque ela se encontrava doente, internada no hospital de uma cidade distante. No regresso a casa pensou. Como é lindo o Natal na minha aldeia! Onde o menino Jesus é o centro da festa, e as crianças, mesmo as que não recebem prendas, conseguem ser felizes.
António Eduardo Ferreira
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Nota do editor
Último poste da série de 23 de Dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20486: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (12): Associação Afectos com Letras, ONGD
Guiné 61/74 - P20488: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (35): Canção de Natal
1. Mensagem do nosso camarada José Câmara (ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327
e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto,
1971/73), com data de 23 de Dezembro de 2019:
Caros amigos e camaradas d’Armas,
Para nós, sobretudo os que cumpriram a sua comissão de serviço militar no Ultramar, a quadra de Natal traz-nos recordações mil. As saudades das famílias dispersas pelas aldeias de Portugal, pelos confins da Califórnia e terras frias do Canadá, pela França, a dor da partida prematura de um camarada-de-armas, a desilusão da carta que não chegou. Tudo isso contrastava com a alegria daquele “Querido filho que ao fazer esta que te encontres de saúde…" ou o encher dos pulmões com aquele “Recebe um beijo desta que te ama...”, ou ainda aquele “Abraço apertado da tua madrinha de guerra...”, de um rancho nem sempre melhorado mas muito bem molhado, do contar dos dias para o fim da comissão, da alegria do companheirismo no seio uma família diferente, grande lição de vida.
Recordar tudo isso e muito mais é legítimo. Faz parte das nossas vidas, das muitas lições que nos ajudaram a crescer como homens. Mas o Natal é muito mais que recordações. O Menino Jesus vai nascer, Senhor da Vida, da Esperança, do Amor. Que o Seu exemplo continue a produzir frutos, bons frutos. Saibamos segui-Lo na produção, Hoje e sempre, porque o Natal não é de um dia, mas de todos os dias, de uma Vida que é a nossa. Cheia de surpresas. Que vale a pena viver e partilhar.
Pela manhã, sempre que a vida me permite, debruço-me nesta janela da internet. Recebo os bons dias dos amigos. Do JERO, do Juvenal, do Valério, do Magalhães, do Briote, do Fontinha, do Picado, do Carlos Silva, do JD, do meu mano Carlos Vinhal e de muitos outros. O Miguel sabe que eu gosto de ler as notícias da minha terra mãe e não falta com elas. Confesso que sinto a falta do Jorge, do Faria, do Rebola e de mais uns quantos que da lei da morte se libertaram. Dou um passeio pela Tabanca, que desentorpecer as pernas também faz bem.
Foi num daqueles debruçares matinais que senti uma pancada no peito, uma enorme surpresa. Onde se podia ler: - “Ainda vives em Stoughton? É que no próximo dia 20 vou a Dartmouth MA, e lembrei-me que, se entretanto não te tiveres mudado para a Flórida ou coisa semelhante, eu podia dar aí um salto para nos conhecermos pessoalmente. Se bem que quase te conheço já, graças ao blogue “Luís Graça e Camaradas da Guiné" onde te encontrei, especialmente no post 13528, de 23 de Agosto de 2014).
As tuas palavras - "Concordo que a Guiné nos pregou ao corpo e as recordações, umas bem melhores que outras, trazem-nos emoções que só quem por lá andou compreende a sua extensão. Não sinto nostalgia daqueles tempos, mas tenho saudades da minha juventude de então, dos muitos amigos que criei. Conservo boas recordações daquelas gentes, sobretudo das crianças de olhos esbugalhados e sorridentes, dos meus soldados africanos." - fazem-me crer que temos muito em comum. Faz bem lembrar, partilhar…
Se me permitem, num abraço amigo, os meus votos para que tenhais Festas Felizes e Bons Anos no seio dos vossos familiares e amigos."
Caros amigos, dias depois, o João Crisóstomo e a esposa entravam com esta simplicidade na minha humilde casa, em Raynham. Eu e a minha esposa demos-lhes o melhor tínhamos para eles, um abraço sincero de respeito, amizade e agradecimento. E, claro, um café e uns doces, que aquele simpático não nos permitiu mais e melhor. E duas horas de um bom e são convívio e camaradagem. Deixámos sair a alma.
Enquanto as senhoras se embrenharam nas suas conversas, o João deu-me a conhecer parte da sua obra. Timor e as suas gentes, sobretudo as crianças, é um dos seus grandes amores. Confesso que ao seu lado me senti muito pequeno, tal a sua força de vontade, da sua franqueza, do tamanho do seu coração no bem querer fazer.
Sim, João, valeu a pena recebido a vossa visita. Que Deus abençoe na vossa obra e a vossa vida.
Sim, o Menino Jesus também tem destes presentes. Depositado que foi numa árvore de Natal, um poilão, na Tabanca Grande.
O Natal é uma canção. Sim, eu continuo criança e acredito que o Menino Jesus nasce todos os dias.
Festas Felizes e Bons Anos para vós e vossos familiares.
Bem hajam.
José Câmara
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Nota do editor
Último poste da série de 5 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17024: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (34): Correspondência do Ultramar: Ressurreição nas Matas da Guiné
Caros amigos e camaradas d’Armas,
Para nós, sobretudo os que cumpriram a sua comissão de serviço militar no Ultramar, a quadra de Natal traz-nos recordações mil. As saudades das famílias dispersas pelas aldeias de Portugal, pelos confins da Califórnia e terras frias do Canadá, pela França, a dor da partida prematura de um camarada-de-armas, a desilusão da carta que não chegou. Tudo isso contrastava com a alegria daquele “Querido filho que ao fazer esta que te encontres de saúde…" ou o encher dos pulmões com aquele “Recebe um beijo desta que te ama...”, ou ainda aquele “Abraço apertado da tua madrinha de guerra...”, de um rancho nem sempre melhorado mas muito bem molhado, do contar dos dias para o fim da comissão, da alegria do companheirismo no seio uma família diferente, grande lição de vida.
Recordar tudo isso e muito mais é legítimo. Faz parte das nossas vidas, das muitas lições que nos ajudaram a crescer como homens. Mas o Natal é muito mais que recordações. O Menino Jesus vai nascer, Senhor da Vida, da Esperança, do Amor. Que o Seu exemplo continue a produzir frutos, bons frutos. Saibamos segui-Lo na produção, Hoje e sempre, porque o Natal não é de um dia, mas de todos os dias, de uma Vida que é a nossa. Cheia de surpresas. Que vale a pena viver e partilhar.
Pela manhã, sempre que a vida me permite, debruço-me nesta janela da internet. Recebo os bons dias dos amigos. Do JERO, do Juvenal, do Valério, do Magalhães, do Briote, do Fontinha, do Picado, do Carlos Silva, do JD, do meu mano Carlos Vinhal e de muitos outros. O Miguel sabe que eu gosto de ler as notícias da minha terra mãe e não falta com elas. Confesso que sinto a falta do Jorge, do Faria, do Rebola e de mais uns quantos que da lei da morte se libertaram. Dou um passeio pela Tabanca, que desentorpecer as pernas também faz bem.
Foi num daqueles debruçares matinais que senti uma pancada no peito, uma enorme surpresa. Onde se podia ler: - “Ainda vives em Stoughton? É que no próximo dia 20 vou a Dartmouth MA, e lembrei-me que, se entretanto não te tiveres mudado para a Flórida ou coisa semelhante, eu podia dar aí um salto para nos conhecermos pessoalmente. Se bem que quase te conheço já, graças ao blogue “Luís Graça e Camaradas da Guiné" onde te encontrei, especialmente no post 13528, de 23 de Agosto de 2014).
As tuas palavras - "Concordo que a Guiné nos pregou ao corpo e as recordações, umas bem melhores que outras, trazem-nos emoções que só quem por lá andou compreende a sua extensão. Não sinto nostalgia daqueles tempos, mas tenho saudades da minha juventude de então, dos muitos amigos que criei. Conservo boas recordações daquelas gentes, sobretudo das crianças de olhos esbugalhados e sorridentes, dos meus soldados africanos." - fazem-me crer que temos muito em comum. Faz bem lembrar, partilhar…
Se me permitem, num abraço amigo, os meus votos para que tenhais Festas Felizes e Bons Anos no seio dos vossos familiares e amigos."
João Crisóstomo (na esquerda) e eu na minha casa em Raynham, Massachusetts.
Caros amigos, dias depois, o João Crisóstomo e a esposa entravam com esta simplicidade na minha humilde casa, em Raynham. Eu e a minha esposa demos-lhes o melhor tínhamos para eles, um abraço sincero de respeito, amizade e agradecimento. E, claro, um café e uns doces, que aquele simpático não nos permitiu mais e melhor. E duas horas de um bom e são convívio e camaradagem. Deixámos sair a alma.
Enquanto as senhoras se embrenharam nas suas conversas, o João deu-me a conhecer parte da sua obra. Timor e as suas gentes, sobretudo as crianças, é um dos seus grandes amores. Confesso que ao seu lado me senti muito pequeno, tal a sua força de vontade, da sua franqueza, do tamanho do seu coração no bem querer fazer.
Sim, João, valeu a pena recebido a vossa visita. Que Deus abençoe na vossa obra e a vossa vida.
Sim, o Menino Jesus também tem destes presentes. Depositado que foi numa árvore de Natal, um poilão, na Tabanca Grande.
O Natal é uma canção. Sim, eu continuo criança e acredito que o Menino Jesus nasce todos os dias.
Festas Felizes e Bons Anos para vós e vossos familiares.
Bem hajam.
José Câmara
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Nota do editor
Último poste da série de 5 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17024: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (34): Correspondência do Ultramar: Ressurreição nas Matas da Guiné
Guiné 61/74 - P20487: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004 (15): O meu último Natal, 1966, em Bissau, no QG/CTIG (Virgínio Briote)
Não havia azevinho (Ilex aquifolium) na Guiné nem presépio nem reis magos mas, mesmo assim, não deixou de houve Natal, em 1966, ou pelo menos ceia de Natal no QG, em Santa Luzia, ao tempo do gen Schulz... Não faltaram o bacalhau, os doces e sobretudo o álcool, muito álcool. A um mês de regressar a casa, o alf mil 'ccmd', da CCmds da Guiné, Virgíbio Briote, conta como foi.
Foto (e legend): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. O Virgínio Briote, nosso coeditor jubilado, contribuiu também em muito para o sucesso do arranque e desenvolvimento do nosso blogue nos primeiros anos...
Estamos a chegar ao fim do ano de 2019, estamos a blogar há mais de 15 anos (*) e as estatísticas do nosso blogue falam por si: temos mais de 11,6 milhões de visualizações de página; cerca de 20500 postes publicados: 150 mil comentários; 801 membros da Tabanca Grande (eram 111 em junho de 2006), de todos os continentes, exceto da Antártida (, em contrapartida temos um legítimo representante do círculo polar ártico, um luso-lapão)...
Para não falar de um enorme acervo documental, a começar pelas fotografias, mas também textos em prosa e em verso... Sem esquecer as dezenas de livros que os grã-tabanqueiros já publicaram, com origem em colaborações no blogue, do A. Marques Lopes ao Zé Saúde...
Parte destes resultados são também devidos ao prestígio, ao talento e ao trabalho do Virgínio Briote, que frequentou a Academia Militar mas não seguiu a carreira das armas, foi quadro superior na indústria farmacêutica; antes disso, fez uma comissão na Guiné como alf mil, CCAV 489 (jan/mai 1965, Cuntima) , e alf mil 'comando', cmdt Grupo Diabólicos, Brá ; set 1965/ set 1966).
Sempre admirei a sua escrita, de primeira água, e hoje vou repescar um texto antigo,sobre o seu Natal de 1966, o seu último Natal na Guiné (**)... Aliás, o Natal do seu "alter ego", o Gil Duarte... A maior parte dos membros da Tabanca Grande nunca leu este texto nem outros do Virgínio Briote: é um dos nossos primeiros postes, o poste P366, de 18 de dezembro de 2005 (**)
Sempre admirei a sua escrita, de primeira água, e hoje vou repescar um texto antigo,sobre o seu Natal de 1966, o seu último Natal na Guiné (**)... Aliás, o Natal do seu "alter ego", o Gil Duarte... A maior parte dos membros da Tabanca Grande nunca leu este texto nem outros do Virgínio Briote: é um dos nossos primeiros postes, o poste P366, de 18 de dezembro de 2005 (**)
Gil Duarte, comando do CTIG, é um "alter ego" do Virgímio Briote... Teresa, jovem estudante, 19 anos, de origem cabo-verdiana, não esconde a sua atração por Gil (e vice versa), mas também não esconde as suas simpatias pelo PAIGC, de que o pai, a trabalhar na Casa Gouveia, quer-se tornar militante... Estamos em Bissau, em meados da década de 60. Vasco e Benilde são os pais de Teresa (Tesa, na intimidade). Vieram da Praia.
(...) "Durante os primeiros anos do nosso blogue, o Virgínio Briote foi um membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia, como então lhe chamávamos), fidelíssimo, dedicado, empenhado, ativo, produtivo, ao mesmo tempo que ia produzindo e publicando textos, pessoalíssimos, belíssimos, no seu blogue 'Tantas Vidas': as dele, as do Gil Duarte, as da Teresa, sempre a Teresa, as do Capitão Valentim, as do Capitão Leão, as de uma geração inteira, de homens e mulheres, que amaram e desamaram, viveram e morreram, lutaram e perderam, a Dora, a Clara, a Matilde, o Leonel, o Manaças, o Marcolino da Mata e tantos outros, figuras de carne e osso que povoaram Brá, Bissau, Mansoa, o norte, o sul, o leste, as bolanhas, as picadas, as matas da Guiné... Foi o retrato de uma geração que ele construiu , como um puzzle, a partir da sua experiência, como comando e como homem, no TO da Guiné, nos anos de 1965/67" (Luís Graça, Poste P13194, de 26 de maio de 2014)
É uma pena que o nosso camarada tenha desistido de publicar, em livro, os seus escritos da Guiné, constantes do seu blogue "Tantas Vidas" que, entretanto, ele decidiu descontinuar e acabou por encerrar. Valha-nos, ao menos, o nosso blogue onde republicou a grande maioria dos seus escritos do "Tantas Vidas", e outros, até então inéditos.
Veja-se também a série do blogue "O Meu Natal no Mato" (que tem 70 referências).
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NATAL DE 1966
por Virgínio Briote
Uma eternidade aquele mês de Dezembro, nunca mais acabava.
Arrumações no quarto, ordem na papelada, cópias dos relatórios das operações, as centenas de fotos. Estas são para rasgar, isto onde foi, quem é este gajo, apontamentos ao lado, nomes dos camaradas atrás, e depois disto, para onde fui? Anotava o que se lembrava, folhas e folhas, dois anos quase, ali à sua frente, parecia um romance.
O aroma dela nas cartas, falta pouco, um mês só, não vou a Lisboa esperar-te, mas quando puseres os pés em terra, pensa em mim. E uma folha toda em branco, enorme, com tanto espaço para responder, sem ideias, nem sabia como começar.
Quero estar contigo, só contigo, sem mais ninguém por perto. Uma frase só numa carta. Não tenho mais para dizer, nem sei o que devo escrever.
O sono leve, intermitente, e as malas, o que vou levar? Uma chega, leva tudo. Já pensaste no que vais levar, o que é que vai contigo? Os livros, todos, uma muda de roupa civil, as coisas do quarto de banho. Os sapatos civis e militares, o camuflado, tudo no saco da tropa. Levaria vestida a farda amarela, a que envergara aquele tempo todo, as botas de cabedal e a boina. O resto fica tudo.
O despertar súbito, outra vez muito acordado, uma sensação de medo a aparecer, a tomar conta dele, uma vontade irreprimível de fugir, os pés fora da cama, o que vou fazer, para onde, a tremer como se estivesse com febre. No quarto de banho, frente ao espelho, este sou eu com as mãos na cara, isto vai passar, só falta um mês.
Tinha que ser, numa daquelas tardes entrou no cemitério. Foi directo à campa do Silva. As diligências que fizeram, até o dinheiro que receberam pelas armas que capturaram, reverteu todo para as urnas de chumbo, para as trasladações dos corpos dos camaradas mortos. Tantos trabalhos que ele e o capitão Leão tinham feito e o Silva ainda aqui está, à minha frente.
António Maria Alves da Silva. Nasceu em 17 de Janeiro de 1942. Faleceu em 6 de Março de 1966. Sem flores, sem nada.
A menina Teresa? É noutro lado. Lá em baixo, aquela do meio, sim, à beira daquela palmeira. Uma tampa de mármore. “A saudade dos teus Pais e Amigos. Maria Teresa Campos Correia. Nasceu na Praia em 27 de Maio de 1947. Faleceu em Bissau em 23 de Outubro de 1966. Paz à sua alma”. Um jarro simples com flores frescas.
A guerra via-a de muito longe, como se fosse um assunto que já não lhe dizia respeito. Mas mesmo assim, às vezes não podia esquivar-se aos relatos dos recém-chegados do mato.
A nova companhia de comandos andava por Tite. Raramente saíam com efectivos inferiores a dois grupos. Entretanto chegara outra companhia, de um jovem capitão, um tipo simpático. Então como é isto aqui, fresco, não? As zonas da guerrilha são todas iguais ou há diferenças? Antes que me esqueça, cumprimentos do Manilha, quando chegar a Lisboa contacte-o.
Praticamente inexpugnável o Sul, as NT confinadas aos aquartelamentos. Madina do Boé, um inferno, o Diem-Biem-Phu dos portugueses, o capitão de lá a dizer que só viviam dentro dos abrigos, cavados no solo, suportados por troncos e enchidos com cimento em barda. Passavam os dias a verem a vida em frente por entre os buracos. Abastecidos do ar, os aviões faziam malabarismos para não serem atingidos. Madina vai ser o primeiro aquartelamento a ser tomado pelo PAIGC, era um assunto arrumado, ouvia-se em muitas bocas.
Um Allouette mergulhou numa bolanha, na zona de Tite, não se sabia se fora atingido ou se fora um acidente. Foi montada uma autêntica batalha, daquelas que se veem nos filmes. Fuzileiros e comandos a protegerem o heli, sob fogo cerrado. O coronel da base aérea, ele próprio a pilotar um Dakota teve que se impor para meter os páras dentro do avião. Largou-os na zona da batalha, os pára-quedas abriram-se e toda a gente parou o fogo, não acreditas, Gil?
Um mecânico francês que estava em Bissau a fazer a manutenção dos helis foi transportado para o local com o equipamento todo para ver se conseguia tirar o aparelho das águas da bolanha. E não é que conseguiu, pá?
O norte em brasa, Barro, Bigene, Guidage, o Oio nem se fala, o leste ainda assim-assim!
Natal à porta, as montras de Bissau mudaram a cara, muitos militares nas ruas a entrarem e a saírem das lojas. Devia estar a fazer um ano andava por Barro e Bigene, foi um fim de ano diferente.
No QG [, em Santa Luzia,] organizaram uma ceia de natal como devia ser, bacalhau e os doces todos. Estava lá toda a oficialada superior, Brigadeiro incluído.
Beberam todos muito bem, alguns demais, como acontece sempre. Depois, ao ar livre, viram um filme italiano, com o Gianni Morandi, um cantor novo que estava na moda, a fazer o papel principal dentro da farda de um soldado, o que é que havia de ser?
(***) Vd. postes de:
30 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11507: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (11): Teresa, amores e desamores em tempo de guerra (Parte II) (Virgínio Briote, ex-alf mil, comando, Brá, 1965/67)
Veja-se também a série do blogue "O Meu Natal no Mato" (que tem 70 referências).
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NATAL DE 1966
por Virgínio Briote
Uma eternidade aquele mês de Dezembro, nunca mais acabava.
Arrumações no quarto, ordem na papelada, cópias dos relatórios das operações, as centenas de fotos. Estas são para rasgar, isto onde foi, quem é este gajo, apontamentos ao lado, nomes dos camaradas atrás, e depois disto, para onde fui? Anotava o que se lembrava, folhas e folhas, dois anos quase, ali à sua frente, parecia um romance.
O aroma dela nas cartas, falta pouco, um mês só, não vou a Lisboa esperar-te, mas quando puseres os pés em terra, pensa em mim. E uma folha toda em branco, enorme, com tanto espaço para responder, sem ideias, nem sabia como começar.
Quero estar contigo, só contigo, sem mais ninguém por perto. Uma frase só numa carta. Não tenho mais para dizer, nem sei o que devo escrever.
O sono leve, intermitente, e as malas, o que vou levar? Uma chega, leva tudo. Já pensaste no que vais levar, o que é que vai contigo? Os livros, todos, uma muda de roupa civil, as coisas do quarto de banho. Os sapatos civis e militares, o camuflado, tudo no saco da tropa. Levaria vestida a farda amarela, a que envergara aquele tempo todo, as botas de cabedal e a boina. O resto fica tudo.
O despertar súbito, outra vez muito acordado, uma sensação de medo a aparecer, a tomar conta dele, uma vontade irreprimível de fugir, os pés fora da cama, o que vou fazer, para onde, a tremer como se estivesse com febre. No quarto de banho, frente ao espelho, este sou eu com as mãos na cara, isto vai passar, só falta um mês.
Tinha que ser, numa daquelas tardes entrou no cemitério. Foi directo à campa do Silva. As diligências que fizeram, até o dinheiro que receberam pelas armas que capturaram, reverteu todo para as urnas de chumbo, para as trasladações dos corpos dos camaradas mortos. Tantos trabalhos que ele e o capitão Leão tinham feito e o Silva ainda aqui está, à minha frente.
António Maria Alves da Silva. Nasceu em 17 de Janeiro de 1942. Faleceu em 6 de Março de 1966. Sem flores, sem nada.
A menina Teresa? É noutro lado. Lá em baixo, aquela do meio, sim, à beira daquela palmeira. Uma tampa de mármore. “A saudade dos teus Pais e Amigos. Maria Teresa Campos Correia. Nasceu na Praia em 27 de Maio de 1947. Faleceu em Bissau em 23 de Outubro de 1966. Paz à sua alma”. Um jarro simples com flores frescas.
A guerra via-a de muito longe, como se fosse um assunto que já não lhe dizia respeito. Mas mesmo assim, às vezes não podia esquivar-se aos relatos dos recém-chegados do mato.
A nova companhia de comandos andava por Tite. Raramente saíam com efectivos inferiores a dois grupos. Entretanto chegara outra companhia, de um jovem capitão, um tipo simpático. Então como é isto aqui, fresco, não? As zonas da guerrilha são todas iguais ou há diferenças? Antes que me esqueça, cumprimentos do Manilha, quando chegar a Lisboa contacte-o.
Praticamente inexpugnável o Sul, as NT confinadas aos aquartelamentos. Madina do Boé, um inferno, o Diem-Biem-Phu dos portugueses, o capitão de lá a dizer que só viviam dentro dos abrigos, cavados no solo, suportados por troncos e enchidos com cimento em barda. Passavam os dias a verem a vida em frente por entre os buracos. Abastecidos do ar, os aviões faziam malabarismos para não serem atingidos. Madina vai ser o primeiro aquartelamento a ser tomado pelo PAIGC, era um assunto arrumado, ouvia-se em muitas bocas.
Um Allouette mergulhou numa bolanha, na zona de Tite, não se sabia se fora atingido ou se fora um acidente. Foi montada uma autêntica batalha, daquelas que se veem nos filmes. Fuzileiros e comandos a protegerem o heli, sob fogo cerrado. O coronel da base aérea, ele próprio a pilotar um Dakota teve que se impor para meter os páras dentro do avião. Largou-os na zona da batalha, os pára-quedas abriram-se e toda a gente parou o fogo, não acreditas, Gil?
Um mecânico francês que estava em Bissau a fazer a manutenção dos helis foi transportado para o local com o equipamento todo para ver se conseguia tirar o aparelho das águas da bolanha. E não é que conseguiu, pá?
O norte em brasa, Barro, Bigene, Guidage, o Oio nem se fala, o leste ainda assim-assim!
Natal à porta, as montras de Bissau mudaram a cara, muitos militares nas ruas a entrarem e a saírem das lojas. Devia estar a fazer um ano andava por Barro e Bigene, foi um fim de ano diferente.
No QG [, em Santa Luzia,] organizaram uma ceia de natal como devia ser, bacalhau e os doces todos. Estava lá toda a oficialada superior, Brigadeiro incluído.
Beberam todos muito bem, alguns demais, como acontece sempre. Depois, ao ar livre, viram um filme italiano, com o Gianni Morandi, um cantor novo que estava na moda, a fazer o papel principal dentro da farda de um soldado, o que é que havia de ser?
Um apaixonado, aquele Morandi, tirava canções atrás de canções. Tantas que a maralha lá de trás, entusiasmada, começou a acompanhar a música, primeiro muito baixo, depois já se sabe como é, outros entusiastas também, até o Morandi se virou para eles, a cantar de lágrimas nos olhos. Uns alferes de merda, uns comunistóides, que é para isso que agora servem as universidades, dizia um major do cága-e-tosse voltado lá para trás!
No outro dia, corria pelas mesas da messe uma história meio esquisita. Lá para as tantas, um noctívago quando ia a entrar para o quarto, ouviu música de samba a vir da porta entreaberta de uma das vivendas. Quis dançar também, empurrou a porta e fechou-a logo. Deve ter visto mal, uns gajos todos nus a dançarem encostados uns aos outros, pode lá ser?
Se calhar o líquido que tinha nos olhos era álcool! Mas eu vi, o fulano encostado ao sicrano, o beltrano amarrado ao… Estás a ver, nem te lembras dos nomes dos gajos!
(*) Último poste da série > 20 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20160: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004 (14): continuando a falar de..."futebol, elites e nacionalismo"
(**) Vd. poste de 18 de dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - P366: O meu Natal de 1966 no QG, em Bissau (Virgínio Briote)
No outro dia, corria pelas mesas da messe uma história meio esquisita. Lá para as tantas, um noctívago quando ia a entrar para o quarto, ouviu música de samba a vir da porta entreaberta de uma das vivendas. Quis dançar também, empurrou a porta e fechou-a logo. Deve ter visto mal, uns gajos todos nus a dançarem encostados uns aos outros, pode lá ser?
Se calhar o líquido que tinha nos olhos era álcool! Mas eu vi, o fulano encostado ao sicrano, o beltrano amarrado ao… Estás a ver, nem te lembras dos nomes dos gajos!
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 20 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20160: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004 (14): continuando a falar de..."futebol, elites e nacionalismo"
(**) Vd. poste de 18 de dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - P366: O meu Natal de 1966 no QG, em Bissau (Virgínio Briote)
30 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11507: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (11): Teresa, amores e desamores em tempo de guerra (Parte II) (Virgínio Briote, ex-alf mil, comando, Brá, 1965/67)
Guiné 61/74 - P20486: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (12): Associação Afectos com Letras, ONGD
Sem a vossa solidariedade e o vosso apoio o nosso trabalho não seria possível.
Cliquem por favor aqui para ouvir a mensagem das crianças especialmente para cada um de vós.
Que o ano de 2020 vos chegue repleto de Afectos
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Associação Afectos com Letras, ONGD
Rua Engº Guilherme Santos, 2
Escoural , 3100-336 Pombal
NIF 509301878
tel - 91 87 86 792
venha estar connosco no www.facebook.com/afectoscomletras
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Nota do editor:
Último poste da série > 23 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20485: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (11): Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1971/74)
Guiné 61/74 - P20485: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (11): Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1971/74)
NATAL 2019
Mensagem de Boas Festas para todos os antigos combatentes, em especial para o pessoal da CART 3494.
Faz 48 anos (Dezembro 1971/2019) que o BART 3873 (Bambadinca, 1971/74), composto pela CCS, e pelas CART 3492, 3493, 3494, bem como uma companhia independente, a CART 3521, celebraram a consoada em Alto-Mar, a bordo do N/M NIASSA, a caminho da Guiné.
Foi numa comissão ao serviço do Estado Português que se prolongou durante 27 meses e alguns dias. O regresso aconteceu a 3 de Abril de 1974.
Sousa de Castro
PS - Aproveito para lembrar que o 35º encontro do pessoal da CART 3494 é em Montemor-o-Velho, em 6/6/2020, estando a organização a cargo do ex-fur mil Bonito. Contactos: telef 233 920 441 / telem 963 529 764
Nota do editor:
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Nota do editor:
Último poste da série > 22 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20483: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (10): J. C. Mussá Biai, "menino do Xime" em 1970, engenheiro florestal, a trabalhar hoje na Direção-Geral do Território, em Lisboa
Guiné 61/74 - P20484: Parabéns a você (1728): Albano Costa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 4150/73 (Guiné, 1973/74); Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS do STM/QG/CTIG (Guiné, 1968/70); Felismina Costa, Amiga Grã-Tabanqueira e José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2679 (Guiné, 1970/71)
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Nota do editor
Último poste da série de 22 de Dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20479: Parabéns a você (1727): Miguel Vareta, ex-Fur Mil Comando da 38.ª CComandos (Guiné, 1972/74)
domingo, 22 de dezembro de 2019
Guiné 61/74 - P20483: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (10): J. C. Mussá Biai, "menino do Xime" em 1970, engenheiro florestal, a trabalhar hoje na Direção-Geral do Território, em Lisboa
Cartão de boas festas do José Carlos Mussá Biai, que trabalha na Direção Geral do Território, e que, desta maneira, faz também a sua "prova de vida" perante a Tabanca Grande. Tem mais de 30 referências no nosso blogue. Foi dos primeiros a dar a cara no nosso blogue, em 10/5/2005.
Caro Amigo Luís Graça,
Mais um ano que está a findar, os meus votos de Festas Felizes, Um Bom Natal e um excelente Ano de 2020.
Um abraço,
José C. Mussá Biai
Nota do editor:
Último poste da série > 22 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20481: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (9): Cor art ref Morais da Silva, ex-cmtd da CCAÇ 2796 (Gadamael, 1970/72)
Último poste da série > 22 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20481: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (9): Cor art ref Morais da Silva, ex-cmtd da CCAÇ 2796 (Gadamael, 1970/72)
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