domingo, 23 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2678: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Coutinho e Lima (2): A dolorosa decisão da retirada de Guileje









Guiné-Bissau > Região de Tombali > Antigo aquartelamento de Guileje > Simpósio Internacional de Guileje > Visita ao sul > 1 de Março de 2008 > Dia de homenagem da população de Guileje ao "grande homem que nos salvou"... Um homem e a sua solidão: Coutinho e Lima... Três homens de Guileje: por ordem de antiguidade, Nuno Rubim Abílio Delgado e Coutinho e Lima... Um beijo de reconhecimento, homenagem e gratidão de um feminista guineense, a viver no Brasil, a Prof Doutora Fernanda de Barros, participante do Simpósio e nossa amável companheira de uma semana inesquecível.... 




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Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008) Continuação da comunicação do Cor Art Coutinho e Lima sobre a sua decisão de retirar Guileje, em 22 de Maio de 1973 (1):


5. Situação encontrada em GUILEJE

Após 3 dias e 2 noites de ausência, quando cheguei a GUILEJE, pelas 18.00 horas de 21 MAI, a situação que encontrei foi a seguinte:

- destruição total do Centro de Comunicações, incluindo todas as antenas, o que impedia o estabelecimento de ligação rádio com qualquer entidade;

- na flagelação dessa tarde , as NT tinham tido um morto (Furriel); o graduado fora atingido por uma granada, dentro de um abrigo de fraca protecção;

- tinham sido atingidos, em consequência das várias flagelações:

. dois depósitos de géneros;
. depósito de artigos de cantina;
. cozinha;
. forno da cozinha;
. celeiros de arroz da população (ainda estavam a arder);
. grande parte das casas da população;
. vários abrigos, parcialmente danificados;
. vários impactos nas valas;
. variadíssimos rebentamentos (talvez centenas) dentro do aquartelamento;

- falta de água potável, por não ter sido feito o respectivo reabastecimento; refere-se que a água era recolhida junto ao Rio AFIÁ, através do qual se fez a evacuação, em 19 de manhã, das baixas da emboscada do dia anterior; o último reabastecimento foi feito precisamente neste dia, após o embarque das baixas;

- escassez de munições de Artilharia e de Armas Pesadas;

- escassez de medicamentos;

- presença do IN nas proximidades do quartel, seguramente do lado de MEJO; alguns elementos da população que tentaram ir recolher água à bolanha, a cerca de 500 metros nessa direcção, tinham sido flagelados na tarde do dia 21 e imediatamente recolhidos pelas NT, que foram em seu socorro;

- desde o início das flagelações, toda a população (umas centenas de pessoas), recolheram às casernas abrigo das NT, aumentando cerca de 3 vezes a sua lotação; a estadia dentro dos abrigos era praticamente insuportável; além do imenso calor, o cheiro era nauseabundo, também porque as crianças acabavam por fazer as suas necessidades fisiológicas no interior dos mesmos;

- nas últimas flagelações, tinha-se verificado a “presença” de uma nova arma do PAIGC; os rebentamentos demoravam cerca de 3/4 segundos, após a audição do disparo;

- verificaram-se vários rebentamentos no ar e também havia algumas granadas perfurantes, tendo sido, eventualmente, uma destas que provocou o morto às NT:

- desde o dia 19 MAI, deixou de ser confeccionado o rancho, em virtude das flagelações e das destruições provocadas na cozinha; todo o pessoal passou a alimentar-se de ração de combate;

- todo o pessoal estava arrasadíssimo, quer física quer psicologicamente, pois as flagelações tinham começado na noite de 18/19 e continuado durante todo o período;

- a população estava preocupadíssima, principalmente pela forte pressão do IN, mas também devido ao desaparecimento do milícia ALIU BARI, verificado em 10 MAI que, poderia ter dado informações muito importantes ao IN, não só relativamente às NT, como também aos hábitos da população, incluindo a localização dos campos de cultivo;

- garantia da não evacuação dos feridos, se os houvesse; de facto, a evacuação dos feridos da emboscada de 18 MAI, não fora feita de GUILEJE, contrariamente ao que o Sr. Comandante-Chefe dissera na sua visita de 11 MAI; a possível evacuação por barco, à semelhança da que fora feita em 19 MAI não mais era exequível, não só devido à presença do 3º CE do PAIGC na mata de MEJO, como devido à falta de barcos, pois que os utilizados em 19 MAI não regressaram a GUILEJE.

6. Factores considerados para tomar a decisão de efectuar a retirada

Imediatamente após ter chegado a GUILEJE e depois de uma breve inspecção ao aquartelamento, fiz uma reunião informal com o Sr. Comandante da CCAV 8350 (que me substituíra na minha ausência) e outros Oficiais; o Sr. Capitão QUINTAS relatou-me, resumidamente, o que se havia passado desde a minha saída na manhã do dia 19 MAI.
No fim deste relato, tive uns minutos de reflexão, considerando os seguintes factores, tendo em vista uma tomada de decisão:

(1). Forte pressão do Inimigo

O aquartelamento de GUILEJE, no período de 182000 MAI73 a 220400 MAI 73 (80 horas) sofreu 37 flagelações, com um total estimado de 795 rebentamentos; esta estimativa foi feita empiricamente e dava uma ideia, porventura calculada por defeito, do volume do fogo inimigo.

Esta acção em força do PAIGC sobre GUILEJE foi planeada pormenorizadamente e com muita antecedência, de acordo com as informações que o Comando-Chefe difundira oportunamente; a fase de execução iniciou-se em 180700 MAI 73, com a emboscada no cruzamento de GUILEJE, já referida atrás.

Com a presença do 3º CE do PAIGC nas matas de MEJO, cuja actuação se verificara na tarde do dia 21 MAI, sobre a população quando esta procedia à recolha de água, o cerco do IN apertava-se; tudo indicava que a sua pressão fosse cada vez mais intensa, com frequentes flagelações diurnas e nocturnas.

(2). Não atribuição de reforços

Desde o início dos acontecimentos (emboscada de 18 MAI), tive a premonição de que se tratava de uma situação muito grave, tanto mais que as informações que do Comando-Chefe nos chegavam, indiciavam que esta acção em força ia acontecer.

E não sabia eu, nessa altura, o que estava a suceder em GUIDAGE (na fronteira Norte com o SENEGAL), desde o dia 8 MAI; à semelhança do que ocorrera em GUILEJE, a acção do IN foi iniciada com uma emboscada a uma coluna de reabastecimento, que também não se realizou, seguida de fortes e intensas flagelações ao quartel de GUIDAGE.

Só posteriormente vim a ter conhecimento que, em 19 MAI, grande parte das reservas do Comando-Chefe estavam hipotecadas no reforço a GUIDAGE, nomeadamente o Batalhão de Comandos Africanos que, nesse mesmo dia, efectuou a Operação AMETISTA REAL, sobre a base inimiga de CUMBAMORI.

O Sr. Comandante-Chefe entendeu não me atribuir o reforço que eu solicitara (uma companhia de tropa especial) e, sem qualquer justificação, comunicou-me esta sua decisão, ordenando-me que devia regressar na manhã do dia 21 MAI a GUILEJE e que ia nomear o Sr. Coronel Paraquedista RAFAEL DURÃO para assumir o Comando do COP 5, passando eu para 2º Comandante.

Nestas condições, foi para mim muito claro que, nos tempos mais próximos, não chegariam quaisquer reforços a GUILEJE.

(3). Defesa da população

Na MISSÃO atribuída ao COP 5, pode ler-se:

“(5) Assegura a defesa eficiente dos aglomerados operacionais ocupados pelas NT e o socorro em tempo oportuno dos reordenamentos da sua ZA.”

Nas circunstâncias concretas existentes em 21 MAI 73, não estava em condições de garantir a defesa eficiente da população de GUILEJE.

Sendo certo que a existência da população civil era um factor importante para que GUILEJE estivesse ocupado militarmente, não é menos certo que nas condições vividas nessa altura, a presença dessa população era um elemento que condicionava a acção das NT.

(4). Não evacuação de feridos

Face à não evacuação das baixas resultantes da emboscada de 18 MAI, fiquei ciente que nenhuma evacuação seria feita, pela Força Aérea, a partir de GUILEJE; até então, estava seguro que, em situação de emergência como esta, seriam satisfeitos os pedidos de evacuação de feridos graves, de acordo com o que o Sr. Comandante-Chefe afirmara na sua última visita de 11 MAI; recordo que a mensagem recebida em 27 ABR, já referida atrás, determinava que as evacuações por helicóptero eram condicionadas ao estudo prévio da Força Aérea, o que significava que seriam consideradas.

Ora, verificou-se que, por falta de evacuação, um Cabo da Companhia de GUILEJE, gravemente ferido na emboscada, acabou por falecer cerca de 4 horas após ter sido ferido; este facto teve um forte impacto negativo no moral das NT e da população.

Este aspecto da não satisfação dos pedidos de evacuação era da maior gravidade e, nestas circunstâncias, formulo a seguinte pergunta: com que autoridade se podia mandar sair a tropa, com fortíssima probabilidade de haver contacto com o IN, tendo a certeza que os feridos, se os houvesse, não seriam evacuados?

A evacuação, via fluvial, já não era possível, além do mais por falta de barcos para esse efeito.

(5). Falta de água no aquartelamento

O abastecimento de água era feito a cerca de 4 kms na direcção de MEJO; o último fora realizado na manhã de 19 MAI e não mais foi feita nenhuma tentativa, devido à presença muito provável do IN na área e igualmente ao facto da não evacuação das previsíveis baixas, se as houvesse, o que poderia acontecer, com alto grau de probabilidade.

É do conhecimento geral que se pode viver durante algum tempo sem comida (esta estava assegurada pelas rações de combate), mas sem água, o tempo de sobrevivência é reduzido.

(6). Escassez de munições, especialmente de Artilharia

Por não ter sido possível realizar a coluna de reabastecimento do dia 18 MAI, só podíamos contar com as munições existentes em GUILEJE.

Desde o início das flagelações, a reacção pelo fogo foi feita com um consumo parcimonioso de munições, especialmente no que respeita a Morteiros e Artilharia, em virtude de o nível das mesmas não ser elevado.

Passados 3 dias após a minha chegada inicial a GUILEJE, que se tinha verificado em 22 JAN 73, fiz uma proposta de substituição das Peças de 11,4 cm (o material de Artilharia presente) por Obuses de 14 cm, porque tinha conhecimento que a reserva de munições das primeiras era pequena. Nesta proposta, sugeria que, se houvesse ainda munições de 11,4 em GUILEJE, as Peças lá continuassem mesmo depois de substituídas pelos Obuses de 14 cm, só recolhendo a BISSAU no final da época das chuvas, quando se reiniciassem as colunas, que naquela época não era possível realizar.

Esta minha proposta demorou bastante tempo a ser aprovada, de modo que, em 18 MAI estavam em GUILEJE 2 Obuses (o terceiro ainda se encontrava em GADAMAEL) e já tinham recolhido as 3 Peças, contrariamente ao que tinha sido proposto, pois que estas saíram de GUILEJE antes de se completar a substituição proposta. Acrescenta-se que igualmente parte das munições de 14 cm ainda se encontravam em GADAMAEL, à espera de transporte para o seu destino.

Em 18 MAI, estavam em GUILEJE apenas 2 Obuses de 14 cm (um chegara avariado); o tiro deste material não foi regulado, por falta de meio aéreo para esse efeito; nestas condições, a eficácia do apoio de Artilharia não era muito grande, enquanto que o tiro das Peças de 11,4 estava perfeitamente ajustado, o que tinha sido feito por observação aérea, antes das restrições do Apoio Aéreo, impostas pelo aparecimento dos mísseis terra-ar inimigos.

(7). Destruição do Centro de Comunicações

A destruição do Centro de Comunicações, que ocorrera na tarde de 21 MAI, por acção da flagelação inimiga, deixou GUILEJE impossibilitado de estabelecer ligação rádio com qualquer entidade.

Nestas condições, a única maneira de contacto com o exterior era através de aviões que sobrevoassem a região; foi por isso que foi pedido à patrulha de FIAT G 91, que nessa tarde de 21 MAI fez o apoio de fogo, o envio de um avião durante a noite, para servir de elemento de ligação, face à destruição do Centro de Comunicações; o Comandante da patrulha informou que iria ser feito o que fosse possível.

(8). Novo Comandante do COP 5

A única medida que o Sr. Comandante-Chefe tomou (desconheço se foram tomadas outras), para resolver a situação de GUILEJE, foi a nomeação do Sr. Coronel Paraquedista RAFAEL DURÃO novo Comandante do COP 5, passando eu para 2º Comandante; esta nomeação, que me foi comunicada na reunião de 20 MAI em BISSAU, significava uma falta de confiança na minha acção de Comando. Não fui informado acerca da data em que o Sr. Coronel DURÃO chegaria a GUILEJE (este estava a comandar o CAOP 1, com sede em MANSOA).

A nomeação do novo Comandante, em minha opinião, não resolveria a situação, porque:

. não viria acompanhado de reforços; era minha convicção que estes ser-lhe-iam atribuídos, mas demorariam vários dias a chegar a GUILEJE;
. não solucionaria a falta de água;
. não estava em condições de fazer chegar a GUILEJE, em tempo oportuno, as munições de Artilharia e outros materiais críticos;
. não garantiria as evacuações, a partir de GUILEJE.

(9). Existência de um morto

Infelizmente as NT tinham um morto, provocado pela flagelação da tarde de 21 MAI.
Poderá perguntar-se, legitimamente, como é que tantas e tão intensas flagelações e com muitos rebentamentos dentro do quartel, só provocaram um morto. Isto aconteceu porque os abrigos existentes eram de betão armado e supostamente à prova de Morteiro 120, o que não foi comprovado porque não se verificou nenhum impacto directo.

Pode parecer estranho que um dos factores a considerar para tomar a minha decisão tenha sido a existência de um morto; de facto, se houvesse uns três ou quatro feridos, quer militares, quer civis, isso obrigaria a permanecer em GUIEJE, por impossibilidade de os transportar em coluna apeada.

(10). Efeito de surpresa

A coluna apeada, que na tarde de 21 MAI me escoltou de GADAMAEL para GUILEJE, não teve nenhum incidente; como não tinha sido detectada pelo IN (e a chegada ocorreu no final do dia), este durante a noite não tinha possibilidade de verificar o movimento no trilho utilizado, sendo muito provável que, se a possível retirada se realizasse na manhã do dia seguinte, constituísse uma verdadeira surpresa.

(11). Previsão dos acontecimentos, a curto prazo

Ao nomear o Sr. Coronel DURÃO para novo Comandante do COP 5, era minha convicção que o Sr. Comandante-Chefe lhe iria atribuir os reforços que ele solicitasse. Só que esses reforços, após a sua atribuição, demorariam vários dias a chegar a GUILEJE.

A pressão do IN não abrandaria, pelo contrário, era altamente provável que se intensificaria; poderia haver, com fortes probabilidades, mais mortos e feridos e um previsível assalto pelo IN, bem como a tomada de prisioneiros pelo PAIGC, incluindo elementos da população, se isso fosse do seu interesse.

Em função de todos os factores indicados e face às condições descritas, relativamente à situação específica em GUILEJE, só considerei duas modalidades de acção:

. permanecer em GUILEJE, esperando a chegada do novo Comandante, com todas as consequências daí resultantes;
. retirar na manhã seguinte, aproveitando o efeito de surpresa; adiar, nem que fosse por um dia, poderia inviabilizar a operação.

Depois de pesar os prós e os contras das duas possíveis soluções, optei pela segunda:

RETIRAR, DO AQUARTELAMENTO DE GUILEJE, NA MANHÃ DO DIA SEGUINTE – 22 MAI – TODA A POPULAÇÃO, BEM COMO OS MILITARES E MILÍCIA, ATRAVÈS DO TRILHO GUILEJE – GADAMAEL, EM COLUNA APEADA.

Tomada a decisão, elaborei uma mensagem a comunicá-la ao Comando-Chefe, na esperança de que fosse possível, embora com dificuldade, transmiti-la durante a noite, o que não foi conseguido.

Comunicada esta decisão aos Oficiais presentes na reunião informal, com a qual todos concordaram, dei ordens para serem executadas destruições e inutilizações do material que não podia ser transportado, no sentido de impedir a sua utilização pelo IN.

As destruições que mandei fazer foram: minas, material cripto (incluindo as máquinas de cifra), toda a documentação (classificada e não classificada), que foi destruída pelo fogo e material de transmissões.

Mandei inutilizar ou tornar inoperacionais: os 2 Obuses de 14 cm, as viaturas e o armamento pesado: Metralhadoras e Morteiros.

Dadas as circunstâncias e atendendo a que o IN, nessa noite de 21/22 MAI, flagelou o aquartelamento 3 vezes (20.25 /22.00 horas - cerca de 30 impactos; 01.05/03.00 horas - cerca de 40 impactos e 04.00/05.00 horas – cerca de 60 impactos), as destruições e inutilizações não puderam ser feitas com a profundidade e extensão que o seriam, se as condições fossem outras.

Durante a noite foi intensificada a acção da Artilharia, em resposta às flagelações, gastando todas as munições completas existentes, antes de tornar inoperacionais os 2 Obuses e também com a intenção de mostrar ao IN que continuávamos com boa capacidade de reacção.

Mandei, igualmente, informar a população, através do Régulo em exercício, da partida nas primeiras horas do dia seguinte, informando que sairíamos em coluna apeada.

7. Execução da retirada

A Operação de retirada foi organizada da seguinte maneira: em primeiro escalão, saiu o Sr. Comandante da CCAÇ 4743 (GADAMAEL) com os seus dois grupos de combate, seguidos de parte da população; em segundo escalão, o Sr. Comandante da CCAV 8350 (GUILEJE), com a sua Companhia, milícia e restante população; em último lugar, o pessoal militar sobrante, incluindo os elementos do Comando do COP 5, tendo sido eu o último a sair do quartel.

A retirada iniciou-se cerca das 05.30 horas, tendo-se verificado a chegada a GADAMAEL por volta do meio-dia; não houve qualquer contacto com o IN.

O efeito de surpresa foi total; tendo-se efectuado a retirada na manhã do dia 22 MAI, o PAIGC só entrou em GUILEJE em 25 MAI, isto é, 3 dias depois; durante o período 22/25 MAI continuou a bombardear a posição que tinha sido ocupada pelas NT.
A chegada a GADAMAEL, sem qualquer incidente, foi um sucesso, comprovando que a decisão que tomei, ao meu nível de Comando, foi adequada à situação.


8. Consequências da retirada


Quando a coluna chegou a GADAMAEL, já lá se encontrava o Sr. Coronel Paraquedista RAFAEL DURÃO, o novo Comandante designado pelo Sr. Comandante-Chefe, a quem comuniquei o que se tinha passado; o novo Comandante mandou formar as tropas recém-chegadas de GUILEJE, proferiu algumas palavras que não recordo, referindo que os militares não tinham culpa do que acontecera, atribuindo-me, implicitamente, a responsabilidade da decisão, o que correspondia inteiramente à verdade.

O Sr. Coronel DURÃO enviou então uma mensagem para o Comando-Chefe, que terminava assim:

“…QUANDO CHEGADA GADAMAEL PORTO FACE DESTRUIÇÕES HAVIDAS VERIFICO SER IMPOSSÍVEL REOCUPAÇÃO TEMPOS MAIS PRÓXIMOS. AGUARDO INSTRUÇÕES”.

Passado pouco tempo, enviou nova mensagem, do seguinte teor:

“…SUGIRO DESTRUIÇÃO COMPLEMENTAR GUILEJE POR MEIOS AÉREOS”

A resposta a esta última mensagem foi:

“REF…SEXA JULGA PREMATURO BOMBARDEAMENTO GUILEJE. COAT EXECUTA BOMBARDEAMENTO AREA CIRCUNDANTE. INFORME CAOP 3 COR FERREIRA DURÃO”.
O não bombardeamento de GUILEJE permitiu que o PAIGC fizesse uma grande propaganda, relativamente aos materiais apreendidos, amplamente difundida, com manifesto exagero.
O PAIGC, contrariamente à decisão do Sr. Comandante-Chefe, achou por bem continuar as flagelações, o que fez até ao dia 25 MAI.

Não consegui obter elementos sobre os bombardeamentos efectuados pela Força Aérea, na área circundante de GUILEJE, no período de 22/25 MAI.

Após ter tomado conhecimento da retirada de GUILEJE, o Sr. Comandante-Chefe, enviou, em 221800 MAI, a seguinte mensagem, para GADAMAEL:

“…INFORME CMDT CAOP 3 COR PARA FERREIRA DURÃO QUE SEXA GENERAL COMANDANTE-CHEFE DETERMINOU SEJA RETIRADO IMEDIATIAMENTE DO COMANDO COP 5 MAJ ART ALEXANDRE DA COSTA COUTINHO E LIMA E MANDADO APRESENTAR QG/CCFAG PARA EFEITO AUTO CORPO DELITO”.

Em 24 MAI, foi recebida em GADAMAEL nova mensagem:

“SEXA GENERAL DETERMINA RETIRADO COMANDO MAJOR COUTINHO E LIMA…DEVENDO SEGUIR VIA CACINE EM SINTEX. TARDE DE 25 MAI NÃO DEVE JÁ ESTAR GADAMAEL”

Parti de CACINE, a bordo de um navio da Armada em 26 MAI, pelas 06.00 horas, tendo chegado a BISSAU no dia seguinte; apresentei-me no QG/CCFAG, tendo-me sido comunicado que passava à situação de prisão preventiva, à guarda da Companhia de Polícia Militar, sedeada no forte da Amura, onde também se encontrava instalado o Comando-Chefe; recebi ordem expressa de que não podia estabelecer contacto com as Repartições do Comando-Chefe.

Em 22 MAI 73, o Sr. Comandante-Chefe emitiu o seguinte despacho:

“Considerando que o Comandante do COP 5, Major de Artilharia, ALEXANDRE DA COSTA COUTINHO E LIMA:
- Ordenou a retirada das forças sob o seu comando do quartel de Guileje para Gadamael, sem que para isso estivesse autorizado;
- Mandou destruir edifícios e inutilizar obras de defesa do referido quartel, bem como material de guerra e munições;
- Não cumpriu a missão que lhe foi atribuída;

Determino, que o Exmº. Brigadeiro MANUEL LEITÃO PEREIRA MARQUES proceda a auto corpo de delito contra o mencionado oficial e, atendendo à gravidade e natureza dos delitos, o arguido seja desde já recluso em prisão fechada.”


Comecei a ser ouvido pelo Sr. Brigadeiro LEITÃO MARQUES em 28 MAI 73; o processo ficou concluído em 10 ABR 74 e constou de 4 volumes, com o total de 903 folhas. Foi transferido do Tribunal Militar Territorial da Guiné para o 1º Tribunal Militar de Lisboa (1º TMTL), onde se processaria o julgamento.

A pena prevista para os crimes supostamente cometidos e de que fui acusado, era de 6 meses a 4 anos de presídio militar.

O processo foi amnistiado pelo Decreto-Lei nº 194/74 da Junta de Salvação Nacional e, por decisão unânime dos Juízes do mesmo 1º TMTL, ARQUIVADO, em 17 MAI 73.

A minha carreira militar prosseguiu, aparentemente sem ter sido prejudicada.
No livro que estou a escrever, abordarei todos os assuntos relativos à minha 3ª Comissão na Guiné, com destaque para “A retirada de GUILEDJE”, que será o próprio título desse livro e uma análise do processo que me foi instaurado.

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Nota de L.G.:

(1) Vd. poste de 23 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2677: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Coutinho e Lima (1): Comandante do COP 5, com 3 comissões no CTIG

Guiné 63/74 - P2677: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Coutinho e Lima (1): Comandante do COP 5, com 3 comissões no CTIG

Vídeo (1' 38''): Início da comunicação do Cor Art Res Coutinho e LIma, antigo comandante do COP 5, que em 22 de Maio de 1973 tomou a decisão de retirar Guileje.





Guiné-Bissau > Região de Tombali > Antigo aquartelamento de Guileje > Simpósio Internacional de Guileje > Visita ao sul > 3 de Março de 2008 > No regresso a Bissau, o jipe que me levava a mim e ao Cor Art Nuno Rubim, mais as respectivas esposas, parou aqui, em manhã de nevoeiro... Foi uma despedida nostálgica por parte de ambos, e em especial do Nuno, um homem profundamente ligado a Guileje, e além disso autor do famoso diorama de Guileje...

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Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo alojados em: You Tube >Nhabijoes

1. Transcrição da comunicação do Cor Art, na situação de reserva, Coutinho e Lima, no âmbito do SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE GUILEDJE (BISSAU - 1 a 7 de MARÇO de 2008). Trata-se de uma gentileza do autor com quem tive a oportunidade de privar durante uma semana na Guiné-Bissau, de 29 de Fevereiro a 7 de Março de 2008 (1). Ele passa também a integrar a nossa Tabanca Grande, por convite meu, que aceitou.


Factores considerados para tomar a decisão da retirada das forças militares e da população, do aquartelamento de GUILEDJE . Relato histórico do Ex-Comandante do COP 5, Coronel COUTINHO E LIMA

Parte I > Comandante do COP 5, com 3 comissões no CTIG

Revisão e fixação do texto: LG

Começo por felicitar a ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, pela feliz iniciativa de organizar este Simpósio Internacional sobre GUILEDJE. Quando recebi o convite do Sr. Engenheiro CARLOS SCHWARTZ para participar neste evento, imediatamente manifestei a minha disponibilidade. A minha presença vai-me permitir apresentar, com algum detalhe e com verdade, o que se passou em Maio de 1973 e com a autoridade de ser o Comandante das forças portuguesas presentes no terreno, único responsável do que foi decidido.

Antes de analisar os diversos factores que considerei, para tomar a decisão da retirada de GUILEDJE, achei por bem fazer uma breve exposição dos antecedentes, para melhor se perceber o que ocorreu, em Maio de 1973, naquela zona.

1. Experiência das duas comissões anteriores


Em Setembro de 1972, iniciei a minha 3ª Comissão de serviço na GUINÉ.

A 1ª ocorrera no período de JUL 63 / JUL 65; como Capitão, comandei a Companhia de Artilharia nº 494 (CART 494) que inicialmente ocupou GANJOLA, pertencente ao Batalhão de CATIÓ, de 17 SET a 15 DEZ 63; em 17 Dez 63, a CART 494 ocupou GADAMAEL PORTO e em 21 FEV 64 colocou um destacamento em GANTURÉ.

Em 4 FEV 64 foi ocupado GUILEDJE, com um Pelotão da Companhia de ALDEIA FORMOSA; aberto o itinerário GUILEDJE – GADAMAEL, em 20 FEV 64, a guarnição de GUILEDJE passou a ser reabastecida via GADAMAEL; por esta razão, percorri diversas vezes aquele percurso GADAMAEL- GUILEDJE.

O Batalhão de Caçadores nº 513, com sede em BUBA, ao qual pertencia a CART 494, fez uma série de operações ao longo da estrada paralela à fronteira com a REPÚBLICA da GUINÉ CONACRI, procedendo à abertura do itinerário e instalando forças militares em SANGONHÁ, CACOCA e CAMECONDE; com a ocupação desta última localidade, ficou estabelecida a ligação, por terra, entre ALDEIA FORMOSA e CACINE.

A minha 2ª comissão ocorreu no período de JUL 68/JUL 70; com o posto de Capitão e o Curso de Observador Aéreo de Artilharia, fui colocado no Comando Chefe das Forças Armadas da GUINÉ, desempenhando as funções de Adjunto da Repartição de Operações; foi-me atribuído o Sector Sul, onde estava incluído o Batalhão de BUBA, ao qual pertenciam as guarnições de GUILEDJE, GADAMAEL e CACINE.

Nesta comissão tive oportunidade de trabalhar sob as ordens do Sr. General SPÍNOLA, já nessa altura Comandante-Chefe das Forças Armadas da GUINÉ.

2. Criação do COP 5: missão, zona de acção e meios


Iniciei a minha 3ª comissão, por imposição, na GUINÉ, em SET 72; fui colocado no Centro de Instrução Militar (CIM), em BOLAMA, como Director de Instrução; tinha o posto de Major.

Através da Directiva nº 2/73, de 8 JAN 73, do Comando Chefe das Forças Armadas da GUINÉ, foi criado o Comando Operacional nº 5 (COP 5), para o qual fui designado Comandante.

A MISSÃO do COP 5 era a seguinte:

(1) Intercepta o corredor de GUILEJE, especialmente pela implantação de minas e armadilhas e execução de fogos de interdição.

(2) Executa acções de reconhecimento na faixa fronteiriça, por forma a detectar novas linhas de infiltração In na sua ZA, com vista ao oportuno desenvolvimento de acções de contra-penetração.

(3) Acaba com o IN na sua ZA, aniquilando-o, capturando-o, ou no mínimo, expulsando-o para o exterior do TO.
(4) Procura alargar a sua área de actividade de contra-guerrilha, por acções de reconhecimento no corredor de GUILEJE em ordem a intensificar o esforço de contra-penetração e por acções de golpe de mão sobre a área do QUITAFINE.

(5) Assegura a defesa eficiente dos aglomerados populacionais ocupados pelas NT e o socorro em tempo oportuno dos reordenamentos da sua ZA.

(6) Garante as condições de segurança necessárias à execução de movimentos nos itinerários do Sector, em especial GADAMAEL-GUILEJE e CACINE-CAMECONDE.

(7) Coopera com o COP 4 na realização de acções terrestres no CANTANHEZ, a pedido daquele comando.

(8) Prevê a execução de fogos de Artilharia sobre o CANTANHEZ a desencadear a pedido do COP4.

Os meios atribuídos ao COP 5 eram os que, do antecedente, estavam nas guarnições de GUILEJE, GADAMAEL e CACINE.

A Zona de Acção (ZA) do COP 5 era a que estava atribuída àquelas três guarnições.

Refere-se que um dos considerandos da Directiva que criou o COP 5 era:

“…que, com a criação do COP4 e o desenvolvimento da respectiva manobra no CANTANHEZ, é de admitir que o In reforce os seus efectivos armados naquela região com material e pessoal a partir da REP GUINÉ e, consequentemente, pressione ainda mais as nossas guarnições de GUILEJE, GADAMAEL e CACINE em virtude de a travessia das respectivas ZA constituir o itinerário mais curto entre a fronteira e o CANTANHEZ.”

Embora o Comando Chefe admitisse que o In iria pressionar ainda mais as guarnições indicadas, não foi atribuído nenhum meio de reforço ao recém-criado COP 5, tendo-me o Sr. Comandante-Chefe dito, expressamente, que não pedisse reforços e que efectuasse a adequada manobra dos meios existentes.

Era habitual, até então, a criação de um COP ser acompanhada da atribuição de meios, para o cumprimento da MISSÃO. O COP 5 foi o primeiro que não viu reforçado o seu dispositivo, com qualquer meio.

Na véspera da minha partida de BISSAU, o Sr. Comandante-Chefe disse-me que, qualquer dia, iria fazer uma visita a GUILEJE; ficou, assim, estabelecida a sede do COP 5, o que não constava na Directiva que o criou.

3. Aparecimento dos mísseis terra-ar na região de GUILEJE


No dia 25 MAR 73 (Domingo), o aquartelamento de GUILEJE foi flagelado pelo PAIGC, das 13.00 às 14.30 horas; esta flagelação, em pleno dia, não era habitual, pois que, até então, tais acções ocorriam durante a noite; esta flagelação constituiu, seguramente, um chamariz, pois que certamente o PAIGC tinha conhecimento que os aviões da Força Aérea Portuguesa não deixariam de aparecer; conforme o que estava determinado, foi feito o pedido de Apoio Aéreo; passado pouco tempo, sobrevoava o quartel um Avião FIAT G 91;o Piloto entrou em contacto rádio e depois de receber a indicação da direcção e distância estimadas donde partira o bombardeamento, voou nesse rumo, não mais tendo estabelecido qualquer comunicação; passados cerca de 15/20 minutos, apareceu um segundo Avião do mesmo tipo (era habitual virem os dois aviões ao mesmo tempo), que informado do que tinha ocorrido, sobrevoou a área indicada, verificando, ao fim de algum tempo, que o primeiro avião tinha sido abatido. O Piloto, Tenente Piloto Aviador PESSOA conseguira ejectar-se e, devido ao adiantado da hora, só foi recolhido na manhã do dia seguinte.

Foi este o primeiro Avião FIAT G 91 abatido por um míssil terra-ar, mas não a primeira acção com êxito sobre aeronaves portuguesas; de facto, em 1968, tinha sido abatido um avião do mesmo tipo, numa acção de apoio de fogo ao aquartelamento de GANDEMBEL, atingido pelo fogo de Metralhadoras Anti-Aéreas; o Piloto também conseguiu ejectar-se e foi recuperado, de imediato.

O aparecimento dos mísseis terra-ar provocou, como não podia deixar de ser, profundas alterações na actuação da Força Aérea Portuguesa. Em 27 ABR 73, a Repartição de Operações do Comando Chefe, enviou uma mensagem a todos os Comandos, determinando, no que dizia respeito ao Sector do COP 5, que eram canceladas temporariamente as evacuações por avião DORNIER (DO 27) a partir de GUILEJE e GADAMAEL; era também cancelado o avião do Sector, efectuado por DORNIER; o acompanhamento de forças por DO 27 passava a efectuar-se a altitudes superiores a 6.000 pés; o ataque ao solo, feito por aviões FIAT G 91, passava a ser efectuado somente com bombas, a altitudes acima de 6.000 pés; as evacuações por helicóptero e outras missões ficavam condicionadas ao estudo prévio do Comando de Operações Aero-Tácticas da Força Aérea.

Até 6 ABR 73, as colunas de reabastecimento eram acompanhadas, sobrevoando o itinerário, por um DO 27 armado; após esta data, as colunas passaram a ser feitas sem qualquer apoio aéreo, tendo sido determinado que, no caso de contacto com o IN, deveria ser pedido apoio imediato.

Também deixaram de ser efectuadas as evacuações; estas eram feitas através de transporte por estrada até GADAMAEL, daqui de barco até CACINE e transporte pela Força Aérea para BISSAU.

No dia 11 MAI 73.o Sr. Comandante-Chefe fez uma visita a GUILEJE, após ter realizado, em CATIÓ, uma reunião com todos os Comandantes da Zona Sul; perante formatura geral, na pista, referiu que se esperava um agravamento da situação, que a Força Aérea não podia executar as missões de rotina como até há pouco tempo atrás, mas que, numa situação difícil, apoiaria as NT, voando mais alto; afirmou ainda que, no caso de haver feridos muito graves, a Força Aérea faria a sua evacuação.

Nesse mesmo dia, tinha sido efectuada uma coluna de reabastecimento GUILEJE-GADAMAEL, sem qualquer incidente.

Durante este período, foram realizadas 9 colunas de reabastecimento, sem apoio aéreo, (documento elaborado pela 4ª Repartição do QG/CTIG), nos dias 14, 21 e 25 ABR e 1, 4, 7, 11, 14 e 16 MAI 73.

4. Diligências efectuadas no período de 18/21 MAI 73

Em 18 MAI 73, pelas 07.00 horas, as forças de segurança para a realização de mais uma coluna de reabastecimento GUILEJE-GADAMAEL, foram emboscadas a cerca de 300 metros do cruzamento de GUILEJE, com fornilhos comandados, RPG 2, RPG 7 e armas automáticas; as NT reagiram com Artilharia, Morteiro, lança granadas foguete e armas automáticas e sofreram 1 morto (Comandante do Pelotão de Milícia), 7 feridos graves e 4 feridos ligeiros.

Face ao grande poder de fogo das forças do PAIGC, as baixas foram recolhidas para GUILEJE e a coluna não se realizou.

Tendo-me apercebido da gravidade da situação, iniciei uma série de diligências, tendo em vista a sua resolução; refere-se que foi a primeira vez que não foi possível efectuar a coluna, por acção do IN.

Às 09.05 horas, enviei uma mensagem para a Repartição de Operações do Comando Chefe, (REPOPER/COMCHEFE) do seguinte teor:

“ VIRTUDE FORTE EMBOSCADA HOJE SOLICITO VINDA ESTE DELEGADO ESSA DELEGADO COAT”
Ao enviar esta mensagem, esperava que fossem feitas as evacuações, entretanto solicitadas, de acordo com o que o Sr. Comandante-Chefe tinha afirmado 8 dias antes; os Delegados poderiam utilizar os helicópteros que viessem fazer as evacuações.

Porque estas não foram efectuadas, um dos feridos graves (um Cabo da CCAV 8350) veio a falecer às 10.15 horas; após esta nefasta ocorrência, fiz nova mensagem para a REP PER, com o seguinte texto:

“NÃO SATISFAÇÃO PEDIDO APOIO FOGOS FORÇA AÉREA E EVACUAÇÕES (Y) CAUSOU GRANDE MAL ESTAR TODO PESSOAL POIS ÚLTIMA VISITA SEXA GENERAL ESTE DISSE MESMAS SERIAM EFECTUADAS QUANDO NT CONDIÇÕES DIFÍCEIS”.

Como não aparecia ninguém, nem obtinha qualquer resposta, redigi às 22.45 horas, a mensagem seguinte:

“M/703 18 MAI 73 SOLICITO RESPOSTA ESTA VIA POIS TENHO POSSIBILIDADE SEGUIR MANHÃ 19 MAI GADAMAEL PORTO”.

A mensagem 703 solicitava a vinda dos delegados.

Das 20.00 às 21.45 horas, o PAIGC iniciou uma série de flagelações, tendo-se logo, nesta primeira acção, verificado vários rebentamentos dentro da área de arame farpado. Às 03.50 horas do dia 19 MAI, enviei nova mensagem:

“CASO HAJA DIFICULDADE VINDA DELEGADOS SOLICITO AUTORIZAÇÃO IDA BISSAU E TRANSPORTE URGENTE PARA GADAMAEL PORTO FIM EXPOR SITUAÇÃO”.

Esta última mensagem somente foi respondida, pela REPOPER, às 11.11 horas desse dia 19 MAI:
“ SITUAÇÃO LOCAL NÃO ACONSELHA SUA SAÍDA DEMORADA DO SECTOR. ESTE TENTOU IR MAS FAEREA SO VAI GADAMAEL EMERGÊNCIA. EXPONHA SITUAÇÃO ESTA VIA”.

Esta mensagem apenas foi enviada para GUILEJE, onde eu já não me encontrava, só tendo tomado conhecimento dela bastante mais tarde, quando foi retransmitida para CACINE; por isso, a resposta só seguiu às 03.20 horas do dia 20 MAI:

“ CMDT COP 5 PRESENTE NESTA INFORMA NECESSITA UMA COMPANHIA TROPA ESPECIAL REFORÇO TEMPORARIO FIM EFECTUAR REABASTECIMENTO GUILEJE. NECESSARIO TAMBEM REFORÇO VIATS E ESTIVADORES. VIRTUDE SE ENCONTRAR NESTA JULGA NECESSARIO IR BISSAU REGRESSANDO IMEDIATAMENTE”.

Entretanto, em 19 MAI, pelas 06.00 horas efectuou-se a evacuação das baixas da véspera, por estrada até à foz do Rio AFIÁ (na direcção de MEJO) e daqui de barco para CACINE.

Continuando a não receber resposta de BISSAU, insisti, já em CACINE, no dia 20 MAI, às 10.00 horas, com a seguinte mensagem:

“ CMDT COP 5 SOLICITA TPT IMEDIATO BISSAU OU ALTERNATIVA VINDA CACINE HOJE SEM FALTA DELEGADO DESSA “.

Uma hora depois -11.00 horas - enviei nova mensagem:

“CMDT COP 5 INFO SITUAÇÃO GUILEJE IMPRESCINDÍVEL VINDA IMEDIATA REFORÇO PEDIDO E SOLICITA RESPOSTA ESTA VIA”.

Finalmente no final da tarde de 20 MAI (tinha chegado a CACINE na manhã de 19 MAI), fui transportado de helicóptero para BISSAU.

Compareci na reunião diária do Comando-Chefe, onde expus a situação ao Sr. Comandante-Chefe, acabando por apresentar a necessidade de reforços, já solicitada por mensagem.

O Sr. Comandante-Chefe respondeu-me que não me atribuía nenhum reforço, que deveria regressar a GUILEJE na manhã seguinte e que seria substituído no Comando do COP 5, passando eu a desempenhar as funções de 2º Comandante.

Esclarece-se que na reunião estavam presentes, além dos Senhores Comandantes dos 3 Ramos das Forças Armadas e o Sr. Comandante Adjunto Operacional, os Chefes das Repartições de Operações e de Informações, bem como os Chefes das outras Repartições do Comando-Chefe.
´
aliento o teor de uma mensagem, enviada para GUILEJE pela Repartição de Informações, nesse dia às 19.00 horas, isto é, muito pouco tempo antes do início da reunião:

“NOT A2 REFERE EFECTIVOS 3º CE MATA MEJO. ADMITE-SE POSSIBILIDADE VIREM A ACTUAR SOBRE ESSA “.

Nenhum dos presentes teve qualquer intervenção, além do Sr. Comandante-Chefe. Nessa mesma noite, enviei de BISSAU (através da REPOPER), a seguinte mensagem para as Companhias de CACINE, GADAMAEL e GUILEJE:

“CMDT COP 5 PRESENTE NESTE SEGUE 21 MAI 73 SINTEX CACINE GUILEJE. SEGURANÇA MONTADA MARGENS RIO CACINE CCAÇ 4743 CCAV 8350 PARTIR 210900 MAI 73. SINTEX PRESENTE GADAMAEL AGUARDAM FOZ RIO CACONDO BARCOS CACINE.CCAÇ 3520 SOLICITA APOIO DFE DOIS BARCOS”.

A CCAV 8350 (GUILEJE) enviou no dia 21 MAI às 07.40 horas, uma mensagem referindo:

“ REF S… TOTALMENTE IMPOSSIVEL PARA ESTA”.

Perante esta informação, face à impossibilidade de a Companhia de GUILEJE montar a segurança nas margens do rio, decidi alterar o meu regresso a GUILEJE, seguindo de barco para GADAMAEL e daqui a pé para o Comando do COP 5. Nestas condições, enviei de CACINE, para a Companhia de GADAMAEL, às 09.40 horas, a seguinte mensagem:

“ CMDT COP 5 SEGUE ESSA BOTE. PREPARE CCAÇ 4743 02 GR COMB PEL MIL SEGUIR COM COMANDANTE COP 5 A PÉ GUILEJE. PERNOITAM GUILEJE”.

Durante a minha ausência, justificada pelo facto de eu considerar imprescindível o contacto pessoal com Oficiais do Comando-Chefe, GUILEJE continuou a ser flagelado, dia e noite.

Ao chegar a GADAMAEL, o Sr. Comandante de Companhia informou-me que os seus homens não estavam dispostos a seguir para GUILEJE; após uma formatura geral, em que expliquei o que se estava a passar, a necessidade de ir para GUILEJE e mais algumas diligências que tomei, foi possível organizar a coluna apeada que me escoltou, nela incluído o Sr. Comandante da Companhia; durante o trajecto, utilizando um trilho da população e que nunca sido percorrido pelas NT, tivemos a oportunidade de ouvir a flagelação que o PAIGC desencadeou sobre o aquartelamento de GUILEJE (das 14.30 às 16.30 horas).

Chegamos a GUILEJE ao fim da tarde do dia 21 MAI.

(Continua)

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Nota de L.G.:

(1)Vd. poste de 23 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2673: Uma semana memorável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (10): Guiledje: Homenagem ao Coronel Coutinho e Lima

Guiné 63/74 - P2676: Simpósio de Guileje: Notas Soltas (José Teixeira) (2): Um abraço de ermons e (más) recordações do Comandante Manecas

Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Azalai > 29 de Fevereiro de 2008 > O antigo Comandante do PAIGC, Manuel dos Santos, Manecas, em conversa com o Cor Art Coutinho e Lima e com o Alfredo Caldeira...

Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Azalai > 29 de Fevereiro de 2008 > O Zé Teixeira com o antigo combatente do PAIGC Mauindé Baldé que o queria apanhar à unha, no ataque a Mampatá Forreá, de 3 de Novembro de 1968...

Fotos: ©
José Teixeira (2008). Direitos reservados.



1. Continuação da crónica do Zé Teixeira, com as suas impressões sobre o Simpósio de Guileje (1):


(i) CONVÍVIO COM ANTIGOS INIMIGOS

Ao contactar com antigos combatentes do PAIGC, procurava saber a zona de acção onde estiveram envolvidos na esperança de poder olhar bem de frente, olhos nos olhos, quem em tempos idos não hesitaria em me matar, acto que eu possivelmente não cometeria, pois como enfermeiro, a minha arma era a seringa.

Um simpático velhinho perguntou-me se eu estava em Mampatá Forreá em princípios de Novembro de 1968, quando eles tentaram entrar à na tabanca. Era o Mauinde Baldé, se a memória não me falha.

Ao confirmar a minha presença nesse ataque, ele disse-me que a intenção era tentarem apanhar-nos à mão. Foi um dos que já estava dentro do arame farpado, mas teve de voltar para trás rapidamente, perante a nossa reacção.

Excerto do do meu Diário (2):

Mampatá, 3 de Novembro de 1968: O dia 3 de Novembro não será esquecido pelos 'Amarelos de Mampatá' pois tivemos de travar uma luta de vida ou de morte com o IN que aproveitou a hora do almoço em que os militares se afastaram do seu posto de defesa para buscar na cozinha alimentação, para tentar entrar em Mampatá. De algum modo eu fui o responsável pela situação criada, pois incentivei um sentinela durante a noite a mandar um tiro na direcção de uma vaca que estava entre as duas faixas de arame farpado e tocava neste, provocando o tilintar das garrafas que lá tínhamos colocado para não sermos surpreendidos pelo IN ao tentar entrar pela calada da noite cortando o arame. Esta minha atitude passou-se durante a minha hora de ronda e o sentinela assim fez pouco depois, aparecendo de manhã uma vaca com um buraco numa coxa. Claro que o proprietário o Régulo Alfero Aliu ( Alferes da Milícia) vendeu a vaca à tropa. Há mais de um mês que não comemos carne, porque os Africanos se recusam a vender qualquer animal. Assim foi fácil convencer o proprietário a vender a vaca ferida, mas ficou-nos caro. Praticamente todos os postos de sentinela ficaram abandonados à hora do almoço o que não é habitual, mas o estranho foi o turra saber exactamente o que se estava a passar e atacou. Quase todos os soldados tiveram de correr para as suas posições debaixo de fogo e durante quinze minutos a luta foi terrível com 'eles' junto ao arame com fogo cerrado. Chegámos a ter a sensação que estavam cá dentro o que não se verificou graças à nossa capacidade de resistência e por sorte também. Ao tentarem entrar pelo lado de Buba, o Silva Algarvio que não tinha vindo buscar a comida ao refeitório por estar doente, aguentou-os até chegarem reforços e obrigou-os a retirar. Aliás foi ele que deu o sinal. Ao ver um grupo de africanos com armas que não eram a velha Mauser a tentarem forçar a porta em rede de arame farpado, estranhou e abriu fogo, depois. . . foi, cantinas de comida pelo ar e umas loucas correrias para os abrigos de protecção.

Seguiu-se o 'chocolate' do costume. Os assaltantes recuaram para selva e o fogo continuou.
Onze tabancas [moranças] ficaram destruídas pelo fogo, pois utilizaram balas incendiárias e também destruiram o paiol. Fiquei assustado e desorientado porque, dada a intensidade do fogo e a estratégia adoptada pelo IN, contava ter muito que fazer com os feridos talvez mortos, atendendo a que ninguém contava com tal surpresa e os postos estavam desguarnecidos e sobretudo porque tinha pouco material de socorro ( apenas 2 sacos de soro). Ainda debaixo de fogo saí do abrigo onde me protegera e corri pela Tabanca à procura de feridos, junto dos abrigos subterrâneos onde se abrigara a população. Felizmente nada aconteceu, foi só fogo de vista susto e prejuízos materiais. Graças a Deus. Pergunto-me como que a população não foi atingida e as suas casas foram queimadas. Ataque combinado ? Notámos que o 'catequista' muçulmano saiu de manhã cedo para bolanha, o que é estranho pois costuma estar sempre na tabanca a ensinar os putos e só voltou muito depois do ataque. Temos de o trazer debaixo de olho, como disse o Alferes Belo depois de saber a sua ausência.

[O antigo guerrilheiro] não se lembrava das razões porque foram visitar-nos nesse dia. Já lá tinha ido uns dias antes, mas atacara do lado da fonte, estrada de Kumbdjá, como habitualmente faziam, ao princípio da noite

Seguiu-se um abraço de ermons, na alegria de que o passado foi esquecido. O importante agora é construir uma Guiné Bissau.

(ii) O COMANDANTE QUE NÃO QUER FALAR

- Então, comandante, aquele ataque a Buba!... Em Setembro de 1969, não correu bem !
- Não quero falar desse ataque. Não fui apanhado por muita sorte.

Conversa encerrada com o comandante Manecas, o homens dos mísseis Strela.

Relendo o meu Diário:

Empada, 16 de Outubro de 1969: Do pelotão que está em Buba chegam novidades. Há dias houve por lá um terrível ataque com tentativa de assalto. Atacaram do sítio habitual do lado do rio com 10 Canhões, enquanto do lado da pista fazia o desenvolvimento do assalto, procurando apanhar a tropa desprevenida. Segundo dizem os meus colegas eram mais de duzentos, a avançarem em arco para que, se as nossas forças saíssem, as envolverem. Felizmente estava emboscado um Pelotão que os detectou.

Parece que foi um tremendo fogachal, enquanto os Fuzas perseguiam os que atacaram do lado do rio que pretendiam reforçar as forças de assalto. Ao fazer-se o reconhecimento, foi encontrado um rádio, sinal de que o ataque foi bem comandado e o fogo controlado por sentinelas avançadas. Foram descobertas e desenterradas 180 granadas de canhão sem recuo. Foi também ouvido ruído de viaturas.


Quando os Fuzas voltaram ao quartel, foram seguidos pelo IN que os atacou muito perto de Buba. Assim caíram entre dois fogos, o do IN e o de Buba que reagiu a um possível ataque sem saber que o fogo era destinado ao grupo de fuzas.
No dia anterior tinha havido uma coluna a Nhala ,onde apenas foi encontrada uma A/P com dispositivo anti-levantamento eléctrico que felizmente não funcionou por ter as pilhas gastas. Nesta minha havia uma mensagem escrita; Esta é para Alferes Gonçalves. Infelizmente este furriel e não alferes, já está em Lisboa devido a um estilhaço que apanhou noutro ataque a Buba.

Insisto:
- Mas, comandante, vocês queriam mesmo entrar. O quartel e povoação foi cercado do lado da pista, como já o tinham feito em uns meses antes.
- Essa missão competia à infantaria. Eu estava no posto de controlo da artilharia. Tudo estava a correr mal. O levantamento do local tinha sido feito com a maré cheia e atacamos com maré vasa. Não foi possível colocar as armas nos locais previstos. Por outro lado a terra estava mole, os canhões enterraram-se e as granadas caíram quase todas no Rio. Preocupado com a orientação do fogo, não reparei e não fui apanhado por pouco. Foi um dia para esquecer.

E mais não disse o comandante.

Zé Teixeira (2)

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Notas de L.G.:

(1) Vd. poste de 21 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2669: Simpósio de Guileje: Notas Soltas (José Teixeira) (1): Desta vez fui voluntário e estou em paz comigo próprio

(2) Recorde-se que José Teixeira foi 1.º Cabo Enfermeiro, na CCAÇ 2381( Buba, Quebo, Mampatá e Empada ,1968/70). E deixou-nos um notável documento, escrito, com as notas do seu diário, já publicadas na 1ª Série do nosso blogue: vd. poste de 14 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVI: O meu diário (Zé Teixeira) (fim): Confesso que vi e vivi.

Guiné 63/74 - P2675: As novas emoções daquela terra vermelha, Fevereiro/Março de 2008 (Paulo Santiago) (1): Este ano foi uma festa, fui um felizardo

Guiné- Bissau > Região de Tombali > Contabane > Sinchã Sambel > 3 Março de 2008 > "Eu, o Pedro Lauret com o régulo Suleimane Baldé, régulo de Contabane, e outros habitantes da tabanca"


Guiné-Bissau > Bissau > Eu e o coronel Paulo Malu.

Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palce > 3 de Março de 2008 > Abertura do Simpósio,tendo ao meu lado esquerdo, o jornalista do Correio da Manhã, José Carlos Marques; à direita, um dos
ex-militares de Guiledje, o Sérgio Sousa; à minha frente, pelado como eu, o cubano Ulisses Estrada.

Conversando com a senhora Isabel Buscardini, Ministra dos Antigos Combatentes da Liberdade da Pátria, que nos acompanho na visita ao sul da Guiné-Bissau.

Fotos: © Paulo Santiago (2006). Direitos reservados.


1. Mensagem do Paulo Santiago (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72), que voltà Guiné, em Fevereiro e Março de 2008, tendo partiicpado no Simpósio Internacionald e Guiledje (1 a 7 de Março de 2008):


Luís, Briote e Vinhal

Ainda ando a digerir a viagem à Guiné. Contrariamente,ao acontecido em 2005 (1), este ano foi mais soft,não fui em romagem àquela GMC, transformada em túmulo (2). O ex-quartel, agora estalagem, no Saltinho com o Memorial da CCAÇ 2406, já não mexeu com o meu saco lacrimal. Mas, há sempre novas emoções naquela terra.

Há três anos conheci alguns antigos guerrilheiros,estive no quartel de Bambadinca, convivi com militares, nunca escondendo a minha condição de ex-combatente, nunca tendo sido hostilizado, sempre recebido com prazer e cordialidade. O meu filho,meu único acompanhante, português, ficou também apanhado por aquelas gentes e aquela terra vermelha.

Este ano foi diferente. Este ano era oficial, era único. Ex-combatentes Portugueses, Guineenses e Cubanos, que há quarenta anos,nas matas e tarrafos,lutavam em campos opostos,encontrarem-se em Bissau,em Guiledje, em Jemberem, na presença da Ministra dos Antigos Combatentes, Senhora Isabel Buscardini, foi uma Festa. Foi um grande Ronco. E, nas tabancas, não eram só ex-guerrilheiros, também lá estavam ex-milícias e ex-militares que combateram ao nosso lado.

No porto de Canamine, estava o Régulo da zona, ex-fuzileiro do Destacamento 22 e em Cacine ouvimos, grande lucidez, um antigo militar de uma Bateria de Artilharia, mobilizado para Angola, regressado à Guiné em 74 e escolhido pelas autoridades Portuguesas, no fim das hostilidades, para servir de elo de ligação entre aquelas e o PAIGC. Na altura, dizia-nos na presença de
militares guineenses, a sua situação ficou algo complicada, hoje está perfeitamente integrado, lamentando apenas nunca ter recebido qualquer compensação de Portugal.

No regresso a Bissau, 2ª feira, dia 3 de Março, parei em Sinchã Sambel, já lá parara no sábado, mas não encontrara o Régulo de Contabane, Suleimane Baldé, meu amigo e meu ex-Cabo no Pel Caç Nat 53. Mais uma festa. No Domingo telefonara para o Cor Carlos Clemente, em Lisboa, dizendo "o Santiago já cá passou ontem, volta a passar amanhã, vocês da [CCAÇ] 2701 é que nunca mais cá voltam"...

O bom do Suleimane queria dar-me uma cabra, tive de argumentar que não podia trazer o animal para Bissau, então queria matá-la e esfolá-la para a meter-mos no jipe, desculpei-me com o tempo que era escasso para chegar-mos a Bissau à abertura do Simpósio.

O Pedro Lauret, meu acompanhante no jipe, encontrara,entretanto,dois civis, agora residentes em Sinchã Sambel,e em 73, milícias em Guiledje. Tinham sido transportados para Cacine no Orion naqueles dias tumultuosos [, sendo o Pedro Lauret o imediato do navio].

Por falar no jipe, mais um agradecimento a um amigo. Na 6ª feira, no Aeroporto, o Pepito quando lhe perguntei qual era o meu transporte para Guiledje, informou-me que já não havia lugar nos carros, pensava que eu ía no carro que me transportara desde Portugal. Acontece que os amigos de Coimbra com quem fora, não iam ao Simpósio, estava apeado. Valeu-me o Sado Baldé, grande amigo, que me disse de imediato "levas o meu jipe e vou arranjar-te um condutor"... O condutor foi um jovem, o Papé, mandinga, filho do Cor do EMGFA, Braima Sanhá, que conheci depois em Bissau, muito culto,e antigo comandante na Frente Sul. Foi um condutor excelente, o Papé, para mim e para o Pedro.

Voltando a Sinchã Sambel, lá me despedi do Suleimane,dizendo-lhe,se tivesse oportunidade, voltaria na 5ªfeira para levar a cabra. Arrancámos com destino a Bissau. Logo à frente,ao passarmos ao lado da estalagem do Saltinho, fazem-nos sinal para parar. Era o Xico Allen, o Pimentel e o João Rocha que estavam bebendo uns copos com uns militares. Um destes, Major, comandante do Sector de Contabane, balanta, exprimia-se com grande fluência, parecendo ter nascido e vivido em Portugal, e, como bom balanta, bebia bem. Diz-me a mim e ao Pedro chamar-se Alfama.
- Sabes porque tenho este nome ? Quando era puto,em Tite, o Fabião,Capitão naquele tempo,levou-me para o quartel,e como morava em Alfama deu-me esse nome. Ainda hoje, depois dos anos da guerrilha, considero que foi o meu pai.

Já atrasados seguimos para Bissau sem mais paragens.

À tarde foi a Abertura Oficial do Simpósio no Bissau Palace, onde não gostei da postura do Embaixador de Portugal.Parece que na audiência concedida pelo Presidente Nino,o mesmo senhor, não teve comportamento adequado [para com os seus compatriotas].

Gostei do que ouvi e aprendi nas intervenções e nos debates. Foi uma semana vivida intensamente.

Tive tempo para falar com o Paulo Malu (2), mas é conversa para outra altura. Não precisei de ficar num hotel em Bissau, fiquei em casa do meu irmão mais negro, Domingos Pereira, meu colega da Escola Agrícola, director de produção da Cicer, [a fábrica de cerveja] que reabre em Maio. Sou um felizardo.

Abraço

Paulo Santiago
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Notas de L.G.

(1) Sobre a viagem do Paulo e do João Santiago, em 2005, vd. posts de:

26 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P914: As emoções de um regresso (Paulo Santiago, Pel Caç Nat 53) (1): Bissau

29 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P923: As emoções de um regresso (Paulo Santiago, Pel Caç Nat 53) (2): Bambadinca

30 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P926: As emoções de um regresso (Paulo Santiago, Pel Caç Nat 53) (3): Saltinho e Contabane

5 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P938: As emoções de um regresso (Paulo Santiago, Pel Caç Nat 53) (4): branco com coração negro no Rio Corubal

12 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P955: As emoções de um regresso (Paulo Santiago, Pel Caç Nat 53) (5): O pesadelo da terrível emboscada de 17 de Abril de 1972

13 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P957: As emoções de um regresso (Paulo Santiago, Pel Caç Nat 53) (6): De volta ao Saltinho, Bambadinca e Bissau

20 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P975: As emoções de um regresso (Paulo Santiago, Pel Caç Nat 53) (7): ainda as trágicas recordações do dia 17 de Abril de 1972

2) Paulo Malú, hoje coronel, e quadro superior das alfândegas, em Bissau; em 1972, era o comandante ou chefe do bigrupo que emboscou, no Quirafo, forças da CART 3490 (Saltinho, 1972/74), causando mais de duas dezenas de mortos e um prisioneiro (o nosso António da Silva Batista, só libertado em depois do 25 de Abril de 1974)

Vd. poste de 12 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1947: O Coronel Paulo Malu, ex-comandante do PAIGC, fala-nos da terrível emboscada do Quirafo (Pepito / Paulo Santiago).

Sobre a tragédia do Quirafo, vd. também os seguintes postes de:

17 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1962: Blogoterapia (25): Os Quirafos do nosso Passado (Torcato Mendonça / Virgínio Briote)

21 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1980: Blogoterapia (26): Os nossos fantasmas, os nossos Quirafos (Virgínio Briote / Torcato Mendonça/Luís Graça)

23 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P980: A tragédia do Quirafo (Parte I): o capitão-proveta Lourenço (Paulo Santiago)

25 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P986: A tragédia do Quirafo (Parte II): a ida premonitória à foz do Rio Cantoro (Paulo Santiago)

26 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P990: A tragédia do Quirafo (parte III): a fatídica segunda-feira, 17 de Abril de 1972 (Paulo Santiago)

28 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1000: A tragédia do Quirafo (Parte IV): Spínola no Saltinho (Paulo Santiago

15 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1077: A tragédia do Quirafo (Parte V): eles comem tudo! (Paulo Santiago)

Guiné 63/74 - P2674: Recortes de imprensa (3): José Carlos Marques, do Correio da Manhã, em Gandembel e Guileje, embeded nas NT







Guiné-Bissau <> Cananime > Simpósio Internacional de Guileje > Visita ao sul > 2 de Março de 2008 > Depois de um excelente almoço, de carne e peixe, na praia de Cananime, alguns de nós quiseram dar um salto, de barco, à outra margem do Rio Cacine, justamente para visitar a povoação de Cacine. O jornalista do Correio da Manhã, José Carlos Marques, foi um dos privilegiados turistas... Foi de Lisboa para Bissau, connosco, de avião. Andou connosco. Regressou connosco. Sempre discreto e afável. Só foi pena o jornal tê-lo posto da Residencial Coimbra... Podia ter ficado connosco no Hotel Azalai...


Fotos e legendas: ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados.

1. Em 15 de Abril de 2007, demos início a uma nova série, Recortes de imprensa, de que se publica agora o nº 3 (*)... O jornalista José Carlos Marques foi o único jornalista da imprensa escrita, diária, portuguesa, a acompanhar-nos durante a semana em que decorreu o Simpósio Internacional de Guiledje (de 1 a 7 de Março de 2008).

Eis o que ele escreveu sobre Gandembel e Guileje, bem como sobre a inauguração do Simpósio, que contou com a presença do Chefe de Estado guineense, João Bernardo Vieira 'Nino'.


2. Recortes de imprensa (*) > Guiné-Bissau: Recordar a Guerra do Ultramar
Regresso ao corredor da morte


José Carlos Marques

Correio da Manhã, 4 de Março de 2008


Há uma multidão à espera dos jipes que desafiam as estradas de terra batida do sul da Guiné. Os portugueses são esperados com expectativa, sobretudo um deles: Alexandre da Costa Coutinho e Lima, o último comandante do quartel de Guiledje, o homem que, a 22 de Maio de 1973, após cinco dias de cerco e bombardeamento do PAIGC, decidiu evacuar militares, população e abandonar o quartel.

O régulo, líder tradicional da aldeia, abraça-o. O papel que Umaru Jaló tem na mão mostra o apreço pelos portugueses: ali estão os nomes de todos os comandantes militares de Guiledje desde 1964. Coutinho e Lima é engolido pela multidão. Todos o querem cumprimentar. Emocionado, o antigo comandante do quartel retribui.

Em 1973, o então major desrespeitou as ordens do general Spínola, comandante-chefe militar da Guiné, que lhe ordenou que resistisse ao cerco. Coutinho e Lima escolheu retirar-se. Seiscentos militares e civis fugiram para Gadamael Porto, a guarnição mais próxima. Foi preso e teve de enfrentar processo disciplinar, que acabou arquivado.
- Não me arrependo de nada. Tomei a decisão de abandonar Guiledje para poupar as vidas dos meus homens e a da população. Voltava a fazer tudo outra vez - explica ao CM.

Pouco depois, numa cerimónia simples mas cheia de significado, recebeu do régulo de Guiledje uma túnica branca – cor dos mais velhos e sábios.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém > Três homens felizes, fotografados com a estatueta, em metal, da santa protectora dos Gringos de Guileje, encontrada nas escavações arqueológcias do antigo aquartelamento de Guileje... Da esquerda para a direita: José Carioca, Abílio Delgado e Sérgio Sousa...

Foto e legenda: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.


O regresso a Guiledje é um momento sentido por outros três ex-combatentes. Abílio Delgado, Sérgio Sousa e José Carioca cumpriram ali serviço militar entre Setembro de 1971 e Julho de 1973. Com 21 anos, Abílio Delgado, o mais jovem capitão do Exército português, comandava a companhia dos Gringos de Guiledje. 150 homens habituaram-se a viver sob ameaça permanente:
-O período mais longo que estivemos sem ser bombardeados não passou de 15 dias. Havia sempre morteiros a cair e passávamos a vida escondidos nos abrigos - lembra.

A companhia teve duas baixas em combate, mas conseguiu aguentar o quartel até ao fim da comissão. Foram a última companhia a consegui-lo. Os militares que os substituíram, os Piratas de Guiledje, comandados por Coutinho e Lima (**), abandonaram.

O que hoje é um amontoado de ruínas e restos de munições era o ponto nevrálgico da guerra na Guiné. O corredor de Guiledje – a que os portugueses chamavam corredor da morte e o PAIGC corredor do povo – era a zona por onde a guerrilha fazia entrar todos os reabastecimentos oriundos das bases na Guiné-Conacri.
- A perda de Guiledje foi um ponto de viragem. Tornou-se claro que o exército português nunca conseguiria ganhar a guerra - diz o historiador guineense Leopoldo Amado, um dos participantes no Simpósio Internacional que começou ontem em Bissau, e que junta ex-combatentes dos dois lados do conflito e investigadores para debater a mais violenta guerra que os portugueses travaram em África.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Antigo aquartelamento de Guileje > 1 de Março de 2008 > O Cor Art, na situação de reserva, Coutinho e Lima, antigo comandante do COP 5, e o historiador guineense Leopoldo Amado.

Foto e legenda: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.


COMANDANTES APERTAM AS MÃOS

O presidente da Guiné-Bissau, Nino Vieira, inaugurou ontem na capital do país o Simpósio Internacional sobre o Guiledje. Até sexta-feira, ex-combatentes guineenses, portugueses, cabo-verdianos e cubanos, e investigadores de várias nacionalidade, vão debater o momento crucial da guerra na Guiné, quando o PAIGC começou a ganhar supremacia militar sobre o exército português.

Nino Vieira era, há 35 anos, o comandante das forças guerrilheiras no sul, e foi ele quem comandou o ataque ao quartel de Guiledje. Recordou que “foi uma oportunidade de demonstrar a vitalidade dos valores da luta e a unidade do PAIGC”. Na altura teve a oportunidade de apertar a mão a Coutinho e Lima, o oficial que comandava o quartel de Guiledje.

VIAGEM DE EMOÇÕES

Durante dois dias, uma extensa comitiva percorreu os lugares mais marcantes da guerra no sul da Guiné. Uma das paragens mais emotivas aconteceu em Gandembel, o aquartelamento que os portugueses abandonaram em Janeiro de 1969, após terem sofrido cerca de 370 ataques em 9 meses. O cabo enfermeiro José Teixeira, que fez serviço militar nesta zona, deixou no local uma planta com uma mensagem inscrita: “Guineenses e portugueses, dois passos um rumo: paz”

AQUARTELAMENTO DO PAIGC

Os ex-combatentes portugueses tiveram este domingo a oportunidade de perceber como é que o inimigo vivia na mata. A visita ao Acampamento Osvaldo Vieira, nome de um combatente do PAIGC caído em combate, deu a conhecer a forma como a guerrilha se organizava e como executava as suas acções. Mulheres como Ulé Nabila, hoje com 60 anos, asseguravam a alimentação e a logística dos homens que viviam no mato.

A SANTA DE GUILEDJE

Na semana passada, a equipa que está a fazer o levantamento das ruínas do quartel de Guiledje encontrou uma figura metálica de Nossa Senhora. O achado foi imediatamente identificado pelos três elementos dos Gringos de Guiledje:
- É a Virgem que os açorianos da nossa companhia esculpiram e que nos servia de protectora - lembra José Carioca.

A peça vai fazer parte do espólio do futuro museu de Guiledje.

José Carlos Marques, Enviado Especial (Guiné-Bissau)

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Notas de L.G.:

(*) Vd.postes anteriores:


15 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1663: Recortes de imprensa (1): As nossas mulheres e o stresse pós-traumático de guerra (Zé Teixeira)

1 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2599: Recortes de imprensa (2): O Simpósio de Guileje visto hoje pelo Diário de Notícias (Virgínio Briote)

(**) O então major Coutinho e Lima era o comandante do COP 5... O comandante dos Piratas de Guileje, a CCAV 8350, era o capitão miliciano Abel Quintas... Vd. poste de 30 de Julho de 2007 >
Guiné 63/74 - P2007: Três homens de Guileje: Nuno Rubim, J. Casimiro Carvalho e Abel Quintas

Guiné 63/74 - P2673: Uma semana memorável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (10): Guiledje: Homenagem ao Coronel Coutinho e Lima


As autoridades civis e relgiosas locais acabam de chegar para a cerimónia de homenagem a Coutinho e Lima. Aqui posam para a fotografia....

Os homens grandes da região, represantando a população de Guileje....


















Diz-me o Pepito que "quem doou, em nome da população, o chabadora (nome do tal fato) foi o régulo de Medje (Mejo), Umarú Djaló. Logo atrás dele, com um lenço à volta da cabeça está o filho do famoso Tcherno Rachid, de seu nome Aladje Tcherno Aliu Djaló, responsável religioso de Quebo. À esquerda deste, com a cabeça empinada para a frente é o Aladje Mamudu Baldé, régulo de Foreá-Quebo".. Tenho pena de não poder identificar todos estes rostos...

O Pepito e a senhora Isabel Buscardini... Em segundo oalno, Isabel Miranda.

A senhora Ministra dos Antigos Combatentes da Liberdade da Pátria, Isabel Buscardini...


Uma antiga combatente, hoje deputada do PAIGC... Em segundo plano, vê-se o antigo embaixador de Cuba na Guiné-Conacri, Oscar Oramas...

A Francisca Quessangue... Em segundo plano, uma professora universitária guineense que vive hoje no Brasil....

A Maria Alice Ferreira Carneiro, esposa do Luís Graça....

O representante da Embaixada de Portugal na Guiné-Bissau, o nº 2 na hierarquia... (Não fixei o nome.)

Roberto Quessangue, presidente da Assembleia Geral da AD - Acção para o Desenvolvimento, e que desempenhou nesta cerimónia o papel de interface entre a comissão organizadora do Simpósio e a comunidade local de Guiledje.
Na primeira fila, com direito a cadeira, o Cor Art Coutinho e Lima, envergando já o chabadora, que Umaru Jaló, régulo de Mejo, lhe impôs, como sinal de gratidão e de homenagem da população local.




















Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Simpósio Internacional de Guiledje > 1 de Março de 2008 > Antigo aquartelamento e tabanca de Guiledje, abandonado pelas NT em 22 de Maio de 1973. A decisão do então major Coutinho e Lima, comandante do COP 5, de abandonar Guileje, fortemente cercado pelas forças de artilharia e de infantaria do PAIGC, é hoje reconhecida pela população local (maioritariamente fula) como um acto de bom senso e de humanidade, que permitiu salvar muitas centenas de vida, de um lado e de outro. Neste vídeo, vemos o Cor Art, na situação de reserva, Coutinho e Lima, receber as homenagens da população local. Umaru Jaló, o régulo de Mejo, veste-lhe a tradicional chabadora, uma distinção que só pode ser conferida a homens santos e sábios... Coutinho e Lima é aqui descrito como "um grande homem que nos salvou"... A cerimónia, singela, termina com vivas aos dois povos, português e guineense... As autoridades civis e religiosas da região assistiram è cerimónia. Para mim, foi um regresso ao passado, ao chão fula que eu conheci na zona leste, há 40 anos atrás, um retorno ao mundo patriarcal, fortemente hierarquizado dos fulas, donde as mulheres são apartadas da vida pública...

Vídeo (1' 35'): © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Alojado em: You Tube >Nhabijoes






Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Simpósio Internacional de Guiledje > 1 de Março de 2008 > Coutinho e Lima, que diz ser um homem mais de acção do que de palavras, agradece emocionado a distinção que acaba de receber. Segundo ele me confidenciou, a população de Guileje não queria abandonar os seus haveres, a sua tabanca, as suas moranças... A verdade é que, ao fim de cinco dias a viver nos abrigos, a população local e os militares portugueses, sem água, sem transmissões, sem apoio aéreo, com um morto, e com a artilharia a acertar em cheio nas instalações de superfície, dificilmente poderia resistir muito mais tenpo... Na época, o comportamento de Coutinho e Lima foi considerado como insólito e dificilmente aceitável pelos seus próprios camaradas... É sabido que foi imediatamente detido à sua chegada a Gadamael, por ordem de Spínola...

Vídeo (3' 05'): © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Alojado em: You Tube >Nhabijoes

(Continua)
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Nota do editor:

Vd. postes de:

8 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2618: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (1): Regresso a Bissau, quatro décadas depois...

9 de Março de 2008> Guiné 63/74 - P2620: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (2): O Hino de Gandembel, recriado pelos Furkuntunda

9 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2621: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (3): Pequeno-almoço no Saltinho, a caminho do Cantanhez

11 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2625: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (4): Na Ponte Balana, com Malan Biai, da RTP África

14 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2640: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (5): Um momento de grande emoção em Gandembel

16 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2650: Uma semana involvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (6): No coração do mítico corredor de Guiledje

17 de Março de 2008 > Guine 63/74 - P2655: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (7): No corredor de Guiledje, com o Dauda Cassamá (I)

17 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2656: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (8): No corredor de Guiledje, com Dauda Cassamá (II)

19 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2667: Uma semana memorável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (Luís Graça) (9): O grande ronco de Guiledje

sábado, 22 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2672: De Guidaje para Bissau, trinta e cinco anos depois (Diário de Coimbra / Carlos Marques dos Santos)

Os restos mortais dos nossos Camaradas enterrados em Guidage

Enviado pelo Carlos Marques dos Santos


Diário de Coimbra, edição de 22 de Março de 2008.
Antropóloga de Coimbra chefiou exumação de restos mortais de militares portugueses

A antropóloga forense Eugénia Cunha, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, coordenou a missão técnica que terça-feira exumou os restos mortais de dez militares portugueses enterrados há trinta e cinco anos em Guidaje, na Guiné-Bissau, na sequência de violentos confrontos.

Na quarta-feira e depois de duas semanas de trabalho, chegaram a Bissau os restos mortais de dez antigos militares numa operação financiada pela Liga de Combatentes de Portugal no âmbito do programa Conservação de Memórias, que prevê sepultar com dignidade antigos combatentes portugueses sepultados fora do país.
Na Guiné-Bissau, mais de setecentos ex-militares portugueses estão sepultados pelo território, tendo a operação em Guidage a primeira fase desta operação de recolha e identificação de restos mortais de antigos combatentes no país.
A iniciativa que colocou no terreno quatro antropólogos, um geofísico e uma arqueóloga (irmã de um dos soldados exumados) conta com o apoio do Ministério da Defesa, da Universidade de Coimbra e do Instituto Nacional de Medicina Legal. Os resultados dos exames efectuados para ajudar a identificar os antigos combatentes serão conhecidos dentro de um mês.
A antropóloga Eugénia Cunha, conhecida também por ter pedido em 2006 para levantar o túmulo do Rei D. Afonso Henriques para fins científicos, explicou que o próximo passo, depois de exumados os restos mortais dos antigos militares, passa por uma “análise antropológica laboratorial e a realização dos relatórios e possível identificação das ossadas”. “Da parte antropológica dentro de um mês podemos ter resultados, da parte da genética é mais demorado”, sublinhou.
Questionada sobre a relativa rapidez com que decorreu o processo, em duas semanas, Eugénia Cunha comentou que “cada caso é um caso”, observando no entanto que a operação não foi rápida. “Conseguimos conjugar na mesma equipa competências diversas da geofísica, da antropologia e da arqueologia e tivemos uma equipa da missão que foi para o terreno uma semana antes e que preparou tudo, ou seja, em termos logísticos nós não nos preocupámos com nada”, explicou.
Sobre o processo de exumação de restos mortais, a antropóloga da Universidade de Coimbra referiu que decorre em três fases, sendo que a primeira é a detecção dos restos humanos, feita pelo geofísico com um radar, que aponta um local. “Depois entra a parte da arqueologia que consegue encontrar os limites das sepulturas e depois de delimitadas e definidas as áreas onde as pessoas estão enterradas, o antropólogo faz a escavação, que pode ser mais ou menos difícil, dependendo do tipo de solo, do terreno, humidade, temperatura, estado de conservação do corpo”, disse.
Sobre as dificuldades encontradas no terreno, Eugénia Cunha afirmou que foram “muitas, a começar pelo clima da Guiné-Bissau”. “Facilidades não houve nenhumas. Encontrámos foi uma equipa de missão que nos conseguiu proporcionar o melhor que conseguiram mas, obviamente, foi bastante complicado”, concluiu.
Os dez antigos militares portugueses serão sepultados no cemitério de Bissau. O vice-presidente da Liga dos Combatentes anunciou entretanto que a exumação de restos mortais de ex-combatentes portugueses na Guiné-Bissau vai continuar e que a próxima missão será na localidade de Farim, onde estão sepultados vinte e um militares.
Questionado sobre a eventual trasladação de corpos para Portugal, o general Lopes Camilo explicou que o que está “definido politicamente, e com que a Liga concorda, é que devemos recuperar e manter com dignidade os locais onde se encontram sepultados os combatentes que tombaram no estrangeiro”.
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Notas: A nossa homenagem a quem teve a ideia e a quem a está a pôr em prática.

Sublinhados da responsabilidade de vb. Sobre este assunto ver artigos de
1 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2600: Os Mortos de Guidaje nas Notícias Lusófonas. Rui Fernandes.

28 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P919: Vamos trasladar os restos mortais dos nossos camaradas, enterrados em Guidage, em Maio de 1973 (Manuel Rebocho)

25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto
9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida

2 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1488: Vídeos (1): Reportagem da RTP sobre os talhões e cemitérios militares no Ultramar (Jorge Santos)

28 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1468: Mortos que o Império teceu e não contabilizou (A. Marques Lopes)