segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3128: Antropologia (8): Exposição Bijagós no Museu Afro Brasil, São Paulo

Mensagem do dia 22 de Julho de 2008 da Casa da Guiné em Coimbra (1), recebida no nosso Blogue:

Exposição Bijagós - A arte dos povos da Guiné-Bissau, no Museu Afro Brasil
São Paulo, início 19 de Julho de 2008








Máscara Vaca-Bruto, madeira policromada, chifre, vidro e fibra vegetal



Bijagós: mestres da escultura

A Associação Museu Afro Brasil e a Secretaria de Estado da Cultura apresentam a exposição Bijagós – a arte dos povos de Guiné-Bissau, em cartaz no Museu Afro Brasil de 19 de Julho a Novembro de 2008. São exibidas 78 peças de uso ritualístico e em festividades, todas elas recém adquiridas pela instituição. Com curadoria de Emanoel Araújo, a mostra reúne máscaras, adornos de cabeça, de costas e de braço, estatuetas, lanças e espadas confeccionadas pelos povos Bijagós, habitantes das ilhas da costa de Guiné-Bissau, na região mais ocidental do continente africano. A exibição é acompanhada de catálogo, textos de parede e acções educativas.

As obras produzidas pelos Bijagós têm o reconhecimento crítico internacional pelas qualidades e particularidades escultóricas. A equipa do Museu Afro Brasil criou vitrinas especialmente para a exposição em uma das salas no primeiro pavimento da instituição.

A exposição, segundo Emanoel Araújo, centra-se mais nos aspectos artísticos do que em questões antropológicas. As peças, adquiridas em Portugal, proporcionam ao público uma visão abrangente do que os Bijagós realizam artisticamente e para efeitos de religião e festividades.

O encanto das obras atrai o espectador pela habilidade técnica, uso de materiais diversos e as representações às quais recorrem os povos Bijagós. As referências à natureza nas peças são abundantes. Muitas obras, feitas com madeira, fibras vegetais, tecidos e metais, remetem aos tubarões, peixes-serras, vacas, hipopótamos, pelicanos, etc. Chamam a atenção ainda o domínio das cores e a liberdade expressiva.

Para o professor da Universidade Nova Lisboa, membro da Academia de História e da Academia Nacional de Belas Artes de Portugal, Mário Varela Gomes, a actividade artística dos povos Bijagós não é uma profissão, mas uma vocação que responde ao carácter sócio-religioso. Em texto produzido para a exposição no Museu Afro Brasil, afirma que:

- Podemos concluir que a florescência artística dos Bijagós, documentada ao longo de mais de um século, onde a fantasia, a exuberância e a liberdade se fundem e tanto a caracteriza, se deve à presença do mar como elemento dominante da cultura.

Obras expostas

Lanças e espadas
São esculpidas em madeira e utilizadas em cerimónias tanto por rapazes como pelas jovens. A decoração é feita com cores ou escurecidas a fogo. Medem de 1,10 a 1,60m.

Máscaras
Muito frequentes nas festividades, a mais divulgada é a designada por Vaca Bruto, que representa uma cabeça de boi. Talhada em madeira, com chifres autênticos, olhos de fundos de garrafa. Há máscaras que representam ainda tubarões, porcos, hipopótamos e outros animais.

Adornos de cabeça para dança
Os adornos revelam bem a fantasia e a liberdade de temas escolhidos pelos Bijagós. São confeccionadas com madeira policromada, fibra vegetal, tecido, chifre, couro.

Adornos de costas para dança
São utilizados em festas e alguns medem mais de um metro de comprimento. A variedade na representação é grande: tubarão, pássaro, barco, vaca, hipopótamo. São realizados com madeira policromada, tecido, fibra vegetal e espuma.

Adornos de braço para dança
Discos de madeira com orifício central utilizados pelas moças e rapazes dos povos Bijagós. O material utilizado para a confecção das peças é a madeira policromada e entalhada.

Estatuetas
As peças pertencentes ao acervo do museu representam figuras femininas. As esculturas foram feitas com madeira e têm carácter religioso.







Adorno de Braço Egborá, madeira policromada




Os Bijagós somam mais de 27 mil pessoas e integram a República da Guiné-Bissau, situada na costa ocidental africana, banhada pelo Oceano Atlântico. Os povos encontram-se milenarmente em cerca de 88 ilhas e ilhotas próximos do estuário do Rio Geba, o qual banha a capital do país, Bissau. Guiné-Bissau, ex-colónia portuguesa declarou independência unilateralmente em 1973, após conflitos violentos.

Os Bijagós têm uma língua própria, apesar de o português ser considerado de domínio nacional. A palavra a qual dá nome à cultura significa o povo perfeito.

A Unesco reconheceu a região como Reserva Biosférica em 1996.





Máscara Égomore, madeira policromada e fibra vegetal



Mesmo com o esforço secular da islamização e da cristianização, a maioria dos povos Bijagós possui uma religião em que a divindade suprema é Nindo ou Iani, o que se traduz em o céu ou a claridade solar. O papel protagonista da mulher é fundamental para a compreensão da religião.

Há estudiosos que creditam aos Bijagós o termo de escultores dos espíritos pelo domínio técnico, artístico e religioso conferido aos objectos sacros ou receptáculos, conhecidos como irãs.

Entre os Bijagós há oito classes de idades que correspondem a períodos de evolução espiritual e social. Os objectos exibidos na exposição do Museu Afro Brasil podem servir de exemplo para a compreensão de suas particularidades e utilizações por faixa etária e de sexo em rituais específicos de passagem de uma faixa etária à outra, que varia segundo o gênero. Os Bijagós acreditam que depois da morte a alma vagueia na selva até assentar-se numa escultura, que também é chamada de espaço estável.
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Notas de CV

(1) - Vd. poste da tomada de posse do Doutor Julião Soares Sousa como Presidente da Casa da Guiné-Bissau em Coimbra, de 8 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3033: Convite (6): Tomada de posse dos Orgãos Sociais da Casa da Guiné-Bissau em Coimbra

(2) - Vd. último poste da série 23 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3089: Antropologia (7): As tabuinhas das escolas corânicas: tradutor de árabe, precisa-se (A. Santos / Luís Graça)

Guiné 63/74 - P3127: Memórias da CCAÇ 555, Cabedú 1963/65 - I Parte: Baptismo de fogo junto à Ilha do Como (Norberto Costa)



Norberto Gomes da Costa
ex-Fur Mil At Inf
CCAÇ 555
Cabedu
1963/65


1. Mensagem do nosso camarada Norberto Gomes da Costa, Mestre em História, enviada no dia 17 de Julho de 2008 e dirigida ao nosso Editor Luís Graça.

Meu caro Luís,

Vou enviar-te, então o texto de que te falei. É um trabalho despretensioso que tenta, na primeira pessoa, abordar a guerra pelo lado humano, relatando memórias soltas, sem qualquer preocupação cronológica, (neste caso, dum microcosmos constituido por uma companhia de cento e tal homens, inserida numa determinada região e que se relaciona com uma pequena, mas multi-étnica, comunidade indígena, referindo, ainda assim, pois era para isso que lá estávamos, algumas escaramuças mais complicadas. Aliás, tu como sociólogo e de reconhecidos méritos, também estás, estou certo, mais interessado nesse aspecto - e basta ver os blogs, ao aceitar testemunhos dos dois lados da barricada, para o comprovar - , do que na parte bélica (quem matou mais ou menos, quem ganhou ou perdeu).

O trabalho está dividido em capítulos que correspondem aos temas que decidi abordar, não tendo, apesar disso, esses capítulos, autonomia própria, pois fazem parte de um todo. Porém, o que tu e os nossos amigos que contigo colaboram na edição de textos decidirem está bem decidido. O texto já tem várias fotos integradas, umas estão relacionadas com os temas, outras nem por isso.

À parte, envio-te, como me pediste, duas fotografias minhas (uma desses tempos, outra de agora).

Para qualquer assunto que aches necessário entrar em contacto comigo, além do e-mail que conheces, o meu telefone e os meus telemóveis. (*)

Um abraço (já agora, um alfa bravo).
Norberto Costa



2. Memórias da CCAÇ 555 - Parte I



Guerra da Guiné > Memórias da CCAÇ 555 > Cabedú, 1963/65

por Norberto Gomes da Costa



Fotos e legendas: © Norberto Costa (2008). Direitos reservados.


ÍNDICE

1 - Nota

2 - Introdução

3 - Guiné (1963/65)

4 - Cabedú


i-Acções Militares
ii-Relações Sociais
iii-Actividade Lúdica
iv-Alimentação
v-Acontecimentos Marcantes
vi-Dificuldades/Contras
vii-A despedida

5 - Conclusão

6 - Glossário

7 - Mapa da Guiné


1 - Nota


Por sugestão do nosso amigo capitão António Ritto (**), aventurei-me nesta “viagem” por terras da Guiné e, concretamente, por uma pequena localidade chamada Cabedú, no sul da Província, considerando o período temporal que vai dos fins de 1963 a Setembro de 1965, aquando da nossa estada aí, em tempo de guerra.

É de todo justo referir que o fiz com grande prazer. Foram cerca de dois anos de memórias que tive que procurar neste “arquivo” mental que, quer queiramos quer não, cada vez é mais fragmentário e, pior que isso, menos fiável.

Como digo na Introdução, a visão plasmada é a minha, as memórias foram aquelas que eu vivi, o quadro exposto é o que resulta da síntese que construí, enquanto militar da CCAÇ 555, e ainda guardo ao cabo deste quase meio século passado.

Refiro nomes, poucos, de companheiros que, duma maneira ou de outra, entram nas histórias que conto, ressalvando sempre, como é obvio, a omissão de outros, porventura tão ou mais intervenientes que estes, mas que se esfumaram (apenas nos acontecimentos, é claro) na poeira dos tempos.

A todos os companheiros dessa aventura e meus amigos (porque são todos meus amigos, quer constem ou não do documento que agora apresento), as minhas desculpas pelas eventuais insuficiências do trabalho, que são da minha inteira responsabilidade, e o meu muito obrigado.

Lisboa, Janeiro de 2008

Norberto Gomes da Costa


2. Introdução

O Estado Novo tinha como ponto de honra do seu programa político a conservação de todas as parcelas africanas integradas no todo nacional. Quando Salazar, no seu famoso discurso de Abril de 1961, afirmava que para Angola dever-se-ia “andar rapidamente e em força”, assumia, de maneira inequívoca, a intenção de jamais dar a independência aos territórios africanos ligados à Pátria Portuguesa.

Porém, o problema residia no facto de Portugal se encontrar, nesse aspecto, isolado, mesmo no contexto dos países da Europa Ocidental. Todos já tinham descolonizado e, como Salazar dizia, Portugal encontrava-se “orgulhosamente só”. Era inevitável a autodeterminação daqueles espaços e, como se constatou, era uma questão de tempo.

Nesse contexto, os movimentos independentistas apoiados, principalmente, pela União Soviética, pela China e outros países comunistas, preparavam-se para dar início às hostilidades, com o objectivo de tomar o poder pela força em Angola, Guiné e Moçambique. Em Março de 1961 rebenta a insurreição armada em Angola; em Janeiro de 1963, na Guiné; em Setembro de 1964, em Moçambique. Estava traçado o destino daquelas províncias ultramarinas portuguesas, como à altura se denominavam.

Este meu trabalho não pretende, de modo algum, fazer a história da guerra de África, nem tão pouco a da Guiné, mas tão só recuperar memórias da CCAÇ 555, memórias essas do dia-a-dia da Companhia, dos seus momentos difíceis, dos tempos de ócio, da vivência que cimentou a amizade e a solidariedade entre aquele grupo de jovens que um dia o destino quis que partissem para as bolanhas da Guiné, para defender um território que a História e o poder político diziam ser seu.

É um período temporal que vai do final de 1963 (o primeiro grupo chega a Cabedú nos últimos dias de 1963; o segundo e último, nos primeiros de 1964) a Setembro de 1965, partida para Bissau, a aguardar embarque para Lisboa.

Esta reflexão tenta distanciar-se, quanto possível, da relação institucional que todos mantínhamos com a Companhia, que pertencia ao batalhão que estava sedeado em Catió e que, por sua vez, estava enquadrado no sector sul, em última análise dependente do comando de Bissau. A história da Companhia, em certa medida, já foi feita e existe um texto, da autoria do capitão António Ritto, que trata pormenorizadamente todas as acções militares da CCAÇ 555, as relações institucionais com as autoridades civis das populações indígenas, toda a acção psicossocial desenvolvida, enfim, uma síntese do que foram, para o comando, os dois anos passados em terras da Guiné.

Por isso, chamo Memórias da CCAÇ 555 ao trabalho que me proponho desenvolver, memórias escritas, essencialmente, na primeira pessoa, soltas e não seguindo uma metodologia rígida, não cuidando de relatar tudo o que aconteceu – o que seria impossível, dado o espaço temporal que nos afasta dos acontecimentos (mais de 40 anos) -, dando uma visão, a minha visão, do que se passou, nas mais variadas situações do dia-a-dia, diversa com toda a certeza, em alguns aspectos, da que terá outro qualquer companheiro meu.

Estas memórias, que procuram não seguir a documentação amavelmente disponibilizada pelo comandante da Companhia, já que, como disse, esse trabalho já foi feito e bem feito, são baseadas recorrendo, quase exclusivamente, ao “arquivo” mental, que tento preservar, mas que, em cada ano que passa, se torna menos preciso. Ainda assim, e tendo como máxima que em história, com documentos escritos ou sem documentos escritos, não há certezas absolutas no discurso que se produz, procurarei a maior aproximação possível à realidade.

Se o conseguir, dar-me-ei por satisfeito. Falharei aqui e ali nos pormenores, mas o essencial está garantido, visto que as situações descritas aconteceram na realidade.


3. Guiné (1963/65)

Em Janeiro de 1963, seguindo uma estratégia delineada pelos movimentos independentistas com os apoios atrás referidos, o PAIGC (Partido Africano Para a Independência da Guiné e Cabo Verde), liderado por Amílcar Cabral, um engenheiro agrónomo formado em Portugal, assalta o quartel de Tite, a sul de Bissau, e dá início às hostilidades contra a soberania portuguesa.

Foto 2 > 4 de Novembro de 1963 > Chegada a Bissau


Cedo se tornou óbvio que a guerra na Guiné viria a ser um “bico de obra” para o Estado português, que pretendia, como se disse, manter na sua posse todos os espaços do território africano, que a História, desde as descobertas do século XV, lhe conferia.

Pequeno território com uma grande fronteira terrestre aberta à entrada e saída de guerrilheiros sedeados no interior e fora da Província; terreno pantanoso, recortado de rios e canais, por onde o mar entra na preia-mar, ocupando cerca de dois terços do seu solo e tornando difícil a mobilidade das tropas portuguesas; clima quente e húmido e, portanto, insalubre e causador de muitas doenças, tornavam a Guiné um teatro de guerra extremamente perigoso e, por conseguinte, pouco apetecido para os militares lusos mobilizados para a guerra de África. Estas são algumas de entre muitas dificuldades que a minha memória guarda, a acrescentar a um inimigo razoavelmente bem equipado e treinado, em comparação com o que se passava noutras províncias do Ultramar.

É, portanto, neste ambiente e contexto difíceis que um grupo de jovens oriundos do Norte a Sul do País, passando pelas Ilhas atlânticas, comandado por um igualmente jovem capitão do exército, desembarca em Bissau no dia 4 de Novembro de 1963.

O governador da Província, se bem me lembro, era um homem da Marinha, o comandante Vasco Rodrigues. Como comandante-chefe estava o brigadeiro Louro de Sousa. Não muito depois, o general Arnaldo Schulz é empossado nos dois cargos, que ocupa, pelo menos, durante todo o tempo da nossa comissão.

O palco estava montado. Qual seria o nosso destino no teatro de operações? Como iriam decorrer os dois anos que se seguiriam? Eram as perguntas que todos fazíamos a nós mesmos, já que o principal objectivo a alcançar, em consciência, era regressarmos sãos e salvos para junto da nossa família e amigos. Se fosse possível cumprir, com alguma coragem e dignidade, os desígnios que superiormente nos eram impostos, tanto melhor.

A CCAÇ 555 chega assim à Guiné numa fase muito crítica do processo político-militar por que passavam as nossas colónias em África. A guerrilha estava presente em quase todo o território: tirando Bissau e uma área não muito extensa à sua volta, a Ilha de Bolama e o arquipélago de Bijagós, todo o resto sofria já ataques de alguma envergadura, pois, como se disse, o material que o inimigo possuía já era significativo.

Cerca de 2 meses em Bissau serviram para nos ambientarmos, para tomarmos consciência do que se passava no mato, enfim, para chegarmos à conclusão que não estávamos ali para passar umas férias numa qualquer estância de turismo. Mas, instalara-se o desânimo na Companhia? Nem pensar!..Tanto quanto me é permitido recordar, todos estávamos bem dispostos e minimamente preparados para o que “desse e viesse”. Claro que havia sempre os que, pelas circunstâncias de psicologicamente não serem tão fortes, se iam um pouco abaixo. Nada que os entertainers da Companhia (que os havia, sem dúvida!..), com umas brincadeiras à sua maneira, não resolvessem. A reserva moral do grupo, essa, estava no comandante da Companhia, como é evidente: o capitão Ritto esteve sempre à altura, na manutenção da coesão, na elevação da moral, sem violentar nenhuma consciência, nem tão pouco exercer autoritarismos, nas circunstâncias descabidos.

Um primeiro grupo rumou então a Cabedú, para fazer a transição da Companhia que íamos render, para a nossa. Terá sido nos últimos dias do ano de 1963, se, e mais uma vez, a memória não me falha. O restante, (dois pelotões?), de que fazia parte o signatário, embarca num batelão ou numa lancha da marinha (não posso precisar) no dia 31 de Dezembro do referido ano, fazendo uma viagem que havia de considerar-se perigosa, na medida em que os “turras” privilegiavam muito as margens dos rios e canais para fazerem os seus flagelamentos.

Então, junto da famosa ilha do Como, à altura considerada pelo PAIGC território libertado, fomos atacados com alguma violência, de que resultou um ferido grave, que estava (penso que a dormir) na coberta do barco e não recolhido, como a esmagadora maioria, no seu interior. Foi evacuado para Bissau e, posteriormente, para Lisboa. Foram momentos de certo pânico, mais pela descontracção que no momento reinava a bordo do que pela intensidade de fogo.

A uma distância temporal considerável, ainda hoje, tirando a infelicidade do nosso companheiro, considero ter sido um bom baptismo de fogo, que nos foi útil para o que se iria passar depois. Por coincidência, ou talvez não, o ataque dá-se precisamente no momento em que um grupo festejava a passagem de 63 para 64, saboreando uns belos paios e um bolo que me tinham sido enviados de Lisboa por familiares, acompanhados dumas boas cervejas.

Os “irresponsáveis” (deviam estar atentos às movimentações do inimigo, num lugar daqueles, e não a satisfazer as necessidades do estômago e da alma) na sua totalidade não os posso referir, mas há três de que tenho a certeza da sua presença: eu próprio, o Mário Ribeiro e o Alves. Não chegámos, como é óbvio, ao fim do repasto, ficando o resto das iguarias para mais tarde. A resposta foi boa e, passado algum tempo, tudo serenou e mais nada digno de realce aconteceria até ao nosso destino: o ainda desguarnecido aquartelamento de Cabedú, onde nos esperavam os nossos companheiros.

(Continua)

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Notas de CV:

(*) Números de telefones suprimidos na edição do texto, mas que se fornecem, particularmente, aos camaradas que nos contactarem para o efeito.

(**) Vd. poste de 16 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3063: Notícias da CCAÇ 555 (Cabedu, Out 1963/ Out 1965) (Norberto Gomes da Costa)

domingo, 10 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3126: Estórias do Juvenal Amado (14): Morteiro no meio da Parada de Cancolim



Juvenal Amado
Ex-1.º Cabo Condutor
CCS/BCAÇ 3872
Galomaro
1972/74



1. Mais uma estória do camarada Juvenal Amado (1) nos chegou. É também uma homenagem aos meninos de suas mães que deixaram a vida prematuramente.

Cancolim > Abrigo do Morteiro 81


O MORTEIRO NO MEIO DA PARADA

CANCOLIM


Nunca consegui compreender, o porquê da colocação do abrigo do morteiro 81 mm no meio da Parada.

Tal localização obrigava os apontadores e municiadores de Cancolim, a correrem debaixo do fogo inimigo, mais de trinta metros pela parada, sem qualquer protecção.

Esta Companhia não teve sorte em terras da Guiné.

Estava há talvez 15 dias em Cancolim, quando sofreu a primeira flagelação. Oito dias depois sofre outra. E precisamente oito dias depois, sofre um violento ataque de morteiros 82.

Tudo indica que as duas primeiras flagelações foram só para marcar o alvo e assim direccionar o tiro pesado desse dia.

Ia pernoitar em Cancolim como de costume, após coluna de reabastecimento.

Mal conhecia o destacamento, pois só lá tinha ido uma vez e ainda estávamos naquele período de adaptação operacional, enquadrados pelos velhinhos que íamos render.

Conhecia vagamente o Apontador de Morteiro Correia, amigo do meu irmão Ivo. Mas esse pequeno elo foi o suficiente para ser por ele adoptado sempre que ia em coluna, lá.

Estavam a construir umas instalações sanitárias junto à caserna do lado direito, para quem entrava no destacamento. Até aí, as nossas mais prementes necessidades fisiológicas tinham que ser feitas nuns buracos junto ao arame farpado e para tal, tínhamos que avisar a sentinela.

Tinha anoitecido há pouco, estava de conversa com alguns camaradas, junto das valas como era hábito. Naquele destacamento ninguém se recolhia antes das dez horas da noite.

De tempos a tempos ouviam-se tiros e rajadas dadas pelos sentinelas. Aquilo incomodava-me, pois era impensável que tal se fizesse em Galomaro.

Quando se pesca à cana, temos duvidas se o peixe morde se é o mar que faz estremecer a cana, mas quando é peixe mesmo não há duvida nenhuma. Assim é com um ataque. Ao primeiro som não temos duvidas.

O som das saídas de morteiro 82 do IN não deixam lugar para o talvez. Deixámo-nos cair para dentro das valas e abate-se sobre nós um dilúvio de ferro e fogo.

As explosões são seguidas, pois um apontador experiente pode pôr quatro ou cinco granadas no ar. Quando elas começam a cair, o efeito é devastador.

Penso que o nosso organismo tem meios de nos fazer ignorar parte do que se está a passar, pois ao ficarmos surdos, deixamos de ter a total percepção do inferno em que estamos.

Uns disparam as suas armas, outros choram e apelam para Nossa Senhora de Fátima (*), eu lá ia disparando a minha arma, estou aterrorizado.

O nosso morteiro responde ao fogo desde o primeiro momento, alguns camaradas atravessam a correr, em campo aberto, transportando cunhetes de granadas para municiar o morteiro.

Como invejei essa valentia.

Não sei quanto tempo durou, mas sei que foi demais.

Pouco a pouco, a violência do ataque abrandou.

O fumo, o pó e o cheiro, manteve-me muito tempo sem me mexer. Espreitava pelo bordo da vala para ver se descortinava o que se passava.

Havia mortos e feridos, foi a noticia que começou a correr pelas valas.

A madrugada com a sua luz redentora, mostrou-nos a destruição e os estilhaços espalhados por todos o lado.

Cancolim > Depois do ataque, não faltavam embalagens vazias de granadas espalhadas junto ao abrigo do morteiro 81

Estavam três camaradas mortos dentro de uma vala. Uma granada tinha rebentado dentro. Os seus corpos destroçados foram, como possível, depositados nos sanitários em construção.

Foi uma triste inauguração.

Essas obras ficaram muito tempo por concluir em memória dos nossos mortos. Havia feridos, falou-se num dos velhinhos ter ficado cego de um dos olhos e o próprio capitão novo (**), foi ferido ainda que ligeiramente no pescoço por um estilhaço.

Foram os nossos primeiros mortos em combate. A morte em combate nunca é limpa, ao contrário do que até ali tinha visto, nos filmes de cowboys e de guerra made in América.
Não os conhecia em vida e a imagem que guardo deles, é daqueles corpos desfeitos no chão das casas de banho por acabar.

Faz-me lembrar um poema sobre a Guerra, em que se fala no menino de sua mãe (***), também ali estavam estendidos os meninos de suas mães. Como a maioria nós nem barba tinham.

Tombaram assim no campo de batalha os nossos camaradas e é em memória deles esta estória.

José António Paulo - natural de Mirandela
João Amado - natural de Vieira de Leiria
Domingos de E. Santos Moreno - Natural de Macedo de Cavaleiros

(*) Também do lado dos guerrilheiros nos momentos de aflição se chamaria possivelmente por Fátima, neste caso a filha de Maomé.

(**) O capitão ferido veio a desertar logo de seguida, numa viagem que fez à Metrópole. Era um miliciano bastante querido pelos seus soldados e a imagem que tenho dele, é de um homem sensível que não foi talhado para guerreiro. Onde estiver desejo-lhe a melhor sorte.

Não foi culpado de maneira nenhuma pelo o que aconteceu e o que viu foi demais para ele.

Foi substituído mais tarde pelo Capitão Rosa também miliciano.

Este homem ficou famoso entre nós pela sua intervenção na reunião havida em Galomaro com o General Spinola.

O General, no seu discurso aos oficiais disse em dado momento que devíamos à Pátria o sacrifício, até das nossas vidas.

O então Capitão Rosa, dando voz ao que muitos pensavam, respondeu que a nossa Pátria é a que nos dá paz, bem estar e futuro e, aquela que o General referia, não era de modo algum essa.

Não posso jurar que tenham sido rigorosamente estas as palavras mas o fundamento foi o mesmo

(***) O MENINO DE SUA MÃE

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece
De balas trespassado
Duas, de lado a lado
Jaz morto, e arrefece

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
O menino de sua mãe.

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
É boa a cigarreira.
Ele é que já não serve

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
Que volte cedo, e bem!
(Malhas que o Império tece)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe

(Fernando Pessoa)
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Nota de CV:

(1) - Vd. último poste da série de 4 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3110: Estórias do Juvenal Amado (13): Pela calada da noite

Guiné 63/74 - P3125: História de vida (14): Norberto Tavares de Carvalho, O Cote: do PAIGC ao exílio (A. Marques Lopes)


O Cor DFA Ref A. Marques Lopes, nosso amigo e camarada, juntamente com o Norberto Tavares de Carvalho, O Cote, que nasceu no Xime, foi líder estudantil no tempo de Spínola, preso pela PIDE/DGS em Novembro de 1972, comndenado em 1973 a três anos de prisão com deportação para o campo de concentração da Ilha das Galinhas, e finalmente libertado em Maio de 1974... Vive exilado na Suíça, desde 1983, na sequência do golpe de 'Nino' Vieira, em 1980
Fotos: © A. Marques Lopes (2008). Direitos reservados.

1. Mensagem de A. Marques Lopes, com data de 5 de Agotso:

Caros camaradas

No início das minhas férias (que já acabaram, ai, ai...) encontrei-me com um amigo guineense que veio de visita a familiares que tem em Portugal. Chama-se Norberto Tavares de Carvalho, "O Cote" (*). Tem uma história interessante.

Entre 1970 e 1973 foi estudante da Escola Industrial e Comercial de Bissau, tendo também trabalhado, em 72 e 73, como acompanhante na Ponte Cais de Bissau (trabalho nocturno); em 2 de Novembro de 1972 foi preso pela PIDE, por ordem expressa do General Spínola, na sequência de uma greve dos estudantes; em 8 de Maio de 1973 foi novamente preso pela PIDE, tendo sido condenado, em Setembro desse ano, a 3 anos de prisão e deportação para a Ilha das Galinhas (campo de concentração na Guiné para presos políticos). Foi libertado a 3 de Maio de 1974, na sequência do 25 de Abril.

Após a independência, foi dirigente da Juventude Africana Amilcar Cabral, tendo também trabalhado como funcionário público nos Arquivos da Segurança do Estado, entre Novembro de 1974 e Setembro de 1978, e sendo Comandante do Departamento Central da Migração em 1978-1980; foi preso em Novembro de 1980, depois do golpe de Nino Vieira de 14 de Novembro desse ano, tendo sido deportado, em Dezembro de 1982, para trabalhos forçados na ilha de Carache (nos Bijagós). Foi libertado em 1 de Maio de 1983, tendo fugido para o Senegal em Julho desse ano.

É exilado político na Suíça desde Novembro de 1983.

A alcunha de "O Cote" foi-lhe dada pela PIDE, disse-me ele. Os seus pais eram empregados de um alemão, de nome Cote, que estava na Guiné, e começaram a chamar-lhe assim. E é o nome por que ficou conhecido entre os seus camaradas do PAIGC.

Está a preparar um trabalho sobre aspectos da história da Guiné-Bissau, dizendo-me que encontra questões de muito interesse no nosso blogue, de que é leitor assíduo. Perguntei-lhe, já depois do nosso encontro, se podia enviar as fotografias em que estamos juntos bem como a sua estória. Respondeu-me que não vê inconveniente nenhum, "antes pelo contrário, a honra é minha" e "Fique djamtum e que a Tabanca Grande continue a se expandir pelo blogue fora".

Penso que é de publicar o que vos conto.

Abraço

A. Marques Lopes


2. Nova mensagem do A. Marques Lopes, com data de 8 de Agosto:


O Norberto de Carvalho, "O Cote", enviou-me esta correcção:

Excelente, gostei do meu curriculum. Só um pequeno pormenor, pois devo ter-me explicado mal, ou pouco: os meus pais não trabalharam para um alemão, não. É que eles moravam em Xime e, nesse dia 6 de Junho de 1952, data do meu nascimento, resolveram ir para Bambadinca onde haviam parteiras que podiam melhor ajudar no parto. Só que, chegados na "Ponta do Sr. Côte", uma horta há alguns quilómetros de Xime, para quem vai para Bambadinca, o bébé já estava aí! Tiveram que fazer uma alta e a mulher, assistida pela esposa do dono da horta, teve o seu bébé aí mesmo.

O Sr. Côte, dono da horta, de origem alemã (e libanês), ouvindo finalmente o bébé chorar, foi bater à porta do quarto onde o parto se desenrolava e perguntou à sua mulher, (num crioulo sem falhas):
- É rapaz ou rapariga?

Como a resposta foi "rapaz!", o agricultor decidiu que se chamaria Côte, como ele. Não foi lá muito democrático para o recêm-nascido, mas enfim, o patrónimo foi respeitado até hoje. Mas olhe, Marques Lopes, isto é para si, quanto a mim pode deixar o texto tal como está para ser publicado no blogue. Este é um pequeno pormenor sem incidências quaiquer. Avise-me quando o Luís Graça passar o curriculum no blogue. A propósito, explique-me como localizar no blogue o seu trabalho sobre a guerra colonial na Guiné. Devo confessar que me perco um pouco nas minhas buscas no site. Vai um abraço amigo."


Tinha-me pedido, para o trabalho que está a fazer, uma cópia do livro do Alpoim Calvão, De Conakry ao MDLP. Enviei-lho hoje. Recomendação aos editores, especialmente ao Luís Graça, que ele refere: dêem atenção a este caso. É uma relação de interesse para a tertúlia, um guineense da luta que poderá participar.

A. Marques Lopes

____________

Nota de L.G.:

(*) O Norberto Tavares de Carvalho tem publicado, desde Maio de 2006, diversos textos na página de Fernando Casimiro (Didinho). Já aqui pubicámos um desses textos, com a devida autorização do Didinho: 22 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2203: Artistas guineenses (2): José Carlos Schwartz (Didinho/V.Briote)

sábado, 9 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3124: O Nosso Livro de Visitas (23): Vasco Joaquim, 1.º Cabo Escriturário da CCS/BCAÇ 2912 (Juvenal Amado/Carlos Vinhal)

1. Mensagem de Juvenal Amado com data de 1 de Agosto de 2008:

Caros camaradas Carlos Luis Virgilio e restante Tabanca.
Recebi este e-mail deste camarada que me deixou muito feliz, como é de prever.

Ele pede-me contactos de malta do BCAÇ 2912, eu penso que nada melhor que o blogue para os encontrar.

Um abraço para todos
Juvenal Amado


2. Mensagem de Vasco Joaquim de 31 Julho de 2008, dirigida a Juvenal Amado e reenviada por este nosso camarada ao Blogue:

Caro amigo Amado,
Permite que te trate por tú, pois fomos companheiros de armas, ou antes... tive o privilégio de ser substituído por alguém que preencheu uma vaga no mato, para que eu regressase à Metrópole. Pois bem, certamente que contactámos naquele espaço de tempo em que a CCS do 3872 rendeu a CCS do 2912 sita em Galomaro, já lá vão 36 anos.

Eu era na altura o 1.º Cabo Escriturário, Vasco de Jesus Joaquim com o NM 08190469, fazendo parte do BCAÇ 2912, formado em Abrantes (RI2), IAO em Santa Margarida e embarcado para a Guiné em 24 de Abril de 1970, no célebre "iate" CARVALHO ARAÚJO.

Ao analisar a tua corrida pelos locais que percorreste pelas terras da Guiné, dos quais a maioria conheço, agradeço o facto de me teres recordado através das fotos os locais por onde passei, tantas e tantas horas de solidão e saudade (pois na altura já era casado).
Reconheci o Restaurante Morte Lenta, os abrigos, a metralhadora destruída que infelizmente estava ao meu cuidado (embora fosse Amanuense), o morteiro 81 onde também tive instrução, o "Estádio", onde tantas caneladas apanhei, pois jogava pelos Sapadores.
A Cantina, onde tantas "81 e 60" emborcava... enfim o local que me servia de trabalho, pois era eu que fazia a Ordem de Serviço do Batalhão. Bons tempos.

Tristezas? Algumas.
Mortos em emboscada nas Duas Fontes (1) às 3 da madrugada, o Mecânico Auto Laranjina, o Sapador Barreto, o homem do rádio, Oliveira, e mais dois camaradas adidos, o Bolinhas e o Monteiro, bem como o meu amigo Milícia, Iderissa Candé.


Enfim... recordações que só são avaliadas por aqueles que palmilharam por aqueles locais.

Quanto aos castigos, eu também tive alguns (56 reforços à "benfica") e não sei quantas patrulhas nocturnas - e tudo por faltar às formaturas da refeição - e o capitão que era alentejano - que não me gramava, aplicava-me logo o "código ", só que quanto aos "reforços" fazia alguns porque o camarada Escriturário que fazia a Escala retirava alguns, pois dormiamos no mesmo abrigo.

Gostei de ver a foto do Filipe com a lavadeira, que também "era a minha", suponho que era fula ou balanta e que se chamava Binta?... não tenho a certeza... mas que me levava 50 pesos por mês lembro-me muito bem.

Quanto ao "Regala", conheci-o bem. Até lhe dediquei uns versos numa prosa que fiz do qual me recordo este:

Junto da nossa unidade
O Regala bem regalado
Pois não tem piedade
De tão caro vender ao soldado

A foto do Filipe com Esofe está boa. Gostei. Eu também tenho com ele, pois ele era funcionário do Regala e servia no bar/restaurante que eles tinham lá em baixo ao fundo.

Pois meu amigo, daqui a uns tempitos já cá não anda ninguém, daqueles que deram o coiro em terras desconhecidas para nós, mas que tivemos orgulho em cumprir a nossa missão.

Eu pelo meu lado, já estou reformado, traballhei na CP, como Chefe de Estação durante 32 anos, findos os quais me reformei aos 55 anos (já lá vão quase 5). Resido em Ovar onde trabalhei imensos anos, embora a minha naturalidade seja perto de Lamego.

Pronto meu amigo e camarada, obrigado por teres despertado em mim um pouco daquilo que eu já julgava ter esquecido, mas que num instante recordei com saudade, ao ponto de dizer aos meus filhos já casados:

-Olha por aqui andei eu.

Bem hajas e obrigado.
Um grande abraço e manda notícias.
PS. Se souberes de algum endereço da CCS do BCAÇ 2912, agradeço.



3. Mensagem enviada ao Vasco Joaquim em 8 de Agosto de 2008, com conhecimento a Juvenal Amado:

Caro Vasco Joaquim
O nosso camarada Juvenal Amado, elemento activo do nosso Blogue para o qual ficas desde já convidado a aderir, reenviou-nos a tua mensagem.

Sobre a CCS do BCAÇ 2912, à qual pertencias, não temos nada, mas temos alguns tertulianos das outras Companhias do teu Batalhão. Por exemplo o Fernando Barata da 2700, Tony Tavares e Manuel Melo da 2701.

No nosso Blogue podes encontrar muito sobre o teu Batalhão, basta escreveres na janela de pesquisa bcaç 2912 e aparecerá muita coisa para leres.

Entretanto fui à Página do nosso camarada Jorge Santos e no seu Ponto de Encontro encontrei camaradas teus a pedir contactos. São eles:

da CCAÇ 2699 - Adelino Fernandes (*)
da 2700 - Timóteo (*)
da 2701 - Manuel Melo, Tony Tavares e Lourenço (*)

Ficamos à espera de notícias tuas sobre os contactos que possas vir a concretizar.

Um abraço do camarada
Carlos Vinhal
Co-editor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

(*) - Retirados, na edição, os números de telefone e endereços
_____________

Notas de CV:

(1) - Vd. poste de 12 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2529: PAIGC: Emboscada a forças do BCAÇ 2912, na estrada Galomaro-Bangacia (Duas Fontes), em 1 de Outubro de 1970 (Luís Graça)

(2) - Vd. postes sobre BCAÇ 2912 de:

4 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1494: Tertúlia: Apresenta-se o ex-Alf Mil Fernando Barata, CCAÇ 2700 / BCAÇ 2912

22 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1541: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (1): Introdução: a 'nossa Guiné'

26 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1550: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (2): A nossa gente

15 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1595: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (3): minas, tornados, emboscadas, flagelações e acção... psicossocial

11 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1651: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (4): Historietas

30 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1795: Convívios (12): 16.º Encontro da CCAÇ 2700 / BCAÇ 2912 (Dulombi, 1970/72), Braga, 10 de Junho de 2007 (Fernando Barata)

Guiné 63/74 - P1796: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (5): A(s) alegria(s) do(s) reencontro(s)

12 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2260: Álbum das Glórias (33): Inauguração da exposição de fotografia do Américo Estanqueiro, hoje, na Fundação Mário Soares

10 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2743: Convívios (50): Convívio da CCAÇ 2700/BCAÇ 2912, em Fátima, no dia 26 de Abril de 2008 (Fernando Barata)

Guiné 63/74 - P3123: Ser solidário (17): ONG AD - Relatório de actividades de 2007 - Parte IV (Final): Parcerias e apoios




Cópia da capa de três publicaçõe recentes da AD, em colaboração com o Instituto Marquês Valle Flor e com o apoio da Comissão Europeia: (i) Estudo de Mercado sobre a Comercialização de Produtos Locais no Sector de S.Domingos; (ii) Observatório da Educação no Sector de S.Domingos; (iii) Estudo das Potencialidades e dos Constrangimentos do Ecoturismo na Região de Tombali. O Instituto Marquês Valle Flor é o principal parceiro português da AD.




Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da Semana > 3 de Fevereiro de 2008 > O Professor, belga, Hubert Lelotte "continua, com a sua competência e entusiasmo, a formar os primeiros guias ecoturisticos de Cantanhez, após vários anos de colaboração na criação das Escolas de Verificação Ambiental no país"... Na foto, um grupo de jovens "guias prepara-se para identificar um itinerário turístico, recolhendo todas as informações de carácter ambiental, fluvial e logístico, que irão permitir aos nacionais e estrangeiros que demandam esta zona sul, poder escolher o que pretendem conhecer e visitar".

Fotos: Cortesia de: © AD- Acção para o Desenvolvimento (2008). Direitos reservados.


Quarta (e última) parte do relatório de actividades de 2007, da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, que temos vindo a reproduzir no nosso blogue. Com esta ONG guineense, que tem sede em Bissau, antemos desde finais de 2005 uma relação, franca, aberta, privilegiada, de cooperação, tendo como pretexto inicial o Projecto Guileje que deu origem, entre outras iniciativas que tiveram o nosso apoio, à realização do Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1 a 7 de Março de 2008), e que abriu portas a outras iniciativas mais recentes, como por exemplo a recolha de sementes.


AD -Acção para o Desenvolvimento: Relatório de actividades de 2007 > Parte IV

Revisão e fixação de texto: L.G. (Não se reproduzem, por razões técnicas e de economia de meios, as fotos do relatório original, divulgado em formato pdf, no sítio da AD).

D. PARCEIROS DA AD

Embora o ano de 2007 tenha registado um aumento do volume financeiro de apoio aos projectos da AD, interessa lançar para discussão alguns sinais de mudança que se poderão vir a reflectir com muita preocupação a médio prazo no relacionamento entre a nossa organização e alguns dos nossos parceiros.

A primeira e mais importante refere-se à mudança gradual de atitude de algumas ONG parceiras da AD desde a primeira hora e que parecem abandonar a antiga cumplicidade existente entre nós na defesa de políticas progressistas de luta das populações mais excluídas, no combate político por uma sociedade mais justa, progressiva e solidária, para se deslumbrarem e deixar seduzir pelos modelos de organização e prioridades administrativo-financeiras de tipo neo-liberal.

Se anteriormente o acompanhamento da execução dos projectos tinha obrigatoriamente por pano de fundo as opções políticas, os métodos de responsabilização das comunidades e a criação de dinâmicas inovadoras, agora, esta reflexão deu lugar a exigências mais ou menos explícitas para o funcionamento burocrático das nossas ONG serem feitas à imagem e semelhança das deles, sempre consideradas como modelos exemplares e de reprodução local necessária.

Tem-se a ideia de que certas ONG do norte se perderam no caminho, deixaram de crer nas suas vocações e docilizaram-se perante as suas fontes de financiamento, assumindo um mero papel de executores, bons e baratos, das suas políticas governamentais. Para digerir o purgante, algumas passam anos a reestruturam-se em termos de finalidades e formas organizativas,
alimentando o espírito com supostos desafios novos em que os seus funcionários não se revêem e até por vezes nem percebem.

Acabamos por ter a sensação que, para essas ONG, o que é preciso é que as nossas organizações funcionem administrativamente bem, produzam relatórios atempados que eles acabam por não ler (várias vezes o pudemos constatar), cumpram os preceitos internacionais da boa contabilidade, em vez de privilegiar as acções nas tabancas e a obtenção de resultados mobilizadores para outras comunidades. O voluntarismo e a entrega ao trabalho não devem ser confundidas com amadorismo, falta de rigor e irresponsabilidade.

Fica-se sem saber quem afinal está a ver o filme ao contrário. Eles ou nós?

Outra das preocupações a ter em conta e assinaladas em relatórios anteriores, é o do perigo de concentrar as nossas parcerias num só ou num número muito reduzido de organizações financiadoras. As múltiplas parcerias embora tenham o inconveniente de exigirem muito mais trabalho da AD (relatórios, notas verbais, respostas a questões) garantem uma autonomia de discussão e decisão em relação às nossas opções e escolhas.

Não é independente quem quer, mas sim quem pode. Por isso impõe-se que a AD procure noutros azimutes novas parcerias que a façam conservar a capacidade de execução dos programas que ela própria definiu e não as que outros julgam, pela lei do dinheiro, deverem ser as nossas.

Finalmente, interessa à AD empenhar-se mais na vida da PLACON-GB, a atravessar um dos períodos mais delicados da sua existência a necessitar de rever funções, formas de representatividade, procedimentos e compromissos políticos.

A PLACON-GB deve promover a cooperação e solidariedade entre as ONG e não comportar-se também ela como uma ONG, apoiando umas e penalizando outras. Deve ser o rosto das posições de luta pela unidade nacional e desenvolvimento, combatendo de forma firme e intransigente a corrupção, o narcotráfico e o tribalismo, pautando as suas posições pelos interesses exclusivos das comunidades locais e não das dos partidos políticos e promovendo a democracia, justiça social e desenvolvimento solidário, nunca se esquecendo que quem reclama a democracia aos outros deve praticá-la primeiramente em casa.

Segundo os países, a situação das parcerias da AD em 2007 apresentaram-se da seguinte forma:

a) HOLANDA

A ICCO iniciou um processo de descentralização, devendo criar uma delegação na África Ocidental que ninguém sabe como funcionará na prática e que será ela no futuro a aprovar os projectos. Custa-nos a compreender como é que uma comissão constituída por 9 elementos provenientes de outros tantos países que dominam o francês e o inglês e só 1 o português, poderão avaliar a pertinência e interesse de projectos apresentados por ONG guineenses. Parece ser a fórmula mais inteligente de excluir a Guiné-Bissau de futuras parcerias, isto para quem já tanto tentou por outras formas sair do nosso país.

O projecto de 3 anos, no valor de 360.000 euros concluir-se-á no final de 2008 não se sabendo quais os mecanismos a accionar para a sua continuidade.

Com a NOVIB Iniciou-se em Abril deste ano um projecto que se prolongará até Dezembro de 2009, no valor de 277.000 euros. Trata-se de desenvolver o processo de implantação de rádios comunitárias em todo o país, a criação das primeiras televisões comunitárias e o funcionamento de uma Rede de órgãos de comunicação comunitária que promova a cooperação entre eles e a sua afirmação nacional.

b) PORTUGAL

Com o Instituto Marquês Valle Flor (IMVF) prosseguiu a parceria materializada nos seguintes projectos:

- o Projecto Kasumai no valor global de 775.000 euros, concluiu-se em Abril de 2007, depois de 4 anos de excelentes resultados, o que levou o Ministro dos Recursos Naturais a solicitar à Comissão Europeia, cofinanciadora desta iniciativa, a continuação do apoio a este tipo de actividades. Contou com a parceria da ACEP.

- o Projecto Uanam, financiado pela União Europeia por 4 anos, atingiu o seu meio-percurso no final deste ano. Orçado no valor de 748.618 euros, o seu final será em Dezembro de 2009. As acções centram-se à volta do ecoturismo e da infraestruturação de apoio a este programa que está a ter muito impacto nas comunidades locais e inclui iniciativas nas áreas da agricultura, comercialização, saúde e ensino ambiental.

- o Projecto Konkobai cofinanciado pela União Europeia no quadro dos programas de segurança alimentar, no valor de 496.918 euros, vai entrar no seu último ano de intervenção (Dezembro de 2008). O maior sucesso foi o da recuperação de bolanhas salgadas na zona de Barro, a distribuição de sementes e pequeno material agrícola, a introdução de carroças de burro, descascadoras de arroz, prensas de óleo e construção de poços.

- o Projecto Woncame cofinanciado pela União Europeia no quadro dos programas de segurança alimentar para Cubucaré e Quitafine, no valor de 547.439 euros, tem a duração de 3 anos e começou em Janeiro de 2007.

O reaproveitamento das bolanhas salgadas, o uso dos bas-fonds para a produção alimentar diversificada e a introdução de unidades de produção de farinha de mandioca foram os aspectos mais marcantes.

- a nossa ONG vai colaborar em 2008 com os projectos apoiados à COAJOQ em Cacheu e à capacitação de ONG nacionais, geridos pelo IMVF.

O Ministério do Trabalho e Segurança Social (MTSS) prosseguiu o apoio à Escola de Artes e Ofícios de Quelele, no domínio da criação de um Curso de Artes Domésticas e Hotelaria (63.000 euros), concluiu-se em 2007 o programa de formação de auxiliares de educadoras de infância (17.000 euros) e do observatório de emprego e apoio à inserção socioprofissional (12.500 euros). A Mutualidade de Crédito de Quelele foi apoiada com um financiamento de 9.876 euros desbloqueados em finais de 2007.

A Escola Superior de Educação de Leiria apoiou a realização de um curso de energia solar em S. Domingos, contribuiu para a reflexão sobre os objectivos e funcionamento do futuro Centro de Aprendizagem Rural de Guiledje e apoiou o site da AD e criação do site do Simpósio de Guiledje.

Com o CIATE (Centro Integral de Adestramento Tecno-Electrónico), prosseguiu o apoio conceptual e de formulação dos currículos dos cursos de electricidade e electrónica, em particular a reformulação do programa e das instalações das aulas práticas do curso de electricidade.

Com a Câmara Municipal do Montijo decorreu uma breve cooperação através de 4 jovens que estiveram na sede do PAN durante 6 meses colaborando com o Cenfor, a Ludoteca, o jornal comunitário e a animação cultural. Este tipo de colaboração, para ter sucesso, exige que sejam atempadamente definidas os termos de referência de cada voluntário, as regras e modalidades da sua integração nas estruturas da AD, a produção de relatórios e propostas de actividades e as responsabilidades hierárquicas a observar.

A parceria iniciada com a TESE através do projecto ambiental de “Promoção do acesso a fontes de energia moderna na Guiné-Bissau” que visava o uso do gás em substituição da lenha e carvão, aprovado pela Comissão Europeia no valor de 1.678.974 euros acabou por ser anulado pela AD pelas fundadas divergências com a GALP, um dos parceiros do projecto, associadas a uma falta de confiança profissional.

c) ESPANHA

O Ayuntamiento de Elx continuou pelo oitavo ano a sua colaboração a nível de S. Domingos, tendo em 2007 sido recebidos 6.200 euros para a realização de cursos no CENFOR, para o funcionamento da Ludoteca e para o inicio do programa de alfabetização.

Com o IEPALA concluiu-se em Fevereiro o projecto de 3 anos, no valor de 58.974 Euros, que se saldou por resultados muito positivos na diversificação agrícola no sector de S.Domingos. Iniciou-se com esta ONG a formulação de um projecto de criação de uma Rede das Escolas de Verificação Ambiental que poderá eventualmente ser aprovado ainda em 2008.

d) BÉLGICA

Com a Solidarité Socialiste, o projecto de Reforço do Movimento Associativo Rural do Norte, entrou no seu quinto e último ano (conclusão em Abril de 2008) com um financiamento para 2007 de 38.940 Euros. A fileira óleo de palma está lançada e a metodologia para a legalização da Rádio Kasumai poderá servir de referência para as outras Rádios Comunitárias.

Iniciou-se a reflexão para a elaboração de um novo projecto de 3 anos no sul do país de apoio às associações de base, em colaboração com 3 outras ONG guineenses (AIFA, ADIM e NIMBA) e integrada numa rede subregional de parcerias com outras ONG dos países vizinhos.

e) ITÁLIA

Com a ONG AIN (Associazione Interpreti Naturalistici) iniciou-se em 2007 a execução do projecto “ECO-GUINÉ”, no valor de 4.455 Euros, que tem uma componente de formação de guias de ecoturismo e gestores de unidades locais de prestação de serviços, assim como a identificação de percursos naturais. A zona de intervenção é Cantanhez e Dulombi, esta última com a ONG guineense APRODEL.

f) Organizações estrangeiras sedeadas em Bissau

A parceria com o Fundo Canadiano de Iniciativas Locais (FCIL) traduziu-se no financiamento da construção das novas instalações da Rádio Balafon em Ingoré, com uma contribuição de 20.837 euros.

g) Organizações Internacionais

A União Europeia é o maior parceiro da AD, cofinanciando grande parte dos nossos projectos e dispondo de há 2 anos a esta parte interlocutores que acompanham os projectos e que mostram uma grande disponibilidade na prestação de informações e serviços às ONG. Este ano a União Europeia cofinanciou cinco projectos: Kasumai, PISAC, Uanam, Konkobai e a Doação Global com o IEPALA.

A UICN tem continuado a desempenhar um papel notável nas pontes que proporciona com outras instituições nacionais e estrangeiras, governo, ONG, institutos, financiadores e agencias ambientais, o que facilita e desbloqueia grande número de casos que ocorrem nas nossas zonas de intervenção e propícia à AD uma melhor procura de financiamentos para projectos de desenvolvimento-ambiente.

O PAM foi um parceiro activo e pontual no apoio aos projectos de “comida contra trabalho” em especial no aproveitamento dos pequenos vales interiores do sector de Cubucaré para a produção de batata-doce, mandioca e feijão mancanha e na recuperação de bolanhas para a orizicultura.

h) Individualidades

Para a nossa ONG a colaboração voluntária de pessoas que o fazem a título individual, tem um profundo significado solidário que inculca em todos quantos trabalham na AD valores de referência e comportamento.

Este ano gostaríamos de destacar:

- o sociólogo Luís Graça, coordenador do Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, que tem trazido para o seio da AD muitos camaradas que para além de se interessarem pela recuperação da memória histórica antes da independência, se propõem colaborar com as iniciativas de hoje. O seu envolvimento na promoção do Simpósio de Guiledje é decisivo para o seu êxito.

- O professor belga Hubert Lelotte, grande entusiasta do ensino ambiental e que está na origem das Escolas de Verificação Ambiental e das Reservas Educativas prosseguiu o seu apoio à AD numa segunda formação dos guias ecoturísticos de Cantanhez e produzindo o jornal mensal de ligação entre ele e os guias, intitulado “Partilha” e do qual foram publicados até Dezembro de 2007, 39 números.

- Os médicos cubanos sedeados em S. Domingos, Doutores Alexandro e José, deram uma contribuição notável no Centro Materno- Infantil de Djufunco, consultando para além das mulheres grávidas cerca de 350 doentes por mês, emprestando a sua competência e dedicação para a melhoria das condições de saúde numa zona do país que nunca tinha tido acesso a um médico.

- o realizador Adrezej Kowalski, pioneiro das televisões comunitárias na Guiné-Bissau (TVK e TVB), formou jovens do sul do país para dominarem as técnicas de filmagem e montagem dos programas da primeira televisão comunitária africana que começou a emitir através de ondas hertzianas em Novembro de 2007.

- o jornalista Assimo Baldé contribuiu igualmente para que a TV Massar de Iemberém fosse uma realidade, formando os jovens jornalistas nas técnicas de preparação de notícias, condução de entrevistas e direcção de debates.

- o historiador Leopoldo Amado colaborou de forma marcante na concepção temática do Simpósio Internacional de Guiledje, contribuindo para a sua qualidade e impacto académico.

- como sempre o professor Filipe Santos, da Escola Superior de Leiria, mantém uma colaboração no site da AD e na criação do site de Guiledje.

Para todos eles, a certeza que a AD os tem como referência moral e bebe no seu exemplo para encontrar a coragem e capacidade de ir em frente.

Bissau, Junho de 2008
__________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores:

7 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3118: Ser solidário (14): ONG AD: Relatório de actividades de 2007 - Parte I: A segurança alimentar

8 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3121: Ser solidário (15): ONG AD - Relatório de actividades de 2007 - Parte II: Luta contra a fome, ecoturismo e TV comunitárias

8 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3122: Ser solidário (16): ONG AD - Parte III: Trabalho feito, com destaque para a realização do Simpósio Internacional de Guileje

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3122: Ser solidário (16): ONG AD - Parte III: Trabalho feito, com destaque para a realização do Simpósio Internacional de Guileje


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém > Visita dos participantes do Simpósio Internacional de Guileje > 2 de Março de 2008 > As instalações da televisão comunitária Massar. Na foto, a Maria Alice, esposa do editor do nosso blogue, Luís Graça. Massar, em dialecto nalu, quer dizer estrela. Do logótipo da TV Massar faz parte o mítico Nhinte-Camatchol.

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.


A televisão TVMassar está a emitir em ondas hertzianas, desde Novembro de 2007, para todo o sector de Cubucaré.

Com um forte envolvimento da comunidade local que confeccionou adobes, forneceu material local (areia, pedra e cascalho, cibes para a cobertura) e mão-de-obra (pedreiros e carpinteiros), construiu-se este edifício onde uma equipa de oito jovens prepara os programas diários que podem ser vistos nas tabancas do sector.

A uma rede de 7 televisores instalados em outras tantas Escolas de Verificação Ambiental, assim como alguns televisores privados, permitem a visão colectiva das emissões da TVM.





Guiné-Bissau > AD- Acção para o Desenvolvimento > Foto da Semana > 27 de Janeiro de 2008

Dentro de um ano e meio a zona norte do país vai passar a beneficiar da Ponte de S.Vicente, sobre o rio Cacheu, o que encurtará a distância entre Bissau e Ziguinchor, segunda cidade do Senegal.

Tudo indica que a cidade de S. Domingos cresça rapidamente e possa assumir-se como a segunda cidade do país, especialmente como entreposto de produtos nesta subregião africana. Os mercados da Gambia e Senegal são excelentes oportunidades de negócio para os nossos operadores comerciais.

Daí que o Centro de Formação Rural (CENFOR) de S.Domingos esteja a incrementar um importante programa de formação profissional (serralharia, marcenaria, informática, etc.) para permitir aos jovens aceder ao mercado de trabalho especializado.



Guiné-Bissau > AD - ACção para o Desenvolvimento > Foto da Semana > 24 de Fevereiro de 2008

Jovens balantas de Cafine participam na festa da cerimónia de entrada no fanado, isto é, o acto de iniciação para a vida adulta.

Na zona de Cantanhez, várias etnias convivem amigável e solidariamente, gerindo os recursos naturais, cooperando a nível de diversas associações de agricultores, de jovens, de mulheres e de pescadores, bem como apreciando as culturas de cada uma delas.

Para além dos chamados “donos do chão”, os nalús, conhecidos pela sua escultura de rara beleza, estão presentes os balantas, notáveis orizicultores de bolanha salgada, os fulas, mestres na arte da palavra, os djacancas, profundos conhecedores da religião muçulmana, os tandas, minoria proveniente da Guiné-Conakry, os sossos, especialistas na fruticultura e agricultores de outras etnias.





Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da Semana > 30 de Março de 2008

Numa das zonas mais isoladas da Guiné-Bissau, no litoral norte, na baía de Varela, onde a terra acaba e o mar começa, foi construída por iniciativa da comunidade local a Escola de Verificação Ambiental de Djufunco.

A funcionar desde Outubro de 2007, esta escola acolhe uma centena de alunos da primeira à quarta classe, que para além de se defrontarem com o isolamento geográfico (nenhuma estrada digna desse nome existe para lá chegar), não tem acesso a material escolar elementar.

Graças ao apoio da Câmara Municipal de Coimbra, um lote de material de excelente qualidade foi oferecido às crianças, pela Caravana que este mês veio de carro até à Guiné-Bissau, alguns deles para participar também no Simpósio Internacional de Guiledje.

Fotos e legendas: Cortesia de: © AD- Acção para o Desenvolvimento
(2008). Direitos reservados.


Continuação publicação do relatório de actividades de 2007, da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, com quem mantemos desde finais de 2005 uma relação, franca, aberta, privilegiada, de cooperação, tendo como pretexto inicial o Projecto Guileje que deu origem, entre outras iniciativas que tiveram o nosso apoio, à realização do Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1 a 7 de Março de 2008), e que abriu portas a outras iniciativas mais recentes, como por exemplo a recolha de sementes.


AD -Acção para o Desenvolvimento: Relatório de actividades de 2007 > Parte III


Revisão e fixação de texto: L.G. (Não se reproduzem, por razões técnicas e de economia de meios, as fotos do relatório original, divulgado em formato pdf, no sítio da AD).


C. Os Programas Regionais da AD


Em 2007, a AD regressou ao seu “formato” original desenvolvendo programas nas suas 3 zonas de intervenção, sendo duas rurais (Cubucaré-Quitafine e S.Domingos-Bigene) e uma urbana (bairro de Quelele).

1 - Programa de Apoio aos Agrupamentos do Norte (PAN)

As acções mais importantes neste ano foram as seguintes:

a) Conhecimento dos Circuitos Comerciais

O incremento da produção agrícola tanto a comercial como a destinada ao autoconsumo, impõe a existência de uma rede comercial de mercados que equilibrem a procura local de alimentos e dinamizem a venda exterior dos excedentes. A importância dos circuitos comerciais é tanto maior quanto próxima dos países vizinhos, potenciais compradores de todos os produtos agrícolas que lhes faltam. O Senegal e a Gâmbia estão neste caso, se tivermos em conta as suas condições edafoclimáticas que as fazem aproximar-se muito do deserto.

Em 2007, um trabalho dirigido por Ba Mody, aprofundou o conhecimento dos mercados locais, do volume de negócios, do tipo de procura senegalesa, da importância do mercado subregional de Djaobé, no Senegal, assim como os constrangimentos à comercialização nos sectores de S. Domingos e Bigene.

Foram estudados os lumus de Bigene, com um número médio de actores de 800 pessoas durante a época seca, contra 350 na época das chuvas; o lumu de Ingoré varia de 300 a 500, enquanto o de Sedengal de 600 a 400. O lumu de S. Domingos é o maior de todos com uma média de 3.000 pessoas.

Para se ter uma ideia do volume médio dos negócios realizados num dia nestes lumus por um retalhista ele situa-se entre 2.000 a 4.000 Cfa em produtos agrícolas alimentares (arroz, milho, feijão, batata-doce), 4.000 a 8.000 Cfa em géneros alimentícios (açúcar, óleo, sal) e 10.000 a 30.000 Cfa em produtos manufacturados (tecidos, utensílios). Como a maioria das retalhistas vendem produtos agrícolas, com fraco volume de negócios, as margens de lucro são muito pequenas, situando-se à volta de 500 a 1.000 Cfa por dia.

Assiste-se a uma forte procura senegalesa de produtos brutos guineenses, praticando preços compensadores, mas dominando eles todos os circuitos comerciais (operadores, transporte, clientes e conivências aduaneiras, fiscais e policiais). Por vezes, como em Varela, essencialmente um mercado de peixe, são maioritariamente os pescadores senegaleses, cerca de 150 para 50 canoas diárias, que dominam a actividade, abastecendo de peixe fresco a zona turística de Cap Skiring.

O fluxo de produtos para o Senegal comporta dois circuitos: um que vai do local de produção directamente para o Senegal, caso do peixe fresco e fumado, e outro circuito que passa por S. Domingos (óleo de palma, vinho de palma, frutos silvestres, vassouras) sendo que este último constitui o principal motor de transacções do sector.

Já o fluxo de produtos do sector de S. Domingos para Bissau e Bula, centra-se no mango fora-de-estação (Setembro-Outubro), carvão, sal e peixe fumado, muito menos intenso que para o Senegal, uma vez que os preços praticados naqueles mercados são menos atraentes e a distância é muito maior, tanto mais que tem uma jangada de funcionamento imprevisível.

Já no sentido inverso, os produtos provenientes do Senegal, Gâmbia e Guiné-Conakry são manufacturados, registando-se uma excepção em relação ao mercado grossista de Bigene que recebe uma média semanal de 50 porcos.

Outro produto que vem de fora é o sal. De registar que os lumus do lado da Guiné-Bissau são generalistas, embora o de Cassolol se especialize mais em
vinho de palma e o de Bigene em porcos.

Se tivermos em conta os produtos agrícolas e florestais, o cenário apresenta-se da seguinte forma:

- óleo de palma: é começado a vender de Outubro a Fevereiro, época baixa, com volumes variando entre os 5.000 e os 7.000 litros mensais. Entre Março e Julho o valor situa-se nos 15.000 litros por mês;

- fole: entre Julho e Setembro a oferta situa-se entre as 150 e 225 toneladas mensais;

- vinho de palma: entre Agosto e Novembro, época alta, a média mensal de exportação para o Senegal é de 50.000 litros;

- cabaceira: é um produto de fraca oferta em que, de Dezembro a Fevereiro, a oferta se situa entre as 2,5 a 5 toneladas por mês;

- vassouras: não se tendo conseguido registar a quantidade exportada, ela incide sobretudo nos meses de Outubro a Junho.

O incremento da produção agrícola nesta zona fronteiriça passa pela:

- criação de infraestruturas de comercialização (tradicionais e modernas), tais como os lumus que a AD vem promovendo em Elia, Cassolol e Suzana, assim como os mercados comunitários de Ingoré (concluído em 2007) e S. Domingos (previsto para o final de 2008);

- maior integração no mercado subregional de Diaobé, no Senegal, maior entroncamento comercial da costa ocidental africana;

- limitação dos constrangimentos à comercialização nestes dois sectores geográficos, em especial na luta contra a falta de cultura comercial e de estratégia de comercialização, a fraca capacidade de produção e consequente dificuldade em controlar a oferta, no desencravamento dos lumus, nos abusos de que os comerciantes são vítimas pelas taxações dos serviços florestais guineenses e senegaleses.

b) Dinamização da Produção Agrícola


Várias actividades foram incrementadas durante este ano, sendo de realçar:

- o programa de reaproveitamento das bolanhas salgadas do sector de Bigene, que haviam sido abandonadas há muitos anos atrás, tendo sido beneficiadas 8 tabancas que irão permitir dentro de poucos anos a cultura de arroz numa área estimada em cerca de 1.000 ha;

- perto de Barro foram apoiadas acções em 3 tabancas para a melhoria da gestão de água em bolanhas de “bas-fonds”, representando uma área de 80 ha para a produção imediata de arroz;

- foram distribuídas 7 toneladas de sementes de arroz das variedades Cablak e Banimalu, impondo-se urgentemente a criação de uma rede local de agricultores-multiplicadores de semente para assegurar uma maior segurança local de produção. Acresce o fornecimento de 100 Kg de feijão mancanha, na forma de minikits, e de estacas de mandioca a 19 tabancas;

- apoiaram-se 42 tabancas (30 em Bigene e 12 em S. Domingos) para a produção hortícola e fruticultores de 10 tabancas, com sementes, propágulos e pequeno material hortícola e frutícola.

- foram instaladas 2 descascadoras de arroz, uma moageira de milho, 23 prensas de óleo de palma, 10 carroças de tracção animal.

c) Outras Actividades

- construção de 3 Escolas de Verificação Ambiental (EVA) em Nhambalan, Djufunco e Elala;

- 11 poços de água em outras tantas tabancas do sector de Bigene;

- alargamento das instalações de carpintaria do Centro de Formação Rural de S. Domingos (CENFOR) e reforço dos programas de formação profissionalizante (serralharia, carpintaria e informática) e comunitária (descascadoras de arroz, fabrico de sabão, tinturaria);

- construção do edifício da Rádio Comunitária Balafon de Ingoré, com afectação de melhores meios de trabalho, cuja conclusão está prevista para o final do primeiro trimestre de 2008;

- apoio à equipa médica de oftalmologia da ONG ANAWIN que em Setembro realizou numerosas operações às cataratas e tracomas;

- dinamização da assistência médica ao Centro Materno-Infantil de Djufunco, assegurada pela colaboração voluntária da equipa médica cubana
sedeada em S. Domingos;

- apoio à Associação dos Afilhados de Elx e à sua ludoteca;

- assistência para a elaboração dos estatutos e legalização da Rádio Kasumai.


2 – Desenvolvimento Urbano de Quelele

As acções mais importantes em 2007 no bairro de Quelele centraram-se na Escola de Artes e Ofícios sendo de assinalar:

3.1. Melhoria de funcionamento dos cursos: adequação de planos curriculares e dos sistemas de avaliação

a) Educadores de Infância: foram introduzidas 2 novas disciplinas (linguagem e iniciação à Matemática), com o objectivo de facilitar a identificação e selecção de jogos e materiais para melhorar o desenvolvimento linguístico e cognitivo de crianças. Foi implementado um sistema de estágio organizado e acompanhado, com a duração de 160 horas repartido em 2 meses, destinado a promover o contacto com os potenciais empregadores, alargar possibilidades de emprego e atribuir uma ligação entre as vertentes teórico-práticas do curso;

b) Electrónica: na disciplina de gestão de pequenos negócios, foram introduzidas as componentes de “técnicas de elaboração de orçamentos” e “apresentação de um diagnóstico de avaria”.

Alterou-se o sistema avaliativo com o objectivo de valorizar os trabalhos práticos realizados em laboratório, assim como os testes escritos passaram a ter um peso de 70% na avaliação, contra os 100% dos anos anteriores. Introduziu-se um sistema de estágio com a empresa Areeba, tendo estagiado 5 formandos dos quais 1 conseguiu emprego.

3.2. Contribuição da EAO na melhoria de funcionamento de outras Instituições

A Escola Popular Aruna Embalo, pela primeira vez, introduziu no seu sistema educativo o nível de educação pré-escolar, contando com a participação de 5 formandas da EAO na área de educadoras de infância, apoiando ainda no programa de educação infantil.

3.3. Cursos realizados

a) Cursos Profissionalizantes

- Electrónica: foram organizados 2 cursos (de 30 alunos cada, todos do sexo masculino). Registou-se uma redução da taxa de desistência de 55% para 39% entre 2006 e 2007, a que correspondeu um aumento do número de finalistas de 13 para 20 alunos (45% e 61% respectivamente);

- Auxiliares de Educadores de Infância: foi organizado 1 curso de 3 turmas com 69 formandas, todas do sexo feminino, tendo desistido apenas 3, equivalente a 6%. O novo formato do curso, com mais aulas práticas do que teóricas e um sistema de estágios acompanhados, permitiu a redução de desistências em 10% de 2006 para 2007;

- Instalações Eléctricas: iniciaram-se cursos em novos moldes e novo formato. Se anteriormente os cursos comportavam 340 horas repartidas em 5 meses, agora passaram a ser ministrados em 3,5 meses com uma carga horária de 134 horas. Os materiais e equipamentos para as aulas práticas foram alterados e adaptados, isto é, cada aluno passou a ter uma bancada individual ao invés de bancadas e quadros colectivos. Foram organizados 3 cursos, dos quais 2 já terminaram, tendo-se inscrito 27 alunos todos do sexo masculino e chegado ao fim, devido a viagem ao estrangeiro;

- Informática: os cursos passaram de 4 em 2006 para 4,5 em 2007, tendo havido um acréscimo de 11% de alunos inscritos, isto é passaram de 488 em 2006 para 495 alunos, sendo 275 rapazes e 220 raparigas.

Concluíram os cursos este ano 84% dos inscritos contra 95% em 2006, sendo que as razões apontadas estão a falta de pagamento, deslocações e viagens para o exterior e oportunidades de emprego entretanto surgidas. Para 2008 vaise implementar o sistema de pagamento único logo na inscrição.

- Painéis Solares: em colaboração com o CENFOR, realizaram-se 2 cursos de instalação e reparação de painéis solares, com o objectivo de
dispor de técnicos qualificados que garantam a difusão deste tipo de energia alternativa. Foram formados 11 técnicos.

b) Cursos Comunitários: foram realizados 2 cursos de tinturaria para 18 jovens raparigas, com a duração de 45 horas (1 mês e meio).


3.4. Construção da Escola de Artes Domésticas e Hotelaria

Em Dezembro de 2007, foi iniciado o processo de legalização do terreno junto da EAO e construção da nova Escola de Artes Domésticas e Hotelaria, destinada a formar jovens quadros capazes de se integrarem no processo de crescimento do turismo na Guiné-Bissau e satisfazer as ambições de outros de melhoria da qualidade de vida familiar.


3 - Programa Integrado de Cubucaré (PIC)

As acções mais importantes neste ano foram as seguintes:

a) Preparação do Simpósio Internacional de Guiledje

A organização deste Simpósio teve início dois anos antes da sua efectivação, factor determinante para que a sua preparação tenha sido preparada em todos os seus pormenores e detalhes. Ocupou a preocupação central de todos os quadros do PIC que fizeram um excelente trabalho logístico para a recepção aos participantes, de animação e enquadramento dos diversos grupos locais e comunidades que se envolveram nos programas de reabilitação dos antigos quartéis de Guiledje e Gandembel, na preparação dos programas culturais e na finalização da construção das infraestruturas de acolhimento.

Por outro lado, um trabalho lento e gradual de sensibilização de todos os participantes do exterior, portugueses, cubanos, caboverdianos e de outros países europeus, foi desenvolvido, levando especialmente os antigos militares portugueses que estiveram na Guiné e intelectuais e professores universitários a irem-se interessando cada vez mais pelo Simpósio e a considerarem-no como também seu.

O site de Guiledje gerido pela AD foi um momento alto dessa comunicação com os participantes, sendo de realçar a participação notável e determinante do Blogue “Luís Graça e os Camaradas da Guiné”, que promoveu o Simpósio como ninguém, chegando ao ponto de se antecipar ao site de Guiledje na publicação de informações frescas. Igualmente a participação activa da Fundação Mário Soares, através do Arquivo Amílcar Cabral, foi decisiva para a qualidade do conteúdo do evento.

Curiosamente que foi a nível interno, de Bissau, que o envolvimento dos participantes teve flutuações mais significativas, assistindo-se a uma adesão espontânea e interessada, logo de início dos intelectuais e quadros técnicos guineenses, seguido mais tarde pelos combatentes da liberdade da pátria e só por último das autoridades governativas.

Em termos de financiadores há a destacar o apoio da União Europeia, do Governos português e guineense e do IMVF, obtidos atempadamente e que quase cobriram o orçamento estimado. De notar o envolvimento activo do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Guiné-Bissau que foi assegurando apoios fundamentais para o bom sucesso deste encontro.

Um dos pontos mais altos dos preparativos do Simpósio foi o do registo em DVD dos testemunhos dos combatentes guineenses, dos comandantes caboverdianos que participaram em Guiledje e as dos militares portugueses que contribuíram com uma significativa entrega de documentos históricos pessoais e de instituições oficiais. Durante este período foi-se conseguindo obter um arquivo de qualidade que irá enriquecer o futuro Museu de Guiledje com fotografias, filmes de 8mm, objectos de recordações e livros de unidade.

b) Dinamização agrícola

Em 2007 foram dinamizadas as seguintes acções de apoio aos pequenos agricultores dos sectores de Cubucaré e de Quitafine:

- apoiaram-se 7 tabancas para a reabilitação de bolanhas salgadas abandonadas ou destruídas pela força das marés e subida do nível médio das águas do mar, através do fornecimento de tubos de drenagem e reconstrução de diques atingidos, o que representa o aproveitamento de cerca de 500 ha potenciais para a cultura do arroz;

- 8 tabancas beneficiaram de apoio para o aproveitamento dos pequenos vales interiores para a cultura de arroz na época das chuvas e de batata-doce e legumes na época seca;

- para a diversificação de culturas foram distribuídas sementes de feijão mancanha (168 kg) e propágulos de batata-doce e mandioca;

- foram distribuídos 40 kg de sementes de legumes diversificados a 28 tabancas de ambos os sectores;

- apoiaram-se agrupamentos e fruticultores na criação de 10 viveiros de espécies frutícolas, fornecendo-se apoio técnico e pequeno material de trabalho (catanas, enxadas, sachos e pás);

- introduziram-se 2 descascadoras de arroz, 2 unidades de fabrico de farinha de mandioca, com um sucesso extraordinário, 10 prensas de óleo de palma e 2 unidades manuais para farinhar peixe.

c) Outras actividades

- concluiu-se a construção das Escolas de Verificação Ambiental de Sintchur Caramba e de Cafine;

- construiu-se e inaugurou-se o lumu de Gandembel que teve um começo excelente na troca de mercadorias com a Guiné-Conakry, mas que foi decaindo ao longo do ano fruto da instabilidade política registada naquele país;

- apoiaram-se duas mulheres na construção de 2 casas de restauração, uma em Faro Sadjuma e outra no porto de Canamina, para servirem refeições aos turistas;

- avançou-se bastante na construção dos 3 bungalows na área turística de Iemberém.

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Nota de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores desta série:

7 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3118: Ser solidário (14): ONG AD: Relatório de actividades de 2007 - Parte I: A segurança alimentar

8 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3121: Ser solidário (15): ONG AD - Relatório de actividades de 2007 - Parte II: Luta contra a fome, ecoturismo e TV comunitárias