domingo, 7 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19078: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XLVI: Fortaleza da Amura, Quartel-General, Bissau, junho de 1969.


Foto nº 1 > Guiné > Bissau > Junho de 1969 > Os velhinhos canhões da Fortaleza de Amura. 


Foto nº 3 > Guiné > Bissau > Junho de 1969 > Edifício principal do comando geral do quartel-general.


Foto nº 2 > Guiné > Bissau > Junho de 1969 >  Fortaleza da Amura > Um pormenor da vista da Porta de Armas de dentro do quartel.


Foto nº 5 > Guiné > Bissau > Junho de 1969 > No interior das instalações da Amura, bem protegida por muros a toda a volta.


Foto nº 4 > Guiné > Bissau > Junho de 1969 > Entrada para a messe e bar de oficiais do quartel da Amura.


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Virgílio Teixeira (*), ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, set 1967/ ago 69); natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem já cerca de 90 referências no nosso blogue.


Guiné 1967/69 - Álbum de Temas:

T034 – O QUARTEL DA AMURA EM BISSAU: CENTRO DE DECISÕES DO CTIG


Caros companheiros e camaradas:

É com prazer que venho levar até vós, mais alguns temas, fotos, estórias e histórias, trabalho, lazer, convívios e copos com o pessoal, civil e militar, enfim passagens pelo nosso CTIG, Comando Territorial e Independennte da Guiné.

O meu novo formato passa a ter um tema de base e a seguir juntando mais alguns outros que se possam encaixar no principal, sem deixar de cuidar este, e assim ‘vou-me libertando de tantas dezenas de fotografias’ que, de uma só vez, tem sido difícil obter um bom resultado.

Em cada caso, faz-se um pequeno intróito sobre o Tema, sobre a unidade operacional à qual pertenço, o seu percurso, os meios disponíveis, o que foi feito e deixado por fazer, tendo sempre a consciência do dever cumprido.


I - Anotações e Introdução ao tema:

Em Bissau tinha como ‘fachada’ principal, o grande Quartel da Amura, em frente ao cais de desembarque do Porto de Bissau, com os seus ‘canhões’ ainda apontados ao mar, para prevenir qualquer ataque ‘terrorista’ ou dos Piratas das Caraíbas.

Este monumento durante a nossa Guerra em África, já totalmente desactivado, ainda era denominado como o Forte da Amura, foi reformulado como uma extensão do Quartel-General (QG), com sede em Santa Luzia, mas em cujas instalações eram ali realizadas as reuniões diárias de altos comandos militares, ao meu tempo de Spínola.

Tinha diversas outras funções que para aqui não interessa, mas era uma ‘obra-prima’ portuguesa, naquele mundo e cidade tão atrasada.

Muito poucos militares dos centenas de milhares que fizeram aquela guerra, tiveram o privilégio de ver, visitar e utilizar as suas instalações, ficavam-se na maioria das vezes com a vista do exterior que pouco dizia da realidade ali existente, e a maioria nem de fora viram para contar. Talvez no desembarque, dos navios poderiam ver aquelas belas instalações, mas nos anos 70 nem isso, pois as tropas desembarcavam no aeroporto de Bissalanca, e vice-versa.

Nas minhas varias visitas a Bissau, fui lá algumas vezes, numa delas encontrei no Bar de Oficiais, o cantor Marco Paulo, que já o conhecia do Porto, morava perto de mim, e já começava a ser conhecido. Ele era 1º cabo, e o responsável pelo Bar, servia no balcão ele ou outros em serviço. Tinha ali um bom ‘aconchego’,  alguém o recuperou para isso e depois acabou por dar espectáculos em alguns lugares da Guiné, mas eu nunca vi nem assisti a nenhum.

Quando já estou de partida em Bissau, a aguardar embarque para vir embora, fui lá uma última vez, levei a máquina e tirei algumas fotografias, para mais tarde recordar. É claro e confesso hoje, que poderia ter feito melhor, mas a cabeça não deu para mais e ficaram estas, era pior se não viesse nenhuma.

Como era um local militar, era só mesmo para visitar como tal, não dava para as farras que a gente procurava na cidade, nos bares, cafés, restaurantes, nas ruas, no Pilão.


II – Introdução às Legendas:

Nota:

O primeiro parágrafo da legendagem explica o que significa a foto. Já no segundo e seguintes, são notas e observações que faço em relação à história e contexto de cada foto no seu tempo.

As fotos são numeradas e seguidas por ordem, por vezes saltando alguns números para deixar folgas para novas fotos, e estão legendadas, seguindo uma ordem mais ou menos cronológica, quando possível, a ter em atenção alguns pontos:

Assim:

A descrição é sintética, lembra Quando, Como, Onde, O quê.

- Algumas têm apenas o ano, quando não é possível identificar a data certa;

- Outras podem conter o mês e ano, quando não é possível determinar o dia;

- Algumas dizem o dia certo, pois isso está escrito na foto ou em qualquer lugar.

Os locais dos eventos, normalmente são:

- Nova Lamego, NLamego – Abreviatura de Nova Lamego, NL – Sigla mais pequena de NL

- São Domingos, SDomingos – Abreviatura de São Domingos, SD – Sigla de São Domingos


III - Legendas das fotos:

F01 – Os velhinhos canhões da Fortaleza de Amura. Pode ver-se o relativo bom tratamento, tinha vários apontados para o cais e mar. Vemos perfeitamente o cais tal como o deixamos ficar para trás, pequeno com dificuldades de receber grandes navios, como o Uíge e outros. Como nota, posso dizer que já em 1985 este cais estava todo transformado, foi tudo alargado, o cais de acostagem foi para mais umas centenas de metros para o mar, um grande cais para receber os imensos contentores que iam chegando dia a dia com ajuda humanitária, ao mais pobre país do mundo nessa época. Grande obra, construída pela SOMAGUE portuguesa com financiamento de países árabes e outros. Foto captada em Bissau, durante o mês de Junho de 1969, aguardando embarque.

F02 – Um pormenor da vista da Porta de Armas de dentro do Quartel. A bandeira está na porta de entrada, existe uma rampa ou escadas que dão acesso ao interior do aquartelamento, que de uma maneira geral está bem tratado e arranjado. Foto captada em Bissau, durante o mês de Junho de 1969, aguardando embarque.

F03 – Edifício principal do Comando geral do quartel-general. Este é o edifício principal, onde se reúnem os altos comandos para a tomada de decisões. Está virado para a cidade, as traseiras para o mar. Podem ver-se pequenos canhões a ladear o edifício todo, com imponente escadaria, e a bandeira nacional. Não percebo porque estão os canhões apontados para o interior da cidade. No tempo dos piratas, seria o quartel atacado pela frente? Foto captada em Bissau, durante o mês de Junho de 1969, aguardando embarque.

F04 – Entrada para a messe e bar de oficiais do quartel da Amura. Instalações em bom estado, ambiente agradável, com rega e árvores a escadaria que leva ao Bar, as mesas e cadeiras que dão uma panorâmica para o interior do aquartelamento. Foto captada em Bissau, durante o mês de Junho de 1969, aguardando embarque.

F05 – No interior das instalações da Amura, bem protegida por muros a toda a volta. Visitei tudo a bordo da minha motorizada Honda Azul, que tinha em Bissau. Aquelas árvores e flores serão as Acácias que já foram publicadas num Poste meu? Ou que flores serão, por curiosidade?

«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BCAÇ 1933/RI15/Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21 set 67 a 04 ago 69».


NOTA FINAL DO AUTOR:

As legendas das fotos em cada um dos Temas dos meus álbuns, não são factos cientificamente históricos, por isso podem conter inexactidões, omissões e erros, até grosseiros. Podem ocorrer datas não coincidentes com cada foto, motivos descritos não exactos, locais indicados diferentes do real, acontecimentos e factos não totalmente certos, e outros lapsos não premeditados. Os relatos estão a ser feitos, 50 anos depois dos acontecimentos, com material esquecido no baú das memórias passadas, e o autor baseia-se essencialmente na sua ainda razoável capacidade de memória, em especial a memória visual, mas também com recurso a outras ajudas como a História da Unidade do seu Batalhão, e demais documentos escritos em seu poder. Estas fotos são legendadas de acordo com aquilo que sei, ou julgo que sei, daquilo que presenciei com os meus olhos, e as minhas opiniões, longe de serem ‘Juízos de Valor’ são o meu olhar sobre os acontecimentos, e a forma peculiar de me exprimir. Nada mais.

Acabadas de legendar, hoje,

Em, 2018-10-03
Virgílio Teixeira
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Guiné 61/74 - P19077: Parabéns a você (1506): Jorge Rosales, ex-Alf Mil Inf da 1.ª CCAÇ (Guiné, 1964/66)

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Nota do editor

Último poste da série de 4 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19069: Parabéns a você (1505 ): Artur Conceição, ex-soldado trms, CART 730 (Guiné, 1965/67) e Inácio Silva, ex-1.º cabo apont AP, CART 2732 (Guiné, 1970/72)

sábado, 6 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19076: In Memoriam (329): A Tabanca de Matosinhos vai promover uma homenagem ao João Rebola (1945-2018) no almoço da próxima quarta-feira, 10 de Outubro, às 12h30 no Restaurante Espigueiro (antigo Milho Rei), em Matosinhos (José Teixeira)

A TABANCA DE MATOSINHOS 
VAI PROMOVER UMA HOMENAGEM AO 
JOÃO REBOLA

Dia 10 de OUTUBRO às 12,30 
Com almoço

Restaurante O Espigueiro - Antigo Milho Rei, em Matosinhos



O João foi um frequentador assíduo da Tabanca de Matosinhos desde o primeiro dia em que tomou conhecimento da sua existência. Foi um elemento dinamizador e tesoureiro da Tabanca Pequena - Grupo de Amigos da Guiné-Bissau.
A sua passagem por estas instituições criadas por ex-combatentes a Guiné, foi profundamente marcada pelo seu carácter, pela sua forma de estar e pela sua forma de agir ao serviço dos mais frágeis.

Merece uma justa homenagem.
Contamos com a presença de todos os seus amigos no dia 10 de Outubro no Restaurante O Espigueiro (ex restaurante Milho Rei)

A Tertúlia da Tabanca de Matosinhos
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19072: In Memoriam (328): Homenagem da Tabanca de Matosinhos ao João Rebola (1945-2018)... O toque de silêncio e o poema com que nos despedimos dos heróis (José Teixeira)

Guiné 61/74 - P19075: Os nossos seres, saberes e lazeres (287): Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (6): A cidade medieval fortificada de Carcassonne e o seu turismo (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Julho de 2018:

Queridos amigos,
Ir a Carcassonne era sonho antigo, o viandante, por ossos do ofício, estudou a Idade Média e as imagens de Carcassonne eram usadas em slides, tanto pelo professor de História de Arte como pelo professor da História da Civilização.
Quando se desenhou esta viagem à Occitana, tendo como polo irradiante Toulouse, logo se ajuntou este objetivo. Depois de andar por povoados monumentais de património construído segue-se para as belezas naturais dos Pirenéus, escreve-se em letra de forma que o viandante ficou rendido a tanto deslumbramento.
Como segue.

Um abraço do
Mário


Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (6):
A cidade medieval fortificada de Carcassonne e o seu turismo

Beja Santos

Coisa singular, neste dia suspendeu-se a greve de comboios, saiu-se da estação e deparou-se imediatamente este trabalho de comporta, impossível não o registar, há ainda uma boa distância a percorrer até chegar à cidade fortificada, percorre-se a povoação, que tem os seus pergaminhos, tal como a cidade escarpada. A partir do século IX, Carcassonne foi a capital de um condado na suserania de Toulouse, vivia alegre e próspera até ao turbilhão provocado pela cruzada aos albigenses, em 1 de agosto de 1209, sob o comando de Simon de Montfort, Carcassonne conheceu um pesado cerco. Em 1240 procurou sacudir o jugo, São Luís de França não hesitou, mandou arrasar o burgo e expulsou a população para a margem esquerda do rio Aude, o Aude é conhecido no mundo inteiro como uma denominação vinícola de grande categoria. Não esquecer que estas imagens da comporta situam-se no canal do Midi, já dele se fez referência na cidade de Toulouse.



Da Ponte Velha, que liga Carcassonne à sua cidade medieval, o viandante tirou esta imagem sobre o rio Aude, não se vê, mas o dia é de canícula, o melhor, e assim se decidiu, é saborear uma boa salada e uma tosta antes de avançar para o grande objetivo da visita. Assim se fez, e com a alma levantada entrou-se na cidade medieval.


Não fosse São Luís digno da santidade e não teria reconsiderado, por razões de Estado, ser importante reforçar a cidade para a proteger de qualquer cobiça espanhola, e os seus descendentes continuaram a obra. O papel militar da cidade extingue-se em 1659 com a anexação do Rossilhão por Luís XIV e a invenção da artilharia moderna. Carcassonne ficou ao abandono até ao século XIX quando Prosper Mérimée se interessou por estas impressionantes ruínas e em 1844 Viollet-le-Duc começou o empreendimento do restauro que se prolongou até 1910. Sejam quais forem as críticas que se façam à artificialidade que acompanha estes restauros, eles não deixam de impressionar quem os visita, veja-se esta rua, as suas fachadas que preservam uma atmosfera medieval, a despeito de todos os retoques que a modernidade possibilita.


Deambular nestas ruas é entrar em atividades de consumo, para todas as idades, guloseimas, fritadas, lembranças para diferentes tipos de imaginação, não é necessário deglutir imediatamente, o turista sobraça os pacotes e saboreia pelo caminho ou leva lembranças. O que aqui se vê não é nada, as ruas de Carcassonne são verdadeiras feiras, aqui se encontram castelos-fantasma, restaurantes para diferentes bolsas, casas de bebidas, bugigangas e muito mais.





Irresistível esta litografia de uma escola primária que está reconstituída numa das ruas da cidade medieval de Carcassonne. Porque o ensino em meio rural seguramente que se processava nestes moldes, as galinhas a cacarejar, a vara do mestre a açoitar ou a intimidar, os socos pendurados no teto. Lembrança impressiva para os muito mais velhos, a pequenada é capaz de pensar que nada disto aconteceu.


O viandante pode garantir que a cidade permite uma evocação do que era a guerra de cerco em tempos medievais, aqui encontram-se diferentes formas arquitetónicas, vê-se à vista desarmada, destinadas a serem obstáculos a qualquer assaltante, basta pensar nas pontes levadiças, nos torreões, no tipo de ameias, no fosso e na barbacã que isolam o castelo do conde, percorrem-se em todas as direções a cidade, anda-se de praça em praça, as torres intimidam, os balcões são atalaias e depois consultamos os guias para saber que estas fortificações têm muitos séculos, há fundações galo-romanas, construções visigóticas, espessas muralhas edificadas por São Luís e sucessores, há uma mistura de tudo.


A Basílica de Saint Nazaire é o mais importante templo religioso de Carcassonne. O viandante confessa abertamente que nada do que ali viu o impressionou desmedidamente, com uma exceção, esta Pietá policromada do século XVI, atenda-se ao entrosamento dos corpos, à expressão dolorosa e ao ângulo de Cristo morto, uma imagem que fala por mil palavras.






Aqui se deixa um conjunto de ilustrações de como a Carcassonne arruinada até ao século XIX é hoje uma atração turística incontornável, provoca espanto ao pé e ao longe, e mesmo com aquela embriaguez comercial que circula nas suas entranhas sai-se de Carcassonne feliz com o que se viu, mesmo com muita toilette este castelo é inspirador para o que terá sido uma poderosa fortificação medieval.


Está na hora de regressar, atravessa-se a Ponte Velha, o viandante encaminha-se para a gare. Nisto, numa rua travessa está aberta uma igreja de fachada barroca, é uma tentação entrar. Num dos cantos, para agremiar uns tostões para uma obra solidária vendem-se livros de outras eras. O viandante estremece, levou esta edição de "Electra", do grande Jean Giraudoux para a Guiné, onde ficou em cinzas. Parece que tudo está ligado a tudo, deixa-se uma moeda, pega-se nesta belíssima edição que já fez o seu tempo, o grande escritor francês retorceu a trama da tragédia grega, envolvendo Orestes e Electra, Egisto, Clitemnestra e Agamémnon, cada criador tem os seus temperos, o compositor Richard Strauss fez uma ópera de dor lancinante e banhos de sangue, Giraudoux poetou e dulcificou a sua peça de teatro, já no comboio o viandante dá consigo a ler o belíssimo “Lamento do Jardineiro”, um entreato entre o primeiro e o segundo ato, inadvertidamente volta à Guiné e à companhia que este livro lhe deu, está feliz, daquelas cinzas muito antigas, hoje, num feliz acaso, "Electra" de novo lhe veio parar às mãos.
Amanhã, a viagem muda de rumo, encaminha-se para os Pirenéus. Primeiro, viagem de comboio até Lurdes. Depois logo se dirá, ir-se-ão mostrar imagens antigas de Pau, uma gentil senhora octogenária, que seguia frente ao viandante na carruagem, contou imensas histórias, o viandante referiu que iria a Pau, a gentil senhora pediu a morada do viandante e mandou-lhe um álbum antigo, são coisas que acontecem entre viajantes conversadores, por vezes o melhor fica nas recordações das viagens.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19054: Os nossos seres, saberes e lazeres (286): Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (5): Dos jardins do Palácio de la Berbie em Albi, de novo na cidade do tijolo (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19074: Facebook...ando (49): Álbum fotográfico de João Rebola (1945-2018), ex-fur mil, CCAÇ 2444 (Bula, Có, Cacheu, Bissorã e Binar, 1968/70)


Da esquerda para para a direita: primeira fila: Furriéis Laranjeira, Capitão, Cardoso, Felizardo, Teixeira; Alf Beirão; Furriéis Sá e João Rebola; segunda fila, de pé: Furriéis Marques, Firmino; Alf Marcão; Furriéis Correia, Moita; Cap João Abreu; Furriéis Eusébio, Lisboa, Bragança


T/T Uíge > A caminho da Guiné > 14 de novembro de 1968 > Há 45 anos, furriéis da CCaç 2444, na última refeição no Uíge, antes de conhecerem o desconhecido. Alguns deles, já eternamente ausentes, recordá-los-ei com imensa saudade. Que descansem em paz. 

Da esquerda para a direita: 1º plano: Joaquim Monteiro,  morto em combate; Eduardo Ferreira, já falecido, João Firmino; 2º palno, João Rebola e João Lisboa; 3º plano, José da Costa, Francisco Teixeira, Ramiro Marques;  de pé, me 4º plano, Eduardo Moita.


Guiné > Região do Oio > Bissorã > Jogo de futebol, entre a CCAÇ 2444 e a CCS/ BCAÇ 2861 > Resultado: 3 a 0. O Beirão marcou 2 e o Álvaro 1... Da esquerda para a direita: 2ª fila, de pé: elemento não identificado; to do 64, já falecido; Medeiros, Matos, Eduardo (ja falecido), Moita, Silvestre e João Rebola; 1ª fila: Teixeira, Leonor, Pombo, Beirão, Álvaro e Faial.


João Rebola, à direita, com o capelão Augusto Baptista a entregar uma taça  (à esquerda) e Salvador Sá Ferreira (ao centro) (já falecido)... Repare-se na tatuagem. no braço esquerdo, do  nosso saudoso camarada.


Da esquerda para a direita: Soares, Armando Pires (. o fadista e nosso grã-tabanqueiro, fur mil enf da CCS/ BCAÇ 2861  e João Rebola.


Bissorã: o matadouro, a velha ponte para a Outra Banda e o vencedor do 'melhor prá água': medalha de ouro!


Guiné > Região do Oio > Có  > Almoço de Natal de 68 > com o Cap. Vargas Cardoso e o Alf. Marcão.

Fotos (e legendas): © João Rebola (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Seleção de fotos do álbum fotográfico de João Rebola (1945-2018), disponíveis na sua página do Facebook:

A CCaç 2444, "Os Coriscos",  formou-se em S.Miguel, Açores, BII 18.  Fez o IAO  no Campo Militar de Sta Margarida, donde partiu para o TO da Guiné. Esteve em Bula, Có, Cacheu, Bissorã (a maior parte do tempo), e finalmente em Binar, entre 1968 e 1970. (Vd. aqui vídeo de João Carlos Carneiro, no YouTube).


2. O único representante da CCAÇ 2444 na Tabanca  Grande era o João Rebola (que tem 23 referências no nosso blogue) e que a morte levou aos 72 anos:

A sua filha, Maria João Rebola [, foto à esquerda],  escreveu a seguinte mensagem, comovente, na página do Facebook do pai, no dia 3 do corrente:
A todos os amigos do meu papá queria deixar um abraço muito apertado. O carinho que nos transmitiram nestes últimos dois dias foi incalculável.

Sentir a grandiosidade da vossa amizade através dos vossos relatos, através das vossas lágrimas, que não poucas vezes romperam as amarras fortes dos olhos de homens não menos valentes, através dos abraços que recebemos...
Bem haja a todos que acompanharam o meu pai em todas as suas diferentes fases e facetas da vida e que o permitiram exprimir e expressar toda a sua boa disposição, carinho, disponibilidade, alegria...

Um brinde ao Joao Rebola!
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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19013: Facebook...ando (48): os poemas amargos do 'alfero' Cabral

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19073: Notas de leitura (1106): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (54) (Mário Beja Santos)

Imprensa Nacional em Bolama, 
Foto de Francisco Nogueira, inserida no livro “Bijagós Património Arquitetónico”, Edições Tinta-da-China, 2016


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Fevereiro de 2018:

Queridos amigos,
O gerente Virgolino Pimenta passou um mau bocado com a vigilância britânica, havia empresas que tudo faziam para que os seus produtos chegassem aos alemães, constavam de uma lista negra, recorriam a expedientes que eram intermediários. Durante um tempo, as fronteiras, além de porosas, eram um meio fácil de chegarem a locais que depois faziam transbordo para a Alemanha e países amigos. Tudo vai mudar a partir de 1943, quando as potências do Eixo abandonaram África. Mas a Inglaterra manteve-se vigilante todo o tempo, como esta correspondência, iniludivelmente, o revela.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (54)

Beja Santos

Todo este período que compreende a II Guerra Mundial reflete-se no BNU da Guiné fundamentalmente em duas áreas: com a transição da capital para Bissau, decidiu-se reduzir ao mínimo a filial de Bolama que ficou com o estatuto de Correspondência; e estreita vigilância às operações comerciais e financeiras, a pressão britânica era permanente para que não saíssem matérias-primas para o Eixo e seus aliados.

De há muito que o gerente de Bissau pedia a Lisboa o encerramento de Bolama, tenha-se presente uma informação datada de 22 de agosto de 1933, já nessa altura se dizia que fora solicitado ao Ministro das Colónias o encerramento da filial de Bolama, em virtude dos avultados prejuízos, e o gerente de Bissau verberava assim:
“O movimento desta filial é insignificante, e nem sequer a Caixa do Tesouro justifica a sua existência, pois, conforme se alvitrou a Sua Ex.ª o Ministro das Colónias, este serviço pode, sem prejuízo, ser feito pela Fazenda, caso não convenha concentrá-lo em Bissau.
O nosso administrador, Dr. Francisco Vieira Machado, aquando da sua visita à Guiné, reduziu ao mínimo as despesas gerais da filial, cujo quadro do pessoal foi igualmente reduzido.
Apesar das razões apontadas, entende o Sr. Governador da Guiné que o Banco deve manter os serviços da Caixa do Tesouro, embora entregue a sua Agência a uma casa comercial, isto no caso de se não querer mudar a capital para Bissau”.

O cônsul da Grã-Bretanha protestava quanto aos negócios da Companhia Agrícola e Fabril da Guiné. Escrevia o gerente de Bissau para Lisboa, em 26 de maio de 1942:
“A firma em questão está na lista negra inglesa. O cônsul inglês exerce uma especial vigilância sobre a Companhia, e todos que transaccionarem com ela ficarão sujeitos a represálias por parte da vigilância inglesa e irão parar à lista negra.
É esta a razão por que esta firma não consegue relações comerciais nesta colónia e, por isso, não consegue vender um quilo dos produtos que tem armazenados em Bubaque.
Quando o gerente da Companhia começou a falar-nos em lhe concedermos crédito, sondámos com toda a prudência o cônsul inglês e ficámos com a certeza absoluta de que ele incitaria a vigilância inglesa contra quem negociasse com a Companhia.
É certo que o cônsul inglês, não tendo grandes possibilidades de exercer represálias contra o Banco, não hesitará em as exercer contra as sociedades ligadas ao Banco e isso lhe traria consequências bem mais graves que as que já resultam do disfarçado mas firme bloqueio que os ingleses fazem a esta colónia.
A situação da Companhia é séria. Não vende os seus produtos. A fábrica está parada e o pessoal de cor e europeu foi despedido. As plantações velhas estão sem cuidados e já invadidas pelo matagal que cresce continuamente. O coconote armazenado desde o começo da guerra tende a depreciar-se. Os óleos guardados desde a mesma altura, também se acabarão por depreciar. Da má situação da Companhia resultará impossibilidade desta liquidar o empréstimo, a fazer-se. E se o Banco tiver que lançar mão da garantia, não tem quem lha compre nem a poderá embarcar, porque os ingleses não darão navicert (certificado inglês usado em tempo de guerra para transporte marítimo) ”.

Em 3 de junho desse ano, o administrador do BNU A. Menezes Correia de Sá assina a seguinte circular sobre a filial de Bolama:
“Para os devidos efeitos comunicamos a V. Sas. que o Exmo. Conselho do Banco, em sessão do passado dia 12 de Maio, resolveu transformar a Filial de Bolama em Correspondência; portanto todas as operações com esta colónia serão feitas com a nossa dependência de Bissau que passou a denominar-se filial.
Em Bolama apenas funcionará essa Correspondência subordinada à filial de Bissau, a cargo da Sociedade Comercial Ultramarina, Bolama”.

O gerente Virgolino Pimenta, a tal propósito, corresponde-se com a sede, informa que a Sociedade Comercial Ultramarina ficará com móveis e os cofres que tinham pertencido à agência de Bolama, as louças, vidros, talheres e pequenas miudezas iriam para Bissau, tal como o arquivo e os documentos.

Em 15 de novembro de 1943 é expedido para Lisboa, com caráter reservado, um ofício em que se fala do Flit e da doença do sono, tem interesse tomar nota do que ele escreve:
“O Flit pedido é necessário para prevenção. Se houver a sorte de não ser preciso para tal efeito é sempre necessário porque temos traça em todo o edifício e temos de defender as notas e valores do Estado existentes na casa forte onde há também traças e outros bichos da velha madeira das estantes.
O secretário do Sr. Governador informou-nos anteontem que ia buscar importante quantidade de vacina ao território francês.
Aproveitamos escrever sobre sanidade da colónia e informamos que, há tempo, apareceram casos da doença do sono, em Bissau, e em três indivíduos que foram picados a uns 15 km da cidade. O ex-Director de Saúde teimou em não diagnosticar doença do sono e os três indivíduos chegaram a tal ponto que o Sr. Governador os remeteu a Zinguinchor onde os médicos franceses, na forma gentil do costume, verificaram que os doentes estavam já em tal estado que morreriam certamente, se não fossem imediatamente tratados da doença do sono.
E deram gratuitamente os remédios necessários.
O ex-Director de Saúde manteve a sua teima, o que demonstrava uma ignorância total pois o sangue dos doentes que foram a Zinguinchor dera prova absoluta do seu mal, na análise feita”.

Os ingleses eram também severos com a quantidade de bagagens dos passageiros a caminho da metrópole, assim se compreende a carta que o inspetor Caetano de Sá dirigiu ao agente em Bissau da Companhia Nacional de Navegação:
“Para que V. Ex.ª se digne transmitir a todas as pessoas que adquiram passagens para a metrópole nos navios da vossa Companhia, comunico que, segundo informou o vice-consulado britânico nesta cidade, os passageiros que desejam levar consigo bagagens, géneros alimentícios de peso superior a 5 kg terão de solicitar do vice-consulado um certificado de origem, que custa 25$50. Estes certificados serão passados para quantidades entre 5 e 1000 kg. Para os embarques de géneros alimentícios com peso superior a uma tonelada é necessário navicert”.

Os pedidos de crédito eram rigorosamente vigiados pelo consulado britânico. Em 12 de novembro de 1943 o Vice-Cônsul James Graham dirige a seguinte carta ao gerente Virgolino Pimenta:
“Dear Sir,
I have been instructed by His Britanic Majesty’s Principal Secretary of State for Foreign Affairs to inform you that His Majesty’s Government in the United Kingdom regard with very great displeasure the loans which your bank have made in the recente times to the German-owned company at Bubaque, “Agrifa”, in exchange for palm-oil and other goods. His Majesty’s Government point out that these loans provide the company “Agrifa” with a market for their products and enable them to continue in existence”.

No dia seguinte, a propósito de créditos para a Companhia Agrícola e Fabril da Guiné, o gerente Virgolino Pimenta escreve para Lisboa:
“O consulado britânico nesta cidade nunca perdoou ter o Banco feito a operação de crédito efectuada, há tempo, com esta Companhia.
Agora que o crédito já está liquidado e que julgávamos o assunto arrumado, volta o consulado com a carta cuja cópia juntamos.
Falámos com o cônsul, a quem fizemos ver que V. Ex.ª agiu dentro dos severos preceitos da nossa neutralidade, tratando todos igualmente e ainda lhe dissemos que a Companhia tem a sua sede em Lisboa e, legalmente, é considerada portuguesa.
Nada o convence e, pelo que se vê, o assunto está merecendo a atenção de Londres, mas vinculando pessoalmente o gerente desta filial que, como V. Ex.ª sabe, apenas cumpriu as ordens de V. Ex.ª.
É interessante registar que o signatário foi avisado de Lisboa por uma pessoa amiga, no passado correio, que ia ser alvo de qualquer perseguição por parte das autoridades inglesas.
Não é este o ponto que interessa. O que interessa é salvaguardar o Banco de qualquer aborrecimento, este pode surgir na negação, por exemplo, de navicerts relativos a cargas em que houvera a nossa interferência directa ou por ordem de clientes.
Já instámos com a “Agrifa” por várias vezes para retirar o óleo do nosso armazém mas esta nada resolve.
O cônsul britânico telegrafou ontem para Londres sobre o assunto, em extenso telegrama que não sabemos o que diz, por estar cifrado.
Dado o que lhe expusemos, prometeu que iria tudo esclarecer do modo mais favorável ao Banco.
No entanto, pedimos licença para alvitrar a necessidade de se esclarecer o caso, aí, no consulado geral britânico.
Se a nossa observação não erra, é provável que a “Agrifa” venha a solicitar novo crédito sobre o mesmo óleo.
Afigura-se-nos de desatender nova operação pois se se fizer não resta dúvida nenhuma que surgirão maiores aborrecimentos, em troco, afinal, de pequeno benefício, tanto mais que o óleo vai tendo excesso de prazo de armazenagem e os tambores vão apresentando vestígio de estrago.”

Tempos depois, a 16 de fevereiro de 1944, volta-se aos assuntos da Companhia Agrícola de Bubaque, esclarece-se Lisboa do seguinte modo:
“Já informámos que todo o óleo saiu do nosso armazém. A demora em ser retirado provinha da negativa do cônsul inglês em autorizar que os donos dos camiões os alugassem para este efeito e só a custo se conseguiu.
Pedimos muita desculpa mas não podemos perceber como nos pode ser atribuída grande parte da responsabilidade em quaisquer consequências que possam surgir.
E menos percebemos ainda porque é mal julgado o nosso procedimento. Basta ler-se toda a nossa correspondência telegráfica e ordinária para se ver que esta gerência fez tudo quanto pôde para não se fazer tal operação com os alemães. O procedimento que V. Ex.ª nos censura foi apenas uma resultante de ordens que V. Ex.ª nos deu numa carta reservada de 1943 mandando-nos procurar vender o óleo à Sociedade Comercial Ultramarina.
Ora a primeira coisa que tínhamos que fazer, para cumprir aquela ordem, era abordar o cônsul inglês para ver se ele permitia que o óleo passasse para Sociedade Comercial Ultramarina sem esta ir para a lista negra.
O cônsul garantiu que a Sociedade Comercial Ultramarina iria para a lista negra e como os alemães liquidaram a conta ficou o caso arrumado pelo melhor.
Por tudo o exposto, se vê que não fizemos nada para nos serem imputadas responsabilidades ou para merecermos censuras.
V. Ex.ª pode repetir-nos que a autoridade estrangeira nada tinha com isto.
Aí, pode pensar-se que é assim. Aqui, na prática, não é. Todos têm que se subordinar ao cônsul inglês”.

No acervo documental do Arquivo Histórico do BNU nada mais relevante se encontrou sobre este período da II Guerra Mundial. O que se segue tem a data de 1947, o gerente Virgolino José Pimenta entrega a gerência da filial de Bissau ao gerente José Henrique Gomes.

Continua

Esta fotografia do governador Muzanty, cujo nome fica ligado às campanhas de 1907-1908, contra Infali Soncó, consta do álbum “Guiné – Alvorada do Império”, 1953, trata-se de uma homenagem ao Governador Raimundo Serrão.

Mulheres de etnia “Papel” – (Tatuagens), 
Retirado do livro “Guiné Portuguesa”, I Volume, por Luís Carvalho Viegas, 1936.
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Notas do editor

Poste anterior de 28 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19052: Notas de leitura (1104): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (53) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 1 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19059: Notas de leitura (1105): “Gargalhada da Mamã Guiné”, de Carlos-Edmilson M. Vieira, edição de autor, 2014 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19072: In Memoriam (328): Homenagem da Tabanca de Matosinhos ao João Rebola (1945-2018)... O toque de silêncio e o poema com que nos despedimos dos heróis (José Teixeira)


João Rebola (1945-2018). Foto: Tabanca de Matosinhos


1. Mensagem do dia 4 de Outubro de 2018, do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70):

Assunto - A Homenagem da Tabanca de Matosinhos ao João Rebola

O João Rebola era um cativador de amigos. À volta dele vivia-se a amizade, a alegria e a boa disposição. Aquele homem nunca deixou transparecer desanimo ou tristezas, mesmo quando já minado pela doença, nos recebia em sua casa.

Agora que partiu ao encontro do Criador, sentimo-nos mais pobres.

Na despedida final foi bem patente a amizade que o unia a muitos camaradas da Guiné que se cruzaram com ele nos últimos anos da sua vida. Uma presença massiva de gente que palmilhou as picadas da Guiné, vinda de norte e sul do país, que lhe quis prestar a ultima homenagem com a presença nas cerimónias fúnebres.

Em devido tempo, o Eduardo Moutinho Santos, Presidente da Tabanca Pequena - Grupo de Amigos da Guiné- Bissau, transmitiu aos presentes, em nome da Tabanca Pequena e da tertúlia da Tabanca de Matosinhos, as seguintes palavras:


UMA DESPEDIDA ...

Caro João Rebola

Com a permissão da Elsa e dos teus filhos Maria João e Miguel, em meu nome pessoal e dos teus amigos e camaradas da Tabanca de Matosinhos aqui presentes, e também de todos aqueles que, por vários motivos, aqui não podem estar neste nosso último encontro, queria recordar-te - pelo resto dos dias que ainda por aqui andarei - com algumas palavras para expressar-te a gratidão que sinto por teres permitido há uma dezena de anos que, por nos termos encontrado e conhecido na Tabanca de Matosinhos, eu fizesse parte do teu círculo de amigos e camaradas. E acredita que, de facto, sinto de todo o meu coração que fomos amigos e camaradas com a magnitude que estas palavras encerram.

- Apesar de ter sido bancário durante mais de 23 anos, e ter andado muitos anos pelo Sindicato desempenhando várias funções e cargos sindicais, nunca – se a memória me não atraiçoa – ali nos encontrámos. Felizmente que eu não era grande “cliente” dos SAMS.

- E apesar de a nossa permanência na Guerra ter coincidido no tempo, e os nossos aquartelamentos na Guiné - Có e Jolmete - apenas distarem uns 15 kms entre si, as condições do terreno e a guerra não permitiram que tivéssemos oportunidade para qualquer encontro.

Assim, foi a necessidade de conviver e partilhar experiências nos convívios da Tabanca de Matosinhos, para fazermos a catarse do stress da guerra, que levou a conhecermo-nos e a unir os nossos esforços e os de muitos camaradas de armas, seu familiares e amigos, na missão que atribuímos à nossa ONGD, a Tabanca Pequena-Grupo de Amigos da Guiné-Bissau, de proporcionar ajuda às populações daquele martirizado país irmão.

E, caro João, nessa missão foste o melhor de todos nós, o mais entusiasta e o mais empenhado, ou seja, o primeiro.

Obrigado João por teres aceitado o meu desafio para participares na Direção da ONGD como tesoureiro, e me teres mostrado que é sempre possível, com muito pouco, dar sentido àquela máxima da Madre Teresa de Calcutá que tinhas como lema de vida: “Não devemos permitir que aquele que vem ter connosco saia da nossa presença sem se sentir melhor e mais feliz.”

João, continua, onde quer que estejas, a abençoar a Elsa, a tua para sempre companheira, amiga e amante, e os teus filhos Maria João e o Miguel que te terão para sempre no coração.

Perdoem-me, mas faltam, ainda, uma palavras de todos nós, teus camaradas de armas. A guerra, por que passamos na nossa juventude, matou-nos a todos um poucochinho que fosse. Por isso, devemos considerar-nos merecedores da homenagem que se presta aos que caem em combatem. Aqui fica essa homenagem e deixo-te com o toque de silêncio e o poema com que nos despedimos dos heróis:


Toque do SILÊNCIO ... (música de fundo).

O dia terminou, e o sol escondeu-se
sobre os lagos, nas colinas e no horizonte.
Mas tudo está bem,
a luz ténue obscurece a visão,
e uma estrela embelezando o céu
e brilhando luminosa,
aproxima-se ao longe.

Cai a noite.
Graças e louvores pelos dias vividos
debaixo do sol,
debaixo da chuva,
debaixo das estrelas e
debaixo do céu.

E enquanto percorremos o nosso caminho
- disso temos a certeza –
Deus está próximo.

Descansa em paz!!! JOÃO

02/10/2018

Eduardo Moutinho Santos

[Publicado também na página do Facebook da Tabanca de Matosinhos]
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Nota do editor:

Último poste da série >  2 de outubro de  2018 > Guiné 61/74 - P19064: In Memoriam (327): António Manuel Sucena Rodrigues (1951-2018): até sempre, camarada ! (António Duarte, Jorge Araújo, Luís Graça)

Guiné 61/74 - P19071: Vídeos de guerra (17): "Buruntuma, algum dia serás grande", de Jorge Ferreira, no You Tube, com música de Mamadu Baio


Vídeo (11' 03'') alojado em You Tube > Jorge Ferreira (Corytesia do autor, membro da Tabanca Grande)

Vídeo: © Jorge Ferreira (2018). Todos os direitos reservados. 


Jorge Ferreira, foto da sua página do Facebook
1. Está disponível, desde 10 de junho último, no YouTube, na conta de Jorge Ferreira, um vídeo (*) com uma seleção das suas belas fotos do livro "Buruntuma: 'algum dia serás grande', Guiné, Gabu, 1961-63". (Edição de autor, Oeiras, 2016)(**).

O vídeo merece uma "visita" por uma dupla razão: 

(i) o Jorge Ferreira (ex-alf mil da 3ª CCAÇ, Bolama, Nova Lamego, Buruntuma e Bolama, 1961/63), é membro da nossa Tabanca Grande,  é um fotógrafo amador com mais de meio século de experiência, tem um página pessoal no Facebook, além de um "site" de fotografia, Jorge da Silva Ferreira; as suas fotos de Buruntuma inserem-se na categoria da etnofotografia;

Mamadu Baio: foto de Luís Graça (2014)

(ii) o vídeo tem a excecional colaboração de um outro grã-tabanqueiro (nº 642), talentoso músico guineense,  lider do grupo musical Super Camarimba,  Mamadu Baio, originário da tabanca de Tabató (, região de Bafatá, Guiné-Bissau), e hoje cidadão português; a musiquinha que ele disponibilizou  é do primeiro CD dos Super Camarimba ("Sila Djanhará", c. 2010), gravado no Mali.

O nosso editor, Luís Graça, pôs o Jorge Ferreira erm contacto com o Mamadu Baio e lá chegaram os dois a um acordo sobre a utilização de uma das faixas de música, com menção dos direitos de autor, na ficha técnica, no final.O vídeo, disponível numa rede social de impacto gobal como o You Tube, não tem qualquer propósito comercial, é uma homenagem ao povo de Burintuma (que em mandinga quer dizer justamente "Algum dia serás grande").


2. O Jorge Ferreira foi convidado do programa de Luiz Carvalho, Fotobox, o n.º 88, há 5 meses atrás. O vídeo pode ser visto aqui, no Vímeo > Fotobox. Luiz Carvalho, arquiteto de formação, é um conceituado fotógrafo, fotojornalista, professor de fotografia,  realizador.

O Fotobox é um programa de televisão da RTP3 sobre Fotografia, do autor e realizado  Luiz Carvalho. Sinopse: entrevistas a fotógrafos; fotografias com Histórias; as escolhas de Luiz carvalho da semana.

Sabemos, através do Jorge Ferreira, que o Luiz Carvalho está interessado em conhecer e eventualmente divulgar, no Fotobox,  alguns dos nossos melhores álbuns fotográficos sobre a Guiné e a guerra colonial (1961/74).
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5 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17321: Notas de leitura (953): "Buruntuma - Algum Dia Serás Grande - Guiné-Gabú - 1961-63", por Jorge Ferreira (Mário Beja Santos)

14 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17139: Agenda cultural (546): Apresentação do livro de fotografia, "Buruntuma", do nosso camarada Jorge Ferreira, em Oeiras, no passado sábado, dia 4 (Parte II) - Fotos de tocadores de korá e atuação do mestre Braima Galissá

6 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17110: Agenda cultural (545): Apresentação do livro de fotografia, "Buruntuma", do nosso camarada Jorge Ferreira, em Oeiras, no passado sábado, dia 4 (Parte I) - As primeiras fotos

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19070: Tabanca Grande (467): José Ramos, ex-1º cabo cav, condutor Panhard AML, EREC 3432 (Bula, 1972/74)... Novo grã-tabanqueiro, nº 778.


Guiné > Região do Cacheu > Bula > 1º cabo cav, condutor de Panhard AML, EREC 3432 (1972/74)


As quatro primeiras Panhard, a operar no TO da Guiné (1966). Foto de José Linhares, Antigos Combatentes da Guiné... In: Blogue Panhard Esquadrão de Bula, Guiné, 1963-1974... Com a devida vénia

Na Guiné, o espaço físico do “Esquadrão” de Bula ficou ligado, até final do conflito, à Panhard, às unidades que ai permaneceram e em particular à figura do então Cap Monge, comandante do ERec 2454, que obteve autorização para instalar a sua unidade num espaço próximo dessa povoação, anteriormente ocupado pela "Engenharia", durante a fase de construção de estradas na zona.
Por muitos lugares que andássemos, e andámos, aquele local simbolizava a nossa “casa”, onde todos queríamos regressar e nos sentíamos mais protegidos.


No excelente livro de memórias "Guiné mal-amada - O inferno da guerra"  [, Porto: Fronteira do Caos Editores, 2013], de António Ramalho de Almeida,   dos primeiros oficiais do Exército a tirar a especialidade de autometralhadoras Panhard, na Escola Prática de Cavalaria de Santarém, tendo cumprido uma comissão de serviço no TO como Alf Cav, este diz a certo passo, a propósito da sua nomeação para uma nova missão:

" (...) Aguardamos a chegada de um esquadrão de autometralhadoras Panhard, mas a preparação ainda está atrasada à volta de dois meses. Estão ainda na Metrópole em Santa Margarida e só devem embarcar em Junho."

Este texto antecipa o princípio da utilização das Panhard na Guiné, com a chegada, em 1966, do Pel Rec 1106, que foi a primeira unidade a operar estas viaturas blindadas no TO. Esta unidade seria rendida pelo Pel Rec 2024, que posteriormente integrou o ERec 2454. 

Fotos (e legendas): © José Ramos (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Resposta do José Ramos ao nosso convite para integrar a Tabanca Grande, passando a sentar-se no lugar nº 778, sob a sombra protetora e fraterna do nosso mágico poilão (*)

Assunto - Esquadrão de Bula
Data: quinta, 27/09, 16:15

Caro Luís,

Foi de facto um acaso agradável o nosso encontro e quero enviar-te um abraço pelo modo simpático e "histórico" como respondeste (*). Bem como, o convite que envias e que aceito. Envio pois as fotos e um texto que creio serve ao caso.

Em 1971 cruzei a Porta de Armas do RL 1 / CICA 3, de Elvas, integrando o SMO e realizar a instrução militar básica, vindo depois para o RC 7, de Lisboa, para atirar a especialidade de condutor de Panhard AML, tendo em 1972, após mobilização, rumado à Guiné-Bula, integrando o ERec 3432-2.ª Fase, e aí permanecido até 1974.

Hoje, na idade do tempo, criei o blogue Panhard Esquadrão de Bula, Guiné 1963-1974, que revisita os factos e as vivências do passado, longe que vão essas realidades, perto que continua o espírito de camaradagem. E é com esse valor que me apresento e agradeço o convite do Luís Graça para integrar a vossa, e a partir de agora a nossa Tabanca Grande, acolhendo-me igualmente à sombra do nosso mágico e fraterno poilão.


Temos que arranjar um pouco mais de tempo para nos sentarmos a tomar um café, na Lourinhã, e ficarmos a conhecer-nos melhor.

Abraço.
José Ramos


2. Resposta, pronta,  do editor Luís Graça, no mesmo dia 27 de setembro:

Obrigado, Zé, passas então a ter o lugar (c)ativo n.º 778, à sombra do nosso poilão... Entras com um atraso de 4 anos... O lapso foi nosso. Mas tudo se recupera... Fico feliz por ti e por todos nós. Por estes dias estou no Norte, vou fazer a nossa vindima, na Quinta de Candoz (...).

Não temos "turismo rural" ou "alojamento local" mas podíamos ter... Sei que estás a montar um, no Casal Santos, Lourinhã. Os meus sócios vivem no Porto, eu em Lisboa, a 400 km... Às 4ªs feiras e sábados, há sempre "trabalhos agrícolas"... Eu venho menos... Gosto de cá vir... Temos agora as vindimas, neste fim de semana e no próximo (...).

Fico com o teu telefone, para uso pessoal. Depois ligo-te. Entretanto, vou-te apresentar à Tabanca Grande. Passas a estar na lista alfabética dos membros da Tabanca Grande, 778 contigo, dos quais 68 infelizmente já falecidos. (Ver lista na coluna do lado esquerdo do blogue.)

Um alfabravo. Cumprimentos à tua esposa.

PS - As regras editoriais do nosso blogue já as conheces: aqui estão.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 22 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19036: Blogues da nossa blogosfera (105): Panhard, Esquadrão de Bula, Guiné 1963-1974, criado e editado por José Ramos, ex-1º cabo cav, EREC 3432 (1972/74)

Acrescente-se que o José Ramos, de acordo com a sua página pessoal: (i) é coordenador da ação social da Liga dos Combatentes-Núcleo de Torres Vedras; (ii) estudou Ciências Sociais Aplicadas em Universidade Aberta - UAb; e (iii) estudou Serviço Social na mesma universidade. (...)


(**) Último poste da série >

2 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18891: Tabanca Grande (466): Manuel Gonçalves, ex-alf mil manutenção, CCS / BCAÇ 3852, Aldeia Formosa, 1971/73; ex-aluno dos Pupilos do Exército, transmontano, vive em Carcavelos, Cascais. Senta-se à sombra

19 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19026: In Memoriam (322): Manuel Maria Veira Carneiro (27 jan 1952 - 11 set 2018), natural do Marco de Canaveses, ex-sold paraquedista, CCP 121 /BCP 12 (Bissalanca, 1972/74)... Nosso grã-tabanqueiro, a título póstumo, nº 777

Guiné 61/74 - P19069: Parabéns a você (1505): Artur Conceição, ex-soldado trms, CART 730 (Guiné, 1965/67) e Inácio Silva, ex-1.º cabo apont AP, CART 2732 (Guiné, 1970/72)


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Nota do editor

Último poste da s érie de 3 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19066: Parabéns a você (1504): Cor Ref Carlos Alberto Prata, ex-Capitão, CMDT da CCAÇ 4544/73 e CCAÇ 13 (Guiné, 1973/74) e Hélder Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF (Guiné, 1970/72)