sábado, 15 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3456: Memória dos lugares (13): Olossato, CCAÇ 816, 1966 (Rui Silva)



Guiné > Região do Oio > Olossato > 1966 > O Rui Silva com os seus amiguinhos da povoação (as duas fotos de cima)... O aquartelamento e a tabanca (nesta foto de 1966, e que é a 3ª e última a contar de cima)... Por razões técnicas não se publica ainda uma outra foto aérea, com detalhadas legendas...

Fotos: © Rui Silva (2007). Direitos reservados

1. Mensagem de Rui Silva (*), com data de 4 do corrente:


Caríssimos Luís, Vinhal e Briote.

Antes do mais, desejo que este mail vá ao encontro da melhor saúde e disposição nas vossas pessoas.

Aí vão fotos do Olossato! (**)

Perdoem-me a confidência mas Olossato e a sua humilde gente ficou no coração da comunidade 816, daí…

As 2 primeiras fotos falam por si: são vistas aéreas (fotos tiradas de uma DO 27) : uma ao natural e outra legendada [ a publicar mais tarde].

Na 3.ª foto, estou eu com os amiguinhos da Companhia, Sana e Abdul, 2 crianças típicas do Olossato; muito diferentes no comportamento, mas ambas crianças alegres e disciplinadas, isto é bons meninos, para não esquecer o Reguila (quem não o conhecia pelas suas cantigas e a dançar ao mesmo tempo!) que com grande tristeza nossa, e durante a nossa estada em Olossato, morreu num palmo de água numa bolanha próxima do aquartelamento, após um ataque epiléptico. Mais adiante falaremos melhor destas entidades.

Ficava muito feliz se o duo inseparável Sana e Abdul estivessem bem (ministros, por exemplo). Caramba não me lembrava que o pequeno campo de futebol tinha marcações e tudo!

A 4.ª foto, trata-se de um pequeno contingente de crianças indígenas. Não, não se trata de uma aula pró-militar. Apenas uma brincadeira. Faço votos para que hoje sejam ilustres guineenses. Reparem que alguns já vestiam na moda – roupas rotas ( passe o grotesco da minha parte).

Um abraço
Rui Silva (***)
ex-Fur Mil
CCAÇ 816
Bissorã, Olossato, Mansoa
1965/67


PS - Aproveito para deixar um grande abraço à 566 que teve a sua comissão também no Olossato, antes de nós, e quão amigos nós éramos!

_________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 31 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3383: Páginas Negras com Salpicos Cor-de-Rosa (Rui Silva) (1): A terrível estrada do K3: 1 de Agosto de 1965, o Dia Mais Longo

(**) Vd. últimpo poste destasérie > 28 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3098: Memória dos Lugares (12): Estrada de Gadamael, para norte, cruzamento para Guileje (Nuno Rubim)

(**) Vd. postes anteriores do Rui Silva:

25 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3355: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (9): Ainda falando do Sarg Pil Av Honório (Rui Silva)

7 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3031: Convívios (70): Pessoal da CCAÇ 816, no dia 10 de Maio de 2008, em Viana do Castelo (Rui Silva)

17 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2546: Álbum das Glórias (40): Equipas de Andebol do Benfica de Bissau e da Ancar em 1966 (Rui Silva)

18 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2279: Bissorã: As rondas nocturnas (Rui Silva, CCAÇ 816, 1965/67)

13 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2103: Gente do Olossato (Rui Silva, CCAÇ 816, 1965/67)

3 de Junho de 2007> Guiné 63/74 - P1810: Convívios (14): CCAÇ 816 (Oio, 1965/67), em Joane, Famalicão, em 5 de Maio de 2007 (Rui Silva)

3 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1809: Base do PAIGC, em Iracunda, Oio: Eram quatro horas e meia da madrugada... (Rui Silva)

30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1711: Tertúlia: Apresenta-se o Fur Mil Rui Silva, CCAÇ 816 (Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67)

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3455: Em louvor das nossas histórias/estórias, sejam elas cabralianas ou com H (João Coelho / Torcato Mendonça / Vitor Junqueira)


Gráfico com os resultados da Sondagem nº 8, que decorreu de 7 a 13 de Novembro de 2008 (7 dias). A questão em votação era a opinião segundo a qual "no nosso blogue, a palavra 'estória' devia ser pura e simplesmente banida". Votaram 126 amigos e camaradas da Guiné, a maior votação de sempre...

Os resultados apontam para a seguinte conclusão: não há vencidos nem vencedores, dois termos que não existem na nossa Tabanca Grande; em contrapartida, há uma certeza: vamos continuar, no nosso blogue, a escrever (e a ler) histórias e... estórias. De guerra e paz. De amor e ódio. De drama e comédia. De sangue, suor e lágrimas, mais umas pitadas de... humor (*). De resto, talento(s) não nos faltam... Como diz o Vitor Junqueira, com o seu humor corrosivo, venha de lá aço! (LG)

Imagem: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Direitos reservados.


1. Comentário do Torcato Mendonça à última estória cabraliana (**):

Elefante Branco...Boa! Bem, se o Livro for com estórias de h pode ser uma sala... não digo...isso... de uma Un [unidade ?] ou CC [companhia de caçadores ?] ... qualquer. Ainda existe o Fontória? 1ª Parte Maxime e 2ª parte no Fontória.

Olha, mas eu de Noite de Lisboa estou uma miséria: falaram-me no Lux e eu não sabia aonde era... Caramba, onde vai um jovem, quando velho, parar... miséria... Vou tratar de me actualizar. Agora?! Porque não?

Que o pijama tenha sido bem aproveitado na infância e, na idade adulta, tenha contribuído para corpo de formas...isso. Boas...

Ab do Torcato


2. Comentário do João Coelho:

Encarecidamente, peço aos responsáveis pelo blogue: deixem J. Cabral depurar-se, tal como ele fez na Guiné...primeiro ainda alinhadinho, com o camuflado à maneira, depois já "fardado" como lhe dava na real gana. Não o amarrem às 50 crónicas, deixem-no bolsar o arroto até ao fim...

Assim de cabeça, lembro 3, das ditas, que são, juro, do melhor que já vi, por estas terras e por mais aquelas que quiserem: a da bandeira, com o Spínola, a do retrato do Salazar com as imagens das santinhas (***) e esta última do Pilão..

E atrevo-me a pedir mais; quando a prosa engordar, façam romagem até ao Torcato, levem o Cabral convosco e vejam - eu acho que sim, que é possível - se conseguem levar esse alentejano exilado no Fundão a entremear as suas letras de insónia com as do sr. advogado.

Vosso leitor, não combatente, ex-militar da FAP, nos idos de 60, com um abraço grande de admiração e respeito por este magnifico espaço de encontros.

João Coelho


3. Mail do Vitor Junqueira para o Carlos Vinhal:

Muito obrigado pelo teu esclarecimento. E, sendo assim, prepara-te que aí vai aço! Quero dizer, ainda hoje vou alinhavar mais uma história - com agá e deixemo-nos de tretas -, que te enviarei para publicação, se achares que tem merecimento para tal.

Sabes Carlos, eu não consigo escrever nada em que não ponha um pouco da pessoa que eu sou. Por vezes, uma ponta de ironia ou o linguajar da minha infância, dão aos meus escritos um certo colorido que, ao relê-los (quando o faço), pergunto a mim próprio: Quem é que pode interessar-se por esta porcaria!? E zás, reciclagem com eles! Têm escapado aqueles que, a seguir ao impulso da escrita, seguem imediatamente para o correio. Nesse caso, não há recuo possível! Quanto aos temas, só tenho uma preocupação, a de que tenham subjacente a verdade.

Amigo Carlos, não respondas a este e-mail porque não é necessário. Estou a ouvir-te neste momento. Até breve,

VJ

4. Comenário de L.G.:

Vitor: Faz-me/nos o grande favor de ir à "pubelle" buscar as "pérolas literárias" que deitaste fora!... Quero/exijo essas histórias com H. Aquele abraço.

________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 9 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3427: Em bom português nos entendemos (5): Estórias com história... ou deixem-se de estórias / histórias...

(**) Vd. poste de 13 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3446: Estórias cabralianas (41): O palácio do prazer, no Pilão (Jorge Cabral)

(***) Vd. postes de:

13 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXIV: Estórias cabralianas (6): SEXA o CACO em Missirá

19 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1857: Estórias cabralianas (24): O meu momento de glória (Jorge Cabral)

25 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3237: Estórias cabralianas (39): O Marido das Senhoras (Jorge Cabral)

Guiné 63/74 - P3454: Historiografia da presença portuguesa em África (9): Carta da Guiné, 1843











Cópia pública do carta original patente na Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa (reproduzida, aqui, com a devida vénia) (*)... Imagem completa (a 1ª a contar de cima) e depois seccionada em quatro.

A carta da Guiné portuguesa [ Material cartográfico] / Lith. de A. C. Lemos

AUTOR(ES):
Lemos, A. C., fl. ca 1833-1843, litog.
ESCALA:
Escala [ca 1:950000]
PUBLICAÇÃO:
[Lisboa] : Lith. A. C. Lemos, 1843
DESCR. FÍSICA:
1 mapa : litografia p&b ; 28,20x31,30 cm, em folha de 31,90x40,60 cm
NOTAS:
Escala determinada com o valor calculado de 11,70 cm para o grau de latitude
CDU:
916.652"1845"(084.3)
912"18"(084.3)
END. WWW:
http://purl.pt/1839


Comentário de L.G.:

A carta de 1843 delimita as fronteiras da então Guiné Portuguesa, a norte, pelo Rio Casamansa (hoje território do Senegal) e o Rio Nunes (sito hoje na Guiné-Conacri). O território da actual Guiné-Bissau é apenas uma réstea das vastas áreas de influência portuguesa, que iam do actual Senegal e da Gâmbia, até ao golfo da Guiné, passando pela Costa do Marfim a Costa do Ouro, paragens que os portugueses foram os primeiros europeus a explorar, em meados do Séc. XV.

A primeira metade do Séc. XIX - período conturbadíssimo da nossa história (invasões franceses, fuga da corte para o Brasil, revolução de 1820, independência do Brasil, guerra civil entre liberais e absolutistas, fim do 'ancien régime', início da modernização da economia e do Estado) - representa, por seu turno, o momento mais baixo do envolvimento de portugueses e caboverdianos na chamada Senegâmbia.

Um homem lúcido e corajoso, o luso-africano Honório Barreto (1813-1859), alerta Lisboa para a necessidade de unificar as poucas feitorias, isoladas a que se confinava então a presença portuguesa.

Em 1842 havia dois concelhos (ou circunscrições) com algumas feitorias:

(i) Bissau, com a respectiva praça, o presídio de Geba, a ilha de Bolama e a ponta de Fá;

(ii) Cacheu, com os presídios de Cacheu, Farim, Ziguinchor e Borlor.

Os portugueses limitavam-se a circular ao longo dos rios Casamansa, Cacheu, Geba e o Grande de Buba. Não havia comunicações por terra, ou melhor, estavam-lhes interditas, devido à hostilidade dos nativos.

Cacheu foi sobretudo o primeiro porto, fundado em 1588, e depois vila em 1605. Em 1822 tinha uma praça-forte, construída em adobe. Por volta de meados do Séc. XIX, terá já cerca de 1800 habitantes. A norte de Cacheu, os franceses tinha ocupado a foz do Rio Casamansa em 1822.

Entretanto, em Maio de 1886 são delimitadas as fronteiras entre a Guiné Portuguesa e a África Ocidental Francesa, passando a região de Casamansa para o controlo da França, por troca com a região de Quitafine (Cacine), no sul do país. A cedência da praça-forte de Ziguinchor faz parte destes acordos.

As potências coloniais europeias traçavam então, a seu bel prazer, os mapas (e os destinos dos povos africanos) a régua e esquadro...

Bissau, por sua vez, nasce em 1766, com o início da construção da fortaleza da Amura, São José da Amura. (Será reconstruída em 1858-1860, sob direcção do capitão e engenheiro Januário Correia de Almeida).

Em 1884, a vila de Bissau (ou de São José de Bissau) já apresentava algum desenvolvimento urbano, com casas de dois pisos sob arcaria, junto à Amura. O traçado colonial da cidade, dos anos 40 e 50, terá seguido o plano urbanístico, de rectícula geométrica, de 1919, da autoria do engenheiro José Guedes Quinhones.

Mas a capital até aos anos 40 é Bolama, fundada no Séc. XVII. Há uma planta de 1913.


1. A Guiné Colonial: cronologia resumida
(Elementos coligidos por L.G. Em construção)


(i) No século XIII, chegam a esta região da costa ocidental de África os povos naulu e landurna, na sequência do declínio do império do Ghana.

(ii) É já no século XIV que esta zona passa a integrar o vasto império do Mali, vindo os primeiros navegadores portugueses a estabelecerem contacto com ela em 1446-47. Inicia-se então um longo processo de implantação do monopólio comercial na região, incluindo ouro e escravos, o qual vai ser, durante muito tempo, frequentemente e sobretudo contestado por corsários e traficantes franceses, holandeses e ingleses.

(iii) Em 1588 os portugueses fundam, junto à costa, em Cacheu, a primeira povoação criada de raiz, a qual será sede dos capitães-mores, nomeados pelo rei de Portugal, embora sob jurisdição de Cabo Verde; passa a vila em 1605.

(iv) Seguir-se-á a criação da localidade de Geba, bem no interior do continente.

(v) Em 1642, os portugueses fundam Farim e Ziguinchor (hoje, integrando o território do Senegal), a partir da deslocação de habitantes de Geba, dando início a uma ocupação das margens dos rios Casamansa, Cacheu, Geba e Buba, a qual se torna efectiva em 1700, passando então a zona a ser designada por Rios da Guiné.

(vi) Entre 1753 e 1775 inicia-se a construção da fortaleza da Amura, a partir do trabalho de cabo-verdianos, vindos especialmente das Ilhas de Cabo Verde para o efeito. E o nascimento da futura vila, cidade e capital de Bissau.

(vii) Em 1800 a Inglaterra começa a fazer sentir a sua influência na Guiné, iniciando a sua reivindicação pela tutela da ilha de Bolama, arquipélago dos Bijagós, Buba e todo o litoral em frente.

(viii) Com a abolição da escravatura no século XIX (Em Portugal, em 10 de Dezembero de 1836), sobrevém uma crise económica que tem como consequência o início da produção de novas culturas, como a mancarra (amendoim) e a borracha.

(ix) Honório Pereira Barreto, natural do Cacheu, filho de pai caboverdeano e mãe guineense, é nomeado provedor de Cacheu, por decreto de 30 de Março de 1843; em 3 de Fevereiro de 1844, domina a revolta dos Manjacos no Cacheu, com o auxílio do seu tio Francisco Carvalho Alvarenga, comandante de Ziguinchor; no mesmo ano, em 11 de Setembro, eclode a "guerra de Bissau";

(x) Honório Barreto domina a revolta dos grumetes do Cacheu, com reforços vindos de Ziguinchor; concede-lhes depois perdão, uma vez feita a paz (8 de Dezembro);

(xi) Em 1859, morre Honório Barreto na Fortaleza de São José de Bissau (26 de Abril);

(xii) Em 1870, por arbitragem do presidente dos EUA, Ulysses Grant, a Inglaterra desiste das suas pretensões sobre Bolama e zonas adjacentes (21 de Abril); ainda neste ano, é feito um acordo com s régulos nalus, estendendo a influência portugesa no sul da Guiné até à foz do Rio Tombali (24 de Novembro);

(xiii) Com a vitória militar dos felupes de Djufunco, em 1879, no que ficou a ser conhecido na história como o “desastre de Bolol”, onde os militares portugueses sofreram uma dura derrota no confronto com as populações locais, a coroa portuguesa decide a separação administrativa de Cabo Verde e a criação da “Província da Guiné Portuguesa”, com capital em Bolama;

(xiv) Desaire militar dos fulas no ataque a Buba (1 de Fevereiro de 1881); o filho do régulo fula Alfa Iaiá reconhece o protectorado português sobre parte do Futa Djalon, por tratado de 3 de Julho;

(xv) Numa tentativa de afirmação da soberania portuguesa, verifica-se então o início de acções militares punitivas contra os papeis em Bissau e no Biombo (1882-84), os balantas em Nhacra (1882-84), os manjacos em Caió (1883) e os beafadas em Djabadá (1882).

(xii) A estratégia colonial passa igualmente por uma segunda vertente: o apoio sistemático com tropas e armamento a uma das partes dos conflitos indígenas. É o que se passa em 1881-82, com o apoio aos fulas-pretos do Forreá na sua luta com os fulas-forros.

(xiii) Os focos de contestação e a rebelião permanente e consequente dos diversos grupos étnicos fez com que o poder colonial se limitasse ao controlo de algumas praças e presídios (Bissau, Bolama, Cacheu Farim e Geba).

(xiv) Paralelamente, começa a instalação de propriedade de colonos ou de luso-africanos, em várias explorações agrícolas de grande dimensão (pontas) inicialmente dedicadas ao cultivo da mancarra.

(xv) Assinatura em Paris da convenção franco-portuguesa de delimitação das fronteiras da Guiné (15 de Janeiro de 1886); em 12 de Maio de 1886, são delimitadas as fronteiras entre a Guiné Portuguesa e a África Ocidental Francesa, passando a região de Casamansa para o controlo da França, por troca com a região de Quitafine (Cacine), no sul do país; em Sancorlá, no Geba, o tenente Geraldes vence os fulas-pretos comandados pelo célebre régulo Mussá Moló (23 a 30 de Setembro de 1886);

(xvi) A população desencadeia a partir do final do século XIX uma decidida vaga insurreccional no Oio (1897 e 1902), no Chão dos Felupes (1905), em Badora e no Cuor (1907-08); a Guerra de Bissau (1908) junta Papeis e Balantas do Cumeré; em 28 de Fevereiro de 1891, o Cumeré ataca fortaleza de São José de Bissau (Amura);

(xvii) O ministro Ferreira do Amaral transforma a Guiné, por decreto de 21 de Maio de 1892, num distrito militar autónomo;

(xviii) Em 10 de Maio de 1894, papéis e grumetes agridem (e fazem extorsões a) os comerciantes em Bissau; o governador Sousa Lage, com o apoio de duas canhoneiras chegadas de Lisboa, e de tropas vindas de Angola, Cabo Verde e Lisboa, conquista Intim e Bandin, chão papel;

(xix) Em 19 de Maio de 1899, o governador Álvaro Herfculano da Cunha obtém vassalagens voluntárias dos balantas e do régulo papel de Intim, reunindo-se com eles no Cumeré em Safim sem disparar um tiro, e pondo termo às campanhas contra as etnias animistas;

(xx) O capitão José Carlos Botelho Moniz parte do Cacheu contra os felupes de Varela que se recusavam a pagar imposto, atacando e destruindo a povoação, quebrando o mito de os brancos náo entrarem em território felupe e desarmando so de Djufunco e Egim (10 a 16 de Março de 1908);

(xxi) O governador Oliveira Muzanty, com reforços da Metrópole, organiza a maior expedição militar na Guiné (até 1963!), vencendo a resistência dos beafadas liderados pro Unfali Soncó no Cuor e Ganturé; restabelece as comunicações entre Bissau e Bafatá (5 a 24 de Abril de 1908); a 15 de Maio, a expedição militar regressa à Metrópole;

(xxii) Segue-se um período que vai de 1910 a 1925 de resistência à forte repressão das forças coloniais as quais lhe deram o nome de “guerra de pacificação”, embora os verdadeiros objectivos das acções militares fossem o de pretender eliminar os chefes militares africanos mais combativos, impor pela força o pagamento pelas populações de impostos à administração colonial (o imposto de palhota), e aceder mais facilmente aos recursos económicos e humanos existentes no território.

(xxiii) Entre vitórias e derrotas das populações insubmissas, dois nomes emergem neste período: por um lado, João Teixeira Pinto, militar que já na época tinha uma longa carreira colonial e que, entre 1913 e 1915, exerceu sanguinários massacres sobre as populações locais nas chamadas campanhas do Oio (1913-14); e por outro, Abdul Indjai, que fora auxiliar de Teixeira Pinto na sua acção em Canchungo e que se revolta acabando por ser preso em Mansabá, em 1919, deportado para Cabo Verde e mais tarde para a Madeira.

(xxiv) A campanha d0 Oio termina vitoriosa com a criação de um posto militar em Mansabá e a captura de um elevado número de armas (17 de Junho de 1913);

(xxv) A campanha contra os manjacos termina, depois da prisão do régulo de Bassarel; são criados os postos de Caió e Bassarel e apreendidas grandes quantidades de armas (10 de Abril de 1914);

(xxvi) A campanha contra os balantas inclui a batalha de Encheia, uma das mais ferozes da história da Guiné; instalação de um posto em Nhacra (4 de Julho de 1914);

(xxvii) Decretado o estado de sítio na ilha de Bissau início da campanha contra os papéis (13 de Maio de 1915);

(xxviii) Campanha contra os papéis e os grumetes; queda de Biombo, prisão do respectivo régulo; criação de 4 postos militares: Bor, Safim, Bijemita e Biombo; concluída a a 'pacificação' e a unificação do enclave da Guiné portuguesa, com o pedido de paz do Tor (17 de Agosto);

(xxix) Apesar do poder colonial considerar como 'pacificado' e 'dominado' o território, nos anos posteriores, muitas regiões voltaram a rebelar-se e antigos focos de resistência ressurgiram, como o caso dos bijagós, entre 1917 e 1925 e dos baiotes e felupes em 1918.

(xxx) Neste período, são implantadas uma série de medidas legislativas que irão determinar durante longos anos a gestão politico-administrativa da Guiné: divisão da população residente em civilizada (assimilada) e indígena; legalização da prática de recrutamento de mão de obra para trabalhos obrigatórios; imposição do local de residência e limitação dos movimentos da 'população não civilizada', através de cadernetas e guias de marcha; tipo de relações funcionais dos titulares administrativos com os auxiliares indígenas e autoridades gentílicas (cipaios, régulos, chefes de tabanca, etc.).

(xxxi) Em 1921, com a chegada do governador Jorge Velez Caroço, ir-se-ão implementar as primeiras medidas de longo prazo nas alianças do poder colonial com os poderes locais, em particular no quadro étnico-religioso privilegiando-se as alianças com os muçulmanos, nomeadamente fulas, em detrimento das etnias animistas;

(xxxii) Entre 1925 e 1940 prosseguiram as revoltas militares dos papeis de Bissau, dos felupes de Djufunco (1933) e Susana (1934-35) e dos Bijagós da ilha de Canhabaque (1935-36), os quais se recusaram a pagar o imposto de palhota até 1936;

(xxxiii) Este período é marcado igualmente pelo início da construção de infra-estruturas (estradas, pontes e alargamento da rede eléctrica), pelo desenvolvimento da principal cultura de exportação, a mancarra,

(xxxiv) Data desta época a criação ou expansão de grandes empresas de capitais portugueses, como a Estrela de Farim e a Casa Gouveia (pertença da CUF - Companhia União Fabril), dedicadas à comercialização da mancarra e à distribuição de produtos em todo o território.

(xxxv) Verifica-se o surgimento de grandes pontas (explorações agrícolas) no Rio Grande Buba, na ilha de Bissau e em Bafatá e Gabú.

(xxxvi) A organização social colonial nessa altura tem, no topo da hierarquia, um pequeno núcleo de dirigentes e de quadros técnicos portugueses; a nível intermédio, funcionários públicos, maioritariamente cabo-verdianos (75%). O sector comercial é dominado por patrões e empregados cabo-verdianos. A nível inferior, a imensa maioria dos guineenses são trabalhadores domésticos e braçais, artesãos, agricultores e assalariados agrícolas nas pontas.

(xxxvii) Em 1942 a capital muda de Bolama para Bissau, que já então era, de facto, a “capital económica” da Guiné.

(xxxviii) Em 1950, dos 512.255 residentes só 8320 eram considerados civilizados (2273 brancos, 4568 mestiços, 1478 negros e 11 indianos) e destes, 3824 eram analfabetos (541 brancos, 2311 mestiços e 772 negros).

(xxxix) Em 1959, 3525 alunos frequentavam o ensino primário, 249 o Liceu Honório Barreto (criado em 1958-59) e 1051 a Escola Industrial e Comercial de Bissau.


Bibliografia consultada por L.G.:

História da Expansão Portuguesa, 4º vol. ed. lit Francisco Bettencourt e Kirti Chauduri. Lisboa, Círculo de Leitores, 1998.

História da Guiné e Cabo Verde, ed. lit. PAIGC. Paris: Unesco, 1973/74.

Nova História Militar de Portugal, 3º vol. ed. lit Manuel Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira. Lisboa, Círculo de Leitores, 2003.

Vd. também Portal Guiné-Bissau, criado pela AD - Acção para o Desenvolvimeno > História e Dados Económicos

Vd. postes do nosso blogue (**).
______________

Notas de L.G.:

(*) Sobre os conteúdos da BND (Biblioteca Nacional Digital) e seu acesso

A BND oferece dois géneros de conteúdos:

(i) Obras digitais:

São sítios na Internet ou outros documentos originais em formato HTML, PDF, MS-Word, RTF, etc., criados pela BN ou por entidades externas que os depositaram na BND.

(ii) Obras digitalizadas:

São cópias de obras criadas originalmente em suporte físico (manuscritos, obras impressas, etc.), das quais foram criadas cópias digitalizadas para estarem assim disponíveis na BND.

Estas obras são, sempre que possível, oferecidas numa ou mais cópias, em imagens digitais ou texto transcrito, assim como em vários formatos (JPEG, PDF, etc.).

Cada cópia tem também termos e condições específicas de acesso:

(i) Acesso público: Estas cópias estão acessíveis sem restrições (o caso preferencial, pelo qual a BN se esforçará sempre).

(ii) Acesso interno: Estas cópias estão acessíveis apenas na rede interna da BN. Tal pode acontecer por questões técnicas (ficheiros excessivamente grandes para serem transferidos pela Internet) ou de direitos de autor (obras recentes que não estão ainda no domínio público -o que pode incluir reedições recentes de obras antigas).

(iii) Acesso privado: Estas são geralmente as cópias masters das obras digitalizadas, regra geral em formato TIFF de alta qualidade, e por isso normalmente de muito gande dimensão, sendo por isso acessíveis apenas em condições especiais (tais como para investigação ou reprodução de alta qualidade).

(**) Vd. postes de

8 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2734: Guileje, colónia penal (1): Em 1897 havia um posto militar fronteiriço, português, em Sare Morsô (Nuno Rubim)

18 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3070: Antropologia (6): O povoamento humano da zona do Cantanhez: apontamentos (Carlos Schwarz)

16 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3320: Historiografia da presença portuguesa (8): Abdul Indjai, herói e vilão (Beja Santos)

Guiné 63/74 - P3453: Brasões, guiões ou crachás (2): CCAV 678, 1964/66 (Manuel Bastos)

Brasão da CCAC 678 (1964/66)

Foto: © Manuel Bastos (2008). Direitos reservados.


1. Mensagem do nosso camarada Manuel Bastos, ex-Fur Mil At da CCAV 678, Guiné 1964/66, com data de 7 de Novembro de 2008:

Caro Luís:
As minhas cordiais saudações.

Durante o dia de hoje, estive a visionar o teu blogue, e verifiquei que no álbum das minhas fotos (*), inseriste uma outra, do e com o Humberto Reis, onde se vê os brasões de algumas das unidades que passaram por Bambadinca, e de entre eles, lá está o da minha CCAV 678, já com as cores comidas pelo tempo e pelo rigor do clima da Guiné.

Fiquei deveras sensibilizado, pelo que quero expressar-te o meu agradecimento. Não há dúvida nenhuma de aquele brasão é de facto o da CCAV 678, e a prova segue em anexo, de um slide que digitalizei do dito brasão.

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > O ex-Fur Mil Op Esp Humberto Reis, da CCAÇ 12 (1969/71), junto ao memorial da CCAV 678, identificado por Luís Graça, e aqui confimado pelo Manuel Bastos.

Foto: © Humberto Reis (2005). Direitos reservados.

Relativamente ao facto de a CCVA 678 não fazer parte da lista das unidades que estiveram sediadas em Bambadinca, é muito fácil: o nosso camarada Benjamim Durães, se quiser, terá a amabilidade de acrescentar a nossa companhia. As datas da nossa estadia em Bambadinca foram a seguintes:

de 31 de Março de 1965 a 11 de Setembro de 1965, e
de 14 de Abril de 1966 a 26 de Abril de 1966.

Na noite de 26 de Abril de 1966, embarcamos no Bor, no cais de Bambadinca, que nos levou directamente para o Uíge, fundeado ao largo de Bissau, de onde partimos às duas horas da madrugada do dia 28 de Abril de 1966, rumo a Lisboa.

Sem mais, um abraço.
Sempre ao dispor:
Manuel Bastos


2. Comentário de CV

Caro Manuel, caro vizinho
Em nome da tertúlia ficas convidado desde já a ingressares na nossa Tabanca Grande, para onde deves enviar as fotos da praxe, a antiga do teu tempo de tropa e uma actual, que servirão para encabeçar os teus trabalhos.

Ficas também convidado a contares-nos as tuas experiências enquanto combatente da Guiné e a ilustrá-las com as fotos que tens aí por casa, como todos nós.

Recebe um abraço da tertúlia.
Carlos Vinhal
(Leça da Palmeira)
__________________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 7 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3418: Álbum fotográfico de Manuel Bastos (1): Bambadinca, a festa da comunhão solene, Dona Violete e a malta da CCAV 678 (1965/66)

Vd. último poste da série de 10 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3429: Brasões, guiões ou crachás (1): CCAÇ 2797, Pel Caç Nat 51 e Pel Caç Nat 67, Cufar, 1970/72 (Luís de Sousa)

Guiné 63/74 - P3452: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (12): O Honório, o Pichas e o cangalheiro (Victor Barata / Victor Oliveira)

1. Mensagem com data de 6 de Novembro último, do Victor Barata, membro da Tabanca Grande e animador do blogue Especialistas da Base Aérea 12Guiné 1965/74:

Boa Tarde, Luís.

Li há pouco no teu excelente Blog a mensagem do Jorge Félix e depois o teu comentário (*).

Em relação ao primeiro, já lhe enviei um email que adiante te transcrevo.

O teu comentário não é para mim, pois se lerem a minha mensagem tão "polémica" em nada me manifestei, nem contra nem a favor, dos "Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras".

Manifestei, sim,o meu desagrado para com o Jorge com o facto de dizer que o Honório "rapava a tentar chegar com o hélice aos nativos", dizendo-lhe que um Blog era lido por todas as pessoas e algumas tirariam ilações do Honório que não correspondiam à verdade, somente isto.

Mas como só quem não me conhece poderá fazer esse raciocínio de mim e, como sou um homem com um cariz de humildade elevado, também venho aqui apresentar as minhas desculpas a quem não concordou com a minha análise.

Email enviado há minutos ao Jorge Félix:

Olá Jorge, espero que esteja tudo bem contigo.

Li o email que mandaste para o Luís Graça e notei um pouco de incompatibilidade da tua pessoa em relação a mim.

Se achas que te ofendi (só quem me não conhece, poderá ter essa imagem de mim) apresento as minhas desculpas, mas tenho consciência absoluta de que não foi essa a minha intenção.

Se foi o facto da minha manifestação de desagrado, e somente isso, em relação aos "atributos" que se dão ao Honório sobre a frase de "querer acertar com o hélice nos nativos que paravam na bolanha", fiz-te sentir que o BLOG é lido por qualquer pessoa, derivando disso ilações que muitas vezes não têm o significado que lhe queremos dar.

Sobre os "Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras", em nada me manifestei, nem tenho que me manifestar.

Resumindo e concluindo, queria apenas dizer-te que o espírito com que me integrei na "Tabanca Grande" foi aquele que o Luís me transmitiu e que já me levou, como estranho de todos, a conviver em encontros anuais, ou seja, a camaradagem, o diálogo são e aberto onde podemos manifestarmo-nos com respeito mútuo.

Mais uma vez apresento os meus pedidos de desculpas, se te ofendi, e esperançado que a nossa curta camaradagem em nada seja afectada.

Um abraço
Victor Barata


Tomei esta atitude, tanto para ti como para o Jorge, meramente pessoal, entendo que não é este o espírito dos nossos Blogs, e muito menos nesta fase do "campeonato" em que se pretende é paz e sossego, mas se entenderes que o deves publicar tens toda a liberdade da minha parte.

Mais uma vez apresentando as minhas desculpas, considera-me um CAMARADA.

Saudações Aeronáuticas.

Victor Barata


2. Mensagem do Vitor Oliveira, residente em Caneças:

Amigo Luís

Sou Vitor Oliveira, mais conhecido na Guiné pelo Pichas, 1.º Cabo Melec, 1.ª 66.

Foi com muita alegria que há cerca de um mês descobri o blogue dos especialistas da Guiné e vi o teu link - sou portanto PERIQUITO - , onde li muitas mensagems àcerca do meu grande amigo HONÓRIO que infelizmente já nos deixou.

Devo ter sido o especialista que mais voou com ele, tanto em T6G como DO27 entre Novembro 67 a Março 69 desde Madina a Bubaque. Só não conheci São Domingos.

Tenho dezenas de bebedeiras e histórias passadas com ele, quero dizer-te o seguinte: o indicativo dele era JUBIDÉ, nunca pilotou Hélis nem Fiats, mas sim T6G e DO27, deixou de pilotar T6G um mês depois da chegada do Tenente-Coronel Diogo Neto. Um dia conto a história disto.

UM GRANDE ABRAÇO.

3. Comentário do L.G.:

(i) Vitor (Barata): Estamos esclarecidos. Pelo menos, eu. O Jorge Félix dirá de sua justiça, se for caso disso. Por mim, como sabes, não faço comentários sobre o que não vi, não observei, não vivi...

(ii) Obrigado, camarada Victor Oliveira, por entrares em contacto com connosco e nos trazeres mais algumas evocações do Honório, com quem voaste e privaste. Testemunhos de pessoas como tu são preciosos. É por essa razão que tomo a liberdade de reproduzir, aqui, mais um episódio sobre o nosso Honório, que tu acabas de contar no blogue do Victor Barata. Espero que um e outro não interpretem este meu gesto como abusivo.

Só uma dúvida: o Honório era conhecido em Bissalanca como o Jagudi (abutre) ou o Jubidé ? Pode haver aqui um erro de transcrição, uma falha de memória, um lapso, uma corruptela... Enfim, ao fim destes anos todos, pode haver uma traição da nossa memória que está longe de ser de elefante... Fadiga do material, sabes como é... Queres confirmar ? O Jorge Félix, que foi Alf Mil Pilav, e que andou nos helis, entre 1968 e 1970, chama-lhe o Jagudi... Quem tem razão ?

Dispõe das páginas do nosso blogue, que também é teu. Já agora: ninguém terá uma foto com o Honório? Ainda não consegui pôr-lhe a vista em cima. Conhecio-o em Bambadinca. Tinha uma ideia dele, em termos de fisionomia. Um Alfa Bravo. LG

4. História do Honório n.º 2,
por Victor Oliveira

Amigo Victor: Vais ter que me gramar a contar histórias do meu GRANDE AMIGO HONÓRIO (JUBIDÉ), dava para um livro.

Um dia estava sentado à porta do hangar dos T6G e DO27, vejo estarem a carregar uma urna numa DO. Passado um bocado vem o Honório com os seus Ray Ban e diz-me :
-Pichas, queres ir comigo?
- Para onde?
- A Binta, mas temos que ir buscar o cangalheiro a Farim. OK?

O cangalheiro era um civil baixinho e magrinho. Quando chegámos a Farim, já ele estava à nossa espera, com uma caixa tipo lancheira e o saco de cal.

Aparece o capitão do quartel e o nosso amigo, como estava perto da hora do almoço, vira-se para mim e diz-me:
-Vamos perguntar o que é o almoço, se for bom almoçamos aqui.

Carne à jardineira, OK. Como ainda tínhamos que esperar um bocado, o capitão arranjou-nos uns calções e fomos dar um mergulho num tanque, tipo piscina, até aqui tudo bem. Almoçámos bem e regámos melhor e o cangalheiro à espera, na sombra duma árvore. Tenho a impressão que não almoçou.

Vamos para a DO, toca de meter o cangalheiro em cima da urna e o saco do correio para entregar em Binta.

O nosso amigo Honório como a viagem era curta, para dez minutos, toca de rapar até o desgraçado do cangalheiro andava de um lado para outro, parecia uma barata tonta (isto não é para te ofender, ó Victor)... E o nosso amigo ria-se.

Era para esperarmos que o homem fechasse a urna e depois trazê-lo para Bissau. Como estávamos com pouca sede, descarregámos a urna e toca a andar para Bissau, o saco do correio também veio.

Cerca das três da tarde recebem na base uma mensagem para ir buscar o cangalheiro.
Quem o foi buscar foi o piloto Gomes e o meu chefe Fernando Almeida. Quando chegaram a Binta o cangalheiro disse logo que nunca mais voava com aquele piloto. Perguntaram-lhe quem era e ele disse:
- É muito moreno e o que vinha com ele também era moreno - E diz logo o meu chefe: - Era o Pichas, parecem o roque e amiga.

UM ABRAÇO
Victor Oliveira

__________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 6 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3412: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (11): Ainda o Honório, o Jagudi... ou o puro gozo de voar (Jorge Félix)

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3451: O Nosso Livro de Visitas (43): A. Almeida da Liga dos Combatentes de Oliveira de Azeméis

1. Mensagem de A. Almeida com data de 9 de Novembro de 2008:

Corri de "fio a pavio" o vosso blog (na minha opinião o mais completo e com mais qualidade) sobre a guerra na Guiné, na ânsia de encontrar quaisquer referências à CCaç 2796, que teve como Unidade Mobilizadora o RI2 e cujo comandante o Cap Inf Op Esp Fernando Assunção Silva viria a falecer em combate em 24/01/1971, creio que na região de Gadamael. Foi no entanto uma busca infrutífera.

Já tentei fazer a pesquisa das Unidades mobilizadas pelo RI2, mas não consegui resultados no que aquela Unidade diz respeito.

Esta busca tinha por finalidade fazer um levantamento de como viveram e morreram os filhos (30) desta terra, Oliveira de Azeméis, na Guerra do Ultramar.

Os resultados obtidos têm como finalidade dar a conhecer algo mais que os seus nomes já perpetuados na base do Monumento aos Combatentes do Ultramar desta cidade.

Assim pedia para que no vosso blog, fizessem um apelo aos combatentes que fizeram parte daquela Unidade, para de alguma forma colaborarem na recuperação daquilo que será a memória da CCaç 2796.

Qualquer esclarecimento ou dúvida a cerca deste assunto poderá ser posta ao Núcleo de Oliveira de Azeméis da Liga dos Combatentes cujo endereço é: ligacombatentesoaz@sapo.pt

Com os melhores cumprimentos
A. Almeida

2. Mensagem enviada, no dia 10, por Luís Graça a José Marcelino Martins e a Nuno Rubim

José: Tens alguma imformação? E tu, Nuno?
Um abraço.
Luís

3. No dia 11, José Martins mandava esta mensagem:

Bom dia amigos
Junto o resultado da pesquisa.
Manda o resultado para o camarada Almeida de O. Azemeis

Abraços
José Martins


Companhia de Caçadores n.º 2796

Unidade Mobilizadora: Regimento de Infantaria n.º 2 – Abrantes

Comandantes: Cap Inf Fernando Assunção Silva e
Cap Art Carlos Morais da Silva

Divisa: Gaviões

Partida: Embarque em 31 de Outubro de 1970 – Desembarque em 10 de Novembro de 1970

Regresso: Embarque em 5 de Outubro de 1972

Síntese da Actividade Operacional:

Após uma curta permanência em Bissau, seguiu em 27 de Novembro de 1970, para Gadamael e assumiu a responsabilidade do respectivo subsector em 1 de Dezembro de 1970, em substituição da CArt 2478, ficando integrada no dispositivo e manobra do BArt 2865 e depois do BCaç 2930.

Em 1 de Fevereiro de 1972 foi rendida pela CCaç 3518, tendo seguido para Quinhámel, por fracções, em 24 de Janeiro de 1972 e 2 de Fevereiro de 1972. Em 22 de Fevereiro de 1972, rendendo a CCaç 2724, assumiu a responsabilidade do subsector de Quinhámel com destacamentos em Ponte Vicente da Mata, Ome e Ondame, colaborando na segurança e protecção das instalações e das populações e ainda nos trabalhos dos reordenamentos de Blom e Quiuta, na dependência do COMBIS.

Em 5 de Setembro de 1972, foi rendida no subsector de Quinhámel pela CCaç 3326, recolhendo seguidamente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

(História da Unidade (Caixa n.º 87 – 2.ª Div/4.ª Secção, do AHM)


Mortos em Campanha, do concelho de Oliveira de Azeméis

Na página ultramar.terraweb.biz, à esquerda da página de entrada, clicando sobre a fotografia do monumento aos combatentes, dá acesso, por concelho, aos nomes dos Mortos em Campanha.

Além do que se encontra nessa página e, sobre os tombados na Guiné, posso informar:

- Aníbal Alves Carreira, morreu em combate em Cambor, durante um ataque In à povoação.
- Anselmo Gomes de Oliveira, morreu em combate em Jabadá, durante um ataque In ao aquartelamento.
- António Ferreira da Silva Oliveira, foi evacuado para o HM 241/Bissau em 17Ago67 com ferimentos em combate e queimaduras graves. Faleceu no HMP em Lisboa.
- Armando Tavares de Almeida, foi ferido em combate em Teixeira Pinto, tendo falecido no HM 241/Bissau.
- Capitolino Joaquim Valente Gomes, faleceu em combate vítima de ferimentos de bala explosiva na área da nascente do Rio Bomane.
- Fernando Assunção Silva, faleceu por ferimentos em combate em Tamabofa.
- Joaquim dos Santos Pinho, faleceu vítima de ferimentos em combate na ponte do rio Jagarajá
- Joaquim Figueiredo Brilhante, morreu vítima de ferimentos em combate na bolanha em Pelundo, junto a Teixeira Pinto.
- Manuel da Costa Soares, ferimentos em combate por rebentamento de uma mina em Nhabijões.
- Manuel Tavares da Silva, ferimentos em combate num ataque à tabanca em Dulombi.
- Rufino Correia de Oliveira, ferimentos em combate no Xime.
- Sérgio da Costa Pinto Rebelo, morto por ferimentos em combate na picada entre Madina Bucô e Quirafo.

José Marcelino Martins

4. No dia 13 era enviada a A. Almeida esta mensagem:

Caro Almeida
Suponho que ainda não lhe enviaram o resultado da pesquisa do nosso camarada José Marcelino Martins, sobre a CCAÇ 2796.
Com os nossos melhores cumprimentos, segue em anexo.
Carlos Vinhal
Co-editor
_____________

Nota de CV

Vd. último poste da série de 11 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3436: O Nosso Livro de Visitas (42): Vasco Augusto Rodrigues da Gama, ex-Cap Mil da CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74

Guiné 63/74 - P3450: Blogoterapia (72): Comentário ao P3402 (Raúl Albino)

1. Mensagem do nosso camarada Raúl Albino, ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, , Mansabá, Olossato, 1968/70, com data de hoje:

Caros editores,
Por ser longo demais para ser incluido nos comentários directos, junto envio este texto de referência ao post em epígrafe, embora já um pouco tardio.
Um abraço a todos,
Raul Albino


Referência ao post P3402 do nosso tertuliano Jorge Picado (*)

Achei bastante interessante a descrição que ele faz dum certo período da sua comissão, com destaque para as corridas de bicicleta, organizadas naquela época num teatro de guerra.

Mas, mais importante que isso e que pode ter passado despercebido, foi a sua preocupação em nos descrever e transmitir o seu estado de espírito na altura, como o causador da ausência de recordações que deveriam estar presentes, mais que não fosse porque a situação de estar na Guiné era inédita, num ambiente de paisagem por vezes bela outras triste, selvagem ou agressiva, mas sempre única. Confessa-nos ele que não compreendia a razão de não ter na sua memória recordações de muitos desses momentos que deveriam ser inesquecíveis. São dele as seguintes palavras: “ … alheamento pelo que nos rodeia … ” , “ … olhando mas não vendo … ” , “… demonstração do estado de alma …”, entre outras mais.

Quando o corpo está presente, mas a mente entrou noutra dimensão

Creio que ele gostará de saber que não foi o único a sentir-se assim. Uns mais do que outros, penso que muitos passaram por isso, apesar de poucos o confessarem. Tenho uma grande compreensão por quem por tal passou, porque eu sou um dos fortemente afectados por esse estado de alma. Tal como o Jorge Picado, eu não me consigo recordar, por exemplo, da paisagem que percorri quando das deslocações da minha companhia para os vários locais para onde foi destacada. E a paisagem teria, por certo, passagens de enorme beleza em contraste com outras de forte devastação. O próprio contraste deveria encarregar-se de as gravar na minha memória. Mas não o fez …

Razões que eu suponho terem contribuído, no meu caso, para tal situação:

1 – Encontrava-me na Guiné em situação militar, fortemente contrariado. E esse estado de espírito, meus senhores, mesmo em situações profissionais, provoca reacções de auto defesa interna, difíceis de analisar. Era como se procurássemos minimizar as imagens do ambiente que nos rodeava e se possível ignorá-las. Como as colunas de transporte de tropas em deslocação, eram organizadas em viaturas, condutores e protecção por outros militares que não os que estavam em trânsito, recordo-me que me sentia mais como um passageiro em transporte público do que como um militar armado e pronto a responder a qualquer ataque.

Vai daí, toca a procurar um lugar confortável para a viagem, desligar o switch da tensão guerreira, confiar nos seus camaradas que protegiam a coluna e tentar dormitar um pouco até chegarmos à nova localização que ficaria à nossa responsabilidade. Era como o Jorge Picado dizia: - … olhando mas não vendo … - ou como eu costumo dizer: - o corpo estava presente, a mente não … -, essa vagueava como num sonho, por lugares mais aprazíveis ditados pela nossa imaginação.

À chegada ligávamos então novamente o switch e voltávamos a ser aquilo que verdadeiramente sempre fomos até ao fim da comissão: militares em missão de soberania.

Roubar tempo à comissão

2 – Fui fortemente influenciado por um comentário do médico do Batalhão que permaneceu durante algum tempo com a nossa companhia.

Um dia, durante um período de descontracção em grupo, alguém - vendo-o dirigir-se para o seu lugar de recolhimento para descansar - lhe pergunta de rompante:

- Aonde é que vais tão cedo?

Ao que ele responde prontamente:

- Vou roubar algum tempo à comissão.

Ficaram todos a olhar para ele, pensativamente, sem palavras. Cá por mim fitei-o silencioso e disse para comigo: - Grande tirada, hei-de seguir esta “directiva médica” até onde me for possível. Tirando o inconveniente do alheamento pontual, o descanso passou a ser uma prioridade para mim, com a vantagem de estar sempre fisicamente pronto para integrar as operações surpresa com que o nosso comandante nos presenteava, muitas delas a meio da noite.

Vendo a coisa como um baú de recordações

As recordações omissas, creio que funcionam como o baú. Elas estão lá todas, mas algumas ficaram tão fundo, tão fundo… Muitas delas nunca chegarão à superfície, talvez a maioria, mas outras, aos poucos, vêm chegando ao cimo. A escrita das nossas memórias, os convívios anuais das Unidades, as leituras das memórias dos nossos tertulianos, as viagens à Guiné para quem as tem feito e toda a sã troca de argumentos e informação através do blogue, contribuem para a recuperação de muito do que está no fundo do baú.

Abençoado blogue…
______________________

Notas de CV

(*) Vd. poste de 4 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3402: Acção psicológica a funcionar... O Desporto em Chão Manjaco (Jorge Picado)

Vd. último poste da série de 6 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3413: Blogoterapia (71): O regresso voluntário à África da nossa juventude (José Teixeira)

Guiné 63/74 - P3449: O Tigre Vadio, o novo livro do nosso camarada Beja Santos (8): Apresentação do Maj Gen Lemos Pires (I)

Download:
FLVMP43GP

(No caso de haver problemas no visionamento deste vídeo, clicar em watch in high quality)

Lisboa > Museu da Farmácia > 11 de Novembro de 2008 > Lançamento do livro Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio (*) > Excerto da apresentação do livro e do autor por Mário Lemos Pires, major general na reforma e antigo colaborador do Gen Spínola, na Guiné (1969/70).

Vídeo: © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo (4' 29') alojado em: You Tube >Nhabijoes


Major General na Reforma, Mário Lemos Pires nasceu a 30 de Junho de 1930, sendo mais conhecido da opinião pública portuguesa como o último governador português e comandante-chefe de Timor-Leste (de 18 de Novembro de 1974 a 27 de Novembro de 1975).

Sobre a tragédia de Timor (território e povo que lhe são caros) escreveu, de resto o livro Descolonização de Timor: Missão Impossível ? (Lisboa: Dom Quixote. 1994. 468 pp.).

No seu currículo faz-se menção os seguintes cargos desempenhados, entre outros, no passado: (i) Chefe de Gabinete do Ministro da Defesa Nacional; (ii) Director do Curso de Defesa Nacional no IDN – Instituto de Defesa Naciomnal; (iii) Secretário Geral da Eurodefense-Portugal, etc.

Fez comissões de serviço em Angola (1961/63) e na Guiné (1969/70). Na Guiné foi um colaborador muito próximo de Gen Spínola, governador e comandante-chefe, à frente da Repartição de Assuntos Civis e Acção Psicológica (Rep Apsico). Foi Fundador do Centro de Instrução Física do Exército. Igualmente fundador do Centro de Instrução de Operações Especiais.

É diplomado com o Curso de Estado-Maior do Exércitod e Portyga e do Exército dos EUA. Diplomado pelo Colégio de Defesa da NATO. É membro do Centro de Estudos de Estratégia do IAEM – Instituto de Altos Estudos Militares. É presença habitual em conferências nacionais e internacionais sobre sobre temas de estratégia militar, segurança, terrorismo, etc.


Algumas ideias-força deste excerto da sua intervenção:

- Convidado para fazer a apresentação do 2º volume... "Disse ao autor: Outra vez ?"... Mas depois percebeu que só com o 2º volume é que a obra ficava completa (**);
- Esteve na Guiné em 1969/70, período a que se reporta este 2º volume, portanto na mesma altura que o Alf Mil Beja Santos, embora com funções, responsabilidades e visões diferentes.... "Somos, portanto, combatentes da mesma guerra"... Aprendeu-a ainda antes do início da guerra do ultramar, como observador na Argélia...
- Exerceu funções "muito ligadas à política", à política da Guiné Melhor do General Spínola, "política de que me orgulho muito";
- Nas três frentes do teatro de operações, ninguém podia alimentar a ilusão de que podia ser ganha militarmente; na Guiné, onde a situação era mais dura, apostou-se muito na estratégia da promoção sócio-económica e da acção psiocossial para ganhar o apoio das populações;
- Sabia-se que "a guerra não tinha solução militar"... O que o smilitares fizeram foi dar tempo (militar) ao tempo dos políticos para encontrar soluções, não-militares, para os conflitos que travávamos, na Guiné, em Angola, em Moçambique... Infelizmente os políticos não o conseguiram, em tempo oportuno...
- As duas coisas mais marcantes da obra (mais do que deste livro, que de resto deve ser lido depois do 1º): afirmação do autor como comandante e como homem, como homem que se sente particularmente atraído pela Guiné, pelas suas gentes e, muito em particular, pelos seus soldados que ele não tem pejo em classificar como os melhores do mundo (***). (LG)

(Continua)
________

Notas de L.G.:

(*) Vd. os três últimos postes anteriores desta série

12 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3442: O Tigre Vadio, o novo livro do nosso camarada Beja Santos (7): A leitura de António Valdemar

12 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3441: O Tigre Vadio, o novo livro do nosso camarada Beja Santos (6): Notícia do lançamento (Lusa) + Fotos (Luís Graça)

11 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3440: O Tigre Vadio, o novo livro do nosso camarada Beja Santos (5): As primeiras imagens do lançamento (V. Briote)

(**) 11 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2429: Lançamento do meu/nosso livro: 6 de Março de 2008, na Sociedade de Geografia, com Lemos Pires e Mário Carvalho (Beja Santos)

(***) Vd. poste de 27 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2002: Blogoterapia (29): O Mário escreve com a mesma teimosia, perseverança, paixão e coragem com que ia a Mato Cão (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P3448: A guerra estava militarmente perdida (30)? Nem perdida, nem ganha. António Matos.

As minhas razões

António Matos

ex-Alf Mil
CCAÇ 2790
Bula 1970/72



Como combatente não-voluntário que fui;
Como indivíduo que andou os 24 meses da praxe no mato;
Como alferes de um grupo de combate que nem sempre teve os deuses consigo que lhe tivessem permitido não deixar mortos alguns camaradas de armas;
Como operacional que sempre foi aos locais onde me mandaram ir (mesmo que, porque estávamos em guerra, muitas vezes tivesse que me travar de razões com o IN);
Como elemento das forças militares que desenvolveu operações em conjugação com outras forças (pára- quedistas, comandos, nativos) e que nunca deixámos de examinar, in loco, o evoluir da situação militar;
Como homem que viveu e partilhou os dramas dos dois lados duma guerra;
Se calhar com mais outras 27.000 razões, tenho sempre grande dificuldade em aceitar a opinião de que a guerra estava perdida.


ATENÇÃO! Não me movem sentimentalismos de falso patriotismo nem vedetismo de Rambo nova geração!
Não fui militarista porque a tanto me impedia a maneira de ser e de pensar.
Também não fui objector de consciência sob cuja capa se esconderam muitos cobardes!
Fui o que foram 99% dos camaradas; arregimentado por circunstâncias bélicas próprias de um país em desdita que cumpriu uma determinação nacional sem a questionar demasiado, não por cega obediência ao status quo, mas sim porque a vida tinha um determinado rumo onde a deserção não tinha cabimento perante os projectos futuros.
Reconheço o direito a essa opção por outros e tenho grandes amigos entre eles.

Tenho discutido este tema – Guerra perdida, sim ou não? - E, olhos nos olhos, nunca ouvi nenhum deles afirmá-lo!
Claro que ao ter para mim que a guerra não estava perdida não estou a dizer que estava ganha!
Era uma situação de altos e baixos, ora agora havia mais intensidade no norte ora agora no sul; agora em Bula, amanhã também em Nhacra.
Parece-me ter sido o habitual efeito de yo-yo duma guerra de guerrilha.
Perante este tipo de conflito, a solução passa invariavelmente pela política e diplomacia.
A história não está feita, é muito cedo.
O historiador não pode ser um dos seus intervenientes. Isso desvirtua sistematicamente a realidade. É preciso distanciamento. Tudo o resto são meras estórias (!) para que as próximas gerações se possam debruçar e escrever a página que falta sobre a tragédia que esta foi para os países envolvidos.
Eles dirão de sua justiça...

___________


Notas:

1. Artigos do Autor em


2. Artigos da série em

3. Título do editor.

Guiné 63/74 - P3447: Em bom português nos entendemos (6): Histórias... ou estórias de guerra ? Venham elas... (J. Mexia Alves)

1. Mensagem do nosso camarigo Joaquim Mexia Alves (ou Joaquim Alves, tout court), que vive em Marinha Grande e trabalha (ainda ?) em Monte Real, Leiria:

Caros Luís, Virgínio e Carlos:

Apenas uma pequena "achega" ao tema da "história e estória". (*)

Embora tenha votado no sentido de julgar que história é termo correcto, não pelos meus "doutos conhecimentos" da língua portuguesa, mas porque julgo ser essa a grafia correcta e tenho para mim que é preciso defender a nossa língua que tem sofrido verdadeiros atentados, quero afirmar que não é assunto que me "tire o sono".

Quero eu dizer que a Tabanca Grande, para mim, pode continuar a publicar histórias e estórias, que eu continuarei a lê-las com o mesmo gosto com que as tenho lido até aqui.

O que é preciso é "que as haja", para lermos e recordarmos, para fazermos as pazes com o passado e darmos memória para o futuro.

O meu filho Pedro, que tem 14 anos, tem uns jogos de guerra no computador e volta e meia pergunta-me coisas sobre armas de guerra, sobre a guerra, sempre com alguma "admiração" por eu ter estado na guerra.

É lógico que lhe vou dizendo que a guerra nada tem de heróico, e que pelo contrário, é "actividade" a evitar sempre.

Mas a cabeça dos rapazes nestas idades é povoada de muitas coisas, não só das raparigas, mas também das aventuras, dos radicalismos e por aí fora, pelo que a guerra é algo, infelizmente, muito "chamativo".

No outro dia fiz o Pedro ouvir o ataque que, salvo o erro, o António Graça Abreu gravou e está publicado no blogue, e que está longe, apesar de tudo, de representar verdadeiramente todo o medo, o horror, a surpresa, a incompreensão, que um primeiro ataque desse tipo provoca na gente que lá esteve.

Ficou a olhar para mim, com um ar sério e admirado e disse-me:
- Ó pai, era mesmo assim? Vocês tinham medo, não tinham?

Lá lhe respondi qualquer coisa a propósito, mas percebi que uma parte do seu "fascínio" pela guerra tinha desaparecido.

E dei graças a Deus, por isso!

Por isso é importante continuarem as histórias e as estórias, para que os vindouros saibam do que falamos, quando falamos da guerra.

Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves
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Nota de L.G.:

Guiné 63/74 - P3446: Estórias cabralianas (41): O palácio do prazer, no Pilão (Jorge Cabral)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Missirá > 1971 > Jorge Cabral, comandante do Pel Caç Nat 63. Um exemplar, se não único, pelo menos raro, raríssimo, da fauna dos milicianos que passaram pela Guiné... Encontrei-o, deslocadíssimo, no Museu da Farmácia, com o seu inseparável cachimbo de Sherlock Holmes, 3ª feira passada, na festa do lançamento do livro do nosso camarada Beja Santos...

No final, fomos jantar à Trindade, eu, a Alice, o Humberto Reis, o Carlos Silva, o Humberto Reis, o Vacas de Carvalho, mais três queridos algarvios, o Henrique Matos (o 1º comandante do Pel Caç Nat 52), o João Reis (que passou por esta unidade, como furriel miliciano, antes do Beja Santos), e o José António Viegas (que passou também por Missirá, mas na qualidade de Fur Mil no Pel Caç Nat 54).

À mesa com o Jorge Cabral, ficou assente que o próximo (ou um dos próximos) livro(s) a ser(em) lançado(s), com a chancela do nosso blogue, serão as Estórias Cabralianas. Agora toca a contactar editores, patrocinadores, distribuidores, que leitores já cá temos... E a arranjar um local, adequado, condigno, apropriado, para o lançamento do livro: Maxime, é a minha sugestão; Elefante Branco, é a alternativa apresentada pelo J.L. Vacas de Carvalho... É pena já não haver o Bolero, que era o eleito do Jorge...

Vejo que o Cabral está a levar a sério, pela primeira vez na vida, um desafio, este desafio: só faltam nove estórias (sem h) para a meia centena, a meta do nosso contrato... Aproveitou para comentar comigo a "onda de devaneio" que está a atingir a Tabanca Grande, com o preciocismo de debates como o da história / estória... Receia que o blogue descambe para a pornografia, com mais este debate sobre o sexo dos anjos... Procurei tranquiizá-lo a este respeito (ou falta dele)...

Aproveitou o ensejo para lançar um aviso à cibernavegação, o de que as suas estórias continuarão a ser estórias, sem h... Com h seriam histórias, mas muito pouco ou nada cabralianas... Aqui fica a sua posição, veemente, pública e notória, sobre tão momentoso problema linguístico que, a avaliar pela sondagem em curso, é mais uma questão fracturante para a nossa Tabanca Grande.

Registo as suas pré-ocupações (a nosso respeito). Garanti-lhe que, se for necessário recorrer aos seus serviços jurídicos, não teremos pejo em abrir os cordões à bolsa. Mostrou-se sensibilizado e pronto, em tempo de vacas magras e tetas vazias, a fazer um desconto especial aos amigos e camaradas da Guiné. (LG).

Foto: © Jorge Cabral (2006). Direitos reservados


1. Estórias cabralianas (*) > Pilão: os 10 Quartos (**)
por Jorge Cabral



De Bissau conheci muito pouco. Apenas o Pilão, e neste Os Dez Quartos, um palácio do Prazer. Era o local ideal para um sexólogo, pois tendo todos os quartos o mesmo tecto e paredes incompletas, ouviam-se os murmúrios, os gritos, os ais e os uis, deles e delas, em plena actividade. Sempre que lá fui, abstraí-me um pouco da minha função e dediquei-me à escuta, tentando até catalogar os clientes por posto, ramo, forma, jeito, velocidade e desempenho.

A noite de véspera do meu regresso foi lá passada. Que melhor despedida podia eu, então, ter programado?

Para sempre ficou marcada na memória a cena dessa noite. No chão a ressonar e de pistola à cinta, um grande fuzileiro e, encostado a ele, todo enrolado em panos, um bebé. Na cama, ela, semi-adormecida, ordenando uma actuação silencios...

Esta a minha última imagem da Guerra e da Guiné, a qual merecia, penso, um Postal Ilustrado. Naquele dia comprara para os meus sobrinhos um pijama chinês e uma boneca. Pois não é que lá deixei o respectivo embrulho ?!...

Em Julho de 2004, fui a Bissau e muito estranhou o Senhor Reitor, que eu quisesse visitar o Cupilon. Mas quis. E visitei. E lá permaneci a olhar as mulheres e os homens. Qual delas terá brincado com a boneca? Qual deles terá usado o pijama? Ter-me-ei mesmo esquecido do embrulho? Ou, sem total consciência, ofereci na altura duas prendas ao Futuro?

Jorge Cabral

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Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste da série Estórias Cabralianas > 4 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3399: Estórias cabralianas (40): O meu sonho de empresário (falhado): a construção de uma tabanca-bordel (Jorge Cabral)

(**) Originalmente publicado em 18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1290: Estórias de Bissau (7): Pilão, os dez quartos (Jorge Cabral)

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3445: Tabanca Grande (96): Ten Cor Art José Francisco Robalo Borrego, ex-1.º Cabo do Gr Art 7 e Furriel QP do 9.º PELART (1970/72)

Ten Cor José Francisco Robalo Borrego, que pertenceu, como 1.º Cabo, ao Grupo de Artilharia n.º 7, de Bissau e, como Furriel do QP, ao 9.º Pel Art, Bajocunda (Guiné 1970/72)


1. Mensagem com data de 10 de Novembro de 2008, do Ten Cor José Francisco Robalo Borrego

Caros companheiros Luís Graça, Carlos Vinhal e Virgínio Briote

Assunto: O Bom Humor em Tempos de Guerra

Em primeiro lugar as minhas felicitações pela criação do blogue colectivo, o qual permite comunicarmos as nossas histórias passadas, há muitos anos, mas que se encontram bem arquivadas e conservadas nas nossas memórias.

Após a Recruta básica no Batalhão de Caçadores n.º 6 em Castelo Branco (Julho-Setembro de 1968), quis o destino que a minha Especialidade fosse Artilheiro de Campanha 10,5 e não Atirador de Infantaria, ou seja, estive na Guiné entre Julho de 1970 e Outubro de 1972, tendo lá chegado a bordo do paquete Alfredo da Silva, como 1.º Cabo Apontador de Campanha 10,5 (obus de Artilharia) e, graças a Deus, a minha actividade operacional não foi muito arriscada, quer nas colunas que tive de realizar, quer nos poucos ataques que sofri nos aquartelamentos onde estive colocado. Para tudo é preciso sorte!

A minha unidade era o Grupo de Artilharia n.º 7, de Guarnição Normal, estacionado em Bissau (Santa Luzia), perto do QG/CTIG e do Batalhão de Intendência. O Gr Art n.º 7, em 1970, tinha vinte e tal pelotões de obuses 10.5, 11.4 e 14 disseminados pelo TO da Guiné, actuando sobre as linhas de infiltração do IN e de reacção rápida aos ataques sobre os nossos aquartelamentos.

Após a minha promoção a Furriel do QP de Artilharia (Janeiro de 1972), marchei para o Sector do BCAV 3864 (1971/73) (Pirada) com destino ao 9.º PELART (Bajocunda), ficando adido à CCAV 3462 do referido Batalhão.

Foi lá que conheci o meu amigo João José Coelho Teixeira Lopes, Fur Mil, Comandante de uma Secção do 9.º PELART, sendo hoje um distinto médico.

Em Bajocunda tenho uma história engraçada, que passo a descrever.

Soldado Herodes

Quando me apresentei no Pelotão, verifiquei que fazia parte do efectivo um cão chamado Herodes criado pelos soldados, presumo, amarelo e branco. Não se sabendo bem porquê, o bicho ausentou-se durante três ou quatro dias e quando regressou à base, vinha todo sujo, num estado lastimável. Como era considerado soldado havia que proceder ao levantamento do respectivo processo disciplinar por ausência ilegítima. Vai daí, peguei numa folha de trinta e cinco linhas e na qualidade de graduado mais antigo redigi a punição que foram, salvo erro, cinco dias de prisão, tendo em conta o bom comportamento anterior.

Como o referido soldado não sabia ler nem escrever, colocou a pata sobre o papel, depois de molhada, através de uma almofada de carimbo azul que pedi emprestada na Secretaria da Companhia. Como a punição era mesmo para cumprir o Herodes ficou preso junto ao nosso abrigo.

Ao segundo dia de privação da liberdade o aquartelamento foi atacado e, como não houve tempo de o soltar, o desgraçado gania de medo com o barulho dos rebentamentos. No fim das hostilidades, foi libertado, porque tivemos compaixão dele. O Herodes, assim que se apanhou solto, fugiu para debaixo das camas e esteve lá uns dois dias que nem comer queria! Coitado, não merecia tanto castigo, teve azar!...

Ainda dentro do Sector do BCAV 3864, o 9.º PELART foi transferido para Paunca, em Abril ou Maio de 1972, onde se encontrava a CÇAC 11, constituída por elementos africanos, à excepção dos graduados e das praças especialistas que eram todos europeus.

O meu companheiro de pelotão e de tabanca era o já aludido, anteriormente, Fur Mil Teixeira Lopes que me dizia:
- Ainda te hei-de ver em primeiro-ministro - isto pelo facto de eu estudar muito nas horas vagas, o que muito ajudava a passar o tempo, aliás, posso dizer que comecei os meus estudos na Guiné, já que até aí não tinha tido possibilidades na vida.

“Enquanto se Luta, Constrói-se” era uma das máximas do general António de Spínola.

Nesta localidade, passaram-se duas histórias que o meu companheiro, Teixeira Lopes, pode confirmar.

Primeira História ou Galináceo, espécie em perigo de extinção

Existiam muitas galinhas, embora de pequeno porte, e como a nossa alimentação não era muito famosa, resolvi apanhar umas aves, com a cumplicidade do Teixeira Lopes, que consistia no seguinte: deitava um carreirinho de arroz em frente à porta da tabanca que se prolongava para o interior da mesma; o animal na boa fé entrava e depois era só encostar a porta pelo interior e a presa não tinha salvação.

Como o efectivo das galinhas começou a diminuir fomos avisados pelo nosso Comandante de Pelotão, Alferes Mendes, que já havia queixas da população e o melhor era deixarmos as galinhas em paz, assim fizemos em nome do bom senso e da boa vizinhança e também porque já andávamos com imensa azia de tanto churrasco, preparado por um soldado do Posto Rádio!

Segunda História ou Era mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha

Numa bela noite de Abril ou Maio de 72, dois burros da população resolveram lutar e, já de madrugada, o burro perdedor aflito com os ataques do seu adversário fugia num galope acelerado até que encontrou um buraco para se esconder e esse buraco, vejam só, foi a nossa tabanca, cuja porta estava aberta por causa do calor. Depois foi o bom e o bonito para tirar o burro que mais profundamente penetrou na tabanca.

De marcha-atrás era impossível, porque o outro burro mordia-lhe; sair de frente também era difícil, devido à exiguidade do espaço da tabanca para fazer a manobra. Por fim, ao cabo de uma ou duas horas, lá conseguimos resolver a situação. Nessa noite não chateou o IN, mas chatearam os burros!

Finalmente, de 19 de Agosto a 21 de Setembro de 1972, ainda fiz uma perninha na CART 3417, pertencente ao COP 7, onde se encontrava o 29.º PELART em Ganjuará (Península de Gampará) na confluência dos rios Geba e Corubal a norte de Fulacunda, felizmente sem problemas.

Companheiros, presentemente sou Tenente-Coronel do SGE, presto serviço no Ministério da Defesa Nacional e tenciono passar à reserva em 16-11-2008.

Junto duas fotos: 1.º Cabo (Gr Art N.º 7 – Guiné); Ten Cor (actual)

Despeço-me com muita amizade e elevada consideração com abraços a todos os ex-combatentes: Portugueses e Africanos.

Lisboa, 10 de Novembro de 2008
José Francisco Robalo Borrego

2. Resposta enviada ao nosso novo camarada em 12 de Outubro de 2008

Caro camarada:

Na qualidade de relações públicas da Tabanca Grande, estou a responder-te em nome dos editores do Blogue.

É um prazer receber na nossa Tabanca mais um Oficial Superior do Exército, onde contamos já com a colaboração do Cor Ref António Marques Lopes, Ten Cor Rui Alexandrino Ferreira, Cor Ref Hugo Guerra, Cor Pereira da Costa e Cor Ref Coutinho e Lima. Contamos ainda entre os nossos amigos o Cor Cmd Ref Carlos Matos Gomes. Espero não ter cometido a falta grave de esquecer alguém.

Estamos curiosos pelo conteúdo das tuas histórias pois tiveste um percurso militar digno de registo. Na mesma comissão chegaste como 1.º Cabo e saíste como Furriel do QP. Fizeste mais alguma comissão de serviço ou foste salvo pelo 25 de Abril?

Com respeito às nossas normas de conduta, podes consultá-las no lado esquerdo da nossa página assim como aquilo que nós (não) somos

Consideramo-nos camaradas em toda a acepção da palavra e não levamos em conta os postos militares e a posição na sociedade civil. O respeito é a nossa divisa, tanto na discussão das ideias, como na diferença das convicções religiosas, políticas e outras. Assim o tratamento por tu é normal dentro da nossa Caserna.

Caro Robalo Borrego, entra, instala-te e começa a conhecer as pessoas e os cantos da casa.

Agora um apontamento de ordem mais pessoal. A dada altura do teu mail, dizes que fizeste uma perninha na CART 3417. Esta Companhia é-me particularmente familiar, porque foi a minha Companhia (CART 2732) que a acompanhou no IAO, em Mansabá. Por outro lado, há um acontecimento trágico registado no dia 28 de Agosto de 1971, dia em que o CMDT da 3417 que tinha saído sozinha, pisou uma mina AP na zona de Manhau. Foi o meu Pelotão que o foi evacuar ao mato, vindo na minha viatura no regresso ao Quartel sempre assistido pelos enfermeiros. Como a meio da tarde ainda não tinha sido evacuado para o MH 241 por meio aéreo, fizemos uma directa em coluna auto até Bissau, onde o deixámos para tratamento. Nunca mais soube nada desse, na altura, jovem capitão.

Caro camarada, recebe um abraço de boas-vindas da tertúlia e dos editores em particular.

Carlos Vinhal

OBS:-Como brevemente vais passar à situação de Reserva, se mudares de endereço, não te esqueças de nos informar da alteração.
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Nota de CV

Vd. último poste da série de 1 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3390: Tabanca Grande (95): António Garcia de Matos, ex-Alf Mil da CCAÇ 2790, Bula (1970/72)

Guiné 63/74 - P3444: (Ex)citações (6): A segunda morte do Soldado Milhões (João Tunes)

A partida para a guerra (excert0): uma das mais emblemáticas fotos do Joshua Benoliel (1873-1932), o maior fotojornalista português das duas primeiras décadas do Séc. XX. Vd. Arquivo fotográfico do Arquivo Municipal de Lisboa.


Do blogue do nosso camarada João Tunes, Água Lisa, com a devida vénia:

Terça-feira, 11 de Novembro de 2008 > ATÉ O SOLDADO MILHÕES FOI GASEADO PELO ESQUECIMENTO

Pelo irrelevo que é dado à efeméride até parece que Portugal não participou na 1ª Guerra Mundial de que hoje se comemoram os 90 anos do armistício que lhe deu termo. O que é sobretudo chocante se tivermos em conta que não só milhares de soldados portugueses ali combateram como foram muitas as nossas baixas e as sequelas, entre mortos, feridos e uma enorme quantidade de compatriotas que tiveram o destino de carpirem todas as suas vidas o martírio dos gaseados.

Mas julgo que, no caso, não é propriamente a desmemória a funcionar. O que, diga-se, é mal que, em Portugal, cresce nas nossas esquinas da lembrança histórica. E, no entanto, ao contrário de outras guerras a que metemos armas (como a colonial), saímos dela do lado dos vencedores. O que, tendo em conta o automatismo do celebracionismo do sucesso que é marca dos tempos, transforma esta omissão numa espécie de paradoxo.

(...) Depois, se a ideia da participação na Guerra foi mal parida, todo o salazarismo foi, numa espécie de vingança póstuma do Sidónio abatido, um reencontro ideológico e diplomático com a nova Alemanha construída a partir dos escombros da sua derrota, particularmente como revanche da humilhação do Tratado de Versailles, para mais uma Alemanha despossuída de colónias em África.

E, então, durante toda a ditadura (particularmente, desde que foi afastado o seu chefe militar primeiro, Gomes da Costa, o qual havia combatido na Guerra), a memória da participação portuguesa na 1ª Guerra Mundial foi relegada ao título de fenómeno inconveniente de um passado, o republicano, que havia que esquecer ou menosprezar. Até hoje. Que atingiu inclusive a lembrança do lendário Soldado Milhões (*), essa espécie de Zé Povinho soldado e que foi alçado a figura mitificada que durante muito tempo simbolizou as virtudes da valentia militar dos nossos beligerantes nas trincheiras da Flandres, desfilando com bigode e medalhas nas cerimónias evocativas mas pouco assistidas, o qual não só já se finou como levou consigo as últimas lembranças tangíveis de que Portugal participou e venceu numa das Guerras Mundiais, nunca o tendo celebrado com palmas e louros (...).

Selecção e negritos: L.G. (**)

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Notas de L.G.:

(*) Excerto da
Wikipédia > Batalha de La Lys

(...) O Soldado Milhões

Nesta batalha [de La Lyz] a 2ª Divisão do CEP [Corpo Expedicionário Português]foi completamente desbaratada, sacrificando-se nela muitas vidas, entre os mortos, feridos, desaparecidos e capturados como prisioneiros de guerra. No meio do caos, distinguiram-se vários homens, anónimos na sua maior parte. Porém, um nome ficou para a História, deturpado, mas sempiterno: o Soldado Milhões.

De seu verdadeiro nome Aníbal Milhais, natural de Valongo, em Murça, viu-se sozinho na sua trincheira, apenas munido da sua menina, uma metralhadora Lewis, conhecida entre os lusos como a Luísa. Munido da coragem que só no campo de batalha é possível, enfrentou sozinho as colunas alemãs que se atravessaram no seu caminho, o que em último caso permitiu a retirada de vários soldados portugueses e ingleses para as posições defensivas da rectaguarda.

Vagueando pelas trincheiras e campos, ora de ninguém ora ocupados pelos alemães, o Soldado Milhões continuou ainda a fazer fogo esporádico, para o qual se valeu de cunhetes de balas que foi encontrando pelo caminho. Quatro dias depois do início da batalha, foi encontrado por um médico escocês, que o salvou de morrer afogado num pântano.

Regressado a um acampamento português, um comandante saudou-o, dizendo o que ficaria para a História de Portugal, "Tu és Milhais, mas vales Milhões!". Foi o único soldado português da Primeira Guerra a ser condecorado com o Colar da Ordem da Torre e Espada, a mais alta condecoração existente no país.(...).


(**) Vd. postes anteriores desta série:

28 de Outubro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3375: (Ex)citações (5): Os nossos soldados eram miúdos, de 19, 20, 21 anos. Admiráveis. Iam matar e morrer (A. Lobo Antunes)

10 de Outubro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3291: (Ex)citações (4): Pinto Leite, em Bambadinca, dois dias antes de morrer em desastre de helicóptero: Não há solução militar

16 de Junho de 2008 >
Guiné 63/74 - P2951: (Ex)citações (3): A guerra de África acrescentou 15 anos ao regime de Salazar (André Gonçalves Pereira)

1 de Junho de 2008 >
Guiné 63/74 - P2908: (Ex)citações (2): Conto histórias da vida, o que foi, o que será, sou 'kora djalô', tocador de kora (José Galissa)

2 de Dezembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2324: (Ex)citações (1): Um pouco de humor de vez em quando também nos faz bem (Henrique Matos)