1. O nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art da CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) pede-nos para publicitar o XIII Encontro do pessoal da sua Unidade a levar a efeito no próximo dia 30 de Maio de 2015 em Mira de Aire:
Caro Amigo Carlos Vinhal,
Agradeço a publicação no blogue, do 13º. convívio da Cart 2520, que esteve no Xime e Quinhamel e que irá realizar-se no dia 30 de Maio de 2015, em Mira de Aire.
As honras da casa serão realizadas pelo grande operacional e excelente apontador de morteiro 60, o 1.º Cabo José Manuel Vitória Cordeiro.
Com um grande abraço
José Nascimento
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Nota do editor
Último poste da série de 5 DE mAIO DE 2015 > Guiné 63/74 - P14569: Convívios (673): XI Encontro do pessoal da CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), no próximo dia 30 de Maio de 2015, em Viana do Castelo (Abel Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
terça-feira, 5 de maio de 2015
Guiné 63/74 - P14570: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (3): Reunião com o Gen Spínola e início do IAO em Bolama
1. Mensagem do nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª
CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), com data de 28 de Abril de 2015:
Luís Graça e Carlos Vinhal, Camaradas amigos.
Antes de mais, quero felicitar-vos pelo sucesso do X Encontro em Monte Real. Com muito mérito vosso e dos demais organizadores, acho que esteve à altura da dimensão e prestígio da Tabanca Grande. Então, pode dizer-se que todos estamos de parabéns.
Junto em anexo mais um texto das minhas memórias. Noutro mail que enviarei já de seguida, segue novo texto.
Um abraço fraterno para ambos,
A. Murta
[Recapitulando o anterior poste: 23-03-1973 – Chegada a Bolama; 1ªs impressões; Início da IAO; Boas vindas do Gen. Spínola ao Batalhão 4513; Desfile das tropas perante o CMDT-Chefe e demais individualidades].
Concluídas as cerimónias, enquanto a maioria debandava, todos os oficiais e sargentos estavam convocados para uma reunião com o General num salão do Hotel Turismo, actual messe de oficiais. Durou duas horas, esta reunião.
(Do que se passou naquela sala soturna e constrangida, creio que já em tempos aflorei (ou dei mesmo conta?) no nosso blogue. Na dúvida, e por uma questão prática transcrevo do meu diário):
Acomodados todos os presentes, fixaram-se as atenções na mesa presidida pelo Gen. Spínola, ladeado por todo o Comando do Batalhão e outros oficiais da sua comitiva. Era notória a frieza do General para com o Comandante do Batalhão, votado ao ostracismo e visivelmente incomodado.
O General, depois de palestrar para todos sobre o retrato da situação na Guiné e do papel que nos cabia a nós no evoluir dessa situação, deu por encerrada a primeira parte da reunião e convidou os sargentos e furriéis a saírem. Prosseguiu de imediato a reunião apenas com os oficiais. Estava muito interessado em saber o que pensávamos nós sobre aquela guerra e sobre a nossa acção nela e junto das populações.
Para meu azar, aponta-me o dedo e diz:
- O nosso alferes que pensa de tudo o que já aqui foi exposto?
Surpreso, levantei-me com todas as atenções concentradas em mim e, num ápice, percebi que não iria falar apenas para ele, tendo de decidir rapidamente que versão escolheria entre várias hipóteses a considerar. Então, muito contrafeito e cobardemente, (sensatamente?), recitei-lhe a cartilha oficial, a que me ensinaram, sem introduzir originalidades nem virtuosismos, enfim, pensando que era o que ele queria ouvir (e não era), mesmo se o meu pensamento estava nos antípodas do que lhe dizia, devido à minha formação política, muito anterior à entrada para o Exército. O General ouviu-me em silêncio e depois mandou-me sentar. E eu a ler-lhe o pensamento: Mais um idiota!
Depois interpelou o Alf. Capelão com a mesma questão.
Quando este começou a falar, sem tibiezas e com uma audácia a roçar o desaforo, para as circunstâncias e para a época, eu não sabia onde me havia de enfiar... Foi então que o Gen. Spínola o interrompeu para o pôr à vontade, dizendo-lhe:
- O nosso Alferes pode falar à vontade, dizer o que pensa, porque daquela porta - e apontou - não sairá uma palavra. (O Comandante do Batalhão, enfiado, transpirava e bufava...).
E ele continuou, pondo em dúvida o colonialismo e a legitimidade de tudo aquilo que a maioria entende por legítimo, natural, a ordem das coisas..., mas também questionando o estado social da colónia, em pleno século XX, depois de 500 anos de colonização. Falou bastante tempo sem ser interrompido. Era um valente. (E não apenas intelectualmente: vi-lhe dar um murro nos queixos a um soldado que apalpou o rabo a uma adolescente estudante de Bolama que seguia à nossa frente no passeio, que ele até voou! Éramos amigos e com muito respeito mútuo: ele era padre católico e eu ateu empedernido. Desapareceu depois de uma distribuição clandestina de panfletos à tropa sobre, creio, a má alimentação que era distribuída aos soldados, - ou a toda a tropa?).
O General pareceu ter gostado do que ouviu ao Alferes Capelão e disse para o seu Ajudante-de-Campo tomar nota de que lhe devia enviar, de oferta, o seu livro “Portugal e o Futuro”, ainda não publicado. (Só mais tarde, quando o livro saiu, e com a polémica à sua volta, percebi o seu interesse em auscultar os militares a propósito da situação na Guiné e do seu desfecho político e militar, pois que ele preconizava uma solução diferente para a colónia. Adquiri o livro muitos anos depois).
9 de Abril de 1973 – (segunda-feira) – Início da 1ª semana de campo no interior de Bolama
Deslocámo-nos muito para o interior da ilha e acampámos numa zona elevada e, de certo modo, aprazível. Na nossa frente e em baixo podia ver-se o mar, ainda que a grande distância. Na verdade é o canal marítimo entre a ilha de Bolama e o continente. Próximo deste local fica uma pequena tabanca de etnia Mancanha ou Brames, não recordo, mas são as etnias maioritárias em Bolama. Da Guiné que eu conheci, foi o único local em que vi as mulheres usarem uma tanguinha de palha de arroz sem mais nada sobre o corpo. Excepção para a cidade de Bolama e, aqui na tabanca, num caso ou outro. Parece que é comum esta forma de “vestir” em todo o arquipélago dos Bijagós.
Pouco depois da nossa chegada fiz uma visita à tabanca e fiquei encantado, embora visse nos homens-grandes alguma desconfiança e agressividade. Talvez tenham razões para isso: já por aqui passaram muitos tropas e, por certo, nem todos respeitadores. Mas as bajudas e as crianças são adoráveis: à noite, quando acendemos fogueiras no acampamento para afastar os mosquitos e a horrível – e chata! – mosquinha do capim, aparecem de mansinho algumas bajudas e, pasme-se!, sentam-se no chão como nós, no meio das nossas pernas, encostadas a nós e viradas para a fogueira. Imagine-se, vestidas só de tanguinha e de um sorriso doce..., mas sem qualquer maldade. Perante este afecto e inocência, também da nossa parte estava fora de questão qualquer maldade. São miúdas com idades, talvez, a partir dos 13, 14 e 17 no máximo. Falam um português razoável, mercê, talvez, da proximidade da cidade de Bolama e, quem sabe, do já longo contacto com a tropa.
As mais velhitas não costumam aparecer à noite mas vamos encontrá-las de dia na fonte. Eu e o meu amigo J. R. já tínhamos bajudas “dedicadas”... A fonte era uma espécie de centro de convívio, (felizmente não era hábito aparecerem outros camaradas), para onde nos escapávamos nos tempos livres e aí íamos encontrar também as mulheres-grandes, sisudas e desconfiadas.
Quando abalavam, carregadas de cabaças e alguidares com água à cabeça, as bajudas mais velhitas começavam as suas higienes, largavam as tangas e pegavam no sabão e nas “esponjas” feitas de raízes secas e muito finas. Ensaboavam-se até onde chegavam e depois estendiam-nos as “esponjas” para que as lavássemos por trás. Aí, a nossa lascívia misturava-se com a falsa naturalidade e, era certo, com uma grande dose de maldade. Elas correspondiam com risadas e sensualidade, mas não se passava dali. Até que um dia... (talvez, de caminho, venha a contar um episódio lamentável, fruto da nossa ousadia e irresponsabilidade, mas que agora não cabe aqui).
Fiz junto desta população amizades fortes, especialmente com as crianças: um rapazito e três bajudinhas de uma doçura enorme. Quando chegou a hora de os deixarmos de vez, no momento da despedida até me beijaram. Só tive um caso em que me zanguei deveras: foi com um velho que não falava bem o português e que embeiçou com a minha faca de mato. Só quando lha passei para as mãos percebi que queria ficar com ela. Foi um problema para a reaver e receei ter que usar a força.
Havia na ilha, (na pequena parcela que me foi dado conhecer), outros encantos e outros prazeres. Um deles, era cruzar-me a meio da manhã, numa picada exuberante, com um vendedor de vinho de palma em marcha acelerada rumo à cidade. Distinguia-se ao longe, bamboleante, com a sua carga suspensa da vara que carregava ao ombro: de cada extremidade da vara pendia um grande garrafão. Parava, satisfeito, e nós enchíamos os cantis daquele líquido aromático e fresco, que se bebia de um fôlego, até se aprender como era enganadora aquela suave frescura... O homenzinho partia de novo na sua marcha, mais aliviado da carga que, a partir de agora, carregaria a nossa cabeça... Cabeça-grande, já se vê.
O treino militar propriamente dito, e era para isso que ali estávamos, foi muito desagradável. Não se esperava que fosse agradável, mas foi difícil a adaptação àquelas condições: manhãs muito frias, zonas de capim orvalhado e muito alto, (mais alto que um homem), e infestado de uma mosquinha minúscula que nos envolvia, metendo-se nas narinas, nos ouvidos, enfim... era com este incómodo e com os camuflados encharcados que fazíamos as emboscadas, os golpes de mão e as restantes peripécias do treino, incluindo ser-mos abatidos pelo “IN” num meio tão adverso. Mas já dava para antecipar o que nos esperava no cenário real da nossa futura actividade. Se este treino tinha como objectivo preparar-nos melhor para ela e compensar a deficiente preparação da Metrópole, então havia que aguentar e aproveitar ao máximo, sendo certo que não iria resolver o desnível da preparação dos graduados em relação aos soldados. Imaginava já os custos altos com que, gradualmente no mato ganhariam a prática que agora lhes faltava, frente a um inimigo experimentado e motivado. Não devia valer. Estava a chegar ao fim a primeira semana de campo.
15 de Abril de 1973 (Domingo) – Fim-de-semana em Bolama
Fomos passar o fim-de-semana a Bolama. Nesta data já sabia que em 24 de Abril partiria para Nhala, uma pequena povoação no interior e a sul da Guiné. Sem mais pormenores. Será aí que, finalmente, ficaremos a cumprir a comissão.
Foi um fim-de-semana em cheio. Retemperar forças, fazer higienes adequadas mas, principalmente, comer bem. Havia que aproveitar os derradeiros dias de relativa tranquilidade. Avizinhavam-se tempos difíceis e incertos. Nesta quase noite de domingo, foi um “fartar vilanagem”! Fomos à Pensão do Zeca, um tipo de Coimbra aqui radicado há 25 anos. Ostras! Queríamos ostras! Era uma mesa enorme bem composta de comensais. Eu estava sentado ao lado Alferes Capelão que, enquanto esperávamos pelo pitéu, se pegou com o camarada da frente por este, com simulacros de mau gosto, o ter provocado. Acho que era o Alferes M., sempre muito divertido mas que teve a ideia peregrina de fazer hóstias com miolo de pão e pôr-se para lá a benzê-las à frente do Capelão. A coisa esteve mesmo para azedar... Comemos, pois, muitas ostras. Mas no fim o estômago ainda reclamava. Mandaram-se fazer omeletes de carne com batatas fritas e, parecia, tudo se recompunha em definitivo. Mas, aproximava-se a hora do jantar (!) e já dali não saímos: aguardava-nos um leitão que havíamos encomendado com antecedência e ele chegou mesmo na hora.
(continua)
Texto: © António Murta
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Nota do editor
Poste anterior da série de 8 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14446: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (2): Partida para Bolama, IAO e visita do General Spínola
Luís Graça e Carlos Vinhal, Camaradas amigos.
Antes de mais, quero felicitar-vos pelo sucesso do X Encontro em Monte Real. Com muito mérito vosso e dos demais organizadores, acho que esteve à altura da dimensão e prestígio da Tabanca Grande. Então, pode dizer-se que todos estamos de parabéns.
Junto em anexo mais um texto das minhas memórias. Noutro mail que enviarei já de seguida, segue novo texto.
Um abraço fraterno para ambos,
A. Murta
CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74
[Recapitulando o anterior poste: 23-03-1973 – Chegada a Bolama; 1ªs impressões; Início da IAO; Boas vindas do Gen. Spínola ao Batalhão 4513; Desfile das tropas perante o CMDT-Chefe e demais individualidades].
3 - REUNIÃO DE GRADUADOS COM O GEN. SPÍNOLA
Concluídas as cerimónias, enquanto a maioria debandava, todos os oficiais e sargentos estavam convocados para uma reunião com o General num salão do Hotel Turismo, actual messe de oficiais. Durou duas horas, esta reunião.
(Do que se passou naquela sala soturna e constrangida, creio que já em tempos aflorei (ou dei mesmo conta?) no nosso blogue. Na dúvida, e por uma questão prática transcrevo do meu diário):
Acomodados todos os presentes, fixaram-se as atenções na mesa presidida pelo Gen. Spínola, ladeado por todo o Comando do Batalhão e outros oficiais da sua comitiva. Era notória a frieza do General para com o Comandante do Batalhão, votado ao ostracismo e visivelmente incomodado.
O General, depois de palestrar para todos sobre o retrato da situação na Guiné e do papel que nos cabia a nós no evoluir dessa situação, deu por encerrada a primeira parte da reunião e convidou os sargentos e furriéis a saírem. Prosseguiu de imediato a reunião apenas com os oficiais. Estava muito interessado em saber o que pensávamos nós sobre aquela guerra e sobre a nossa acção nela e junto das populações.
Para meu azar, aponta-me o dedo e diz:
- O nosso alferes que pensa de tudo o que já aqui foi exposto?
Surpreso, levantei-me com todas as atenções concentradas em mim e, num ápice, percebi que não iria falar apenas para ele, tendo de decidir rapidamente que versão escolheria entre várias hipóteses a considerar. Então, muito contrafeito e cobardemente, (sensatamente?), recitei-lhe a cartilha oficial, a que me ensinaram, sem introduzir originalidades nem virtuosismos, enfim, pensando que era o que ele queria ouvir (e não era), mesmo se o meu pensamento estava nos antípodas do que lhe dizia, devido à minha formação política, muito anterior à entrada para o Exército. O General ouviu-me em silêncio e depois mandou-me sentar. E eu a ler-lhe o pensamento: Mais um idiota!
Depois interpelou o Alf. Capelão com a mesma questão.
Quando este começou a falar, sem tibiezas e com uma audácia a roçar o desaforo, para as circunstâncias e para a época, eu não sabia onde me havia de enfiar... Foi então que o Gen. Spínola o interrompeu para o pôr à vontade, dizendo-lhe:
- O nosso Alferes pode falar à vontade, dizer o que pensa, porque daquela porta - e apontou - não sairá uma palavra. (O Comandante do Batalhão, enfiado, transpirava e bufava...).
E ele continuou, pondo em dúvida o colonialismo e a legitimidade de tudo aquilo que a maioria entende por legítimo, natural, a ordem das coisas..., mas também questionando o estado social da colónia, em pleno século XX, depois de 500 anos de colonização. Falou bastante tempo sem ser interrompido. Era um valente. (E não apenas intelectualmente: vi-lhe dar um murro nos queixos a um soldado que apalpou o rabo a uma adolescente estudante de Bolama que seguia à nossa frente no passeio, que ele até voou! Éramos amigos e com muito respeito mútuo: ele era padre católico e eu ateu empedernido. Desapareceu depois de uma distribuição clandestina de panfletos à tropa sobre, creio, a má alimentação que era distribuída aos soldados, - ou a toda a tropa?).
O General pareceu ter gostado do que ouviu ao Alferes Capelão e disse para o seu Ajudante-de-Campo tomar nota de que lhe devia enviar, de oferta, o seu livro “Portugal e o Futuro”, ainda não publicado. (Só mais tarde, quando o livro saiu, e com a polémica à sua volta, percebi o seu interesse em auscultar os militares a propósito da situação na Guiné e do seu desfecho político e militar, pois que ele preconizava uma solução diferente para a colónia. Adquiri o livro muitos anos depois).
9 de Abril de 1973 – (segunda-feira) – Início da 1ª semana de campo no interior de Bolama
Deslocámo-nos muito para o interior da ilha e acampámos numa zona elevada e, de certo modo, aprazível. Na nossa frente e em baixo podia ver-se o mar, ainda que a grande distância. Na verdade é o canal marítimo entre a ilha de Bolama e o continente. Próximo deste local fica uma pequena tabanca de etnia Mancanha ou Brames, não recordo, mas são as etnias maioritárias em Bolama. Da Guiné que eu conheci, foi o único local em que vi as mulheres usarem uma tanguinha de palha de arroz sem mais nada sobre o corpo. Excepção para a cidade de Bolama e, aqui na tabanca, num caso ou outro. Parece que é comum esta forma de “vestir” em todo o arquipélago dos Bijagós.
Pouco depois da nossa chegada fiz uma visita à tabanca e fiquei encantado, embora visse nos homens-grandes alguma desconfiança e agressividade. Talvez tenham razões para isso: já por aqui passaram muitos tropas e, por certo, nem todos respeitadores. Mas as bajudas e as crianças são adoráveis: à noite, quando acendemos fogueiras no acampamento para afastar os mosquitos e a horrível – e chata! – mosquinha do capim, aparecem de mansinho algumas bajudas e, pasme-se!, sentam-se no chão como nós, no meio das nossas pernas, encostadas a nós e viradas para a fogueira. Imagine-se, vestidas só de tanguinha e de um sorriso doce..., mas sem qualquer maldade. Perante este afecto e inocência, também da nossa parte estava fora de questão qualquer maldade. São miúdas com idades, talvez, a partir dos 13, 14 e 17 no máximo. Falam um português razoável, mercê, talvez, da proximidade da cidade de Bolama e, quem sabe, do já longo contacto com a tropa.
As mais velhitas não costumam aparecer à noite mas vamos encontrá-las de dia na fonte. Eu e o meu amigo J. R. já tínhamos bajudas “dedicadas”... A fonte era uma espécie de centro de convívio, (felizmente não era hábito aparecerem outros camaradas), para onde nos escapávamos nos tempos livres e aí íamos encontrar também as mulheres-grandes, sisudas e desconfiadas.
Quando abalavam, carregadas de cabaças e alguidares com água à cabeça, as bajudas mais velhitas começavam as suas higienes, largavam as tangas e pegavam no sabão e nas “esponjas” feitas de raízes secas e muito finas. Ensaboavam-se até onde chegavam e depois estendiam-nos as “esponjas” para que as lavássemos por trás. Aí, a nossa lascívia misturava-se com a falsa naturalidade e, era certo, com uma grande dose de maldade. Elas correspondiam com risadas e sensualidade, mas não se passava dali. Até que um dia... (talvez, de caminho, venha a contar um episódio lamentável, fruto da nossa ousadia e irresponsabilidade, mas que agora não cabe aqui).
Fiz junto desta população amizades fortes, especialmente com as crianças: um rapazito e três bajudinhas de uma doçura enorme. Quando chegou a hora de os deixarmos de vez, no momento da despedida até me beijaram. Só tive um caso em que me zanguei deveras: foi com um velho que não falava bem o português e que embeiçou com a minha faca de mato. Só quando lha passei para as mãos percebi que queria ficar com ela. Foi um problema para a reaver e receei ter que usar a força.
Havia na ilha, (na pequena parcela que me foi dado conhecer), outros encantos e outros prazeres. Um deles, era cruzar-me a meio da manhã, numa picada exuberante, com um vendedor de vinho de palma em marcha acelerada rumo à cidade. Distinguia-se ao longe, bamboleante, com a sua carga suspensa da vara que carregava ao ombro: de cada extremidade da vara pendia um grande garrafão. Parava, satisfeito, e nós enchíamos os cantis daquele líquido aromático e fresco, que se bebia de um fôlego, até se aprender como era enganadora aquela suave frescura... O homenzinho partia de novo na sua marcha, mais aliviado da carga que, a partir de agora, carregaria a nossa cabeça... Cabeça-grande, já se vê.
O treino militar propriamente dito, e era para isso que ali estávamos, foi muito desagradável. Não se esperava que fosse agradável, mas foi difícil a adaptação àquelas condições: manhãs muito frias, zonas de capim orvalhado e muito alto, (mais alto que um homem), e infestado de uma mosquinha minúscula que nos envolvia, metendo-se nas narinas, nos ouvidos, enfim... era com este incómodo e com os camuflados encharcados que fazíamos as emboscadas, os golpes de mão e as restantes peripécias do treino, incluindo ser-mos abatidos pelo “IN” num meio tão adverso. Mas já dava para antecipar o que nos esperava no cenário real da nossa futura actividade. Se este treino tinha como objectivo preparar-nos melhor para ela e compensar a deficiente preparação da Metrópole, então havia que aguentar e aproveitar ao máximo, sendo certo que não iria resolver o desnível da preparação dos graduados em relação aos soldados. Imaginava já os custos altos com que, gradualmente no mato ganhariam a prática que agora lhes faltava, frente a um inimigo experimentado e motivado. Não devia valer. Estava a chegar ao fim a primeira semana de campo.
15 de Abril de 1973 (Domingo) – Fim-de-semana em Bolama
Fomos passar o fim-de-semana a Bolama. Nesta data já sabia que em 24 de Abril partiria para Nhala, uma pequena povoação no interior e a sul da Guiné. Sem mais pormenores. Será aí que, finalmente, ficaremos a cumprir a comissão.
Foi um fim-de-semana em cheio. Retemperar forças, fazer higienes adequadas mas, principalmente, comer bem. Havia que aproveitar os derradeiros dias de relativa tranquilidade. Avizinhavam-se tempos difíceis e incertos. Nesta quase noite de domingo, foi um “fartar vilanagem”! Fomos à Pensão do Zeca, um tipo de Coimbra aqui radicado há 25 anos. Ostras! Queríamos ostras! Era uma mesa enorme bem composta de comensais. Eu estava sentado ao lado Alferes Capelão que, enquanto esperávamos pelo pitéu, se pegou com o camarada da frente por este, com simulacros de mau gosto, o ter provocado. Acho que era o Alferes M., sempre muito divertido mas que teve a ideia peregrina de fazer hóstias com miolo de pão e pôr-se para lá a benzê-las à frente do Capelão. A coisa esteve mesmo para azedar... Comemos, pois, muitas ostras. Mas no fim o estômago ainda reclamava. Mandaram-se fazer omeletes de carne com batatas fritas e, parecia, tudo se recompunha em definitivo. Mas, aproximava-se a hora do jantar (!) e já dali não saímos: aguardava-nos um leitão que havíamos encomendado com antecedência e ele chegou mesmo na hora.
(continua)
Texto: © António Murta
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Nota do editor
Poste anterior da série de 8 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14446: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (2): Partida para Bolama, IAO e visita do General Spínola
Guiné 63/74 - P14569: Convívios (673): XI Encontro do pessoal da CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), no próximo dia 30 de Maio de 2015, em Viana do Castelo (Abel Santos)
1. Conforme foi solicitado pelo nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), estamos a dar conhecimento do XI Encontro do pessoal da sua Unidade, a levar a efeito no próximo dia 30 de Maio de 2015, em Viana do Castelo.
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Nota do editor
Último poste da série de 3 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14562: Convívios (672): Almoço Convívio do CART 2479, no Vimeiro, Lourinhã, no dia 30 de Maio (Valdemar Queirós)
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Nota do editor
Último poste da série de 3 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14562: Convívios (672): Almoço Convívio do CART 2479, no Vimeiro, Lourinhã, no dia 30 de Maio (Valdemar Queirós)
Guiné 63/74 - P14568: Tabanca Grande (463): Joviano Teixeira, grã-tabanqueiro nº 687... É natural de Tavira, e pertenceu à CCAÇ 4142 (Gampará, 1972/74)
Foto nº 13 > Foto de grupo: os cozinheiros e ajudantes de cozinha da CCAÇ 4142 (Gampará, 1972/74)
Foto nº 1 > Joviano Teixeira
Foto nº 2 > O Joviano é o primeiro de pé, do lado direito
Foto nº 3 > Sentado num cais, o Joviano é o primeiro, do lado direito
Foto nº 4 > O Joviano é o primeiro do lado direito
Foto nº 5 > O Joviano, junto ao monumento às forças ao serviço do COP 7 (Bafatá) que ocuparam e construíram a partir de 1972 o aquartelamento de Gampará, desalojando o PAIGC da margem esquerda da foz do Rio Corubal (península de Gampará, região de Quinara, habitada sobretudo por beafadas): entre outras unidades, a CART 3417 (Magalas de Gampará), vários DFE - Destacamentos de Fuzileiros Especiais (4, 8, 13, 21, 22), a CCP 121/BCP 12, a 2ª CCAÇ - Companhia de Comandos Africanos, o Pel Art 29, o Pel Mil 331, e a 38.ª CComandos
Foto nº 6 > O Joviano em cima da cobertura de um abrigo...
Foto nº 7 > O Joviano é o primeiro do lado direito
Foto nº 8 > Num bagabaga, o Joviano é o primeiro do lado direito (1)
Foto nº 9 > Num bagabaga, o Joaviano é o primeiro do lado direito (2)
Foto nº 10 > Foto de grupo: esfolando uma vaca
Foto nº 11 > O Joviano à volta dos tachos e panelas (1)
Foto nº 12 > O Joviano à volta dos tachos e panelas (2)
1. Mensagem enviada, em 8 de abril último, pelo nosso camarada Joviano Teixeira, natural de Tavira [, foto à direita,] que passa ser o grã-tabanqueiro nº 687:
Boa noite Graça
Venho enviar algumas fotos da minha companhia, a CCAÇ 4142, "Herdeiros de Gampará" (Gampará, 1972/74), no sentido das mesmas poderem ser publicadas no blogue, o qual acho muito útil porque se trata de um recurso muito importante.
Anexo as fotos:
Abraço,
Joviano Neto Mendonça Teixeira
Nascido a 16 de março de 1951
Luz de Tavira, Tavira
PS - Vou tentar legendar as fotos e identificar os camaradas que me lembrar.
Agradecido
Guiné > Região de Quinara > Fulacunda > Mapa de Fulacunda (1956) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Gampará e da Ponta do Inglês na Foz do Rio Corubal
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)
2. Resposta do editor, no mesmo dia:
(...) De: Joviano Teixeira
Joviano: Recordas-te do nosso convite para integrares a nossa Tabanca Grande ? (*) Na altura escrevemos: "O ideal era termos duas fotografais tuas, uma atual e outra do teu tempo de Guiné, para a malta te poder reconhecer e contactar. Ficas, desde já, convidado a integrar a nossa magnífica Tabanca Grande. Entre camaradas e amigos da Guiné, vivos, somos já cerca de seis centenas. Serás bem vindo, tanto mais que não temos ninguém que represente os 'Herdeiros de Gampará'. Por outro lado, sobre Gampará também só temos nove referências. Espero que nos contes histórias do teu tempo de Gampará."...
Hoje estamos a caminho dos 700... E tu passas a ser o nº 686 (**)... Enfim, demoraste algum tempo a responder-nos... De qualquer modo, diz-nos algo mais sobre ti... Julgo que estavas ligado à cozinha, a avaliar por algumas fotos que nos mandas... Se puderes, completa as legendas: diz-nos onde e em que data as fotos foram tiradas, quem são os teus camaradas, etc. A maior parte deve ser de Gampará. As fotos foram editadas e melhoradas por mim, foram também renumeradas... As mais recentes, que me mandaste, serão publicadas oportunamente. Desse lote é a nº 13.
Aqui fica, para já, a tua apresentação formal à Tabanca Grande. Espero notícias tuas em breve.
Um alfabravo.
Luís Graça.
Aqui fica, para já, a tua apresentação formal à Tabanca Grande. Espero notícias tuas em breve.
Um alfabravo.
Luís Graça.
PS1 - Fiz tropa em Tavira e voltei lá há pouco tempo... Bela terra!...
PS2 - Leitor do nosso blogue, é o Virgílio Valente [Wai Tchi Lone, em chinês], que vive e trabalha em Macau, há mais de 2 décadas; foi alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74; continuamos a aguardar que ele nos mande uma foto desses tempos heróicos para o apresentar formalmente à Tabanca Grande.
3. Mensagem recente (8 de abril) do nosso camarada Virgílio Valente
Caro Luís Graça, olá!
PS2 - Leitor do nosso blogue, é o Virgílio Valente [Wai Tchi Lone, em chinês], que vive e trabalha em Macau, há mais de 2 décadas; foi alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74; continuamos a aguardar que ele nos mande uma foto desses tempos heróicos para o apresentar formalmente à Tabanca Grande.
3. Mensagem recente (8 de abril) do nosso camarada Virgílio Valente
Caro Luís Graça, olá!
Também me comprometi contigo e ainda não cumpri. Tenho fotos dos "Herdeiros de Gampará" que vou tentar enviar, depois de fazer um scan. Também tenho a história oficial da Companhia, do arquivo militar, donde constam os nomes dos camaradas que por lá passaram!
Infelizmente estes últimos dois anos têm sido árduos e o tempo tem escasseado, mas vou cumprir o que te prometo. Mais vale tarde que nunca.
Abraço de Macau.
Virgílio Valente
«Se quer ir depressa, vá sozinho! Se quer ir longe, vá junto!» (Provérbio Africano)
«If you want to go fast, go alone! If you want to go far, go together!» (African Proverb)
_____________
Notas do editor:
(*) 15 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11941: Em busca de... (227): Pessoal da CCAÇ 4142, "Herdeiros de Gampará", Gampará, 1972/74 (Joviano Teixeira, residente em Tavira)
Virgílio Valente
«Se quer ir depressa, vá sozinho! Se quer ir longe, vá junto!» (Provérbio Africano)
«If you want to go fast, go alone! If you want to go far, go together!» (African Proverb)
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Notas do editor:
(*) 15 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11941: Em busca de... (227): Pessoal da CCAÇ 4142, "Herdeiros de Gampará", Gampará, 1972/74 (Joviano Teixeira, residente em Tavira)
(...) De: Joviano Teixeira
Data: 11 de Agosto de 2013 às 16:27
Assunto: Pedido
Boa tarde, camarada
Desde que voltei da Guiné que não sei nada dos meus camaradas. Apenas sei que quase todos eram da região norte: Lamego, Mondim de Basto, Viana do Castelo, Porto etc.
Pertenci à CCÇ 4142, "Herdeiros de Gampará", Gampará, Guiné. 1972/74.
Se te for possível localizar alguém, nomeadamente saber o local e data do próximo encontro, agradeço.
Resido em Tavira e, como disse, nunca mais soube da malta.
Obrigada pela dedicação (já visitei o blogue e gostei).
Cumprimentos, Joviano.
(**) Último poste da série > 4 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14566: Tabanca Grande (462): Arnaldo Guerreiro, sold cond, Pel Rec AML 2024, "Cavalos de Aço" (Bula, 1968/69)... Grã-tabanqueiro n.º 686
Assunto: Pedido
Boa tarde, camarada
Desde que voltei da Guiné que não sei nada dos meus camaradas. Apenas sei que quase todos eram da região norte: Lamego, Mondim de Basto, Viana do Castelo, Porto etc.
Pertenci à CCÇ 4142, "Herdeiros de Gampará", Gampará, Guiné. 1972/74.
Se te for possível localizar alguém, nomeadamente saber o local e data do próximo encontro, agradeço.
Resido em Tavira e, como disse, nunca mais soube da malta.
Obrigada pela dedicação (já visitei o blogue e gostei).
Cumprimentos, Joviano.
(**) Último poste da série > 4 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14566: Tabanca Grande (462): Arnaldo Guerreiro, sold cond, Pel Rec AML 2024, "Cavalos de Aço" (Bula, 1968/69)... Grã-tabanqueiro n.º 686
Marcadores:
38ª CCmds,
CART 3417,
CCAÇ 4142/72,
Destacamento de Fuzileiros Especiais,
Gampará,
Joviano Teixeira,
Macau,
Tabanca Grande,
Virgílio Valente
Guiné 63/74 - P14567: Parabéns a você (900): Joaquim Gomes Soares, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 2317 (Guiné, 1968/69)
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Nota do editor
Último poste da série de 4 de Maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14563: Parabéns a você (899): José Martins Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CART 2716 (Guiné, 1970/72)
Nota do editor
Último poste da série de 4 de Maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14563: Parabéns a você (899): José Martins Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CART 2716 (Guiné, 1970/72)
segunda-feira, 4 de maio de 2015
Guiné 63/74 - P14566: Tabanca Grande (462): Arnaldo Guerreiro, sold cond, Pel Rec AML 2024, "Cavalos de Aço" (Bula, 1968/69)... Grã-tabanqueiro n.º 686
1. Mensagem do novo grã-tabanqueiro, Arnaldo Guerreiro [, foto de 2006, à esquerda[:
Louvor atribuído ao sold cav condutor de AML Arnaldo José Fialho Guerreiro, saído na Ordem de Serviço , n.º 305, de 21/12/1968, do BCAV 1915 (Guiné, 1967/69).
Fotos: © Arnaldo Guerreiro (2015). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]
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Data: 3 de maio de 2015 às 16:43
Assunto: Guiné 68-69
Primeiro, tens como slogan "Nunca é tarde para aprender", o que é encorajante para muitos camaradas da tua/nossa geração, e que fizeram a guerra da Guiné, mas sentem-se pouco ou nada à vontade para comunicar connosco, através da Internet... Ora este blogue é teu e é deles. Este blogue é de todos os amigos e camaradas da Guiné que queiram dar a cara, como tu. O que nós queremos é não perder as memórias da nossa geração, a começar pelas fotos dos nossos álbuns. E, naturalmente, reforçar os laços de amizade e camaradagem que nos unem, desde então. Como camaradas que fomos (e somos), tratamo-nos por tu.
Assunto: Guiné 68-69
Junto envio algumas fotos para serem incluídas no Blogue da Tabanca Grande.
A minha passagem pela Guiné foi entre janeiro de 68 e outubro de 69, (regressei alguns meses antes, evacuado com hepatite, não mais voltando à Guiné).
Fui soldado condutor AML Panhard. Estive em Bula com o Pel Rec AML 2024, mais tarde incluído no Batalhão de Cavalaria 1915.
Fui soldado condutor AML Panhard. Estive em Bula com o Pel Rec AML 2024, mais tarde incluído no Batalhão de Cavalaria 1915.
No caso de quererem mais alguma foto ainda tenho.
Arnaldo Guerreiro
2. Comentário dos editores:
Arnaldo, és vem vindo à Tabanca Grande. Pelo teu perfil, no Google +, sabemos que trabalhaste na Martins & Rebello, SA, frequentaste em 2011 a Escola Secundária Martinho Árias, "vives em Portugal" (sic) e és um pai e avô. E vê-se que és feliz, a avaliar pelo teu perfil no Google Mais:
Arnaldo Guerreiro
2. Comentário dos editores:
Arnaldo, és vem vindo à Tabanca Grande. Pelo teu perfil, no Google +, sabemos que trabalhaste na Martins & Rebello, SA, frequentaste em 2011 a Escola Secundária Martinho Árias, "vives em Portugal" (sic) e és um pai e avô. E vê-se que és feliz, a avaliar pelo teu perfil no Google Mais:
Primeiro, tens como slogan "Nunca é tarde para aprender", o que é encorajante para muitos camaradas da tua/nossa geração, e que fizeram a guerra da Guiné, mas sentem-se pouco ou nada à vontade para comunicar connosco, através da Internet... Ora este blogue é teu e é deles. Este blogue é de todos os amigos e camaradas da Guiné que queiram dar a cara, como tu. O que nós queremos é não perder as memórias da nossa geração, a começar pelas fotos dos nossos álbuns. E, naturalmente, reforçar os laços de amizade e camaradagem que nos unem, desde então. Como camaradas que fomos (e somos), tratamo-nos por tu.
Por outro lado, na tua apresentação dizes que és natural de Évora, vives em Espírito Santo, Soure... E mais: "Motivos de orgulho: Já sobrevivi a duas guerras, Guerra do Ultramar (Guiné) e enfarte do miocárdio". Achamos que sim, que mereces mais um louvor por teres sabido e podido fintar a morte!... E, já agora, conta-nos como é que lidaste com a hepatite que, na altura, era uma doença tramada que dava direito imediato a evacuação para a metrópole... Deves ter sido tratado no Hospital Militar de Doenças Infecto-Contagiosas (HMDIC), o Hospital Militar de Belém, que era então autónomo (em relação ao Hospital Militar Principal).
Em suma, camarada, tens todo o direito de te sentares à sombra do mágico e fraterno poilão da Tabanca Grande. E para nós, que já cá estamos, alguns há 11 anos (!), é um honra poder receber-te. Passas ser o n.º 686 (*)...
Do Pel Rec AML 2024 temos apenas um camarada teu, se não erramos, o ex-fur mil cav Bernardino Cardoso (**)... Mas vais descobrir mais malta do teu tempo de Bula. Manda mais fotos, com legendas, dos sítios por onde passaste. E divulga o nosso blogue entre os teus camaradas de cavalaria. (Sobre o BCAV 1915, temos ainda poucas referências).
O sold cav condutor de AML Arnaldo José Fialho Guerreiro
Louvor atribuído ao sold cav condutor de AML Arnaldo José Fialho Guerreiro, saído na Ordem de Serviço , n.º 305, de 21/12/1968, do BCAV 1915 (Guiné, 1967/69).
Fotos: © Arnaldo Guerreiro (2015). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]
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Notas dos editores:
(*) Último poste da série > 4 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14565: Tabanca Grande (461): José Maria Pinela (DFA), ex-1.º Cabo TRMS da CCÇ/BCAV 3846 (Ingoré, 1971/73) - Tabanqueiro n.º 685
(**) 16 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10156: Tabanca Grande (350): Bernardino Cardoso, ex-fur mil, Pel Rec Panhard 2024 (Bula, jan 1968/dez 1969), grã-tabanqueiro nº 567
Guiné 63/74 - P14565: Tabanca Grande (461): José Maria Pinela (DFA), ex-1.º Cabo TRMS da CCS/BCAV 3846 (Ingoré, 1971/73) - Tabanqueiro n.º 685
1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano, José Maria Pinela (DFA), ex-1.º Cabo TRMS da CCS/BCAV 3846, que esteve em Ingoré entre 1971 e 1973, com data de 29 de Abril de 2015:
Olá boa tarde caros camaradas da Tabanca Grande,
Sê bem-vindo à nossa Tabanca Grande onde há sempre lugar disponível para mais um camarada ou amigo da Guiné. É com prazer que te recebemos.
Pelo que nos acabas de contar, foste um dos desafortunados que não conseguiram passar incólumes por aquela guerra. Tiveste a infelicidade de ser ferido durante uma emboscada, tendo ficado marcado fisicamente para sempre. Esperamos que a incapacidade que referes não te impeça de fazeres uma vida "normal", considerando este conceito o mais lato possível.
Já sabes que ficamos ao teu dispor para receber as tuas memórias escritas e/ou fotográficas que ficarão a ser espólio de guerra para consulta futura. É este um dos nossos objectivos. Outros serão a troca de impressões e conhecimentos baseados na experiência de cada um de nós, salvaguardando uma ou outra imprecisão, fruto do tempo já decorrido. Entre todos havemos de deixar algo que seja útil quando nós já cá não estivermos.
Ficaremos ao teu dispor para qualquer esclarecimento, mas na aba esquerda da nossa página podes consultar: "O que nós (não) somos... Em dez pontos" e "Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné: Política editorial".
Resta-me deixar em nome dos editores e da tertúlia deste Blogue um abraço de boas vindas.
O teu camarada
Carlos Vinhal
____________
Nota do editor
Último poste da série de 2 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14554: Tabanca Grande (460): Nuno Nazareth Fernandes, que foi alf mil do BENG 447 e radialista em Bissau, 1972/74... Senta-se à sombra do nosso poilão, cabendo-lhe o lugar nº 684
Olá boa tarde caros camaradas da Tabanca Grande,
Sendo meu desejo aderir ao grupo, venho assim pedir a minha adesão, se para isso reunir as condições.
Vou anexar as fotos da praxe, assim como um pequeno texto para de apresentação, não sei se é o suficiente ou não.
Deixo á vossa consideração.
Abraços
José Maria Pinela
2. Camarada Luís Graça
Permite-me um abraço de apresentação.
O meu nome é José Maria Pinela e sou ex-combatente da Guiné, BCAV 3846, 1971/73.
É então no intuito de entrar para o grupo Luís Graça & Camaradas da Guiné que hoje resolvi pedir a adesão uma vez que sou visitante quase diário do Blogue e, desde já, quero elogiar o trabalho desenvolvido.
Assim sendo vou passar a descrever o meu percurso militar como prova de apresentação.
Assentei praça em Elvas, BC 8, na 3.ª Companhia de Instrução do 3.º Turno de 1970, onde fiz a Recruta. Finda esta segui para Lisboa, BC 5, onde fiz a Especialidade de Transmissões de Infantaria. Terminada seta segui para Portalegre, BC 1, onde permaneci até à mobilização (por sinal no dia dos meus 22 anos, 16 de Fevereiro) de onde parti para Estremoz, BC 3, a fim de formar Batalhão na CCS do BCAV 3846, como 1.º Cabo de Transmissões.
Na madrugada do dia 3 de Abril de 1971, rumámos a Lisboa, Cais de Alcântara, onde nos esperava o navio Angra do Heroísmo, que cerca do meio-dia rumou à Guiné, onde chegámos no dia 9 de Abril de 1971.
Depois de um mês no Cumeré, para o IAO, partimos para a nossa zona operacional, ou seja, duas Companhias para o Ingoré, onde eu estive incluído, outra para São Domingos e outra para Susana-Varela.
Decorreu o resto do ano de 1971 conforme se pôde, até que entrou o ano de 1972 que começou mal como o ano anterior. A 14 de Maio caímos numa emboscada, onde fui ferido e evacuado de helicóptero para o HM 241, em Bissau, onde permaneci durante cerca de dois meses, de onde acabei por ser evacuado por via aérea para o Hospital Militar, Anexo em Campolide, de onde saí como DFA, no dia 6 de Abril de 1973, dado como incapaz para todo o serviço militar e apto parcialmente para o trabalho.
O pessoal que restou do Batalhão regressou à Metrópole a 13 de Março de 1973, com o qual vou mantendo contacto até hoje através do convívio anual que se realiza no domingo mais próximo do dia 13 de Março, data de aniversário da chegada.
Foi este o meu percurso militar
José Maria Pinela
3. Comentário do editor
Caro camarada Pinela:
Abraços
José Maria Pinela
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2. Camarada Luís Graça
Permite-me um abraço de apresentação.
O meu nome é José Maria Pinela e sou ex-combatente da Guiné, BCAV 3846, 1971/73.
É então no intuito de entrar para o grupo Luís Graça & Camaradas da Guiné que hoje resolvi pedir a adesão uma vez que sou visitante quase diário do Blogue e, desde já, quero elogiar o trabalho desenvolvido.
Assim sendo vou passar a descrever o meu percurso militar como prova de apresentação.
Assentei praça em Elvas, BC 8, na 3.ª Companhia de Instrução do 3.º Turno de 1970, onde fiz a Recruta. Finda esta segui para Lisboa, BC 5, onde fiz a Especialidade de Transmissões de Infantaria. Terminada seta segui para Portalegre, BC 1, onde permaneci até à mobilização (por sinal no dia dos meus 22 anos, 16 de Fevereiro) de onde parti para Estremoz, BC 3, a fim de formar Batalhão na CCS do BCAV 3846, como 1.º Cabo de Transmissões.
Na madrugada do dia 3 de Abril de 1971, rumámos a Lisboa, Cais de Alcântara, onde nos esperava o navio Angra do Heroísmo, que cerca do meio-dia rumou à Guiné, onde chegámos no dia 9 de Abril de 1971.
Depois de um mês no Cumeré, para o IAO, partimos para a nossa zona operacional, ou seja, duas Companhias para o Ingoré, onde eu estive incluído, outra para São Domingos e outra para Susana-Varela.
Decorreu o resto do ano de 1971 conforme se pôde, até que entrou o ano de 1972 que começou mal como o ano anterior. A 14 de Maio caímos numa emboscada, onde fui ferido e evacuado de helicóptero para o HM 241, em Bissau, onde permaneci durante cerca de dois meses, de onde acabei por ser evacuado por via aérea para o Hospital Militar, Anexo em Campolide, de onde saí como DFA, no dia 6 de Abril de 1973, dado como incapaz para todo o serviço militar e apto parcialmente para o trabalho.
O pessoal que restou do Batalhão regressou à Metrópole a 13 de Março de 1973, com o qual vou mantendo contacto até hoje através do convívio anual que se realiza no domingo mais próximo do dia 13 de Março, data de aniversário da chegada.
Foi este o meu percurso militar
José Maria Pinela
Cais de Ingoré
Foto: © Arménio Estorninho
3. Comentário do editor
Caro camarada Pinela:
Sê bem-vindo à nossa Tabanca Grande onde há sempre lugar disponível para mais um camarada ou amigo da Guiné. É com prazer que te recebemos.
Pelo que nos acabas de contar, foste um dos desafortunados que não conseguiram passar incólumes por aquela guerra. Tiveste a infelicidade de ser ferido durante uma emboscada, tendo ficado marcado fisicamente para sempre. Esperamos que a incapacidade que referes não te impeça de fazeres uma vida "normal", considerando este conceito o mais lato possível.
Já sabes que ficamos ao teu dispor para receber as tuas memórias escritas e/ou fotográficas que ficarão a ser espólio de guerra para consulta futura. É este um dos nossos objectivos. Outros serão a troca de impressões e conhecimentos baseados na experiência de cada um de nós, salvaguardando uma ou outra imprecisão, fruto do tempo já decorrido. Entre todos havemos de deixar algo que seja útil quando nós já cá não estivermos.
Ficaremos ao teu dispor para qualquer esclarecimento, mas na aba esquerda da nossa página podes consultar: "O que nós (não) somos... Em dez pontos" e "Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné: Política editorial".
Resta-me deixar em nome dos editores e da tertúlia deste Blogue um abraço de boas vindas.
O teu camarada
Carlos Vinhal
____________
Nota do editor
Último poste da série de 2 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14554: Tabanca Grande (460): Nuno Nazareth Fernandes, que foi alf mil do BENG 447 e radialista em Bissau, 1972/74... Senta-se à sombra do nosso poilão, cabendo-lhe o lugar nº 684
Guiné 63/74 - P14564: Notas de leitura (709): "Cabra Cega - Do seminário para a guerra colonial", por João Gaspar Carrasqueira, Chiado Editora, 2015 (2) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Abril de 2015:
Queridos amigos,
Temos primeiro uma demorada viagem à vida de um seminarista, um itinerário que nos permite fazer comparações com o romance "Manhã submersa", de Vergílio Ferreira.
Assistimos à formação de uma companhia de atiradores e com a rara felicidade o escritor disseca a comunicação entre quatro aspirantes, estão ali o inconformismo, a contestação, a resignação, a indiferença e ficamos com um perfil de um comandante de companhia valdevinos, um adicto dos cabarés da época.
Agora, o narrador desloca-nos para um teatro de operações difuso, algures nas matas centrais da Guiné, as relações humanas borbulham, há um impiedoso comandante de agrupamento em Bafatá que quer resultados a qualquer preço e começam os grandes sinistros. O protagonista é evacuado, ficou com os tímpanos profundamente lesados. E vai regressar e ser colocado perto da fronteira senegalesa, ali perto do marco 133.
Um relato que toma conta de nós, podemos recordar as conversas daqueles anos de 1960 e acompanhar a evolução de um jovem que descobre o horror da guerra, que procura afetos e a estabilidade emocional.
E que tem a vida em suspenso.
Um abraço do
Mário
Cabra-cega, por João Gaspar Carrasqueira (2)
Beja Santos
“Cabra-Cega, Do seminário para a guerra colonial”, por João Gaspar Carrasqueira, Chiadora Editora, 2015, é uma incursão singular na literatura na guerra da Guiné, pelas seguintes razões: assistimos à formação da mentalidade de um seminarista, trata-se de um jovem manifestamente sem educação, que cumpre a vontade dos pais, gente humilde que anseia ver um filho em cargos dignos e sem precisões materiais; aos 20 anos, o jovem declara firmemente que não quer participar nesse embuste, abandona o seminário, trabalha e faz o 7.º ano; vem o chamamento para o curso de oficiais milicianos, integra-se numa companhia de atiradores e parte para a Guiné, onde será ferido em combate, não sem antes ter vivido riscos e peripécias como andar sozinho à procura do caminho do regresso, depois da debandada dos seus homens. Dá para perceber que João Gaspar Carrasqueira é o pseudónimo de alguém que se quer camuflar, a carpintaria literária não ilude que estamos perante uma narrativa confessional e não de um Carrasqueira que recebeu a incumbência de António Aiveca, o forjado protagonista de toda esta trama. E a singularidade extravasa para os ingredientes da narrativa: as conversas entre aqueles quatro alferes da companhia de atiradores espelham a sério mentalidades e atitudes daqueles jovens, a linguagem é crua, aquele calão era o traço de unidade, a forma de comunicação na caserna e na parada. Em suma, um livro convincente, íntimo, um jovem transformado em joguete do destino, com os seus momentos de desencanto, de amargor, a arrancar das vistas a vontade de sobrevivência.
Numa patrulha de reconhecimento, depois de um tiroteio, vê-se só, os seus retiraram, fazendo das fraquezas forças, serena e põe-se ao caminho, a ouvir as vozes dos guerrilheiros, no seu encalço. Acachapa-se durante a noite, procura orientar-se, ouve outras vozes, julga tratar-se de uma tabanca próxima, o corpo falece:
“A pele das mãos estava toda encarquilhada pelo contacto com a água. O mesmo devia suceder-se com os pés, devia ter todo mirrado e encolhido. Sentia nas mãos, nos braços e pelo corpo toda uma imensa comichão. Estava cheia de bolhas e ampolas, só as via nos braços e nas mãos mas devia estar por todo o corpo. Muito tempo esteve a sentir-se um nojo completo, sobretudo uma merda da cintura para baixo, uma presa para os mosquitos e as moscas”.
E então surge uma luminosidade por detrás das palmeiras, uma neblina leitosa a empastar a bolanha. Procurou um caminho para o rio, atravessou-o, e depois de muito caminhar chegou a uma tabanca amiga. Para sua surpresa, desconfiarão do que andou a fazer. O coronel de Bafatá queria todas as informações, António Aiveca tinha sido um instrumento da Operação Cabra-cega para confirmar a existência de uma base terrorista.
A vida operacional prossegue, algo mudou nas relações entre o comandante de companhia e António Aiveca. Nunca saberemos em concreto onde se situam estes teatros de operações, a única referência dada é de que estamos no centro da Guiné. Os comandos, em Bafatá, exigem uma mentalidade ofensiva, e o inimigo dá réplica. Numa dessas operações, entram numa base e António Aiveca dá consigo a entrar numa escola onde a professora lhe faz frente com uma arma, o alferes liquida-a. O nome da professora, Abess, nunca mais lhe sairá do pensamento. Já leva quatro meses de Guiné, sempre em bolandas até que a morte do capitão Mendonça e o seu ferimento irão mudar brutalmente o curso dos acontecimento. Os picadores tinham detetado uma mina anticarro, Mendonça queria apanhá-la, estava excitado, queria ser ele próprio a levantá-la, e a tragédia irrompeu em cena:
“O trovão e a faísca rápidos que o lançaram no vazio, sem passado nem presente, nem nada pela frente. Não sentiu dor ou sofrimento, não teve qualquer pensamento. Era a forma rápida de sair da vida para o nada.
Não soube nem deixou de saber o que se passara, não soube se morrera ou se ficara ferido, não soube se foi para o inferno ou para o céu, não viu o velho das barbas nem o cornudo de rabo comprido. Houve momentos em que não existiu.
Levantou-se e veio ao pé o capitão também deitado. Não se mexia, a farda tinha desaparecido quase toda, a perna direita estava pegado ao joelho por uma tira de pele, os testículos estavam desfeitos”.
E ele deitava sangue dos ouvidos, é evacuado para Bissau e daqui para Lisboa. Vão ser meses de dormência, está em tratamento, é como se vivesse em estado intermédio, a guerra não acabou, retoma a vida noturna, os ouvidos lembram-lhe que a sua vida mudou:
“Passou todas as segundas, quartas e sextas de manhã no Hospital Militar. Foi tira penso e mete penso nas feridas que tinha dos estilhaços. Mas o pior era o esgravatar doloroso em que se empenhavam nos ouvidos, despejando depois para dentro deles uma porcaria que não via, mas que pareciam torrentes de água, umas vezes quente outra fria, a penetrar por toda a cabeça e pescoço. Saía sempre atordoado e, quando na rua, o ruído dos carros que passavam, e até os seus próprios passos, ribombavam-lhe na cabeça como trovões”.
Passa as tardes no cinema, as noites na ramboia. Começa-se a encontrar com Norberto, um camarada que se descobriu que é hemofílico e também revolucionário e que procura atraí-lo para a subversão. Ao fim de oito meses comparece numa junta médica, é dado como apto para todo o serviço, vai regressar à Guiné, fica colocado no Depósito Geral de Adidos. Informado que um dos seus soldados, de nome Gabriel, está no anexo do Hospital Militar, em Campolide, vai visitá-lo. A descrição é devastadora:
“À medida que ia andando, espreitava para os quartos e camaratas. O que via deixava-o estarrecido e sem fala, não havia palavras perante tal panorama. Viu homens sem pernas, outros sem braços, uns cegos e, destes, alguns sem mãos ou sem braços também”.
Enquanto ouve o que Gabriel tem para lhe contar vai olhando à volta e conversa com gente esfacelada, estropiada, ouve relatos pungentes. Recebe uma guia de marcha para embarcar no Uíge. Desembarcado em Bissau, apresenta-se na Repartição de Pessoal do Quartel General. Um capitão informa-o:
“Você vai ser colocado numa companhia do recrutamento da Província que está lá em cima, ao pé do Senegal”.
(Continua)
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Nota do editor
Poste anterior de 1 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14552: Notas de leitura (708): "Cabra Cega - Do seminário para a guerra colonial", por João Gaspar Carrasqueira, Chiado Editora, 2015 (1) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Temos primeiro uma demorada viagem à vida de um seminarista, um itinerário que nos permite fazer comparações com o romance "Manhã submersa", de Vergílio Ferreira.
Assistimos à formação de uma companhia de atiradores e com a rara felicidade o escritor disseca a comunicação entre quatro aspirantes, estão ali o inconformismo, a contestação, a resignação, a indiferença e ficamos com um perfil de um comandante de companhia valdevinos, um adicto dos cabarés da época.
Agora, o narrador desloca-nos para um teatro de operações difuso, algures nas matas centrais da Guiné, as relações humanas borbulham, há um impiedoso comandante de agrupamento em Bafatá que quer resultados a qualquer preço e começam os grandes sinistros. O protagonista é evacuado, ficou com os tímpanos profundamente lesados. E vai regressar e ser colocado perto da fronteira senegalesa, ali perto do marco 133.
Um relato que toma conta de nós, podemos recordar as conversas daqueles anos de 1960 e acompanhar a evolução de um jovem que descobre o horror da guerra, que procura afetos e a estabilidade emocional.
E que tem a vida em suspenso.
Um abraço do
Mário
Cabra-cega, por João Gaspar Carrasqueira (2)
Beja Santos
“Cabra-Cega, Do seminário para a guerra colonial”, por João Gaspar Carrasqueira, Chiadora Editora, 2015, é uma incursão singular na literatura na guerra da Guiné, pelas seguintes razões: assistimos à formação da mentalidade de um seminarista, trata-se de um jovem manifestamente sem educação, que cumpre a vontade dos pais, gente humilde que anseia ver um filho em cargos dignos e sem precisões materiais; aos 20 anos, o jovem declara firmemente que não quer participar nesse embuste, abandona o seminário, trabalha e faz o 7.º ano; vem o chamamento para o curso de oficiais milicianos, integra-se numa companhia de atiradores e parte para a Guiné, onde será ferido em combate, não sem antes ter vivido riscos e peripécias como andar sozinho à procura do caminho do regresso, depois da debandada dos seus homens. Dá para perceber que João Gaspar Carrasqueira é o pseudónimo de alguém que se quer camuflar, a carpintaria literária não ilude que estamos perante uma narrativa confessional e não de um Carrasqueira que recebeu a incumbência de António Aiveca, o forjado protagonista de toda esta trama. E a singularidade extravasa para os ingredientes da narrativa: as conversas entre aqueles quatro alferes da companhia de atiradores espelham a sério mentalidades e atitudes daqueles jovens, a linguagem é crua, aquele calão era o traço de unidade, a forma de comunicação na caserna e na parada. Em suma, um livro convincente, íntimo, um jovem transformado em joguete do destino, com os seus momentos de desencanto, de amargor, a arrancar das vistas a vontade de sobrevivência.
Numa patrulha de reconhecimento, depois de um tiroteio, vê-se só, os seus retiraram, fazendo das fraquezas forças, serena e põe-se ao caminho, a ouvir as vozes dos guerrilheiros, no seu encalço. Acachapa-se durante a noite, procura orientar-se, ouve outras vozes, julga tratar-se de uma tabanca próxima, o corpo falece:
“A pele das mãos estava toda encarquilhada pelo contacto com a água. O mesmo devia suceder-se com os pés, devia ter todo mirrado e encolhido. Sentia nas mãos, nos braços e pelo corpo toda uma imensa comichão. Estava cheia de bolhas e ampolas, só as via nos braços e nas mãos mas devia estar por todo o corpo. Muito tempo esteve a sentir-se um nojo completo, sobretudo uma merda da cintura para baixo, uma presa para os mosquitos e as moscas”.
E então surge uma luminosidade por detrás das palmeiras, uma neblina leitosa a empastar a bolanha. Procurou um caminho para o rio, atravessou-o, e depois de muito caminhar chegou a uma tabanca amiga. Para sua surpresa, desconfiarão do que andou a fazer. O coronel de Bafatá queria todas as informações, António Aiveca tinha sido um instrumento da Operação Cabra-cega para confirmar a existência de uma base terrorista.
A vida operacional prossegue, algo mudou nas relações entre o comandante de companhia e António Aiveca. Nunca saberemos em concreto onde se situam estes teatros de operações, a única referência dada é de que estamos no centro da Guiné. Os comandos, em Bafatá, exigem uma mentalidade ofensiva, e o inimigo dá réplica. Numa dessas operações, entram numa base e António Aiveca dá consigo a entrar numa escola onde a professora lhe faz frente com uma arma, o alferes liquida-a. O nome da professora, Abess, nunca mais lhe sairá do pensamento. Já leva quatro meses de Guiné, sempre em bolandas até que a morte do capitão Mendonça e o seu ferimento irão mudar brutalmente o curso dos acontecimento. Os picadores tinham detetado uma mina anticarro, Mendonça queria apanhá-la, estava excitado, queria ser ele próprio a levantá-la, e a tragédia irrompeu em cena:
“O trovão e a faísca rápidos que o lançaram no vazio, sem passado nem presente, nem nada pela frente. Não sentiu dor ou sofrimento, não teve qualquer pensamento. Era a forma rápida de sair da vida para o nada.
Não soube nem deixou de saber o que se passara, não soube se morrera ou se ficara ferido, não soube se foi para o inferno ou para o céu, não viu o velho das barbas nem o cornudo de rabo comprido. Houve momentos em que não existiu.
Levantou-se e veio ao pé o capitão também deitado. Não se mexia, a farda tinha desaparecido quase toda, a perna direita estava pegado ao joelho por uma tira de pele, os testículos estavam desfeitos”.
E ele deitava sangue dos ouvidos, é evacuado para Bissau e daqui para Lisboa. Vão ser meses de dormência, está em tratamento, é como se vivesse em estado intermédio, a guerra não acabou, retoma a vida noturna, os ouvidos lembram-lhe que a sua vida mudou:
“Passou todas as segundas, quartas e sextas de manhã no Hospital Militar. Foi tira penso e mete penso nas feridas que tinha dos estilhaços. Mas o pior era o esgravatar doloroso em que se empenhavam nos ouvidos, despejando depois para dentro deles uma porcaria que não via, mas que pareciam torrentes de água, umas vezes quente outra fria, a penetrar por toda a cabeça e pescoço. Saía sempre atordoado e, quando na rua, o ruído dos carros que passavam, e até os seus próprios passos, ribombavam-lhe na cabeça como trovões”.
Passa as tardes no cinema, as noites na ramboia. Começa-se a encontrar com Norberto, um camarada que se descobriu que é hemofílico e também revolucionário e que procura atraí-lo para a subversão. Ao fim de oito meses comparece numa junta médica, é dado como apto para todo o serviço, vai regressar à Guiné, fica colocado no Depósito Geral de Adidos. Informado que um dos seus soldados, de nome Gabriel, está no anexo do Hospital Militar, em Campolide, vai visitá-lo. A descrição é devastadora:
“À medida que ia andando, espreitava para os quartos e camaratas. O que via deixava-o estarrecido e sem fala, não havia palavras perante tal panorama. Viu homens sem pernas, outros sem braços, uns cegos e, destes, alguns sem mãos ou sem braços também”.
Enquanto ouve o que Gabriel tem para lhe contar vai olhando à volta e conversa com gente esfacelada, estropiada, ouve relatos pungentes. Recebe uma guia de marcha para embarcar no Uíge. Desembarcado em Bissau, apresenta-se na Repartição de Pessoal do Quartel General. Um capitão informa-o:
“Você vai ser colocado numa companhia do recrutamento da Província que está lá em cima, ao pé do Senegal”.
(Continua)
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Nota do editor
Poste anterior de 1 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14552: Notas de leitura (708): "Cabra Cega - Do seminário para a guerra colonial", por João Gaspar Carrasqueira, Chiado Editora, 2015 (1) (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P14563: Parabéns a você (899): José Martins Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CART 2716 (Guiné, 1970/72)
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Nota do editor
Último poste da série de 3 de Abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14557: Parabéns a você (898): António Estácio, amigo Grã-Tabanqueiro, natural da Guiné e Delfim Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAV 3366 (Guiné, 1971/73)
Nota do editor
Último poste da série de 3 de Abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14557: Parabéns a você (898): António Estácio, amigo Grã-Tabanqueiro, natural da Guiné e Delfim Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAV 3366 (Guiné, 1971/73)
domingo, 3 de maio de 2015
Guiné 63/74 - P14562: Convívios (672): Almoço Convívio do CART 2479, no Vimeiro, Lourinhã, no dia 30 de Maio (Valdemar Queirós)
1. O nosso Camarada Valdemar Silva (mais conhecido por Valdemar Queiroz), ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70), solicitou-nos a publicação do seguinte convite para a festa do convívio anual da sua Unidade:
Ora viva, caro Luís Graça.
No próximo dia 30, deste mês, vai haver mais um 'CONVÍVIO 2015', do pessoal da CART 2479 / CART 11 (Guiné, 1969-70-71), no Vimeiro (Lourinhã).
Parece que vai ser mais fácil ir ter, ao Vimeiro, venham do norte, do sul, do leste ou oeste, do que chegar a Canquelifá ou a Guiro Iero Bocari. (...quem nos dera ter agora vinte e poucos anos!).
Faz este ano 45 anos, para alguns, que vieram da Guiné: eu, o Macias, o Abílio Duarte e o Pais de Sousa viemos, em 18 de Dezembro de 1970, de avião, pagando a diferença do custo da viagem dos restantes que vieram de barco, em Janeiro de 1971.
Vamos lá, todos os 'Lacraus', ao Vimeiro (Lourinhã) .
Um grande abraço para todos do nosso blogue
Valdemar Queiroz
CONVÍVIO 2015
COMP. ARTILHARIA 2479
GUINÉ 1969 A 1971
VIMEIRO, LOURINHÃ, 30 de Maio de 2015
Camaradas/ Amigos:
Aproxima-se o dia 30 de Maio pelo que se convidam todos os camaradas da Companhia 2479 para mais um “Combate”!
A concentração das nossas Forças será no Vimeiro, concelho da Lourinhã, pelas 11,00 horas, junto ao Padrão Comemorativo da Batalha do Vimeiro, onde o exército Anglo-Luso, comandado pelo General Wellesley, venceu as tropas napoleónicas dirigidas pelo general Junot em 21 de Agosto de 1808 durante a 1ª Invasão Francesa.
Relembrando aí a história e enriquecendo, por alguns momentos a nossa cultura com visita guiada ao Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro, desceremos de seguida ao Restaurante Residencial Braga onde será servido o almoço.
As inscrições deverão ser feitas para Joaquim Martins contato 967063199 / 214102638) ou para o Leonel telem. 912848724 até dia 20 de Maio.
No verso seguem as instruções para acesso ao Vimeiro.
Com um forte abraço
M. Martins
Algés,10 de Abril de 2015
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
Guiné 63/74 - P14561: Libertando-me (Tony Borié) (15): Atravessando a Ponte Golden Gate, a pé, em S. Francisco
Décimo quinto episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66.
Quando jovens, havia pelo menos na nossa aldeia uma expressão, muito frequente, na boca das pessoas mais idosas, que quando fazíamos algo que não estava de acordo com o seu parecer, nos falavam com uma expressão geralmente arrogante, lá de cima, pois nós éramos crianças, víamos o seu rosto cá de baixo, dizendo-nos: “se voltas a fazer isto, vais corrido a PONTAPÉ!”.
A “PONTAPÉ”, é disso que vamos falar, não daquela expressão, intimidativa, arrogante, que nos embaraçava, nos metia medo, mas de algo que nos faça passar um bom tempo, nos faça ser jovens outra vez, aventureiros, deixando por alguns instantes a guerra, as emboscadas, os camuflados rotos e sujos de sangue, a terra vermelha, os abrigos do Olossato, todos aqueles pormenores, alguns horrorosos, outros assim-assim, outros onde, entre outras coisas, o cigarro e o álcool que nos faziam andar por ali, a G-3 era a nossa namorada, adorável companheira, às vezes acordávamos pela madrugada, parecendo até que éramos pessoas, humanos e, sabíamos ler, escrever, que o norte era para aquele lado, mas a Europa era para o lado da cidade de Bissau.
Lá em Mansoa havia a ponte que tinha um arco de cada lado, onde se faziam apostas, cujo prémio, às vezes era um maço de cigarros, em quem era capaz de atravessar esse arco, caminhando e batendo palmas, ao mesmo tempo. Havia alguns que com certa coragem, começavam, quando chegavam ao meio e a superfície era a descer, voltavam as costas e às vezes vinham de joelhos. Havia só um militar, que era o “Marafado”, que atravessava todo o arco, fazendo o pino, ou seja, caminhando com as mãos, mas a troco de uma cerveja ou de um maço de cigarros “Três Vintes”, ele dizia que tinha trabalhado num circo.
Havia a ponte velha, ao lado, que era a nossa preferida, assim como de outros militares que queriam alguma paz, onde se passavam horas, sentados, fumando, pensando na aldeia, atrás da montanha em Portugal, apreciando a área alagadiça, quando da maré cheia, com alguns pelicanos descendo o rio, mergulhando o pescoço na procura de algum peixe.
Muitos de nós conheciam essa ponte, pelo menos os combatentes estacionados na zona do Oio e, pelo menos nós, sempre considerámos a verdadeira “porta de entrada na zona de guerra”, mas agora vamos viajar, vamos atravessar a “Golden Gate Bridge”, que é aquela ponte que aparece muitas vezes nos filmes e na televisão, na cidade de São Francisco, na Califórnia.
Era ao fim da tarde, o carro era um “utilitário”, alugado na cidade de Los Angeles, numa agência, onde os funcionários vivem nos “Barrios” e, como já explicámos anteriormente, não gostam dos “Gringos”, fazem sempre um preço mais em conta às pessoas que falam ou tentam falar o seu idioma, não havia GPS, íamos guiados pelo mapa, onde parece tudo muito fácil, mas no terreno é pior que aqueles carreiros para Porto Gole, Bissorã, Bafatá ou Olossato, só que aqui, não é terra e floresta selvagem, é um tráfico intenso, com algumas distâncias sem qualquer placa de sinalização, seguíamos pela estrada número 1, a quem também chamam, entre outros nomes “Cabrillo Highway”, em homenagem ao navegador e explorador Português, João Rodrigues Cabrilho, nascido em Montalegre, no ano de 1499. Por seguir sempre encostada ao oceano Pacífico, mas próximo da cidade de São Francisco, esta estrada junta-se a uma rápida, que dá pelo nome de Highway 101. Parámos numa estação de serviço, perguntámos qual a maneira mais rápida e funcional de atravessar a ponte e a funcionária, sorrindo, disse-nos que era para aquele lado, mas nunca lá tinha ido, uma simpática senhora ao lado, logo nos disse que era fácil, quando entrasse na cidade, bastava seguir os sinais com desenhos da ponte que aparecem em quase todas as ruas ou cruzamentos do percurso, até à referida ponte, mas, vivia em São Francisco há mais de 20 anos e só a tinha atravessado duas vezes, quando foi visitar uma tia que vivia no norte, dizia-me ela, fazendo uns gestos esquisitos com ambos os braços, pois às vezes “balança e treme, que horror”.
Foi o que fizemos, demorou algum tempo, mas conseguimos, fomos ao outro lado e regressámos, era uma vista agradável, mesmo muito agradável e, na nossa ideia logo ficou a determinação que iríamos fazer de novo, mas agora a pé, ou seja, atravessar a “PONTAPÉ”.
Procurámos um daqueles motéis onde se dorme e que pela manhã servem um café com um biscoito, que normalmente chamam de “B and B”, (bed and breakfast), que quer dizer mais ou menos, cama e pequeno almoço, que na cidade de São Francisco, pelo menos na zona da parte sul da ponte, próximo da área de “Fisherman Wharf”, existem muitos.
Ali, recolhemos informação dos principais lugares com interesse na cidade de São Francisco, que é uma cidade onde os espanhóis, por altura do ano de 1776, se estabeleceram numa pequena fortaleza no “Golden Gate”, numa missão chamada “Francisco de Assis”. A corrida ao ouro na Califórnia, em 1848, impulsionou a cidade com um período rápido de crescimento, pois a sua população no espaço de um ano cresceu de 1000 para 25.000 habitantes, tornando-se naquela época a maior cidade da costa oeste dos USA. Em 1906, três quartos da cidade foi destruída por um terramoto seguido de incêndio, mas foi reconstruída rapidamente com avenidas e ruas já com configuração moderna, dizem também, que durante a “Segunda Guerra Mundial”, a cidade de São Francisco foi o porto de embarque para a “Guerra do Pacífico”, tal como a cidade de Lisboa foi o porto de embarque para a “Guerra do Ultramar”, e com o fim da guerra, o retorno dos militares, a emigração em massa, atitudes de liberalização e outros factores que levaram ao “Verão do Amor” e ao movimento pelos direitos dos homossexuais, fazendo da cidade de São Francisco um centro de activismo liberal dos USA.
Depois de nos informarmos sobre os lugares de interesse, que eram tantos, a escolha foi difícil, mas sempre sobressaía a “Golden Gate Bridge”, o “Fisherman’s Wharf” e o “Chinatown”. Um dos principais motivos que nos levou à cidade de São Francisco era atravessar a “Golden Gate Bridge” que quer dizer mais ou menos “Ponte do Portão do Ouro”, a pé, caminhando, que liga São Francisco à cidade de Sausalito, que fica situada do lado de lá, ao norte, mas dentro da área da baía de São Francisco, onde a ponte termina, sobre o estreito de “Golden Gate” que é uma das mais conhecidas construções dos USA, considerada uma das sete maravilhas do mundo moderno, cujo comprimento, depende do que nós quisermos medir, mas dizem que o vão principal da suspensão entre as torres é de 1280 metros, o que fez da Ponte Golden Gate a maior ponte suspensa do mundo, até que a Ponte Verrazano Narrows foi construído em Nova York, em 1964, com um projeto que foi deliberadamente feito 60 metros mais longo para definir o recorde mundial. A extensão total da Golden Gate é de 2737 metros, um pouco menos do que a metade do comprimento da ponte é entre as duas torres. Também dizem que ela é um dos destinos mais populares do mundo para viajantes, onde muitas pessoas vêm para as áreas de observação especiais, no norte ou do sul, estacionam os seus veículos, tiram fotos e vão embora, mas isso não lhe dá a mesma sensação para admirar esta bela estrutura, do que realmente é, caminhando pela ponte, que como dizíamos, tem quase três mil metros de comprimento.
Ao outro dia pela manhã, deixando o veículo estacionado na área do “Fisherman Wharf”, tomando lugar naqueles autocarros que mostram a cidade, saímos na parte sul da ponte, preparando-nos para a aventura da sua travessia a pé, já não era surpresa a intensidade do ruído do tráfego na ponte, pois o Highway 101, assim como a tal estrada número 1, são lugares barulhentos, mas a estrutura moderna de aço sob o leito da estrada da ponte, amplifica pouco o ruído do tráfego, mas claro, sempre se ouve aquela lamuria do “clack-clack” com os carros e camiões passando sobre as juntas de dilatação, que como sabem, essas articulações permitem à estrada expandir ou contrair, fazendo face às altas ou baixas temperaturas, que às vezes são extremas, que mantém a ponte sem deformação ou fissuras, mas para nós e muitos visitantes, estes sons da ponte, no seu trabalho, são parte da diversão de a visitar.
Iniciámos a nosso aventura sabendo que as forças da natureza colidem na área da Ponte Golden Gate todos os dias, pois estamos quase a 70 metros acima da superfície do Oceano Pacífico e da Baía de São Francisco, bem no meio de uma abertura estreita na escala de uma costa montanhosa, onde o Golden Gate, é a única abertura ao nível do mar que leva a milhares de quilómetros quadrados de vales ou montanhas, com o continente e o oceano, onde o calor se refresca durante o dia, que pode mudar a pressão do ar de expansão para contracção, que por sua vez pode causar ventos fortes, onde a atmosfera se ajusta às diferentes pressões de ar da terra e do oceano. Também existem marés fortes para dentro e fora da Golden Gate área, misturando água fresca dos grandes rios que desaguam na baía, com a água salgada e turbulenta do Oceano Pacífico, que podem ter diferentes temperaturas. O ar acima da água pode ser também de diferentes temperaturas, que causam variações na direcção dos ventos diários, que causam o tradicional nevoeiro, que pode existir por horas ou por alguns minutos, tanto seja pela manhã como pela tarde.
Levávamos equipamento para enfrentar todas estas anomalias, sentindo a brisa na cara, surgindo pela frente, céu azul, nevoeiro, alguns chuviscos, vento e, de novo céu azul, parando aqui e ali, tirando fotos, vendo a cidade ao longe, de diversas posições, pois do lado leste da ponte, enfrentamos a cidade de São Francisco e a Baía, a parte oeste nos dias de semana é geralmente reservado para as equipas de manutenção. Também existem duas passagens abaixo do tabuleiro da ponte, uma é um amplo túnel na extremidade sul e a outra é uma passagem estreita no extremo norte, para os caminhantes terem a oportunidade de atravessar entre as duas passagens, dando aos visitantes acesso a grandes oportunidades para fotos dramáticas de ambos os lados da ponte, que como dizíamos antes, com uma vista fabulosa, com vistas para a cidade de São Francisco, para a ilha de Alcatraz e outras áreas da parte leste da Baía, assim como alguns barcos passando, com os golfinhos fugindo na frente.
Já no regresso, ao meio da ponte, pudemos admirar os cabos gigantescos que descem ao nível do convés, o que nos permite ver o quão grosso são. Quando passamos ao lado das torres, existe uma pequena curva, produzindo uma "sacada", para mais pontos de vista e fotos. O círculo branco ao redor da base da torre da ponte é uma barreira de concreto que desvia as poderosas correntes de maré, e a protege contra os navios que podem, por qualquer razão, ficar fora do seu curso.
Na torre sul, do lado de São Francisco, tem uma placa comemorativa dos engenheiros e políticos empenhados na construção da ponte. No extremo sul abaixo da ponte sobre um promontório é o velho Fort Point, que é um local histórico nacional, assim como no extremo norte, abaixo da Ponte é o cais do antigo Fort Baker, podendo ver tudo isto e, mais algumas paisagens que nos ficam no pensamento para toda a vida.
Atravessámos a ponte nas duas direcções, parando por umas horas do lado de lá, onde existe um ponto privilegiado de observação, para repouso e admirar a paisagem.
Só mais um pormenor, a cor da Ponte Golden Gate é chamada de "laranja internacional", que não se vende nas lojas, pois é única.
Tony Borie, Maio de 2015.
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Nota do editor
Último poste da série de 26 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14528: Libertando-me (Tony Borié) (14): O aeroporto era já ali
Quando jovens, havia pelo menos na nossa aldeia uma expressão, muito frequente, na boca das pessoas mais idosas, que quando fazíamos algo que não estava de acordo com o seu parecer, nos falavam com uma expressão geralmente arrogante, lá de cima, pois nós éramos crianças, víamos o seu rosto cá de baixo, dizendo-nos: “se voltas a fazer isto, vais corrido a PONTAPÉ!”.
A “PONTAPÉ”, é disso que vamos falar, não daquela expressão, intimidativa, arrogante, que nos embaraçava, nos metia medo, mas de algo que nos faça passar um bom tempo, nos faça ser jovens outra vez, aventureiros, deixando por alguns instantes a guerra, as emboscadas, os camuflados rotos e sujos de sangue, a terra vermelha, os abrigos do Olossato, todos aqueles pormenores, alguns horrorosos, outros assim-assim, outros onde, entre outras coisas, o cigarro e o álcool que nos faziam andar por ali, a G-3 era a nossa namorada, adorável companheira, às vezes acordávamos pela madrugada, parecendo até que éramos pessoas, humanos e, sabíamos ler, escrever, que o norte era para aquele lado, mas a Europa era para o lado da cidade de Bissau.
Lá em Mansoa havia a ponte que tinha um arco de cada lado, onde se faziam apostas, cujo prémio, às vezes era um maço de cigarros, em quem era capaz de atravessar esse arco, caminhando e batendo palmas, ao mesmo tempo. Havia alguns que com certa coragem, começavam, quando chegavam ao meio e a superfície era a descer, voltavam as costas e às vezes vinham de joelhos. Havia só um militar, que era o “Marafado”, que atravessava todo o arco, fazendo o pino, ou seja, caminhando com as mãos, mas a troco de uma cerveja ou de um maço de cigarros “Três Vintes”, ele dizia que tinha trabalhado num circo.
Havia a ponte velha, ao lado, que era a nossa preferida, assim como de outros militares que queriam alguma paz, onde se passavam horas, sentados, fumando, pensando na aldeia, atrás da montanha em Portugal, apreciando a área alagadiça, quando da maré cheia, com alguns pelicanos descendo o rio, mergulhando o pescoço na procura de algum peixe.
Muitos de nós conheciam essa ponte, pelo menos os combatentes estacionados na zona do Oio e, pelo menos nós, sempre considerámos a verdadeira “porta de entrada na zona de guerra”, mas agora vamos viajar, vamos atravessar a “Golden Gate Bridge”, que é aquela ponte que aparece muitas vezes nos filmes e na televisão, na cidade de São Francisco, na Califórnia.
Era ao fim da tarde, o carro era um “utilitário”, alugado na cidade de Los Angeles, numa agência, onde os funcionários vivem nos “Barrios” e, como já explicámos anteriormente, não gostam dos “Gringos”, fazem sempre um preço mais em conta às pessoas que falam ou tentam falar o seu idioma, não havia GPS, íamos guiados pelo mapa, onde parece tudo muito fácil, mas no terreno é pior que aqueles carreiros para Porto Gole, Bissorã, Bafatá ou Olossato, só que aqui, não é terra e floresta selvagem, é um tráfico intenso, com algumas distâncias sem qualquer placa de sinalização, seguíamos pela estrada número 1, a quem também chamam, entre outros nomes “Cabrillo Highway”, em homenagem ao navegador e explorador Português, João Rodrigues Cabrilho, nascido em Montalegre, no ano de 1499. Por seguir sempre encostada ao oceano Pacífico, mas próximo da cidade de São Francisco, esta estrada junta-se a uma rápida, que dá pelo nome de Highway 101. Parámos numa estação de serviço, perguntámos qual a maneira mais rápida e funcional de atravessar a ponte e a funcionária, sorrindo, disse-nos que era para aquele lado, mas nunca lá tinha ido, uma simpática senhora ao lado, logo nos disse que era fácil, quando entrasse na cidade, bastava seguir os sinais com desenhos da ponte que aparecem em quase todas as ruas ou cruzamentos do percurso, até à referida ponte, mas, vivia em São Francisco há mais de 20 anos e só a tinha atravessado duas vezes, quando foi visitar uma tia que vivia no norte, dizia-me ela, fazendo uns gestos esquisitos com ambos os braços, pois às vezes “balança e treme, que horror”.
Foi o que fizemos, demorou algum tempo, mas conseguimos, fomos ao outro lado e regressámos, era uma vista agradável, mesmo muito agradável e, na nossa ideia logo ficou a determinação que iríamos fazer de novo, mas agora a pé, ou seja, atravessar a “PONTAPÉ”.
Procurámos um daqueles motéis onde se dorme e que pela manhã servem um café com um biscoito, que normalmente chamam de “B and B”, (bed and breakfast), que quer dizer mais ou menos, cama e pequeno almoço, que na cidade de São Francisco, pelo menos na zona da parte sul da ponte, próximo da área de “Fisherman Wharf”, existem muitos.
Ali, recolhemos informação dos principais lugares com interesse na cidade de São Francisco, que é uma cidade onde os espanhóis, por altura do ano de 1776, se estabeleceram numa pequena fortaleza no “Golden Gate”, numa missão chamada “Francisco de Assis”. A corrida ao ouro na Califórnia, em 1848, impulsionou a cidade com um período rápido de crescimento, pois a sua população no espaço de um ano cresceu de 1000 para 25.000 habitantes, tornando-se naquela época a maior cidade da costa oeste dos USA. Em 1906, três quartos da cidade foi destruída por um terramoto seguido de incêndio, mas foi reconstruída rapidamente com avenidas e ruas já com configuração moderna, dizem também, que durante a “Segunda Guerra Mundial”, a cidade de São Francisco foi o porto de embarque para a “Guerra do Pacífico”, tal como a cidade de Lisboa foi o porto de embarque para a “Guerra do Ultramar”, e com o fim da guerra, o retorno dos militares, a emigração em massa, atitudes de liberalização e outros factores que levaram ao “Verão do Amor” e ao movimento pelos direitos dos homossexuais, fazendo da cidade de São Francisco um centro de activismo liberal dos USA.
Depois de nos informarmos sobre os lugares de interesse, que eram tantos, a escolha foi difícil, mas sempre sobressaía a “Golden Gate Bridge”, o “Fisherman’s Wharf” e o “Chinatown”. Um dos principais motivos que nos levou à cidade de São Francisco era atravessar a “Golden Gate Bridge” que quer dizer mais ou menos “Ponte do Portão do Ouro”, a pé, caminhando, que liga São Francisco à cidade de Sausalito, que fica situada do lado de lá, ao norte, mas dentro da área da baía de São Francisco, onde a ponte termina, sobre o estreito de “Golden Gate” que é uma das mais conhecidas construções dos USA, considerada uma das sete maravilhas do mundo moderno, cujo comprimento, depende do que nós quisermos medir, mas dizem que o vão principal da suspensão entre as torres é de 1280 metros, o que fez da Ponte Golden Gate a maior ponte suspensa do mundo, até que a Ponte Verrazano Narrows foi construído em Nova York, em 1964, com um projeto que foi deliberadamente feito 60 metros mais longo para definir o recorde mundial. A extensão total da Golden Gate é de 2737 metros, um pouco menos do que a metade do comprimento da ponte é entre as duas torres. Também dizem que ela é um dos destinos mais populares do mundo para viajantes, onde muitas pessoas vêm para as áreas de observação especiais, no norte ou do sul, estacionam os seus veículos, tiram fotos e vão embora, mas isso não lhe dá a mesma sensação para admirar esta bela estrutura, do que realmente é, caminhando pela ponte, que como dizíamos, tem quase três mil metros de comprimento.
Ao outro dia pela manhã, deixando o veículo estacionado na área do “Fisherman Wharf”, tomando lugar naqueles autocarros que mostram a cidade, saímos na parte sul da ponte, preparando-nos para a aventura da sua travessia a pé, já não era surpresa a intensidade do ruído do tráfego na ponte, pois o Highway 101, assim como a tal estrada número 1, são lugares barulhentos, mas a estrutura moderna de aço sob o leito da estrada da ponte, amplifica pouco o ruído do tráfego, mas claro, sempre se ouve aquela lamuria do “clack-clack” com os carros e camiões passando sobre as juntas de dilatação, que como sabem, essas articulações permitem à estrada expandir ou contrair, fazendo face às altas ou baixas temperaturas, que às vezes são extremas, que mantém a ponte sem deformação ou fissuras, mas para nós e muitos visitantes, estes sons da ponte, no seu trabalho, são parte da diversão de a visitar.
Iniciámos a nosso aventura sabendo que as forças da natureza colidem na área da Ponte Golden Gate todos os dias, pois estamos quase a 70 metros acima da superfície do Oceano Pacífico e da Baía de São Francisco, bem no meio de uma abertura estreita na escala de uma costa montanhosa, onde o Golden Gate, é a única abertura ao nível do mar que leva a milhares de quilómetros quadrados de vales ou montanhas, com o continente e o oceano, onde o calor se refresca durante o dia, que pode mudar a pressão do ar de expansão para contracção, que por sua vez pode causar ventos fortes, onde a atmosfera se ajusta às diferentes pressões de ar da terra e do oceano. Também existem marés fortes para dentro e fora da Golden Gate área, misturando água fresca dos grandes rios que desaguam na baía, com a água salgada e turbulenta do Oceano Pacífico, que podem ter diferentes temperaturas. O ar acima da água pode ser também de diferentes temperaturas, que causam variações na direcção dos ventos diários, que causam o tradicional nevoeiro, que pode existir por horas ou por alguns minutos, tanto seja pela manhã como pela tarde.
Levávamos equipamento para enfrentar todas estas anomalias, sentindo a brisa na cara, surgindo pela frente, céu azul, nevoeiro, alguns chuviscos, vento e, de novo céu azul, parando aqui e ali, tirando fotos, vendo a cidade ao longe, de diversas posições, pois do lado leste da ponte, enfrentamos a cidade de São Francisco e a Baía, a parte oeste nos dias de semana é geralmente reservado para as equipas de manutenção. Também existem duas passagens abaixo do tabuleiro da ponte, uma é um amplo túnel na extremidade sul e a outra é uma passagem estreita no extremo norte, para os caminhantes terem a oportunidade de atravessar entre as duas passagens, dando aos visitantes acesso a grandes oportunidades para fotos dramáticas de ambos os lados da ponte, que como dizíamos antes, com uma vista fabulosa, com vistas para a cidade de São Francisco, para a ilha de Alcatraz e outras áreas da parte leste da Baía, assim como alguns barcos passando, com os golfinhos fugindo na frente.
Já no regresso, ao meio da ponte, pudemos admirar os cabos gigantescos que descem ao nível do convés, o que nos permite ver o quão grosso são. Quando passamos ao lado das torres, existe uma pequena curva, produzindo uma "sacada", para mais pontos de vista e fotos. O círculo branco ao redor da base da torre da ponte é uma barreira de concreto que desvia as poderosas correntes de maré, e a protege contra os navios que podem, por qualquer razão, ficar fora do seu curso.
Na torre sul, do lado de São Francisco, tem uma placa comemorativa dos engenheiros e políticos empenhados na construção da ponte. No extremo sul abaixo da ponte sobre um promontório é o velho Fort Point, que é um local histórico nacional, assim como no extremo norte, abaixo da Ponte é o cais do antigo Fort Baker, podendo ver tudo isto e, mais algumas paisagens que nos ficam no pensamento para toda a vida.
Atravessámos a ponte nas duas direcções, parando por umas horas do lado de lá, onde existe um ponto privilegiado de observação, para repouso e admirar a paisagem.
Só mais um pormenor, a cor da Ponte Golden Gate é chamada de "laranja internacional", que não se vende nas lojas, pois é única.
Tony Borie, Maio de 2015.
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Nota do editor
Último poste da série de 26 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14528: Libertando-me (Tony Borié) (14): O aeroporto era já ali
Guiné 63/74 - P14560: Blogpoesia (414): do alto Minho... a Berlim, de regresso a casa (J. L. Mendes Gomes, ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66)
Lisboa > Livraria Bar Les Enfants Terribles > Cinema King > 2 de novembro de 2013 > 19h00 > Sessão de lançamento do livro de poesia do nosso camarada J. L. Mendes Gomes, "Baladas de Berlim" (Lisboa, Chiado Editora, 2013) > Da esquerda para a direita: Luís Graça, que apresentou o livro: o autor e o seu filho mais velho, Paulo Teia, padre jesuíta, que apresentou o pai e o poeta; e ainda a representante da Chiado Editora...
Foto: © Virgínio Briote (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]
Berlim > 2012 > Joaqum Luis Mendes Gomes, com dois dos seus netos
Foto: © J. L. Mendes Gomes (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]
Fotos (e legendas): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados
alto minho...
subi às terras altas do alto minho,
cada vez mais verdes,
cheias de rochas e de castelos,
igrejas brancas
e campanários.
onde o vinho cresce enforcado por estas gentes pacatas
e derrama a sua bênção
lá por volta do mês de agosto.
e uma manta alta de pinheiros bravios
se estende abundante
por essas encostas serranas.
e há rios caudalosos,
minho, lima, cávado e ave,
descendo em correrias,
lá das montanhas,
serpenteando campos
e vinhedos,
em busca do mar.
onde havia mulheres tão atentas e corajosas,
como a maria da fonte,
fazendo frente
e pondo na ordem
os desacatos loucos
desses políticos.
onde vive um povo alegre
e trabalhador,
que enxameia de festas e romarias,
a temporada fértil
do estio e do outono...
onde portugal se enlaça a espanha,
pelo norte e pelo leste.
póvoa de lanhoso,
na casa do meu irmão,
desabafo
cheguei de novo a berlim,
aqui há ordem,
Nota do editor:
Último poste da série > 3 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14559: Blogpoesia (413): No dia em que se lembram todas as Mães, um poema do nosso camarada Domingos Gonçalves, ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887 (Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68)
subi às terras altas do alto minho,
cada vez mais verdes,
cheias de rochas e de castelos,
igrejas brancas
e campanários.
onde o vinho cresce enforcado por estas gentes pacatas
e derrama a sua bênção
lá por volta do mês de agosto.
e uma manta alta de pinheiros bravios
se estende abundante
por essas encostas serranas.
e há rios caudalosos,
minho, lima, cávado e ave,
descendo em correrias,
lá das montanhas,
serpenteando campos
e vinhedos,
em busca do mar.
onde havia mulheres tão atentas e corajosas,
como a maria da fonte,
fazendo frente
e pondo na ordem
os desacatos loucos
desses políticos.
onde vive um povo alegre
e trabalhador,
que enxameia de festas e romarias,
a temporada fértil
do estio e do outono...
onde portugal se enlaça a espanha,
pelo norte e pelo leste.
póvoa de lanhoso,
na casa do meu irmão,
desabafo
cheguei de novo a berlim,
deixei-a despida, gelada e triste,
encontrei-a verde,
recheada de arvoredo,
denso e gigantesco,
entrelaçando as casas.
um céu azul e luminoso,
um fervilhar de gente alegre e descontraída a passear na rua,
nada de stresses,
vivendo a vida em festa.
desigualdades, aqui não há.
toda a gente igual
e trabalha,
cada um faz bem o que sabe e que é capaz.
toda a gente dorme descansada...
como gostaria eu que o meu portugal,
como gostaria eu que o meu portugal,
que é tão lindo e rico,
vivesse igual.
mas não,
há uma casta de privilegiados,
há uma casta de privilegiados,
parasitas e oportunistas,
uma dúzia só...
que os explora.
desenfreadamente.
como uns selvagens...
apoderaram-se do poder.
e, pasme-se!, pela via democrática!...
que terrível paradoxo.
que ninguém desata...
aqui há ordem,
respeito das regras.
tudo funciona perfeito,
desde as escolas, tribunais e aos hospitais.
cada um tem sua vez.
e não espera muito.
o estado se preocupa, se antecipa
na solução dos problemas dos seus cidadãos.
uma verdadeira sinfonia,
uma verdadeira sinfonia,
com bons maestros. ...
e não estou a exagerar nem a fantasiar.
e não estou a exagerar nem a fantasiar.
berlim, 3 de maio, 11h45
[ex-Alf Mil, CCAÇ 728,
Cachil, Catió e Bissau, 1964/66]
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Nota do editor:
Último poste da série > 3 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14559: Blogpoesia (413): No dia em que se lembram todas as Mães, um poema do nosso camarada Domingos Gonçalves, ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887 (Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68)
Guiné 63/74 - P14559: Blogpoesia (413): No dia em que se lembram todas as Mães, um poema do nosso camarada Domingos Gonçalves, ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887 (Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68)
1. Mensagem do nosso camarada Domingos Gonçalves, (ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68) com data de 1 de Abril de 2015:
Prezado Dr. Graça:
Tomo a liberdade de remeter um pequeno poema, que poderá ser publicado o Blogue, caso o entenda conveniente.
Com um abraço amigo,
Domingos Gonçalves
Mãe
Não há outra tão breve, e sacrossanta.
É a primeira que a nossa voz murmura,
A que mais nossa pobre alma encanta.
Ao dizê-la, sentimos-lhe a doçura.
E não há palavra onde exista tanta.
E quem diz mãe, diz anjo. Diz ternura.
E diz amor, com piedade santa.
Mãe! A palavra é quase divinal.
É feita só de encanto, só de luz.
Para tudo quanto a vida tem de mal,
Ou de peso enorme, a lembrar a cruz,
Ela tem remédio. Ela traz bonança.
E tem sempre um gesto a brotar esperança.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 10 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14452: Blogpoesia (412): 3 poemas recentes: (i) Mergulhei na Polónia; (ii) O barco na praia; e (iii) Rua dos impossíveis... (J. L. Mendes Gomes)
Prezado Dr. Graça:
Tomo a liberdade de remeter um pequeno poema, que poderá ser publicado o Blogue, caso o entenda conveniente.
Com um abraço amigo,
Domingos Gonçalves
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Mãe
Não há outra tão breve, e sacrossanta.
É a primeira que a nossa voz murmura,
A que mais nossa pobre alma encanta.
Ao dizê-la, sentimos-lhe a doçura.
E não há palavra onde exista tanta.
E quem diz mãe, diz anjo. Diz ternura.
E diz amor, com piedade santa.
Mãe! A palavra é quase divinal.
É feita só de encanto, só de luz.
Para tudo quanto a vida tem de mal,
Ou de peso enorme, a lembrar a cruz,
Ela tem remédio. Ela traz bonança.
E tem sempre um gesto a brotar esperança.
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Nota do editor
Último poste da série de 10 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14452: Blogpoesia (412): 3 poemas recentes: (i) Mergulhei na Polónia; (ii) O barco na praia; e (iii) Rua dos impossíveis... (J. L. Mendes Gomes)
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