Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Estrada Finete-Missirá > 1969 > O Fur Mil Reis (à esquerda) e o Alf Mil Carlão (à direita), do 2º Gr Comb da CCAÇ 12 examinam o estado em que ficou a viatura Unimog em que seguia o Alf Mil Beja Santos, comandante do Pel Caç Nat 52, quando accionou uma mina anticarro, no dia 16 de Outubro de 1969, por volta das 18h00, na zona de Canturé. O accionamento da mina foi seguido de emboscada.
A NT, que seguiam em coluna de reabastecimento ao destacamento de Missirá, sofreram um morto (sold condutor Manuel Guerreiro Jorge, da CCS do BCAÇ 2852) e quatro feridos (1º cabo Alcino Barbosa e o sold Cherno Suabe, ambos do Pel Caç Nat 52; 2º Sarg Milícia Albino Mamadu Baldé, do Pel Mil 101; Sold Trms Arlindo Guiomar Bairrada, do Pel Mort 2106/CCS do BCAÇ 2852).
O Pel Caç Nat 52 será transferido para Bambadinca, sendo substituído, em Novembro de 1969, pelo Pel Caç Nat 54, comandado pelo Alf Mil Correia, devido ao grande desgaste a que tinha estado sujeito nos últimos meses.
Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).
Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados.
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Pel Caç Nat 52 > O Beja Santos mais alguns militares da sua unidade, num burrinho conduzido por um dos condutores da CCS do BCAÇ 2852, o Manuel Guerreiro Jorge ou o Setúbal (não posso precisar) (LG).
Foto: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.
Envelope de luto, com a carta que enviou ao Beja Santos em 10 de Novembro de 1970 o pai do infortunado soldado condutor Manuel Guerreiro Jorge, morto em Canturé - "o Sr. Jesuíno Jorge que tanto esperou por uma visita que nunca lhe fiz" (BS).
Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.
Mensagem do Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Setembro de 2007:
Luis, estou para saber como é que ganhei coragem para estas confissões. Felizmente, foi a única mina anticarro que tive com tão trágicas consequências. Tens aí várias fotografias da mina de Canturé, vou juntar o relatório, o louvor do Mamadu Djau, e acho que é um bom momento para mostrares a carta do Sr. Jesuino Jorge, que tanto esperou por uma visita que nunca lhe fiz. Pareceu-me descabido falar de leituras num episódio como este. Não há problema, em Bissau li e li muito, estava tão triste que não queria ver ninguém. Haverá muitas leituras para a semana. Recebe um abraço do Mário.
PS - Luis, esta é a versão definitiva. O texto que te enviei ontem tinha gralhas imperdoáveis. Para a semana haverá mais um episódio. Recebe um abraço do Mário.
Operação Macaréu à vista - Parte II > Seis da tarde quando a formiga sacode a pólvora
por Beja Santos (1)
Este seria o nosso último abastecimento em Bambadinca
A 16 de Outubro [de 1969], a coluna que parte de Missirá para Bambadinca vai à procura de mantimentos e combustível, para que não haja problemas logísticos momentosos para quem nos vem substituir. Prevê-se a chegada iminente do Pel Caç Nat 54, um grupo de combate da CCaç 12 vai nesse dia a Mato de Cão, as populações civis de Missirá e Finete estão sem arroz, muitos dos soldados do Pel Caç Nat 52 andam à procura de quartos em moranças na tabanca de Bambadinca, passo horas a apresentar-me junto dos senhorios e dos comerciantes locais como fiador na compra de camas e colchões.
Como que por milagre, arrebito das minhas mazelas, está a desaparecer-me o líquen das costas, secam as feridas dos pés, durmo melhor, vou digerindo o colapso nervoso do Casanova, atiro-me com energia à contabilidade, aos autos, aos livros de abate, aos cadernos onde registamos todas as munições. Fazemos gala, o Pires e eu, em entregarmos toda a escrita em dia, toda a transparência no deve e haver, seja nas folhas de pagamentos seja nos abastecimentos que deixamos nos armazéns de víveres.
É uma manhã que pronuncia o fim das chuvas, um céu azul de cobalto e despido de quaisquer nuvens caindo ao fundo na cobertura vegetal cor garrafa escuro, as picadas estão secas, o capim ergue-se louro como se fosse trigo. O meu estado de espírito renovou-se com optimismo.
No entanto, antes de partir, enquanto engulo um leite achocolatado com pão e marmelada, oiço um pouco de “Um Requiem Alemão”, de Brahms, o coro da RIAS de Berlim entoa “Bem aventurados os que estão em aflição, porque eles serão consolados”. É um requiem profano, muito plangente, e é quando eu desligo o gira-discos que tenho a primeira premonição da tragédia que se avizinha. Mas a azáfama é tanta e tantas andanças nos esperam em Bambadinca que a mente saúda e esvoaça na bela manhã, rendendo-se à serenidade envolvente.
Passa-se por Canturé, há árvores em flor, os picadores estão prudentes tal a densidade da vegetação, tal a poeira que se levanta no estradão. Em Finete, há dois dedos de conversa sobre as obras, os mais feridos sobem para a caixa do 404, Bacari Soncó apresenta a lista dos sacos de arroz que urge comprar. O alvoroço do mercado de Bambadinca está no auge, toda a estridência dos encontros nota-se nos tons que se elevam a volumes quase impossíveis. Paro sempre impressionado com a alegria esfuziante desses encontros, as mãos dadas, as perguntas, os olhos cheios de contentamento.
Passamos a manhã numa roda viva, sou fiador não sei quantas vezes, subo ao quartel, há conversas na engenharia, requisitam-se peças para o burrinho, discute-se a substituição do radiotelegrafista, os bidões de petróleo e gasóleo sobem para uma viatura e daqui são transportados para o cais de Bambadinca, depois é a compra de comida, deixo o Alcino Barbosa a regatear com os vagomestres, sigo para a secretaria onde deixo ofícios assinados, passo pelo serviço de justiça e entrego ao Valentim vários autos.
Logo a seguir ao almoço vou a Afiá comprar arroz, regresso com oito sacos. Junto do paiol, pegamos em vários cunhetes de munições, as nossas operações logísticas estão finalmente concluídas. Levo a promessa que na próxima semana haverá a transferência. O comandante não me deixa de avisar:
-Você fica mais uma semana em Missirá, até porque vão chegar as duas secções de milícias. Não se esqueça de patrulhar tudo, não quero tropa instalada só dentro do arame farpado. Procure melhorar as relações entre as autoridades civis que não vêem com bons olhos o regresso do Pel Caç Nat 54 a Missirá.
A travessia da bolanha é penosa, o 404 vai ajoujado com bidões, sacos de arroz, caixas de tudo, desde cerveja a esparguete. O entardecer encaminha-se perigosamente para o ocaso. O condutor, Manuel Guerreiro Jorge, que veio esbaforido desde o Geba até Finete, sempre a fintar os buracões da bolanha com um peso anormal de mercadorias, fuma nervosamente um cigarro e pede-me para partirmos cedo, estamos mesmo a entrar no lusco-fusco.
A energia renascida leva-me a comportamentos impulsivos de distribuir recomendações e ver as obras em curso. A viatura vai tão pesada que sobe a resfolegar a rampa íngreme, toda a gente a pé até lá acima, depois é a paródia de nos anicharmos nos espaços possíveis e impossíveis. Estou descansado com a segurança da estrada, duas secções da milícia passaram por aqui perto do meio dia.
A explosão, a emboscada, a reacção, o caos, de novo a reacção
No guincho à frente está Cherno Suane, sigo ao lado de Manuel Guerreiro Jorge,[o condutor,] estamos ladeados por Alcino Barbosa e Arlindo Bairrada. No alto, sentado no bidão mais protuberante vai Mamadu Djau com a bazuca nas pernas. Levamos quatro crianças, Mazaqueu quer vir a meu lado, mando-o para o pé de Albino Amadu Baldé, o comandante da milícia de Missirá.
O condutor está cada vez mais nervoso com a semiescuridão que desce, inexoravelmente. Apaga o último cigarro e pergunta-me:
-A que velocidade vamos, meu alferes?
Peço-lhe, atendendo à segurança que julgo existir, que vá a toda a velocidade até um pouco depois de Canturé, a seguir é que temos problemas, a picada está escorregadia até ao pontão de Caranquecunda. E a viatura parte à desfilada. Não se ouve o piar das aves, a lua recorta-se dentro do arvoredo que se vai sumindo rapidamente. É um anoitecer suave onde o rodado do 404 se sobrepõe à vozearia de quem vai na caixa. Exactamente quando a recta de Canturé está no fim, um estrondo medonho levanta o 404, os fios eléctricos silvam, a viatura afocinha na agonia, oiço o primeiro urro do condutor que pisou a mina anticarro, há a surpresa dos transportados, sou cuspido, sinto os óculos voarem, uma massa quente e ácida cega-me o olho direito, quer o destino que eu salte de escantilhão com a G3 na mão direita.
Tive muita sorte, os emboscados não dimensionaram devidamente a zona de morte, o 404 entrou de roldão fora da picada, terão recuado espavoridos, limitei-me a despejar rajadas, o que também terá surpreendido quem esperava uma carnificina fácil. E mais sorte tive porque Mamadu Djau deu novo sinal da sua valentia, do seu destemor, desferindo duas bazucadas que troaram naquela floresta em reboliço.
Manda o pudor que vamos encerrar por aqui a descrição desta emboscada incongruente e até pensar que um homem vestido de caqui amarelo que avançou para mim como que para me esganar e a quem enfiei o tapa-chamas da G3 no frontal não existiu, se bem que tenha deixado a arma ensanguentada. O importante era reagir um pouco mais, medir o desastre e ir pedir auxílio, passado o perigo de vida para todos nós.
Os acontecimentos sucedem-se em catadupa, lembro avulsamente que o guincho estava retorcido e que logo pensei que o Cherno ficara pulverizado, as crianças estavam estiradas na berma da picada, o tiroteiro, os dilagramas e as granadas defensivas eram a resposta da sobrevivência. Depois, o fogo arrefeceu, aquela estranhíssima emboscada deixou de dar sinal de vida, o que se ouvia até ferir os tímpanos eram os gritos lancinantes de Manuel Guerreiro Jorge que perdera as pernas e entrara em estado de choque. O Alcino queixa-se, há mais feridos, a caixa do 404 cedeu, como num naufrágio os bidões e todas as mercadorias estão espalhadas à nossa volta.
Se existe inimigo perto, penso, está a reagrupar-se. Falo com Mamadu Djau, dando-lhe a saber que ele vai ficar ali com todos os homens e que vou até Finete e levo as crianças, vou buscar reforços e mesmo auxílio a Bambadinca. Nunca mais esquecerei a resposta de Mamadu:
-Pode confiar, não me entrego, juro-lhe que vamos aguentar até regressar.
A cambalear, agradecendo a Deus só ter perdido o olho direito, como suposera, rodeado de crianças que me seguem no mais absoluto silêncio, demoro menos de uma hora até chegar a Finete. A povoação espera-me na porta de armas, naquela mesma rampa por onde há pouco passei com uma viatura carregada, nós desejosos de chegar a Missirá, tomar banho, jantar, dormir um pouco para, pelas quatro da manhã, partirmos para Mato de Cão.
Bacari Soncó recua quando me vê com o rosto escurecido. Peço-lhe um balde água que ele me atira brutalmente sobre os olhos. Afinal não ceguei, mesmo com o olho cheio de dores vejo ao longe o bruxulear das luzes no porto de Bambadinca. Estou especado, ergo a cabeça para os céus, rezo o Credo. Seguem-se as ordens, os civis acompanham os milícias, eu parto para Bambadinca. Peço insistentemente a Bacari que me lave o tapa-chamas. Ele não faz perguntas.
Aqueles grandes momentos de solidariedade (2)
Mesmo com a noite enluarada, atravesso a bolanha aos trambolhões, não fora aquele recuperar de energias dos últimos dias e o suplício da caminhada não teria chegado ao fim. Mufali Iafai atravessa-me de novo para Bambadinca, não faz perguntas, ouviu o suficiente à distância de seis quilómetros para saber que houve uma grande desgraça. É o Zé Maria quem me leva até ao quartel e também não faz perguntas, limita-se a olhar a minha cara queimada e a roupa desfeita.
O Ismael Augusto e o Fernando Calado, décadas depois, lembraram a minha entrada na messe de oficiais, nessa noite de 16 de Outubro, à hora do jantar:
-Mal se abriu a parte de vai-vem e tu apareceste completamente chamuscado, percebemos a desgraça. Toda a gente se levantou, tu falaste na mina anticarro e numa emboscada, disseste que havia feridos graves, o major Cunha Ribeiro tomou imediatamente as decisões necessárias. Parecia que o desastre era completamente nosso.
E assim foi. O Reis partiu com um pelotão, veio o David Payne com ajudantes, aparecerem rapidamente as viaturas, Bambadinca actuava em uníssono. Teve aqui lugar um gesto afectivo inesquecível. O major Cunha Ribeiro sentiu que os meus nervos estavam á beira de rebentar. Pegou-me num braço e disse-me ao ouvido:
-Tigre, vamos lavar a cara, tem que fazer pela noite inteira, o Gomes vai preparar-lhe umas coisas para comer e beber, uma boa parte do nosso jantar segue consigo.
Quando nos reencontrámos em 1994, em Fão, ele tinha esquecido o seu gesto e até mesmo a organização daquela emergência. Foram momentos inesquecíveis de solidariedade que me fizeram suportar a dor física e moral.
Estávamos a chegar a Finete quando a coluna de milícias e civis descia a rampa com os feridos, à luz de archotes. Não sei porquê, voltei a recordar os sons que ouvira ao amanhecer de “Um Requiem Alemão” e sempre que oiço esta obra-prima regresso a Finete e ao sofrimento dos meus homens. O Manuel Guerreiro Jorge morreu nos braços do David. O Alcino Barbosa coxeava, e ainda não sabíamos que era uma fractura de calcâneo. O Arlindo Bairrada tinha estilhaços num saco lacrimal. Albino Amadu Baldé tinha várias fracturas nas pernas.
O caso mais grave era o de Cherno. Ele foi descoberto milagrosamente perto de um morro de baga-baga, com o deflagrar da explosão fora atirado pelo sopro a vários metros de distância. Estava deformado, ensanguentado, irreconhecível. Com o maqueiro, lavamo-lo até aparecer um rosto tumefacto, sulcado de feridas, lábios rasgados, sangue a escorrer dos ouvidos, sempre a gemer, a suplicar água, a denunciar o calvário das dores. De madrugada, deitado a seu lado, procurando-o acalmar, ele disse baixinho:
-Alfero, agradeço a Deus morrer depois de o ter visto.
E pela primeira vez na minha vida vi o Cherno a chorar em silêncio. Na manhã seguinte, morto e feridos foram resgatados por um helicóptero. Como se sabe, Cherno não morreu, teve um traumatismo craniano profundo, é hoje um deficiente das forças armadas portuguesas. Despeço-me do Reis e David Payne, eles regressam a Bambadinca e eu a Missirá.
De Missirá a Bissau
Queta Baldé ficara em Missirá e contou-me depois:
-A minha secção estava de faxina, tínhamos que apanhar lenha, ir buscar água, dois quilómetros para lá e dois quilómetros para cá a rebolar os bidões, três horas no reforço, três horas a descansar, três horas no reforço. Ouvimos a explosão e os tiros, pressentimos uma grande desgraça. Estávamos em Missirá com os furriéis Pires e Pina. Esperámos toda a noite, os homens foram à mesquita pedir a Deus para que ninguém tivesse morrido. Ao amanhecer viemos com o segundo comandante da milícia de Missirá, Bubacar Baldé, em direcção a Finete. Quando vimos a viatura desfeita, tudo espalhado, muitas marcas de sangue, suspeitámos o pior. Não pode imaginar a nossa alegria quando vimos uma coluna vinda de Finete e nosso alfero a mancar à frente.
Em Missirá, fui lacónico na descrição dos acontecimentos mas prolífico na resposta. Combinara com o alferes Reis que a viatura ficaria armadilhada, depois de se trazer os víveres e os combustíveis. Tínhamos que nos preparar para tempos sem viatura já que o 404 ficara completamente destruído (felizmente não foi assim, a solidariedade dos desempanadores mostrou-se logo, o burrinho recuperou forças a 18 de Outubro, fez serviço à água e até Gã Joaquim, onde vinha receber os abastecimentos do Sintex).
Carta do pai do Manuel Guerreio Jorge, com data de 10 de Novembro de 1970, já com o Bej Santos a viver na Metrópole.
Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.
O Pires foi fazer o patrulhamento à volta de Canturé, os resultados foram inconclusivos quanto à força emboscada, encontraram-se cartuchos, granadas de RPG2, pensou-se que terão retirado por Canturé até Chicri. Segundo relataram os que estavam em Missirá a 16 de Outubro, foram ouvidos tiros de pistola, pelas duas da tarde, ali perto, poderá ter sido uma força que estava à espera do grupo emboscado ou montara emboscada perto de Morocunda. Não interessava, tratava-se de um grande desastre, eu tinha o sentimento de culpa, houvera várias negligências, baixara irresponsavelmente as guardas, as gentes de Madina foram extremamente hábeis, aproveitaram-se bem dos nossos gestos automatizados, as nossas idas diárias a Mato de Cão, talvez a euforia da transferência.
Tenho que ir a Bissau a vários médicos. Perdi os óculos, seguramente que aconteceu alguma coisa ao meu olho direito, o ouvido dói-me e não há analgésico que abrande a dor, o David Payne sugere que eu vá amanhã.
Estou derreado, Ussumane Baldé veio prontamente avisar-me que é o substituto temporário do Cherno. O régulo pede para ser recebido, abraça-me com calor, longamente e a custo retenho as lágrimas. A seguir ao jantar, depois de ter ido buscar a morada dos pais do Manuel Guerreiro Jorge, escrevo uma carta onde, de forma abreviada, falo da mina anticarro e da morte do condutor que não queria viajar de noite.
Mal sabia eu que se iria iniciar uma troca de correspondência que durou largos meses. O que me surpreendeu na carta que recebi, dias depois, do Sr. Jesuino Jorge, do Monte da Cabrita, Santana da Serra, concelho de Ourique, era a pretensão que me pareceu mórbida: o pai pedia-me insistentemente que lhe descrevesse o sofrimento e os últimos momentos do seu filho, sem faltar à verdade. Vim a aprender que é um pedido natural de quem não viu, não acompanhou, o desaparecimento físico do ente querido. Prometi visitá-lo um dia, faltei à promessa, a essa e a outras ainda mais graves: por exemplo, nunca visitei, nunca mais soube do paradeiro do Alcino Barbosa, que me fora tão devotado.
Estou no meu abrigo, é mais uma noite suave onde os coágulos de sangue nos meus joelhos e nos braços me impedem de dormir. Arrastando-me até à secretária, a pretexto de escrever ao Carlos Sampaio, arremedo uma prosa poética:
Efeméride: seis da tarde quando a formiga sacode a pólvora.
No fragor, sangue e alabastro nos olhos espalmados, vazos.
Seis da tarde à medida de um potro selvagem que soube ludibriar
o corno da morte. Ao sacudir a pólvora, abriu-se uma cratera
que engoliu feridos e mortos, todos inocentes.
Assim chegou o Outono da doce vinha, aqui uma época seca.
Aprendi com esta efeméride: pelas seis da tarde, Deus estava na lua,
para uns, a fortuna era uma rosa de betão, momentos de perdição,
para mim a fortuna tornou-se vida quando Cherno Suane
regressou à vida nestes trópicos de fúria e fetos aborígenes.
Deus seja louvado.
Fecho o aerograma, venho à porta do abrigo ver o céu, todo estrelado. Depois parto para Bissau. Ainda não sei, vou ser tratado por um médico oftalmologista açoriano, que se tornará num grande amigo. E até irei estudar um pouco da história da Guiné. Por favor, sigam comigo até Bissau.
______________
Notas de L.G.:
(1) Vd.posts de 9 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2251: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (8): Cartas que levam saudade(s) das terras e das gentes do Cuor
(2) Vd. também sobre este episódio, os seguintes posts:
24 de Junho de 2006> Guiné 63/74 - P904: SPM 3778 ou estórias de Missirá (3): carta a Alcino Barbosa, com muita intranquilidade (Beja Santos)
24 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P905: A morte na estrada Finete-Missirá ou um homem com a cabeça a prémio (Luís Graça)
26 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P911: Uma mina para o 'tigre de Missirá' (Luís Graça)
(...) Era voz corrente que o Beja Santos, conhecido entre os seus camaradas milicianos como o tigre de Missirá, tinha a cabeça a prémio no regulado do Cuor... Exagero ou não, o próprio Beja Santos reconhece publicamente este facto (...) (Vd. post de 24 de Junho de 2006):
A 15 de Outubro devíamos ter regressado mais cedo. O Comandante local do PAIGC, Corca Só, já me tinha ameaçado de morte, tendo mesmo deixado um bilhete na estrada. Saímos tardíssimo de Finete, o sol a cair a pique, como acontece nos trópicos (...).
Mário: Não foi a 15, mas sim a 16 de Outubro de 1969, como já ficou esclarecido entre nós. Na lista dos mortos do Ultramar, da Liga dos Combatentes, é também esta a data da morta do Manuel Guerreiro Jorge.
Na história da CCAÇ 12, também consta essa data:
"Registe-se ainda a intervenção do 2º GR Comb que, com o Pel Rec Inf da CCS [do BCAÇ 2852], foi em socorro duma coluna do Pel Caç Nat 52 que em 16 [de Outubro de 1969], já ao anoitecer, caiu numa emboscada com mina A/C comandada, no itinerário Finete-Missirá, próximo de Canturé, sofrendo um morto e três feridos graves".
O mais importante é que o Corca Só não te levou para Madina/Belel o teu escalpe. E hoje estás vivo, e está entre nós, partilhando connosco as alegrias e as tristezas de um tempo e de um espaço que nos coube em sorte, nos nossos verdes (e loucos) vinte anos... Mas sei do que falas: ser vítima da explosão de uma mina anticarro é uma situação-limite por que nem todos passaram:
2 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXIX: E de súbito uma explosão (Luís Graça)
23 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCV: 1 morto e 6 feridos graves aos 20 meses (CCAÇ 12, Janeiro de 1971) (Luís Graça)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 16 de novembro de 2007
quinta-feira, 15 de novembro de 2007
Guiné 63/74 - P2269: BART 2917, CCAÇ 12 e outras unidades adidas (Bambadinca, 1970/72): Monumento aos mortos (Sousa de Castro / Júlio Campos)
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCS do BART 2917 (1970/72) > Monumento aos mortos do batalhão e unidades adidas (este monumento foi destruído a seguir à independência da Guiné-Bissau).
BART 2917
Alf Mil Ribeiro
Fur Mil Quaresma
Fur Mil Cunha
1º Cabo Ribeiro
Sol F Soares
Sol Monteiro
Sol Oliveira
Sol P. Almeida
Adidos
CCAÇ 12
Sol Soares
Sol U. Sissé
Sol C. Baldé
Pel Caç Nat 52
2º Cabo Nhaga
Pel Caç Nat 54
1º Cabo Mendita
Sol S Camará
Sol Adip Jop
Sol S Embaló
Sol S Sanhá
Sol S Indjai
Pel Caç Nat 63
Sol D Candé
Pel Mil 201
Sarg Mil C Candé
Sol M Camará
Sol Iaia Jau
1970/72
1. O Sousa de Castro mandou-nos, em 12 de Novembro último "duas fotos interessantes do monumento em Bambadinca, [da autoria] do Júlio Campos a quem já enderecei convite para entrar na Tabanca Grande".
2. Na véspera, o Júlio Campos tinha mandado ao nosso amigo e camarada de Viana do Castelo, a seguinte mensagem:
Ao navegar no sítio do Luis Graça deparei com fotos de Bambadinca uma das quais o Monumento onde a parte de baixo da mesma é ilegível. Aqui te envio duas mais legiveis que eu tirei. Um Abraço
Jùlio Campos
Ex-Fur Mil Sapador
BART 2917
3. O Sousa de Castro agradeceu, em nome de todos nós, e convidou o Júlio para intregar a nossa Tabanac Grande:
Obrigado pelas fotos. Creio que ainda não fazes parte da tertúlia. Há vários ex- Combatentes do teu Batalhão na tertúlia, sendo assim convido-te a entrares e participares com tuas estórias na nossa Tabanca Grande. Para o efeito basta enviares duas fotos, uma da época como militar o outra actual, para o o nosso endereço de correio electrónico.
Alfa Bravo,
Sousa de Castro, ex-1º Cabo Radiotelegrafista,CART 3494, BART 3873, Xime e Mansambo, Jan 72/ Abr 74
4. Comentário de L.G.:
Sousa de Castro, perfeito!... Comportaste-te como um verdadeiro anfitrião da nossa Tabanca Grande. Aliás, um anfitrião de pleno direito. És cronologicamente o tertuliano nº 2, admitindo que eu sou, por inerência (como criador da tertúlia), o nº 1...
Quanto ao Júlio, devo-lhe dizer que é sempre emocionante voltarmos àqueles lugares de que temos fortes recordações, umas boas e outras más... O Júlio que nos mande as fotos da praxe que é para eu (re)lembrar-me dele... Preciso de ver a cara dele... Tivemos juntos em Bambadinca pelo menos uns nove meses, desde Junho de 1970 a Março de 1971, quando terminou a minha comissão individual na CCAÇ 12.
Relativamente ao monumento, deixem-me só dizer que a lista dos mortos das unidades adidas está incompleta... Os mortos são só os relativos ao período da comissão do BART 2917, que chegou a Bambadinca em meados de 1970. No caso da CCAÇ 12, por exemplo, não há o registo do Iero Jau, morto em 7 de Setembro de 1969, quando a CCAÇ 12 estava adida ao BCAÇ 2852 (1).
Quanto aos mortos do batalhão, mais exactamente da CART 2715 (Xime, 197o/72), recordo que assisti aos últimos momentos do Fur Mil Cunha, morto na Op Abencerragem Candente, juntamente com mais 4 militares da sua unidade, além do guia e picador das NT, o Seco Camará, ue estava ao serviço da CCAÇ 12 e da CCS do BART 2917 (2).
Eis os nomes completos dos camaradas mortos da CART 2715:
Fernando Soares, Sold
Joaquim de Araújo Cunha, Fur Mil
Manuel da Silva Monteiro, Sold
Rufino Correia de Oliveira, Sold
(há 1 elemento cujo nome desconheço)
__________
Notas de L.G.:
(1) Vd. posts de:
30 de Outubro de 2007> Guiné 63/74 - P2231: Blogoterapia (34) : Os Ieros Jaus que trouxemos na nossa memória pisada (José Morais)
14 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLII: A galeria dos meus heróis (2): Iero Jau (Luís Graça)
8 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXLVI: Setembro/69 (Parte I) - Op Pato Rufia ou o primeiro golpe de mão da CCAÇ 12
(2) Vd. posts de:
25 de Abril de 2005 > Guiné 69/71 - VII: Memórias do inferno do Xime (Novembro de 1970) (Luís Graça)
(...) Em consequência da emboscada IN, uma das mais violentas de que há memória na região do Xime, pelo seu impacto sobre as NT, a CART 2715 [Xime] sofreu 5 mortos (1 Furriel Mil) e 7 feridos, e a CCAÇ 12 teve 2 feridos (dos quais 1 grave, o Sold Sajuma Jaló), e 1 morto (o picador e guia permanente das NT Seco Camará, na altura ao serviço da CCS do BART 2917, e que do antecedente já tinha dado provas excepcionais de coragem e competência, tendo participado com a CCAC 12 em quase todas as operações a nível de Batalhão no Sector L1) (...).
26 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1318: Xime: uma descida aos infernos (2): Op Abencerragem Candente (Luís Graça, CCAÇ 12)
26 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1317: Xime: uma descida aos infernos (1): erros de comando pagam-se caros (Luís Graça)
Guiné 63/74 - P2268: A falsificação da história da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67)(Benito Neves)
Guiné > Região de Tombali > Catió > Álbum fotográfico de Vitor Condeço (ex-Furriel Mil, CCS do BART 1913, Catió 1967/69) > Catió, Quartel > 1968> Foto 2-A > Identificação dos edifícios do quartel, existentes e em serviço em Janeiro de 1968:
1 - Porta de Armas
2 - Parada
3 - Edifício do Comando
4 - Camarata de Oficiais
5 - Antiga messe de Sargentos
6 - Camarata de Sargentos
7 - Camarata de Sargentos
8 - Nova messe e bar de Oficiais
9 - Parque Daimler
10 - Caserna nº 3
11 - Caserna nº 2
12 - Balneários
13 - Prisão
14 - Geradores
15 - Caserna nº 1
16 - Refeitório
17 - Padaria
18 - Quartos
19 - Quartos do 7,5
20 - Antiga messe de Oficiais
21 - Posto de socorros e enfermaria
22 - Zona Obuses 8.8cm [e depois 14 cm]
23 - Zona Morteiros 10,7cm e 81
24 – Paiol Velho
Foto e legenda: © Vítor Condeço (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do Benito Neves, membro da nossa Tabanca Grande, bancário, reformado, residente em Abrantes, ex-Fur Mil da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67) (*):
Assunto - Crónica de um Palmeirim de Catió, de Joaquim Luís Mendes Gomes
Caro Luís, os meus cumprimentos extensivos a toda a equipa de colaboradores.
Em 8 de Janeiro p. p., foi publicada no blogue o post P1411, uma crónica do Joaquim Luís Mendes Gomes, onde ele descrevia a cidade de Catió de uma forma ímpar (**).
Está lá tudo... e de que maneira!!!
Já dele tenho a necessária autorização para utilizar o referido texto num trabalho que estou a elaborar e que não é mais que o reescrever a história da CCAV 1484 que, em Catió, rendeu a CCAÇ 728 há 40 anos.
A CCAV 1484 esteve em intervenção no sector de Catió de Junho de 1966 a finais de Julho de 1967.
Por bem ou por mal, como sabia escrever à máquina e trabalhar com um duplicador de tinta, fui encarregado pelo comandante da Companhia, Cap Pessoa de Amorim, de escrever a história da Companhia. Fiz rascunhos (que ainda guardo) que foram analisados, alterados, cortados e recortados e acrescentados pelo comandante até que finalmente saiu a que foi chamada de versão oficial. E tão oficial foi que nela consta que, "aos domingos, as viaturas da Unidade saíam do aquartelamento e passavam pelas tabancas para recolher os jovens que vinham a Catió participar na missa dominical e participar nas actividades da Mocidade Portuguesa."
Isto não corresponde minimamente à verdade e, portanto, entendo que a verdade deve ser reposta.
Da história oficial não foram tiradas mais do que umas 10 cópias, no máximo, distribuídas pelos alferes (4), pelo capitão (1), pelo Batalhão a que estávamos adidos (1), pelo Sector (1) e julgo que foi enviada uma cópia para o CTIG. Obviamente que tirei uma cópia para mim.
Ao fim de 39 anos (em 2006) conseguiu-se fazer um primeiro encontro dos militares da Companhia e, no ano em curso, foi feito um segundo encontro, mas ainda não conseguimos todos os contactos dos elementos da Companhia.
É meu entender que todos os militares que ajudaram a fazer a história da Unidade deverão possuir um exemplar. E como tenho as datas de aniversários de quase todos, é meu propósito, nesses dias, ofertar a cada um essa "prenda" de aniversário.
Não tenho qualquer propósito comercial.
Assim, uma vez que o texto do Joaquim Mendes Gomes foi publicado no blogue, venho pedir a necessária autorização para o poder utilizar, fazendo, na sua transcrição, como é natural, referência quer ao autor, quer ao blogue que o publicou.
E prometo que logo que o trabalho esteja pronto, vo-lo farei chegar. Será um modesto contributo de quem se atascou e bebeu água nas bolanhas do Tombali.
Desde já grato, envio um abraço e felicitações pelo trabalho que vós tendes disponibilizado a quantos passaram por aquela Guiné inesquecível.
Benito Neves
Ex-furriel mil CCAV 1484
1965/67
2. Comentário do L.G.:
Benito: A quem, como tu, bebeu a água do Tombali, nunca se poderia negar a satisfação dum pedido como teu... O Joaquim já o deu OK, nós também... O teu pedido é uma ordem... Venha de lá esse trabalho, com a honestidade intelectual e a autoridade moral que a gente te reconhece.
A verdade dos factos, acima de tudo: somos absolutamente contra a falsificação da histórica, mesmo que isso muito nos doa... Nenhum povo, nenhuma sociedade, nenhum grupo, nenhum indivíduo pode viver sob uma ficção construída na base da mentira... Sem o querer desculpar, direi que o teu capitão não fez mais do que tentar dourar a pílula!... Eu também fiz a história da minha unidade: face ao resultado final, o meu capitão ficou atrapalhado, porque eu usara informação classificada e os testemunhos dos operacionais, incluindo eu próprio...
No final, fiz como tu: distribuí, à revelia dele, cópias tiradas a stencil do documento que eu acabara de elaborar, sem qualquer censura, e distribuí a todos os milicianos... Esse é, de resto, um dos sinais premonitórios da crise das sociedades, dos regimes, das instituições: quando os seus dirigentes, a sua elite, não consegue mais enfrentar a realidade... Todos mentíamos na Guiné: o soldado aldrabava o cabo, o cabo aldabrava o furriel, este aldrabava o alferes, que por sua vez aldrabava o capitão, e por aí acima,até ao general...
No meu tempo, o Spínola tinha por hábito aparecer, sem se fazer anunciar, em muitos quartéis e destacamentos... Essa era, de resto, uma das razões por que os soldados o admiravam... O Spínola sabia que a hierarquia militar era, com honrosas excepções, uma cadeia de mentiras e de figuras de opereta...
Um Alfa Bravo dos três editores, Luís, Vinhal e Briote.
____________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 18 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1673: O blogue do nosso contentamento (Benito Neves, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67)
(2) Vd. post de 8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1411: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (6): Por fim, o capitão...definitivo
1 - Porta de Armas
2 - Parada
3 - Edifício do Comando
4 - Camarata de Oficiais
5 - Antiga messe de Sargentos
6 - Camarata de Sargentos
7 - Camarata de Sargentos
8 - Nova messe e bar de Oficiais
9 - Parque Daimler
10 - Caserna nº 3
11 - Caserna nº 2
12 - Balneários
13 - Prisão
14 - Geradores
15 - Caserna nº 1
16 - Refeitório
17 - Padaria
18 - Quartos
19 - Quartos do 7,5
20 - Antiga messe de Oficiais
21 - Posto de socorros e enfermaria
22 - Zona Obuses 8.8cm [e depois 14 cm]
23 - Zona Morteiros 10,7cm e 81
24 – Paiol Velho
Foto e legenda: © Vítor Condeço (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do Benito Neves, membro da nossa Tabanca Grande, bancário, reformado, residente em Abrantes, ex-Fur Mil da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67) (*):
Assunto - Crónica de um Palmeirim de Catió, de Joaquim Luís Mendes Gomes
Caro Luís, os meus cumprimentos extensivos a toda a equipa de colaboradores.
Em 8 de Janeiro p. p., foi publicada no blogue o post P1411, uma crónica do Joaquim Luís Mendes Gomes, onde ele descrevia a cidade de Catió de uma forma ímpar (**).
Está lá tudo... e de que maneira!!!
Já dele tenho a necessária autorização para utilizar o referido texto num trabalho que estou a elaborar e que não é mais que o reescrever a história da CCAV 1484 que, em Catió, rendeu a CCAÇ 728 há 40 anos.
A CCAV 1484 esteve em intervenção no sector de Catió de Junho de 1966 a finais de Julho de 1967.
Por bem ou por mal, como sabia escrever à máquina e trabalhar com um duplicador de tinta, fui encarregado pelo comandante da Companhia, Cap Pessoa de Amorim, de escrever a história da Companhia. Fiz rascunhos (que ainda guardo) que foram analisados, alterados, cortados e recortados e acrescentados pelo comandante até que finalmente saiu a que foi chamada de versão oficial. E tão oficial foi que nela consta que, "aos domingos, as viaturas da Unidade saíam do aquartelamento e passavam pelas tabancas para recolher os jovens que vinham a Catió participar na missa dominical e participar nas actividades da Mocidade Portuguesa."
Isto não corresponde minimamente à verdade e, portanto, entendo que a verdade deve ser reposta.
Da história oficial não foram tiradas mais do que umas 10 cópias, no máximo, distribuídas pelos alferes (4), pelo capitão (1), pelo Batalhão a que estávamos adidos (1), pelo Sector (1) e julgo que foi enviada uma cópia para o CTIG. Obviamente que tirei uma cópia para mim.
Ao fim de 39 anos (em 2006) conseguiu-se fazer um primeiro encontro dos militares da Companhia e, no ano em curso, foi feito um segundo encontro, mas ainda não conseguimos todos os contactos dos elementos da Companhia.
É meu entender que todos os militares que ajudaram a fazer a história da Unidade deverão possuir um exemplar. E como tenho as datas de aniversários de quase todos, é meu propósito, nesses dias, ofertar a cada um essa "prenda" de aniversário.
Não tenho qualquer propósito comercial.
Assim, uma vez que o texto do Joaquim Mendes Gomes foi publicado no blogue, venho pedir a necessária autorização para o poder utilizar, fazendo, na sua transcrição, como é natural, referência quer ao autor, quer ao blogue que o publicou.
E prometo que logo que o trabalho esteja pronto, vo-lo farei chegar. Será um modesto contributo de quem se atascou e bebeu água nas bolanhas do Tombali.
Desde já grato, envio um abraço e felicitações pelo trabalho que vós tendes disponibilizado a quantos passaram por aquela Guiné inesquecível.
Benito Neves
Ex-furriel mil CCAV 1484
1965/67
2. Comentário do L.G.:
Benito: A quem, como tu, bebeu a água do Tombali, nunca se poderia negar a satisfação dum pedido como teu... O Joaquim já o deu OK, nós também... O teu pedido é uma ordem... Venha de lá esse trabalho, com a honestidade intelectual e a autoridade moral que a gente te reconhece.
A verdade dos factos, acima de tudo: somos absolutamente contra a falsificação da histórica, mesmo que isso muito nos doa... Nenhum povo, nenhuma sociedade, nenhum grupo, nenhum indivíduo pode viver sob uma ficção construída na base da mentira... Sem o querer desculpar, direi que o teu capitão não fez mais do que tentar dourar a pílula!... Eu também fiz a história da minha unidade: face ao resultado final, o meu capitão ficou atrapalhado, porque eu usara informação classificada e os testemunhos dos operacionais, incluindo eu próprio...
No final, fiz como tu: distribuí, à revelia dele, cópias tiradas a stencil do documento que eu acabara de elaborar, sem qualquer censura, e distribuí a todos os milicianos... Esse é, de resto, um dos sinais premonitórios da crise das sociedades, dos regimes, das instituições: quando os seus dirigentes, a sua elite, não consegue mais enfrentar a realidade... Todos mentíamos na Guiné: o soldado aldrabava o cabo, o cabo aldabrava o furriel, este aldrabava o alferes, que por sua vez aldrabava o capitão, e por aí acima,até ao general...
No meu tempo, o Spínola tinha por hábito aparecer, sem se fazer anunciar, em muitos quartéis e destacamentos... Essa era, de resto, uma das razões por que os soldados o admiravam... O Spínola sabia que a hierarquia militar era, com honrosas excepções, uma cadeia de mentiras e de figuras de opereta...
Um Alfa Bravo dos três editores, Luís, Vinhal e Briote.
____________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 18 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1673: O blogue do nosso contentamento (Benito Neves, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67)
(2) Vd. post de 8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1411: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (6): Por fim, o capitão...definitivo
Guiné 63/74 - P2267: Inquérito online: O que é um camarada
Imagem: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.
1. Dos editores do blogue:
Assunto - Sondagem (semanal):
Concordas ou discordas da definição de camarada que dá o António Lobo Antunes (médico, psiquiatra, escritor e ex-alferes miliciano médico, em Angola, no leste, em 1971/73) ?
"Camarada não é bem irmão, amigo, companheiro, cúmplice... é uma mistura disto tudo com raiva, esperança, desespero, medo, alegria, revolta, coragem, indignação e espanto, é uma mistura disto tudo com lágrimas escondidas" (António Lobo Antunes, 2007) (*)
Período de votação: de 8/10 a 14/10/2007.
Escolhe uma das cinco respostas possíveis (na coluna do lado esquerdo da página principal do blogue):
Discordo totalmente (1)
Discordo (2)
Não sei / Não discordo nem concordo (3)
Concordo (4)
Concordo totalmente (5).
Houve 70 respostas válidas. A grande maioria dos respondentes (87%) concorda ou concorda totalmente com a belíssima definição do António Lobo Antunes.
3. Primeiros comentários dos nossos camaradas:
(i) J. L. Vacas de Carvalho:
Claro que concordo. Nunca uma definição de camarada, como nós a entendemos, foi tão bem descrita. E ainda hoje, 35 anos depois, sinto exactamente isso. Poderá não ser uma lágrima, mas é um abraço, poderá não ser uma revolta, mas é uma recordação, poderá não ser um desespero, mas é uma amizade. Para todos a minha camaradagem. Zé Luís.
(ii) Joaquim Mexia Alves:
Também eu concordo. E acrescento, (se é possível acrescentar ainda mais), é uma entrega: Confio-te a minha vida, e tu confias-me a tua!
Abraço camarada do
Joaquim Mexia Alves
(iii) Torcato Mendonça:
Camaradas: CONCORDO! Gostei das respostas do Vacas de Carvalho e do Mexia Alves. Quando vi, já noite dentro, o post, ia responder. Cansado, entreguei-me a Morfeu. No outro dia escrevi quatro folhas de A5. Abuso e não passei à tecla. Talvez um dia vire escrito...tem a ver, também, com a beleza e qualidade dos escritos e temas do Blogue, nas semanas que estive fora. Foram lidos e digeridos qual ruminante.
Esta definição é, quanto a mim, a cereja em cima do bolo. Sublime. Tenho a crónica do Hospital colada no Livro D'Este Viver... e esta já a colei No Meu Nome É Legião.
Transformou-se o Lobo Antunes; entende melhor quem sofre, sabe hoje a infinidade de uma noite num hospital e, na entrevista ora dada, abre-se...bem eu gosto de o ler. Não devo é escrever e chatear com uma tão longa e parva resposta. Basta dizer – CONCORDO!
Abraços Camaradas do, Torcato Mendonça
(iv) Paulo Santiago:
Numa destas quintas-feiras à tarde (compro a Visão no Sábado) uma amiga,disse-me:
- Vem uma crónica do Lobo Antunes a falar de ti e dos teus amigos.
Achei estranho,acabando por comprar a Visão com antecedência de dois dias. Fiquei tocado com aquela definição de camarada, é tudo aquilo que penso mas, não saberia descrevê-la com aquela simplicidade do autor de Fado Alexandrino.
Tal como o Zé, também me isolei, nos últimos meses de comissão, em Contabane, escapando-me às bravatas do tonto do Lourenço.
Um abraço de amizade e camaradagem
Santiago
_____________
Nota dos editores:
(*) Vd. post de 9 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2169: Antologia (63): Zé, meu camarada, eras um dos nossos e cada um de nós um dos teus (António Lobo Antunes, Visão, 4 Out 2007)
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
Guiné 63/74 - P2266: Bibliografia (11): Quem conhece o Inácio Maria Góis, autor de O meu diário, CCAÇ 674 (Fajonquito, 1964/66) ? (René Pélissier)
René Pélissier - História da Guiné: Portugueses e Africanos na Senegâmbia, 1841-1936. Lisboa: Editorial Estampa. 2 volumes, c. 600 pp. Preço de capa de cada volume: 14,27 € (mais IVA).
Foto das capas: Editorial Estampa (2006) (com a devida vénia...)
1. Mensagem do historiador francês René Pélissier , que muito nos honra. Apelamos à melhor colaboração de todos os amigos e camaradas da Guiné.
Prezado Senhor:
Sou o historiador e bibliógrafo francês da Guiné e não consigo encontrar um exemplar de uma edição de autor que a Biblioteca Nacional de Lisboa possui mas sem dar o endereço do autor-editor. Trata-se de:
GÓIS, Inácio Maria: O meu diário: Guiné 1964-66, Companhia de Caçadores 674 s.l. s. d. Aljustrel: Mineira. 2006. 416 pp.
Seria capaz de me dizer onde posso arranjar o livro ou pelo menos como contactar o autor? Alguém no seu blogue deve conhecer este senhor.
Muito obrigado pela sua ajuda
Melhores cumprimentos
Prof Dr René Pélissier
20 rue des Alluets
78630 Orgeval
França
2. Comentário de L.G.:
Caro René Pélissier:
Sentimo-nos muito honrados pela sua presença neste blogue colectivo sobre a guerra da Guiné (1963/74), o maior da Internet em língua portuguesa. Tudo iremos fazer para localizar o autor desta publicação. Já temos aqui alguns elementos que permitem mais facilmente localizá-lo. Por exemplo, sabemos que a Companhia de Caçadores 674 esteve em Fajonquito, no nordeste da Guiné, junto à fronteira com a República da Guiné-Conacri. Inclusivamente identificámos alguns dos camaradas do autor, cujo nome correcto é Inácio Maria (e não Mário...) Góis.
Além disso, o autor deve ser natural de Aljustrel, localidade do Alentejo onde foi editada a obra. Presume-se que seja uma edição de autor. A obra deve ter sido impressa na Gráfica Mineira Lda, com sede na Rua Vasco da Gama, 49, 7600-117 Aljustrel. Tel: + 351 284602569 / Fax: + 351 284602712.
O concelho de Aljustrel pertence ao distrito de Beja e é historicamente conhecido pela sua indústria extractiva. Ainda hoje as minas são o principal sector de actividade económica.
Por outro lado, o número de páginas da publicação é 416, e não 675, como por lapso você nos indicou.
Disponha sempre. Pode contactar-nos em francês, se assim o preferir.
As nossas melhores saudações. Luís Graça.
_________________
Nota dos editores:
(1) Temos na nossa tertúlia um homem, Constantino Neves, que teve um irmão, Sérgio Neves, na CCAÇ 674 (1964/66): vd. post de 24 de Setembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2127: Estórias de vida (5): Sérgio Neves, meu irmão, um homem bom (Tino Neves)
Há outros posts com referências a homens da CCAÇ 674, unidade que operou na Zona Leste, Fajonquito:
17 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2185: Álbum das Glórias (31): 13 brancos maduros do Puto em almoço de homenagem a Marcelino da Mata (Abreu dos Santos)
10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1357: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (3): Nem a cruz nem o altar (Mário Dias / Luís Graça)
Foto das capas: Editorial Estampa (2006) (com a devida vénia...)
1. Mensagem do historiador francês René Pélissier , que muito nos honra. Apelamos à melhor colaboração de todos os amigos e camaradas da Guiné.
Prezado Senhor:
Sou o historiador e bibliógrafo francês da Guiné e não consigo encontrar um exemplar de uma edição de autor que a Biblioteca Nacional de Lisboa possui mas sem dar o endereço do autor-editor. Trata-se de:
GÓIS, Inácio Maria: O meu diário: Guiné 1964-66, Companhia de Caçadores 674 s.l. s. d. Aljustrel: Mineira. 2006. 416 pp.
Seria capaz de me dizer onde posso arranjar o livro ou pelo menos como contactar o autor? Alguém no seu blogue deve conhecer este senhor.
Muito obrigado pela sua ajuda
Melhores cumprimentos
Prof Dr René Pélissier
20 rue des Alluets
78630 Orgeval
França
2. Comentário de L.G.:
Caro René Pélissier:
Sentimo-nos muito honrados pela sua presença neste blogue colectivo sobre a guerra da Guiné (1963/74), o maior da Internet em língua portuguesa. Tudo iremos fazer para localizar o autor desta publicação. Já temos aqui alguns elementos que permitem mais facilmente localizá-lo. Por exemplo, sabemos que a Companhia de Caçadores 674 esteve em Fajonquito, no nordeste da Guiné, junto à fronteira com a República da Guiné-Conacri. Inclusivamente identificámos alguns dos camaradas do autor, cujo nome correcto é Inácio Maria (e não Mário...) Góis.
Além disso, o autor deve ser natural de Aljustrel, localidade do Alentejo onde foi editada a obra. Presume-se que seja uma edição de autor. A obra deve ter sido impressa na Gráfica Mineira Lda, com sede na Rua Vasco da Gama, 49, 7600-117 Aljustrel. Tel: + 351 284602569 / Fax: + 351 284602712.
O concelho de Aljustrel pertence ao distrito de Beja e é historicamente conhecido pela sua indústria extractiva. Ainda hoje as minas são o principal sector de actividade económica.
Por outro lado, o número de páginas da publicação é 416, e não 675, como por lapso você nos indicou.
Disponha sempre. Pode contactar-nos em francês, se assim o preferir.
As nossas melhores saudações. Luís Graça.
_________________
Nota dos editores:
(1) Temos na nossa tertúlia um homem, Constantino Neves, que teve um irmão, Sérgio Neves, na CCAÇ 674 (1964/66): vd. post de 24 de Setembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2127: Estórias de vida (5): Sérgio Neves, meu irmão, um homem bom (Tino Neves)
Há outros posts com referências a homens da CCAÇ 674, unidade que operou na Zona Leste, Fajonquito:
17 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2185: Álbum das Glórias (31): 13 brancos maduros do Puto em almoço de homenagem a Marcelino da Mata (Abreu dos Santos)
10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1357: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (3): Nem a cruz nem o altar (Mário Dias / Luís Graça)
Guiné 63/74 - P2265: Bissau sempre era maior do que a nossa vila ou aldeia (Helder Sousa)
Guiné > Bissau > s/d [1970-1972] > O Helder Sousa no seu quarto em Bissau... Sinais dos tempos: um poster do Che Guevara, um ícone da juventude da época, mas também um grande amigo do PAIGC...
Dizia-se que o Che tinha estado na Guiné em 1964, o que não é verdade... De qualquer modo, desde 1966 os voluntários cubanos (médicos e conselheiros militares, numa primeira leva) estão directamente envolvidos na luta de guerrilha do PAIGC...
Foto: © Helder Sousa (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do Helder Sousa (ex-Fur Mil de Transmissões TSF, Piche e Bissau, 1970/72; mora actualmente em Setúbal) (1)
Só hoje, e já nem sei porquê, é que li o teu texto/carta, descrevendo para um interlocutor imaginário (o Tony Levezinho), os teus sentimentos aquando duma estadia de descanso, "desenfianço" ou lá o que fosse, em Bissau (2).
Tá certo, meu amigo, é natural esse (aquele) tipo de reacção, tanto mais de alguém que tinha por postura observar criticamente tudo o que o envolvia, incluindo questionar o porquê de todas as coisas que se iam vivendo.
Mas, olha, Bissau era o que mais se aproximava à realidade da maioria daqueles jovens que estavam espalhados no TO do CTIG (era também assim que se dizia) e que, naqueles idos dos finais de 60, inícios de 70 - excepção feita aos habitantes da "grande Lisboa", Porto, Coimbra e limítrofes - não tinham a vivência de grandes metrópoles e para eles aquilo já era um grande movimento....
Um abraço
Hélder Sousa
2. Comentário de L.G.:
É verdade o que tu dizes, Helder: Bissau sempre era maior que a nossa aldeia... e para muitos jovens portugueses a Guiné foi a grande aventura das suas vidas... Não vale a pena escamotear ou ignorar isto...
_______
Notas de L.G.:
(1) Vd. posts de:
26 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1702: A guerra também se ganhava (ou perdia) nas ondas hertzianas (Helder Sousa, Centro de Escuta e de Radiolocalização, Bissau)
11 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1652: Tertúlia: Três novos candidatos: José Pereira, Hélder Sousa e Jorge Teixeira
(2) Vd. post de 14 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2264: Blogue-fora-nada: O melhor de... (3): Carta de Bissau, longe do Vietname: talvez apanhe o barco da Gouveia amanhã (Luís Graça)
Dizia-se que o Che tinha estado na Guiné em 1964, o que não é verdade... De qualquer modo, desde 1966 os voluntários cubanos (médicos e conselheiros militares, numa primeira leva) estão directamente envolvidos na luta de guerrilha do PAIGC...
Foto: © Helder Sousa (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do Helder Sousa (ex-Fur Mil de Transmissões TSF, Piche e Bissau, 1970/72; mora actualmente em Setúbal) (1)
Só hoje, e já nem sei porquê, é que li o teu texto/carta, descrevendo para um interlocutor imaginário (o Tony Levezinho), os teus sentimentos aquando duma estadia de descanso, "desenfianço" ou lá o que fosse, em Bissau (2).
Tá certo, meu amigo, é natural esse (aquele) tipo de reacção, tanto mais de alguém que tinha por postura observar criticamente tudo o que o envolvia, incluindo questionar o porquê de todas as coisas que se iam vivendo.
Mas, olha, Bissau era o que mais se aproximava à realidade da maioria daqueles jovens que estavam espalhados no TO do CTIG (era também assim que se dizia) e que, naqueles idos dos finais de 60, inícios de 70 - excepção feita aos habitantes da "grande Lisboa", Porto, Coimbra e limítrofes - não tinham a vivência de grandes metrópoles e para eles aquilo já era um grande movimento....
Um abraço
Hélder Sousa
2. Comentário de L.G.:
É verdade o que tu dizes, Helder: Bissau sempre era maior que a nossa aldeia... e para muitos jovens portugueses a Guiné foi a grande aventura das suas vidas... Não vale a pena escamotear ou ignorar isto...
_______
Notas de L.G.:
(1) Vd. posts de:
26 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1702: A guerra também se ganhava (ou perdia) nas ondas hertzianas (Helder Sousa, Centro de Escuta e de Radiolocalização, Bissau)
11 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1652: Tertúlia: Três novos candidatos: José Pereira, Hélder Sousa e Jorge Teixeira
(2) Vd. post de 14 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2264: Blogue-fora-nada: O melhor de... (3): Carta de Bissau, longe do Vietname: talvez apanhe o barco da Gouveia amanhã (Luís Graça)
Guiné 63/74 - P2264: Blogue-fora-nada: O melhor de... (3): Carta de Bissau, longe do Vietname: talvez apanhe o barco da Gouveia amanhã (Luís Graça)
Guiné > Bissau > Pós-25 de Abrild e 1974 > Manifestações populares de regozijo mas também de contestação: na primeira foto, um manifestante empunha um cartaz onde se lê: "Abaixo a D.G.S." [a polícia política portuguesa]; na segunda foto, um dos manifestantes exibe um improvisado autocolante nas costas, onde se lê: "Viva o General António Spínola! Viva o Povo da Guiné!"... Quatro anos antes, em fevereiro de 1970, desenfiado e perdido em Bissau, eu estava longe de poder imaginar cenas como estas... (LG)
Fotos: © José Casimiro Carvalho (2007). Direitos reservados.
Nesta rúbrica Blogueforanada - O melhor de ... retomam-se alguns textos, da 1ª série do nosso blogue, que já estão esquecidos ou que são de mais difícil acesso, merecendo ser, por uma razão ou outra, relembrados... É o caso, por exemplo, deste que se hoje se republica, com algumas alterações (1)...
Reprodução do post de 8 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXLVIII: Cartas que nunca foram postas no correio (1): Em Bissau, longe do Vietname (Luís Graça)
Guiné > Zona leste > Bambadinca > 1969 > O ex-furriel miliciano Henriques, atirador de armas pesadas, da CCAÇ 12 (1969/71) : "Saigão, meu caro, é o último lugar do mundo onde eu poderia esquecer o Vietname!"...
Foto: © Luís Graça (2005). Direitos reservados
1. Tenho algumas cartas que fui escrevendo, no meu Diário de um Tuga, dirigidas a amigos, mas que nunca cheguei a pôr no correio. Por lassidão. Por cansaço. Mas também por receio de correr riscos, desnecessários. Nunca soube até onde podia chegar o longo braço da PIDE/DGS e até onde me vigiava, nos vigiava. Também nunca fui, até hoje, à Torre do Tombo confirmar as minhas suspeitas... Sei, pelo que me disseram (mas nunca confirmei), que algumas pessoas com quem convivi em Bambadinca (um civil e um primeiro sargento) terão sido informadores da PIDE/DGS... Não me choca: este país era uma imensa bufaria...
Se bem me lembro, eu era o único tuga, da CCAÇ 12 (uma uniddae de intervenção constituída por soldados africanos, recrutados do chão fula), que recebia, em Contuboel e depois em Bambadinca, o Notícias da Amadora e o Comércio do Funchal, jornais conotados com a oposição ao regime de Salazar-Caetano. Por sua vez, o Fur Mil Marques (que irá cair, comigo, a 13 de Janeiro de 1970 numa mina A/C), recebia a Seara Nova. Não era nenhum crime de lesa-pátria nem punha o regime em perigo. Afinal, eram jornais sujeitos a censura (o famigerado exame prévio, que eufemismo!). Circulavam legalmente… e até chegavam à Guiné, a Contuboel e depois a Bambadinca, pelo Serviço Postal Militar (SPM).
Na época, poucos de nós se interessavam por política. De resto, quem se interessava por política era do reviralho, alguns grupos e grupúsculos (intelectuais e estudantis, católicos progressistas, organizações clandestinas, ligadas à esquerda e à extrema-esquerda…). Tínhamos todos nascido no Estado Novo e sido formatados, desde o berço, pelo Estado Novo… Quem se poderia interessar por política ? O termo tinha, de resto, uma conotação ameaçadora e perigosa...
Não obstante a efémera primavera marcelista e as mudanças de cosmética no aparelho repressivo do Estado Novo, o país começava, perigosamente, a descomprimir-se… A contra-cultura e a contra-ideologia do Maio de 68, lá fora, e da crise estudantil de 69, cá dentro, instalavam-se no quotidiano, nas empresas, nas redacções dos jornais, na universidade, nas instituições e até nas forças armadas… Um espírito de contestação e de subversão começava a ameaçar os aliceres (podres) do regime... Era o famoso espírito dissolvente, denunciado pelos espíritos mais lúcidos e ultraconservadores do regime.
Chegavam-me, à Guiné, alguns ecos dos movimentos estudantis e das lutas operárias de 1969 que eu apoiava apenas quixotescamente… Era preciso, todavia, ler as notícias nas entrelinhas. De qualquer modo, começava-se a perder as ilusões sobre a natureza do regime, sob o consulado de Marcelo Caetano (que tinha estado na Guiné em Abril de 1969, contrariamente ao seu antecessor que nunca posto os pés em África). E alguns de nós começavam a ter a consciência do beco sem saída a que nos conduzia a guerra colonial.
Na campanha eleitoral de Outubro de 1969, a oposição ao regime defende o direito à autodeterminação das colónias… Em 1966, eu já lutava pelo fim da guerra, mas sabia que lá iria parar, inelutavelmente... Que iria parar a Angola, a Moçambique ou à Guiné… Mas dos três pesadelos, a Guiné era o pior, para a malta da minha geração... Um primo meu tinha morrido na Guiné, em Ganjola, em 1966...
Em 1969 eu deveria ser dos poucos militares, em Bambandica, que estava inscritos nos cadernos eleitorais, tendo inclusive exercido o meu direito de voto… Eu, o meu capitão e poucos mais…
Sempre fui um outsider. Não estava ligado a nenhuma rede ou organização política da chamada oposição democrática. Por me manifestar, a título individual, contra a guerra colonial e expressar as minhas simpatias pelo PAIGC, chamavam-me o Soviético ou o camarada Sov, o que era pouco lisonjeiro para o meu espírito de independência e de recusa de alinhamento político-partidário...
A alcunha foi-me posta, creio eu, pelo Sargento Piça, o sargento mais bacano que eu conheci na tropa. Uma amizade feita de muitas cumplicidades e muitos copos. Era o nosso pai e o nosso irmão mais velho. Alentejano dos sete costados, devia andar pelos seus 37 anos, tantos quantos os do nosso capitão Brito, militar de carreira, três comissões, um bom homem…
Enfim, serve este preâmbulo para contextualizar o texto que se segue. L.G.
2. Publico hoje uma carta que escrevi, de Bissau, a um dos meus amigos... Ao fim de nove meses de comissão, desenfiei-me e fui até Bissau. Tínhamos uma espécie de acordo tácito, nós, os milicianos da CCAÇ 12 e o sargento Piça, que nos arranjava a guia de marcha. Todos os pretextos era bons, médicos ou não médicos, para se fugir do Vietname (ou seja, do mato): o mais vulgar, era “ir Bissau mudar o óleo” (sic), tratar dos dentes, marcar a tão sonhada viagem de férias à Metrópole, enfim, beber uns copos, comer umas ostras, espairecer as ideias, carregar as baterias…
Tínhamos chegado à Guiné em finais de Maio de 1969, no N/M Niassa. Ao fim de menos de nove meses, e de uma intensa actividade operacional, era já precária a nossa saúde física e mental…
Trinta e cinco anos depois, posso revelar a quem era destinada a carta que nunca chegou ao seu destino: era para o meu camarada e grande amigo Levezinho, o Tony Levezinho, furriel miliciano como eu e o Humberto Reis na CCAÇ 12…
O Tony fez há dias 58 anos, no dia 24 de Novembro [de 2005], no seu retiro algarvio, lá para os lados de Sagres… É uma surpresa que eu lhe faço, mesmo que ele estranhe o tom desta carta… É também um pequeno gesto de homenagem e de amizade, para com ele e a Isabel que eu, na época, só conhecia de fotografia. O Tony veio de férias à Metrópole, e casou, a meio da comissão, deixando a pobre da Isabel como potencial candidata a viúva... Felizmente, estão hoje os dois bem vivos e são um casal maravilhoso...
Bom, o Tony nunca suspeitaria da existência desta carta que eu, pela minha parte, imaginei mandar-lhe como se ele estivesse na… Metrópole, longe do Vietname…
É uma carta insólita para um camarada, no sentido etimológico do termo: o que dorme no mesmo quarto, na mesma camarata… (O que era literalmente o nosso caso). Devo dizer que já não me recordo de quantos dias andei desenfiado em Bissau, longe do Vietname.. Possivelmente uma semana, não mais… O Levezinho conhecia Bissau, tão bem ou tão mal como eu…Neste acaso, utilizei-o apenas como um simples interlocutor imaginário para uma conversa imaginária… Em condições normais, em Bambadinca, eu nunca faria (in)confidências deste género. Por pudor, simplesmente por pudor. Ou por falta de tempo...
Este texto está datado, vale o que vale e algumas das suas expressões mais duras podem ferir, mesmo ainda hoje, algumas sensibilidades… Em resumo, não poderia subscrevê-hoje, tal como foi escrito há trinta e cinco anos… Não sou mais o mesmo, ou pelo menos não gostaría de ser mais o Henriques... Mesmo assim, apeteceu-me divulgá-lo.
Julgo que pode ter algum valor documental para a sociologia histórica da guerra da Guiné. Revela sobretudo um estado de alma, o de um jovem, de 23 anos (já feitos em Janeiro de 1970!), apanhado na rede como um cão (como ele costumava dizer) e que lutava por sobreviver, física e mentalmente, a uma guerra com a qual ele não podia, de modo algum, estar de acordo.
Espero que os meus amigos e camaradas de tertúlia, a começar pelo Tony Levezinho, sejam condescendentes comigo.
Diário de um Tuga > Bissau, far from the Vietnam. 10 de Fevereiro de 1970:
Meu caro L [evezinho].
Gostaria de falar-te de Bissau, cidade lumpen, e da sua morna dolce vita, em termos não propriamente de desencanto mas de desmistificação, a ti que ficaste no Vietname… E com palavras que fossem como ácido sulfúrico na pele!... Receio, porém, que a minha crueldade não chegue a tanto (que a realidade, essa, é requintadamente sádica, grotesca, como as telas de Brueghel ou do Goya!) e que não passe, afinal, de azeda esta carta que daqui te envio, aproveitando o macaréu da minha neurastenia e uns fugazes dias de liberdade vigiada. Daqui, da esplanada do Pelicano, frente ao estuário do Geba, rio tragicamente belo, insubmisso como os povos que habitam as suas margens!...
Bissau: cidade-caserna, cidade-bordel
Bissau revisitada (1)… Devo, antes de mais, confessar-te que, se acaso fugi da Guiné por uns dias, nem por isso deixo de sentir-me perseguido pelo seu fantasma. Sabes como é (ou, pelo menos, deves imaginar): uma incómoda sensação de estado de sítio (que nada tem a ver com a insularidade – aliás, pouca gente sabe que Bissau fica numa ilha), agravada, para quem aqui vegeta, pelos fantasmas dos foguetões que ainda há tempos flagelaram Bolama, a antiga capital colonial…
Bissau, cidade-caserna, cidade-bordel!... Para quê falar-te do tráfego (e do tráfico!) de carne branca sem qualquer carga erótica para lá do fetiche da cor da pele ?! De qualquer modo, o contrabando do sexo é negócio que vai de vento em popa - aqui funcionam as leis do mercado, a procura é muita e a oferta é variável ! – a par da quinquilharia oriental e sobretudo dos produtos nipónicos que ultimamente invadiram os free-shops cá do sítio, desde os Gouveia aos Taufik Saad, para quem o amendoim, o coconote e os panos de chita já foram chão que deu uvas… Enfim, o comércio da guerra e a guerra do comércio, uma parelha que sempre se deu bem em toda a parte!
Para quê falar-te dessas prostitutas que naufragam em todos os portos onde cheire a merda, a morte e a soldadesca, fugidas da miséria das ilhas de Cabo Verde e dessas outras ilhas de Lisboa e do Porto ?! Ou ainda dessas fêmeas, balzaquianas, que os tropas do ar condicionado mandaram vir da Metrópole e que passam, sequestradas, nos Wolkswagen e nos Mercedes pretos, conduzidos por soldados africanos – insólita imagem de jovens eunucos negros, subsaarianos, guardando as velhas odaliscas nos haréns dos sultões das Arábias!...
Não suporto, aliás, a visão desse branco asséptico, dessa cor neutra das metropolitanas cujo tom de pele tem qualquer coisa de viscoso como as paredes dos hospitais… Receio até que esteja a tornar-me racista ao contrário ou a caminhar para a misogenia, como aquele prisioneiro que, ao sair de Auschwitz, não conseguiu sequer beijar a mulher porque tinha horror a tudo o que era humano…
Decididamente não queria falar-te de mulheres (e, muito menos, das brancas que, aqui, no cu do mundo, povoam os nossos delírios palúdicos)… Mas como não, se elas são o único antídoto contra a angústia da morte ?!... As paredes das nossas casernas no mato estão forradas de posters de gajas nuas, loiras, de olhos azuis, formas esculturais e pele acetinada, que é “para um gajo não se esquecer da carne branca” (sic)…
Em contrapartida, a pomada antivenéria (e, claro, a penicilina, em doses de milhões) é o que mais se gasta nos nossos postos de caserna. O bordel é talvez a única instituição castrense verdadeiramente respeitável… Mas se os franceses mandavam para a Argélia putas de campanha juntamente com os seus legionários, nós, tugas, não temos esse problema: fornicamos sem preconceitos raciais, ou não fossemos “um país, muitos povos, uma só Nação”!...
Imagina, pois, Bissau como estância de repouso do guerreiro. Há aqui, de certo, um equívoco, um tremendo equívoco por parte do médico miliciano, que até é um gajo porreiro, capaz de dar umas baixas aos operacionais, não obstante as ameaças veladas do comandante de sector… Mas eu estou farto dos gajos porreiros, como ele, que joga bridge com os cabrões dos oficiais superiores, apostados em ganhar a guerra (leia-se: os próximos galões) à custa de ti, de mim e da nossa tropa-macaca… É que Saigão, meu caro, é o último lugar do mundo onde eu poderia esquecer o Vietname!...
De qualquer modo, para além duns furtivos raides ao Pilão, as únicas operações que aqui se realizam ainda são do tipo gastronómico. Enfim, a nossa velha filosofia epicurista segundo a qual o melhor que se leva desta vida é ainda o que se come e o que bebe. Eis-nos, portanto, tristemente reduzidos ao ciclo vegetativo , ou seja, aos camarões, às ostras e às verdianas (sim, por que essas pretas de 1ª, na nossa linguagem machista e racista, também são coisas que se comem!)…
Do Pilão ao Chez Toi
Quanto ao Pilão, como escrever-to ? É a grande tabanca, o grande muceque de Bissau, um verdadeiro gueto, um enorme abcesso putrefacto produzido pelo colonialismo e pela guerra, e onde frequentemente explodem as tensões raciais e étnicas.
O Pilão é o lumpen… Daí as recomendações que te fazem ao chegares aqui - lembras-te ? -, à mistura com histórias mirambolantes, pouco ou nada verosímeis, de cabeças cortadas à catanada:
- Ao Pilão nunca vás sozinho, sobretudo à noite. Os gajos são todos turras. E com as verdianas, muito cuidado, menino, que as filhas da puta já nasceram todas esquentadas! - avisou-me um furriel fotocine, no Chez Toi, uma espelunca de 3ª classe com pretensões a night club, onde os tropas de galões dourados redescobrem o gosto civilizado do champagne francês (marado…), bebido com uma pin-up ao colo, como em qualquer bar rasca, de alterne, na Reboleira do J. Pimenta…
Descobri, entretanto, que o gajo – o fotocine – não passava de um proxeneta, nas horas vagas:
- É, claro, se quiseres, tens aqui coisa fina… Pró carote, já se vê..
Trata-se de um safado miliciano, como tantos outros que estão aqui na guerra do ar condicionado, afilhados de padrinhos com boas relações no Terreiro do Paço. Cabrões que conhecem a Guiné au vol d’oiseau, de helicóptero ou de Dornier. Felizardos que passam fins de semana nas praias da Ilha de Bubaque. Gajos para quem Buba ou Bambadinca, Guileje ou Piche são tudo cartões de visita exóticos: apenas sabem vagamente que fica lá no mato, no Vietname, de preferência longe de Bissau…
Os do Vietname, a espécie mais curiosa da fauna nocturna
Quanto ao resto, meu caro, é aquele ritmo burocraticamente febril duma cidadela militar, tradicional reduto da presença dos tugas desde finais do Séc. XVIII, simbolizado no forte da Amura. Há tropa por todo o lado, com particular notoriedade para a tropa especial aqui aquartelada – comandos, paras e fuzos – que entre duas viagens de helicóptero, ou de lancha de desembarque, na ociosidade destes dias e noites escaldantes de Bissau, se pavoneiam pelas esplanadas, de tomates inchados, apalpando o cu das bajudas, olhando por cima do crachá a tropa-macaca ou provocando-se mutuamente, por excesso de adrenalina ou por velhos ressentimentos corporativos…
O tráfego de viaturas e aeronaves é intenso mas só dificilmente nos apercebemos de que Bissau é o centro motor dum país em guerra. O melhor é tu postares à entrada do Hospital Militar e contares os helicópteros que aterram na placa…
À noite, entretanto, c’est le vide: os únicos noctívagos ainda são aqueles que vêm do mato e que sofrem da fobia do arame farpado: é vê-los até às tantas da madrugada, à mesa das esplanadas, empanturrando-se de ostras e de cervejas e contando histórias do mato. Mas em vão o guerreiro, em cura de repouso, busca outra atmosfera em que o oxigénio não esteja carregado das toxinas da angústia e da lassidão… A menos que, no dia seguinte, tenha passagem marcada para a Metrópole… Ele vem da guerra e para a guerra há-de voltar, de avião ou de barco, já que não há praticamente ligações terrestres de Bissau para o resto da Guiné. De qualquer modo, os que vêm do Vietname, ainda são as espécies mais curiosas da fauna humana que vagueia por esta capital-fantasma.
De facto, aqui desaguam todos os rios humanos da Guiné: a carne que já foi do canhão e agora é do bisturi (ou dos vermes, em caixões de chumbo, discretamente empilhados, à espera que o Niassa ou o Uíge ou o Alfredo da Silva os levem nos seus porões nauseabundos); os desenfiados, como eu, todos os que procuram safar-se do inferno verde, quanto mais não seja por uns dias ou até umas breves horas, que o tempo aqui conta-se, de cronómetro na mão, até à fracção de segundo; os prisioneiros de guerra, esfarrapados, andrajosos, a caminho da Ilha das Galinhas; as populações do interior desalojadas pela guerra; os jovens recrutados para a nova força africana; enfim, os criminosos de guerra como o capitão P. que está aqui detido no Depósito Geral de Adidos à espera de julgamento em tribunal militar – suponho eu -, juntamente com um furriel miliciano da sua companhia. Ambos estão implicados em vários casos, muito falados, de violação e assassínio a sangue frio de bajudas, além da tortura e liquidação de suspeitos…
Já nem sequer se pode tocar no cabelo de um preto (Capitão P.)
A propósito, como os tempos mudam, meu caro!.. Em conversa com um sargento de cavalaria que teve o Velho como comandante de batalhão no Norte de Angola – conversa a que ocasionalmente assisti -, o Capitão P. (que eu não sei, nem me interessa saber, se é miliciano, ou se é do quadro, ça c'est m´égale!), mostrava-se vexado (o termo é dele) pelo facto do então tenente coronel ameaçar executar, in loco, sumariamente os guias nativos que mostrassem a mais pequena hesitação na escolha dos trilhos ou os carregadores que deliberadamente deitassem fora a água dos jericãs...
- E agora, como Com-Chefe na Guiné, não permitir sequer que se toque no cabelo de um preto!
Bissau, enfim, porto de fuga e salvação!... Embora não se possa exactamente prever até onde tudo isto irá parar, com a actual escalada da guerra, de parte a parte, aqui tu tens ao menos a reconfortante sensação de teres as malas sempre feitas, pronto a partir em qualquer altura… Mas nada te garante que embarques a tempo: é que estamos todos metidos num atoleiro e em vias de perder o último avião!...
Make love, not war. Um abraço. Até mais logo. Talvez apanhe o barco da Gouveia, amanhã. Já estou farto desta merda.
Henriques (*)
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(*) ... Luís Graça, ex-furriel miliciano da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)
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Notas de L.G.:
(1) Vd. posts anteriores desta nova série:
11 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1945: Blogue-fora-nada: O melhor de ... (1): Nunca contei uma estória de guerra aos meus filhos (Virgínio Briote)
23 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1987: Blogue-fora-nada: O melhor de... (2): Apanhados pelo macaréu e mortos no Rio Geba (Sousa de Castro, CART 3494, Xime, 1972)
(2) Vd. a série Estórias de Bissau:
11 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1266: Estórias de Bissau (1): Cabrito pé de rocha, manga di sabe (Vitor Junqueira)
11 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1267: Estórias de Bissau (2): A minha primeira máquina fotográfica (Humberto Reis); as minhas tainadas (A. Marques Lopes)
14 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1278: Estórias de Bissau (3): éramos todos bons rapazes (A.Marques Lopes / Torcato Mendonça)
17 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1286: Estórias de Bissau (4): A economia de guerra (Carlos Vinhal)
18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1288: Estórias de Bissau (5): saudosismos (Sousa de Castro)
18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1289: Estórias de Bissau (6): os prazeres... da memória (Torcato Mendonça)
18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1290: Estórias de Bissau (7): Pilão, os dez quartos (Jorge Cabral)
24 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1314: Estórias de Bissau (8): Roteiro da noite: Orion, Chez Toi, Pilão (Paulo Santiago)
22 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1391: Estórias de Bissau (9): Uma noite no Grande Hotel (José Casimiro Carvalho / Luís Graça)
2 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1484: Estórias de Bissau (10): do Pilão a Guidaje... ou as (des)venturas de um periquito (Albano Costa)
10 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1512: Estórias de Bissau (11): Paras, Fuzos e...Parafuzos (Tino Neves)
31 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1639: Estórias de Bissau (12): uma cidade militarizada (Rui Alexandrino Ferreira)
terça-feira, 13 de novembro de 2007
Guiné 63/74 - P2263: Álbum das Glórias (34): Fotografias do Américo Estanqueiro na Fundação Mário Soares (Virgínio Briote / Fernando Barata)
Lisboa > Fundação Mário Soares > Folheto da Exposição Fotográfica do Américo Estanqueiro, uma obra que retrata em imagens o que a CCAÇ 2700 passou pelas terras de Dulombi/Galomaro, entre 1970 e 1972.
1. Comentário do co-editor vb:
Esteve lá muita gente, alguns muito conhecidos, outros nem tanto (1): o major Tomé, o historiador Fernando Rosas, o Dias da Cunha, ex-presidente do Sporting Club de Portugal, o Helder de Jesus (o homem das transmissões do QG, que no início dos anos 70 ouvia tudo o que podia, fossem relatos nossos ou do PAIGC), o Teco e o Guedes, ambos da CCAÇ 726 (a que ergueu o aquartelamento de Guileje), donos de um espólio de imagens ainda por mostrar ao público e alguns camaradas da CCAÇ 2700, que comentavam com pormenor uma ou outra foto com o Américo Estanqueiro.
co-editor: vb
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2. Uma pequena amostra da Exposição > Texto do Fernando Barata
Às 21h30 de de 30 de Abril 1970 fundeámos ao largo de Bissau. A 1 de Maio iniciou-se o transbordo através do navio Rita Maria.
A 10 de Agosto 1970, próximo do Jifim, uma viatura acciona uma mina A/C, a qual provocou a morte, já no Hospital de Bissau, do 1.º Cabo António Carrasqueira e a morte imediata de 4 milícias (urnas destinavam-se aos milícias).
Ainda hoje me recordo, ao aproximarmo-nos do quartel, ser questionado pelo condutor que conduzia a viatura que transportava os corpos, se deveríamos entrar no quartel, tal era o estado em que os milícias se encontravam.
O descanso do guerreiro numa das 44 operações realizadas ao longo daqueles quase 2 anos de actividade, com nomes de código que iriam desde "Menina Rabina" até "Cidade Maravilhosa".
Fernando Barata
Fotos: Arménio Estanqueiro (2007). Direitos reservados (com a devida vénia...)
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Nota de vb:
(1) como oportunamente ontem, duas horas depois ou nem tanto, o Luís Graça retratou no
post (de 12 de Novembro de 2007) > Guiné 63/74 - P2260: Álbum das Glórias (33): Inauguração da exposição de fotografia do Américo Estanqueiro, hoje, na Fundação Mário Soares
Guiné 63/74 - P2262: Exibição do filme As Duas Faces da Guerra (1): Castro Verde (16/11) e Coimbra (4/12) (Diana Andringa / Fernando Barata)
Flora Gomes, cineasta guineense, um dos mais conceituadops do cinema africano actual. É co-realizador, com a portuguesa Diana Andringa, membro da nossa Tabanca Grande, do filme-documentário As Duas Faces da Guerra (Portugal/Guiné, 2007)
1. Mensagem da Diana Andringa, de 9 de Novembro último:
Assunto - As Duas Faces da Guerra, em Castro Verde
Não sei se pode interessar algum dos bloguistas, mas... o nosso documentário vai ser exibido dia 16 [de Novembro], às 21H30, no Anfiteatro do Forum Municipal de Castro Verde.
Abraço, Diana
2. Mensagem de L.G., enviada através da tertúlia, no dia de São Martinho:
Malta (alentejana, sobretudo...):
Eis uma boa notícia... Quem puder ir a Castro Verde... [ Fui lá muitas vezes, quando fiz um estudo sobre a Mina da Somincor]...
Mas vamos ver se o filme da Diana / Flora (e que também é um bocado nosso e do IN de ontem, - que raio de nome, IN, tem a razão a Diana, ao pô-lo entre parênteses) chega também a outros sítios do nosso Portugal...
Vou pedir à Diana para nos avisar quando ele passar na RTP, como esperamos que isso venha a acontecer (em breve ?)...
Saudações para toda a Tabanca Grande, em dia de São Martinho. Luís
3. Resposta (ou melhor, pergunta, rápida, do Fernando Barata:
Luigi... E COIMBRA??? (tu, também, cá vieste muitas vezes estudar as noites da Queima...)
Aquele abraço, F. Barata
4. Resposta, quase instantânea da Diana Andringa (cque é a co-realizadora do filme):
Calma! Se arranjarem uma sessão, como fizeram em Castro Verde, leva-se o filme.
Diana
5. Cheque-mate à rainha, por parte do estratego de Coimbra:
Luís: A isto chama-se eficiência!
Documentário: As Duas Faces da GuerraData: 4 de Dezembro - 16H00 (BOLAS!!! os alentejanos de Castro Verde foram mais rápidos que nós)
Local: Auditório da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
Debate: Diana Andringa, Prof. Dr. José Manuel Pureza, Major-General Pedro Pezarat Correia
Presenças esperadas: Luís Graça, Vírgíno Briote, Carlos Vinhal
Aquele abraço
F. Barata
Luís
A isto chama-se eficiência.
Documentário: "As Duas Faces da Guerra"
Data: 4 de Dezembro - 16H00 (BOLAS!!! os alentejanos de Castro Verde foram mais rápidos que nós)
Local: Auditório da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
Debate: Diana Andringa, Prof. Dr. José Manuel Pureza, Major-General Pedro Pezarat Correia.
Presenças esperadas: Luís Graça, Vírgíno Briote, Carlos Vinhal
Aquele abraço
F. Barata
Calma! Se arranjarem uma sessão, como fizeram em Castro Verde, leva-se o filme.
Diana
5. Cheque-mate à rainha, por parte do estratego de Coimbra:
Luís: A isto chama-se eficiência!
Documentário: As Duas Faces da GuerraData: 4 de Dezembro - 16H00 (BOLAS!!! os alentejanos de Castro Verde foram mais rápidos que nós)
Local: Auditório da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
Debate: Diana Andringa, Prof. Dr. José Manuel Pureza, Major-General Pedro Pezarat Correia
Presenças esperadas: Luís Graça, Vírgíno Briote, Carlos Vinhal
Aquele abraço
F. Barata
Luís
A isto chama-se eficiência.
Documentário: "As Duas Faces da Guerra"
Data: 4 de Dezembro - 16H00 (BOLAS!!! os alentejanos de Castro Verde foram mais rápidos que nós)
Local: Auditório da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
Debate: Diana Andringa, Prof. Dr. José Manuel Pureza, Major-General Pedro Pezarat Correia.
Presenças esperadas: Luís Graça, Vírgíno Briote, Carlos Vinhal
Aquele abraço
F. Barata
Guiné 63/74 - P2261: Vídeos da guerra (5): Nos bastidores da Op Paris Match: as (in)confidências de Marcelo Caetano (Manuel Domingues)
1. Mensagem de Manuel Domingues, ex-Alf Mil, Comandante do Pel Rec Info, CCS/BCAÇ 1856 (Nova Lamego, 1965/67) (1)
Caros tertulianos:
Relativamente ao filme da ORTF e à reportagem do Paris Match (2), posso adiantar o seguinte: Partipei em Setembro e Outubro de 1969 no apoio à equipa da ORTF que realizou o filme e que incluiu Portugal e o Ultramar, com deslocações do Minho a Timor, captando imagens em todas as possessões ultramarinas. Esta equipa englobava cerca de uma dúzia de pessoas, entre as quais uma jornalista do Paris Match e um do Figaro.
O objectivo inicial era recolher material para incluir no programa Point-Contrepoint (tipo Prós e Contras) em que de um lado se afirmava que Portugal era uma potência colonialista, que explorava os povos coloniais que lutavam pela sua libertação. Esta ideia era suportada em reportagens e depoimentos fornecidos pelos movimentos de libertação a que se juntavam alguns opositores do regime, no exílio, entre os quais Manuel Alegre (3).
Do outro pretendia-se refutar esta ideia, afirmando a ideia de que o Ultramar fazia parte integrante de Portugal e mostrando o grau e ritmo de desenvolvimento que se estava a processar, sobretudo em Angola e Moçambique.
A equipa responsável pelo programa, durante as negociações, pôs como condição poder verificar com total liberdade a realidade em todos os territórios, sobretudo na Guiné, Angola e Moçambique, onde se desenvolviam as lutas de libertação.
O Governo Português aceitou, apenas impondo como condição que o elemento que tinha apoiado a equipa nas suas deslocações em Portugal e no Ultramar estivesse presente nos estúdios da ORTF para assistir à montagem do filme, evitando surpresas que já tinham acontecido em programas idênticos nos Estados Unidos onde a ideia de confronto acabou por ser subvertida e resultou num manifesto antiportuguês. Portanto, e em resumo, tive a oportunidade de acompanhar todo o processo.
Assim, no dia da assinatura do Armistício, 11 de Novembro de 1969 [, feriado nacional em França, comemorativo do fim da I Grande Guerra Mundial, 1914-1918], o programa foi para o ar. O grau de imparcialidade, relativo, conferiu-lhe um sucesso na crítica francesa da especialidade e alguma satisfação ao Governo Português de então que pela primeira vez não deu por mal empegue o montante gasto no apoio ao Programa, suportando o custo das viagens e estadia de todos os elementos, durante cerca de um mês.
O próprio Marcello Caetano quis ver a cópia que eu tinha trazido e foi durante a sessão, quando viu a cena da emboscada na Guiné que pulverizou dois dos elementos das NT, pronunciou para mim a esperançosa frase:
- Temos que acabar com esta guerra (*).
O impacto na opinião francesa e o elevado volume de material recolhido nos próprios locais levou os produtores da ORTF a fazerem vários documentários.
Já não disponho do exemplar do Paris Match nem da cópia do filme, mas ainda disponho da reportagem do Fígaro da mesma altura, onde o autor define Spínola como um misto de Goering e de Marquês de Cuevas, reportagem essa que vou tentar digitalizar e que enviarei depois para os nossos tertulianos.
Um abraço cordial do
Manuel Domingues
(*) Vd: Novo Contacto com a Guiné: a esperança marcelista em Uma Campanha na Guiné, do Autor.
_________
Notas de L.G.:
(1) Vd. posts de:
4 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXXVI: A vingança da PIDE (Manuel Domingues)
(...) Não bastava ser bom militar. Era também necessário estar nas boas graças da PIDE. A maior parte dos oficiais milicianos, que não aspirava a ser funcionário público, podia encontrar refúgio na sua condição temporária de militar, mas à saída, a PIDE esperava por ele para acertar contas!" (...).
18 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXI: Bibliografia de uma guerra (5)
(..) Manuel Domingues, nascido em Castro Laboreiro, em 1941, frequentou o Curso de Rangers e fez parte do BCAÇ 1856 (1965/67). Como Alferes Miliciano, foi Comandante do Pelotão de Reconhecimento e Informação, tendo desempenhado as funções de oficial de Informações e, durante alguns meses, a de Oficial de Operações.
O BCAÇ 1856 esteve no Leste, Sector L3, com o Comando e CCS sediados em Nova Lamegoe as companhias operacionais em Madina do Boé (CCAÇ 1416, com um destacamento em Béli; em Bajocunda (CCAÇ 1417, com um destacamento em Copá); e em Buruntuma (CCAÇ 1418, com um destacamento em Ponte Caiúm).
É Autor do livro Uma Campanha na Guiné (com estórias e testemunhos de vários camaradas do batalhão) bem como de O Pegureiro e o Lobo – Estórias de Castro Laboreiro (2005).
(2) Vd. posts anteriores:
8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2249: Vídeos da guerra (2): Uma das raras cenas de combate, filmadas ao vivo (ORTF, 1969, c. 14 m) (Luís Graça / Virgínio Briote)
8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2250: Vídeos da guerra (3): Bastidores da Op Ostra Amarga ou Op Paris Match (Bula, 18Out1969) (Virgínio Briote / Luís Graça)
11 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2256: Vídeos da guerra (4): Ainda nos bastidores da Operação Paris Match (Torcato Mendonça / Luís Graça / Diana Andringa)
(3) Nota autobiográfica de Manuel Alegre:
(i) Manuel Alegre de Melo Duarte nasceu a 12 de Maio de 1936 em Águeda;
(ii) Estudou Direito na Universidade de Coimbra, onde foi um activo dirigente estudantil;
(iii) Apoiou a candidatura do General Humberto Delgado [em 1958];
(iv) A sua tomada de posição sobre a ditadura e a guerra colonial levam o regime de Salazar a chamá-lo para o serviço militar em 1961, sendo colocado nos Açores, onde tenta uma ocupação da ilha, com Melo Antunes;
(v) Em 1962 é mobilizado para Angola, onde dirige uma tentativa pioneira de revolta militar;
(vi) É preso pela PIDE em Luanda, em 1963, durante 6 meses;
(vii) Na cadeia conhece escritores angolanos como Luandino Vieira, António Jacinto e António Cardoso;
(viii) Colocado com residência fixa em Coimbra, acaba por passar à clandestinidade e sair para o exílio em 1964;
(ix) Passa dez anos exilado em Argel, onde é dirigente da Frente Patriótica de Libertação Nacional (FPLN); aos microfones da emissora A Voz da Liberdade, a sua voz converte-se num símbolo de resistência e liberdade;
(x) Entretanto, os seus dois primeiros livros, Praça da Canção (1965) e O Canto e as Armas (1967) são apreendidos pela censura, mas passam de mão em mão em cópias clandestinas, manuscritas ou dactilografadas;
(xi) Poemas seus, cantados por Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira, tornam-se emblemáticos da luta pela liberdade;
(xii) Regressa finalmente a Portugal em 2 de Maio de 1974, dias após o 25 de Abril. (...)
Caros tertulianos:
Relativamente ao filme da ORTF e à reportagem do Paris Match (2), posso adiantar o seguinte: Partipei em Setembro e Outubro de 1969 no apoio à equipa da ORTF que realizou o filme e que incluiu Portugal e o Ultramar, com deslocações do Minho a Timor, captando imagens em todas as possessões ultramarinas. Esta equipa englobava cerca de uma dúzia de pessoas, entre as quais uma jornalista do Paris Match e um do Figaro.
O objectivo inicial era recolher material para incluir no programa Point-Contrepoint (tipo Prós e Contras) em que de um lado se afirmava que Portugal era uma potência colonialista, que explorava os povos coloniais que lutavam pela sua libertação. Esta ideia era suportada em reportagens e depoimentos fornecidos pelos movimentos de libertação a que se juntavam alguns opositores do regime, no exílio, entre os quais Manuel Alegre (3).
Do outro pretendia-se refutar esta ideia, afirmando a ideia de que o Ultramar fazia parte integrante de Portugal e mostrando o grau e ritmo de desenvolvimento que se estava a processar, sobretudo em Angola e Moçambique.
A equipa responsável pelo programa, durante as negociações, pôs como condição poder verificar com total liberdade a realidade em todos os territórios, sobretudo na Guiné, Angola e Moçambique, onde se desenvolviam as lutas de libertação.
O Governo Português aceitou, apenas impondo como condição que o elemento que tinha apoiado a equipa nas suas deslocações em Portugal e no Ultramar estivesse presente nos estúdios da ORTF para assistir à montagem do filme, evitando surpresas que já tinham acontecido em programas idênticos nos Estados Unidos onde a ideia de confronto acabou por ser subvertida e resultou num manifesto antiportuguês. Portanto, e em resumo, tive a oportunidade de acompanhar todo o processo.
Assim, no dia da assinatura do Armistício, 11 de Novembro de 1969 [, feriado nacional em França, comemorativo do fim da I Grande Guerra Mundial, 1914-1918], o programa foi para o ar. O grau de imparcialidade, relativo, conferiu-lhe um sucesso na crítica francesa da especialidade e alguma satisfação ao Governo Português de então que pela primeira vez não deu por mal empegue o montante gasto no apoio ao Programa, suportando o custo das viagens e estadia de todos os elementos, durante cerca de um mês.
O próprio Marcello Caetano quis ver a cópia que eu tinha trazido e foi durante a sessão, quando viu a cena da emboscada na Guiné que pulverizou dois dos elementos das NT, pronunciou para mim a esperançosa frase:
- Temos que acabar com esta guerra (*).
O impacto na opinião francesa e o elevado volume de material recolhido nos próprios locais levou os produtores da ORTF a fazerem vários documentários.
Já não disponho do exemplar do Paris Match nem da cópia do filme, mas ainda disponho da reportagem do Fígaro da mesma altura, onde o autor define Spínola como um misto de Goering e de Marquês de Cuevas, reportagem essa que vou tentar digitalizar e que enviarei depois para os nossos tertulianos.
Um abraço cordial do
Manuel Domingues
(*) Vd: Novo Contacto com a Guiné: a esperança marcelista em Uma Campanha na Guiné, do Autor.
_________
Notas de L.G.:
(1) Vd. posts de:
4 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXXVI: A vingança da PIDE (Manuel Domingues)
(...) Não bastava ser bom militar. Era também necessário estar nas boas graças da PIDE. A maior parte dos oficiais milicianos, que não aspirava a ser funcionário público, podia encontrar refúgio na sua condição temporária de militar, mas à saída, a PIDE esperava por ele para acertar contas!" (...).
18 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXI: Bibliografia de uma guerra (5)
(..) Manuel Domingues, nascido em Castro Laboreiro, em 1941, frequentou o Curso de Rangers e fez parte do BCAÇ 1856 (1965/67). Como Alferes Miliciano, foi Comandante do Pelotão de Reconhecimento e Informação, tendo desempenhado as funções de oficial de Informações e, durante alguns meses, a de Oficial de Operações.
O BCAÇ 1856 esteve no Leste, Sector L3, com o Comando e CCS sediados em Nova Lamegoe as companhias operacionais em Madina do Boé (CCAÇ 1416, com um destacamento em Béli; em Bajocunda (CCAÇ 1417, com um destacamento em Copá); e em Buruntuma (CCAÇ 1418, com um destacamento em Ponte Caiúm).
É Autor do livro Uma Campanha na Guiné (com estórias e testemunhos de vários camaradas do batalhão) bem como de O Pegureiro e o Lobo – Estórias de Castro Laboreiro (2005).
(2) Vd. posts anteriores:
16 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1958: Vídeos da guerra (1): PAIGC: Viva Portugal, abaixo o colonialismo (Luís Graça / Virgínio Briote)
8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2249: Vídeos da guerra (2): Uma das raras cenas de combate, filmadas ao vivo (ORTF, 1969, c. 14 m) (Luís Graça / Virgínio Briote)
8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2250: Vídeos da guerra (3): Bastidores da Op Ostra Amarga ou Op Paris Match (Bula, 18Out1969) (Virgínio Briote / Luís Graça)
11 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2256: Vídeos da guerra (4): Ainda nos bastidores da Operação Paris Match (Torcato Mendonça / Luís Graça / Diana Andringa)
(3) Nota autobiográfica de Manuel Alegre:
(i) Manuel Alegre de Melo Duarte nasceu a 12 de Maio de 1936 em Águeda;
(ii) Estudou Direito na Universidade de Coimbra, onde foi um activo dirigente estudantil;
(iii) Apoiou a candidatura do General Humberto Delgado [em 1958];
(iv) A sua tomada de posição sobre a ditadura e a guerra colonial levam o regime de Salazar a chamá-lo para o serviço militar em 1961, sendo colocado nos Açores, onde tenta uma ocupação da ilha, com Melo Antunes;
(v) Em 1962 é mobilizado para Angola, onde dirige uma tentativa pioneira de revolta militar;
(vi) É preso pela PIDE em Luanda, em 1963, durante 6 meses;
(vii) Na cadeia conhece escritores angolanos como Luandino Vieira, António Jacinto e António Cardoso;
(viii) Colocado com residência fixa em Coimbra, acaba por passar à clandestinidade e sair para o exílio em 1964;
(ix) Passa dez anos exilado em Argel, onde é dirigente da Frente Patriótica de Libertação Nacional (FPLN); aos microfones da emissora A Voz da Liberdade, a sua voz converte-se num símbolo de resistência e liberdade;
(x) Entretanto, os seus dois primeiros livros, Praça da Canção (1965) e O Canto e as Armas (1967) são apreendidos pela censura, mas passam de mão em mão em cópias clandestinas, manuscritas ou dactilografadas;
(xi) Poemas seus, cantados por Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira, tornam-se emblemáticos da luta pela liberdade;
(xii) Regressa finalmente a Portugal em 2 de Maio de 1974, dias após o 25 de Abril. (...)
segunda-feira, 12 de novembro de 2007
Guiné 63/74 - P2260: Álbum das Glórias (33): Inauguração da exposição de fotografia do Américo Estanqueiro, hoje, na Fundação Mário Soares
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > O Américo Estanqueiro, ex-Fur Mil da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) autografando o catálogo da sua exposição para o antigo camarada de armas Joaquim Alves, ex-Fur Mil Enf.
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > O fotógrafo Américo Estanqueiro, à esquerda, conversando com o Gomes, ex-Fur Mil Mecânico Auto, da CCS do BCAÇ 2912, sediada em Galomaro (1970/72).
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > Camaradas do Américo Estanqueiro da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) : da esquerda para a direita: o Manuel Maria Brunheta (ex-Sold Trms), o Joaquim Alves (ex-Fur Mil Enf), Carlos Gomes (ex-Cap QP, hoje coronel na reforma), o Manuel Ravasco (ex-Alf Mil) e o Gomes (este, já acima referido, ex-Fur Mil Mec Auto da CCS do BCAÇ 2912).
Muito falado, por todos estes camaradas e pelo próprio Américo Estanqueiro, foi o nosso amigo Fernando Barata, ex-Alf Mil da companhia (Vive em Coimbra, não tendo podido estar presente neste acontecimento que foi gratificante para todos).
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > O nosso co-editor Virgínio Briote em conversa com o Mário Tomé (mais conhecido como o major Tomé, hoje coronel na reforma, e que teve duas comissões na Guiné, a última das quais como capitão, comandante da CCAV 2712 (Olossato e Nhacra, 1970/72), unidade a que pertenceu o nosso querido amigo e camarada Paulo Salgado (ex-Alf Mil). Eu não conhecia o Mário Tomé, pessoalmente. Tive oportunidade de lhe falar do Paulo e do nosso blogue, sobre o qual mostrou muito interesse e prometeu ir visitar.
Por detrás do Virgínio, vê-lhe a sua simpatiquíssima esposa, que é professora de português na Escola Secundária Passos Manuel e que o acompanha sempre nestas actividades... tertulianas. Por isto e por tudo, ela merecia uma foto como devia ser... Mas desta vez o fotógrafo falhou... I'm sorry, lady...
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > A nossa amiga Diana Andringa, jornalista e co-realizador do filme As Duas Faces da Guerra (2007), que é, além disso, esposa do Dr. Alfredo Caldeira, responsável, entre outras funções, pelos arquivos da FMS... (A propósito, em conversa com ele, mostrou-se aberto à possibilidade de se realizar outras exposições a partir do espólio fotográfico de alguns membros da nossa tertúlia: falei-lhe em especial do álbum - que considero notável - do Idálio Reis sobre Gandembel / Balana, Abril de 1968/Janeiro de 1969)...
Aproveitei para tirar à Diana uma chapa para a nossa fotogaleria dos amigos e camaradas da Guiné... Há tempos havia-a convidado para fazer parte da nossa Tabanca Grande. Hoje obtive a sua anuência, o que muito me/nos honra... Mas, para ela, também é um prazer passar a ser considerada, de pleno direito, uma "bloguista", leia-se, membro do nosso blogue... A propósito do seu filme, deu-me promessas de boas notícias (que eu ainda não estou autorizado a divulgar)...
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > Inauguração da exposição fotográfica do nosso camarada António Estanqueiro > Tendo como pano de fundo, a fotografia-ícone da exposição (a partida, aos trambolhões, do pessoal da CCAÇ 2700, de Bissau até ao Xime, em LDG), vemos no lado esquerdo o nosso amigo e camarada de tertúlia Helder de Sousa e, à direita, o Mário Tomé...
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > Na inauguração da exposição fotográfica do Américo Estanqueiro estavam muitas caras conhecidas da nossa vida social e política, a começar pelo ex-Presidente da República Mário Soares, o sempre activo e afável presidente da FMS... Mas também muitas caras femininas, simpáticas... Para além de amigas e familiares do Estanqueiro, registe-se aqui a presença da esposa do Prof Doutor Fernando Rosas, a Raquel Bagulho - que é minha / nossa amiga de longa data (à sua direita, a Maria Alice, minha mulher)... Ao fundo, vêm-se fotos da exposição.
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > De novo o Virgínio Briote e o Mário Tomé... (que o Briote terá conhecido ainda como tenente, na Guiné)...
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > Um encontro inesperado: o Virgínio Briote com o Teco e o Guedes... Estes dois últimos estiveram em Guileje, na CCAÇ 726, sob o comando do Nuno Rubim... Voltarama agora a colaborar juntos no projecto Guileje... Vd. post de 14 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1173: A fortificação de Guileje (Nuno Rubim, Teco e Guedes, CCAÇ 726) ... O Teco, que é natural de Angola, tem um fabuloso arquivo fotográfico desse tempo (mais de 500 fotos); o Guedes (que depois foi camarada do Briote nos comandos), é especialista em dioramas... O Nuno Rubim tem neles dois grandes amigos e colaboradores.
Comentário de L.G.:
O Américo agradeceu-nos muito o destaque que demos a este evento no nosso blogue. É homem afável e simples. Gostei de o conhecer, embora tivesse sido escasso o tempo de conversa, por razões óbvias.
Ele mora em Queluz. É natural do concelho de Alvaiázere, distrito de Leiria. Nasceu em 1947.
Embarcou para a Guiné no N/M Carvalho Araújo em 24 de Abril de 1970. Ao longo da sua vida militar fez fotografia com objectivos comerciais. Logo no barco, montou um laboratório. E em Dulombi comprou - supremo luxo! - um gerador.
O Estanqueiro foi o fotógrafo da companhia. Ainda hoje continua a trabalhar em fotografia, depois de uma vida algo atribulada que o levou inclusive à emigração na Venezuela. Durante o serviço militar, acumulou mais de 6 mil negativos que, infelizmente, foram destruídos.
A sua exposição ficará aberta ao público até ao final do ano. O catálogo com textos de Mário Soares, de Alfredo Caldeira e de José Pessoa, além das fotografias do Américo Estanqueiro, custa 10 €.
Do texto do José Pessoa - A Viagem - destaco o último parágrafo:
Afinal, a viagem só termina quando se arrumam as bagagens e as memórias.
Fotos: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.
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Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > O fotógrafo Américo Estanqueiro, à esquerda, conversando com o Gomes, ex-Fur Mil Mecânico Auto, da CCS do BCAÇ 2912, sediada em Galomaro (1970/72).
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > Camaradas do Américo Estanqueiro da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) : da esquerda para a direita: o Manuel Maria Brunheta (ex-Sold Trms), o Joaquim Alves (ex-Fur Mil Enf), Carlos Gomes (ex-Cap QP, hoje coronel na reforma), o Manuel Ravasco (ex-Alf Mil) e o Gomes (este, já acima referido, ex-Fur Mil Mec Auto da CCS do BCAÇ 2912).
Muito falado, por todos estes camaradas e pelo próprio Américo Estanqueiro, foi o nosso amigo Fernando Barata, ex-Alf Mil da companhia (Vive em Coimbra, não tendo podido estar presente neste acontecimento que foi gratificante para todos).
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > O nosso co-editor Virgínio Briote em conversa com o Mário Tomé (mais conhecido como o major Tomé, hoje coronel na reforma, e que teve duas comissões na Guiné, a última das quais como capitão, comandante da CCAV 2712 (Olossato e Nhacra, 1970/72), unidade a que pertenceu o nosso querido amigo e camarada Paulo Salgado (ex-Alf Mil). Eu não conhecia o Mário Tomé, pessoalmente. Tive oportunidade de lhe falar do Paulo e do nosso blogue, sobre o qual mostrou muito interesse e prometeu ir visitar.
Por detrás do Virgínio, vê-lhe a sua simpatiquíssima esposa, que é professora de português na Escola Secundária Passos Manuel e que o acompanha sempre nestas actividades... tertulianas. Por isto e por tudo, ela merecia uma foto como devia ser... Mas desta vez o fotógrafo falhou... I'm sorry, lady...
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > A nossa amiga Diana Andringa, jornalista e co-realizador do filme As Duas Faces da Guerra (2007), que é, além disso, esposa do Dr. Alfredo Caldeira, responsável, entre outras funções, pelos arquivos da FMS... (A propósito, em conversa com ele, mostrou-se aberto à possibilidade de se realizar outras exposições a partir do espólio fotográfico de alguns membros da nossa tertúlia: falei-lhe em especial do álbum - que considero notável - do Idálio Reis sobre Gandembel / Balana, Abril de 1968/Janeiro de 1969)...
Aproveitei para tirar à Diana uma chapa para a nossa fotogaleria dos amigos e camaradas da Guiné... Há tempos havia-a convidado para fazer parte da nossa Tabanca Grande. Hoje obtive a sua anuência, o que muito me/nos honra... Mas, para ela, também é um prazer passar a ser considerada, de pleno direito, uma "bloguista", leia-se, membro do nosso blogue... A propósito do seu filme, deu-me promessas de boas notícias (que eu ainda não estou autorizado a divulgar)...
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > Inauguração da exposição fotográfica do nosso camarada António Estanqueiro > Tendo como pano de fundo, a fotografia-ícone da exposição (a partida, aos trambolhões, do pessoal da CCAÇ 2700, de Bissau até ao Xime, em LDG), vemos no lado esquerdo o nosso amigo e camarada de tertúlia Helder de Sousa e, à direita, o Mário Tomé...
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > Na inauguração da exposição fotográfica do Américo Estanqueiro estavam muitas caras conhecidas da nossa vida social e política, a começar pelo ex-Presidente da República Mário Soares, o sempre activo e afável presidente da FMS... Mas também muitas caras femininas, simpáticas... Para além de amigas e familiares do Estanqueiro, registe-se aqui a presença da esposa do Prof Doutor Fernando Rosas, a Raquel Bagulho - que é minha / nossa amiga de longa data (à sua direita, a Maria Alice, minha mulher)... Ao fundo, vêm-se fotos da exposição.
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > De novo o Virgínio Briote e o Mário Tomé... (que o Briote terá conhecido ainda como tenente, na Guiné)...
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > Um encontro inesperado: o Virgínio Briote com o Teco e o Guedes... Estes dois últimos estiveram em Guileje, na CCAÇ 726, sob o comando do Nuno Rubim... Voltarama agora a colaborar juntos no projecto Guileje... Vd. post de 14 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1173: A fortificação de Guileje (Nuno Rubim, Teco e Guedes, CCAÇ 726) ... O Teco, que é natural de Angola, tem um fabuloso arquivo fotográfico desse tempo (mais de 500 fotos); o Guedes (que depois foi camarada do Briote nos comandos), é especialista em dioramas... O Nuno Rubim tem neles dois grandes amigos e colaboradores.
Comentário de L.G.:
O Américo agradeceu-nos muito o destaque que demos a este evento no nosso blogue. É homem afável e simples. Gostei de o conhecer, embora tivesse sido escasso o tempo de conversa, por razões óbvias.
Ele mora em Queluz. É natural do concelho de Alvaiázere, distrito de Leiria. Nasceu em 1947.
Embarcou para a Guiné no N/M Carvalho Araújo em 24 de Abril de 1970. Ao longo da sua vida militar fez fotografia com objectivos comerciais. Logo no barco, montou um laboratório. E em Dulombi comprou - supremo luxo! - um gerador.
O Estanqueiro foi o fotógrafo da companhia. Ainda hoje continua a trabalhar em fotografia, depois de uma vida algo atribulada que o levou inclusive à emigração na Venezuela. Durante o serviço militar, acumulou mais de 6 mil negativos que, infelizmente, foram destruídos.
A sua exposição ficará aberta ao público até ao final do ano. O catálogo com textos de Mário Soares, de Alfredo Caldeira e de José Pessoa, além das fotografias do Américo Estanqueiro, custa 10 €.
Do texto do José Pessoa - A Viagem - destaco o último parágrafo:
Afinal, a viagem só termina quando se arrumam as bagagens e as memórias.
Fotos: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.
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