domingo, 28 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5909: Os nossos camaradas guineenses (25): José Carlos Suleimane Baldé, ex-1º Cabo, CCAÇ 12 (Contuboel, Bambadinca e Xime, 1969/74), vive em Amedalai e sonha com Portugal, Não tenhas medo, que aqui é Portugal! (Odete Cardoso / J.L. Vacas de Carvalho)


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Finete, regulado do Cuor > 1969: Destacamento de milícias e aldeia em autodefesa de Finete, junto ao Rio Geba. Na foto, o furriel miliciano Luís Manuel da Graça Henriques e dois dos soldados africanos da CCAÇ 2590/CCAÇ 12, do 4º Grupo de Combate, o Soldado Arvorado (mais tarde promovido a 1º cabo) José Carlos Suleimane Baldé e o Soldado Umarú Baldé, apontador de morteiro 60. Umaru, o puto, na foto, de pé, de cachimbo: na época teria 16 ou 17 anos... A sua recruta e a instrução de especialidade destes dois militares do recrutamento local foi feita em  Contuboel (Abril/Julho de 1969) (*). O Umaru veio para Portugal, onde morreu, há uns anos, de doença. O José Carlos,  que era ligeiramente mais velho (18 ? 19?), vive em Amedalai, uma tabanca fula do regulado do Xime, na estrada Xime-Bambadinca. Andará hoje na casa dos 60 anos.


Foto: © Luís Graça (2005). Direitos reservados


Guiné-Bissau > Regiãod e Bafatá > Xime > Amedalai > 26 de Julho de 2006 > O José Carlos com a família.

Foto: Odete Cardoso (2010). Direitos reservados


Extracto de um carta que o José Carlos mandou à Maria Odete Cardoso, esposa do ex-Alf Mil Jaime Pereira, da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1971/72) e onde transcreve, sob a forma de poema, o sonho que teve, a sua visão de Portugal e o seu desejo, que quer ver concretizado antes de morrer, de conhecer Portugal. Não sei qual a data mas deve ser recente. A Odete corresponde-se com o José Carlos, desde 2000, depois de uma ida à Guiné, com o marido, em 1999, e otro camarada, o José Sobral.


Sonhei com Portugal,
por José Carlos Suleimane Baldé


Era uma noite,
calma,
serena!
Um ambiente bem silencioso!
Vejo os céus de Portugal.
Alguém disse:
- Levanta a cabeça!
Nos céus sem nuvens
vi variadíssimas estrelas
que nunca vira antes!
De repente soou um grito,
dizendo:
- Não tenhas medo,
que aqui é Portugal!

[ Revisão / fixação de texto: L.G.]



1. Mensagem, de 25 do corrente, do José Luís Vacas de Carvalho, membro da nossa Tabanca Grande, ex-Alf Mil Cav, Pelotão Daimler 2206, e também instrutor de companhias de milícias (Bambadinca, 1970/71) [, foto à esquerda]

Caríssimos: Recebi esta msg, da Maria Odete Cardoso, casada com o ex-alferes Jaime Pereira [, da CCAÇ 12, Bambadinca, 1971/72]. Achei muita piada. O Zé Carlos foi soldado das duas CCAÇ 12 [, 1969/71 e 1971/72]. Tem uma filha em Portugal e gostava de a vir ver. O resto está dito pelo Odete.

Um abraço a toda a Tabanca
Zé Luis

2. Mensagem da Odete Cardoso, com data de 25 do corrente, com conhecimento ao Victor Alves (ex-Fur Mil SAM, da CCAÇ 12, 1971/72), residente em Santarém:

Vaquinhas: Aqui vai o que enviei ao V.A. Envio por 2 vezes. Podes usar a foto e o poema no blogue, se considerares adequadas.

Eu tenho uma carta em que ele recorda os militares da CC12 anterior [ 1969/71] (**).

Um abraço. Odete


3. Mensagem, de 23 do corrente, enviada por Odete Cardoso ao Victor Alves:

Contribuir para a realização de um sonho... põe-se a questão:
- Quem é que fica mais feliz? O  que realiza o sonho, ou os que proporcionam a sua realização?

Se o quisermos fazer temos de nos apressar, pois os vossos homens guineenses,  com 60 anos,  já estão na meta da esperança de vida em África.

Eu mantenho correspondência com o José Carlos desde o ano 2000 e, em 2004, quando lhe nasceu uma filha ele deu-lhe o meu nome e daí eu fazer-lhe chegar, via nossa embaixada em Bissau, alguma ajuda.

Penso que se os 2 grupos da CCAÇ 12 quisessem contribuir com uma quantia a partir de 10 euros cada, conseguiríamos o montante para a viagem de avião e assim ele poderia estar presente no almoço de 2010.

Mando-te uma fotografia dele, tirada em 2006, com roupinha from Portugal, a última carta que me enviou, agradecendo um telemóvel e uns sapatos e um poema em que ele sonha visitar Portugal.

Tu é que és o homem das relações públicas.

Um grande abraço. Aparece com a tua Lena.

Odete Cardoso

4. Mensagem enviada por L.G. ao J.L. Vacas de Carvalho:

Meu caro José Luís:

Fico-te muito grato pelas notícias sobre o nosso José Carlos Suleimane Baldé, do 4º Grupo de Combate da CCAÇ 12 (1969/71)... Fizemos diversas operações juntos, estivemos em tabancas em autodefesa... Ele foi meu cozinheiro, guarda-costas, intérprete, aluno, bom amigo... Foi o nosso 1º Cabo Africano, promovido depois de ter feito a 4ª classe... Andava sempre de caderninho na mão, e lapiseira... Era humilde, atento, prestável, dedicado... Tenho uma foto dele com o puto Umaru, que já morreu [, tirada em Finete, na margem direita do Geba Estreito]. O António Marques vai também ficar feliz por saber dele e poder ajudá-lo. Vamos combinar como o poderemos ajudar... (Caímos junto, o eu, o Marques, o Umaru, o José Carlos... na fatídica mina A/C, em Nhabijões, em 13 de Janeiro de 1971, duas secções da CCAÇ 12, lembras-te...).

Por mim, tudo farei para o ajudar... Podemos mobilizar o blogue. Adorei o poema dele... [ Merece uma análise de conteúdo: devido a uma forte aculturação - ele conviveu com os portugueses desde 1969 até 1974 -, Portugal surge-lhe, no seu imaginário, como um verdadeiro eldorado]. O ano passado, quando fui à Guiné, em Março, falaram-me dele, que vivia em Amedalai (***)... Infelizmente não passei pelo Xime. E por Bambadinca, foi a correr. Vou publicar o teu texto e o da Odete no blogue. Já falei ao Victor, esta manhã. E tentei contactar a Odete. Infelizmente, já não me lembro do Jaime. A sobreposição foi curta. Vim-me embora no princípio de Março de 1971, seguindo de Bambadinca para Bissau, onde aguardei transporte para a Metrópole. Mas espero poder encontrar-me com ele, a Odete, o Jaime e tu, numa próxima oportunidade.

A foto do José Carlos não abre, por que vem em formato dmi. Não tenho programa para a abrir. Não é possivel digitalizarem a foto em formato jpg, que é o mais compatível com a linguagem em html do blogue ? Estou em casa: telef. 21 471 0736. Amanhã vou almoçar à Tabanca do Centro. Depois fico na Lourinhã. Em 29 de Maio ou 5 de Junho faremos o nosso V Encontro Nacional. Não podes falhar desta vez.

5. Mensagem, de ontem, da Odete Cardoso:

Caro Luis Graça:

É muito compensadora esta troca de afectos.

A visita que fiz com o Jaime e o Zé Sobral, em 1999, à zona de Bambandinca,  foi marcante e mostrou a saudade e respeito que os vossos homens guardavam dos portugueses.

Aqui vai a foto do Zé Carlos tirada em 26.7.2006.

Um abraço.

Odete Cardoso

6. Comentário de L.G.:

Odete, obrigado pela sua gentileza. É uma grande emoção, para mim, para o António Marques, para o Joaquim Fernandes, para o António Levezinho, para o Humberto Reis, par ao José Luís de Sousa (funchalense, que espero que esteja bem nestes dias difíceis para a Madeira!), para o Gabriel Gonçalves, para o Abel Maria Rodrigues (o único alferes da velha CCAÇ 12 que faz parte deste blogie!), e outros camaradas da primeira CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, Maio de 1969/Março de 1971) saber notícias dos nossos camaradas guineenses, e em especial do 1º Cabo José Carlos Suleimane Baldé, que era de etnia fula como a grande maioria, e o único - salvo erro - que no nosso tempo conseguiu reunir as condições para ser promovido a 1º cabo. Sempre o estimei, protegi, ajudei e tratei como amigo. (Sobre a nossa CCAÇ 12, 1969/1974, temos pelo menos 95 referências na II Série do nosso blogue, além de dezenas e dezenas na I Série)

Tive notícias do nosso José Carlos, em Março de 2008, aquando da minha ida à Guiné, por ocasião do Seminário Internacional de Guiledje (***). Infelizmente não tive tempo de o visitar em Amedalai. Oxalá ainda nos  possamos encontrar em vida... A Odete  como é que faz para o contactar lá ? Tem algum número de telemóvel (que é coisa que se começa a banalizar, mesmo no interior da Guiné-Bissau) ? Já pedi a amigos meus, de Bissau,  para saberem dele,  em Amedalai. Da próxima vez que lhe escrever, fale-lhe do Furriel Henriques...

Odete, gostaria de a conhecer pessoalmente bem como ao Jaime. Os dois estão convidados a ingressar na nossa Tabanca Grande. Vou ver se lhe telefone para nos encontrarmos e falarmos com mais tempo e vagar. (****)

_____________

Notas de L.G.:


(*) Vd. poste de 4 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1026: Estórias de Contuboel (iv): Idades sem lembrança (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)


(...) Quarto texto do Renato Monteiro, da série de cinco, que intitulei estórias de Contuboel, pequenos apontamentos que o meu amigo escreveu com base na sua experiência de instrutor de recrutas guineenses, em Contuboel, no 1º semestre de 1969. Desses recrutas, metade foram parar à CCAÇ 2590, que mais tarde (em Junho de 1970) passou a designar-se CCAÇ 12. A outra metade deu origem à CART 11, mais tarde CCAÇ 11.

IDADES SEM LEMBRANÇA



 Coisa pela qual não passam: a comemoração do dia do aniversário. Pois não parece haver um entre os africanos do meu pelotão que saiba a sua idade. E lê-se-lhes nos olhos a inutilidade desse conhecimento que, apesar de tudo, acaba por ser superado através de um palpite dado por nós. Mera suposição inspirada no vinco e na dimensão das rugas, na maior ou menor vivacidade do olhar, não sei bem, num feeling que sustenta a nossa avaliação.

E é assim que Cherno Camará passou a partir de hoje a contar 23 anos, idade que acabou por merecer divertida discórdia quando comparada ao tempo de vida atribuído ao Amaduri Camará, 21 anos, por alguns considerado mais velho do que o primeiro.

Mas fora de qualquer polémica foram as 18 Primaveras calculadas para Demba Baldé, o Malagueta, seguramente o recruta mais jovem da nossa troupe, filho de Ira Baldé, prestigiado chefe de uma das tabancas da região de Gabu Sare.

Quanto a mim, talvez não fosse menos sensato deixar-se estes homens, na sua maioria ainda mais novos do que nós, tão alheados da sua idade quanto as árvores que se desenvolvem sem contarem os anéis do tronco que marcam o tempo da sua existência.

Opinião igualmente partilhada por Ussumani Colubali, para o qual o que importa é nunca perder de vista de quem se é filho, irmão, neto, bisneto e pai; bem como o lugar onde se nasceu e o número de cabeças de gado e de mulheres que se possui, sendo seguro que a memória da data de nascimento não leva a viver mais, sequer a acertar-se com o dia da sua morte. Ao contrário da generalidade dos africanos, muito reservados, Ussumane não se coíbe de expressar os seus juízos mesmo sem ser chamado a fazê-lo.

Assim, diz não existir à face da terra nenhumas Forças Armadas capazes de tão grandes façanhas como as nossas, razão que o levou a oferecer-se para o exército, aproveitando ainda uma vantagem: a possibilidade de, assim, ganhar uns patacões, muito difíceis de obter por outro meio.

Proveito que o Demba Baldé de bom grado dispensaria. Que foi o pai, contra sua vontade, que o mandou servir a tropa. Quando melhor estaria junto da sua Comança Baldé, ainda mais nova do que ele, a fazer filhos, a comer bianda e a tratar do gado. (...)





Vd. restantes postes da série do Renato Monteiro:

28 de Julho de 2006 > 
Guiné 63/74 - P1001: Estórias de Contuboel (i): recepção dos instruendos (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)

30 de Julho de 2006 > 
Guiné 63/74 - P1005: Estórias de Contuboel (ii): segundo pelotão (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)

2 de Agosto de 2006 > 
Guiné 63/74 - P1017: Estórias de Contuboel (iii): Paraíso, roncos e anjinhos (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)



4 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1027: Estórias de Contuboel (V): Bajudas ou a imitação do paraíso celestial (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)

(**) Vd. poste de:

21 Maio 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXV: Composição da CCAÇ 12, por Grupo de Combate, incluindo os soldados africanos (posto, número, nome, função e etnia)

(...) Pode parecer fastidiosa, inútil, irrelevante... a minha lista de Baldés... Não penso o mesmo: pode ter (ou vir a ter) algum interesse documental, historiográfico, eu sei lá... Pode facilitar a pesquisa de informação, de testemunhos, de depoimentos...

É também um pequeno, modestíssimo, gesto de elementar justiça para com aqueles guineenses que lutaram ao nosso lado, que fizeram parte da CCAÇ 12 e, portanto, da nova força africana com que sonhou Spínola e que tanto atemorizou o PAIGC. Infelizmente, uma parte deles (quantos, exactamente?) já não hoje estarão vivos. Uns foram fuzilados, como o Abibo Jau, outros terão morrido de morte natural, que a sua esperança de vida era muito menor que a nossa, em 1969...

Eu estou à vontade para publicar esta lista: sempre critiquei a africanização da guerra da Guiné, embora longe de imaginar que, no dia seguinte à nossa retirada, começasse a caça aos traidores, aos contra-revolucionários, aos mercenários, aos colaboracionistas... Em 1969, ainda estava vivo o Amílcar Cabral e eu admirava-o, intelectualmente... Achava que na Guiné, depois da independência, tudo seria diferente, e não aconteceriam os ajustes de contas que se verificaram noutras revoluções ou guerras civis, na Rússia, na China, na Espanha franquista, na França depois da libertação, etc. Pobre de mim, ingénuo!...

Mas, por outro lado, também fui cúmplice da sua integração no nosso exército: mesmo sendo da especialidade de armas pesadas de infantaria, e não fazer parte formalmente de nenhum dos quatro grupos de combate da CCAÇ 12, participei em muitas das operações em que estes participaram, fui testemunha da sua coragem e do seu medo, dormi com eles nas mais diversas situações, incluindo nas suas tabancas... Foram meus camaradas, em suma.

Soldados ex-milícias, a maior parte com experiência de combate, os nossos camaradas guineenses da CCAÇ 12 (originalmente, CCAÇ 2590), eram oriundos do chão fula e em especial dos regulados do Xime, Corubal, Badora e Cossé, com excepção de um mancanhe, oriundo de Bissau.

“Todos falam português mas poucos sabem ler e escrever", lê-se na história da CCAÇ 12 (O que só verdade, 21 meses depois de os termos conhecido e instruído em Contuboel, em Junho e Julho de 1969). Foram incorporados no Exército como voluntários, acrescentou o escriba, para branquear a instustentável situação dos fulas, condenados a aliarem-se aos tugas.

Tirando o 1º Cabo José Carlos Suleimane Baldé (promovido ao actual posto em 16 de Setembro de 1969),eram, todos,  praças de 2ª classe. Samba Só, Mamadá Baldé, Braima Bá e Quecuta Colubali passaram a soldados arvorados na mesma data, por reunirem qualidades para uma eventual promoção ao posto de primeiros cabos: "ascendente sobre os camaradas, experiência de combate e aprumo militar" (sic). Entretanto, houve mais promoções no final da 1ª Comissão da CCAÇ 12 (a rendição individual dos quadros metropolitanos fez-se a partir de Fevereiro de 1971).

É muito provável que todos ou quase todos os graduados africanos da CCAÇ 12 ( e da CCAÇ 21, para a qual transitaram em 1973) tenham sido fuzilados, em 1974 e 1975 (...). (*****)

(...) 4º Gr Comb

Comandante: Alf Mil Cav 10548668 José António G. Rodrigues [já falecido, em Portugal]

1ª secção

Fur Mil 15265768 Joaquim A. M. Fernandes [membro da nossa Tabanca Grande; saiu para integrar a equipa de reordenamento de Nhabijões; ferido com gravidade na 1ª mina A/C do dia 13/1/1971]
1º Cabo 18861568 Luciano Pereira da Silva

Soldado Arvorado 82115469 Samba Só (F)
Soldado 82109869 Samba Jau (Mun Metr Lig HK 21) (F) [ferido na 2ª mina A/C, do dia 13/1/1971]
Sold 82115269 Cherno Baldé (Ap Metr Lig HK 21) (F) [ferido na 2ª mina A/C, do dia 13/1/1971]
Sold 82117569 Mamai Baldé (F)
Sold 82117869 Ansumane Baldé (Ap Dilagrama) (F)
Sold 82118269 Mussa Jaló (Ap Dilagrama) (FF)
Sold 82118969 Galé Sanhá (FF)

2ª secção

Fur Mil 11941567 António Fernando R. Marques [membro da nossa Tabnca Grande; ferido com gravidade na 2ª Mina A/C do dia 13/1/1971]
1º Cabo 17714968 António Pinto

1º Cabo 82115569 José Carlos Suleimane Baldé (F)
Soldado Arvorado 82118369 Quecuta Colubali (F) [ferido gravemente  na 2ª mina A/C do dia 13/1/1971]
Soldadado 82110469 Mamadú Baldé (F)
Sold 82115869 Umarú Baldé (Ap Mort 60) (F) [já falecido, em Portugal, para onde emigrara]
Sold 82118769 Alá Candé (Mun Mort 60) (F)
Sold 82118569 Mamadú Colubali (FF)
Sold 82119069 Mamadu Balde (F)

3ª secção

1º Cabo 00520869 Virgilio S. A. Encarnação [passou a integrar a equipa de reordenamento de Nhabijões]

Soldado 82116069 Sajuma Jaló (Ap LGFog 8,9) (FF)
Sold 82110269 Suleimane Baldé (Ap LGFog 8,9) (F)
Sold 82111069 Sori Baldé (F)
Sold 82115669 Sherifo Baldé (F) [ferido gravemente na 2ª mina A/C do dia 13/1/1971]

Sold 82115769 Tenen Baldé (F) [ferido gravemente na 2ª mina A/C do dia 13/1/1971]

Sold 82117169 Ussumane Baldé (F) [ferido gravemente na 2ª mina A/C do dia 13/1/1971]

Sold 82117769 Califo Baldé (F)
Sold 82118469 Califo Baldé (F)

(***) Vd. poste de 11 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2625: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (4): Na Ponte Balana, com Malan Biai, da RTP África

(...) Guiné-Bissau > Região de Tombali > Ponte Balana > 1 de Março de 2008 > Caravana do Simpósio Internacional de Guileje... Imaginem quem é que eu deveria encontrar aqui ? O operador de câmara da RTP África, Malam Biai... Nascido em 1965, em Bambadinca, de etnia mandinga, diz que é primo do J.C. Mussá Biai, natural do Xime e membro da nossa Tabanca Grande...

Quando puto, ia ao quartel de Bambadinca, à cata dos restos de comida do pessoal da tropa... Lembra-se bem dos militares da CCAÇ 12, unidade de intervenção que esteve em Bambadinca (Sector L1, Zona Leste), entre 1969 e 1973; dos dois ataques do PAIGC ao aquartelamento; da professora Violete (que dava aulas aos putos da 4ª classe); dos fuzilamentos a seguir à Independência (assistiu, aliás, à execução pública de um agente da polícia administrativa de Bambadinca)... 

Confirmou-me, de resto, a notícia do fuzilamento, na região do Xime, do Abibo Jau, o gigante da CCAÇ 12, e do tenente ou capitão Jamanca, que conheci na 1ª Companhia de Comandos Africanos, e foi depois comandante da CCAÇ 21 (o que vem ao encontro do relato já aqui feito pelo Mussá Biai)...

Diz-me, além, disso que o antigo 1º Cabo da CCAÇ 12, o José Carlos Suleimane Baldé, meu guarda-costas, intérprete, guia, cozinheiro, secretário, está vivo, em Amedalai, perto do Xime... Gostaria de o rever. (...)

(****) Último poste desta série > 22 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5520: Os nossos camaradas guineenses (24): Vi matar o meu camarada Lamine Sanha (Braima Djaura)

(*****) Sobre a CCAÇ 12 e os seus soldados africanos, vd. postes de:

11 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXLIII: Aos nossos queridos nharros (Zé Teixeira)

11 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXLV: Ex-graduados da CCAÇ 12 também foram fuzilados (António Duarte)

(...) O António Duarte (que foi furriel miliciano na CCAÇ 12 na fase final, depois de transitar da CART 3493, que esteve em Mansambo) vem lembrar que em Bambadinca (e um pouco por todo o lado), os que foram encostados ao trágico poilão por onde passávamos muitas vezes, não foram apenas os comandos africanos mas também os nossos nharros da CCAÇ 12 (que foram constituir novas unidades, como a CCAÇ 21), e se calhar dos Pel Caç Nat 52, 53, 54, 63... No nosso tempo já havia ou dois três soldados arvorados por cada grupo de combate da CCAÇ 12... Mais tarde passaram a cabos e, em segunda comissão, foram promovidos a furriéis, ao que parece na CCAÇ 21, comandada pelo comando Jamanca (...)

12 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXLIX: O fuzilamento do Abibo Jau e do Jamanca em Madina Colhido (J.C. Bussá Biai)

29 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXIV: Ao Fernando Sousa: Sei que estás em festa, pá  (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P5908: Agenda Cultural (62): Seminário Lusófono Que Fazer com Estas Memórias ?, Centro de Estudos Sociais-Lisboa, 5 e 6 de Março de 2010 (Diana Andringa)



Seminário Lusófono
QUE FAZER COM ESTAS MEMÓRIAS?



Local: Centro de Estudos Sociais-Lisboa


Data: 5 e 6 de Março de 2010

Programa > Sexta-feira, 5 de Março

9:30 - 10:30 -

Abertura – Porquê um Seminário Lusófono sobre Tortura e Memória?
José Manuel Pureza, Representante do Centro de Estudos Sociais – Lisboa,
Raimundo Narciso, Presidente da Associação Movimento Cívico Não Apaguem a Memória,
Cecilia Coimbra*, Representante do Movimento Tortura Nunca Mais (Brasil),
Simonetta Luz Afonso, Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, CES-Lx

10:30 - 12:00 - Projecção do filme “48”, de Susana Sousa Dias

12:00 – 12:30 - Comentário pelo Dr. Afonso Albuquerque (Médico psiquiatra, autor de um livro sobre o impacto da tortura sobre presos políticos portugueses)

12:30 – 13:30 - Debate sobre o filme, com a presença da realizadora Susana Sousa Dias

13:30 – 15:00 - Pausa para almoço

15:00 – 16:30 - Projecção do filme “Memória para uso diário”, de Beth Formaggini

16:30 – 17:30 - Comentário pelo Dr. Carlos Martin Beristain (Médico especialista em Saúde Mental, Universidade de Deusto, Bilbao) e por Alípio de Freitas (português, preso e torturado no Brasil.)

17:30 – 18:30 - Debate sobre o filme, com a presença da realizadora

Sábado, 6 de Março

10:00 – 11:30 - Projecção do filme “ Tarrafal: Memórias do Campo da Morte Lenta”, de Diana
Andringa

11:30 – 12:00 – Comentário por Miguel Cardina, historiador, investigador do CES e Víctor Barros, investigador do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS20).

12:00 – 13:00 - Debate sobre o filme, com a presença da realizadora

13:00 – 13:30 - Sessão de encerramento: Como fazer da memória partilhada da tortura uma alavanca pela defesa da Cooperação e dos Direitos Humanos?, Secretário Executivo da CPLP, Eng. Domingos Simões Pereira*.

* A confirmar
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 27 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5899: Agenda Cultural (61): Exposição Portugal nas Trincheiras - A I Guerra da República, de 23/2 a 23/4/2010, em Lisboa

Guiné 63/74 - P5907: Ser solidário (59): Precisa-se de dinheiro para abrir 10 poços na Guiné-Bissau (José Teixeira)

1. Mensagem de sensibilização enviada ao Blogue pelo nosso camarada José Teixeira*, Tesoureiro da Tabanca Pequena, Grupo de Amigos da Guiné-Bissau:

Será que uma nota de 20,00 € é um rombo tão grande na nossa carteira, que não possamos dispensá-la para uma causa tão profundamente humana como esta de conseguir água potável para as populações da Guiné?

(Com o devido respeito para com aqueles que infelizmente não têm condições para contribuir)

Todos nós sentimos que a vida não está fácil.

Pode parecer uma violência na carteira de cada um, esta forma de insistir na Campanha de sementes e água potável para a Guiné.

Pode parecer um sonho esta loucura de tentar arranjar dinheiro para conseguir abrir 10 poços de água.

Mas… Quem melhor que nós, os ex-combatentes da Guerra das Colónias (ou do Ultramar) na Guiné, compreenderá o drama daqueles povos?

Será que se pode imaginar uma escola com 200 crianças, sem uma torneira de água potável por perto?

Será que se pode imaginar algumas dessas crianças deixarem a escola para irem ao interior da floresta, a um riacho que pode ficar a 4/5 quilómetros buscar água?

Que garantia de qualidade na água se encontra?

O nosso projecto, em parceria com a AD - Acção para o Desenvolvimento, visa dotar com fontanários dez tabancas do interior, das mais pobres e mais necessitadas.

Precisamos de muito dinheiro e as contas são fáceis de fazer.

O Blogue da Tabanca Grande tem cerca de 400 participantes e talvez alguns milhares de leitores.

Cerca de 80 leitores já participaram com a sua dádiva generosa, tendo-se juntado 2.214,00 €.

Basta que haja mais 80 dadores para se conseguir abrir um poço, instalar a energia solar e dotar a população com condições de poderem tirar rendimento das suas hortas e ter água para as suas necessidades.

NÃO PODEMOS FICAR INDIFERENTES AO SOFRIMENTO DAQUELE POVO!

Eu não consigo.

Zé Teixeira

Criança na torneira

Miudo a beber


TESOURARIA, CAMPANHA E SEMENTES


__________

Notas de CV:

(*) José Teixeira foi 1.º Cabo Enfermeiro na CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70.

Vd. último poste referente à campanha, com data de 28 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5720: Ser solidário (52): Campanha da Tabanca de Matosinhos: Ajudemos a minorar as carências do povo da Guiné-Bissau (José Teixeira)

Vd. último poste da série de 28 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5905: Ser solidário (58): Mais uma Expedição à Guiné-Bissau da Associação Humanitária Memórias e Gentes 2 (Carlos Marques Santos)

Guiné 63/74 - P5906: José Corceiro na CCAÇ 5 (5): Primeiro ataque a Canjadude, o meu baptismo de fogo

1. Mensagem de José Corceiro (ex-1.º Cabo TRMS, CCaç 5 - Gatos Pretos -, Canjadude, 1969/71), com data de 25 de Fevereiro de 2010:

Caros camaradas, Luís Graça, Carlos Vinhal, J. Magalhães,

É com agrado que redigi alguns dos momentos passados, em Canjadude, quando do primeiro flagelo à CCAÇ 5.
Deixo ao vosso critério.
Um Abraço
José Corceiro

2. Caros Tertulianos
É com satisfação, que a vós me dirijo a relatar algumas das emoções que vivi, quando tinha um mês de Guiné e sofri o baptismo de fogo, no Aquartelamento de Canjadude, CCAÇ 5.


PRIMEIRO ATAQUE A CANJADUDE

Paira uma aura de receio e insegurança nos Gatos Pretos, do Aquartelamento de Canjadude, a movimentação e agitação operacional têm sido excessivas em função do que é habitual, os ventos que sopram não são de feição, não se aproxima bonança! Há desconfiança e cautelas redobradas com os passos que se dão na CCAÇ 5.

Dia 28 de Junho 1969, os Gatos Pretos, numa operação no mato, tiveram um contacto, ainda que fugaz, com o IN, foram vistos pouco mais de meia dúzia de elementos, que ao serem detectados e perseguidos pelas NT, se dissiparam e esfumaram no matagal deixando ténues vestígios da sua presença; um boné, algumas munições e pouco mais! A valentia e coragem dos Gatos Pretos, comandados pelo Capitão José Manuel Pacífico dos Reis, foi posta à prova demonstrando moral elevada, destemor, galhardia, audácia, ao perseguir o IN a peito aberto, sem fazer fogo e sempre a gritar, Gato Preto Agarra à Mão… Foi uma prova de fogo que deu para aferir que há avidez de guerrilha neste grupo, que quer vingar os seus irmãos de sangue, vá-se lá saber o quê e porquê, que só a ubiquidade e desígnio de Deus conhece.

No Posto de Rádio têm-se captado algumas comunicações em Espanhol atípico e manhoso, outras em língua irregular (mistura de idiomas), comunicações curtas, tipo flashs, ficando-se com a sensação de que um dos interlocutores estará por aqui muito perto, pois a intensidade do sinal da recepção, nos nossos equipamentos, é fortíssimo e um dos intervenientes fala quase sempre em surdina, mais parece estar retraído a falar baixo para não ser ouvido. Há uma certa impaciência que é evidente no pessoal, ninguém se atreve a fazer prognósticos.

A actividade operacional de saídas para o mato tem sido a ritmo alucinante, não tem havido tempo para pausa.

Dia 26 de Junho de 1969, coluna a Nova Lamego; dia 27, operação para o mato, a nível de Companhia, dois dias; dia 28, contacto com o IN; dia 29, coluna a Nova Lamego e saída para o mato à noite (nestas saídas para o mato, à noite, saía-se por volta das 20.00h e regressava-se por volta da 24.00h); dia 30, saída para o mato à noite; dia 1 de Julho, saída para o mato à noite; dia 2, operação para o mato, com dois pelotões, eu também fui, durante o dia progredimos, no terreno, praticamente sempre debaixo de chuva e a caminhar com os pés dentro de água. Acampamos, para pernoitar, todos encharcados e enlameados, durante a noite quase sempre a chover e os mosquitos a atacar, pela manhã levantamo-nos a tiritar com frio.

Regressámos ao aquartelamento dia 3, na parte da tarde. Dia 5, saiu um pelotão para o mato, regressou às 23.30h. Dia 6, saiu pelotão para o mato à noite; dia 7, choveu torrencialmente, ao ponto de inundar o abrigo dos graduados, houve estragos em objectos pessoais. Dia 8 de Julho, era para ter havido saída para o mato, com 3 pelotões, mas as condições atmosféricas não o permitiram, neste dia veio um capelão para a CCAÇ 5. Dia 9, coluna a Nova Lamego; dia 11 de Julho de 1969, sai toda a companhia, juntamente com grupos de Pára-quedistas, para uma operação de três dias no mato. Eu fiquei no aquartelamento, não era a minha vez de sair e estava de serviço ao Posto de Rádio, das 12.00h às 15.00h e das 00.00h às 03.00h do dia seguinte. No aquartelamento ficou o grupo da formação, pessoal que não está distribuído por pelotões, juntamente com um pelotão, que veio de outro destacamento para fazer segurança a Canjadude.

Paralelamente a toda esta actividade e movimentação operacional para o mato, no Posto de Rádio tem havido um persistente vai e vem de troca de mensagens, algumas com prioridade Zulu (relâmpago).

A noite estava serena, tudo muito sossegado, ninguém quis folia, eu encontrava-me no abrigo Norte, deitado em cima da minha cama a ler o livro - 2455 Cela da Morte, de Caryl Chessmann - pois ia entrar à meia-noite de serviço, no Posto de Transmissões.

Eram 22.48h, do dia 11 de Julho de 1969, quando se precipitou inusitado ribombar, em que eu, o primeiro estrondo que ouvi, quis-me convencer que fosse um trovão, mas em milésimos de segundo, acordei o espírito e consciencializei-me que era o meu baptismo de fogo que estava em urdidura, estava a perder a virgindade de fogo no flagelo ao Aquartelamento de Canjadude. Saltei da cama para o chão, da parte superior do beliche, quis encontrar uma G3, pois eu não tinha arma distribuída. A lei da necessidade primária, sobrevivência, impôs que eu agisse e procurasse instrumento para me defender. Nestas décimas de segundo o gerador de energia eléctrica foi-se abaixo e ficou tudo às escuras, eu corro de mãos vazias para a saída do abrigo, saio e meto-me numa das valas, que me poderá conduzir ao abrigo do Posto de Transmissões. Cá fora, os rebentamentos eram constantes e afiguravam-se ser mesmo por cima de mim, ouvindo-se um ruído sibilo a cruzar a atmosfera em todas as direcções.

Eu fiquei perplexo e pensei:
- Que festival de fogachal tão bem orquestrado é fogo de guerra mesmo para matar, parece que os deuses estão contra mim?!

O bramir do ribombar, era incessante e havia ecos de explosões de proveniência indeterminada, vinham de todos os lados! Eu cogitava, que razões assistem a estes seres para despoletar tamanha barbárie? Fiquei cismado, confuso, embora não estivesse nervoso, mas estava um pouco amedrontado! Sempre me imaginei a reagir, numa situação destas, com conduta bem pior do que esta que estava a revelar, ao defrontar-me perante uma bagunçada com esta factual perigosidade, para a minha integridade física. Foi uma grande surpresa, para mim, esta minha atitude comportamental, diante de ameaça tão iminente, concreta e real. O fogo continuava violento e insistente, desconcertante, indistinguível, não conseguia percepcionar, nem ajuizar qual a proveniência dos disparos, era uma barafunda de silvos no espaço por cima da minha cabeça que me deixava baralhado. Os roncos dos rebentamentos são no ar, na frente, por trás e dos lados, isto é aterrorizador. Da nossa parte a reacção é nula, não se fazem sentir esboços de defesa!

Nisto ouço uma voz aflitiva e ofegante, minha conhecida, gritar:
- Os cabrões do caralho estão a atacar detrás das rochas!

Eu, hesitante e precavido, pensei logo:
- Sendo assim, tinham que matar as sentinelas dos postos de vigia, passar o arame farpado e colocaram-se atrás das rochas? Se isto foi possível, estamos perdidos, vai ser batalha campal!

Logo de seguida, ouço outra voz conhecida gritar apavoradamente:
- Os filhos da puta já andam cá dentro…

Eu, incrédulo e receoso, pensei:
- Isto está tudo numa mixórdia e eu não tenho arma para me defender, oh! Minha mãe como posso proteger a pele? Nisto avancei um pouco na vala, atónito, abandonado à intuição e à sorte, para ver se compreendia tamanha balbúrdia, para melhor me proteger e defender da embrulhada…

Em seguida, vejo a sair do seu abrigo, o 2.º Sargento Fernando dos Santos Rodrigues, com desembaraço, peito nu a descoberto, todo destemido, a gritar em altos berros:
- Despachem-se seus merdas, façam fogo, senão somos todos aqui apanhados à mão.

O Sargento Rodrigues correu para abrigo da metralhadora pesada, pegou nela e deslocou-a para cima do abrigo dos graduados onde a posicionou e começou a disparar na direcção da pista de aviação. Aparece também, creio ter sido, o Furriel Gil que andava meio empanado, dirigindo-se para o abrigo do morteiro 81 e começou a clamar por ajuda e a incentivar o pessoal que ocupassem outros abrigos de morteiro 81. (Nesta altura ainda não havia em Canjadude a Secção de Morteiros, que veio no ano de 1970, de uma Companhia de Nova Lamego, cujos elementos, Ferra, Viana… ainda que, na CCAÇ 5, houvesse Africanos muito bons a fazer fogo com os morteiros, neste momento estavam no mato.)

Passaram quatro ou cinco minutos desde o início do pandemónio, que mais pareciam uma eternidade, sem que houvesse grande reacção da nossa parte. Eu dirigi-me para o abrigo do morteiro 81 que estava instalado entre as traseiras da secretaria e o campo de futebol, com o intuito de poder ajudar em algo, tinha noções rudimentares de orientação de fogo e disparo do morteiro, embora não percebesse nada das inclinações precisas, que era necessário dar à arma para haver fogo de precisão ao alvo desejado. A minha acção limitou-se a abrir duas ou três caixas das munições do morteiro que estavam nas tocas laterais do abrigo.

Entretanto chegou pessoal que estava habilitado a fazer tiro de morteiro e eu saí dali, porque a minha presença até era perturbadora devido ao exíguo espaço que havia no abrigo do morteiro, além do incómodo para os ouvidos, provocado pelo rebentamento da carga, quando era percutida para dar impulso à munição do morteiro e se direccionar para o alvo pretendido. Da parte do IN, o fogo continuava a ser consistente, com rebentamentos impetuosos, intrincados com rastos de luz amarelada e sibilações indistintas, que rasgavam os céus em todas as direcções. Estava a apreensivo, pois estávamos muito acomodados e amontoados na mesma vala, alguns a fazer rajadas de G3 desordenadamente, sem direcção definida, um pouco ao acaso, que se podiam tornar perigosas para nós.

Passaram dez minutos, ou mais, desde o começo do ataque, quando se começaram a ouvir os disparos do morteiro 81 que estava na Tabanca, lado Sul/Poente. O morteiro da Tabanca foi aferindo e ajustando a eficiência dos seus disparos e a determinada altura as morteiradas começaram a cair no raio de perigosidade onde se instalara o IN. A partir daqui, o fogo IN abrandou e ao fim de aproximadamente meia hora, depois de ter começado a salganhada, o inimigo deixou Canjadude. A posição desta arma na Tabanca era privilegiada, porque tinha um ângulo de visão perfeito da localização onde o IN estava posicionado a fazer o ataque, distante do arame farpado 200 a 300 metros, colocado no limite da desarborização da berma paralela à pista de aviação. No Aquartelamento, para se ter um horizonte de perspectiva de ângulo eficaz para direccionar fogo para o IN, tínhamos que nos ter distribuído nas valas para o lado Norte, quando nós estávamos concentrados no lado oposto.

Estava consumado o meu baptismo de fogo! Felizmente sem ter havido um único ferido, resultado directo da acção inimiga. Prejuízos materiais, só a danificação do gerador, que não foi estrago de muita monta.

Ainda durante a enrascada já tinha ido para o Posto de Transmissões onde estavam em curso comunicações com o pessoal que estava no mato. Pelos relatos que houve, ficamos a saber que já depois de estarem instalados para pernoitar, se aperceberam de barulhos estranhos, não muito longe de onde estavam acampados, que estavam agora a associar que era o IN a deslocar-se para Canjadude. Nesta noite ninguém dormiu com receio de que o inimigo volta-se à carga.

A flagelação IN, excluindo a perturbação psicológica que nos marcou, saldou-se para eles num autêntico fiasco, ou o IN não tinha noção nenhuma da disposição do aquartelamento, ou confundiu as rochas com infra-estruturas deste, ou se não, foram nabos ao seleccionar o local de posicionamento para disparar as armas. Com este tipo de flagelo, Canjadude não podia ser atacado de Norte que tem as rochas a protegê-lo, a Sul tinha a Tabanca e muito arvoredo dentro desta, restam, Nascente do lado da bolanha, e Poente a posição mais vulnerável do Aquartelamento, porque fica todo sem protecção natural, expondo-se, todo à mira do fogo inimigo. Foi deste lado que atacaram, o mais indefeso, só que não souberam alinhar-se para que as estruturas do aquartelamento ficassem na trajectória dos disparos.

Se tivessem tido o cuidado de se deslocarem 50 metros mais a Norte, ficavam as linhas de fogo perpendiculares com a secretaria, a caserna, o refeitório, o depósito de géneros, o bar, a cozinha e os abrigos, e as primeiras roquetadas eram certinhas e podiam fazer muita mossa, pois estavam próximos do arame farpado. Devido à errada disposição, quase todo o fogo foi dirigido para as rochas, razão pela qual ficamos sem gerador de energia eléctrica, logo no início do ataque. O gerador estava protegido por uma rocha de frente, que por sua vez tinha atrás outra rocha mais alta onde rebentou uma roquetada, os estilhaços danificaram o gerador. Foi só o estrago material digno de registo que houve. No pessoal houve algumas escoriações, resultado de algum tombo nas deslocações nas valas, no escuro.

Vestígios da presença IN, além dos normais devido à utilização das armas de fogo, ficaram indícios de sangue em três ou quatro lados, que atestavam que pelo menos feridos tiveram.

A companhia regressou do mato dia 12 de Julho 1969. Com a protecção da CCAÇ 5 e a acção dos Pára-quedistas, foi desmantelado um acampamento IN, que antecipadamente foi abandonado. Deste feito, resultou a apreensão de bastantes munições, alguma roupa, pouco armamento e coisas de menor importância.

Para todos os camaradas, um abraço.
José Corceiro

Foto 1 > A minha cama no abrigo Norte, há prateleiras improvisadas onde guardava alguns livros, papeis, máquinas e rádio, sempre à mão. Este rádio que se vê, ainda hoje funciona

Foto 2 > Abrigo de protecção do gerador de energia. O IN atacou de frente, onde a mata começa, um pouco deslocado para o lado direito

Foto 3 > Rocha onde embateu a roquetada que danificou o gerador. Vê-se no lado direito os bidões que o protegiam. O primeiro abrigo que se vê, é o abrigo Norte; a seguir ao monte de terra é o abrigo do morteiro, abrigo do comando e a seguir abrigo dos graduados

Foto 4 > Um DO a levantar na pista de Canjadude. O IN atacou do lado direito

Foto 5 > Como era Canjadude quando houve o primeiro flagelo

Foto 6 > Vê-se o abrigo Norte. O fogo IN foi direccionado aqui para o primeiro plano da foto

Foto 7 > Corceiro a familiarizar-se com uma das armas que está na Tabanca, igual à que utilizou o Sargento Rodrigues no ataque, metralhadora Dreyse

Foto 8 > Corceiro no abrigo do morteiro 81 a simular a introdução de uma munição

Foto 9 > Corceiro com o morteiro 60, em posição de disparo

Foto 10 > Rocha em Canjadude, tendo no topo um posto de vigia. O acesso era feito pelas traseiras. Rocha com cerca de 15 metros de altura
Fotos e legendas: © José Corceiro (2010). Direitos reservados

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Nota de C.V:

Vd. último poste da série de 17 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5834: José Corceiro na CCAÇ 5 (4): Recordações do Sargento Enfermeiro Cipriano

Guiné 63/74 - P5905: Ser solidário (58): Mais uma Expedição à Guiné-Bissau da Associação Humanitária Memórias e Gentes 2 (Carlos Marques Santos)

1. O nosso Camarada Carlos Marques Santos* (ex-Fur Mil da CART 2339 - “Os Viriatos -, Fá e Mansambo, 1968/69), enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 27 de Fevereiro de 2010:


Camaradas,

Envio-vos notícias da saída da Expedição Anual da Associação Memórias e Gentes, com ajuda e solidariedade para a "nossa Guiné" reportada pelo DIÁRIO as BEIRAS.

Recorte do jornal "Diário As Beiras", com a devida vénia

O encontro da tabanca do Centro foi, mais uma vez, um êxito. O Mexia Alves é uma máquina.

Vamos ter novidades em breve.

Todos PRONTOS para o 5.º ENCONTRO e 6.º ANIVERSÁRIO do BLOGUE?

PREPAREM-SE.

Grupo de Ajuda Solidária “memórias e gentes”

De relevar a ida de uma ambulância, oferta dos Bombeiros de Águeda, com o apoio de Santa Maria da Feira e Águeda, que vai ser doada ao Hospital de Mansoa, e que vai ser conduzida até lá por duas senhoras.

CMS
68/ 69 Mansambo
CART 2339

P.S. - O ENCONTRO de ONTEM, em Monte Real correu excelentemente. Brevemente haverá novas!!!!!!!!!
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

24 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5876: Ser solidário (57): Mais uma Expedição à Guiné-Bissau da Associação Humanitária Memórias e Gentes (Carlos Marques Santos)

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5904: Ainda o desastre de Cheche, em 6 de Fevereiro de 1969 (6): Houve mais mortos nesse dia do que nos sete anos anteriores (Armandino Alves)

1. Mensagem, com data de 22 de Fevereiro de 2010, do Armandino Alves,  ex-1º Cabo Enf, CCAÇ 1589 (Fá, Beli, Madina do Boé, 1966/68):

Assunto:  Ainda o desastre de Cheche, em 6 de Fevereiro de 1969 (5): um versão 'historiográfica' (*)...

Caríssimo Luís Graça

Nos, julgo eu, 7 anos em que existiu Madina do Boé e Béli , este desastre contabilizou tantos ou mais mortos sofridos pelo exército nas operações de reabastecimento e nas rendições das Companhias que lá estiveram.

O que eu acho que levou ao desmantelamento de Madina do Boé foi a total impreparação dos seus Comandos e a falta de senso. E essa falta de senso repercutiu-se no Cheche. Não era por mais uma hora de espera que o IN ia atacar. Julgo que a CCAÇ 1790 gastou mais em munições que todas as outras Companhias juntas. Por esse motivo é que os troncos de palmeira existentes nas valas como defesa se encontravam todos queimados. Era só apoiar a arma e disparar até acabar o carregador.

Pelo que se lê,  [alguém] era protegido do Gen Spínola e o azar desse alguém  foi o General ir para lá com 4 meses de atraso, senão a Companhia [1790]  nunca teria ido para lá [, para Madina do Boé]. Eu só faço uma pergunta: Se quisermos defender Portugal, o que fazemos ? Reforçar as nossas fronteiras terrestres e maritimas. Lá foi precisamente o contrário. Abriu-se a porta de par em par e estendeu-se uma passadeira vermelha para o IN entrar. Julgo que não foi isto que aprenderam na A.M. [ , Academia Militar]

Um abraço,
Armandino Alves
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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 2 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5866: Ainda o desastre de Cheche, em 6 de Fevereiro de 1969 (5): uma versão historiográfica (?) (Luis Graça)

Guiné 63/74 - P5903: Estórias avulsas (76): Como morreu o meu prisioneiro (Hugo Guerra)

1. Mensagem de Hugo Guerra* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 60, Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70, que hoje é Coronel, DFA, na reforma), com data de 25 de Fevereiro de 2010, com uma história de prisioneiros: 

COMO MORREU O MEU PRISIONEIRO 

Em Fevereiro de 1970 estava em São Domingos para descansar de Gandembel e Ponte Balana, e acabar a minha comissão que viria a terminar abruptamente logo no mês seguinte, quando rebentou uma mina nas mãos do meu amigo Seleiro e nos atingiu aos dois. 

 Um dia qualquer de Fevereiro ou Março fomos informados pelo Comando de Batalhão que nos iam trazer uma encomenda. Lembro-me que era ao fim da tarde e quando o DO aterrou, lá fomos num jipe à pista saber o que se passava. Montada a segurança aproximei-me do avião e, como era o mais velho dos Alferes e o Capitão estava de férias, competia-me fazer as honras da casa. 

Do avião saíram alguns Oficiais Superiores e um nativo já de cabelos brancos e andrajoso, mas com um porte altivo e digno, que ainda hoje povoa as minhas recordações. Era a encomenda. Fui informado que o homem tinha sido encontrado algures junto à fronteira e traziam-no porque ele teria dito estar disposto a indicar o caminho para um local na nossa Zona onde se pensava que encontraríamos o IN. 

A ser verdade seria um ronco para aquela Companhia de periquitos que, felizmente para eles nunca os chegaram a ver, nem vivos nem mortos. Lá mandei levar o homem para a prisão e dei instruções para que ficasse bem vigiado até à manhã seguinte quando, pensávamos nós, iria levar-nos até ao IN. 

 A avioneta foi-se com os Digníssimos passeantes e nós regressamos ao aquartelamento para a janta que já nos esperava. Levaram o jantar ao prisioneiro e abrandaram a vigilância de tal forma que, estávamos nós a jantar, irrompe a rapaziada pela Messe dentro gritando que o homem se tinha enforcado. 

 Fui a correr ver o que poderíamos fazer - já era o terceiro enforcado que via na minha vida - e encontrei o meu prisioneiro pendurado e com a rapaziada toda a olhar especados com aquela visão. Tinha usado o baraço que trazia a segurar as calças e que ninguém se lembrara de lhe tirar antes. Agarrei o homem pelas pernas e fazendo força para cima para aliviar o peso lá arriamos o corpo que ainda tentei trazer de volta à vida. Fiz-lhe boca a boca e naquele desespero até injecções no coração lhe apliquei. Tudo sem resultado. O homem partira o pescoço e nada mais havia a fazer. 

 Apareceu entretanto o Chefe de Posto, cabo-verdiano, cujo nome não recordo mas que disse do alto da sua sapiência: 

 - Aquele mais velho da etnia (?), nunca trairia o seu povo e tinha-se suicidado para evitar a vergonha insuportável de ter sido preso e humilhado daquela forma. 

 Cresci mais um bocado naquele dia e, no dia seguinte achei que já tinha guerra a mais e, escrevi ao meu amigo Coronel Pilav Diogo Neto, Comandante da Zona Aérea da Guiné a pedir para me tirar daquele filme. Já chegava. Hugo Guerra

Hugo Guerra e o seu amigo Seleiro

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 Nota de CV:


Guiné 63/74 - P5902: FAP (48): A guerra Páras-Fuzos, vista por um fuzileiro (Rui Ferrão)

1. Comentários ao poste P5580 (*), feitos em 7, 8 e 10 do corrente, pelo nosso leitor Rui Ferrão, que depreendemos ter estado na Marinha, possivelmente, num Destacamento de Fuzileiros Especiais (DFE), entre 1967 e 1969, sendo portanto contemporâneo dos tristes acontecimentos de Bissau, em 3 de Junho de 1968:




(i) Queria fazer um pequeno reparo àquilo que foi dito em relação aos confrontos entre Páras-Fuzos. Os Fuzos não emboscaram os Páras como aqui é referido no texto do sr. coronel Mira Vaz e noutros que já li.

O que aconteceu foi que o oficial de dia ao quartel Fuzo, nesse mesmo dia, já sobre a madrugada, mandou sair a ronda para verificar se as coisas já estavam mais calmas. A dita ronda ao passar junto aos edíficios em obras teria ouvido uma voz gritar Estes lerpam já todos!, e vai daí um dos elementos da ronda dirige a arma para aquela zona e dispara para o escuro, não se apercebendo de qualquer vulto... Só depois se aperceberam do lamentável acidente.

A outra morte teria sido horas antes à porta do Estádio, também em circunstâncias identicas; há um Fuzo que, ao descer do jipe da ronda, cai e deixa cair a arma, entretanto está ali por perto um Pára e pega na arma, o cabo da ronda naquela confusão (só quem lá estava é que consegue avaliar) vê o individuo com a arma nas mãos, não sei o que lhe passou pela cabeça e atirou segundo informações, para o chão, só que o tiro ressaltou e foi atingir o Pára.

Eu estava lá no início do confronto, mas depois encontrei um filho da minha terra, olhámos um para o outro e interrogámo-nos:
- O que é que nós estamos aqui a fazer? - e saímos para fora.

Foi assim que os acontecimentos me foram relatados por companheiros Fuzos, visto naquela altura estar já na companhia do filho da terra a beber uma cerveja com mais alguns Páras. Estou de acordo que houve negligência dos superiores dos dois lados, julgo que teriam evitado a morte destes dois jovens,camaradas de armas.

Também não estou a ver os Fuzos a montar uma emboscada daquela maneira tão cruel com já foi escrito nalguns locais do blogue. Como disse, essa parte não falo por aquilo que me contaram, logo após os acontecimentos. Foi lamentável e vergonhoso para as nossas tropas.

Um abraço. Sou Rui Ferrão


(ii) Ainda os confrontos entre Pára-Fuzos. Alguém comentou algures no blogue que, havia uma grande rivalidade entre Páras-Fuzos, mas não é verdade. Enquanto eu estive na Guiné (1967-69), para além dos acontecimentos que todos conhecemos, sanados que eles foram, voltou tudo á normalidade, embora tivesse havido um período em que não havia qualquer convívio entre eles, mas depois tudo voltou ao normal como já tinha citado.

Quem passou pela Guiné e teve a oportunidade de privar com a malta da Marinha, estou convicto de que deles tem uma boa impressão. Senão vejamos: Quem nunca foi a bordo de uma lancha, ou de um navio, ou do quartel Fuzo comer um ou dois jantaritos desenrascado por um filho da terra Fuzo?

Eu próprio dispensei a minha cama por diversas vezes a camaradas Páras. Caldeiradas de cabritos "comprados" aos nativos pelos Fuzos e caldeirados e comidos (no quartel Fuzo) entre Pára-Fuzos, isto tudo depois dos confrontos, será isto será rivalidade?

O pessoal da Marinha nunca teve rivalidades com ninguém, inclusive, aconteceu por vezes safar militares do exército com problemas com a PM.

Um abraço, cordialmente sou Rui Ferrão. Voltarei ao assunto.


(iii) Voltando ainda ao incidente Páras-Fusos, quereria dizer ainda o seguinte: O acontecimento criou grande consternação no seio Fuso, nas horas que se sucederam todos se interrogavam:
- Como é que foi possível acontecer uma tragédia desta dimensão?

Todos nós lamentamos. Avançamos: um certo dia andando com alguns colegas Fuzos a passear em Bissau na zona do Pilão já depois da meia noite,(era perigoso andar naquela zona aquela hora da noite) encontrámos um grupo de Páras já com uns copos a mais, onde vinha um com um golpe profundo na cabeça e a sangrar bastante, não sei o que se tinha passado, sei apenas que estava a precisar de ajuda, pedimos aos militares da PM que o levassem ao Hospital, responderam que o jipe não era nenhuma ambulância, entretanto passa a ronda dos Fuzos, apercebendo-se da situação pegaram no ferido e nos restantes camaradas e levaram-nos a Bissalanca, visto que aquela hora já não tinham transporte para lá e ainda eram cerca de 12 Km.

Como estão a ver, meus amigos, não havia rivalidade entre estas duas Forças. Sobre a quantidade de companhias e destacamentos a prestar serviço na Guiné, citadas pelo camarada Jorge Santos, também não está correcta a quantidade nem os seus números. Havia apenas duas companhias e quatro destacamentos.

Um abraço Rui Ferrão

2. Comentário de L.G.:

Obrigado ao Rui pelos esclarecimentos. Fica convidado a ingressar na nossa Tabanca Grande. A representação da Marinha continua a ser escassa. Para não falar dos fuzileiros (**).

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Notas de L.G.:

(*) 2 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5580: FAP (44): A verdade sobre os incidentes, em Bissau, em 3 de Junho de 1967, entre páras e fuzos... (Nuno Vaz Mira, BCP 12)

(**) Encontrei, na preciosa página do nosso camarada Jorge Santos,  a indicação de uma Associação de Fuzileiros:

Rua Miguel Paes, nº 25 - 2830-356 Barreiro
Tel.: +351 212 060 079 / Fax : +351 210 884 752
Email: afuzileiros@netvisao.pt

Guiné 63/74 - P5901: Um monóculo do General Spínola no Museu de Silgueiros (Manuel Traquina)

1. Mensagem de Manuel Traquina (*), ex-Fur Mil da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70, com data de 29 de Outubro de 2009:

Caro Luis Graça:
Por esse país fora, um pouco por todo o lado encontram-se vestígios de camaradas da Guiné, efectivamente fomos tantos que por lá passámos!

Estive na passada semana a fazer um pequeno tratamento termal em S. Gemil que fica poucos quilómetros a sul de Viseu.

Nos arredores, a cerca de dez quilómetros de Viseu, na pequena localidade de Passos de Silgueiros encontrei por acaso, um pequeno museu** que, como habitual não deixei de visitar.

Ali fiquei surpreendido ao ver exposto um dos monócolos de General Spínola, acompanhado por um cartão com a sua assinatura, e mais ainda uma pequena vitrina com várias recordações oferecidas pelo pároco local que foi capelão militar na Guiné.

Curioso é que aquele pároco tem um pequeno crucifixo que ele próprio executou com estilhaços de granada de morteiro do inimigo que recolheu após um ataque a Aldeia Formosa.

Logo que me seja possível enviarei algumas fotos e mais alguns pormenores

Um Abraço
Traquina
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 – P4903: Notas de leitura (20): Histórias do pessoal da CCAÇ 2382, por Manuel Traquina (Parte I) (Luís Graça)

(**) Museu de Silgueiros

- Negritos da responsabilidade do editor

Guiné 63/74 - P5900: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (9): Memórias da viagem no Uíge, de 4 a 10 de Março de 1964

1. Mais uma Nota Solta da 643, enviada ao Blogue pelo nosso camarada Rogério Cardoso* (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), no dia 24 de Fevereiro de 2010.

MEMORIAS DA VIAGEM NO NAVIO UIGE, DE 4 a 10 de Março de 1964

Um embarque naquelas condições, era uma cena que nem quero lembrar, a todos nós foi doloroso.

Deixar os nossos familiares, pais, mulher e filhos, em alguns casos, e amigos, num choro convulsivo, íamos para a guerra, pelo menos a maior parte de nós.

Passadas aquelas primeiras horas e depois da terra desaparecer, particularmente eu como sou de Cascais, foi o ultimo local a deixar de vêr, o que me custou umas lágrimas junto à proa do navio, pois o esquecimento embora momentâneo estava no meio de nós.

Os dias eram passados ora na sala de jantar, diga-se de passagem que pelo menos a Sargentada era bem tratada, ora no bar onde se jogavam umas cartadas até de manhã, a maior parte das vezes. Também eram projectados filmes no convés do navio com o ecrã num dos mastros, o que quando havia vaga lateral e com os olhos fixos no mastro, com as estrelas no fundo a andarem de um lado para o outro, provocava alguns enjôos,mas claro o mar estava ali mesmo ao lado.

No dia da chegada, todo o pessoal ficou a admirar a lenta entrada do Uige no Rio Geba até Bissau.

O navio não atracou no Pidjiguiti, e antesde sermos transportados no ferry, fomos visitados pelos nossos queridos camaradas do SPM que nos vieram dar as boas-vindas. Boas-vindas que se traduziam na venda de selos, postais e trocando as notas de Escudos Metropolitanos, por Escudos da Guiné, mais vulgarmente chamados de Pesos, claro Escudo por Escudo, e nós inocentemente lá fomos na onda dos nossos amigos, posso dizer que foram muitos milhares trocados, éramos um Batalhão mais uma Companhia independente, mais uma vez obrigado aos nossos amigos do SPM, pelo grande barrete que nos enfiaram até às orelhas, porque mal pusemos pés em terra, os civis que eram às dezenas, vinham propôr a troca a 15 e 20% de ganho.

Logo deu que pensar, se isto é para amigos, o que nos fará o inimigo.

Saudações a todos ex-combatentes do
Rogério Cardoso

Foto 1 > 5 de Março de 1964 > Na sala de jantar do Uíge > À esquerda: Furs Mil Dias, Magalhães e Amaral. À direita: Fur Mil Massano (falecido), 2.º Srgt Justiniano e Fur Mil Pereira Almeida.

Foto 2 > Uíge > Na sala de jantar, Furs Mil: Rogério, Cabeças, Águas, Inácio e Peixoto (já falecido)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 19 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5842: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (8): Momentos de lazer

Guiné 63/74 - P5899: Agenda Cultural (61): Exposição Portugal nas Trincheiras - A I Guerra da República, de 23/2 a 23/4/2010, em Lisboa


Do Museu da Presidência da República , dirigido ao nosso blogue, chegou-nos   este expressivo cartaz com o anúncio da Exposição Portugal nas Trincheiras - a I Guerra da República, a decorrer de 23 de Fevereiro a 23 de Abril,  nos Museus da Politécnica, em Lisboa.


Mais informações estão disponíveis no Museu da Presidência:
 
(i) Trata-se de uma iniciativa no âmbito das comemorações do I Centenário da República;
 
(ii) Reune mais de 200 peças e documentos relativos à participação do contingente português na I Grande Guerra, desde a sua partida para a Flandres em Fevereiro de 1917 até ao Trataddo de Versalhes, em 1919;
 
(iii) O espólio exposto foi recolhido graças ao apoio do Exército, da Liga dos Combatentes e de dezenas de particulares;
 
(iv)  Destaque para o diário de um soldado, oriundo da  Beira Alta, que relata o quotidiano da guerra, na 1ª pessoa, em português.
 
Recorde-se que o grosso das nossas tropas era composto por uma massa de jovens camponeses, mal preparados e pior equipados, e além disso analfabetos, que não sabiam a razão por iam lutar e morrer, e muito menos conheciam o inimigo, a Alemanha e os alemães. O inferno das trincheiras, documentado na exposição, em fotogrfia e filmes, ficou associado, no imaginário dos portugueses, à terrível Batalha de La Lys, em que no curtíssímo espaço de 4 horas, em 9 de Abril de 1918, na sequência de uma contra-ofensiva das tropas alemães,  o nosso exército perderá cerca de 7500 homens, entre mortos, feridos, prisioneiros e desaparecidos.
 
Um das razões por que os dirigentes políticos da I República apoiaram a nossa entrada na  I Grande Guerra, terá sido a defesa das colónias portuguesas de África, mas também a necessidade, para o novo regime político saído da revolução do 5 de Outubro de 1910, de criar (e reforçar) o culto de  novos símbolos identitários, como a bandeira verde-rubra. Se Portugal não estivesse entre os vencedores, na altura da assinatura do Tratado deVersalhes, nenhum de nós teria muito provavelmente ido parar à bolanhas da Guiné, na altura da guerra colonial (1963/74)... A Guiné teria caído nas mãos dos franceses ou dos ingleses. Amílcar Cabral não teria existido ou muito provavelmente escreveria em francês e seria amigo de Senghor...
 
O sacrifício em vidas humanas não ficou por aqui. Estima-se em cerca de 5000 o número de soldados do Corpo Expedicionário Português que regressaram, do teatro de guerra na Flandres francesa, com tuberculose... Em 1930,  a  mortalidade por tuberculose, no nosso país, atingiria  o valor máximo de 200 por cada 100 mil habitantes, correspondente a 10% de todos casos de morte, quando já estava em regressão nos países desenvolvidos... Sem falar a terrível peste da pneumónica (1918/19) que teve, em Portugal, consequências devastadores para os jovens adultos...

Por tudo isto, recordar é preciso... Há famílias portuguesas com três gerações de expedicionários (Flandres na I Grande Guerra, Colónias de África na I Grande Guerra - houve combates no sul da Angola, e no norte de Moçambique contra os alemães e seus aliados -, colónias de África e da Ásia na II Guerra Mundial, e depois Guerra Colonial, 1961/74)...  Já aqui falámos do caso de camaradas como o David Guimarães, cujo pai foi herói da Flandres... Mas haverá mais casos...que poderão chegar ao conhecimento do nosso blogue...

Guiné 63/74 - P5898: Tabanca Grande (206): Agostinho Gaspar, de Alqueidão, Boavista, Leiria, ex-1-º Cabo Mec Auto, 3ª C/BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74)



Acompanha o nosso blogue, de há muito, mas ainda não teve jeito de se inscrever formalmente. Usa o mail da filha, mas ainda não lida bem com estas novas tecnologias. Trabalhou na Mitsubish,  como mecâncio e responsável de sector. Hoje está reformado. Nome e morada: Agostinho Carreira Gaspar, R Carreira, nº 4, Alqueidão, Boavista, 2420-378 Leiria. (Boavista, em Leiria, para quem não sabe, também é terra de bom leitão...).

Faz parte da Tabanca do Centro. E o ano passado esteve presente no nosso IV Encontro Nacional da Tabanca Grande, em 20 de Junho de 2009, Ortigosa, Monte Real. Fui ontem encontrá-lo novamente em Monte Real, por ocasião do convívio da Tabanca do Centro. Foi 1º Cabo Mecâncio Auto, 3ª C / BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74.

Diz-me que não tens histórias de guerra para contar. Em contrapartida, traz um saco de plástico onde guarda, como algo de precioso, a sua colecção da Guiné, constituída por vários álbuns:  moedas selos, notas e postas ilustrados...Insiste em que leve a sua colecção, para digitalizar e depois devolver. Trouxe apenas, a título de empréstimo,  o seu álbum de postais ilustrados (cerca de 90). De se reproduz, abaixo, um.





Guiné Portuguesa > Bilhete Postal > 140 - Banho de menino (Fulacunda). Edição "Foto Serra, C.P. 239, Bissau. Impresso em Portugal. 

Fonte: Exemplar da colecção do Agostinho Gaspar




Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 4612/72 (1972/74) > Agosto de 1974 > Guerrilheiros, armados, do PAIGC, presumimos que na véspera da transferência do aquartelamento. O BCAÇ 4612/72 regressou à Metrópole em finais de 1974.

Fotos: © Agostinho Gaspar (2010). Direitos reservados


Garanti-lhe que hoje o apresentava à Tabanca Grande. Emprestou-me também um DC com a história do seu batalhão, e mais álbuns de fortografias - documento que irei explorar noutra altura. Para já, quero que o Agostinho, que continua a ter a cara de menino com que foi para a Guiné, se sinta confortavel ao pé dos seus camaradas, operacionais ou não. Apreciei muito o seu gesto, confiando-me algo que para ele tem um grande valor sentimental. Espero que em breve ele nos mande o seu endereço de e-mail.

Deste batalhão é o nosso camarada Jorge Canhão, que tem escrito sobre a sua história no TO da Guiné. Temos pelo menos 24 referências, no nosso blogue, II Série,  ao BCAÇ 4612/72.

Guiné 63/74 - P5897: Os nossos médicos (16): Um Soldado Básico licenciado em Medicina (António Tavares)

1. Mensagem de António Tavares * (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), com data de 23 de Fevereiro de 2010:

Caro Vinhal,
Nos Marcadores ”Os Nossos Médicos”, li o nome de um médico, nosso camarada durante a formação do Batalhão, que por razões óbvias omito o nome, mas recordo:

Na formação do BCAÇ 2912, iniciada a 23-02-1970, - (faz hoje 40 anos!) - no CIM de Santa Margarida, tivemos um Soldado Básico… Licenciado em Medicina!

Soldado Básico por motivos políticos com o único mal de ter ideias diferentes daquele que nos mandava ir matar e morrer… a bem da riqueza de alguns!

Esteve no Presídio Militar de Penamacor onde passou dificuldades de vária ordem e até económicas.

Homem de fino trato sempre pronto a ajudar quem precisasse dos seus serviços médicos com a sua mala triangular, estetoscópio, antipiréticos, anti-inflamatórios, ligaduras, etc. … Um espírito João Semana!

Sentia-se útil ao auxiliar e os milicianos agradeciam a sua cooperação que era muito solicitada naquela frigidíssima terra do Campo de Instrução Militar.

O frio era tanto que os camaradas roubavam mantas uns aos outros para não dormirem gelados na caserna!
Eu fui uma das vítimas, mas confesso que também roubei uma!
Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão… logo fui perdoado.
Se o não fui, a penitência foi cumprida no teatro de guerra: - Guiné.
No fim do IAO, em Santa Margarida, não faltou nenhuma manta!

Sem o conhecimento dos Comandos Militares o Soldado Básico - Médico - dormia na caserna dos cabos milicianos e comia na messe dos Sargentos!

O BCAÇ 2912 partiu, em 24-04-1970, da gare marítima de Alcântara, no T/T Carvalho de Araújo, rumo ao CTI da Guiné, com os Alf Mil Médicos Vítor Veloso; José Alberto Martins Faria e Eduardo Teixeira Sousa.

O Dr. Vítor Veloso, em 1971 foi para Bafatá - Delegado de Saúde - e substituído pelo Alf Mil Médico José Guedes, ex-Otorrino no Hospital Geral de Santo António do Porto.

O Médico, com Carteira Profissional, Soldado Básico - na tropa - continuou no CIM de Santa Margarida.

Em 1971 ou 1972 encontrei-o na Guiné, tenho a ideia como Alf Mil Médico.

Os seus bons serviços e competência técnica foram precisos naquela macabra guerra de guerrilha, onde se matava para não morrer!

Quarenta anos passados é o que recordo do Senhor Dr. ... Assim conhecido e tratado pelos milicianos!

Os ex-combatentes conhecem bem histórias de repressão política, com intervenções da PIDE, nos anos de 1961 a 1974 a vários cidadãos de pensamento contrário ao regime vigente de então.

A juventude do após 25 de Abril/74 por muito que leia, veja e ouça não tem felizmente a noção e a vivência de uma guerra de guerrilha que visava a conquista das populações nativas segundo a propaganda da época.

Com um abraço do,
António Tavares
Ex-Fur.Mil. SAM
Foz do Douro, 23-02-2010
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(*) Vd. poste de 7 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5234: Estórias avulsas (55): O ar assustado de uma prisioneira de guerra (António Tavares)

Vd. último poste da série de 30 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5732: Os nossos médicos (15): Professor Doutor Pereira Coelho (ex-Alf Mil Méd do BCAÇ 3872 e Director do Hospital Civil Bafatá, 71/74

Guiné 63/74 - P5896: Convívios (195): IV Encontro dos ex-combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos, dia 6 de Março de 2010 (Carlos Vinhal)

IV CONVÍVIO DOS EX-COMBATENTES DA GUINÉ DO CONCELHO DE MATOSINHOS

De acordo com o prometido*, a organização vem informar que o Almoço será servido no Restaurante Marisqueira Majara que fica situado na Rua do Godinho, 343, em Matosinhos, mesmo em frente à saída do Parque de Estacionamento das Marisqueiras.

O preço do almoço será de 25 €uros.

Para evitar publicar a Ementa por inteiro, esclarecemos que no preço estão incluídos serviço de Bar, Aperitivos, Sopa, Prato de peixe (quem quiser pode optar por carne), vinhos, sobremesa, café e digestivos.

Está já confirmada a presença, de novo, do senhor General Carlos Azeredo, o que muito nos honra.

Temos cerca de 125 inscrições confirmadas o que irá constituir um novo máximo de participantes.

Lembramos que a concentração dos ex-combatentes e acompanhantes será em frente ao edifício da Câmara Municipal (Jardim Basílio Teles), a partir das 12 horas.


Bonito espaço compreendido entre o edifício da Câmara, à esquerda, e o Parque Basílio Teles, à direita da foto
Foto retirada da Página da Câmara Municipal de Matosinhos, com a devida vénia.


Se algum dos camaradas forasteiros se sentir desorientado, pode recorrer aos nossos números de telefone para saber como e onde nos encontrar.

- António Maria - 938 492 478
- Carlos Vinhal - 916 032 220
- José Oliveira - 917 898 944
- Ribeiro Agostinho - 969 023 731
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(*) Vd. poste de 10 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5800: Convívios (101): IV Encontro dos ex-combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos, dia 6 de Março de 2010 (Carlos Vinhal)

Vd. último poste da série de 27 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5892: Convívios (107): Visitei a Tabanca Pequena de Matosinhos e quero homenagear os seus mentores (Jorge Fontinha)

Guiné 63/74 - P5895: Blogpoesia (65): Porque Será (que não consigo esquecer) (Albino Silva)


1. Mensagem de Albino Silva* (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), com data de 23 de Fevereiro de 2010:

Carlos Vinhal
Aqui te mando este trabalhito para colocares na Nossa Tabanca Grande.
Espero que chegue bem, pois tenho mais para enviar, mas quero ter a certeza que chegou bem.

Um Abração para todos os Tertulianos.
Em Especial para os Chefes de Tabanca.
Albino Silva



PORQUE SERÁ

Por mais que eu queira esquecer
O passado no Ultramar
Eu bem tento mas não consigo
Pois o estou sempre a lembrar …

Não consigo esquecer
E se o Trauma assim é
A verdade eu não esqueço
Recordo sempre a Guiné …

Não consigo esquecer
Da Guiné é já Paixão
A Guiné e Camaradas
Com quem fui em Batalhão …

Não consigo esquecer
E ainda hoje eu sinto
Saudades dos Camaradas
Da Guiné Teixeira Pinto …

Não consigo esquecer
Locais por onde eu andei
Até mesmo a Enfermaria
Onde tanto Serviço prestei …

Não consigo esquecer
As Gentes daquela terra
Os Estrondos dos Morteiros
Mortos Feridos e Guerra…

Não consigo esquecer
Aquela Enfermaria
Do Ferido em Combate
Ou por Doença Morria …

Não consigo Esquecer
Camaradas a Chorar
Traumatizados da Guerra
Que eu tentava Consolar …

Não consigo esquecer
Esse tempo Dia a Dia
Rebentamentos constantes
Que toda a Guiné Tremia …

Não consigo esquecer
Tudo aquilo que Vivi
Tanto e tanto Camarada
Que na Guiné conheci …

Não consigo esquecer
As Picagens nas Estradas
Vejo ainda Inimigos
A dispararem Rajadas …

Não consigo esquecer
A companhia ou Pelotão
Camaradas Caçadores
Que eram do meu Batalhão …

Não consigo esquecer
Camaradas Paras e até
Os Fuzas lá no Canchungo
Teixeira Pinto Guiné …

Não consigo esquecer
Tantos Milícias que vi
Guineenses do Canchungo
Que com eles convivi…

Não consigo esquecer
Bem de tudo estou lembrado
Penso na Minha G 3
Companheira do passado …

Não consigo esquecer
Ainda me julgo Fardado
Na Guiné ainda estou
Com o meu Camuflado …

Não consigo esquecer
Momentos que lá Vivi
Ao ver Sofrer Camaradas
Com eles também Sofri …

Não consigo esquecer
Os Roncos ou Emboscadas
Com tantos Anos passados
Ainda ouço Rajadas …

Não consigo esquecer
Camaradas que lutaram
Defendendo sua Bandeira
E pela Pátria Tombaram …

Não consigo esquecer
O Calor aquele Inferno
O Cheiro constante a Pólvora
E as Chuvas no Inverno …

Não consigo esquecer
Da Guiné me lembro Sim
Dos Reforços e Psico
Guardas á Ponte e Fortim …

Não consigo esquecer
Mesmo por muito tentar
Quando penso estar esquecido
Estou com a Guiné a Sonhar …

Eu não consigo esquecer
Coisas em minha memória
E sonhar com a Guiné
Faz parte da minha História …

Eu não consigo esquecer
Nem Guiné nem sua Gente
Eu Sonho que sou Soldado
E ainda sou Combatente …

Eu não consigo esquecer
E a Dormir vou Sonhando
Caindo numa Emboscada
Com Gritos vou acordando…

Eu não consigo esquecer
Efeitos que a Guerra tem
E o Trauma que hoje tenho
Tem a Familia também …

Eu não consigo esquecer
O passado que vivi
Que de bom só hoje tenho
Camaradas que conheci …

Eu não consigo esquecer
É bem verdade o que digo
Por hoje deixo a Escrita
E vou fugir para o Abrigo…


Albino Silva
Sol. Maq. Nº 011004/67
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 16 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5827: Convívios (102): Ex-militares do BCAÇ 2845, no dia 1 de Maio de 2010 em Buarcos (Albino Silva)

Vd. último poste da série de 28 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5717: Blogpoesia (64): À uma e meia da tarde... Em homenagem ao António Marques, que sobreviveu, dois anos depois, à explosão de um vulcão (Luís Graça)