Valdemar Queiroz, minhoto por criação, lisboeta por eleição, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70; aqui, na foto, em Contuboel, 1969.
1. Trancado em casa, em pleno agosto (aquele que deveria ser "o nosso queridp mês de agosto"), por causa da sua DPOC de estimação, desolado por ver partir os seus netos, filho e nora de volta para os Países Baixos (depois de umas sempre curtas férias em Portugal), o nosso querido amigo e camarada Valdemar Queiroz não desiste de enriquecer (ou complexificar) as respostas à pergunta (tramada, para os portugueses) que é a de saber o que quer dizer "ser português", aqui e agora, "hic et nunc"... Aqui ficam cinco dos seus comentários de antologia:
(i) 11 de agosto de 2022 às 16:03 (*)
O que é ser português ?
Mas, depois de três dias de viagem a atravessar a França e, por não aguentar mais tempo, uma directa de San Sebastian pra chegar a Bragança. Ufff!, chegar a Portugal, e começar logo a sentir a diferença do calor, do cheiro, ver o céu azul, tudo diferente mas nunca esquecido, e ouvir 'bócê nem sabe o calor pro aqui'.
Depois, é só passar por Valverde, Vale do Porco, Vilar de Rei e chegar a Mogadouro, estacionar a autocaravana no Parque de Campismo e descansar para viajar em Portugal.
Parece que estes emigrantes dos anos 2000 já não se sentem emigrantes, antes vão trabalhar para outras paragens...mas a razão é sempre a mesma: um país com mais conventos que palácios e fábricas ter mar à porta de casa.
Assim cá chegaram os meus netos, filho e nora para passar férias vindos dos Países Baixos. (...)
(ii) 13 de agosto de 2022 às 02:13 (**)
Sempre me fez muita confusão ver os neerlandeses ir à casa de banho e não lavar as mãos. Nunca me deram uma explicação, talvez seja por causa do tempo frio.
Depois, lembrei-me de ter lido uma crónica de um estrangeiro em Lisboa no séc. XVIII, que dizia que os portugueses parecem estar a cometer pecados a qualquer hora, estão sempre a lavar as mãos. Dizem que nos ficou do tempo dos árabes, tal como o "Se Deus quiser" (Insha' Allah") por tudo e por nada.
(iii) 13 de agosto de 2022 às 18:28 (***)
E sobre moinhos também há para escrever.
Com 'moleiro', do latim molinariu, foi um pouco diferente, por em galego ser 'muiñeiro', em espanhol 'moinero', em catalão 'moliner' e em francês 'meunier'. Os alemães dizem 'müller' e os neerlandeses 'molenaar'.
Agora, o querer ir ao Restaurante "De Hoop" num moinho em Bavel (NL) e perguntar por molen, môlen, mólen, e uuuu? molin, molino, e uuuu? ah! móla, respondeu-me a senhora indicando o caminho.
Meu caro Fernando Ribeiro:
Hoje acordei com alguma inveja de ver os meus netos partir de regresso das férias em Portugal. Inveja de outros os poderem ver todos os dias.
O Camões chamava invejosos aos portugueses? Só poderia ser por nos aventurarmos à procura de novas rotas das especiarias com inveja dos muçulmanos, venezianos e genoveses o fizessem no Mediterrâneo. Ou antes a inveja era dos outros por não serem como o D. Sebastião e o Vasco da Gama?
Ou por sermos invejáveis? Ou até, dividindo bem as orações, a INVEJA final pode estar relacionado com outro canto. não sei por nunca ter sido bom a português.
Ah, também tenho inveja não poder respirar como deve ser....talvez por ter inveja de ver os outros fumar quando tinha 15 anos !!
Inveja em neerlandês é jaloezie (lê-se: iáluzi) que quer dizer ciúmes, e invejar é benijden (lê-se: beneida).
Saúde da boa (sem invejas)
(*) Vd. poste de 10 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23512: Notas de leitura (1473): Eduardo Lourenço (1923-2020): afinal, quem são os portugueses, e o que significa ser português? (José Belo, Suécia)
(***) Vd. poste de 13 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23522: O nosso querido mês de agosto, pós-pandémico: o que é ser português, hoje? (3): Nos Camarões não há... camarões (Alberto Branquinho) / E já cá chegaram os meus netos, filho e nora para passar férias vindos dos Países Baixos (Valdemar Queiroz)
Sempre me fez muita confusão ver os neerlandeses ir à casa de banho e não lavar as mãos. Nunca me deram uma explicação, talvez seja por causa do tempo frio.
Depois, lembrei-me de ter lido uma crónica de um estrangeiro em Lisboa no séc. XVIII, que dizia que os portugueses parecem estar a cometer pecados a qualquer hora, estão sempre a lavar as mãos. Dizem que nos ficou do tempo dos árabes, tal como o "Se Deus quiser" (Insha' Allah") por tudo e por nada.
(iii) 13 de agosto de 2022 às 18:28 (***)
E sobre moinhos também há para escrever.
Do latin molinu apareceu o português 'moinho', que perdeu o l intervocálico e o galego 'muiño' também. Não é muito diferente do latim o espanhol 'molino', o catalão 'moli' e o francês 'molin'. Em alemão 'müle' e em neerlandês 'molen'.
Com 'moleiro', do latim molinariu, foi um pouco diferente, por em galego ser 'muiñeiro', em espanhol 'moinero', em catalão 'moliner' e em francês 'meunier'. Os alemães dizem 'müller' e os neerlandeses 'molenaar'.
Agora, o querer ir ao Restaurante "De Hoop" num moinho em Bavel (NL) e perguntar por molen, môlen, mólen, e uuuu? molin, molino, e uuuu? ah! móla, respondeu-me a senhora indicando o caminho.
Os vizinhos flamengos que povoaram os Açores, também levaram para as ilhas os seus conhecimentos na construção de moinhos que ainda por lá se encontram.
Os neerlandeses, não digo os holandeses por haver moinhos sem ser nas províncias da Holanda do norte e do sul, aproveitando as suas "estradas" de água construíram moinhos de vento junto dos muitos canais que utilizam para tudo e mais alguma coisa. São uma força motriz para as mais diversas actividades.
E temos o célebre "Molin Rouge" em que as velas ao vento são as pernas em movimento das bailarinas de can-can.
Os neerlandeses, não digo os holandeses por haver moinhos sem ser nas províncias da Holanda do norte e do sul, aproveitando as suas "estradas" de água construíram moinhos de vento junto dos muitos canais que utilizam para tudo e mais alguma coisa. São uma força motriz para as mais diversas actividades.
E temos o célebre "Molin Rouge" em que as velas ao vento são as pernas em movimento das bailarinas de can-can.
PS - Sem pretender ser um letrudo e escrever como que velas ao vento, desculpem a confusão da explicação, que não será nenhuma novidade para a rapaziada da nossa idade.
(iii) 13 de agosto de 2022 às 22:16 (****)
... "Ser português ... é dar porrada na mãe" ... e o resto que eu transcrevi, são palavras de parte de um interessante texto humorístico, de Guilherme Duarte, com o título genérico "O Fado de ser Português".
O estigma dar "porrada" na mãe ficou-nos por causa do D. Afonso Henriques ter batido a mãe na batalha de S. Mamede. É o que dizem e sempre se prestou para textos de humor.
O texto completo do "O Fado de ser Português" tem frases com piada e com alguma verdade.
Abraço e saúde da boa.
O estigma dar "porrada" na mãe ficou-nos por causa do D. Afonso Henriques ter batido a mãe na batalha de S. Mamede. É o que dizem e sempre se prestou para textos de humor.
O texto completo do "O Fado de ser Português" tem frases com piada e com alguma verdade.
Abraço e saúde da boa.
Hoje acordei com alguma inveja de ver os meus netos partir de regresso das férias em Portugal. Inveja de outros os poderem ver todos os dias.
O Camões chamava invejosos aos portugueses? Só poderia ser por nos aventurarmos à procura de novas rotas das especiarias com inveja dos muçulmanos, venezianos e genoveses o fizessem no Mediterrâneo. Ou antes a inveja era dos outros por não serem como o D. Sebastião e o Vasco da Gama?
Ou por sermos invejáveis? Ou até, dividindo bem as orações, a INVEJA final pode estar relacionado com outro canto. não sei por nunca ter sido bom a português.
Ah, também tenho inveja não poder respirar como deve ser....talvez por ter inveja de ver os outros fumar quando tinha 15 anos !!
Inveja em neerlandês é jaloezie (lê-se: iáluzi) que quer dizer ciúmes, e invejar é benijden (lê-se: beneida).
Saúde da boa (sem invejas)
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 10 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23512: Notas de leitura (1473): Eduardo Lourenço (1923-2020): afinal, quem são os portugueses, e o que significa ser português? (José Belo, Suécia)
(**) Vd. poste de 12 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23518: O nosso querido mês de agosto, pós-pandémico: o que é ser português, hoje ? (1) : É estar no mundo como em casa (Telma Pinguelo, Toronto, Canadá, citando o etnólogo Jorge Dias)