1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude,
1968/70), com data de 2 de Fevereiro de 2016:
Caros editores
Aqui envio mais um texto sobre Arquivos.
Vou ver o que existe sobre os outras ramos.
Abraço
José Martins
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Nota de editor
Último poste da série de 6 de fevereiro de 2016 28 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15680: Consultório militar do José Martins (16): Arquivos, Bibliotecas e Centros de Documentação - Arquivo Geral do Exército
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016
Guiné 63/74 - P15738: Notas de leitura (807): “Spínola”, de Luís Nuno Rodrigues, A Esfera dos Livros, 2010 (1) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Abril de 2015:
Queridos amigos,
Não é incomum negar o óbvio quando se faz uma leitura à procura de fundamentos para certas tomadas de posição. Lendo esta biografia do investigador Luís Nuno Rodrigues, ganha meridiana clareza a permanente atitude de Spínola de avisar os seus superiores sobre a evolução do teatro da guerra. Esses superiores nem sempre aceitarão esses argumentos, consideravam que Spínola pintava o quadro em tons melodramáticos, o que ele queria era mais meios humanos e materiais e os seus escritos funcionavam como intimidações.
Ora, estudos posteriores vieram reconhecer que Spínola, de um modo geral, advertia aos seus superiores sobre a gravidade da situação sem bazófia. Tem pela frente um inimigo ideológica e militarmente bem preparado para destruir e retirar para pontos ermos ou para território estrangeiro. E nessa correspondência vemos claramente a evolução da guerra até ao rodopio final. Mas não pior cego do que aquele que não quer ver.
Um abraço do
Mário
Spínola e a evolução militar da Guiné (1968-1973) - (1)
Beja Santos
É uma pura banalidade dizer-se que há releituras que permitem um olhar remoçado sobre a qualidade de um romance, de uma obra poética ou de uma investigação histórica. Li a biografia “Spínola”, de Luís Nuno Rodrigues, A Esfera dos Livros, 2010, com a compreensível atenção de que este investigador, dois anos antes, dera à estampa, também em A Esfera dos Livros, o livro "Marechal Costa Gomes", um trabalho irrepreensível.
Queridos amigos,
Não é incomum negar o óbvio quando se faz uma leitura à procura de fundamentos para certas tomadas de posição. Lendo esta biografia do investigador Luís Nuno Rodrigues, ganha meridiana clareza a permanente atitude de Spínola de avisar os seus superiores sobre a evolução do teatro da guerra. Esses superiores nem sempre aceitarão esses argumentos, consideravam que Spínola pintava o quadro em tons melodramáticos, o que ele queria era mais meios humanos e materiais e os seus escritos funcionavam como intimidações.
Ora, estudos posteriores vieram reconhecer que Spínola, de um modo geral, advertia aos seus superiores sobre a gravidade da situação sem bazófia. Tem pela frente um inimigo ideológica e militarmente bem preparado para destruir e retirar para pontos ermos ou para território estrangeiro. E nessa correspondência vemos claramente a evolução da guerra até ao rodopio final. Mas não pior cego do que aquele que não quer ver.
Um abraço do
Mário
Spínola e a evolução militar da Guiné (1968-1973) - (1)
Beja Santos
É uma pura banalidade dizer-se que há releituras que permitem um olhar remoçado sobre a qualidade de um romance, de uma obra poética ou de uma investigação histórica. Li a biografia “Spínola”, de Luís Nuno Rodrigues, A Esfera dos Livros, 2010, com a compreensível atenção de que este investigador, dois anos antes, dera à estampa, também em A Esfera dos Livros, o livro "Marechal Costa Gomes", um trabalho irrepreensível.
Na leitura que fiz de Spínola, vai para cinco anos, pareceu-me que era uma investigação asseada, bem documentada, mas que não trazia a palpitação de factos novos. Agora, que estou a trabalhar numa história da Guiné portuguesa que chega à independência efetiva, todos os acontecimentos da guerra da libertação têm que ser reposicionados à luz de obras de mérito indiscutível, com as de Fernando Policarpo, Leopoldo Amado e Julião Soares Sousa.
Inevitavelmente, reli o trabalho de Luís Nuno Rodrigues e revelou-se-me, como em clarão, que o investigador, ao mostrar a correspondência de Spínola com governantes e altas chefias militares, deixou iniludivelmente registado a evolução militar da Guiné, e o que escreveu é seriamente desconfortável para aqueles que continuam a jurar a pés juntos que a evolução militar não caminhava para o caos total.
No seu encontro com Salazar, em Maio de 1968, Spínola não tece equívocos quanto ao seu pensamento: a guerra na Guiné já tinha atingido uma fase em que o “problema militar” se sobrepunha a qualquer outro, mas era no campo político social que estava o fulcro da contrassubversão. Nessa mesma conversa recordou a Salazar que um insucesso na Guiné teria efeitos devastadores, e apresentou condições através de um documento intitulado “Alguns aspetos que condicionam a solução da presente situação na Guiné". Salazar ouviu tudo sem comentários e limitou-se a dizer: “É urgente que embarque para a Guiné”.
No seu encontro com Salazar, em Maio de 1968, Spínola não tece equívocos quanto ao seu pensamento: a guerra na Guiné já tinha atingido uma fase em que o “problema militar” se sobrepunha a qualquer outro, mas era no campo político social que estava o fulcro da contrassubversão. Nessa mesma conversa recordou a Salazar que um insucesso na Guiné teria efeitos devastadores, e apresentou condições através de um documento intitulado “Alguns aspetos que condicionam a solução da presente situação na Guiné". Salazar ouviu tudo sem comentários e limitou-se a dizer: “É urgente que embarque para a Guiné”.
Em 26 de Junho de 1968, Spínola escreve a Salazar: “Se não enfrentarmos o problema da Guiné em regime de exceção, a Nação perderá esta guerra, não obstante a possamos ganhar, com base nas qualidades do nosso soldado”.
Spínola encarou com otimismo a nomeação de Caetano, os militares conheciam a posição que este defendera quanto à criação de uma “federação de Estados”, no início da década de 1960. A Guiné de 1968 correspondia a uma implantação do PAIGC na região Sul, a uma presença segura em áreas designadas como santuários entre o Corubal e o Boé. O conceito de manobra adotado por Schulz arrecadara resultados manifestamente insatisfatórios, com perda de controlo do território e o PAIGC a alargar as suas ações ao Leste, no Chão Manjaco, a beneficiar da tolerância senegalesa que passou a permitir abertamente a passagem de armamento pela fronteira Norte. A partir de 1966, Cuba é uma presença técnica constante para o uso da artilharia.
Spínola encarou com otimismo a nomeação de Caetano, os militares conheciam a posição que este defendera quanto à criação de uma “federação de Estados”, no início da década de 1960. A Guiné de 1968 correspondia a uma implantação do PAIGC na região Sul, a uma presença segura em áreas designadas como santuários entre o Corubal e o Boé. O conceito de manobra adotado por Schulz arrecadara resultados manifestamente insatisfatórios, com perda de controlo do território e o PAIGC a alargar as suas ações ao Leste, no Chão Manjaco, a beneficiar da tolerância senegalesa que passou a permitir abertamente a passagem de armamento pela fronteira Norte. A partir de 1966, Cuba é uma presença técnica constante para o uso da artilharia.
Luís Nuno Rodrigues recorda o conteúdo das primeiras diretivas, apelava-se ao governo central o tratamento da Guiné como território em situação crítica, sob pena de Portugal acabar por perder o controlo efetivo da Guiné. Recriminava o velho armamento utilizado, a falta de meios de transporte de assalto, nomeadamente helicópteros. Era uma guerra em duas frentes: o desenvolvimento económico do território, quebrando argumentos de propaganda ao inimigo e reconquistar e manter o controlo efetivo da província. É uma tecla que vai ser sempre martelada, reforço dos meios operacionais, constituição do núcleo de forças de intervenção, revisão do esquema de instrução dos militares europeus, alargar o recrutamento africano e implantar estruturas de autodefesa das populações; solicita insistentemente armamento e equipamento antiaéreo e a instalação de um centro emissor para difundir a propaganda portuguesa.
Numa reunião do Conselho Superior de Defesa Nacional, no início de Novembro de 1968, Spínola apela que se defina claramente a missão a desempenhar pelas Forças Armadas. Se tal não acontecesse, “corremos, a passos largos, para a perda da Guiné”.
Alguns dos políticos presentes consideraram o cenário como demasiado negro, seja como for houve resposta favorável a parte dos seus pedidos. A pressão que irá exercer sobre o governo central será permanente, alega que pretende reduzir drasticamente a capacidade militar do PAIGC, começa por apear vários coronéis e tenentes-coronéis, exige um “Comando Operacional Único”, que Marcello Caetano sanciona em Julho de 1969.
Alguns dos políticos presentes consideraram o cenário como demasiado negro, seja como for houve resposta favorável a parte dos seus pedidos. A pressão que irá exercer sobre o governo central será permanente, alega que pretende reduzir drasticamente a capacidade militar do PAIGC, começa por apear vários coronéis e tenentes-coronéis, exige um “Comando Operacional Único”, que Marcello Caetano sanciona em Julho de 1969.
Jamais irá abdicar da prerrogativa de escolher os seus oficiais. E quando necessário ameaça com a demissão. Apercebe-se que o transporte através dos rios é fulcral e autorizou Alpoim Calvão a levar por diante operações de destruição de lanchas rápidas do PAIGC. A africanização da guerra acelerou-se, enquanto em 1968 esse número era de 3280, em 1973 subira para 6425. Tratou-se de uma africanização que encontrava correspondência no discurso ideológico de Spínola assente na construção de uma “Guiné melhor”. Carlos Fabião reorganizou as milícias, nasceram os Comandos Africanos, e mais tarde os Fuzileiros.
É facto que com a chegada de Spínola à Guiné houve alterações significativas. Ao longo de 1969 e 1970 encontra-se correspondência entre Spínola e o Ministro da Defesa e as queixas não param, exige mais médicos, faz alusões ao caso da Índia. Caetano assiste em Bissau, em 14 de Julho de 1969, a uma reunião extraordinária de Comandos e pergunta a Spínola qual a evolução que este previa para a Guiné num futuro próximo. O cenário apresentado pelo Governador foi manifestamente negativo. Era necessário retomar a iniciativa no campo militar, já que a situação dava sinais de se tornar “extremamente crítica”.
É facto que com a chegada de Spínola à Guiné houve alterações significativas. Ao longo de 1969 e 1970 encontra-se correspondência entre Spínola e o Ministro da Defesa e as queixas não param, exige mais médicos, faz alusões ao caso da Índia. Caetano assiste em Bissau, em 14 de Julho de 1969, a uma reunião extraordinária de Comandos e pergunta a Spínola qual a evolução que este previa para a Guiné num futuro próximo. O cenário apresentado pelo Governador foi manifestamente negativo. Era necessário retomar a iniciativa no campo militar, já que a situação dava sinais de se tornar “extremamente crítica”.
Caetano e Spínola reencontram-se em Lisboa em 8 de Maio, Spínola sentiu-se ufano, parecia que iria receber mais reforços em prejuízo de Angola e Moçambique. Reencontram-se a 24 de Setembro, em Lisboa, Spínola alerta o Presidente do Conselho para o agravamento da situação militar. E os meios humanos e materiais pedidos não obtêm resposta. Em Abril de 1970, ocorre o massacre de oficiais na região de Jolmete, o sonho de uma fração do PAIGC ser incorporada nas Forças Armadas evapora-se.
Em Julho de 1970, Spínola alerta o Chefe do Estado-Maior e o Ministro do Ultramar para o facto de estarem a enfrentar uma nova ofensiva militar. Bate na tecla da insuficiência de meios materiais e humanos. Em Novembro de 1970, Spínola volta a insistir num agravamento da situação militar, e é nesse contexto que decorrem os preparativos da Operação Mar Verde que se saldou num revés diplomático em toda a linha, fez crescer o isolamento da diplomacia portuguesa. Por essa altura, e verdadeiramente desencantado com a situação militar, Spínola dá prioridade às soluções políticas.
(Continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 8 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15722: Notas de leitura (806): Textos de Carlos Schwarz (Pepito), na Revista Sumara, publicação da responsabilidade da Fundação João Lopes, Cabo Verde (Mário Beja Santos)
(Continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 8 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15722: Notas de leitura (806): Textos de Carlos Schwarz (Pepito), na Revista Sumara, publicação da responsabilidade da Fundação João Lopes, Cabo Verde (Mário Beja Santos)
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016
Guiné 63/74 - P15737: Blogoterapia (274): Portas estreitas da vida onde nem sempre se consegue passar (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto, CART 3493, Mansambo, Fá Mandinga, Bissau, 1972/74)
Foto tirada durante a quinta sessão de quimioterapia no IPO de Coimbra
1. Em mensagem de ontem, dia 10 de Fevereiro de 2016, o nosso camarada António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493/BART 3873, Mansambo, Fá Mandinga e Bissau, 1972/74) enviou-nos este texto, a que deu o título de:
Portas estreitas da vida onde nem sempre se consegue passar
Ao decidir escrever este poste, reconheço que nada tem a ver com a guerra que, uns mais de que outros, todos nós vivemos na então província da Guiné.
O que me levou a escrever sobre esta doença que algumas pessoas não gostam sequer de ouvir falar, a esses peço desculpa, foi saber que muitos daqueles que por lá passaram já viveram e outros estarão nesta altura a viver uma situação como aquela que eu tenho vivido há já mais de uma dezena de anos.
Conheço pessoas que fazem tudo que estiver ao seu alcance para que ninguém saiba que são doentes oncológicos, tal comportamento, em meu entender, é um autêntico disparate e revelador de uma ignorância lamentável. Pois não só os priva do apoio que alguém que já viveu a mesma situação lhes possa dar, como,á com o seu silêncio, negam ajuda a quem dela possa necessitar.
Então como encarar a vida quando confrontados com tal situação?
Primeiro “descer à terra” e pensar que apesar de não parecer, estamos a ser confrontados com algo cada vez mais normal. Por vezes somos levados a perguntar, mas porquê a mim? Pergunta que só tem razão de ser pelo desnorte que naquele momento estamos a viver. Quantos, antes de nós não passaram pelo mesmo? Uns mais velhos, outros mais novos, algumas ainda crianças.
A minha doença foi diagnosticada nos últimos meses do ano de dois mil e quatro, seguiram-se cinco meses de espera e a cirurgia em fevereiro do ano seguinte, hoje talvez esperasse menos tempo, passados cerca de dois meses, fui sujeito a trinta e cinco tratamentos de radioterapia, reagi sempre bem, os efeitos secundários foram quase inexistentes. Ao longo destes anos continuei sempre a ser seguido no IPO de Coimbra.
No início do ano passado os valores tumorais estavam demasiado altos, foi então que foi decidido que tinha de fazer quimioterapia o que aconteceu a partir do início do mês de abril, seguiram-se dez tratamentos com intervalos de três semanas. No início fiquei um pouco assustado atendendo ao que ouvia falar acerca dos possíveis efeitos secundários, no primeiro dia fui acompanhado por uma pessoa de família ao tratamento, a viagem é de aproximadamente cem quilómetros de minha casa até ao hospital, nas restantes nove sessões a que fui sujeito entendi que não era necessário ir alguém comigo.
Tudo foi menos complicado que eu imaginava, o mais aborrecido era a deslocação, mas também se tornou fácil a partir do momento em que decidi utilizar o transporte facultado pelo hospital em viaturas dos bombeiros, permitiu-me assim ultrapassar mais uma serie de preocupações: se chegava a horas, se estaria em condições para conduzir, onde arrumar o carro o que não é nada fácil naquele local e, saber que mesmo aqueles que terminam o tratamento mais tarde há sempre alguém que os espera para regressar a casa.
Terminadas as dez sessões, fim do tratamento, senti um alívio enorme próprio de quem passou por mais uma porta estreita da vida, daquelas que nunca se sabe se conseguimos passar, os efeitos secundários comparando com o que acontece a algumas pessoas foram poucos o que me permitiu continuar a fazer uma vida quase normal, com exceção do dia do tratamento, todos os outros continuei a fazer a caminhada como antes fazia, de aproximadamente uma hora.
Para que tudo decorresse tão bem há que realçar o trabalho desenvolvido por um grupo de pessoas que tudo faz para que os doentes se sintam o melhor possível, desde o pessoal médico, as enfermeiras/os, os técnicos, pessoal administrativo, e outros, não esquecendo os voluntários sempre prontos a ajudar sem receber nada em troca.
Sem esse conjunto de pessoas, nada podia ser feito, mas o doente também pode e deve ajudar, e a forma de o poder fazer é pensar que já que ali está, apenas terá a ganhar com isso, seguir rigorosamente os conselhos que lhe são dados, muito importante também numa fase tão confusa da vida é saber distinguir as pessoas que merece a pena escutar. As outras o melhor será afastar-se delas.
Normalmente ouve-se falar sobre esta doença, se alguns sabem de que falam e o que dizem, outros há que prestariam uma grande ajuda aos doentes se estivessem calados. Cada caso é um caso, o meu tratamento tinha uma duração de aproximadamente duas horas, outros demorava o dobro e alguns ainda mais, os efeitos secundários podem ser muito diferentes de pessoa para pessoa, pois o tratamento administrado não é igual para todos e a reação de cada um também pode ser diferente.
Havia muito a contar sobre o tempo que tenho vivido depois de me ter sido diagnosticada a doença e como tenho procurado minimizar as situações menos agradáveis que sempre acontecem, mas ficará para uma próxima… por hoje termino dizendo aos camaradas que possam estar a viver uma situação igual ou parecida com a que eu tenho vivido ao longo destes anos, que devemos pensar um dia de cada vez, amanhã logo se verá, a coragem, a esperança e, já agora a fé, devem de estar sempre connosco pois são uma preciosa ajuda.
A todos um abraço
Hoje assino com o nome completo,
António Eduardo Jerónimo Ferreira
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Nota do editor
Último poste da série de 17 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15501: Blogoterapia (273): Notícias do nosso camarada António Paiva, ex-Soldado Condutor Auto do HM 241 (Carlos Vinhal)
Guiné 63/74 - P15736: Álbum fotográfico de António José Pereira da Costa, Coronel de Art.ª Ref (ex-Alferes de Art.ª na CART 1692; ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494 e CART 3567 (3): Arte guineense
1. Mensagem do nosso camarada António José Pereira da Costa, Coronel de Art.ª Ref (ex-Alferes de Art.ª na CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá,
1972/74), com data de 31 de Janeiro de 2016, com algumas fotos sobre a arte da Guiné para o seu Álbum fotográfico:
As esculturas que se seguem foram feitas pelo artesão Mussé (não lhe conheço mais nomes) era nalú e trabalhava à beira-rio, sentado no chão.
O Capitão da Companhia anterior (Sá Nunes) "deu-lhe" um miúdo para que ele o ensinasse e a arte não se perdesse. O Mussé era teimoso e não deixava o miúdo praticar.
Creio que este tipo de arte se perdeu, embora ande por ai, em diversos desenhos um iran - Karamanchol - parecido com um outro que apresentarei, mas mais trabalhado. O Mussé usava um gorro à fula e metia o cachimbo sob o gorro, deixando apenas o fornilho de fora.
As três primeiras são uma Banda que se coloca na cabeça do bailarino apoiada naquela ranhura que está em baixo. O bico mais afiado fica para frente.
As outras duas dizem respeito a outro adorno de dança que chama, se não erro, Lumbé.
A madeira usada era clara, fibrosa e não muito dura. Não sei de que árvore provinha. Não sei em que danças eras utilizadas, pois nunca as vi em uso.
CIRANS
Julgo que é arte fula, pois foi um soldado fula - o Aliu Embaló - Atirador em 1968 e Campanha, obús 14 / 11,4 em 1971, que mos deu. Tinha nesta altura duas mulheres - a Aminata e a Umu - uma por amor e outra por dever social, dada a estirpe a que pertencia, Vestiam sempre de igual (até o chapéu de sol/chuva), e já havia duas filhas - a Jénabu e a Salimato - uma de cada mulher. Em 1972 nasceu o António Zé que tem este nome em homenagem ao nosso arfero/capitão; este vosso criado.
Um Abraço
António J. P. Costa
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Nota do editor
Último poste da série de 28 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15681: Álbum fotográfico de António José Pereira da Costa, Coronel de Art.ª Ref (ex-Alferes de Art.ª na CART 1692; ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494 e CART 3567 (2): Arte guineense
As esculturas que se seguem foram feitas pelo artesão Mussé (não lhe conheço mais nomes) era nalú e trabalhava à beira-rio, sentado no chão.
O Capitão da Companhia anterior (Sá Nunes) "deu-lhe" um miúdo para que ele o ensinasse e a arte não se perdesse. O Mussé era teimoso e não deixava o miúdo praticar.
Creio que este tipo de arte se perdeu, embora ande por ai, em diversos desenhos um iran - Karamanchol - parecido com um outro que apresentarei, mas mais trabalhado. O Mussé usava um gorro à fula e metia o cachimbo sob o gorro, deixando apenas o fornilho de fora.
As três primeiras são uma Banda que se coloca na cabeça do bailarino apoiada naquela ranhura que está em baixo. O bico mais afiado fica para frente.
As outras duas dizem respeito a outro adorno de dança que chama, se não erro, Lumbé.
A madeira usada era clara, fibrosa e não muito dura. Não sei de que árvore provinha. Não sei em que danças eras utilizadas, pois nunca as vi em uso.
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CIRANS
Julgo que é arte fula, pois foi um soldado fula - o Aliu Embaló - Atirador em 1968 e Campanha, obús 14 / 11,4 em 1971, que mos deu. Tinha nesta altura duas mulheres - a Aminata e a Umu - uma por amor e outra por dever social, dada a estirpe a que pertencia, Vestiam sempre de igual (até o chapéu de sol/chuva), e já havia duas filhas - a Jénabu e a Salimato - uma de cada mulher. Em 1972 nasceu o António Zé que tem este nome em homenagem ao nosso arfero/capitão; este vosso criado.
Este ciran foi construído para oferecer ao meu cunhado Pedro, então com dois anos.
Este ciran, com asa, é para adulto e parece-me mais autêntico.
Um Abraço
António J. P. Costa
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Nota do editor
Último poste da série de 28 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15681: Álbum fotográfico de António José Pereira da Costa, Coronel de Art.ª Ref (ex-Alferes de Art.ª na CART 1692; ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494 e CART 3567 (2): Arte guineense
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Guiné 63/74 - P15735: Álbum fotográfico de Armando Costa, ex-fur mil mec auto, CCAV 3366 / BCAÇ 3846 (Susana, 1971/73): Parte VII: Susana, tabanca e arredores (1)
Foto9 nº 1 > Bolanha
Foto nº 2 > Piroga
Toto nº 3 > Mercado (1)
Foto nº 4 > Mercado (2)
Foto nº 5 > Escola
Guiné > Região do Cacheu > Susana > CCAV 3366 (Susana, 1971/73) > A tabanca de Susana e arredores
Fotos: © Armando Costa (2016). Todos os direitos reservados.
1. Sétima parte da publicação de uma seleção de fotos do álbum que o Armando Costa, ex-fur mil mec auto, CCAV 3366 / BCAV 3846, Susana, 1971/73) (*) pôs generosamente à nossa disposição:
Recorde-se, muito resumidamente, que a sua subunidade, a CCAV 3366, esteve no CTIG de 9 de março de 1971 a 8 de março de 1973 (24 meses).
Depois da IAO (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional) no Cumeré, foi colacada, em maio de 1971, no subsetor de Susana, na região do Cacheu, no noroeste da Guiné, em pleno coração do chão felupe.
Além do Armando Costa, que é "periquito", há mais dois camaradas da CCAV 3366 / BCAV 3846 (Susana, 1971/73), formalmente registados na nossa Tabanca Grande, e estes são "veteranos":
(i) o Luís Fonseca, ex-fur mil trms, que vive em Vila Nova de Gaia; e
(ii) o Delfim Rodrigues, ex-1.º cabo aux enf, que mora em Coimbra, e é um dos nossos habituais participantes do Encontro Nacional da Tabanca Grande.
Guiné > Região do Cacheu > Susana, no noroeste, junto à fronteira com o Senegal, tendo à esquerda Varela e à direita São Domingos > Carta 1/50 mil (1953) > Pormenor
Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2016)
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Nota do editor:
Último poste da s2 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15697: Álbum fotográfico de Armando Costa, ex-fur mil mec auto, CCAV 3366 / BCAÇ 3846 (Susana, 1971/73): Parte VI: O aeródromo de Susana e uma DO 28 dos Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa, possivelmente pilotada pelo nosso comandante Pombo
Último poste da s2 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15697: Álbum fotográfico de Armando Costa, ex-fur mil mec auto, CCAV 3366 / BCAÇ 3846 (Susana, 1971/73): Parte VI: O aeródromo de Susana e uma DO 28 dos Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa, possivelmente pilotada pelo nosso comandante Pombo
Guiné 63/74 - P15734: Fotos à procura de... uma legenda (69): o CEMGFA, gen Costa Gomes, no CTIG, em 25 de maio de 1973 (Foto de Pierre Fargeas / Jorge Félix)
Foto nº 1 A
Foto nº 1 B
Foto nº 1
Foto: © Pierre Fargeas / Jorge Félix (2009). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]
1. Uns dias antes, a 22, Spínola tinha mandado um telegrama ao Ministro da Defesa, gen Horácio José Sá Viana Rebelo (1910-1995), com o seguinte teor:
"Conforme seu pedido telefónico informo que sob pressão IN comandante local mandou evacuar Guileje e destruir acampamento sem ordem deste comando. Trata-se de lamentável estado de pânico perante manifesta superioridade inimigo, o que em caso algum justifica tal decisão. Esclareço Guileje estava sem comunicações Bissau virtude destruição antena pelo inimigo. Mandei levantar auto corpo de delito comandante responsável. Insisto pedido reforços" (Fonte: Carlos Matos Gomes e Aniceto Afonso - Os anos da guerra: volume 14: 1973: perder a guerra e as ilusões. Matosinhos: QuidNovi, 2009. p.46).
Na foto (, por nós editada), vê-se o CEMGFA, Gen Costa Gomes à direita de Spínola, falando com milícias guineenses (ou um mílicia e um civil). É a única foto que temos dos dois, juntos, Spínola e Costa Gomes, no CTIG... É a única foto, aliás, que temos do Costa Gomes no CTIG...
A foto é do francês Pierre Fargeas (técnico que fazia a manutenção dos helis AL III, na BA 12, Bissalanca, em representação do fabricante), gentilmente enviada pelo nosso camarada Jorge Félix (ex-alf mil pil heli, BA12, Bissalanca, 1968/70). Presumimos que o Pierre Fargeas tenha acompanhado, por razões de segurança, a comitiva militar...
2. De acordo com o documento do CEMGFA que reproduzimos no poste P15731, o gen Costa Gomes deslocou-se novamente à Guné, passados uns dias, numa visita de 4 dias, com início a 6 de junho de 1973, acompanhado do cor Ramires de Oliveira: "Durante os quatro dias que ali permanecemos, tivemos ocasião de observar, auscultar e conversar com muitas pessoas". No dia 8, teve a tal renião com os comandos do CTIG...
Pergunta-se: não haverá aqui uma troca de datas ? Fazia sentido duas visitas do CEMGFA à Guiné no espaço de suas semanas (uma a 25 de maio e outra a 6 de junho) ? É verdade que ele fez mais do que uma visita à Guiné...
3. De qualquer modo, fica aqui o desafio aos nossos leitores: para além do Spínola e do Costa Gomes, quem serão os outros oficiais ?
(i) Quem é oficial que está por detrás do Costa Gomes ? (Foto nº 1 A)
(ii) E o que carrega um coleção de papelada, provavelmente mapas, e que está entre o Costa Gomes e o Spínola ? (Foto nº 1 A)
(iii) Quem são os dois oficiais que estão à esquerda de Spínola ? (Foto nº 1 B)
(iv) Quem seria este milícia e este civil ? (Foto nº 1)
(v) Onde é que a foto foi tirada ? (Foto nº 1)...
... Dão-se "alvíssaras" a quem responder e acertar!
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Nota do editor:
Último poste da série > 7 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15719: Fotos à procura de... uma legenda (68): cinco fotos históricas do cmdt da Op Mabecos Bravios, cor inf Hélio Felgas, na retirada de Madina do Boé (Cortesia da revista Camões, abr-jun 1999, nº 5)
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016
Guiné 63/74 - P15733: Memória dos lugares (333): Antigo Quartel do RAL 5 de Penafiel (Abel Santos, ex-Soldado Atirador)
Antigo Quartel do RAL 5 - Penafiel
Foto retirada da internete, com a devida ao seu autor
1. Em mensagem do dia 22 de Janeiro de 2016, o nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) fala-nos do antigo RAL 5, Unidade Mobilizadora da sua Companhia.
O antigo Quartel do RAL 5 de Penafiel
A cidade de Penafiel, detentora de uma unidade militar denominada Regimento de Artilharia Ligeira N.º 5 (RAL 5), onde deu formação correspondente àquilo a que se chamava Especialidade as vários Batalhões e Companhias, entre elas a minha CART 1742, local onde recebeu ordem de embarque após mobilização para a Província da Guiné Portuguesa, onde chega em 30 de Julho de 1967, conjuntamente com a CART 1743 do mesmo RAL 5.
O Regimento de que estou falando formava também militares com a Especialidade de Ajudante de Cozinheiro, alguns desses camaradas foram colocados nas companhias que dali partiam para o Ultramar Português, entre elas a CART 1742, onde o Albino, o Silva e o Guilherme, dentro dos condicionalismos de então, nos prepararam algumas deliciosas refeições.
Sem mais, um Alfa Bravo para todos.
Abel Santos
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Nota do editor
Último poste da série de 26 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15672: Memória dos lugares (332): Camajabá do tempo da CART 1742 (Abel Santos, ex-Soldado Atirador)
Guiné 63/74 - P15732: Os nossos seres, saberes e lazeres (140): O ventre de Tomar (4) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Janeiro de 2016:
Queridos amigos,
Nesta deambulação por interiores (ou entranhas) da aprazível cidade de Tomar, foi-se ao barbeiro, revisitou-se a sinagoga, uma das principais igrejas e vários estabelecimentos. Não escondo o culto pelo pormenor: a lápide judaica, as pias de água-benta, a pose quase majestática de um barbeiro de gentil atendimento, um antigo lava-loiças de taberna, hoje detalhe incontornável de uma casa de pasto que tem um magnífico ambiente típico.
Infiro que esta coletânea de pormenores só é possível porque há uma exuberância ditada pela história de ricos vestígios. Casos há em que essa exuberância é patente na epiderme dos edifícios e simultaneamente no seu interior - é o caso do Convento de Cristo, magnificente no seu manuelino, magnificente nos seus interiores, recordando que naqueles tempos de riqueza não se poupava dentro e fora, era naturalmente tudo feito em grande, havia dinheiro à farta de escravos, especiarias e ouro.
São sinais interiores de riqueza de diferentes níveis que aqui se desvelam.
Um abraço do
Mário
O ventre de Tomar (4)
Beja Santos
Naquele fim de manhã, o viajante passou a mão pelos cabelos e sentiu que chegara a hora de uma tesourada, desde muito novo que não aprecia andar com uma farta cabeleira, e não são só as motivações higiénicas. O que para o caso interessa é que viu uma barbearia sem clientela, foi bem agradável conversar com aquele profissional que foi desbastando e contando histórias, até ao momento da última escovagem e do pagamento da prestação, o viajante nunca desarmou, não confundiu papéis. No final, apresentou-se e pediu licença para o fotografar com o seu meio de locomoção ao fundo e o seu resto de cabelo ali no chão. Este senhor tem pinta de filósofo, um falar fluido, consistente e sapiente, tem um nome daquele fadista do Embuçado, estivemos ali em maré de confidências, gosto muito do jeito natural com que pousou para esta falsa eternidade. Assim nos aproximamos, damos e deixamos um pouco de nós, sem nenhuma certeza de repetências, e é nessa fragilidade que assenta uma das grandezas do género humano.
A zeladora da sinagoga já me conhece de ginjeira, nunca me deixa sair do templo sem eu botar assinatura da visita, venha sozinho ou acompanhado. O que é belo, tudo aquilo que franqueia as fronteiras do extraordinário, revê-se sem cansar, o mais poderoso são estas divinas proporções entre a altura, o comprimento e a largura, e, passe a retórica do amador de arte, estas colunas esguias, que se encaminham para o céu, aquele teto imaculado de onde saem dedos gigantes que parecem que parecem suportar as colunas e dão a ilusão de que esta imagem está a baloiçar, ou quase.
Naquele largo aprazível onde outrora esteve instalado um quartel de onde saiu gente para várias guerras, agora erguem-se ali instâncias de cultura: um museu dos fósforos, que embasbaca qualquer visitante, e um ateliê de ceramistas, aqui pesponta o talento artesanal, das muflas saem rincões de génio, coisas muito belas, a ligação a Tomar é uma constante em azulejos, potes e tudo mais. É um lugar apetecível, também. Dá gosto meter conversa e fazer perguntas, são senhoras devotadíssimas sentadas como em escritório da vida monástica, daquelas mãos sai mais calor do que das muflas, perdoem a expressão, há entusiasmos esplendentes, e ainda bem.
Temos aqui três imagens de devoção. Olho para aquela lápida na sinagoga como boi para palácio, não entendo nada, mas é certo e seguro que está ali o fervor da memória: ó tu, caminheiro, que por aqui passas, lembra-te que me entreguei ao meu deus misericordioso… Temos depois duas pias de água benta, e aqui a memória vai para aquele pedido de unção dos crentes que confiavam que aquelas gotas ajudavam a lavar o pecado, eram um passaporte para a remissão, ajudavam ao arrependimento. Dizem que o nosso tempo está indiferente a Deus, mas a verdade é que a gente contrita não fica indiferente a todo este poder simbólico, a água que nos encaminha para a Vida.
A cozinha conventual é impressionante pelas dimensões e a natureza dos preparos que aqui se faziam. Aqui está a marca da inclemência do tempo, uma perigosa erosão, fica-nos a certeza que um dia destes por aqui vai entrar uma equipa de arqueólogos que fará uma intervenção desejável. A ironia disto tudo é que para além dos riscos do desabamento (salvo seja!) a imagem ganha força, pela simples razão de que todos nos impressionamos tanto com as inclemências do tempo como com as da natureza.
Aqui se devem ter vendido uma infinidade de tonéis em vinho a copo. Depois deu-se a reciclagem do espaço, empinam-se as pipas gigantescas, em vermelho vivo, há um corredor e depois mesas onde aparecem iguarias servidas em loiça de barro. Prova provada que do velho se faz novo, que todos os espaços têm encanto, basta harmonizar o que já foi funcional com o gosto em bem conviver e bem comer. Olarila!
(Continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 3 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15701: Os nossos seres, saberes e lazeres (139): O ventre de Tomar (3) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Nesta deambulação por interiores (ou entranhas) da aprazível cidade de Tomar, foi-se ao barbeiro, revisitou-se a sinagoga, uma das principais igrejas e vários estabelecimentos. Não escondo o culto pelo pormenor: a lápide judaica, as pias de água-benta, a pose quase majestática de um barbeiro de gentil atendimento, um antigo lava-loiças de taberna, hoje detalhe incontornável de uma casa de pasto que tem um magnífico ambiente típico.
Infiro que esta coletânea de pormenores só é possível porque há uma exuberância ditada pela história de ricos vestígios. Casos há em que essa exuberância é patente na epiderme dos edifícios e simultaneamente no seu interior - é o caso do Convento de Cristo, magnificente no seu manuelino, magnificente nos seus interiores, recordando que naqueles tempos de riqueza não se poupava dentro e fora, era naturalmente tudo feito em grande, havia dinheiro à farta de escravos, especiarias e ouro.
São sinais interiores de riqueza de diferentes níveis que aqui se desvelam.
Um abraço do
Mário
O ventre de Tomar (4)
Beja Santos
Naquele fim de manhã, o viajante passou a mão pelos cabelos e sentiu que chegara a hora de uma tesourada, desde muito novo que não aprecia andar com uma farta cabeleira, e não são só as motivações higiénicas. O que para o caso interessa é que viu uma barbearia sem clientela, foi bem agradável conversar com aquele profissional que foi desbastando e contando histórias, até ao momento da última escovagem e do pagamento da prestação, o viajante nunca desarmou, não confundiu papéis. No final, apresentou-se e pediu licença para o fotografar com o seu meio de locomoção ao fundo e o seu resto de cabelo ali no chão. Este senhor tem pinta de filósofo, um falar fluido, consistente e sapiente, tem um nome daquele fadista do Embuçado, estivemos ali em maré de confidências, gosto muito do jeito natural com que pousou para esta falsa eternidade. Assim nos aproximamos, damos e deixamos um pouco de nós, sem nenhuma certeza de repetências, e é nessa fragilidade que assenta uma das grandezas do género humano.
A zeladora da sinagoga já me conhece de ginjeira, nunca me deixa sair do templo sem eu botar assinatura da visita, venha sozinho ou acompanhado. O que é belo, tudo aquilo que franqueia as fronteiras do extraordinário, revê-se sem cansar, o mais poderoso são estas divinas proporções entre a altura, o comprimento e a largura, e, passe a retórica do amador de arte, estas colunas esguias, que se encaminham para o céu, aquele teto imaculado de onde saem dedos gigantes que parecem que parecem suportar as colunas e dão a ilusão de que esta imagem está a baloiçar, ou quase.
Naquele largo aprazível onde outrora esteve instalado um quartel de onde saiu gente para várias guerras, agora erguem-se ali instâncias de cultura: um museu dos fósforos, que embasbaca qualquer visitante, e um ateliê de ceramistas, aqui pesponta o talento artesanal, das muflas saem rincões de génio, coisas muito belas, a ligação a Tomar é uma constante em azulejos, potes e tudo mais. É um lugar apetecível, também. Dá gosto meter conversa e fazer perguntas, são senhoras devotadíssimas sentadas como em escritório da vida monástica, daquelas mãos sai mais calor do que das muflas, perdoem a expressão, há entusiasmos esplendentes, e ainda bem.
Temos aqui três imagens de devoção. Olho para aquela lápida na sinagoga como boi para palácio, não entendo nada, mas é certo e seguro que está ali o fervor da memória: ó tu, caminheiro, que por aqui passas, lembra-te que me entreguei ao meu deus misericordioso… Temos depois duas pias de água benta, e aqui a memória vai para aquele pedido de unção dos crentes que confiavam que aquelas gotas ajudavam a lavar o pecado, eram um passaporte para a remissão, ajudavam ao arrependimento. Dizem que o nosso tempo está indiferente a Deus, mas a verdade é que a gente contrita não fica indiferente a todo este poder simbólico, a água que nos encaminha para a Vida.
A cozinha conventual é impressionante pelas dimensões e a natureza dos preparos que aqui se faziam. Aqui está a marca da inclemência do tempo, uma perigosa erosão, fica-nos a certeza que um dia destes por aqui vai entrar uma equipa de arqueólogos que fará uma intervenção desejável. A ironia disto tudo é que para além dos riscos do desabamento (salvo seja!) a imagem ganha força, pela simples razão de que todos nos impressionamos tanto com as inclemências do tempo como com as da natureza.
Aqui se devem ter vendido uma infinidade de tonéis em vinho a copo. Depois deu-se a reciclagem do espaço, empinam-se as pipas gigantescas, em vermelho vivo, há um corredor e depois mesas onde aparecem iguarias servidas em loiça de barro. Prova provada que do velho se faz novo, que todos os espaços têm encanto, basta harmonizar o que já foi funcional com o gosto em bem conviver e bem comer. Olarila!
(Continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 3 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15701: Os nossos seres, saberes e lazeres (139): O ventre de Tomar (3) (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P15731: Documentos (29): Ata da reunião do CEMGFA, Costa Gomes, com os comandos do CTIG, Bissau, 8/6/1973 (José Matos, historiador independente)
Cópia de documento de 4 páginas, do Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), de 15/6/1973, com o relato de uma reunião com os comandos militares do CTIG em 8 de junho de 1973. Francisco da Costa Gomes (1914-2001) foi CEMGFA de 5/9/1972 a 13/3/1974. Visitou o CTIG, de 6 a 9 de junho de 1973.
1. Mensagem, com data de ontem, do José Matos,
[ O nosso grã-tabanqueiro José [Augusto] Matos, formado em astronomia em 2006 na Inglaterra ( University of Central Lancashire, Preston, UK ), é especialista em aviação e exploração espacial desde 1992, e faz parte da Fisua - Associação de Física da Universidade de Aveiro.
Tem-se dedicado, como investigador independente, à história militar, e em particular à história da guerra na Guiné (1961/74).]
Olá, Luís
Mando-te um documento [, de 4 pp.] interessante sobre a reunião que Costa Gomes teve na Guiné, quando foi lá em Junho de 1973, de 6 a 9.
Ab, Zé
2. Comentário do editor:
Obrigado, Zé. Os antigos combatentes da Guiné, e não apenas os investigadores, têm direito a conhecer estes "documentos para a história"...
O documento que reproduzimos, com data de 15/6/1973, ontem "muito secreto, hoje "desclassificado", à guarda do Arquivo de Defea Nacional, para consulta dos estudiosos e historiadores, fala por si, mas tu tens aqui no blogue vários postes teus que ajudam o nosso leitor a compreendê-lo melhor, a partir da sua contextualização histórica, geoestratégica, política e militar.
Julgo que pode este documento pode (e deve) ser visto como complemento à série Análise da situação do inimigo - Acta da reunião de Comandos, realizada em 15 de Maio de 1973 no Quartel-general do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, aqui publicada há menos de 4 anos (*), da autoria do Luís Gonçalves Vaz [, membro da Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz, último Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74, e que tinha 13 anos e vivia em Bissau quando se deu o 25 de abril de 1974, que derrubou o regime do Estado Novo]. (*)
Na realidade, em 8/6/1973, o que o CEMGFA fez, foi um "briefing" com os todos os comandos militares do CTIG. Recorde-se, citando o poste P9639, do Luís Gonçalves Vaz (*), que três semanas antes, “em 15 de Maio de 1973, pelas 10h30, no Quartel General do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, teve lugar, sob a presidência e mediante convocação do General Comandante-Chefe, General António de Spínola, uma reunião de Comandos na qual participaram os comandantes-adjuntos", respectivamente:
(i) Comodoro António Horta Galvão de Almeida Brandão, Comandante da Defesa Marítima da Guiné;
(ii) Brigadeiro Alberto da Silva Banazol, Comandante Territorial Independente da Guiné;
(iii) Brigadeiro Manuel Leitão Pereira Marques, Comandante-Adjunto Operacional;
(iv) e Coronel Gualdino Moura Pinto, Comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné.
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Nota do editor:
O documento que reproduzimos, com data de 15/6/1973, ontem "muito secreto, hoje "desclassificado", à guarda do Arquivo de Defea Nacional, para consulta dos estudiosos e historiadores, fala por si, mas tu tens aqui no blogue vários postes teus que ajudam o nosso leitor a compreendê-lo melhor, a partir da sua contextualização histórica, geoestratégica, política e militar.
Julgo que pode este documento pode (e deve) ser visto como complemento à série Análise da situação do inimigo - Acta da reunião de Comandos, realizada em 15 de Maio de 1973 no Quartel-general do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, aqui publicada há menos de 4 anos (*), da autoria do Luís Gonçalves Vaz [, membro da Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz, último Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74, e que tinha 13 anos e vivia em Bissau quando se deu o 25 de abril de 1974, que derrubou o regime do Estado Novo]. (*)
Na realidade, em 8/6/1973, o que o CEMGFA fez, foi um "briefing" com os todos os comandos militares do CTIG. Recorde-se, citando o poste P9639, do Luís Gonçalves Vaz (*), que três semanas antes, “em 15 de Maio de 1973, pelas 10h30, no Quartel General do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, teve lugar, sob a presidência e mediante convocação do General Comandante-Chefe, General António de Spínola, uma reunião de Comandos na qual participaram os comandantes-adjuntos", respectivamente:
(i) Comodoro António Horta Galvão de Almeida Brandão, Comandante da Defesa Marítima da Guiné;
(ii) Brigadeiro Alberto da Silva Banazol, Comandante Territorial Independente da Guiné;
(iii) Brigadeiro Manuel Leitão Pereira Marques, Comandante-Adjunto Operacional;
(iv) e Coronel Gualdino Moura Pinto, Comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné.
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Nota do editor:
(*) Vd. sobre esta matéria os seguintes postes
3 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9845: Análise da situação do inimigo - Acta da reunião de Comandos, realizada em 15 de Maio de 1973 - Parte IV (Luís Gonçalves Vaz )
3 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9845: Análise da situação do inimigo - Acta da reunião de Comandos, realizada em 15 de Maio de 1973 - Parte IV (Luís Gonçalves Vaz )
17 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9765: Análise da situação do inimigo - Acta da reunião de Comandos, realizada em 15 de Maio de 1973 - Parte III (Luís Gonçalves Vaz)
16 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9755: Análise da situação do inimigo - Acta da reunião de Comandos, realizada em 15 de Maio de 1973 - Parte II - Esclarecimento (Luís Gonçalves Vaz)
15 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9748: Análise da situação do inimigo - Acta da reunião de Comandos, realizada em 15 de Maio de 1973 - Parte II (Luís Gonçalves Vaz)
22 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9639: Análise da situação do inimigo - Acta da reunião de Comandos, realizada em 15 de Maio de 1973 (Luís Gonçalves Vaz)
Marcadores:
1973,
Documentos,
estratégia,
FAP,
Gadamael,
Guidaje,
Guileje,
historiografia militar,
José Matos,
Luís Gonçalves Vaz,
Marechal Costa Gomes,
Mig,
mísseis strela,
PAIGC,
retração de aquartelamentos,
Spínola
Guiné 63/74 - P15730: Parabéns a você (1032): José Brás, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 1622 (Guiné, 1966/68)
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Nota do editor
Último poste da série de 8 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15721: Parabéns a você (1031): Constantino Neves, ex-1.º Cabo Escriturário do BCAÇ 2893 (Guiné, 1969/71)
Nota do editor
Último poste da série de 8 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15721: Parabéns a você (1031): Constantino Neves, ex-1.º Cabo Escriturário do BCAÇ 2893 (Guiné, 1969/71)
terça-feira, 9 de fevereiro de 2016
Guiné 63/74 - P15729: Manuscrito(s) (Luís Graça) (76): A vida são dois dias e o Carnaval são três (Provérbio popular)
Dez teses
(mal cheirosas
e muito pouco carnavalescas)
sobre a ciência e a merda
por Luís Graça
Em memória dos meus camaradas
que há 46 anos fizeram, comigo,
a Op Boga Destemida,
em que apanhámos
uma violenta emboscada
em Gundagué Beafada,
subsetor do Xime:
CCAÇ 12, CART 2520
e Pel Caç Nat 63...
Era segunda feira de carnaval,
e íamos mascarados,
que um homem,
quando nasce,
não vem de camuflado e G3.
por Luís Graça
O 1º cabo Carlos Alberto Alves Galvão, do 3º Gr Comb / CCAÇ 12, amparado por dois camaradas da sua secção. Foto de Arlindo Roda (2010) |
Em memória dos meus camaradas
que há 46 anos fizeram, comigo,
a Op Boga Destemida,
em que apanhámos
uma violenta emboscada
em Gundagué Beafada,
subsetor do Xime:
CCAÇ 12, CART 2520
e Pel Caç Nat 63...
Era segunda feira de carnaval,
e íamos mascarados,
que um homem,
quando nasce,
não vem de camuflado e G3.
Era merda,
o que trazíamos no corpo e na alma.
quando chegámos ao Xime,
33 horas depois (*)
1
As pessoas têm medo da merda,
Onde estão os cientistas,
grávidos da sua ciência,
a proclamar na televisão
urbi et orbi,
a última palavra,
ex cathedra,
sobre esta merda ?
Não sei quem pergunta,
sei que é uma pergunta de investigação.
grávidos da sua ciência,
a proclamar na televisão
urbi et orbi,
a última palavra,
ex cathedra,
sobre esta merda ?
Não sei quem pergunta,
sei que é uma pergunta de investigação.
2
Comenta o último Nobel da Ciência:
É a liberdade da ciência
e a ciência da liberdade,
que são postas em causa,
com tão insolente pergunta de merda.
Felizmente que esta merda não é objeto de ciência,
É a liberdade da ciência
e a ciência da liberdade,
que são postas em causa,
com tão insolente pergunta de merda.
Felizmente que esta merda não é objeto de ciência,
e ainda não há, por enquanto,
e, se calhar, graças a Deus,
uma ciência da merda.
3
e, se calhar, graças a Deus,
uma ciência da merda.
3
Diz o guarda-mor da ética da ciência:
tal como a justiça,
a ciência é cega, surda e muda,
tal como a justiça,
a ciência é cega, surda e muda,
face ao estado
a que chegou esta merda.
a que chegou esta merda.
4
Acrescenta o fisiopatologista do trabalho da ciência:
se o cientista tivesse
os cinco sentidos apurados,
talvez ele desse um bom perdigueiro de caça,
e talvez esta merda,
tal como a mostarda,
lhe chegasse ao nariz,
mas não chega.
Nasceu sem nariz,
ou já não tem nariz,
ou, se o tem, não o usa,
tendo perdido o faro.
5
se o cientista tivesse
os cinco sentidos apurados,
talvez ele desse um bom perdigueiro de caça,
e talvez esta merda,
tal como a mostarda,
lhe chegasse ao nariz,
mas não chega.
Nasceu sem nariz,
ou já não tem nariz,
ou, se o tem, não o usa,
tendo perdido o faro.
5
Escreve, off record, o sociólogo da ciência:
não lhe convem,
ao cientista,
sobretudo ao pobre bolseiro
do Fundo para Ciência e Tecnologia (FCT),
debruçar-se sobre a merda do mundo
e o mundo da merda.
E, depois, em boa verdade,
não lhe convem,
ao cientista,
sobretudo ao pobre bolseiro
do Fundo para Ciência e Tecnologia (FCT),
debruçar-se sobre a merda do mundo
e o mundo da merda.
E, depois, em boa verdade,
o que fazer, afinal,
com tanta merda ?
Não lhe convém
cheirá-la (à dita merda),
recolhê-la,
tratá-la,
com tanta merda ?
Não lhe convém
cheirá-la (à dita merda),
recolhê-la,
tratá-la,
manipulá-la,
testá-la,
fazer-lhe a prova química e organoléptica,
empacotá-la,
e, por sim, disseminá-la,
sob a forma de conhecimento,
liofilizado,
pronto a servir.
6
fazer-lhe a prova química e organoléptica,
empacotá-la,
e, por sim, disseminá-la,
sob a forma de conhecimento,
liofilizado,
pronto a servir.
6
Reporta a jovem repórter da TVI:
mas esta merda cheira mal,
muito mal,
mesmo muito mal,
esta merda fede,
senhores telespectadores,
mesmo aqui atrás de mim,
e é repelente,
à vista desarmada,
para o comum mortal
que se recusa a falar em direto à TVI.
mas esta merda cheira mal,
muito mal,
mesmo muito mal,
esta merda fede,
senhores telespectadores,
mesmo aqui atrás de mim,
e é repelente,
à vista desarmada,
para o comum mortal
que se recusa a falar em direto à TVI.
As pessoas têm medo da merda,
mas ainda mais de falar, para as câmaras,
sobre o estado da merda
a que isto chegou.
7
a que isto chegou.
7
Manda dizer a secretária
do senhor ministro da Ciência e a Tecnologia (MCT);
por favor,
não incomodem quem trabalha
em prol da humanidade;
e muito menos nosso Gabinete da Ciência Viva (GCV);
da merda, meus senhores,
tratam os SMAS,
os moderníssimos serviços municipalizados
de águas e saneamento,
por favor,
não incomodem quem trabalha
em prol da humanidade;
e muito menos nosso Gabinete da Ciência Viva (GCV);
da merda, meus senhores,
tratam os SMAS,
os moderníssimos serviços municipalizados
de águas e saneamento,
que tanto orgulham o país.
Em último caso,
se a tripa rebentar,
liguem para o 112
ou chamem a ASAE
Em último caso,
se a tripa rebentar,
liguem para o 112
ou chamem a ASAE
ou mudem a fralda.
8
8
Que diria o grego Arquimedes ?
Eureka, achei!
Mesmo atolado na merda até ao pescoço,
o cientista não dá conta
da grande merda,
da merda a que isto chegou.
No seu microscópico,
só vê a micromerda,
as micromerdas
que podem estragar a terça feira de Carnaval.
9
Eureka, achei!
Mesmo atolado na merda até ao pescoço,
o cientista não dá conta
da grande merda,
da merda a que isto chegou.
No seu microscópico,
só vê a micromerda,
as micromerdas
que podem estragar a terça feira de Carnaval.
9
E o povo, alarve,
o que diria o povo,
se o povo tivesse opinião qualificada ?
Se a merda valesse ouro,
até os cientistas teriam nascido sem cu.
o que diria o povo,
se o povo tivesse opinião qualificada ?
Se a merda valesse ouro,
até os cientistas teriam nascido sem cu.
Vão bardamerda,
que a vida são dois dias
e o Carnaval são três!
10
10
E, por fim, o último cientista,
a quem foi retirada a idoneidade científica
por querer estudar a merda
a que isto chegou,
a quem foi retirada a idoneidade científica
por querer estudar a merda
a que isto chegou,
e se ter mascarado de cientista da merda,
no carnaval de Torres Vedras
que, dizem, é o mais português
e o mais antigo
de Portugal.
Cientistas de todo o mundo,
no carnaval de Torres Vedras
que, dizem, é o mais português
e o mais antigo
de Portugal.
Cientistas de todo o mundo,
juntem a vossa à nossa merda! (**)
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Notas do editor:
(*) 9 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8071: A minha CCAÇ 12 (16): O 1º Cabo Galvão, ferido duas vezes em 9 de Fevereiro de 1970, segunda feira de Carnaval...Uma violenta emboscada em L em Gundagué Beafada, Xime (Op Boga Destemida)
(...) A fim de bater a área do Baio/Buruntoni foi planeada a Op Boga Destemida em que tomaram parte 6 grupos de combate: Destacamento A, constituído por 3 Gr Comb da CCAÇ 12 (Dest A); Destacamento B, formado por forças da CART 2520 (unidade de quadrícula do Xime), reforçadas com o Pel Caç Nat 63, aquartelada em Fá Mandinga (sob o comando do Alf Mil Art Jorge Cabral). (...)
(**) Último poste da série > 28 de janeiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15682: Manuscrito(s) (Luís Graça) (75): sabedoria alentejana: viver até aos cem anos... p'ra quê ?
(*) 9 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8071: A minha CCAÇ 12 (16): O 1º Cabo Galvão, ferido duas vezes em 9 de Fevereiro de 1970, segunda feira de Carnaval...Uma violenta emboscada em L em Gundagué Beafada, Xime (Op Boga Destemida)
(...) A fim de bater a área do Baio/Buruntoni foi planeada a Op Boga Destemida em que tomaram parte 6 grupos de combate: Destacamento A, constituído por 3 Gr Comb da CCAÇ 12 (Dest A); Destacamento B, formado por forças da CART 2520 (unidade de quadrícula do Xime), reforçadas com o Pel Caç Nat 63, aquartelada em Fá Mandinga (sob o comando do Alf Mil Art Jorge Cabral). (...)
(**) Último poste da série > 28 de janeiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15682: Manuscrito(s) (Luís Graça) (75): sabedoria alentejana: viver até aos cem anos... p'ra quê ?
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