Penafiel > Biblioteca Municipal > 15 de dezembro de 2023 > Apresentaçáo do último livro de José Claudino da Silva, "O Puto de Senradelas" (*). O autor é natural de Penafiel, mas vive em Amarante. Assume publicamente que é filho de pai incógnito, e que foi criado com a avó, que vendia peixe, porta a porta, para sobreviver... A mãe morreria cedo, em 1 de junho de 1974, estava ele ainda no TO da Guiné.
Foto: © José Claudino da Silva (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
A partir de março de 74, e talvez por influência da mãe e do irmão, a Amélia deixou de guardar o correio que lhe enviava. Embora eu continuasse a escrever, já não o fazia tão assiduamente.
No meu mapa, não está marcado que tenha escrito, por exemplo, no dia 25 de Abril de 1974. Sei que festejei esse acontecimento em Fulacunda mas não me lembro como foi.
Ora, como é lógico, e partindo do princípio que me norteou, não quero citar nada que não possa provar. Contudo, mesmo assim, ainda consegui reaver alguma correspondência sem grande relevância, exceto a última que escrevi. Esta última carta tem 12 páginas que perfazem um total aproximado de 2700 palavras. (...) (*)
2, Excertos de uma entrevista, que deu há 8 meses, ao "Amarante Magzine", edição de 24 de abril de 2024 (e aqui reproduzidos com a devida vénia):
(,,,) José Claudino da Silva nasceu em Penafiel em 1950. Serviu nas forças armadas portuguesas entre 1972 e 1974, em Fulacunda, na então Guiné Portuguesa.
Numa manhã que despontava com a promessa de mudança, o 1º cabo condutor José Claudino da Silva acordou com uma notícia que lhe despertou um turbilhão de emoções. A 25 de abril de 1974, enquanto o mundo ainda dormia, uma revolta militar eclodia em Lisboa, ecoando até ao coração da então Guiné Portuguesa, onde se encontrava ao serviço da 3ª Companhia do Batalhão 6520 de 1972.
“Confesso que senti uma grande euforia, de que tudo acabara para mim, mas não sem uma sombra de receio”, afirmou a Amarante Magazine.
O medo de retaliação por mostrar contentamento com a revolta era palpável, recorda. “Outras tentativas de revolta, anteriores ao 25 de abril de 1974, fracassaram. E naquela altura estava a ser castigado pelas minhas palavras“, frisa.
Aquele já era um tempo de abalar convicções para o jovem cabo que, no início da sua carreira, se considerava um “militarista”, crente nas razões que o levaram a Fulacunda, bem no interior da Guiné. “Fui para lá convencido que ia defender Portugal”, recorda. (...)
Após o assassinato de Amílcar Cabral, em 20 de janeiro de 1973, e oito meses mais tarde, com a declaração unilateral da independêrncia, em 24 de setembro, o nosso "Dino" começa a ter dúvidas, conforme confessa ao jornalista:
Em 11 de junho de 1974, Claudino da Silva regressou antecipadamenet a Portugal por motivo da morte da sua mãe. Já chegaria tarde para o enterreno: ela tinha morrido no dia 1 (*):
Na entrevista dada ao semanário Amarante Magazine, confidenciou que , durante a sua comissão de dois anos, escreveu perto de um milhar de cartas, na sua grande maioria para a namorada, mas também para a família e amigos. Essa correspondência foi por ele listada e organizada. Esses e outros escritos (em parte já publicados no nosso blogue), a par do seu álbum de 160 fotografias, poderão estar na base de um futuro livro com as suas memórias da tropa e da guerra.(***)
(*) Vd. poste de 19 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24973: Facebook...ando (47): José Claudino da Silva, "o Puto de Senradelas": o novo livro de memórias, apresentado no passado dia 15, na sua terra natal, Penafiel
(****) Último poste da série > 29 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25458: No 25 de abril eu estava em... (34): Fajonquito... "A guerra acabou?!"... E, agora, o que será de nós, "cães rafeiros do quartel", que não cumprimos os nossos sonhos de meninos, que eram ser "comandos"? (Cherno Baldé, Bissau)