segunda-feira, 13 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20854: Efemérides (323): No dia 13 de Abril de 1970, a CART 2732 embarcou no Cais do Funchal, no navio Ana Mafalda, com destino à Guiné (Carlos Vinhal, ex-Fur Mil Art MA)


Se dos fracos não reza a História, da História da CART 2732 e dos seus valorosos Combatentes, reza que hoje se completam 50 anos após o seu embarque no Cais do Funchal, no navio Ana Mafalda, com destino à Guiné, onde chegaram no dia 17 para cumprir uma esforçada comissão de serviço de 23 meses.

Companhia de quadrícula, esteve aquartelada em Mansabá durante 22 meses, onde deixou muitos amigos e saudades entre a população.

Cais do Funchal, 13 de Abril de 1970 - O Governador do Distrito, Coronel Braamcamp Sobral, e o Governador Militar da Madeira, Brigadeiro Luís Mário do Nascimento, passam revista à formatura da CART 2732.

Cais do Funchal, 13 de Abril de 1970 - Desfile da CART 2732, comandada pelo Alf Mil Manuel Casal, momentos antes do embarque. Como Porta-estandarte o então Segundo Sargento António Piedade Santos.


Foi este o efectivo da CART 2732 que embarcou no navio Ana Mafalda

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Notas:

São estes os que embora "não achando quem armas lhes resistisse" acabaram por sucumbir no cumprimento da sua missão, não voltando connosco:

a) - O Alf Mil Art MA José Armando Santos do Couto, faleceu em combate em 6 de Outubro de 1970
b) - Soldado José do Espírito Santo Barbosa, faleceu no HMP em 14 de Dezembro de 1971, vitima de ferimentos recebidos em combate no dia 2 de Dezembro.
c) - Soldado Manuel Vieira faleceu em combate no dia 2 de Dezembro de 1971.
d) - Soldado José Silvestre Nunes Vieira faleceu vítima de acidente de viação  em 17 de Maio de 1971.

Há ainda a registar o falecimento por doença, em 16 de Maio de 1971, do Soldado Artur Malcata de Matos, integrado na CART 2732 já na Guiné.

A estes 5 saudosos camaradas de armas, neste dia, a nossa homenagem.
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de Abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20851: Efemérides (322): O meu domingo de Páscoa de 1968 (Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS Op MSG)

Guiné 61/74 - P20853: Notas de leitura (1279): “O jornalismo português e a guerra colonial”, com organização de Sílvia Torres, Guerra e Paz Editores, 2016 (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Março de 2017:

Queridos amigos,
Dirão alguns que esta investigação universitária aborda o demasiado óbvio: havia censura de que um regime totalitário não abria mão, a guerra colonial ainda é uma história para contar. Há que reconhecer o mérito da metodologia utilizada: o que foi concretamente o jornalismo português na divulgação da guerra colonial, como operou a censura, que memórias guardam radialistas e jornalistas que chegaram a pisar o solo nos teatros de operações, qual a atmosfera das redações, que papel desempenhou a autocensura, e muito mais. Há memórias e testemunhos de valor perdurável e estamos em querer que a investigação histórica de futuro não poderá prescindir desta sondagem sobre o jornalismo e os jornalistas, em Portugal e nas colónias.

Um abraço do
Mário


O jornalismo português e a guerra colonial (2)

Beja Santos

Sílvia Torres
“O jornalismo português e a guerra colonial”, com organização de Sílvia Torres, Guerra e Paz Editores, 2016, é um laborioso trabalho de pesquisa e de inquirição a protagonistas diretos na ótica de uma dupla temática: como era feita a cobertura jornalística dos jornalistas portugueses da Metrópole e das províncias ultramarinas envolvidas no conflito, uma investigação que obrigou a identificar o jornalismo português durante o Estado Novo, quais os meios de comunicação portugueses vigentes nas colónias/províncias ultramarinas sobretudo durante a guerra colonial, com se fabricavam as notícias, como agia a censura, sob que prisma, e com base em testemunhos de alguns dos protagonistas diretos este género jornalístico é de estudo indispensável na investigação histórica.

O professor Francisco Rui Cádima aborda o tratamento da guerra colonial na RTP, observa que a ausência da ideia de império nos telejornais da década de 1950, ou mesmo a ausência de uma estratégia deliberada de manipulação das consciências, a informação era tipo oficioso, com pouco uso da imagem.

Iniciada a guerra colonial em Angola, mostram-se imagens do terror praticado, mas insistia-se na tese de tranquilidade e incriminava-se a ingerência estrangeira e os bandidos vindos do exterior. A RTP abriu uma campanha nacional de apoio às vítimas do terrorismo em Angola para recolha de donativos.

Toda a informação televisiva aparecerá altamente condicionada. Manuel Maria Múrias irá desempenhar o papel de agente de legitimação da política salazarista. Haverá uma viragem com a chegada de Ramiro Valadão em 1970. “Esta mudança não foi apenas uma mudança de pessoas, ou de liderança na redação, mas significou também uma importante alteração no quadro do próprio discurso jornalístico televisivo”. O regime não deixou abrir fendas na doutrina oficial de que o Ultramar era matéria fora de discussão.

Vários autores debruçam-se sobre a censura e como esta se constituiu como o elemento dissuasor de qualquer veleidade em abrir discussões sobre o nacionalismo, a existência de atrocidades ou até exploração económica.

A equipa organizada por Sílvia Torres ouviu memórias de jornalistas e intervenientes na guerra colonial, desde Agostinho Azevedo que escrevia no oficioso Voz da Guiné, passando por Armor Pires Mota que publicava crónicas durante a sua comissão militar na Guiné no Jornal da Bairrada, nem a PIDE nem a censura deram por nada, publicou o livro Tarrafo com as mesmíssimas crónicas, foi imediatamente apreendido e houve interrogatórios, depõem igualmente Baptista Bastos, Cesário Borga, Diamantino Monteiro, do Rádio Clube da Huíla, como também David Borges da Rádio Clube da Huíla, o jornalista Fernando Correia que pisou os três teatros de operações e que explica cabalmente todo o processo de crescente desinteresse do próprio regime em dar informações sobre a guerra; o jornalista Fernando Dacosta observa que a guerra foi muito mal contada, nenhum jornalista legou um grande trabalho sobre a guerra colonial e justifica:

“Não podia fazer. Na literatura, hoje, a história já começa a ser contada. Cada vez se escrevem mais livros sobre a guerra colonial. Mas, neste plano, importa destacar um dos primeiros escritores: o jornalista Fernando Assis Pacheco, que escreveu Walt, um livro que situa a guerra colonial na guerra do Vietname para, desta forma, poder falar sobre a guerra colonial e escapar ao corte da censura. É talvez um dos documentos mais importantes sobre a guerra colonial que foi publicado muito antes do 25 de Abril”.

E analisa igualmente a imprensa na metrópole: “A censura era ferocíssima em relação às notícias, filtrava tudo quanto os jornais tentassem publicar e, de uma maneira geral, cortava. Só se publicavam as informações que a própria censura entendia ou que o gabinete militar divulgava”.

Uma figura lendária, o jornalista Fernando Farinha, que acompanhava as tropas no terreno, descreve os seus métodos de trabalho, como é que as suas reportagens chegavam à redação:

  “Fazer chegar os rolos fotográficos e os textos ou notas de texto à redação requeria alguma imaginação. Umas vezes, aproveitava o transporte de feridos, feito por helicóptero, para o Hospital Militar de Luanda, para enviar rolos e notas de texto. Punha o papel dentro do rolo e colava tudo com fita-adesiva às ligaduras ou talas dos feridos. Os próprios feridos ou outros militares informavam depois a redação de que era preciso ir buscar o material ao hospital. Outras vezes, verbalmente, via rádio do Exército para o rádio do avião que sobrevoasse a zona, pedia aos pilotos que transmitissem determinadas informações”.

E discreteia quanto ao modo quanto o conflito passou a ser visto internamente:

“No início, a guerra era vista pelos militares como um dever de patriotismo a cumprir. Era fundamental manter a pátria unida e defender um território que era português, custasse o que custasse. O inimigo era terrorista e tinha de ser abatido. Mais tarde, o pensamento já não era este, sendo a guerra vista como desnecessária. No final, já só se queria um entendimento com os terroristas e o fim da guerra. O inimigo passou a ser mais respeitado, porque as tropas portuguesas perceberam que os guerrilheiros lutavam pela sua terra. O amor à pátria e a portugalidade das colónias foi-se perdendo à medida que a guerra avançava”.

Segue-se a entrevista a alguém que teve atividade humorística na imprensa, Fernando Gonçalves criou o cartoon Zé da Fisga, que aparecia em publicações com sede em Luanda; Francisco Pinto Balsemão, João Palmeiro e Joaquim Letria irão depor sobre o seu papel de jornalistas ou intervenientes nos meios de comunicação social.

Letria fala dos problemas com a censura mas também da autocensura, e conta a experiência amarga que teve na Guiné como repórter de guerra:

“Posso contar que me levaram ao Palácio do Governo por causa de um telegrama, com cerca de 150 palavras, que eu enviei para o Diário de Lisboa por correio. Julgava eu que o telegrama tinha sido enviado, quando aparece um jipe, conduzido por um funcionário para me levar ao palácio. E aí fui muito maltratado por General Arnaldo Schulz e pelo representante do SNI. Porquê? Porque eu tinha tentado enviar para Lisboa informação classificada que prejudicava as nossas tropas. Eu escrevi no telegrama que tinha havido um ataque do PAIGC que tinha matado nove soldados portugueses e dizia aonde é que tinha sido o ataque, quantos soldados é que tínhamos na Guiné e quando é que a guerra tinha começado. Fui repreendido por ter contado a verdade. Tinha cometido um erro gravíssimo e se o voltasse a fazer mandavam-me para Lisboa”[1].

Para Letria a guerra colonial é uma história por contar, ainda há muito para mostrar. E recorda que ainda não foi ouvida gente que gravava as mensagens de Natal, esses operadores da RTP ainda não testemunharam.

(Continua)
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Notas do editor:

[1] - A propósito destas mortes anunciadas pelo jornalista Joaquim Letria, consultar o Poste de 7 de Dezembro de 2017 > Guiné 63/74 - P15455: Notas de leitura (783): “Sem Papas na Língua”, Joaquim Letria em conversa com Dora Santos Rosa, Âncora Editora, 2014 (Mário Beja Santos).

Último poste da série de 6 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20820: Notas de leitura (1278): “O jornalismo português e a guerra colonial”, com organização de Sílvia Torres, Guerra e Paz Editores, 2016 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20852: Viagem de volta ao mundo: em plena pandemia de COVID 19, tentando regressar a casa (Constantino Ferreira & António Graça de Abreu) (8): 11 de abril de 2020, a caminho do Mar Vermelho e, a seguir, do "Mare Nostrum", o Mediterrâneo...


MSC - Magnífica > Cruzeiro de Volta ao Mundo > Em navegação,   a caminho do Mar Vermelho e do "Mare Nostrum", o Mediterrâneo. >  11 de abril de 2020 >

Cortesia da página do faceboook de Constantino Ferreira. Foto reeditada pelo Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Constantino Ferreira d'Alva, ex-fur mil art da CART 2521 (Aldeia Formosa, Nhala e Mampatá, 1969/71), membro da nossa Tabanca Grande desde 16 de fevereiro de 2016. Vai a bordo do MSC -Magnífica, que teve de apressar o seu regresso ao ponto de partida, devido à pandemia de COVID-19. Está a escrever o seu diário de bordo, desde 23 de janeiro de 2020, disponível na sua página do Facebook. A ele junta-se o António Graça de Abreu, que também, está a escrever o seu diário de bordo...


Excertos do diário de bordo de Constantino Ferreira

Sábado, 11 de abril de 2020, 11h27

Ontem, Sexta-feira Santa, todo o navio, passageiros e tripulantes, cumpriram 1 Minuto de silêncio, em memória das vítimas no Mundo, da Covid-19.

Eram 14 Horas locais, ainda estávamos á mesa do almoço. O silêncio foi total, ninguém se mexia, apenas o navio
NAVEGAVA !

Depois, pelas 15 horas, no Royal Theatre, tempos de reflexão, com leituras e representação do Julgamento de Jesus da Nazaré, frente a Pilatos e Sacerdotes Judeus. De que resultou a sua morte cruel por crucificação, por equívoco do “povo” e, desleixo de Pilatos.

As intervenções foram feitas voluntariamente em todas as línguas. Terminou com um concerto dirigido pelo nosso Maestro Manfrini, que toda a assistência aplaudiu de pé, em silêncio!

Hoje, Sábado de Páscoa, navegamos no fim do Golfo de Áden, já com vista de terra a Bombordo e a Estibordo, que aqui coloco fotos respectivamente, as duas primeiras fotografias que acabei agora mesmo de tirar !

Mais à frente, a bombordo, iremos ver Djibuti, onde está a Base Naval Francesa, que se ofereceu para nos receber e, reabastecer, caso fosse necessário!

Depois, será navegar Mar Vermelho acima ,..... até à Cidade de Suez, onde entraremos no Canal, para chegarmos ao “Mare Nostrum”! ...Até lá !!!


Excertos do diário de bordo do António Graça de Abreu 


Excerto enviado pelo António Graça de Abreu, com data de 10/4/2020, 19h02
[ ex-alf mil, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), membro sénior da Tabanca Grande, com 250 referências no nosso blogue; temos recebido as suas mensagens por correio eletrónico]


Taiti, Polinésia Francesa, 27 de Fevereito de 2020

Ontem, no regresso da ilha de Morea, ainda tivemos tempo para um extenso passeio a pé por Papeete, a cidadezinha capital de Tahiti. De criação recente, só em 1817,  Papeete passou a sede do muito limitado poder britânico sobre uma ilha que entãoo os ingleses disputavam com a Françaa.

Foram os franceses, com tropas mais numerosas, quem conseguiu impor o seu protectorado a Taiti, de 1842 até hoje.A ilha tem 185 mil habitantes, a capital conta com 30 mil pessoas, predominantemente polinésios, gente simpática e educada, alguma dela diz com orgulho que frequentou universidades, em Françaa. 

Papeete é uma cidade limpa e organizada, com um mercado central onde rivalizam as cores das flores, da roupa e da comida. Em Taiti, as mulheres costumam colocar uma flor nos cabelos, presa, ou por cima da orelha esquerda ou da orelha direita. A flor na cabeça, a direita, significa que a mulher ja é casada ou comprometida, a flor, à esquerda, corresponde a uma donzela, ou senhora, livre de compromissos, aberta a qualquer tentativa de namoro. 

Quando me contaram esta história, não acreditei nas flores de esquerda e de direita, mas bastou vir para as ruas de Tahiti para comprovar que nesta formosa ilha, esquerda e direita, em flor, são duas opções indiscutíveis . Era bom que fosse assim em todo o mundo.

Em Pappete há jardins impecavelmente tratados suspensos sobre o porto de onde se parte em velozes catamarãs para outras ilhas, outras aventuras. Disseram-me que 9% da população é de etnia chinesa, detentora de grande poder económico. Os filhos do Império do Meio são resultado da emigração massiva, a partir de meados do século XIX, quando milhões e milhõees de chineses fugiram do centro e sul da China durante a tremenda rebelião do Reino Celestial dos Taiping que se prolongou de 1850 a 1864 e tera provocado cinquenta milhões de mortos. Deixando para trás a guerra, registou-se o maior êxodo de sempre de chineses que pocuraram trabalho e paz nas ilhas do sudeste asiático, Malasia, Singapura, Tailândia, nas ilhas mais distante do Pacífico e até no Peru e em Cuba. 

Em Havana, o consul de Portugal, um senhor chamado Eca de Queiros, haveria de defender e ajudar milhares de chineses que chegavam a Cuba com documentos de emigração passados em Macau e que sofriam as prepotências e impiedosa exploração dos fazendeiros e autoridades espanholas. Os culies chineses substituiam os escravos negros nas grandes plantações de cana-do-acúcar. Mas isso são outros continentes e outras histórias.

As praias de Taiti, em cenário natural de grande beleza, contam quase sempre com tapetes de areia negra. Estive em Point Venus, com um antigo farol e uma perfeita baía onde os primeiros europeus desembarcaram, em 1767, e só não fui ao banho na belíssima praia de areia preta, porque estava alinhado na excursão do navio, com tempo muito limitado. Foi nesta baía que a Bounty, com o capitão William Bligh, chegou em 1789 e os seus marinheiros. Logo depois, como ja vimos, ficaram fascinados com os encantos de Taiti.

A ilha tem uma superficie de 1.042 km 2, um pouco maior do que a nossa Madeira, e como não podia deixar de ser também a circundei, no autocarro público, com paragem em Taravao. Foi no segundo dia de estadia em Tahiti e, como o navio partia as 19 horas, tivemos de programar o dia quase ao minuto. 

A vila de Taravao, a mais importante do sul da ilha e a entrada para a península de Tahiti Iti, ou seja a "pequena Taiti", com mais baias, enseadas, lagunas e praias de areia branca que só visitarei numa proxima reencarnação quando aproveitar um fim de semana para descer do c+eu e nadar num mar esmeralda e me por a tostar ao sol deste paraíso na Terra.

Perto de Taravao, na aldeia de Mataiea, fica o Museu Paulo Gaugin, perto da última casa onde o pintor viveu em Taiti, ante do seu exilio definitivo e morte em Hiva Oa, nas ilhas Marquesas. Por aqui pintou Gaugin algumas das suas obras primas, como as lânguidas mulheres polinésias que soube, ou não soube amar. 

O museu está fechado desde 2013 "para obras". Paulo Gaugin, aos cinquenta e muitos anos, manteve relacionamentos sexuais e tomou por companheiras raparigas polinésias com quinze ou dezasseis anos de idade, e não deixou de as retratar em quadros plenos de sensualidade. Será por isso que o "politicamente correcto" mandou fechar o Museu Gaugin, em Taiti e procedeu a uma limpeza do seu nome em todos os folhetos turísticos que promovem a ilha. 

Eu entendo. Contudo, Paulo Gaugin deixa a todos nós um legado mágico, intemporal e louco, é um dos grandes mestres da pintura universal. Basta olhar os seus quadros sobre Taiti, esfuziantes de cor, alegria e tristeza, basta beber os seus verdes intensos das folhas das palmeiras, os azuis acariciando o ondular do mar, os amarelos aquecidos pelo grito do por-do-sol. O seu amigo Van Gogh, logo após uma zanga com Gaugin na casa de Arles, no sul de França, decidiu cortar uma orelha, embrulhá-la em papel de jornal e ir entrega-la num bordel que ambos tinham frequentado, na pequena cidade francesa. Os homens e mulheres de excepção não tem juizo, entenda-os cada um como muito bem achar.

Em Taravao fui a um grande supermercado impecavelmente abastecido. Dizem-me que o salário minimo em Taiti ronda os 1.250 dólares, que o ordenado medio é de 2.250 dolares, O nivel de vida eéelevado, superior ao de Portugal, creio, o que acontecerá também em algumas outras ilhas do Pacífico.
Os preços também me pareceram caros. Comprei sabonetes e óleos corporais fabricados com óleo de coco e com monoi , uma mistura de tiaras, flores raras existentes em Taiti. Numa loja do supermercado descobri uma t-shirt muito bonita,, preta, estampada com o pequeno desenho de uma beldade tahitiana, de corpo inteiro, sentada de lado, com uma flor no cabelo, ataviada com um pequeno vestido vermelho que lhe modelava o corpo. Tinha escrito Hinano e 1955. Hinano parecia-me ser o nome de uma das ilhas da Polinésia Francesa e 1955 deveria ser o ano em que essa ilha se autonomizou, em relação ao poder politico francês. Comprei-a por sete ou oito euros. 

De regresso ao navio, consultei a pequena brochura que trouxe de Papeete e lá encontrei a figura da elegante tahitiana da minha t-shirt, e a explicaça: " The brand of Hinano beer, sold since 1955 by the Brasserie of Tahiti, has become a real institution present everywhere in Polinesya. Recognized by its famous logo, a sitting vahine ( jovem mulher em polinesio) often brought as a souvenir by tourists."

Antonio Graca de Abreu



MSC - Magnífica > Cruzeiro de Volta ao Mundo > Em navegação, oceano Pacífico  >  Fevereiro de 2020 > Um "recuerdo" do Taiti

Foto (e legenda): © A ntónio Graça de Abreu (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


domingo, 12 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20851: Efemérides (322): O meu domingo de Páscoa de 1968 (Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS Op MSG)

Ressurreição de Cristo - Rafael


1. Em mensagem de hoje, dia 12 de Abril de 2020, o nosso camarada Carlos Pinheiro (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70), lembra o seu dia de Páscoa de 1968.


O Domingo de Páscoa de 1968

Já estava na tropa desde Outubro de 67 quando no dia 10 daquele mês assentei praça na EPC em Santarém, de má memória, onde chumbei no CSM e mais 200 camaradas – sim chumbámos 201 em 360 - tendo passado para o Contingente Geral e no início do ano de 68 sido transferido para o RTM no Porto onde tirei a especialidade de Operador de Mensagens bem como a Escola de Cabos.

Mal acabada a especialidade, fui transferido para o BT na Graça em Lisboa, mas rapidamente colocado a prestar serviço na Delegação do STM – Serviço de Telecomunicações Militares – no Quartel General da 2.ª Região Militar, em Tomar.

Estava desarranchado, dormia num quarto com mais dois camaradas em três divãs separados, em casa do Cabo RD Almeida, como também ali dormiam noutros quartos mais camaradas de armas. Aquilo não era bem um quartel, mas principalmente de manhã, apesar de não haver toque de alvorada, todos nos movimentávamos bem e depressa.

Comia no Restaurante Diamante Verde, na Rua dos Arcos, por trás do Quartel General. Acho que o desarranchamento eram 500$. Do quarto pagava 120$ e do Restaurante pagava 500$. Mas como “matava” alguns serviços de camaradas que se podiam safar e pagar, a coisa compunha-se.

Todos estes serviços de “matança” eram “coordenados” pelo Sargento, chefe do Posto do STM.
O STM era nas águas furtadas do QG onde, para além do Centro de Mensagens (a minha especialidade), existiam a Central de Teleimpressores com contacto com o Batalhão de Telegrafistas em Lisboa e com o QG do Campo Militar de Santa Margarida, bem como com os outros Quartéis Generais do País e, claro, o Posto de Rádio, em grafia, que comunicava com as mesmas entidades.

Existia ali ainda um aparelho do tempo da 2.ª Grande Guerra, um fac-simile da altura, marca Siemens, que todos os dias era posto à prova com uma transmissão de exploração para o BT e a devida resposta. Aquilo era mesmo antigo. A técnica era baseada num cilindro onde se acoplava o documento a transmitir e ia rodando, depois de se fazer a ligação telefónica para transmitir o documento. Usava um tinteiro e um sistema com um aparo que ia impressionando o papel conforme a imagem do documento. Claro que por vezes borrava-se a pintura… mas aquilo tinha que ser posto à prova todos os dias como mandavam as normas.

No 1.º andar, para além dos Gabinetes do Brigadeiro Comandante da Região Militar e do Coronel Chefe do Estado-Maior e outras repartições, havia o Centro de Cripto onde, nós quando recebíamos alguma mensagem classificada, íamos ao postigo daquele Centro entregar a mesma por protocolo e eles, depois de fazerem a passagem a cifra, vinham ao postigo do nosso Posto entregá-la para ser encaminhada e transmitida para o ou os destinatários. Era assim o dia a dia.

No Rés do Chão, para além dos serviços do quartel General e as instalações da PM, havia a Central Telefónica do QG, com uma Central Civil e outra Militar que eram operadas por telefonistas do STM. Era dali que de vez em quando, sem grandes abusos, conseguíamos fazer uma ou outra chamada para casa, para dar notícias, ou para algum dos nossos vizinhos que tivesse telefone porque naquela altura esses aparelhos eram raros.

Era assim a vida dentro daquelas quatro paredes. Falta dizer que no Rés-do-Chão, virado para uma pequena parada interna, havia a Cantina muito frequentada por todo o pessoal do QG, do STM e da PM que ali estava instalada.

A comida no Restaurante não podia ser muita nem nós podíamos ser exigentes dado o preço que se pagava. Mas comia-se sempre uma boa sopa, um prato de peixe ou de carne, pouco abundante para se manter a linha, um jarrinho de vinho e algumas vezes uma peça de fruta.

Ora, no Domingo de Páscoa de 1968, estava de serviço e lá fui almoçar. A senhora D. Rosa avisou-me que havia rancho melhorado. De facto, veio uma canjinha de galinha apetitosa e depois arroz com frango corado no forno. O arroz estava muito bom, mas o frango ou a galinha vinha aleijado. Só havia patas e pescoços… pelo que perguntei se ela tinha ido comprar o frango ao Entroncamento que nessa altura estava na sua grande época dos fenómenos. Ainda bem que fiz aquela pergunta pelo que a senhora sempre me arranjou uns bocados de carne para ajudar a empurrar o arroz.

Coisas da tropa, neste caso passadas fora do Quartel, mas mesmo ali ao lado.

Boa Páscoa para todos os amigos e, já agora cuidem-se e não façam aventuras porque a Pandemia está bem viva, anda por aí cheia de força, a fazer a vida negra a uma população indefesa. Por isso temos que nos resguardar em casa, nada de visitas, nada de cumprimentos mesmo que ocasionais, porque todo o cuidado é pouco. Mas temos que ter esperança e esperar melhores dias porque depois da tempestade vem sempre a bonança. Esperamos que desta vez também seja assim. Mas, entretanto, toca a recolher em casa.

Um abraço colectivo para todos os amigos.

Carlos Pinheiro
12.04.2020
Domingo de Páscoa caseiro…
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20812: Efemérides (321): No dia 4 de Abril de 1970, saiu a CCAV 2721 do cais de Alcântara em direcção a Bissau (Paulo Salgado)

Guiné 61/74 - P20850: Manuscrito(s) (Luís Graça) (183): para a minha neta que hoje faz 5 meses e para todos os avós e netos que estão sozinhos em casa, em dia de Páscoa...


Lourinhã > Paimogo > 2020 > Pandemia de COVID-19 > Só as aves do céu não estão confinadas...


Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Parabéns, Clarinha, pelos teus 5 meses de vida,
em plena pandemia de COVID-19!


À minha neta terei de contar um dia
Os primeiros meses da sua aventura,
No planeta azul, e este tempo de clausura,
Que nos foi imposto por uma pandemia.

Nada sabe do mal e sua virulência,
Seu sorriso é mais belo que a mais bela flor,
Seus olhos claros já perscrutam em redor,
Mas toda ela é apenas inocência.

É Páscoa, hoje o amor e a vida celebramos,
E as alegrias que tu tens dado, bebé,
A teus pais e a todos nós, que muito te amamos.

É Páscoa, é abril, mas nada de beijinhos,
Porque há um vírus que nos quer mal, pois é,
E os avós, cá e lá(*), em casa estão sozinhos.

Lourinhã, 12 de abril de 2020.

(*) no Funchal



2. Mensagem que mandámos, eu e a Alice, à nossa "gente do Norte", em nosso nome e dos nossos filhos, cada um para seu lado, em confinamento:

Queridos/as irmãs, irmãos, cunhados/as, tios/as, primos/as:

Dizem que a distância faz esquecer…
Talvez, se for prolongada no tempo.
Mas agora, não é distância, é confinamento,
que nos foi imposto por uma pandemia…

E logo hoje que é Páscoa,
festa maior da nossa gente de Candoz.
E logo hoje que não nos podemos abraçar nem beijar,
cada um de nós confinados nas nossas casas.

Esta dramática circunstância aviva a saudade,
que nos faz lembrar, e lembrar cada um de vós,
com quem gostaríamos de estar,
hoje muito em particular…

É Páscoa, é abril, é primavera,
não haverá compasso, nem arroz pingado, nem foguetes,
nem o ruído nem a alegria de uma mesa grande e farta.

Mas, daqui, do Sul, da Lourinhã, de Alfragide, de Lisboa,
comungamos da esperança de, em breve,
nos podermos voltar a encontrar
e sabermos, de viva voz,
como é que cada um de vós “toureou o corno do vírus”…

Hoje é dia de alegria também
pelos cinco mesinhos de vida da nossa Clarinha,
que ainda nada sabe dos males do mundo.

Estaremos, em pensamento, convosco.
E desejamos que rapidamente a gente
consiga, individual e coletivamente,
sair bem deste tempo de ameaça e de clausura.

Um cesto grande de abraços, chicorações, beijinhos… 
com uma lagrimazinha devidamente “higienizada”…

Luís e Alice (Lourinhã), Joana (Alfragide), João e Catarina (Lisboa)

12/4/2020

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Nota do editor:

Último poste da série > 12 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20822: Manuscrito(s) (Luís Graça) (182): para a Joana que hoje faz anos, e para todos os nossos filhos que estão sozinhos em casa...

Guiné 61/74 - P20849: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (12): A minha primeira Páscoa, em Bissau... desde 1985!... Com o meu filho...



Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2020 > Praça dos Heróis Nacionais, mas o povo continua a chamar-lhe Praça... do Império.


Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2020 >  "Mangos, da nossa casa"

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso amigo e camarada Patrício Ribeiro, um português, natural de Águeda, criado e casado em Angola, Huambo, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bissau desde meados dos anos 80 do séc. passado, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda.; tem mais de 90 referências no nosso blogue]
Data - 12 abril 2020 13:25


Assunto . A Páscoa em Bissau


Luís,

Para ti e tua família, uma Santa Páscoa.

Passado 35 anos, volto a passar a Páscoa em Bissau, a primeira foi em 1985. Desta vez na companhia é do meu filho.
Junto 2 fotos,
- Frutos da Páscoa (na nossa casa);
- Praça do Império... (como é conhecida até hoje pela população).

Abraço,
Patricio Ribeiro

IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau , Guine Bissau
Tel,00245 966623168 / 955290250
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Guiné > Bissau > s/d > "Monumento ao Esforço da Raça (Bissau)". Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 131". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal. Imprimarte, SARL). (Detalhe)

2. Comentário de LG:

Obrigado, Patrício, pelas tuas "amêndoas" de Bissau... As tuas notícias e fotos são sempre bem recebidas pela Tabanca Grande... Também eu passo a Páscoa, pela segunda vez, creio eu, cá em baixo, no Sul, em mais de 40 anos, casado com uma nortenha... Confesso que não há como a gente do Norte para fazer a festa da Páscoa, que tem de ter ruído, foguetes, mesa grande e farta, muita gente, muita alegria, compasso, cabrito assado, nuns sítios, ou anho assado com arroz de forno noutros...

Mas em relação à foto da "Praça do Império" (sic), deixa-me acrescentar o seguinte:

O monumento é da autoria do arquiteto Ponce de Castro. A primeira pedra foi lançada em 1934.  O monumento foi inaugurado em 1941. O granito veio do  Porto.  Enquanto a estatuária colonial foi derrubada, a seguir à independência, este monumento, colonialista por excelência, foi o  o único que resistiu à fúria do camartelo do PAIGC.  Ainda lá está, agora encimado com a  a estrela de cinco pontas, que faz parte da bandeira da República da Guiné-Bissau.

Há, na Foz do Douro, Porto, um monumento, datado de 1934,  que terá inspirado o de Bissau, o "Monumento ao Esforço Colonizador Português", da autoria dos escultores Alferes Alberto Ponce de Castro (? - ?) e de José de Sousa Caldas (1894-1965). "Foi construído expressamente para a Exposição Colonial, inaugurada em Junho de 1934 no Palácio de Cristal. Compõe-se de um obelisco encimado com as armas nacionais; na base, seis esculturas estilizadas simbolizam as figuras a quem se deve o esforço colonizador: a mulher, o militar, o missionário, o comerciante, o agricultor e o médico!. (Fonte: Turismo do Porto).

O arquitecto e escultor Alberto Ponce de Castro era natural de Tavira, é o autor do Monumento aos Mortos da Grande Guerra, situado defronte dos Paços do Concelho de Tavira. Em 1922 o alferes de cavalria Alberto Ponce de Castro era reformado e fez um requerimento, à Câmara dos Deputados, ao abrigo da Lei nº 1244. O requerimento seguiu para a Comissãod e Guerra (Fonte: Debates Parlamentares > 1ª Reoública > Câmara dos Deputados > VI Legislatura > Sessão legislatuiva 01 > Número 101 > 1922-07-12 > Página 4)
  
A estética deste monumento é, pois,  claramente estado-novista,  típica dos anos 40/princípios de 50... Fazia parte dos projetos de "monumentalização" da cidade de Bissua, anunciados em 1945 pelo governador Sarmento Rodrigues... Foi parcialmente destruído (ou vandalizado) depois da independência (ao que me disseram), mas resistiu: o que é irónico, é que os habitantes de Bissau continuem a chamar àquela praça, a Praça do Império...

O monumemto tem várias leituras: para uns pode ser uma obra-prima, para outros um mamarracho... Eu, que sou contra o camartelo dos iconoclastas (de todos os iconoclastas, a começar pelo camartelo camarário), acho piada  que o monumento tenha sido poupado, contrariamente ao resto da estatuária do colonialismo português...

Para os camaradas que fizeram a guerra colonial, como eu, e que conheceram este monumento, devo dizer o seguinte: toda a arte (e é difícil fazer a distinção entre arte e propaganda...)  traz a marca do seu tempo e fala do seu tempo...  Seria fácil, há cinquenta  atrás, do alto da nossa arrogância juvenil, apodar o monumento de 'colonial-fascista'... Mas já nos tempos que por lá passei, em Bissau, em 1969/71, o termo raça me fazia urticária... Qualquer que fosse a raça em causa...

Hoje é sabido, de resto, que não existem raças humanas... Pertencemos todos à mesma espécie, Homo sapiens sapiens... É uma constatação científica, não é uma asserção do politicamente correcto... Dito isto, ainda bem que os guineenses souberam reaproveitar  o Monumento ao Esforço da Raça... Afinal,  parte do seu património histórico, tal como a "o casco velho" de Bissau, da mesma maneira que os marcos milíários que pontuavam as vias romanas ligando a Lusitânia ao resto do Império Romano, fazem parte do nosso património histórico...
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P20848: Blogues da nossa blogosfera (127): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (42): Palavras e poesia


Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.

DELICADAMENTE

ADÃO CRUZ

© ADÃO CRUZ


Delicadamente ela abriu a blusa
e levantou os olhos decidida.
Era uma mulher de guerra combatida
daquelas cuja face conta a história.
Mansamente
baixou a medo as alças do soutien
inclinou a cabeça e fechou os olhos
à espera da minha mão.
Depois comemos pão de centeio
molhado num golpe de azeite
bebemos um capitoso vinho
e fomos à procura de uma paisagem com cegonhas.
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de Abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20816: Blogues da nossa blogosfera (125): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (41): Palavras e poesia

Guiné 61/74 - P20847: Blogpoesia (672): "Gatos de arame na loiça de barro", "Não importa o lugar..." e "Parece que foi ontem", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana, que continuamos a publicar com prazer:


Gatos de arame na loiça de barro

Corriam as aldeias perdidas na serra.
Traziam a oficina singela numa geringonça de ferro.
Apitavam constantes a chamada para o conserto.
A vida era dura. Nada se podia perder.
Trazia gatos com ele que lhes podiam valer.
E a pequenada à volta, curiosa da arte, se divertia com ele.
Bendito senhor.
A malga da sopa. A travessa da mesa.
Caíram ao chão.
Ficaram em cacos.
Paciência tem ele e todo o saber...

Mafra, 6 de Abril de 2020
10h08m
Jlmg

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Não importa o lugar...

Não importa onde nem quando.
O que importa é a vida vivida intensa e certa.
Sonhando e criando.
Bebendo beleza.
Buscando verdade.
As asperezas da vida aguçam o engenho.
Ultrapassando o difícil.
Ladeando o obstáculo.
Recuando e avançando.
Esperando a hora e momento.
Só vence quem tenta
E nunca desiste.
Se ganha e se perde.
Aproveitando o que sobra,
Terás o que queres.
Só vence quem luta.
Desanimar, o maior inimigo.

Ouvindo HAUSER - Adagio for Strings
Mafra, 9 de Abril de 2020
11h5m
Jlmg

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Parece que foi ontem...

O navio gordo e imenso passou a barra e subiu o Tejo.
Atracou em Alcântara.
Um mar de lenços, de um e outro lado,
sacudiam as saudades muitas que ardiam nos corações sedentos.
Repleto o cais.
Longas horas de sofrimento e de suspiros.
Nem queriam acreditar.
Será que vem?...
Quantas noites de lágrimas e de temores pelo pior.
-O Senhor o proteja!...
Subiram-se as escadas altas.

E, num cortejo infindável,
começaram a descer, um a um.

Tamanhos abraços. Encheram tudo de alegria infinita.
As mães e namoradas.
Os pais e irmãos.
Amigos.

Do passado, tudo esqueceu.
Era o sol da liberdade e da vida que renascia pela segunda vez.

Já lá vão 54 anos!
Foi em Agosto.
Parece que foi ontem...

Ouvindo Evgeny Kissin: Chopin - Piano Concerto No. 1, Op 11
Mafra, 10 de Abril de Abril de 2020
9h16m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20817: Blogpoesia (671): "Aquele olhar...", de António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo CAR da CART 3493/BART 3873

Guiné 61/74 – P20846 : Memórias de Gabú (José Saúde) (92): A insofismável batalha dos antigos combatentes (José Saúde)


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem. 


Memórias de Gabu

A insofismável batalha dos antigos combatentes
Contornos da guerrilha com laivos preocupantes

Somos estéreis partículas ao cimo deste imenso cosmos terrestre que precipitadamente se dissolvem num universo desigual, onde os valores humanos parecem dissipar-se no seio de uma sociedade mundana, cujas gerações atuais, e vindouras, deslizam para o perverso sentimento de um profundo desconhecimento que houve uma guerra recente onde estiveram envolvidos jovens cuja luta travada no terreno consumiu gerações.

Porém, esses fatídicos sons das armas que atormentaram centenas de milhares dos então meninos e moços, apelidados como “carne para canhão”, tendem ser escamoteadas da história e pouco ou nada se agindo para incutir nas gerações que muitos dos seus pais e avós foram rigorosamente atirados para as frente de combate sem a mínima preocupação de os dotarem com bastos conhecimentos de como atuar numa guerrilha que, para nós, se apresentava porventura desigual, sendo a luta nos campos de batalha excessivamente terrível.

Neste varandim a que vamos chamar marcial, sendo por outro lado a contextualização de dados disponíveis pelo Estado Maior das Forças Armadas nos três palcos de guerra, Angola, Moçambique e Guiné, um fórum teatral onde se retiram somente números, sabendo-se no entanto que estes poderão não apresentar-se como reais, vistos que dizem existirem outros que por força de uma razão ou outra não foram contabilizados. 

Recorrendo, com a devida vénia, ao livro “Cronologia da Guerra Colonial”, de José Brandão, concentro a minha presunção numa aprendizagem sempre infinita e centralizo-me no infeliz número de mortos e feridos que o conflito ultramarino registou entre 1961 e 1974 nas três frentes de guerra.

Aliás, estes hediondos números, bem como o texto, ficam narrados no meu último livro “Um Ranger na Guerra Colonial Guiné-Bissau 1973/74”.

Um abraço, camaradas 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. também o último poste desta série em:

Guiné 61/74 - P20845: Parabéns a você (1786): Francisco Alberto Santiago, ex-1.º Cabo TRMS do BART 3873 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 11 de Abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20841: Parabéns a você (1785): Jorge Félix, ex-Alf Mil PilAv, Alouette III, da BA 12 (Guiné, 1968/70); Jorge Picado, ex-Cap Mil, CMDT das CCAÇ 2589 e CART 2732 - CAOP 1 (Guiné, 1970/72) e Manuel Marinho, ex-1.º Cabo At Inf do BCAÇ 4512 (Guiné, 1972/74)

sábado, 11 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20844: Os nossos seres, saberes e lazeres (385): Uma memorável visita ao mundo albicastrense (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Setembro de 2019:

Queridos amigos
Enquanto o viandante se encaminha para o esplendoroso Centro Cívico, um espaço assombroso de fruição e lazer no centro da cidade de Castelo Branco, dá-lhe para recordar o que era esta região há cerca de cinquenta anos, as chamadas acessibilidades eram mínimas, aqui se chegava de comboio ou de camioneta, atravessar o Zêzere só pela velha ponte filipina, vinha-se então por Cernache de Bonjardim. Contava-lhe o carpinteiro que lhe refizera a casa de Casal dos Matos, em Pedrógão Grande, que saía do Batalhão de Caçadores 6, aqui instalado, e para chegar a sua casa no lugar de Figueiró dos Vinhos era uma odisseia de boleias e caminhadas a pé por montes e vales. Como tudo mudou em cinquenta anos, felizmente, há sopros de interioridade, e são bem álgidos, ameaças de despovoamento, mas Castelo Branco é uma verdadeira pérola na Beira Baixa, há para aqui bons artífices de planeamento urbano e as imagens que se seguem são um hino à vida.

Um abraço do
Mário


Uma memorável visita ao mundo albicastrense (2)

Beja Santos

Custa sair do jardim episcopal, nova espiada, aproveita-se para tirar estas imagens, e depois atravessa-se para o jardim em frente. É um espaço de apaziguamento, para ser sincero o viandante acha tudo nos conformes para zona de lazer, mas terá uma surpresa, lá para o fundo aparece aquele belo poema de João Roiz de Castelo Branco, eram obrigatório na disciplina de Português dada a sua formosura estética e esplendor clássico:

“Senhora, partem tão tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

tão tristes, tão saudosos,
tão doentes da partida,
tão cansados, tão chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.

partem tão tristes os tristes,
tão fora de esperar bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.”

Diversas obras de João Roiz, poeta quinhentista, constam do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende. Sabe bem encontrar este belo poema de devoção amorosa, que Amália Rodrigues tão bem cantou, num aprazível jardim de Castelo Branco.





No amplo espaço da Devesa temos o Centro Cívico, pontuado por verde, espaçosas esplanadas de cafés e restaurantes, como o tempo está contado, o viandante detém-se na fachada do Cineteatro Avenida, impossível não ir bisbilhotar depois o Centro de Cultura Contemporânea. Este cineteatro impressiona pelo seu traço moderníssimo. Inaugurado em 1954 foi devorado por um incêndio em meados dos anos 1980. Está requalificado, é este primor, já não é o cinema de antigamente mas não deixa de ser uma ativíssima casa de cultura.


Castelo Branco teve várias unidades militares, o viandante para frente ao portão do que foi o Regimento de Cavalaria 8, agora é um centro de atendimento, felizmente está bem conservado, os seus edifícios complementares estão devidamente ocupados. Dá-se a volta ao edifício para tirar uma imagem de bela azulejaria constante da entrada, alusiva aos atos de incorporação e de licenciamento.



Fica-se de boca aberta, o Centro de Cultura parece querer levantar voo, para lá caminha afanosamente o viandante, ainda por cima está anunciada uma exposição de Ângelo de Sousa. Toca a descer para depois subir.



Há uma frase do artista Ângelo de Sousa que se deve reter antes de usufruir dos seus trabalhos. Ele pretende “o máximo de efeitos com o mínimo de recursos, o máximo de eficácia com o mínimo de esforço e o máximo de presença com o mínimo de gritos”, seja no desenho, na pintura ou na escultura. A exposição a que se vem intitula-se “Ângelo de Sousa: Quase tudo o que sou capaz”, num programa de exposições e apresentação de obras da coleção de Serralves. Moçambicano por nascimento, foi no Porto que este artista fez a sua educação artística e construiu a sua obra. O que a exposição permite ver é despojamento, experimentalismo, depuração. Escreve-se na publicação alusiva à exposição: “Em termos estritamente iconográficos, Ângelo de Sousa sempre se socorreu daquilo que tinha à mão, mesmo à frente dos seus olhos, desenhando, pintando, fotografando e filmando objetos emotivos que todos vemos quotidianamente e a que já não prestamos demasiada atenção: plantas, flores, mãos, céus, nuvens. Nos seus desenhos pode observar-se esta vontade de trabalhar com elementos simples, nomeadamente uma declinação de signos primordiais sobre fundos neutros, que depois dará origem a exercícios abstrato-geométricos que correspondem à fixação de cores geometrizadas em formas fechadas ou à mera repetição de elementos essenciais do desenho, como linhas e pontos”.



Saudado o mestre, sobe-se e desce-se para gozar o esplendor das entranhas do edifício. O arquiteto catalão esmerou-se e ganhou a aposta, o viandante já se comprometeu consigo próprio na próxima visita, seja quando for (espera-se que seja em breve) aqui se sentará a contemplar, sem a pressão do tempo, esta escadaria que não tem rival.
E daqui se parte para o Museu de Francisco Tavares Proença Júnior.


(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20811: Os nossos seres, saberes e lazeres (384): Uma memorável visita ao mundo albicastrense (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20843: (Ex)citações (364): o amendoim e o caju, a maldição do colonialismo, em tempo de pandemia de COVID-19 (Manuel Luís Lomba, alcaide de Faria, Barcelos)

I. Comentário(s) de Manuel Luís Lomba ao poste P20829 (*)

Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66)

(i) nasceu em Faria,  concelho de Barcelos, em 1 de Maio de 1942;

(ii) foi funcionário da construtora Soares da Costa onde alcançou o cargo de Director;

(iii) promoveu o renascimento e é presidente da Direcção do Grupo Alcaides de Faria

(iv) é autor dos dois volumes de Faria: "Terra-mãe da Nacionalidade":

(v) é autor dos livros:  “Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu” (por Manuel Luís Lomba, Terras de Faria, Lda., 2012); "Da Senhora e Da Franqueira: Memórias das nossas Origens" (Barcelos,  edição de autor, 2019); 

(vi) tem cerca de 70 referências no nosso blogue; está na Tabanca Grande desde  17/9/2012 (**)


1. Em tudo o relativo à Guiné, nós, veteranos da sua guerra, não raro evidenciamos o romantismo ou o amor (platónico) àquela terra e gente.

Para introduzir a cultura do amendoim (mancarra, para os guineenses e alcaguita, para os alentejanos) e do caju ou "fruto falso", na economia da Guiné-Bissau, os nossos antepassados, inventores do "colonialismo", tiveram de descobrir o Brasil...

Na réplica do Cherno Baldé ao poste do Patrício Ribeiro está implícito um protesto: antes da chegada dos portugueses, do seu amendoim e do seu caju, já os guineenses eram auto-suficientes - morreriam de vírus, mas não morriam à fome!

A propósito da Guerra da Guiné, a ordem dos factores não é arbitral.

A sua iniciativa será "património imaterial" dos seus naturais e à custa dos "colonialistas portugueses". Consta-nos que Nuno Tristão e a sua malta andavam em turismo aquático (em demanda de "galinha à cafreal"?), os nalus montaram-lhe uma emboscada e ele "lerpou" com uma seta envenenada e sem dar um tiro. Nalús e balantas esperaram 500 anos e, à molhada (e sem fé em Alá, como animistas), atacaram o quartel de Tite - "património material", como o momento do início da Guerra da Libertação, que durou 11 anos para libertar seu território, mas vai para 60 anos que não liberta o seu Povo...

Será que o caju substituiu o amendoim?

A CUF (Casa Gouveia) fora sempre o maior comprador de amendoim e, acontecido o cessar-fogo, foi o primeiro "capitalista-monopolista" português a entender-se com o PAIGC em matérias de negócio. Ambas foram nacionalizadas. Ao desmantelar-se, a CUF generalizou a fome na península de Setúbal, um "bispo vermelho" emergiu à altura da situação (D. Manuel Martins); a Casa Gouveia e a sua organização foi reciclada em Armazéns do Povo e as suas prateleiras e armazéns vazios foram uma das razões para o golpe de Estado de 1980, em Bissau.

O modelo de "economia planificada" foi concebido e materializado pela "inteligência" do PAIGC, obra-prima do desconhecimento do país e povo, reforçada pela "inteligência" de outros de diferentes nacionalidades, entre os quais portugueses, militantes do nosso PREC e da sua falência. A Guiné-Bissau será um caso-vítima do tráfico da "Cooperação".

A dinâmica da fileira do amendoim assentava no micro-produtor e no comércio retalhista, que, pelo novo paradigma, passaram a "funcionários públicos", mas, em vez de o entregar aos Armazéns do Povo e à sua burocracia, passaram a contrabandeá-lo pelas fronteiras da Guiné-Conacri e do Senegal, o que provocará a ruptura dos fornecimentos à indústria portuguesa.

2. O comentário ao tema do Patrício Ribeiro-Cherno Baldé (*)  saiu-me longo, a culpa principal será imputável ao "terrorista" Covid 19 e a secundária ao alvoroço que sinto em comunicar com dois camaradas, com os pés e a vida no chão da minha nostálgica Guiné. Levo 4 semanas de confinamento, e, se escapei ao dito cujo, não escapei aos tormentos do ácido úrico e da tormento - a "gota".

O que acabo de dizer acerca da dinâmica da cultura do amendoim reflecte a auto-crítica do seu primeiro PR Luís Cabral na RTP, que disse também ter fundado uma fábrica de sumos, com a exportação garantida para um supermercado de Cascais (era o Pão de Açúcar) e que morreu sem funcionar (o destino do Complexo do Cumeré e das principais indústrias, que a sua "Economia planificada" instalou).

Quanto ao caju, a Guiné começou a sua exportação em 1966, ano do meu regresso, tendo saboreado o seu "falso fruto" em Buruntuma e em Camajabá, (bem maduro, senão queimava-nos a boca), que parou pós-independência. Foi retomada em 1984 e alcançou elevada massa crítica, como riqueza da Guiné-Bissau.

E, retomando o parágrafo inicial, do feitiço da Guiné aos ex-combatentes, o comandante Alpoim Calvão passou de "terrível", na guerra de libertação, a dedicado amante da Guiné, tendo alcançado o estatuto de maior empreendedor país, criando centenas de postos de trabalho na cultura e fabricas de caju.

Vou aproveitar o espaço para bicar o comentário do Luís Graça  [, que citou  São Jerónimo, padre da Igreja do séc. IV: um cristão, depois de batizado, não precisa de tomar banho] (*).

S. Jerónimo, campeão do assédio e das tentações do sexo oposto, terá razão. Se o baptismo lava a alma para sempre e,  sendo o corpo o invólucro da dita, logo também ficará lavado.

Depois das suas comissões em Jerusalém, em contacto com as civilizações e culturas de judeus e muçulmanos, os cavaleiros medievais regressados criaram grandes choques sociológicos nos seus países - haviam assimilado a higiene deles, aparavam a barba, lavavam-se, tomavam banho e... perfumavam-se!

Os Templários viviam com tal carga de piolhos que o combate era um lenitivo - as estucadas e as lançadas amenizavam-lhes a coceira...

Cuidem-se dos IN - invisíveis mas sentidos. (***)
Ab

Manuel Luís Lomba
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 8 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20829: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (11): Viagem a Mansoa e a Bafatá, onde estamos a levar a água potável aos hospitais... Este ano, muita gente vai morrer, não da COVID-19, mas de fome: o caju ninguém o vem cá comprar...


(***) Último poste da série >  30 de março de 2020 > Guiné 61/74 – P20791: (Ex)citações (363): Os conflitos e a dedicação do povo (José Saúde)