terça-feira, 11 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2625: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (4): Na Ponte Balana, com Malan Biai, da RTP África



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Ponte Balana > 1 de Março de 2008 > Caravana do Simpósio Internacional de Guileje... Imaginem quem é que eu deveria encontrar aqui ? O operador de câmara da RDP África, Malam Biai... Nascido em 1965, em Bambadinca, de etnia mandinga, diz que é primo do J.C. Mussá Biai, natural do Xime e membro da nossa Tabanca Grande... Quando puto, ia ao quartel de Bambadinca, à cata dos restos de comida do pessoal da tropa... Lembra-se bem dos militares da CCAÇ 12, unidade de intervenção que esteve em Bambadinca (Sector L1, Zona Leste), entre 1969 e 1973; dos dois ataques do PAIGC ao aquartelamento; da professora Violete (que dava aulas aos putos da 4ª classe) (1); dos fuzilamentos a seguir à Independência (assistiu, aliás, à execução pública de um agente da polícia administrativa de Bambadinca)... Confirmou-me, de resto, a notícia do fuzilamento, na região do Xime, do Abibo Jau, o gigante da CCAÇ 12, e do tenente ou capitão Jamanca, que conheci na 1ª Companhia de Comandos Africanos, e foi depois comandante da CCAÇ 21 (o que vem ao encontro do relato já aqui feito pelo Mussá Biai) (2)...Diz-me, além, disso que o antigo 1º Cabo da CCAÇ 12, o José Carlos Suleimane Baldé, meu guarda-costas, intérprete, guia, cozinheiro, secretário, está vivo, em Amedalai, perto do Xime... Gostaria de o rever...


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Ponte Balana > 1 de Março de 2008 > O Coronel Coutinho e Lima, que irá ser o herói do dia em Guileje, faculta-me informação adicional sobre a situação operacional na zona de Gandembel/Balana, entre 1968 e 1973, ano em que comandava o COP5... Na realidade, a ordem para a fixação da CCAÇ 2317, a que pertencia o nosso camarada Idálio Reis, em Gandembel e Balana, não é do Spínola, mas do seu antecessor, em Abril de 1968... E como eu gostaria que o Idálio pudesse estar aqui hoje!


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Rio Balana, visto da ponte > Uma cena quase idílica, e que nos remete ao tempo da guerra colonial: lavadeiras à beira-rio... Era aqui que os homens de Gandembel se vinham abastecer de água e tomar o seu banho (3)... Na época das chuvas, o caudal do rio é seguramente maior...
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Ponte Balana, ou Ponte sobre o Rio Balana, afluente do Rio Cumbijã (?)... No tempo da CCAÇ 2381 (Abril de 1968/Janeiro de 1971), um grupo de combate defendia heroicamente esta ponte, vital para o reabastecimento das nossas tropas... A ponte, outrora destruída pelo PAIGC, foi depois reconstruída pela Engenharia Militar... Do lado esquerdo, há uma pequena elevação do terreno...Foi aí que as NT edificaram um fortim, hoje completamente em ruínas. O pessoal de Gandembel vinha aqui abastecer-se de água...


Do outro lado da estrada alguém vai construir uma casa... Continuam a usar-se os materiais tradicionais, o barro, para fazer o tijolo, seco ao sol...
Não sei quantos anos têm estas travessas de madeira do tabuleiro da Ponte sobre o Rio Balana, na Estrada Quebo-Gandembel... Mas não irão durar muito mais... O desgaste provocado pela travessia de veículos automóveis é já evidente...
Em primeiro plano, o editor do blogue, tendo à esquerda um dos elementos da escolta policial da Ministra dos Combatentes da Liberdade da Pátria e à direita o escritor Oscar Oramas, embaixador de Cuba em Conacri, antes e depois da morte de Amílcar Cabral.

Uma cena insólita na Ponte Balana... Não é um batalhão, é apenas um magote de fotógrafos e jornalistas tentando ouvir, da boca do editor do blogue, a história da Ponte Balana e dos seus valentes defensores, entre Abril de 1968 e Janeiro de 1969...
O editor do blogue, em cima da ponte de madeira, fazendo um resumo histórico da Ponte Balana, perante as câmaras da RTP - África e outros órgãos de comunicação social, tais como a televisão comunitária do Bairro do Quelélé, TV Klélé... Na imagem, à direita, de óculos escuros, pode ver-se o Califa Soares Cassamá, jornalista, correspondente da RDP-África em Bissau, que ouço, de vez em quando, ao sintonizar de manhã aquela estação radiofónica, a falar com o Guilherme Galiano... Como o mundo é pequeno e a Guiné-Bissau uma tabanca grande: o Califa é primo do meu amigo e aluno de mestrado, o Lázaro Cassamá, médico, filho de um conhecido comandante do PAIGC em Morés, no tempo da luta de libertação...
O pessoal que veio do Porto (juntamente com os de Coimbra) juntou-se a nós em Ponte Balana, a caminho de Guileje... Na foto, a Alice, de costas, do lado esquerdo; o Paulo Santiago, ao centro, e o Álvaro Basto, à direita. Estão alojados em João Landim, a 30 km ao norte de Bissau...

Os nossos queridos amigos e camaradas da Tabanca Grande: Da esquerda para a direita, o Zé Teixeira; o Paulo Santiago, ao meio; o Álvaro Sousa, de costas, à direita. Em primeiro plano, a Alice, a esposa do editor do blogue...

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Ponte Balana / Gandembel > 1 de Março de 2008 > Uma planta chamada matchundadi di branco [ou pila de branco] na expressão bem humorada dos fulas da região (4)...

Fotos, vídeos e texto: ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados


Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (4):

Vd. postes anteriores desta série:

9 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2621: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (3): Pequeno-almoço no Saltinho, a caminho do Cantanhez


Sábado, dia 1 de Março de 2008. Partimos hoje de manhã, de Bissau, por volta das 7h30. Seguimos a estrada que vai para leste, ao longo da margem direita do Rio Geba, passando por Nhacra e Bambadinca, flectindo aqui para sul, no sentido do Xitole... Chegamos ao Saltinho às 9h20, sem qualquer paragem anterior. No Clube de Caça do Saltinho fizemos a primeira paragem técnica, para tomar o pequeno-almoço, ou o segundo pequeno-almoço, que isto de andar de jipe em África faz fome e sede...

Às 10h15 a caravana - onde se inclui a Ministra dos Combatentes da Liberdade da Pátria, senhora Isabel Buscardini e uma escolta policial - arranca para a próxima paragem em Ponta Balana, perto de Gandembel, por volta das 11h00. Na realidade, chegamos lá just in time, em menos de três quartos de hora. Até agora apanhámos estrada alcatroada, sem curvas...
 
Saltinho, rápidos do Saltinho, Mampata, Contabane (reordenamento do tempo do Paulo Santiago, quando era comandante do Pel Caç Nat 53), Sare Amadi, Quebo (a Aldeia Formosa do nosso tempo, formosa pelas suas bajudas futa-fulas e sagrada pela presença do Cherno Rachid, alto dignatário do Islão em África) (5), Mampatá, Chamarra (estas três localidades, bem conhecidas do nosso Zé Teixeira, quando ele era 1º cabo enfermeiro da CCAÇ 2381, 1968/70)...

A partir de Quebo, o alcatrão foi desaparecendo e entramos em estrada de terra batida... Começa a maldita poeira e aparecem os primeiros buracões, obrigando as máquinas, os pilotos e os passageiros a prodigíos de equilíbrio... No jipe, conduzido pelo Antero, motorista, balanta, da AD, vou eu, a Alice, o Nuno Rubim e a esposa. O coronel vai à frente. Durante o percurso não tiro fotografias. Observamos a paisagem e pomos a conversa em dia. O Nuno e a esposa, que é natural da Guiné, aonde não vinha há trinta e tal anos, formam um casal de cinco estrelas e são uns óptimos parceiros de aventura.

Ponte Balana... Aqui estiveram os homens-toupeiras, os homens de nervos de aço da CCAÇ 2317 (6). Aqui e em Gandembel. Menos de nove meses, de Abril de 1968 a Janeiro de 1969. O tempo suficiente para apanharem com quase três centenas e meia de ataques e flagelações. Por aqui passaram muitas colunas logísticas, vindas de Aldeia Formosa ... Aqui houve muitos combates, feridos e mortos, entre as forças do PAIGG, as nossas tropas especiais e as unidades de quadrícula de Guileje, Quebo, Gandembel... Aqui um dia uma GMC carregada de bidões foi parar ao rio (7)... Falamos da petite histoire da História com H grande... É preciso escrever as duas... É urgente que os próprios guineense conheçam a sua história recente... Um povo sem história é um povo acéfalo, sem memória, sem identidade, sem raízes...

_________

Notas de L.G.:

(1) Vd. poste de 11 de Janeiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2431: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (15): Oficial e cavalheiro em Bambadinca, às ordens de Dona Violete

(2) Vd. poste de 12 de Maio de 2006 >
Guiné 63/74 - DCCXLIX: O fuzilamento do Abibo Jau e do Jamanca em Madina Colhido (J.C. Mussá Biai)

(3) Vd. poste de 3 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2326: O Hino de Gandembel e a iconografia do soldado atormentado pelo desassossego (Idálio Reis)

(4) Vd. poste de 22 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P895: 'Matchundadi di branco' e o sentido de humor da nossa caserna

(5) Sobre o famoso dignatário religioso Cherno Rachid, da Aldeia Formosa (ou Quebo), vd. postes de:
4 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1815: Álbum das Glórias (14): o 4º Pelotão da CCAÇ 14 em Aldeia Formosa e em Cuntima (António Bartolomeu)
18 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCX: O Cherno Rachid da Aldeia Formosa (Antero Santos, CCAÇ 3566 e CCAÇ 18)
16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXVIII: Um conto de Natal (Artur Augusto Silva, 1962)
15 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LVII: O Cherno Rachid, de Aldeia Formosa (aliás, Quebo) (Luís Graça).

(6) Vd. postes de:
16 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1530: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (1): Aclimatização: Bissau, Olossato e Mansabá

Guiné 63/74 - P2624: À procura dos Camaradas e da Memória de 1966 (José Jerónimo / Virgínio Briote)

1. Mensagem que o José Jerónimo enviou há tempos:

Emocionado estou com todo o trabalho que têm tido na pesquisa de informações, sobre meus camaradas mais próximos, nos velhos tempos de Guiné.


Não sei como mostrar para vocês todo o meu reconhecimento.
Tu, meu grande camarada, que junto com o Henrique Cabral, com o Henrique Matos, com o Virginio Briote, com o Carlos Vinhal, com o Santos Oliveira (que se tem desdobrado em vários "Santos Oliveira" para me apoiar nesta busca, que já alguns resultados nos trouxe) e outros, tens cedido o teu tempo, o teu espaço, para me dares atenção, me ajudares , apesar do meu contributo de informações ser tão pequeno... mereces um Louvor por MÉRITO que se estende a todos os outros, não pelos vossos feitos na guerra.


Mas agora, em outro tempo bem distante, pelo ALTO NIVEL de Solidariedade, de Camaradagem, de Interesse em ajudar os outros, de Motivação em resgatar os momentos difíceis por todos nós vividos e que serviram para tanto fortalecer o espirito de CAMARADAGEM, nas raias da AMIZADE que fez a nossa linda história.

Daqui destas longínquas terras brasileiras, que agora muito mais perto se tornaram para todos nós, vai o meu MUITO OBRIGADO PARA VOCÊS TODOS.

Com um FORTE ABRAÇO para TODOS, do

José Jerónimo

PS: Esperando que tenhamos mais resultados em nossa busca,
JJ

2. Nova mensagem do José Jerónimo:

Caro Luís Graça,




Esta foi uma parte das operações em que a CCAÇ 1487 participou. Foram aquelas que fizemos ao nível de Batalhão com o de Tite, o BCAÇ 1860.

Além destas tivemos outras como Companhia de Intervenção do Batalhão de Bissau, em Mansoa e Mansabá, além de muitas outras várias que tivemos só ao nível de uma ou duas companhias, que aqui não estão relacionadas. Existe interesse em publicar no Blogue? Como? Posso escrever com alguns detalhes que me lembrar. O que achas?

3. Para lhe avivar a memória, meti-me na conversa, uma vez que somos praticamente do mesmo tempo:

Caro José Jerónimo,

Pela foto que acabas de enviar vejo que está bem, com um aspecto de fazer inveja à velhada que por aqui tem dado a cara.

E pelo resumo de algumas ops em que entraste, também me apercebi que dois grupos nossos (Cmds do CTIG, do então cap Garcia Leandro) andaram contigo, salvo erro a Narceja e a Naja, estou correcto?

Tens alguma informação mais detalhada que queiras enviar sobre as acções em que participaste?

Um abraço,
vb



4. Na volta, o José Jerónimo:

Caro VB

Concerteza que sim. Estive lá em todas essas operações, menos na última, a Navalhada, pois tinha acabado de ser evacuado para o Hospital Militar de Bissau. Nela, lembro, morreram o guia Idrissa e tivemos vários feridos no Grupo do Alf Freitas Soares.

Apesar de, pelo muito tempo afastado dessas nossas lides, tenha esquecido a maior parte dos detalhes que gostaria de recordar agora, lembro-me que na Narceja foi derrubado um helicóptero, quando foi evacuar os feridos. Na queda um furriel que com a sua secção fazia a segurança do helio, teve um braço quase decepado.

No helicóptero estava a ser evacuado, com outros, um cabo (não lembro o nome) da CCAÇ 1487, com um tiro no rosto.

Depois quando faziamos a segurança do helicóptero derrubado, alguns de nós, entre eles eu, estávamos perto de um grande poilão, onde estava o técnico do Alouette que ia desmontar o helicóptero, para o mesmo poder sair dali em um outro. Aí estavam também de pé o então capitão Fabião , apoiado na sua varinha, o também então capitão Osório e um dos alferes dos Cmds do CTIG (era um gordinho muito falador e divertido, estive com ele mais vezes).

Este último tentava assar umas febras de um leitão que tínhamos apanhado. Foi nessa altura que tivemos um contra-ataque com uma saraivada de balas , morteiradas e bazucadas. Todos os que ali estavam indevidamente foram para os seus lugares. Eu estava ao lado Alferes Lobato da CCAÇ 1487 e quando no primeiro momento nos jogamos para o chão, uma rajada passou entre nós os dois. Ele concerteza se lembrará também.

E lá se foram as febrinhas de porco, que pareciam vir a ser tão apetitosas. Os Páras desceram já muito mais tarde.

Tu estavas lá? Foi assim ? Ou estou a fazer confusão com outra operação? Acho que no fim fomos por Jabadá, onde o Alferes do Pel Mort 1039 (a quem eu chamo de Basílio) nos recebeu com umas boas cervejas, no destacamento, apesar de estarmos debaixo de muitos tiros.
Da Naja não lembro tão bem.

Outra que lembro alguma coisa, mas que vocês (Cmds do CTIG ) não estiveram, foi a Nalú. Foi nela que, pela primeira vez, foi integrado nas forças terrestres o Comandante do Batalhão 1860 (ele foi no meu Grupo de Combate e nesta operação , morreu o Alferes Carlos Santos Dias da CCAV 1549 (?), que actuava com um objectivo diferente.

Quanto ao ex-capitão Leandro, lembro que nos comandou durante os dois períodos de férias do Osório. Num deles tivemos um forte ataque ao aquartelamento de Fulacunda. E ele estava lá. Lembro-me que quando saí com a arma, para ir para fora do quartel (cabia ao meu Grupo a segurança da pista e da parte externa do quartel, onde ficava a população civil) me cruzei com ele, que ainda perplexo se tentava posicionar quanto à situação e me perguntou alguma coisa que agora não recordo.

Olha, Briote, se forem puxando por mim, ainda vou lembrar de um monte de coisas. Gostei deste momento de recordações e só tenho pena de só ir lembrando aos poucos.

Quanto à foto que te enviei, obrigado pelo elogio. De facto apesar das muitas peripécias da minha vida, ainda me sinto muito bem e tenho uma vida muitissimo ativa. Dou Graças a Deus por isso. Estou aí para mais lembranças e encontros...

Se tu, meu camarada amigo, estiveste em algumas destas operações, tenta avivar a minha memória, que começou a clarear desde que conheci o Grande Santos Oliveira e tenho estado em contacto com todos vocês.

Um abração amigo
JJ

__________

Nota de vb:


I. A op Narceja em que o José Jerónimo refere o abate do Allouette, consta também da minha memória. Não foi o meu grupo mas sim os Vampiros, comandados pelo alferes V. Caldeira. Foi a primeira ou se não foi, foi seguramente uma das primeiras vezes que o Caldeira, até então adjunto do cap Leandro para as questões administrativas, chefiou o grupo. O alferes Vilaça, até então o cmdt do grupo tinha regressado a Guileje e à sua CCaç 726.
II. O técnico da fábrica francesa que estava na BA 12, Bissalanca, já com alguma idade, deslocou-se num outro heli para ver os estragos e eventualmente reparar no local o que pudesse ser reparado.
O alf Vítor Caldeira contou-me a peripécia, mas o que mais retive foi a cena da largada dos páras.
Transportados para o local pelo próprio cmdt da Base, o cor Kruz Abecassis, se a memória não me atraiçoa, quando a zona foi sobrevoada pelo Dakota, havia tiroteio cá em baixo. Mesmo assim, fez-se a largada.



Foto de finais de 1965, princípios de 1966, em Brá, numa visita que o Governador A. Shultz fez à CCCmds. De costas e com as mãos atrás das costas, vê-se o então cap Nuno Rubim. O alf V. Caldeira é o que está assinalado à direita da imagem (mancha branca junto às botas) com o Marcelino da Mata ao fundo. É este o alferes gordinho de que falas?
JJ, puxa pelas memórias. Para as avivar, vai enviando fotos, docs, o que tiveres.
Foto de © vb (2008). Direitos reservados.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2623: Estórias cabralianas (34): O Alferes, o piano e a Professora (Jorge Cabral)

Lisboa > Casa do Alentejo > 6 de Março de 2008 > O Henrique Matos (ex-Comandante do Pel Caç Nat 52, 1966/68) e o Jorge Cabral (ex-Comandante do Pel Caç Nat 63, 1969/71), no almoço organizado pela nossa Tabanca Grande no dia do lançamento do livro do Beja Santos (1)


Foto: © Albano Costa (2008). Direitos reservados (Foto editada por L.G.)



1. Mensagem do Jorge Cabral:

Querido amigo:

Espero que já estejas refeito de tanta emoção!

Lá estive no lançamento, que correu muito bem (1).

Gostei imenso de conhecer o Henrique Matos, com quem logo senti uma grande empatia.
Contei-lhe a estória que hoje envio, a qual devo ao Beja Santos, que me fez recordar do tal piano.

Grande, Grande Abraço
Jorge

2. Estórias cabralianas > O Alferes, o piano e a Professora (2)


Em Maio de 71, o apanhanço do Alferes excedera todos os limites. Os Amigos da CCAÇ 12 haviam partido e ele, com os seus vinte e três meses de mato, refinara a excentricidade, espantando agora os periquitos de Bambadinca.

Naquele dia resolvera visitar a Professora (3). Com que intenção, não sei. Líbido? Mera curiosidade? Alguma aposta? Talvez de tudo um pouco… e se viesse à rede… pois então…

Bateu à porta e logo a amarelenta dama, que parecia saída de um filme de Fellini, lhe franqueou a entrada, num sorriso de Admiração.
- O Senhor Alferes de Missirá! Entre!
- Venho pedir conselhos sobre a Escola. (... Depois blá, blá, blá, da didáctica, dos fulas, dos mandingas, da Guiné antes da Guerra…)
- E que fazia o Senhor na vida civil? - perguntou ela.
Nem hesitou o Alferes. Com um ar sonhador, apontou o piano que ali jazia ao canto, e disparou:
- Pianista!!!
Quase pulou a Professora. Brilharam-lhe os olhos e, como uma criança, bateu palmas.
- Vai tocar! Vai tocar!
Subitamente, ao Alferes, deu-lhe a pressa e encaminhou-se para a saída.
- Hoje não posso. Venho cá outro dia. E até lhe prometo um recital.
Cá fora, vociferou consigo próprio.
- Porra! Sou duro de ouvido. Não sei uma nota. Porque não lhe disse que era massagista?

A partir desse dia, assim que chegava ao Cais de Bambadinca, enfaixava a mão direita e punha o braço ao peito, para passar diante da Escola, com receio que a dama o fizesse cumprir a promessa.

Já em Julho o Polidoro (4) chamou-o. A Professora perguntara-lhe se o Alferes estava melhor.
Coitado, um tiro na mão. E sendo pianista… ainda pior… já não há recital.
- Cabral, você está doido! Que história é essa? Do tiro, do pianista, do recital?
- Boatos! Invenções! Delírios! Coitada da Dona Violete. Imaginou!

Jorge Cabral


PS - Envio foto (da autoria do Albano) tirada enquanto falava do prometido recital...
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Notas de L.G.:

(1) Vd. poste de 8 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2617: Lançamento do Diário da Guiné, 1968-1969: Na Terra dos Soncó, do Mário Beja Santos (Virgínio Briote)

(2) Vd. post de 4 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2612: Estórias cabralianas (33): Quatro Madrinhas de Guerra (Jorge Cabral)

(3) Vd. poste de 11 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2431: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (15): Oficial e cavalheiro em Bambadinca, às ordens de Dona Violete

(4) Tenente-coronel, comandante do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72). Já falecido.

domingo, 9 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2622: Bibliografia (26): Henrique Matos, 1º CMDT do Pel Caç Nat 52, saúda o outro CMDT, Beja Santos, autor de Na Terra dos Soncó (Henrique Matos)

Lisboa > Sociedade de Geografia de Lisboa > 6 de Março de 2008 > O periquito Joaquim Mexia Alves, à esquerda, e o velhinho Henrique Matos mostram o seu regozijo pelo lançamento do livro do Beja Santos (ao centro). Os três têm em comum o facto de, em diferentes épocas, terem comandado os valentes soldad0s do Pel Caç Nat 52, entre 1966 e 1973.

Lisboa > Casa do Alentejo > 6 de Março de 2008 > Em primeiro plano, à direita, o nosso celebrado autor, rodeado por três outros comandantes de pelotões de caçadores nativos da Guiné: o Henrique Matos (Pel Caç Nat 52), o Jorge Cabral (Pel Caç Nat 63) e o Joaquim Mexia Alves (Pel Caç Nat 52)... Todos passaram por Missirá, em diferentes épocas.



Lisboa > Sociedade de georgrafia de Lisboa > O Jorge Cabral ganhando inspiração para uma próxima estória cabraliana...

Fotos: © Henrique Matos (2008). Direitos reservados.


1. Mensagem do Henrique Matos, ex-Alf Mil do Pel Caç Nat 52 (Enxalé e Porto Gole, 1966/68):


Caro editor e co-editores:

Subscrevo integralmente a mensagem do Mexia Alves para o Beja Santos (1). A festa foi mesmo muito linda e teve para mim um sabor muito especial pois foi a primeira vez que contactei pessoalmente com os participantes que conhecia apenas do Blogue, com excepção do Rui Alexandrino Ferreira que gostei de rever em boa forma.

Anexo 2 fotografias que mostram bem a nossa alegria e uma terceira, do Jorge Cabral, que fez questão de fotografar-se junto a uma bajuda que espero sirva de inspiração para mais uma das suas memoráveis estórias cabralianas.

Abraço a todos e em especial ao Luís Graça que perdeu uma festa mas teve outra que compensou.

Henrique Matos (2)

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Notas do editor:

(1) Vd. poste de 8 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2617: Lançamento do Diário da Guiné, 1968-1969: Na Terra dos Soncó, do Mário Beja Santos (Virgínio Briote)

(...) Mensagem do Joaquim Mexia Alves (...):

"Caro Mário Beja Santos: Foi linda a festa, pá!...Foi lindo o convivio, (não falemos do bacalhau!), foi linda a conversa, foi lindo o riso, foi lindo a visita à Sociedade de Geografia, foram lindos os 'discursos', foi lindo o som da Guiné, foi linda a tua emoção, foram lindas as cervejas que ainda bebi a matar saudades, ah, e o livro é lindo! Não vale a pena dizer mais nada, porque não há mais palavras para dizer o que vai no coração. Ah, e senti um grande orgulho em ter sido Comandante do 52!" (...)

(2) Vd. postes de:


14 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2105: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (1): Ataque a Missirá em 22 de Dezembro de 1966 (Parte I)

14 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2107: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (2): Ataque a Missirá em 22 de Dezembro de 1966 (Parte II)

6 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2158: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (3): O famigerado granadero do Enxalé, da CCAÇ 1439 (1965/67)

11 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2173: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (4): O capitão de 2ª linha Abna Na Onça, régulo de Porto Gole

18 de Outubro de 2007 >Guiné 63/74 - P2191: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (5): O baptismo de um periquito no Enxalé

23 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2376: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (6): Insularidade e solidariedade no Natal dos açorianos

31 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2392: Memórias dos Lugares (3): Porto Gole (Henrique Matos, Pel Caç Nat 52, 1966/68)

Vd. também poste de 22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1871: Tabanca Grande (15): Henrique Matos, ex-Comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68)

Guiné 63/74 - P2621: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (3): Pequeno-almoço no Saltinho, a caminho do Cantanhez




Guiné-Bissau > Região de Bafatá > 1 de Março de 2008. Saltinho, na Estrada Bissau - Mansoa - Bambadinca-Saltinho - Quebo - Gandembel - Guileje. Paragem no Saltinho, no Clube de Caça, para tomar um segundo pequeno-almoço reforçado. Que a viagem é longa até ao Guileje (chegada prevista às 12h30), no âmbito do programa social do Simpósio Internacional Guiledje Na Rota da Independência da Guiné-Bissau (1) Enquanto se come, pode-se ouvir em silêncio, na margem direita do Rio Corubal, a água que corre nos rápidos do Saltinho. Na volta, quero ver os rápidos de Cusselinta.



Guiné-Bissau > Bissau > 1 de Março de 2008 > Concentração da caravana automóvel por volta das 7h00. A caminho do sul do país. Esperamos chegar a Guileje daqui por 5 horas e meia, com quatro paragens (Saltinho, ponte Balana, Gandembel, Corredor de Guileje).

O Rio Coruabl no Saltinho continua a ser, quarenta anos depois, um deslumbramento. Mesmo na época seca. Vim aqui apenas um ou duas meses, integrado em colunas logísticas que partiam de Bambadinca (Sector L1 / Zona Leste) e traziam os abastecimentos indispensáveis aos nossas tropas e populações estacionadas em Mansambo, Xitole e Saltinho. Em geral, íamos até ao Xitole que depois fazioa chegar os respectivos abastecimentos aos seus vizinhos do Saltinho (que pertenciam já a outro sector, o L5, sediado em Galomaro.


Mercado local, improvisado, antes da Ponte do Saltinho. As populações locais são céleres a reagir às notícias de chegada de turitas... Notícias que agoram chegam num instante, através do telemóvel bem como das rádios e televisões comunitárias....



Paragem no Saltinho às 9h30 para um segundo pequeno reforçado...





O Paulo Santiago, que esteve aqui a comandar o Pel Caç Nat 53, conversa com um diplomata português, o nº 2 da Embaixada de Portugal em Bissau.... Em segundo plano, o o Julião Soares e o Pepito.

Os três Gringos de Guileje nunca tinham andado por aqui, segundo creio...

Estamos no chão fula... Vê-se elas tabancas e as cabeças de gado que agora pastam nas bolanhas... Não há fula que não tenha uma história de colaboração com as autoridades coloniais portuguesas: como polícias administrativos, como milícias, como militares...

Uma imagem pouco usual no meu tempo: uma mulher com dois gémeos... Não sei qual é hoje a prevalência do infanticídio...


A Francisca Quessangue, esposa do Roberto, presidente da Assembleia Geral da AD, é uma doçura de pessoa. E, no entanto, tinha todas as razões para ter ódio no seu coração: o pai foi morto, com três tiros, friamente, por tropas africanas, por se recusar a denunciar os camaradas da guerrilha do PAIGC... Uma tia dela que estava grávida e que assistiu, aterrorizada, a esta cena, escondida por detrás de uma árvore, teve um aborto espontâneo. O pai da Francisca era papel, da região de Bissau. Viveu no mato, onde ela cresceu. Tinha responsabiliddaes políticas, não era combatente. A Francisca estudou enfermagem na ex-União Soviética. Estava num hospital de rectaguarda, na fronteira, aquando do ataque a Guileje. Hoje é enfermeira no Hospital Regional do Gabu. É uma das oradoras do Simpósio. Vai fazer uma comunicação sobre "os aspectos sanitário-logísticos do PAIGC no assalto ao quartel de Guiledje", dia 6 de Março. Ostenta uma T-shirt com uma campanha da Unicef Semana Nacional de Amamentação. Hoje na Guiné-Bissau as jovens mães já não querem dar de mamar aos seus filhos, por razões estéticas...



À entrada do Clube de Caça: A Isabel e a Alice... Em segundo plano, uma jovem cooperante portuguesa, licenciada em Relações Internacionais, conversa com um africano... Adora a Guiné e o seu povo. É natural do concelho de Seixal. Não fixei o seu nome.


O Patrick Chabal foi dar uma volta para ver mais de perto o Corubal, o único verdadeiro rio da Guiné, como defendia o seu biografado, o Amílcar Cabral.

O Coronel Art Ref Nuno Rubim conversa com um antigo milícia ou militar de uma companhia de caçadores, africana... Se bem me lembro, era no Quebo. Talvez a CCAÇ 18.

O António Camilo, algarvio de Lagoa, é com o o Xico Allen um dos campeões das viagens à Guiné. Gosta tanto deste país que cá já construiu uma morança, no Clube de Caça do Saltinho, mesmo em cima do Corubal. Ei-lo aqui à porta de casa. Com o seu amigo Carlos Silva (em primeiro plano).

O Pepito está atento à caravana que vai retomar a marcha... Por detrás da realização do Simpósio Internacional de Guileje há uma logística impressionante, de que os participantes a pouco e pouco se vão dando conta...



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Fevereiro de 2005 > Memorial da CCAÇ 2406 (Os Tigres do Saltinho, 1968/70) (à direita, numa foto do Paulo Santiago) (2); o mesmo memorial, à esquerda, muito mais degradado, em 1 de Março de 2008...

Fotos, vídeo, legendas: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.

1. No percurso entre Bissau e Saltinho, não tomei grandes notas. Nem tirei fiotos. A caravana seguia a boa velocidade. Fui em estrada alcatroada, ao longo do Geba, por sítios que não conhecia, com belíssimas bolanhas, sobretudo na região de Mansoa. No meu tempo, esta estrada, a norte do Geba, estava interdita. Para a Zona Leste ia-se de barco, até ao Xime, até Bambadinca, até mesmo a Bafatá...

Noto que as estradas modernas, como em toda a parte, atraiem as populações... Há mais tabancas, com maior risco de acidentes, à beira do caminho. Uma das nossas viaturas passou por cima de um cabrito. Ninguém porém parou. Há um membro do governo na caravana e leva escolta policial. Há também uma deputada, antiga combatente da liberdade da pátria...


Passo pela bolanha de Finete, agora com direito a tabuleta. Passo em Mato Cão e o Rio Geba Estreito ali tão perto... Imagino um comboio de barcos da Casa Gouveia a aparecer na curva do rio... E nós ou o PAIGC, emboscados. Passo ao largo de Bambadinca, sem aparente emoção. Mas tenho um pensamento positivo ao lembrar os velhos camaradas que andaram por aqui comigo...

Cortamos para o sul, mais à frente, perto de Santa Helena, se não me engano...

Não dou conta de passar por Mansambo: do Xitole, retive apenas a fachada de uma mesquita que não existia no meu tempo... Entrevejo as ruínas do Xitole... Passo pelo Rio (seco) de Jagarajá e por Cambesse onde, em 15 de Maio de 1974, teriam morrido os últimos  portugueses em combate, segundo o José Zeferino (3)... A estrada antiga passava ao lado...

2. A viagem vale pelo Saltinho, que revisito, o Rio Corubal, as lavadeiras do Corubal... Mas já não há a tensão dramática que percorria a fiada de palmeirais ao longo do Rio, no tempo da guerra... 

Há também maior desflorestação nesta zona. Os cajueiros são uma praga, na Guiné-Bissau. As bolanhas tendem a ser abandonadas ou a transformar-se em campos de cajueiros... Uma armadilha mortal para os guineenses, para a sua economia, para o seu futuro... O arroz continua a ser a base da alimentação do guineense, de Bissau a Bafatá... Arroz que é importado, em grande parte.
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Notas de L.G.:

(1) Vd. postes anteriores:
8 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2618: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (1): Regresso a Bissau, quatro décadas depois...

9 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2620: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (2): O Hino de Gandembel, recriado pelos Furkuntunda

(2) Vd. poste de 30 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P926: As emoções de um regresso (Paulo Santiago, Pel Caç Nat 53) (3): Saltinho e Contabane

(3) Vd. poste de 27 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2588: Historiografia de uma guerra (3): a última emboscada do PAIGC, na ponte do Rio Jagarajá, em 15 de Maio de 1974 (José Zeferino)

Guiné 63/74 - P2620: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (2): O Hino de Gandembel, recriado pelos Furkuntunda

Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Azalai > 29 de Fevereiro de 2008 > Actuação do grupo musical Furkuntunda (1) que animou a nossa primeira noite em Bissau, na sequência do cocktail oferecido a todos os inscritos no Simpósio Internacional de Guiledje pela Ministra dos Combatentes da Liberdade da Pátria e Presidente do Comité Interministerial de Pilotagem das Comemorações do 35 Aniversário da Morte de Amílcar Cabral, Senhora Isabel Mendes Correia Buscardini. Foi a primeira de uma série de dias e noites memoráveis (2)...

Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Azalai > 29 de Fevereiro de 2008 > A anfitriã, dando as boas vindas a todos os convidados, e em especial aos estrangeiros, a Senhora Isabel Mendes Correia Buscardini, Ministra dos Combatentes da Liberdade da Pátria e Presidente do Comité Interministerial de Pilotagem das Comemorações do 35 Aniversário da Morte de Amílcar Cabral... Ao longo da semana irá acompanhar uma série de actividades previstas no âmbito do Simpósio Internacional de Guileje, incluindo a visita ao sul da Guiné-Bissau, nos dias 1 e 2 de Março de 2008 (fim de semana).

O grupo musical Furkuntunda, uma das revelações do ano de 2007... É constituído por talentosos jovens do Bairro do Quelélé, de Bissau. Já aqui divulgámos, no nosso blogue, um vídeo clip do grupo (Djunta Mon, 5 m 39 ss), produzido pela TV Klele (1).

O vocalista do grupo dos Furkuntunda deitou fogo à savana e pôs os tugas a correr... Infelizmente não fixei o nome dele...

O nosso querido amigo e camarada Zé Teixeira cantando o Hino de Gandembel com o vocalista dos Furkuntunda... Uma belíssima parelha! Que pena não poderem estar o Idálio Reis e o António Almeida, da CCAÇ 2317 (Gandembel/Balana, 1968/69)...

A Senhora Isabel Miranda, presidente da Direcção da AD e coordenadora do Simpósio, dançando com o cubano Ulisses Estrada, antigo combatente nas fileiras do PAIGC, em 1966... O Ulisses era o único representante de Cuba, para além de Oscar Oramas, antigo embaixador em Conacri, ainda no tempo de Amílcar Cabral... Na foto reconhece-se ainda o Zé Teixeira, de mão dada com um antigo combatente do PAIGC, e com um Gringo de Guileje, o Sérgio Sousa... Julgo ter visto o embaixador de Cuba e a a esposa nesta simpatíquíssima festa oferecida pelos nossos amigos guineenses... Não consta que o nosso representante diplomático estivesse presente. Aliás, durante toda a semana ignorou sistematicamente os seus compatriotas que vieram participar no Simpósio e que, até pelo seu número, deram nas vistas em Bissau (ou, pelo menos, nos restaurantes de Bissau, que são os únicos sítios frequentados pelos estrangeiros)...

O António Pimentel, ao fundo, alteirão, no meio de uma juventude, bonita e divertida... O António, como os nossos restantes compatriotas, estava encantado com a recepção e com pena de ter de voltar de novo a casa, e para mais de jipe...


O vocalista dos Furkuntunda é um também uma excepcional animador: ei-lo aqui, à esquerda, arrasando a plateia e contagiando todo o mundo, incluindo os cotas que vieram de Portugal...


Fotos, vídeo, legendas e texto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.

1. Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça): O Hino de Gandembel ganta outra batida, na versão dos Furkuntunda


O convite, personalizado, falava em traje formal... E era feito pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da Cooperação Internacional e das Comunidades... Os guineenses vinham trajados a rigor. Eles e elas. Rapidamente conclui que há bons costureiros em Bissau e sobretudo bom gosto, aliando-se o moderno ao tradicional... Os tugas e os demais estrangeiros tiveram que improvisar... Lá se compuseram com os trapinhos que traziam nas malas.

A noite era quente e convidava ao convívio, à partilha, à alegria, à dança... Eu, pelo sim pelo não, tinha levado uma gravata, que nunca cheguei a usar, mesmo quando, já no penúltimo dia, fui integrado numa comitiva de antigos combatentes portugueses a uma audiência com o senhor 1º Ministro e, logo a seguir, com o senhor Presidente da República... Como bons africanos, os guineenes gostam do ronco, mas não são formais como os angolanos.

A grande surpresa da noite foi quando os Furkuntunda (em dialecto local, Levanta Poeira) subiram ao palco e ouviram-se os primeiros acordos, de trompete, do Hino de Gandembel !... Foi a primeira grande surpresa com que o Pepito e a organização nos brindou... O vocalista do grupo musical do Bairro do Quelélé (ou Klélé) fez gato sapato da música e da letra , e deu-nos uma versão africana, guineense, fabulosa, irreverente, do Hino da CCAÇ 2317 (Gandembel/Balana, Abril de 1968/Janeiro de 1969) (3)... Não há dúvida, que o Hino ganhou outra batida, outro ritmo...

Estalou o verniz dos tugas e, a pouco e pouco, uma boa parte do pessoal - guineense, tugas e demais convidados - estava na pista de dança, a mostrar que não há fronteiras entre os homens e as mulheres de boa vontade, apesar da guerra, no passado, que os dividiu, ou das diferenças culturais e linguísticas que modelam as suas atitudes e comportamentos...

Infelizmente as condições de luz ambiental, no recinto, junto à piscina do hotel, eram muito fracas, o que retira qualidade aos microfilmes que fizemos. O que reproduzimos acima permite ter uma ideia do ambiente fantástico daquela noite, que teve que acabar relativamente cedo, antes da meia noite, já que a jornada do dia seguinte era longa e pesada (partida, às 7h00, em caravana, para uma visita ao sul da Guiné-Bissau, com regresso na segunda-feira, dia 3).

A comida e a bebida estiveram à altura do acontecimento, se bem que os tugas, tratando-se do primeiro dia na Guiné-Bissau, ainda estivessem a pensar duas vezes antes de meter qualquer coisa à boca... É o que faz ir à consulta do viajante... No dia seguinte, irão esquecer todas as recomendações sanitárias, alegando que quem não arrisca, não petisca... Deve-se dizer que, em geral, durante toda a semana não houve problemas de saúde de maior, para além de uma ou outra diarreia do viajante...

É ainda de referir a actuação do Anastácio de Djens, outra das grandes vozes (masculinas) da música de hoje. Haveremos de voltar a falar dele, da sua música e das suas letras contestárias... Anastácio é uma voz contra o cinismo do sistema, o politicamente correcto e o beco sem saída dos jovens guineenses, sobretudo a partir do Golpe de Estado de 1998. O seu tema musical N' cansa tchora Guine (Em inglês, qualquer coisa como Don't Cry, Guinea-Bissau) é fortíssimo e é mais uma das produções da TV Klele. Apoiada pela AD - Acção para o Desenvolvimento, esta televisão comunitária está a ser um alfobre de novos talentos musicais.

A Alice, a Diana e o casal Quessange: Roberto (presidente da Assembleia Geral da AD - Acção para o Desenvolvimento - e antigo Secretário de Estado dos Recursos Naturais no governo que caiu com o golpe de Estado de 1998); e Francisca (antiga enfermeira do PAIGC, actualmente enfermeira no Hospital Regional do Gabu). O Roberto Quessange tem muitos amigos em Portugal, país de que gosta muito. Foi uma presença constante ao longo da semana, ele e a esposa.

Já agora aqui ficam apresentados os Corpos Sociais da AD - Acção para o Desenvolvimento para o Biénio 2006–2008, alguns dos quais passei a conhecer pessoalmente:

Mesa da Assembleia Geral - Presidente > Roberto Quessangue; Vice Presidente > Alfredo Simão da SilvaSecretária: Eurizanda Rodrigues.

Direcção - Presidenta: Isabel Miranda; Director Executivo: Carlos Schwarz [Pepito]; Tesoureiro: Tomane Camará; Vogal para os Programas de Crédito: Maria da Conceição Vaz; Vogal para os Programas de Educação: Domingos Fonseca; Vogal para os Programas de Comunicação: Maimuna Cassamá; Vogal para os Programas de Desenvolvimento: Abubacar Serra.

Conselho Fiscal - Presidente: Nelson Dias; Secretário: Aristídes Ocante da Silva.



Não faltaram iguarias no cocktail oferecido pela Senhora Ministra dos Combatentes da Liberdade da Pátria... (Que título tão bonito!),

O Armindo Ferreira, antigo combatente português (e hoje empresário em Moreira de Cónegos, Guimarães) e o espanhol Josep Sanchez Cervelló, um dos oradores do Simpósio. Ao fundo, o Sérgio Sousa, ex-Furriel Miliciano Atirador da CCAÇ 3477, Gringos de Guileje (1971)

Caras e vozes bonitas... Elementos (femininos) do Grupo de Teatro Os Fidalgos que irão animar o sarau cultural de 4ª feira, dia 5, no Centro Cultural Franco-Guineense... Aqui o Pepito pediu a uma das actrizes para mostrar os seus dotes vocais... Infelizmente não tomei nota do seu nome, mas o Pepito garante-me que é uma das melhores vozes (femininas) da Guiné-Bissau... Não tenho dúvidas, a avaliar só pela amostra...

Neste convívio, também estaca o Jorge Quintino Biaguê, que tive o prazer de conhecer pessoalmente, e que também faz parte da vasta equipa da AD - Acção para o Desenvolvimento: é actor de teatro e animador do Centro de Intercâmbio Teatral de Bissau (CIT) e coordenador do grupo teatral Os Fidalgos. O trabalho deste grupo de gente talentosa e generosa merece ser melhor conhecido em Portugal.

Uma noite agradável, de que todos levamos boas recordações: à esquerda, o Luís Moita e o Costa Dias; ao fundo, ao centro, o Francisco Silva (foi alferes miliciano, na CART 3492, Xitole, 19723/73 e depois na CCAÇ 51); à direita, o Paulo Santiago (ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 53, Saltinho,1970/72) e , em primeiro plano, um outro camarada, cujo nome me escapa (será o Armando Gonçalo Silva Oliveira, do BART 6520 ?).

Ao centro, um antigo guerrilheiro do PAIGC que tomou parte no cerco e assalto ao quartel de Guileje, e hoje oficial da Marinha guineense, Fefé Gomes Cofre, ladeado pelo Zé Teixeira (à esquerda) e o Coronel Coutinho e Lima (à direita), sob o olhar atento da Maria Alice. Riu-se muito quando lhe falei das suas parecenças físicas com o futebolista brasileiro Roberto Carlos, do Real Madrid...

A Maria Alice e a Isabel Levy Ribeiro, esposa do Pepito, que está a fazer um doutoramento em Espanha. Também faz parte da equipa da AD - Acção para o Desenvolvimento: "Desenvolvo actividades no domínio da educação e formação, apoiando o Centro de Animação Infantil e o Forum das Escolas Populares de Quelelé, através de concursos inter-escolas ligados a temas ambientais; no Norte trabalhando com as Escolas de Verificação Ambiental na produção dos Cadernos de Campo “Ambiente”; e nos programas de formação, de planeamento e coordenação pedagógica da EAO".

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Notas de L.G.:

(1) 26 de Janeiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2482: Guileje: Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008) (12): Notas soltas a quatro mãos (Luís Graça / Pepito)

(2) Vd. poste anterior: 8 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2618: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (1): Regresso a Bissau, quatro décadas depois...

(3) Sobre o Hino de Gandembel, já publicámos diversos postes:

3 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2326: O Hino de Gandembel e a iconografia do soldado atormentado pelo desassossego (Idálio Reis)

1 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2319: Hino de Gandembel: interpretação de António Almeida (CCAÇ 2317, Gandembel/Balana, 1968/69)

22 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2295: Hino de Gandembel, cantado no almoço da mini-tertúlia de Matosinhos (A. Marques Lopes / Carlos Vinhal)

4 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2153: Hino de Gandembel: talvez a mais popular canção entre as NT no ano de 1969 (José Teixeira)

4 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2152: Hino de Gandembel, hoje um hino de alegria (Idálio Reis / Gabriel Gonçalves)

3 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2150: O Hino de Gandembel, cantado pelo GG [Gabriel Gonçalves], o baladeiro da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)

3 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2149: Hino de Gandembel: Quem foi o autor da letra ? (José Teixeira / Idálio Reis)

26 de Setembro de 2006> Guiné 63/74 - P2133: Guileje: Simpósio Internacional (1-7 de Março de 2008)(4): Hino de Gandembel, quem se lembra da música ? (Pepito / Luís Graça)

Vd. ainda:

1 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2321: Humor de caserna (3): Hino de Gandembel: hino de guerra ou música pimba ? (Manuel Trindade)

2 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2323: Um insulto aos heróis de Gandembel (Zé Teixeira)

2 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2324: (Ex)citações (1): Um pouco de humor de vez em quando também nos faz bem (Henrique Matos)

Guiné 63/74 - P2619: Poemário do José Manuel (2): Que anjo me protegeu ? E o teu, adormeceu ?

Guiné > Região de Tombali > Gandembel > 1 de Março de 2008 > Restos de munições (1 granada de RPG 7, do PAIGC; 2 invólucros das munições da metralhadora pesada Browning, usada pelas NT, para defesa dos aquartelamentos; 8 invólucros das munições 7,62, para a espingarda automática G-3... Visita, por volta 11h30, ao antigo aquartelamento da CCAÇ 2317 (1968/69), que foi abandonado pelas NT em finais de Janeiro de 1969, e posteriormente dinamitado pelo PAIGC.

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.

Guiné > Região de Tombali > 1 de Março de 2008 > O famoso poilão, num entroncamento da estrada que vem de Quebo, Mampatá, Chamarra, Gandembel e segue para Guileje (desvio à direita) e depois Gadamael... Esta árvore centenária, a que foi dado o nome de um guerrilheiro, sinaliza o coração do antigo corredor da morte (para as NT) ou corredor do povo (para o PAIGC)... Paragem da coluna que, no âmbito do Simpósio Internacional, seguia para Guileje... No tempo da guerrilha. não havia aqui nenhuma tabanca... Muita gente do PAIGC perdeu a vida nesta região por ocasião de colunas logísticas que seguiam para o sul, leste e até norte do país...

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.

1. Mais três poemas para o poemário do nosso amigo da Quinta da Graça, o ex-Fur Mil José Manuel (Lopes), enviados em 3, 2 e 1 de Março de 2008, respectivamente. O último enviado não tem título (1):


Uma vida quanto vale?
na mira da minha arma
só há vultos
sem sentido
corpos sem alma
consciências amordaçadas
na outra mira
estou eu?
o Fernando, o António?
vá-se lá entender
porque foi ele e não eu
sob a terra que pisamos
a mina está escondida
mão de traição
a há posto
em guerra suja
de inimigo sem rosto
que passos te guiaram
Albuquerque?
que anjo me protegeu?
e o teu?
adormeceu?
são perguntas
sem respostas
e nunca ninguém
o porquê
de um corpo em postas.


O medo
ele está presente
ele intimida
proibe o desejo
até de amar
e não me deixa sonhar

josema
Guiné 1972


O nascer de um bruto

Já não sei rezar
já não acredito
já não sei amar
só sei que grito
berro alucinante
dentro do corpo
grito mudo
aflito
de eco profundo
violento
na cabeça latejando
que
só a áspera bebida
abafa
o tal grito
a vontade
a razão
o sentimento

1973 Guiné
josema (2)

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Notas de L.G.:

(1) Vd. último poste desta série: 3 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2608: Poemário do José Manuel (1): Salancaur, 1973: Pior que o inimigo é a rotina...

(2) Vd. poste de 27 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74)