terça-feira, 9 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19960: Agenda cultual (693): Sessão de lançamento do livro "Padre Nuno / Xico Nuno: um homem actuante em tempos de mudança", de Natália Rodrigues (Coord.), Carlos Figueira, Emília Galego, Jorge Custódio e José Ermitão. Hoje, às 18h30, no Museu do Aljube - Resistência e Liberdade, Lisboa. Participação musical de Francisco Fanhais.



1. Lançamento de livro de memórias e retrato de um padre [Francisco Nuno Oliveira Rodrigues, 1934 - 1989] que ensinava Religião e Moral numa atitude nova e desafiante para os tempos de sombra que se viviam com o Marcelismo. Por isso, é perseguido pela PIDE e é expulso do liceu [, em Santarém,]  onde ensinava e convidava os jovens para o “Tempo Novo”.

Autores: Natália Rodrigues (Coord.), Carlos Figueira, Emília Galego, Jorge Custódio e José Ermitão

Edição de Autor, junho 2019. Preço de capa: 20 euros



Apresentação de Jorge Custódio, Emília Galego e Natália Rodrigues, seguida de um Porto de Honra.

Participação musical de  Francisco Fanhais

Inscrições obrigatórias e mediante os lugares existentes.

Por favor confirme a sua presença para:


mail: info@museudoaljube.pt

ou telef:  (+351) 215 818 535.


Museu do Aljube, Resistência e Liberdade
Rua de Augusto Rosa, 42 • 1100-059 Lisboa



Elétrico 12
Elétrico 28
Autocarro 737
Metro – Estações da Baixa Chiado e Terreiro do Paço





Padre Nuno / Xico Nuno. Cortesia do jornal Comércio & Notícias, de Rio Maior.


2. Nota biográfica sobre o Padre Nuno / Xico Nuno(1934-1989):


(i) Francisco Nuno Oliveira Rodrigues, natural da Mata, freguesia da Chancelaria, concelho de Torres Novas;

(ii) nasce a 14 de março de 1934;

(iii) ingressa no Seminário de Santarém aos 11 anos e continua a sua formação sacerdotal nos Seminários de Almada e Olivais, sendo ordenado sacerdote a 15 de agosto de 1957;

(iv)  a 1 de setembro celebra a Missa Nova, na sua aldeia natal;

(v) é nomeado para professor e prefeito no Seminário de Santarém, onde inicia funções a 1 de outubro de 1957; 

(vi) aqui desenvolve com os jovens seminaristas vários desafios na área da música, teatro e desporto:

(vii) com uma vertente artística muito marcada pinta algumas obras que expõe, de forma individual e coletiva na cidade;

(viii)  excelente caricaturista, deixa um grande espólio na área do desenho;

(ix)  torna-se sócio do Cine Clube de Santarém, criando uma forte amizade com o seu presidente Manuel Alves Castela; 

(x) participa em vários serões musicais e tertúlias com os intelectuais da cidade;

(xi) em setembro de 1963 é nomeado professor de Religião e Moral do Liceu Nacional de Santarém, ficando também com a responsabilidade dos Colégios Andaluz e Sª. Margarida, a Mocidade Portuguesa, a JEC (juventude escolar católica) do liceu;

(xii) preocupado com a Juventude dinamiza, com os jovens estudantes das escolas da cidade, o NATAL DO ESTUDANTE, que na época foi uma autêntica revolução; 

(xiii) no primeiro ano o espectáculo é apresentado no Ginásio do Seminário e posteriormente no pavilhão da FNAT, no campo da Feira do Ribatejo e por fim no Teatro Rosa Damasceno: os espetáculos são sempre um verdadeiro sucesso, trazendo para os mesmos, artistas conhecidos na época e apresentadores como Fernando Correia e A Orquestra da então Emissora Nacional;

(xiv) cria e dinamiza o SCOJ (Secretariado Cristão dos Organismos Juvenis), um andar que aluga e que serve de apoio aos jovens que ali podem estudar, conviver e mais tarde se torna Lar para Estudantes;

(xv) rapidamente cria um pequeno jornal para divulgar o que se faz na casa a que chama também 2 SCOJ; este serve de comunicação para a juventude da cidade e para os que já seguiram para as Universidades e para a guerra colonial;

(xvi) organiza na casa debates onde são abordados temas tabu para a época, nomeadamente Educação Sexual;

(xvii) o jornal está aberto a todos os que quiserem colaborar, sendo um meio onde os jovens expressam, não só a sua criatividade como expõem as suas dúvida e Padre Nuno está sempre disponível para os ouvir e aconselhar;

(xviii) organiza diversas excursões a Lisboa, para assistir a peças de teatro, ópera e exposições que posteriormente servem para tema de debates nas aulas de Religião e Moral;

(xix) é Vice-Presidente da Associação Académica de Santarém; 

(xx) organiza torneios de futebol entre escolas da cidade assim como entre professores do liceu e do seminário;

(xxi) para além das excursões a Lisboa, organiza também excursões a Espanha em 1964 e 69, a Torre de Molinos, Sevilha e Madrid;

(xxii)  participa em reuniões da Oposição em 1969;

(xxiii) perseguido pela PIDE é expulso do Liceu, no fim do 2º período, sendo então encerrado o SCOJ (jornal e casa/Lar de estudantes);

(xxiv) de 1970 a 1974 é colocado, por pequenos períodos, no STELLA MARIS (Organização da Igreja Católica para apoio aos tripulantes dos navios mercantes e pescadores), Paróquia da Ajuda em Lisboa e Externato Diocesano Frei Luís de Sousa em Almada;

(xxv) em 1975 pede a redução ao estado laical e casa com uma sua ex-aluna do liceu de Santarém, numa cerimónia religiosa;

(xxvi) de 1975 a 1982 vive e trabalha em Torres Novas onde é professor na atual Escola Maria Lamas; 

(xxvii) em abril de 1976 funda um jornal A FORJA do qual é diretor até setembro de 1982;

(xxviii) em setembro de 1982, por razões de ordem familiar, ruma a Setúbal, sendo colocado como professor de Português e Latim na actual Escola Sebastião da Gama;

(xxix) membro ativo do MDP (Movimento Democrático Português) tem uma intensa atividade política, sendo membro da sua Comissão Nacional;

(xxx) a sua atividade cultural não se resume às diversas atividades que desenvolve com os alunos, como o Festival de teatro com as escolas da cidade, a Semana da Cultura e Língua Portuguesa, o 30º Aniversário do edifício da Escola Sebastião da Gama, O Centenário do Ensino Industrial em Setúbal. 

(xxxi) dinamiza e participa como ilustrador de livros de poesia de poetas setubalenses;

(xxxii) no verão de 1989 adoece: o diagnóstico é Leucemia Aguda. Tenta-se o transplante de medula em Londres o que, infelizmente, não acontece e vem a falecer em Inglaterra a 10 de novembro de 1989, aos 55 anos;

(xxxiii)  o velório é feito no ginásio da Escola Sebastião da Gama;

(xxxiv) várias têm sido as homenagens realizadas por ex-alunos, amigos e colegas de diferentes locais por onde passou, nomeadamente Mata, Setúbal e Santarém. 

(xxxv) a homenagem, este ano será o lançamento de um livro [, acima referido,] sobre o seu percurso de vida, com testemunhos de antigos alunos, colegas e amigos dos diversos locais por onde passou.

Fonte: Adpat. de AESG - Agrupamento de Escolas Sebastião da Gama > Síntese biográfica do Padre Nuno/Xico Nuno (com a devida vénia)

Guiné 61/74 - P19959: Parabéns a você (1651): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enf.º da CCAÇ 2412 (Guiné, 1968/70) e Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAÇ 2381


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Nota do editor

Último poste da série de 8 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19955: Parabéns a você (1650): José Zeferino, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 4616 (Guiné, 1973/74)

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19958: Notas de leitura (1194): “Estratégias de Vivência e de Sobrevivência em Contextos de Crise: Os Mancanhas na Cidade de Bissau”, por Mamadú Jao; Nota de Rodapé Edições, 2015 (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Dezembro de 2016:

Queridos amigos,
Tive a felicidade de conhecer o Dr. Mamadú Jao em 2010, em visita ao INEP, de que era diretor, entreguei-lhe uma lembrança valiosa que me for transmitida pelo nosso confrade Humberto Reis: todas as cartas da Guiné Portuguesa, na escala de 1:50.000, as cartas com que trabalhávamos. O INEP ainda não se recompusera da tragédia da guerra civil, por ali se tinha aboletado a tropa senegalesa, que se aquecia com fogueiras alimentadas com documentos históricos, perda irreparável do património guineense, até os livros à venda estavam chamuscados.
Este trabalho do antropólogo dá-nos uma visão particular das respostas de organizações tradicionais num contexto de crise aguda em que as mulheres são as grandiloquentes protagonistas.

Um abraço do
Mário


Resistir à crise em Bissau: as estratégias dos Mancanhas (1)

Beja Santos

“Estratégias de Vivência e de Sobrevivência em Contextos de Crise: Os Mancanhas na Cidade de Bissau”, por Mamadú Jao, Nota de Rodapé Edições, 2015, corresponde a um estudo de uma etnia e de uma etnicidade confrontado um processo social dentro de um estado frágil e num tempo em que se fala de globalização e desenvolvimento global – afinal, há organizações civis de sociedades que asseguram aquilo em que o Estado e as promessas globais estão ausentes.

Estudar os Mancanhas, como vivem e sobrevivência num país profundamente instável, tem outros aliciantes: alargar o debate sobre a sociedade civil até entender o real desempenho das sociedades étnicas e como estas ajudam a superar os fracassos cumulativos de modernização. Mamadú Jao é um nome proeminente nas ciências sociais da Guiné-Bissau, é antropólogo, foi investigador do INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa da Guiné-Bissau durante mais de duas décadas, exercendo mesmo as funções de diretor. Foi professor universitário e atualmente é oficial do Fundo das Nações Unidas para a População. De há muito que se sentia aliciado para um estudo sobre as sociétés Mancanhas, as organizações informais de base comunitária. Reparou que os diferentes técnicos associados a programas de desenvolvimento rural não conheciam este tipo de organizações, que ele considera uma lacuna que prejudica qualquer projeto de desenvolvimento.

Tratando-se de uma obra de caráter científico, organiza a sua obra com a seguinte estrutura: a vida socioeconómica da Guiné-Bissau; debate à volta de conceitos para a abordagem do tema em estudo, tais como desenvolvimento, etnia, setor formal/informal, pobreza, crise, capital social, rural/urbano, entre outros; análise dos aspetos relacionados com a vida socioeconómica e política dos Mancanhas; análise do contexto socioeconómico criado na Guiné-Bissau com a adesão do país ao Programa de Ajustamento Estrutural; exame das formas concretas de ação da população Mancanha na cidade de Bissau que serviram de atenuantes face à difícil situação económica e social que a Guiné-Bissau vem enfrentando há décadas, o enfoque centra-se sobre as sociétés, um nome genérico a que os Mancanhas dão às suas organizações de base comunitária.

O investigador começa por nos dar o quadro geral do país, desde a caraterização socioeconómica e política, aprecia a situação política nas zonas libertadas e no período da independência com bastante detalhe, questiona o modelo de desenvolvimento para concluir que as diferentes propostas políticas desde a independência até à liberalização redundaram em fracasso.

Segue-se um capítulo dedicado à problemática do desenvolvimento e dos conceitos que lhe gravitam à volta, trata-se de um enquadramento teórico rigoroso e abrangente onde o autor aborda o desenvolvimento alternativo, o desenvolvimento participativo, o desenvolvimento sustentável, o desenvolvimento humano e o desenvolvimento solidário. Nesta aceção, revela estratégias possíveis de vivência e sobrevivência, o papel da economia informal, o binómio rural-urbano, e dentro desta linhagem de conceitos chegamos à etnia onde ele se detém em várias definições de que há vantagem em mencionar duas, a de Anthony D. Smith: “… existe grupo étnico na medida em que este é designado, ou se designa a si mesmo, por um nome colectivo, em que possui uma história comum, uma mesma cultura, a mesma religião, uma mitologia própria, uma noção de solidariedade, uma referência ou um território…”; e a de estudiosos da antiga União Soviética, para os quais as etnias “representam grupos humanos consolidados, que se criaram ao longo da história num território determinado e que possuem características linguísticas, culturais e psíquicas comuns e relativamente estáveis, assim como a consciência de si (a consciência da sua identidade e da diferença em relação a todas as demais formações similares fixadas num nome de designação colectiva)”.

Feito este enquadramento, chegamos à história dos Mancanhas. André Álvares de Almada, na sua obra “Tratado Breve dos Rios de Guiné do Cabo Verde”, de 1594, abre luz ao grupo étnico Brâme ou Buramo, confinam com os Felupes, povoando uma região do rio de S. Domingos. Deste antigo grande tronco Brâme derivaram Manjacos, Mancanhas e Papéis. Estudiosos do tempo da Guiné Portuguesa referiram a existência das localidades do território Brâme, correspondentes a povoações que ao tempo davam pelo nome de Pelundo, na atual região dos Manjacos, e Bula e Có onde existe uma elevada percentagem de Mancanhas. Para o autor o processo de desintegração do “império” Brâme terá começado nos últimos anos do século XIX. Há dados sobre as transações comerciais no território Brâme, são conhecidas as suas feiras. E o autor observa: “Este tipo de feiras semanais, também conhecidas como lumo, não só continua a existir na Guiné-Bissau, mas também expandiram-se vastamente por todo o território nacional. Contudo, o funcionamento de algumas dessas feiras sofreu algumas alterações. Por exemplo, na região dos Brâmes (Manjaco, Mancanha e Pepel), verificaram-se alterações em algumas localidades. É o caso de Bula (região dos Mancanhas). Antigamente o dia de lumo variava todas as semanas – por ordem decrescente, entre o primeiro e o sexto dia; atualmente, fixou-se o sábado como dia de lumo. Já em Canchungo (região dos Manjacos) mantém-se a regra antiga: a rotatividade através dos seis dias da semana e por ordem decrescente".

O autor assevera que as explicações sobre a origem e a história étnica dos Mancanhas baseia-se ainda muito em contos e lendas e exemplifica com trechos saborosos. O espaço Mancanha está confinado à atual superfície do setor administrativo de Bula, que representa cerca de 15% do território da região de Cacheu e 3% da superfície da Guiné-Bissau. No censo da população de 1950, a percentagem dos Mancanhas era de cerca de 5%, atrás, por ordem de importância das etnias Papel, Mandinga, Manjaco, Fula e Balanta. O autor dá-nos igualmente conta dos fluxos migratórios nacionais e internacionais, causas da emigração, e assim chegamos à organização sociopolítica deste grupo étnico.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19949: Notas de leitura (1193): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (13) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19957: Os nossos seres, saberes e lazeres (338): em louvor da tradicional batatada de peixe seco da Marquiteira, Lourinhã (Luís Graça)








Lourinhã > Marquiteira > Associação da Marquiteira > Festa anual da Marquiteira, "em honra do senhor Jesus do Carvalhal" > 8 de julho de 2019 >  A tradicional batatada de peixe seco > Centenas de convivas. muitos quilos de peixe seco, batatas e cebola: só de "arraia" seca foram 70 quilos... fora  a sapata, o cação, o safio... Sentados nas "manjedouras" é que a gente se sente verdadeiramente "companheiros" [do latim cum + pane, o que come o (mesmo) pão à (mesma) mesa...)]. 

Não há, no litoral português, de Norte a Sul, uma tradição festiva como esta... A Marquiteira e a Ventosa do Mar já a incoporaram nas suas festas anuais há mais de 3/4 décadas... Uma tradiçao cada vez mais viva... É uma alegria para os sentidos... O peixe nobre é a "raia",  a "arraia", como diz aqui o povo miúdo, um peixe que se come todo, da "chicha" àa cartilagens e que é bom, divinal, de todas as maneiras  e feitos: fresco ou seco, frito, cozido, grelhado, assado, estufado...Tão bom ou melhor que o bacalhau... 

Outro peixe nobre da "batatada" aqui da Lourinhã é a sapata...(que só come camarão, e não tem um única espinha...). Na batatada de eixe seco, a sapata vem em iletes, que delícis, que delicadeza de sabor!. 

A batata e a cebola são fundamentais neste prato (único) da Lourinhã... A Nazaré tem o carapau (seco)... Como eu costumava dizer, ao meu velhote: "Peixe seco da Louirnhã ?!... Olhe que no  céu não há disto!"... Filho de peixeiros, neto de pescadores, ele chamava-lhe um figo, ao peixe, de todas as maneiras e feitios.. Herança cultural (, mais do que genética), eu também sou "mais peixeiro do que carneiro",,,

 No inverno, era guardado nos baus, na palha do trigo... Era a nossa "reserva alimentar" do inverno... Quem não tem esses sabores da infância, nºão pode perceber a fecidade destas centenas de pessoas que se juntam, um vez por ano, na Marquiteira ou na Ventosa, para comer a comida dos "pobres", a batada com peixe seco"...Hoje comida de risco, ao preço que está  raia, no mercado (12, 13, 14, 15 euros o quilo, a raia inteira, ao quilo).



Lourinhã > Ventosa do Mar >   ACR (Associação Cultural e Recreativa da Ventosa) > 31 de julho de 2017 > 35º aniversário > Tradicional batatada de  peixe seco da Ventosa do Mar, que rivaliza  com dos vizinhos da Marquiteira (sede da freguesia de Santa Bárbara)... Vou lá hoje "provar" a da Marquiteira...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


João Duarte (#) se faz eco
Na sua terra natal:
“Confraria do peix’ seco
É promessa eleitoral.”

É terra maravilhosa,
Com vista de serra e mar,
Quem não conhece a Ventosa,
Nada mais tem p'ra contar.

Mas eu hoje vim à Marquiteira,
P’ra provar a batatada,
E por ser a vez primeira,
Não opino ainda nada.

Para já vai o meu louvor
Pr’a Santa Bárbara e sua gente,
Tiro o chapéu, sim, senhor,
A quem vem cá 
dar ao dente. 

Se o peixe seco é bom,
A batata é do melhor,
Receber bem é um dom,
E esta santa é a maior.

Não vamos pôr a concurso
As versões desta iguaria,
João Duarte fica piurso,
Há guerra na freguesia.

Uma confraria, já,
P’ró peixe seco com batata,
Junte-se o melhor que há,
Nesta nossa terra amada.

Marquiteira e Ventosa,
São terras de gente chã,
Hospitaleira e amistosa,
Do concelho da Lourinhã.

Pode-se juntar Ribamar
E à volta os seus casais,
Temos tudo a ganhar
E todos não somos demais.

Minhas senhoras, meus s’nhores,
Vamos todas puxar p’ra cima,
Temos cá a matéria-prima,
Temos os saberes e os sabores.

Viva a confraria da tradicional batatata de peixe seco!

Marquiteira,8 de julho de 2019,

Luís Graça (**)

Guiné 61/74 - P19956: Historiografia da presença portuguesa em África (167): Alfa Moló Baldé e o mito fundador do reino de Fuladu, em 1867 (Cherno Baldé) - Parte I


Guoleghal, a ave mensageira do conto de Canhánima (Sancorlã) e de Fuladu ... Grou-Coroado (Balearica Pavonina). Conhecida na Guiné, coloquialmente, como ganga... Havia muitos na grande bolanha de Bambadinca. (*)

Foto (e legenda): © Armando Pires (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Cherno Baldé, com data de 1 do corrente:

Conforme prometido, junto envio mais um texto fruto de algumas notas de leitura feitas à volta da figura mítica, entre os fulas, de Alfa Moló e a criação do reino de Fuladu. Neste texto faço sobressair a importante figura de El-Hadj Omar (Foutyou) Tall, que as crónicas sobre Firdu e sobre Fuladu conferem o papel primordial no levantamento da população fula contra os soninquês pagãos (mandingas) do reino de Gabu na segunda metade do séc. XIX.(*)

Espero que tenha interesse e possa ser publicado no nosso blogue da Tabanca Grande.

Com os melhores cumprimentos, Cherno Baldé




2. Notas de leitura (**):

ALFA MOLÓ E O MITO FUNDADOR DO REINO DE FULADU - Parte I

por Cherno Baldé


Em Junho de 2010, no poste P6661 (*), falando sobre os acontecimentos ocorridos no regulado de Sancorlã, nos períodos de antes e após independência (1903-1974), tinha escrito:

“Na lógica e submundo do homem e da consciência tradicional africana dos últimos séculos, nada acontecia por acaso. Tudo se fundamentava e se justificava, partindo de pressupostos de ordem mística que, aparentemente, estariam na génese de todos os acontecimentos, fossem eles bons ou maus, fossem de natureza política, económica ou social, sempre explicados a partir da conjunção de determinados factores de ordem mística, muitas vezes sob a forma de pactos com seres invisíveis ou simplesmente entre indivíduos ou grupo de pessoas e cujo (in)cumprimento poderia ser sancionado ou premiado a seu justo valor e no devido tempo ».

Estes, eram tempos em que não havia só um Deus, mas muitos deuses, não havia só uma crença, mas uma pluralidade delas, tempos em que a África ainda não se orientava por Meca ou pelo Vaticano, mas sim através dos deuses (Irãs) que habitavam ao seu lado e com os quais podiam falar na sua própria língua.

Os povos que habitavam no reino mandinga de Gabu, mesmo se chegaram em tempos diferenciados, com origens diversas e viviam sob condições sociais diferentes, tinham em comum o facto de partilharem o mesmo espaço sócio-económico e ambiental, obrigando-os, necessariamente, a uma interação económica e mestiçagem cultural constante. Nessas condições, deveras adversas, que os indivíduos fossem de puro sangue (se o termo faz algum sentido) ou que fossem de sangue mestiço ; que fossem homens livres ou de condição servil, as identidades não eram imutáveis, mas submetidas a uma permanente construção, como foi o caso da família de Alfa Moló Baldé.

[Recorde-se: (i) Gabu foi a capital do Império Kaabu (também conhecido por Ngabou ou N’Gabu), um reino Mandinga que existiu entre 1537 e 1867 na chamada Senegâmbia, região que abarcava o nordeste da atual Guiné-Bissau, mas que se estendia até Casamança, no Senegal. 

(ii( Antes disso, Gabu, ou Kaabu, fora uma província do Império Mali que se tornara independente depois do declínio do império. 

(iii) No século XIX, os fulas estabeleceram a sua supremacia na região, pondo fim ao domínio de Kaabu. 

(iv) Durante o período colonial a cidade passou a ser designada por Nova Lamego, mas recuperou o seu nome tradicional após a independência do país." Fonte: Gabu (região). In: Wikipédia, com a devida vénia...]

(i) A chegada e a instalação de familias Fulas no território mandinga de Gabu

Segundo Abdarahmane Ngaindé, os mandingas do reino de Gabu enquanto guerreiros e esclavagistas, tinham construido fortins (tatas),) cobrindo este grande espaço territorial. Citando Michel Benoît, ele escreve :

 "Uma provincia, muitas vezes, não era mais que um tata instalado no meio da floresta que algumas famílias de pastores fulas percorriam com as suas manadas de gado bovino" (Benoît 1988, 510). 

Esta ocupação descontinua do território e a facilidade de instalação dos pastores fulas permitiam amplo aproveitamento do espaço para a criação itinerante dos seus animais.

Os especialistas da história do império de Gabu não são unânimes quanto à data exacta da chegada das primeiras vagas de famílias fulas nesta região de África Ocidental. As testemunhas, quando solicitadas, perdem-se sempre nas neblinas de longas histórias invocadas com muita emoção, mas pontuadas de muitas fantasias e imprecisões. As migrações, dizem, teriam sido feitas por escalas incessantes, facto que dissipa e impossibilita qualquer tentativa de descrever em detalhes a origem e percurso exacto desta ou daquela vaga de habitantes fulas.

Todavia, é sabido que as populações fulas de Fuladu são de origens diversas, podendo-se dinstinguir as originárias de Macina (actual Mali) ], como é o caso da família do autor destas linhas, o Cherno Baldé], de Bundu e Futa-Toro (actual Senegal), assim como do Futa-Djalon (Guiné-Conacri). A chegada desta última categoria é mais recente e data da segunda metade do séc. XIX.

Alguns autores, tais como Mamadu Mané ou Djibril Tamsir Niane, pensam que uma parte desta população se teria fixado nesses territórios com as primeiras vagas mandingas cuja chegada remonta aos séculos XIII/XIV, baseando-se num provérbio popular entre os mandingas segundo o qual "quando um mandinga chega de manhã, invariavelmente, o fula chega à tarde".

No entanto, pensam outros, é bem possível que tenham chegado um pouco mais tarde do Futa-Djalon na sequência das repressões que se seguiram à tomada de poder dos letrados muçulmanos, contra as populações pagãs a quando da revolução teocrática de 1725 (Ngaide, 1998).

De notar que estes movimentos de populações fulas para esta região foram muito semelhantes à digressão conduzida pelo célebre Coli Tenguella que chegou ao Futa-Toro (Senegal) em 1512 para fundar o primeiro reino fula dos Denyankês, tendo atravessado o Futa-Djalon e o actual território da Guiné-Bissau onde teria tido confrontos com os Biafadas, atravessando o rio Corubal (para os fulas o rio Corubal é Mayôh-Côli, isto é, rio Coli, em homenagem ao lendário chefe fula que teria abandonado o Mali, após a morte do pai «Tenguella Bâ », durante o reinado de Askia Mohamed),  o que teria favorecido o aumento da população fula, juntando-se aqueles que ja lá estavam.

A abundância de pastagens,  aliada à existência de extensas bacias hidrográficas, permitiram-lhes consolidar as suas bases económicas e sociais em todas as províncias que os acolheram, reforçadas pelos dons e oferendas aos príncipes e aos diferentes governadores (Farins) dos clãs mandingas reinantes naquelas províncias. Mais tarde e paulatinamente, eles se sedentarizam e se  passaram a dedicar-se, também, a uma agricultura pouco extensiva aos cuidados dos seus escravos ou servos, a fim de garantirem seu sustento.

Em conclusão, diz-nos Ngaidé Abdurahmane, poder-se-ia dizer que, desde finais do séc. XVIII e princípios do séc. XIX, os fulas, chegados em vagas sucessivas, predominam em várias províncias de Gabu e as riquezas destas mesmas províncias dependiam, em larga medida, do número destes últimos. Isto é confirmado, diz-nos Ngaindé, pelo testemunho de Francis Moore [c. 1708 - c. 1756],  citado por Mamadou Mané. Este autor sublinha que « …sem estes estrangeiros (os fulas), os mandingas correriam o risco de passar fome, pois eles tiram deles todo o seu sustento » (F. Moore, 1978).

Este testemunho do inglês F. Moore, é datado do início do sec. XIX (1804). Um pouco mais tarde, na segunda metade do mesmo sêculo, o residente francês em Karabane (Casamansa), E. B. Bocandé (1812-1881), oferece-nos um testemunho similar ao afirmar:

«…é em proporção do número de Fulas estabelecidos no seu território que os chefes das aldeias mandingas devem a sua força, poder, a riqueza e a consideraçao de que beneficiam, porque aqueles o dão presentes de forma continua".

Ainda, segundo Abdarahmane, citando um outro testemunho inglês, Joye Bowman Hawkins « Os fulas eram tratados como sujeitos sob dominação e, como tal, deviam pagar uma taxa anual pela utilização das zonas de pastagens. Nessas condições, cada família era obrigada a pagar um determinado número de cabeças de gado. Os chefes mandingas davam-se ao luxo de escolher os melhores animais da manada, às vezes de forma abusiva, o que tornava as coisas cada vez mais insuportáveis na perspeciva dos fulas" (Bowman,  1981), para os quais aqueles animais não eram simples animais, mas considerados como membros da própria família.

E, é neste mesmo sentido que Mamadou Mané sublinha:  « Porque eram detentores das riquezas materiais (gado e produtos agrícolas como algodão e milho) os fulas eram constantemente abusados e explorados mais que todos os outros, pela aristocracia kaabunké" (Hawkins, 1981 et Quinn, 1971).

Estes testemunhos, entre muitos outros deixados por administradores e aventureiros europeus em África, permitem fazer-nos ver, para além dos abusos recorrentes e das suas consequências sociais, o papel fundamrental que detinham os fulas no reino mandinga de Gabu.

A acumulação de vexames e a situação económica e social no interior do reino no periodo após a abolição da escravatura, pelos ingleses, e o consequente declinio do comércio atlántico, vão estar na origem da revolta que vai derrubar os alicerces do reino e afastar os mandingas dos seus territorios de dominio tradicional.


(ii) Alfa Moló e o nascimento do reino de Fuladu

« Os primeiros anos do reino de Alfa Moló coincidem com a constituição do reino (1867-1881). Durante este período o povoamento fula se reforça e as populações ocupam zonas bem determinadas no antigo reino Gabunké, espalhando-se através do território recentemente 'libertado'. A sociedade fula implanta-se progressivamente e os diferentes elementos da sua organização económica e social se estabilizam. A secunda fase (1881-1903) coincide com o reino do seu filho, Mussa Moló. Este período é caracterizado por uma guerra fratricida que opõe Mussa ao seu tio Bacar Demba e de seguida ao seu irmão Dicori Cumba. Será um período dominado pela recrudescência da violência e das destruições humanas que acompanham-no" (Abdarahmane Ngaindé, 1998).

A juventude de Alfa Moló, diz-nos Abdarahmane citando De Roche, parece ter tido "um carácter particular" (Roche, 1985) na medida em que numerosas fontes de informação confirmam que ele foi educado pelo seu mestre, Samba Egué, que não tinha um filho varão , pelo que considerava aquele como seu filho legítimo a quem, de resto, tinha dado o seu apelido, facto que explica os privilégios que Alfa Moló vai beneficiar durante a sua juventude.

Com efeito, ele teria sido educado como um nobre, beneficiando de toda a atenção requerida e, em vez de se ocupar do gado, ele gostava de se entreter nas lides de cavalos, as idas à caça e ao maneio das armas, actividades reservadas, exclusivamente, aos homens corajosos e também livres. Mais tarde, ele será um caçador destemido, tendo à sua volta auxiliares (aprendizes) aos quais ele introduzia na arte do ofício. Naquela época, os caçadores eram muito considerados, gozando de um grande prestígio, fruto da sua coragem para enfrentar os diversos perigos visíveis e invisíveis escondidos na floresta africana.

Mas, apesar de tudo o que se pode dizer sobre Alfa Moló, que seja de origem nobre ou servil, de nada diminui a importância e o valor da acção que ele e seus companheiros vão realizar e a notoriedade que ele vai adquirir no periodo subsequente. Todavia, o nome de Alfa Moló Baldé só entra, verdadeiramente, em cena depois da passagem de El-Hadj Omar Tall (mais tarde imperador do Sudão), o Marabu que vai estar na origem do mito que envolve o surgimento do reino de Fuladu e os seus principais protagonistas.

Guiné 61/74 - P19955: Parabéns a você (1650): José Zeferino, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 4616 (Guiné, 1973/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 4 de Julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19945: Parabéns a você (1649): Jorge Ferreira, ex-Alf Mil Inf da 3.ª CCAÇ (Guiné, 1961/63)

domingo, 7 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19954: Blogpoesia (627): "Manhã de Domingo no 'Polo Norte'", "Chuva de adversidades" e "Caderno diário", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Manhã de Domingo no "Polo Norte"

Frente ao convento de Mafra.
Fervilha de gente sentada.
Mesas repletas.
A fila de espera vem lá de fora.
Ao balcão não há mãos a medir.
Bolos preciosos. Galões e cafés.
É Domingo.
As famílias se aliviam da tarefa do pequeno-almoço.
As crianças satisfeitas lambem os beiços e jogam na tablete.
Há os isolados que lêem a "Bola" ou o CM.
Atentos como se na escola.
Lá fora, já há disparos de turistas sobre o Convento, a partir das esplanadas.
Ao lado, já vende a tendinha do "pão de Mafra".
Mafra agora é colorida pelas ruas.
Era cinzenta e recheada de tropa, quando por cá passei, nos anos sessenta...

ouvindo Mozart: Complete Piano Sonatas
Mafra, Bar Polo Norte, 30 de Junho de 2019
11h13m
Jlmg

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Chuva de adversidades

Por vezes a vida é flagelada por uma chuva de adversidades.
Dentro e fora de nossas casas.
Vem fustigada pelos ventos desenfreados.
Está tudo errado.
Parece o fim do mundo.

Quando tudo parecia sorrir.
A estabilidade.
Filhos bem arrumados.
A casa paga.

Como um raio, vem a doença.
Tudo escurece.
Lá se foi o gosto.

Só há Um que pode ajudar.
Tudo comanda.
Fé e esperança.
Não se podem perder.
A chave está nas Suas mãos...

Bar 7momentos, arredores de Mafra,
1 de Julho de 2019
dia de sol duvidoso
Jlmg

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Caderno diário

Aquele encanto. Novinho em folha.
Com uma linha ou duas.
Para cópias e redacções.
Na capa se escrevia o nome.
Propriedade nossa.
Por cinquenta centavos.
Nele se aprendia a escrever.
E a aperfeiçoar a caligrafia escolhida.
Redonda ou inclinada.
Uma descoberta que nunca acaba.
Foi na primária e secundária, dentro.

Depois, se assenta ao nosso jeito.

A mim, só quando estudei grego.
Aqueles caracteres diferentes me encaminharam para a que ficou para sempre.
Não é redonda, mas também não é deitada.
Agora, com o computador, tudo ficou ultrapassado.
Se escreve directo. Com o teclado.
Facilita muito.
Com um clique apenas, se apaga ou emenda.

Mafra, 4 de Julho de 2019
19h20m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19933: Blogpoesia (626): "Inspiração", "Zona da arrebentação" e "Asas largas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Guine 61/74 - P19953: O Cancioneiro da Nossa Guerra (11): o fado "Brito, que és militar" (Bambadinca, 1970, ao tempo da CCS/BART 2917 e CCAÇ 12) (recolha de Gabriel Gonçalves, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71)


Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BART 2917 (1970/72) > Convívio no bar de sargentos, em meados 1970, ou em 30 de novemhro de 1970, no 38º aniversário do 1º sargento Fernando Brito; ou ainda, festa de Natal de 1970?

Inicialmente inclinava-me para a hipótese de ter sido em "meados de 1970", ainda estávamos em "lua de mel", os "velhinhos" da CCAÇ 12, e os "piras" do BART 2917, aqui representados, à direita,  pelo 2º Comandante, maj art José António Anjos de Carvalho, sempre fardado, hoje cor art ref, e à esquerda, pelo  1º srgt art Fernando Brito (1932-2014)...

As senhoras: à direita do Brito, a Helena, mulher do alf mil at inf António Manuel Carlão, do 2º Gr Comb da CCAÇ 12 (o casal vive hoje em Fão, Esposende); à direita do Anjos de Carvalho, a esposa do major art, Jorge Vieira de Barros e Bastos (mais familiarmente conhecido por Bê Bê, era o major de operações do comando do BART 2917; hoje cor art ref); e à sua direita, Isabel, a esposa do José Alberto Coelho, o fur mil enf da CCS/BART 2917 ) (o casal vive hoje em Beja).

Mas tudo indica que se trata da festa de aniversário do 1º Brito, em 30/11/1970, apesar de, nessa altura, as relações com o major art Anjos de Carvalho, a três meses de acabar a nossa comissão, serem  muito crispadas e tensas... Dias antes, tínhamos sofrido em brutal revés, no subsetor do Xime, com 6 mortos e 9 feridos graves (Op Abencerragem Candente)...

A CCAÇ 12, como companhia de intervenção, africana, estava adida ao comando do setor L1. Inclino-me mais para a festa de anos do 1º Brito, que era de facto um "senhor 1º sargento", e que mantinha com a malta da CCAÇ 12 uma "relação muito especial"... Se se reparar bem na imagem, o Brito  ostenta uma chucha, ao pescoço, sinal de que fazia anos...  38 anos!... A festa não poderá, pois, ter ocorrido nos primeiros tempos, após a chegada do BART 2917 a Bambadinca, que veio render o BCAÇ 2852 (1968/70), em finais de maio de 1970...

Na altura, estas eram as três senhoras, brancas, que existiam no quartel de Bambadinca (, não contando com a senhora professora do ensino primário, cabo-verdiana, que raramente era vista, mas que vivia dentro das nossas instalações militares, no edifício da escola, a dona Violete da Silva Aires). E não havia miúdos, a não ser os da escola e da população local... Os militares guineenses (da CCAÇ 12 e outras subunidades, como os Pel Caç Nat que estiveram connosco) em geral eram casados e tinham consigo as famílias mas fora do arame farpado, vivendo em Bambadinca ou em Bambadincazinho.

Foto (e legenda): © Vitor Raposeiro (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Coimbra > 2012 > O Fernando Brito, major art ref, (1932-2014) e o neto, Claúdio Brito,   finalista da Universidade de Coimbra, ano letivo de 2011/2012 (Cortesia do Cláudio Brito, da sua página no Facebook).

Foto (e legenda): © Cláudio Brito (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Fado "Brito... que és militar!"(*)

Letra: Tony Levezinho

[Adapt: Fado "Povo que lavas no rio"

[Música: Fado Victória, composição original de Joaquim Campos (1911-1981)


Letra:
Pedro Homem de Melo 


Criação de Amália Rodrigues, 1961] [Uma interpretação de Amália
pode ser aqui ouvida, no YouTube -ficheio apenas áudio]

Refrão

Brito, que és militar,
Que vieste p'rá Guiné,
Em mais uma comissão.
Na CCS ficaste,
Para aturar o Baldé,
A pedir-te patacão.


Fui ver à secretaria,
Por ouvir a gritaria
Que fazia confusão:
- Mim quer saco de bianda!
- Põe-te nas putas, desanda,
Que a mim cá têm patacão!

Filho da puta e sacana,
É o que eles te chamam,
Tenho a mesma condição:
- Mamadús, eu vos adoro,

Se for preciso eu choro,
Mas Patacão... é que não!

Refrão

Brito, que és militar,
Que vieste p'rá Guiné,
Em mais uma comissão.
Na CCS ficaste,
Para aturar o Baldé,
A pedir-te patacão.


[Recolha: Gabriel Gonçalves / Revisão, fixação de texto: LG]



1. Este fado faz parte do Cancioneiro de Bambadinca, logo, deve integrar o Cancioneiro da Nossa Guerra (**). 

Quem o salvou, do limbo do esquecimento, foi o Gabriel Gonçalves, o 1º Cabo Cripto da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71). Eu reconheci a letra e o autor da letra, o nosso querido amigo Tony Levezinho.

Quanto ao homenageado, era o Fernando Brito, o 1º Sargento da CCS/BART 2917, que chegou a Bambadinca, para tomar conta do Sector L1, em finais de maio de 1970, quando a malta da CCAÇ 12 já pertencia à velhice, com um ano de porrada e outro batalhão em cima (CCS/BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70)..

O Fernando Brito (1932-2014) era um senhor, que se impunha não só pelo seu físico e pelo verbo fácil como pela tarimba e pela autoridade... Naturalmente, suscitava amores e ódios, devido à sua personalidade excessiva... Era sobretudo um grande sedutor... 

Tinha uma cultura acima da média, se considerarmos o meio social de origem dos sargentos do quadro. Fazia gala de referir-se à esposa, de ascendência ou de apelido russo, Natacha.

Fazia questão de sublinhar, perante os reles infantes, que pertencia à orgulhosa arma de artilharia. Quando ouvíamos um disparo de obus, no Xime ou em Mansambo, comentava ele:
- Lá se foi mais um fato completo, com gravata se seda e tudo!... (Era o preço de uma granada de obus 10.5; em Bambadinca, nesse tempo, não havia artilharia)...

Não sei porquê, criámos - os furriéis da CCAÇ 12, já velhinhos - uma relação de empatia com o nosso Primeiro Brito, o chefão dos periquitos da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72).

A nossa CCAÇ 2590/CCAÇ 12 tinha deixado cedo de ter 1º sargento (O Fragata, de cavalaria, foi tirar o curso de oficial, na Escola Central de Sargentos, em Águeda), sendo essas funções desempenhadas interionamente pelo nosso querido 2º sargento inf José Manuel Rosado Piça, alentejano dos quatro costados, grande cúmplice, grande camarada, grande compincha, grande amigo... [Tinha 37 ou 38 anos mas não se foi embora da Guiné sem levar o seu baptismo de fogo... Já no final, nos princípios de 1971, obrigámo-lo a ir ao Poindon, desenfurrejar as pernas e a G-3]...

Qualquer deles, o Brito e o Piça, alinhavam nas nossas noitadas, loucas, de Bambadinca. O Brito tinha, além disso, um "tabanca" (leia-se: uma morança, dentro do perímetro de arame farpado do quartel, mas na parte civil, junto aos correios, escola, casa do chefe de posto)... Era um refúgio, para nós... Íamos lá beber uns copos... Ele e o 2º comandante, o Anjos de Carvalho, não se coziam lá muito bem (, segundo ele me confirmou, mais tarde, ainda em vida)... Nós, por nosso lado, detestávamos o "militarista" do 2º comandante, o senhor professor da Academia Militar Anjos de Carvalho... Mas a "tabanca do Brito" provocava algumas ciumeiras, já que nem todos tinham acesso ao "sítio"... Só os amigos ou os que ele considerava como tais...

Há 43 anos, desde março de 1971, que deixei de ter notícias dele, do nosso "primeiro Brito"... Acabei por ter a felicidade de ainda o apanhar com vida, a um mês de ele morrer, subitamente, antes de completar os 82 anos... Falámos longamente ao telefone... Vivia em Coimbra, já viúvo. Era major, reformado. Fez ainda uma segunda comissão no CTIG, como 1º sargento [1ª CCAÇ / BART 6523 (Madina Mandinga, 1972/74)], antes de frequentar a extinta Escola Central de Sargentos, em Águeda.

Morreu em 19 de fevereiro de 2014. Era (é) o nosso grã-tabanqueiro nº 641. O seu neto Cláudio Brito honra-nos também com a sua presença na Tabanca Grande, com o nº 697.   
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 6 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9144: O nosso fad...ário (5): Fado Brito que és militar (Letra de Tony Levezinho, ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

(**) Postes anteriores da série:

16 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19020: O Cancioneiro da Nossa Guerra (10): O fado "Tudo isto é tropa" (recolha de Gabriel Gonçalves, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71)

14 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18921: O Cancioneiro da Nossa Guerra (9): Os bravos de Bambadinca

29 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18692: O Cancioneiro da Nossa Guerra (8): A Balada de Béli (recolha de José Loureiro, ex-alf mil at inf, CCAÇ 1790 / BCAÇ 1933, Madina do Boé e Béli, 1967/69)

19 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18537: O Cancioneiro da Nossa Guerra (7): "Marcha de Regresso" (Recolha de Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, "Zorba", Gadamael e Ganturé, 1967/ 68)

16 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18528: O Cancioneiro da Nossa Guerra (6): "Os Homens não Morrem" (Recolha de Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, "Zorba", Gadamael e Ganturé, 1967/ 68)

28 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18261: O Cancioneiro da Nossa Guerra (5): O hino dos "Unidos de Mampatá", a CART 6250/72 (Mampatá, 1972/74)

27 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18261: O cancioneiro da nossa guerra (4): "o tango dos periquitos" ou o hino da revolta da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) (Silvino Oliveira / José Colaço)

27 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18259: O cancioneiro da nossa guerra (3): mais quatro letras, ao gosto popular alentejano, do Edmundo Santos, ex-fur mil, CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71)

8 de novembro de 2017> Guiné 61/74 - P17944: O cancioneiro da nossa guerra (2): três letras do Edmundo Santos, ex-fur mil, CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71): (i) Os Morcegos; (ii) Estou farto deles, tirem-me daqui; (iii) Fado da Metralha

30 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17811: O cancioneiro da nossa guerra (1): "Asssim fui tendo fé, pedindo a Deus que me ajude"... 4 dezenas de quadras populares, do açoriano Eduardo Manuel Simas, ex-sold at inf, CCAÇ 4740, Cufar

sábado, 6 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19952: Os nossos seres, saberes e lazeres (337): Na Bélgica, para rever e para descobrir o nunca visto (4) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Fevereiro de 2019:

Queridos amigos,
Era meu firme propósito aqui falar de uma Bruxelas que ainda não se invocara em memórias anteriores. Desta feita, é uma peregrinação sentimental, uma amizade de quarenta anos, ele vai desfazer-se da sua casa e parte para uma residência, anda muita melancolia pelo ar. Então, ocorreu-me, por que não peregrinar como se fizera nessas visitas primigénias, a calcorrear e a pôr os olhos no que os guias turísticos promovem como as grandes belezas do património arquitetónico e natural? É o que está a acontecer, a vistoriar feiras da ladra, lojas de livros e discos em segunda mão, andando por praças e avenidas, batendo à porta de museus. Sabe-se lá bem porquê, havia momentos desta agridoce peregrinação em que me recordava dos tempos da Europália 1991, dedicada a Portugal, a adubadora das visitas, visitando Goa, o Brasil, o barroco, o azulejo, feliz pelos comentários que ouvia à comunidade internacional.
Tempos idos, mas a mesma Bruxelas me acolhe de braços abertos, e eu retribuo - há fidelidades que nos enlevam.

Um abraço do
Mário


Na Bélgica, para rever e para descobrir o nunca visto (4)

Beja Santos

Sempre que deambula pelo centro de Bruxelas, o viandante vai espreitar o Mercado Saint-Géry, uma construção que data de 1881, vem nos livros que na Idade Média aqui existiu uma capela dedicada a Saint-Géry, patrono da paróquia e antigo bispo de Cambrai, aqui perto corria o Senne, um rio que hoje se encontra entaipado. O que foi mercado de muitas vitualhas aparece agora recomposto no seu estilo eclético, é um belíssimo espécime da arquitetura dos mercados cobertos, o seu exterior é estilo neorrenascença-flamengo e o interior prima pela sua ossatura metálica. É um centro de lazer, de venda de materiais relacionados com urbanismo e ambiente, e tem uma área de exposições. O viandante senta-se e delicia-se com a vida ali à volta, dá gosto ver este mercado de galinhas e peixarias transformado num polo cultural de referência.


Outro ponto de passagem obrigatório é o Teatro de la Monnaie, uma das salas de música a que se agarra a sua memória, sempre que vinha aqui trabalhar ou em férias tratava de encontrar um espetáculo a seu gosto, e sorte não lhe faltou. Não há agora condições para encontrar um espetáculo que o deleite, questões de calendário, mas impressiona-o sempre a qualidade dos cartazes, desta feita trata-se de uma ópera do checo Leoš Janáček “Da Casa dos Mortos”.


O ponto de paragem obrigatório seguinte é Le Botanique, jardim de cultura, entra-se na imensa Rue Royale e logo o viandante se deslumbra com uma belíssima montra Arte-Nova, deu algum trabalho encontrar um ângulo com os carros a passarem rente, não é uma imagem muito bem sucedida, guarda-se o prazer de partilhar a satisfação de aqui se exibir uma montra ao gosto antigo, há seguramente restauro bem feito, a montra bem o merece.


A Coluna do Congresso é inescapável pela sua monumentalidade e pelo que simboliza na identidade belga, comemora a adoção da Constituição do país pelo Congresso Nacional, que se separou os Países Baixos Meridionais dos Setentrionais, em 1831 nascia a Bélgica e a Holanda ficou minguada de território. Vivem sem rancor, troçam-se mutuamente, como nos casos de países fronteiros.


Chegou a hora de entrar no Botânico, no esplêndido edifício e nos seus belos jardins. O edifício é o centro cultural da comunidade francesa na Bélgica, os jardins são altamente aprazíveis. Em 1826, era dos grandes projetos urbanísticos, destruíram-se as muralhas da cidade, e ainda sob o domínio holandês fundou-se a Sociedade Real de Horticultura, aqui nasceu o Jardim Botânico. O edifício é uma fachada neoclássica com uma rotunda central com cúpula, era a antiga estufa, tudo já desativado e transformado em salas de exposições. O terreno é um declive que permitiu a combinação de estilos: estilo francês, estilo italiano e tanques à moda inglesa. O parque está dotado de 52 esculturas que evocam o tempo, as estações, as plantas e os animais. Dentro da reorganização do espaço do edifício, é cativante ver estes sinais da modernidade, como se uma verdura fosse tomando conta das paredes, pronta a irromper em direção aos céus.




Passeou-se no interior como gato pelas brasas, tempos houve em que a programação cultural era extremamente aliciante, o viandante recorda exposições como a Arte-Déco nos transatlânticos, o ético e o jurídico na arte fotográfica, a própria banda-desenhada. O que está a dar são umas coisas minimalistas vendidas como o mais transcendente da contemporaneidade, vão gozar com a prima deles, com aquelas frases pomposas que vivemos numa época de saturação de sinais e da réplica das imagens, e mostram-nos uns panos crus pintalgados numa cordas de roupa, como certificassem um olhar inovador sobre a arte…


Chama-se a esta artéria Rue Neuve, é toda ela comércio da globalização, aqui encontramos a Zara, a H&M e todas as lojas Casa dos nossos centros comerciais. Já houve cinemas e casas de chá antes do exacerbamento da sociedade de consumo, é hoje assunto do passado. O viandante veio à procura da Igreja de Nossa Senhora da Finisterra, tem um longo currículo de aqui se apresentar, senta-se e medita, depois mergulha noutra direção. Mas registou uma arte insólita, um jovem rodeado de vasilhames, até velhos baldes de tinta aproveitou, apresentou o seu espetáculo de precursão, esfalfava-se e extraiu sonoridades que nem as da banda da Guarda Republicana. E agradecia muito satisfeito os donativos.



Como em muitos outros espaços de culto, os antecedentes de Nossa Senhora da Finisterra têm largos séculos de outros santuários. A atual casa de culto é do século XVIII, são linhas barrocas bem marcadas pelo Renascimento Clássico, com ADN no barroco do Brabante, tem a sua elegância e o seu interior harmoniza bem a opulência com o convite à conversa consigo próprio.




Sejamos económicos nos rasgados encómios aos belos murais que Bruxelas oferece, sempre sonhadores, a remeter para formulações da banda-desenhada, alegrando a cidade, nunca a desfeando, o viandante vai atento a novas manifestações decorativas, dá por bem aproveitado o seu passeio. Há mais de quarenta anos que aqui vem com regularidade e nunca se cansa. É obra, e o viandante quer que o seu sonho prossiga.

E daqui se parte para o local icónico do centro de Bruxelas, a Grand-Place.

(continua)
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Notas do editor

Vd. poste de 29 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19928: Os nossos seres, saberes e lazeres (334): Na Bélgica, para rever e para descobrir o nunca visto (3) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 4 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19947: Os nossos seres, saberes e lazeres (336): As minhas loucuras no Porto... (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

Guiné 61/74 - P19951: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XXV: Manuel Malaquias Oliveira, ten pilav (Aveiro, 1939 - Moçambique, 1967)





1. Continuação da publicação da série respeitante à 
biografia (breve) de cada um dos 47 Oficiais, oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do ultramar ou guerra colonial (em África e na Ásia). (*)

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva [, foto atual à direita], instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972.

Morais da Silva foi cadete-aluno nº 45/63, do corpo de alunos da Academia Militar. É membro da nossa Tabanca Grande, com o nº 784, desde 7 do corrente.
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sexta-feira, 5 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19950: Agenda cultural (692): O professor Eduardo Costa Dias apresenta o livro "Os cronistas do canal do Geba - O BNU da Guiné", de Mário Beja Santos, dia 10 de Julho de 2019, 4ª feira, às 15h00, no Palácio Conde de Penafiel, sede da CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, Rua S. Mamede ao Caldas, 21 - Lisboa






Eduardo Costa Dias, Guiné-Bissau, ,
 Simpósio Internacional de Guiledje (1-7 de Março de 2008)
 6 de Março. Foto de LG.
1. Mensagem do professor Eduardo Costa Dias, membro da nossa Tabanca Grande desde julho de 2010, tem 20 referências no nosso blogue (*) [, foto à esquerda]


[Doutor em Antropologia Social, Professor jubilado do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, Investigador do CEI-IUL, Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa; tem desenvolvido trabalhos sobre Epistemologia das ciências sociais, Desigualdades sociais e identidades sociais e, no contexto africano, sobre a Questão fundiária, o Estado, as Relações entre os dignitários muçulmanos e o Estado, a Transmissão de saberes nas sociedades muçulmanas africanas, a natureza das Forças Armadas em África e a “Geopolítica” dos tráficos e rebeliões na região do Saara - Sahel e do Noroeste africano.]


Sent: Thursday, June 20, 2019 2:02:12 PM
Subject: Lançamento de "Os cronistas desconhecidos do canal do Geba: o BNU da Guiné"

No próximo dia 10 de Julho, às 15 horas, na sede da CPLP, Rua de São Mamede ao Caldas, nº 21,
o Professor Eduardo Costa Dias apresenta mais uma importante obra do historiador Mário Beja Santos sobre a Guiné-Bissau, desta vez sobre o acervo do Arquivo Histórico do BNU:


Os cronistas desconhecidos do canal do Geba: o BNU da Guiné

"Que documentação está ao alcance do investigador da História da Guiné no século XX, ainda no período colonial?

Há o acesso ao Arquivo Histórico Ultramarino, também as bibliotecas especializadas como a Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa, relatórios de governadores, um acervo de publicações com destaque para os boletins da Escola Superior Colonial ou as revistas da Agência-Geral das Colónias (depois Agência-Geral do Ultramar) e sobretudo o Boletim Cultural da Guiné Portuguesa. Os livros são escassos, depois da independência há uma outra torrente de investigação e não se pode descurar a literatura da guerra, os investigadores guineenses são igualmente indispensáveis.

Mas jazia no então Arquivo Histórico do BNU uma tonelada de papel que se revela completamente distinta da literatura oficial, glorificadora e apologética: os relatórios dos gerentes do BNU em Bolama e Bissau desmontam traquibérnias, denunciam imoralidades, corrupção, a mais aparatosa bandalhice. Estes gerentes, sempre à espreita, legaram uma documentação espantosa, que se revela indispensável para o estudo da colónia da Guiné desde a I República até à independência.

O estudioso vai-se envolver num universo de intrigas, mão-baixa, falências calamitosas, informações detalhadas sobre a economia agrícola, sobre o início da insurreição que conduziu a mais de uma década de luta armada… momentos há em que estes relatos atingem o nível do burlesco, da ópera bufa, e em simultâneo eram enviados para Lisboa dados preciosos sobre a sociedade, a mentalidade colonial, os negócios da mancarra operados pela CUF e pela Sociedade Comercial Ultramarina. Mal sabiam estes cronistas desconhecidos que estavam a processar História (e que histórias!)." (**)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 18 de julho de  2010 > Guiné 63/74 - P6758: Tabanca Grande (231): Eduardo Costa Dias, antropólogo, CEA / ISCTE / IUL