segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26248: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (46): Viagem até Cacheu, onde dormi, passando por Bachile - Parte I: porto de pesca da vila de Cacheu

Foto nº  1 > Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Cacheu >  4 de dezembro de 2024 > Vista da cidade a partir do porto

Foto nº  2 > Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Cacheu >  4 de dezembro de 2024 >  Canoas nhomincas, com pinturas originais, no porto de manutenção, na margem esquerda do rio Cacheu


Foto nº  3 > Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Cacheu >  4 de dezembro de 2024 >   Porto de pesca, na margem esquerda do rio Cacheu (1)


 Foto nº  4  > Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Cacheu >  4 de dezembro de 2024 >   Porto de pesca, na margem esquerda do rio Cacheu (2)


Foto nº  5A> Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Cacheu >  4 de dezembro de 2024 >   Barbo, com 26.4 kg pescado no rio Cacheu (1)
 

Foto nº  5 e 5A > Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Cacheu > Barbo, com 26.4 kg pescado no rio Cacheu (2)

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Patrício Ribeiro (nosso "embaixador em Bissau", colaborador permanente, com o pelouro de ambiente, geografia e economia da Guiné-Bissau; português, natural de Águeda, da colheita de 1947, é o mais "africanista" de todos nós; criado e casado em Nova Lisboa, hoje Huambo, Angola, ex-fuzileiro em Angola (1969/72), a viver na Guiné-Bissau desde 1984, fundador, sócio-gerente e ex-director técnico da firma Impar, Lda; membro da nossa Tabanca Grande desde 6/1/2006; tem 173 referências no blogue).


Data - sábado, 7/12/2024, 19:27

 Assunto -  De Bissau ao Cacheu, passando pelo Bachile

Luís,

Este foi mais um dos meus passeios esta semana, entre Bissau e Cacheu, passando por Canchungo e Bachile, e  dormindo em Cacheu.

Envio algumas (15) das fotos que tirei com o meu telemóvel.

Como a internet tão fraca, não sei quando as vais receber.

Abraço, Patrício
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P26247: Ser solidário (276): A Associação Anghilau ("criança", em língua felupe), fundada pelos irmãos mais novos, Manuel, Miguel e Duarte, do cap cav Luís Rei Vilar (Cascais, 1941 - Susana, 1970), tem nova página na Net



CAMPANHA DE DIVULGAÇÃO

A Associação Anghilau já tem um novo site web que vos convido a visitar e a divulgar pelos vossos conhecidos e amigos!


Para se aceder ao site através do domínio:

Atenção: Não utilizar a cedilha no C nem o til no A

Peço que descubram, comentem e partilhem!

Manuel Rei Vilar

Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Susana > 18 de fevereiro de 2020 > 

Manuel Rei Vilar, líder do projeto Kasumai, presidente da direção da Associação Anghilau, membro da nossa Tabanca Grande desde 13 de julho de 2020, é o primeiro da esquerda, tendo a seu lado os seus manos Miguel e Duarte; o seu irmão, mais velho, Luis Rei Vilar, cap cav, comandante da CCAV 2538 / BCAV 2876 (Susana, 1969/71), foi morto em combate em 18/2/1970, no decurso da Op Selva Viva.


Foto (e legenda): © Manuel Rei Vilar (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso amigo Manuel Rei Vilar   (foto à esquerda),  com data de ontem, 8 de dezembro, 15:20, dando-nos a conhecer o novo sítio da Associação Anghilau, com pedido de divulgação.

Ele é o líder do projeto Kassumai, e presidente desta associação (que em língua felupe quer dizer "criança"). 

O novo sítio da Associação Anghilau vem em 3 línguas (português, francês e inglês).

Para o leitor saber mais sobre esta fabulosa história de amor fraterno, de resgate da memória e de solidariedade para com o povo de Susana, carregue nestes links:

Quem somos | Funcionamento | RealizaçõesCanção sem LágrimasA Cabeleireira Felupe e a Mãe do Capitão | Arquivos | Órgãos Sociais |

Parabéns, Manuel, Miguel e Duarte e demais sócios e amigos da Associação Anghilau. Vamos analisar o vosso sítio na Net, com mais tempo e vagar.

E para saber mais sobre o nosso camarada Luís Filipe Rei Vilar (Cascais, 1941 - Susana, 1970), ver aqui no novo sítio, nomeadamente fotos de quando ele era mais novo.

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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26209: Ser solidário (275): Quatro anos como médico cooperante (1980-1984), em Fulacunda e em Bissau (Henk Eggens, neerlandês, consultor internacional em saúde pública, reformado, a viver em Santa Comba Dão)

domingo, 8 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 – P26246: Armamento (12): Apresentação do livro "G3 - A Grande Arma Nacional" (Luís Dias)

1. Mensagem do nosso camarada Luís Dias (ex-Alf Mil da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74):

Apresentação do livro "G3 A GRANDE ARMA NACIONAL"

Camaradas,

Estive ontem presente no lançamento deste livro e escrevi um pequeno texto sobre o evento. Se achares de interesse e útil para colocares no "Luís Graça & Camaradas da Guiné", estás à vontade. Grande abraço. Luís Dias

Ontem, por convite do autor, tive o grato prazer de assistir no Palácio dos Marqueses do Lavradio, no Campo de Santa Clara, em Lisboa, ao lançamento do livro, “G3 A GRANDE ARMA NACIONAL”, de Pedro Manuel Monteiro, editado pela “Conta Corrente”, onde dei um pequeno contributo sobre as diferenças em combate entre a HK G3A3 e as Kalashnikov, nos modelos AK-47, AKM e outros modelos das mesmas fabricados por países do Bloco Leste e pela China, que apoiavam na Guiné o PAIGC, que se enfrentavam no meu tempo de combatente na Guiné (1971-1974).

Na presidência da mesa encontrava-se o Vice-Chefe do Estado-Maior do Exército, o Tenente-General, Paulo Emanuel Maia Pereira. Na assistência diversos oficiais generais, oficiais superiores, quer ainda no activo, quer na reforma e muitos civis, entre eles, antigos funcionários do extinto INDEP.

No discurso do Tenente-General, houve um momento em que foi referida a presença e foi aplaudido de pé, uma pessoa por quem tenho grande admiração, o Coronel Tirocinado Comando, Raúl Folques que, no meu tempo de Guiné, foi o Comandante do Batalhão de Comandos, cargo onde substituiu o então Major Almeida Bruno e que, como se sabe, fez parte da 1ª companhia de comandos formada em Angola e que é um dos heróis de Portugal.

Nos anos da Guerra de África a espingarda automática HK G3 (também designada de espingarda de batalha, devido ao calibre potente que utilizava - 7,62x51mmNATO - e no formato convencional), terá passado pelas mãos de perto de um milhão de portugueses e foi a arma que Portugal escolheu, a partir de 1961, para enfrentar os movimentos independentistas nas províncias ultramarinas, iniciando-se em Portugal a sua produção, sob licença da Alemanha (então RFA), em 1962, e a sua atribuição oficial às forças armadas a partir de 1963. 

Foi esta espingarda, encimada no cano por um cravo, que se revelou um símbolo da Revolução de 25 de Abril de 1974, para toda a gente.

Após o fim da guerra em África, esta arma continuou a ser importante nas missões atribuídas às nossas forças armadas pela ONU ou no âmbito da UE, em diversas partes do mundo (Timor, Letónia, Roménia, República Centro-Africana, Moçambique, Guiné-Bissau, Somália, Mali, Afeganistão, Alemanha, Polónia e Kosovo).

As fábricas FMBP e INDEP terão produzido 442 197 G3, entre 1963 e 1988, segundo Relatórios de Contas destas fábricas referidos no livro em apreço e que serviu no nosso país por cerca de 60 anos, estando a ser substituída no Exército pela FN SCAR, modelo L e H e na Armada pela HK416. A G3, em conjunto com o mosquete “Brown Bess” de 1808, é arma recebida em maior quantidade pelo Exército Português, bem como uma das que é usada há mais tempo. 

A G3, era e é uma excepcional arma de guerra, com um projéctil poderoso – o 7,62x51mmNATO, que depois de ter sido trocado pelo calibre 5,56mmNATO, está novamente a ser recuperado, para novas gerações de espingardas de batalha e que tinha um som característico e forte que dava confiança a quem a usava. 

A G3 necessitava de alguns cuidados na limpeza (cabeça da culatra), mas em geral trabalhava bem, mesmo nas condições adversas em que foram utilizadas em África. Tinha o senão de ser uma arma grande e pesada para o tipo de guerra de guerrilha que enfrentávamos, mas também tinha um alcance útil superior às armas do inimigo e era também mais estável e precisa no tiro que as armas adversárias. 

O seu depósito de munições tinha uma capacidade inferior ao da kalashnikov mas, por outro lado, tinha um perfil mais baixo, evitando que o utilizador se elevasse demasiado, quando na posição de deitado, diminuindo significativamente a silhueta e, ao contrário da kalashnikov que possuía um carregador curvo e comprido, não tinha necessidade de se torcer para introduzir um novo carregador na arma. Também o comutador do tiro era mais simples de utilizar do que da arma preferencial rival e era silencioso, ao contrário do da AK-47 e AKM que faziam ruídos de clic, na movimentação para tiro a tiro e para fogo de rajada, o que no mato podia fazer a diferença.

O mecanismo operativo da espingarda automática HK-G3, apresentado em 1959 na então RFA é originário e semelhante ao da StG45 (Mauser) alemã, de 1945 e da CETME espanhola de 1952. O seu funcionamento é por inércia, actuando os gases sobre a superfície interna do invólucro e a culatra retarda a sua abertura (“Roller-delayed blowback”) pela acção conjunta dos roletes de travamento (alojados na cabeça da culatra), da massa da culatra e da mola recuperadora. O percutor está alojado no interior do bloco da culatra, dando-se a percussão pela pancada do cão (existente ao nível do gatilho) sobre a cauda do percutor. A alimentação é garantida pela mola do depósito (carregador). O extractor de garra, situado na cabeça da culatra, efectua a extracção da cápsula detonada no movimento de abertura da culatra e a ejecção dá-se quando a base da mesma encontra (ao nível do punho), um ejector de alavanca. Após o consumo das munições do depósito, a culatra não fica retida à retaguarda, como na FN FAL.

No tempo da Guerra de África, era conhecido o “amor” entre o combatente e a sua G3, apelidando-a, de “namorada”, a “minha querida”, a “minha amada” ou também por algum nome feminino de alguma mulher pela qual estivessem encantados. De facto, a maior parte dos militares dormiam com ela sempre ao lado, fosse no mato ou no quartel. Outros, fotografavam a arma e colocavam os dizeres “devo-te a vida”.

Luís Dias
ex-Alf Mil da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872
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Nota do editor

Último poste da série > 
12 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21534: Armamento (11): Material apreendido ao PAIGC em 1972 e 1973, em Galomaro e Dulombi (Luís Dias, ex-alf mil, CCAÇ 3491, Dulombi e Galomaro, 1971/74)

Guiné 61/74 - P26245: Os felupes que eu conheci (2): O Dudu veio para Portugal, obteve a nacionalidade portuguesa, era DFA, vivia em Torres Vedras (Eduardo Estrela, ex-fur mil, CCAÇ 14, Cuntima e Farim, 1969/71)


Eduardo Estrela (ex-fur mil at inf, CCAÇ 2592/CCAÇ 14, Cuntima e Farim, 1969/71; vive em Cacela Velha, Vila Real de Santo António; membro da Tabanca Grande desde 29/2/2012 (foto à direita);

1. Comentário de Eduardo Estrela ao poste P26238 (*)



O nosso querido amigo Carlos Fortunato talvez não saiba mas o Dudu veio para Portugal, ou na sequência dos ferimentos recebidos em combate e/ou após a sua recuperação. Tinha uma placa metálica a reforçar a zona craniana a qual lhe alterava ligeiramente a face.

Tive o privilégio de privar com ele e o Ampanoa na Guiné pois foram connosco,  Ccaç 14, para a zona operacional de Cuntima. Posteriormente foram para o chão Felipe. 

Com o Dudu, que vivia na zona de Torres Vedras, ainda estive em vários almoços.

Conseguiu a nacionalidade portuguesa e tinha uma pensão de pouco mais de mil euros resultante das sequelas que transportava.
Eram muito boa gente.


(ii) Luís Graça:
 

Eduardo, é caso para dizer... o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca é... Grande!
 
Pois é, Eduardo, já me esquecia que vocês, CCAÇ 2592  (eu, CCAÇ 2590, o Carlos, CCAÇ 2591 e tu, CCÇ 2592, e mais 1700 e tal somos no T/T Niassa para a Guiné em 24/5/1969), tinham pessoal natural das etnias Mandinga e Manjaca e ainda um pelotão da etnia Felupe (a que pertenciam o Dudu e o Ampanoa).

A 2ª fase da instrução de formação foi no CIM de Bolama, mas o pelotão Mandinga foi no CIM de Contubooel, juntamente com os soldados das futuras CART 11 e CCAÇ 12 (a minha CCAÇ 2590)... 

Lembro-me do nosso camarada António Bartolomeu, furriel, de resto nosso grão-tabanqueiro. Nunca percebi por que é que houve esta segregação étnica, manjacos e felupes para um lado (Bolama), mandingas para outro (Contuboel)... 

Os mandingas eram do Leste, ficavam mais ao pé de casa, foi isso ?!

6 de dezembro de 2024 às 17:51 


(iii) Eduardo Estrela:

Tudo gento boa, Luís!

Algarvios, beirões, alentejanos, fulas, mandingas, manjacos,  transmontanos,  felupes, gente doutra cultura costumes e forma de comunicar.

Amigos!

Com eles aprendemos coisas que nos prendem à vida. Com eles aprendemos o respeito no  mundo e na sociedade mas mentes obtusas aniquilaram

A guerra,  para quê?

Puta que pariu a guerra!

Pódiamos ter escrito uma brilhante história de humanismo.

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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 6 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26238: Os felupes que eu conheci (1): O valente soldado Dudu: Bolama, 1969 (Carlos Fortunato)


sábado, 7 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26244: Os nossos seres, saberes e lazeres (657): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (182): From Southeast to the North of England; and back to London (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Agosto de 2024:

Queridos amigos,
Confesso que a minha vida profissional continua a marcar o olhar que deito pelos ambientes que me são menos familiares, ou que revisito: como conversam as pessoas na via pública, quando se encontram, o preço dos alimentos e das bebidas, os dados sobre a vida cultural, o número de crianças, o número de velhos, as creches e as ocupações dos seniores, bisbilhoto a biblioteca pública, faço perguntas sobre os serviços públicos, vejo que os britânicos não estão muito melhor do que nós, os caminhos de ferro desmantelados, manda-se correio em lojas que podem ser papelarias, as transações bancárias decorrem online, não vi uma caixa ATM a não ser no hipermercado do Tesco. Como cá, os edifícios reparam-se, o alcatrão degrada-se, as listas de espera na saúde são impressionantes. E de Faringdon vou matar saudades para o Peak District e depois rever a minha adorada Leeds.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (182):
From Southeast to the North of England; and back to London – 2


Mário Beja Santos


É a despedida de Faringdon, ver o que já foi visto, benefício de um mês de junho com temperaturas amenas, a humidade não é sufocante, há flores por toda a parte, Faringdon cresce, acolhe gente que trabalha na cidade de Oxford, aqui a habitação é mais em conta. Se bem que a vida cultural não seja intensa, Oxford monopoliza o cinema, o teatro, a música, os principais entretenimentos, andei a bisbilhotar o que faz a autarquia, cheguei mesmo a estar à porta de uma aula de ginástica para rapazes e raparigas de 80 e 90 anos num espaço de convívio dentro da antiga Bolsa dos Cereais, ali perto funcionam creches, as reuniões para seniores são frequentes. A rede de transportes públicos liga Faringdon a Oxford e a Swindon, e há mesmo algumas carreiras para locais próximos, como Lechlade.
Morreram o correio e a delegações bancárias, não vi uma caixa para levantar dinheiro, a não ser dentro de um grande supermercado.
E continua a surpreender-me o número de crianças, 2-3 filhos por casal, há muita imigração, como em Portugal vão tomando conta dos serviços públicos, desde os lares de terceira idade ao matadouro. Despeço-me com vontade de voltar em breve, de manhã cedo vamos partir para a região do Peak Districk, dela tenho muitas lembranças, e do que vi e revi vos vou contar.

Por aqui se entra para a Igreja de Todos os Santos, a construção principal data dos séculos XII e XIII, gosto imenso do diálogo entre a pedra, a porta e o seu ornamento. Tudo correu bem à igreja até aos tempos da guerra civil, os adeptos de Carlos I resistiram aqui em Faringdon, vieram as tropas de Cromwell, uma canhonada deu cabo da agulha da torre, nunca se fez qualquer restauro
Caixa de correio com monograma de Eduardo VII, é um milagre como escapou a antigas atualizações, o que é mais frequente encontrar são caixa de correio com Elizabeth Regina
Inglaterra é um país de rosas, com muitas hibridações, exposições, destaques nos jardins, nos canteiros das casas, em inesperados espaços públicos. Talvez na hora da manhã e de uma inusitada luminosidade, o que me atraiu é esta mistura de branco e amarelo em belíssimo botão
Fachada principal do Great Coxwell Tithe Barn, data do reinado de João Sem Terra
Interior longitudinal do celeiro principal
Pormenor da construção mais antiga do celeiro
Se dúvidas subsistem de que esta obra é genuinamente medieval, atenda-se a esta porta lateral e ao lajedo e ao tipo de janela
À saída do Great Coxwell Barn vim sentar-me num banco em frente de uma velha casa, com outra ao fundo. Há nestes ambientes rurais um sentimento de eflúvio romântico, uma clara nostalgia do passado, uma paisagem que atraiu notáveis pintores e ocorreu-me pensar num pintor romântico do meu culto, John Constable.
Passeio à Folly, talvez a obra mais excêntrica do excêntrico Lord Berners, feita exclusivamente para dar trabalho a desempregados, construção de 1935, não tive ensejo de subir à torre, as visitas estão sujeitas a marcação prévia no centro de informação
Para que o visitante não esqueça que isto é obra de Lord Berners, 14.º barão, e de nome Gerald Hugh Tyrwhitt-Wilson
É tempo dos Hollyhock (em português, Malva-rosa), crescem por toda a parte, os jardineiros misturam esta flor com outras mais odorosas, mas o que me fascina são os cromatismos que elas produzem
A rua principal de Faringdon dá pelo nome de London Street, e efetivamente ligava Faringdon a Londres. Dentro das crepitantes alterações comerciais, restam sinais do passado, o que vemos aqui são mosaicos arte nova, terá sido uma alfaiataria para gente com posses, hoje é um estabelecimento de tatuagem, pedi licença para fotografar esta entrada de loja que terá mais de um século
Nos baixos do velho edifício da Câmara Municipal faz-se preito a quem caiu pela pátria, é assim em qualquer localidade do Reino Unido onde se perderam vidas em duas guerras mundiais
No caminho entre Faringdon e Witney pedi para parar em Clanfield, senti-me atraído por esta igreja que tem como patrono Sto. Estevão, o seu interior não me impressionou muito, mas parei junto de uma lápide, aí sim, um baque de comoção, o jovem tinha 18 anos, pertencia à infantaria ligeira, deu a vida pela pátria, em 1917, chamava-se J. Monk, morreu talvez em França ou na Flandres, ali me detive, há sempre uma lembrança para os meus mortos em combate.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 30 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26217: Os nossos seres, saberes e lazeres (656): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (181): From Southeast to the North of England; and back to London (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P26243: Lembrete (51): Apresentação do livro "Encruzilhadas no Império", de Paulo Cordeiro Salgado, dia 9 de Dezembro de 2024, pelas 18 horas, na UNICEPE, Praça de Carlos Alberto, 128 - Porto


Comecei a escrever este livro durante a pandemia. Pelo meio escrevi outros.

São mesmo encruzilhadas, pretendendo eu tirar das gavetas fundeiras o POVO, a "ARRAIA MIÚDA", que habitualmente os compêndios não contemplam, somente alguns estudiosos historiadores universitários. E de alguns frades, escravos e homens de bem, também de andarilhos por este Império se Império houve.

Apresentação no Porto no dia 9.12.24 na UNICEPE - Praça de Carlos Alberto, 120

Paulo Salgado

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Nota do editor

Último post da série de 30 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26218: Lembrete (50): Lançamento do livro "Lavar dos Cestos - Liturgia de Vinhas e de Guerra", da autoria de José Brás, a levar a efeito amanhã, dia 1 de Dezembro, pelas 15h00, na Casa do Alentejo, Rua das Portas de S. Antão, 58 - Lisboa

Guiné 61/74 - P26242: Operação Grande Empresa, a reocupação do Cantanhez e a criação do COP 4, a partir de 12 de dezembro de 1972 - Parte III: Dois amargos Natais, em Caboxanque (1972) e Cadique (1973) (Rui Pedro Silva, ex-cap mil, CCAV 8352, Caboxanque, 1972/74)



Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Caboxanque > CCAV 8352/72 (1972/74) > Vista aérea do futuro aquartelamento


Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > 2014 >  Perímetro defensivo, em esquema aproximado, sobre imagem atual, do Google Earth (com a devida venia...). CCaboxanque fican maragem esquerda do Rio Cambijá: vd. infografia abaixo)


Fotos do álbum do nosso grão-tabanqueiro, nascido em Angola, Lobito, Rui Pedro Silva, que foi sucessivamente:

(i)  alf mil, CCAÇ 3347 (Angola, 1971);

(ii)  ten mil, BCAÇ 3840 (Angola, 1971/72);

(iii) cap mil, CCAV 8352 (Guiné, Caboxanque, 1972/74). 

Passou 3 Natais no mato (em Angola, 1971, e na Guiné, Caboxanque, em 1972,  e Cadique, em 1973).


Fotos (e legendas): © Rui Pedro Silva (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça E Camaradas da Guiné ] (*)




Guiné > Região de Tombali > Carta de Bedanda (1956) > Escala de 1/50 mil > Posição relativa de Bedanda, Cobumba, Cufar, Caboxanque, rio Cumbijã e seu  afluente, o rio  Bixanque.

Infografia:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné   (2024).

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 Dois amargos natais, em Caboxanque (1972) e Cadique (1973)

por Rui Pedro Silva


A 21 de dezembro de 1972 a CCav 8352, que eu comandava, desembarcou em Caboxanque, no âmbito da operação Grande Empresa (**), iniciada a 12 de dezembro, a qual tinha como objetivo a ocupação do Cantanhez.

A IAO no Cumeré durou 15 dias e logo marchámos para Cufar,  divididos em dois grupos: o  primeiro grupo deslocou-se de Noratlas a 19 de novembro de 1972 e o segundo de LDG a 21, e  com ele todo o equipamento para a instalação de uma companhia: do equipamento de cozinha às tendas e colchões pneumáticos, das viaturas ao gerador, das armas e munições às rações de combate, etc.

Para todos nós era seguro que não íamos render uma outra companhia e, ao chegar a Cufar, desde logo ficou claro que não seria aquele o nosso destino. Logo no desembarque recebi instruções para conservar o material carregado nas viaturas e tudo o resto guardado num improvisado “armazém”.

Nesse momento ainda não sabíamos da operação a que estávamos destinados. Nas quatro semanas que estivemos em Cufar realizámos operações de patrulhamento da zona, segurança à pista e ao porto e à construção da estrada Cufar - Catió. 

Da sede do batalhão, em Catió [BCAÇ 4510/72, Sector S3, em 1/7/73], vinham insistentes recomendações para nos concentrarmos na segurança da estrada. Havia um claro desentendimento entre os responsáveis em Cufar e a sede do Batalhão. 

A segurança na estrada mantinha-se 24 horas por dia,  rodando por todos os grupos de combate da companhia de Cufar  [CCAÇ 4740/72, em 1/7/73] e da minha  [CCAV 8352/72 ] e portanto não se percebia a insistência.

A preocupação de Catió resultava do facto de estar em curso uma manobra de diversão procurando atrair o PAIGC para aquela zona,  levando-o a mobilizar os seus efetivos para Cufar e assim garantir uma menor resistência à entrada das nossas tropas no Cantanhez. 

Esta manobra teve pleno êxito. O PAIGC foi surpreendido com a entrada das nossas tropas em Cadique [CCAÇ 4540/72, em 1/7/73, rendida em 22/7 pela 1ª C/BCAÇ 4514/72 mas só regressou a Bissau em 17/8]  e Caboxanque,  não oferecendo qualquer resistência nos primeiros dias.

 A Op Grande Empresa foi muito bem descrita no livro “A Última Missão”,  do sr. cor pqdt Moura Calheiros. Como tive oportunidade de lhe dizer na altura da publicação:

“A sua narrativa permite ao leitor ter uma visão mais abrangente da guerra na Guiné e, ao mesmo tempo, navegar consigo no seu PCA, progredir com os seus bigrupos nas missões mais arriscadas, partilhar a angústia das decisões mais difíceis, confrontar-se com a orientação estratégica do Comando-Chefe, conhecer a atuação da guerrilha, viver a vida de um militar naqueles duros tempos e cumprir a nobre missão de resgate dos militares portugueses falecidos e sepultados na Guiné. 

"Ao ler as páginas deste seu livro revejo e identifico pessoas com quem partilhei uma parte importante da minha vida e situações em que a minha companhia esteve também envolvida e que constituem pedaços da história dos paraquedistas, das forças armadas portuguesas e do nosso país.”

Recomendo vivamente a leitura deste livro a quem ainda não o fez porque nele revemos, cada um de nós, ex-combatentes, uma parte da nossa história. Cerca de seis meses depois,  e em resultado da Op Grande Empresa,  existiam 7 novos aquartelamentos
 [no Cantanhez] :

  • Cadique,
  • Caboxanque,
  • Cafal,
  • Cafine,
  • Jemberem,
  • Chugué
  • e Cobumba.

O COP 4, comandado pelo sr. ten-cor pqdt Araújo e Sá, comandante do BCP 12, coadjuvado pelo seu segundo comandante e oficial de operações, maj pqdt Moura Calheiros,  foi a unidade operacional responsável pela operação.

Mas fiz esta longa introdução para abordar o tema do Natal.

Os quatro dias que mediaram desde a nossa entrada em Caboxanque até ao Natal de 1972, foram preenchidos em ciclópicas tarefas de instalação da companhia, segurança no perímetro defensivo e reconhecimento da zona operacional.

O perímetro tinha cerca de 3,5 km  (Fotos  nº 1 e 2) e só foi possível garantir a segurança de Caboxanque instalando os grupos de combate e cada uma das suas secções ao longo da linha de defesa, ficando a CCav 8352 instalada em metade do perímetro virado a norte e a CCaç 4541 na metade virada a sul. 

Instalados em valas cavadas em contrarrelógio, sem arame farpado e apenas separados da mata do Cantanhez por um largo espaço que as maquinas da engenharia terraplanaram, com a ração de combate a alimentar a nossa fome, a noite escura a servir de cobertor e a angústia de podermos ser surpreendidos pelo PAIGC nessa nossa tão frágil posição, assim se encontravam os militares sob meu comando, carregando sob os meus ombros a enorme responsabilidade do que lhes pudesse acontecer naquelas difíceis circunstâncias.

No dia de Natal a companhia estava dispersa pelo perímetro de Caboxanque, um grupo de combate tinha saído com um bigrupo paraquedista, em patrulhamento, e em Cufar ainda permaneciam alguns militares da companhia, guardando todo o material que lá tinha ficado. 

Sem meios frio a funcionar e portanto sem géneros frescos,  as refeições limitaram-se às rações de combate e a uma sopa improvisada com o pouco que diariamente se trazia de Cufar.


Foto nº 3
Estes foram dias muito difíceis para todos. Numa fotografia que aqui junto (Foto nº 3)  podem verificar como eram feitas as distribuições das refeições ao longo do perímetro. Quando o Unimog que fazia este serviço chegava junto da última secção já a refeição que transportava estava fria.

Um ano antes, no 
Natal de 1971, estava em Angola, nos Dembos, na sede do BCAÇ 3840 sediado em Zemba e na escala de serviço coube-me ser o oficial de dia. (...)

Natal de 1973 foi passado em Cadique para onde a CCav 8352 tinha sido enviada, por um mês, no âmbito da Op Estrela Telúrica que envolveu entre outras forças o Batalhão de Comandos. (Vd. o que escreveu, no seu "Diário da Guiné", o nosso camarada António Graça de Abreu, então em Cufar, no CAOP1).

 Instalados em condições muito precárias, sempre com grupos de combate em acção, principalmente junto à estrada Jemberem – Cadique, este foi o terceiro e o nosso pior Natal em guerra.

Dois dias antes do Natal um grupo de combate da minha companhia e outro da companhia de Cadique foram emboscados quando vinham render outros 2 grupos de combate da CCav 8352 que eu naquele dia comandava. 

Em resultado da emboscada houve mortos e feridos entre os militares da companhia de Cadique.

A moral do pessoal de Cadique estava a um nível muito baixo e assistimos a alguns actos de desespero, como a recusa a sair para operações ou tentativas de acionar uma granada defensiva junto do comando. (...)

(Seleção, revisão / fixação de texto,  parênteses retos, título: LG)


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Notas do editor:
 
(*) 25 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14080: O meu Natal no mato (42): 1971, em Zemba (Angola); 1972, em Caboxanque; 1973, em Cadique (Rui Pedro Silva, ex- cap mil, CCAV 8352, Cantanhez, 1972/74)

(**) Último poste da série > 5 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26236: Operação Grande Empresa, a reocupação do Cantanhez e a criação do COP 4, a partir de 12 de dezembro de 1972 - Parte II: O BCP 12, o "112" do Com-Chefe

Guiné 61/74 - P26241: Humor de caserna (85): "Ai, não caia, senhora, não caia!"...(responde um guerrilheiro do PAIGC, capturado, ferido, quando ela lhe perguntou o que lhe fariam os seus camaradas se o avião caisse e ela fosse apanhada à unha...): uma história de (†) Maria Ivone Reis, enfermeira paraquedista, maj ref graduada


Angola > Base de Negage > Agosto de 1961 > As enfermeiras paraquedistas Maria Arminda e Maria Ivone, em missão de apoio no âmbito de uma operação na Serra da Canda

Foto: Cortesia de um nosso leitor, devidamente identificado, mas que prefere o anonimato (trata-se de antigo oficial paraquedista do BCP 12 e BCP 12).



Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 763 (1965/66) > Uma enfermeira paraquedista no meio dos "Lassas"... Muito oportunamente o nosso camarada Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil Heli AL III (1968/70), identificou-a como sendo a Maria Ivone Reis (Em 1968 era graduada em tenente, reformou-se com o posto de posto de major)


Foto (e legenda): © Mário Fitas (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. A Maria Ivone Reis pertence ao grupo das 6 Marias, nome pelo qual ficou conhecido o 1.º curso de Enfermeiras Paraquedistas portuguesas feito em 1961, curso esse que é também o da Maria Arminda Santos (n. 1937), nossa grã-tabanqueira, e agora a matriarca das antigas enfermeiras paraquedistas (é à sua "base de dados" que recorro sempre que tenho uma dúvida ou uma pergunta sem resposta sobre o "curriculum vitae" das suas colegas).(*)

As outras quatro Marias eram a Céu (Policarpo), a Lourdes ("Lurdinhas"), a Nazaré (†) e a Zulmira (†). Sobre a Maria Ivone Reis temos 33 referências no nosso blogue:

(i) conclui em 1958 o Curso de Enfermagem Geral na Escola das Franciscanas Missionárias de Maria;

(ii) começou a trabalhar em 1959, no hospital da CUF;

(iii) fez o curso de enfermeira paraquedista em Tancos, em junho-agosto de 1961;

(iv) na Força Aérea, nos paraquedistas, já havia mulheres, civis, na parte administrativa,  informa-nos ela;

(v)  a relação com os paraquedistas foi sempre  muito cordial;

(vi) partiu para Angola, em 23 de agosto de 1961, com a Maria Arminda;

(vii) esteve 3 vezes na Guiné: em 1963, 65 e 69;

(viii) o seu maior desgosto foi o de ter sido saneada em  17 de abril de 1975, no Hospital da Força Aérea onde trabalhava (e onde voltou mais tarde, depois de reintegrada).

Mas voltemos à sua experiência como enfermeira paraquedista:

(...) "No quartel nós podíamos sair do avião, mas na zona de combate nós não devíamos sair do avião ou do helicóptero. Era uma circunstância de muito risco. Se houvesse ataque do inimigo o helicóptero teria de levantar voo imediatamente ficando a enfermeira em terra em grande risco, sem meios nem ambiente para tratar dos feridos. Eventualmente fizemos isso em situações muito excecionais, bem medidas, porque podia tornar-se um altruísmo muito arriscado para a vida dos outros. 

"Nesse aspeto é muito importante a questão do medo, porque ajuda ao raciocínio e ao controlo. O importante é perceber como controlar o medo, para termos oportunidade de perceber a razão do medo e para que possamos ultrapassá-lo." (...)

A história que se segue é sobre isso mesmo: como lidar com o medo e a consciência do risco... Em todas as profissões de risco ou de maior risco, o profissional tem que criar mecanismos de defesa contra a ansiedade, a angústia, o medo de falhar, de cometer,  de ter um acidente, de ser capturado, de morrer, etc. As enfermeiras paraquedistas estão nessa lista das profissões de risco. 

A história merece figurar na série "Humor de caserna"... A autora não pondera a hipótese de o avião cair e ela morrer, mas sim, a de ser capturada pelo inimigo... E racionaliza, e muito bem: "Sou enfermeira, mas também sou mulher: não me vão fazer mal, posso ser muito útil para tratar os seus feridos...". 

Mas depois é confrontada com a opinião de um guerrilheiro (nunca lhe chama "turra", como era corrente na Guiné; curioso o nome, Armand, devia ser do outro lado, da Guiné-Conacri ou do Senegal, é um nome francófono)...


Humor de caserna (85): "Ai, não caia, senhora, não caia!"...

por Maria Ivone Reis (1929 - 2022)



A então ten enf pqdt Ivone Reis,
em Cacine, 12/12/1968.
Foto: António J. Pereira
da Costa
 (2013)



Sempre estive bem consciente de que o trabalho que executava quando fazíamos evacuações sanitárias, tinha alguns riscos. Estes eram elevados e bem patentes quando elas eram feitas desde os locais de combate. Mas, mesmo nos outros casos, o simples facto de sobrevoarmos zonas por vezes controladas pelo inimigo, incutia em nós alguma sensação de insegurança.

 Naqueles momentos, e enquanto olhava para a paisagem que lá em baixo ia passando sobre os  meus olhos, pensava em muitas coisas... 

Uma, recorrrente, era: "O que me fariam os guerrilheiros, se o avião fosse abatido, e nós  feitos prisioneiros ?".

Pensava muito na minha condição de mulher, que talvez agravasse a situação. Mas, por outro lado, tinha esperança de que, pelo facto de ser enfermeira e os guerrilheiros saberem que nós também tratávamos dos seus feridos, me não fariam qualquer mal.

Por conveniência ou não, quanto mais pensava nisto mais me convencia de que eu beneficiaria dessa proteção pelo simples facto de ser enfermeira!

Até que um dia as minhas dúvidas se  desfizeram!

Uma vez, na Guiné, quando socorria um guerrilheiro que estava ferido e que tinha sido capturado, perguntei-lhe se, por acaso um dia o meu avião caísse no meio do mato com enfermeiras a bordo, se eles nos fariam mal. Eu tinha a ilusão  de que ele diria que nenhum mal nos aconteceria.

Então o Armand   – era assim que ele se chamava   abriu muito os olhos e respondeu-me:

– Não caia, senhora, não caia!

E ali acabaram as minhas ilusões sobre tal assunto!


Fonte: Excertos de Ivone - "Aspetos humanos da nossa atividade: Não caia, senhora...". In: "Nós, enfermeiras paraquedistas", 2ª ed., org. Rosa Serra, prefácio do Prof. Adriano Moreira (Porto: Fronteira do Caos, 2014), pág.333  (com a devida vénia) (Imagem à direita, a seguir: Capa do livro)

(Seleção, revisão / fixação de texto, título, introdução: LG) (**)


Coautoras (das 30 da lista, com a Rosa Serra,  editora literária,  18 são Marias...): 

Maria Arminda Pereira | Maria Zulmira André (†) | Maria da Nazaré Andrade (†) | Maria do Céu Policarpo | Maria Ivone Reis (†) | Maria de Lourdes Rodrigues | Maria Celeste Guerra | Eugénia Espírito Santo | Ercília Silva | Maria do Céu Pedro (†) | Maria Bernardo Teixeira | Júlia Almeida | Maria Emília Rebocho | Maria Rosa Exposto | Maria do Céu Chaves | Maria de Lourdes Cobra | Maria de La Salette Silva | Maria Cristina Silva | Mariana Gomes | Dulce Murteira | Aura Teles | Ana Maria Bermudes | Ana Gertrudes Ramalho | Maria de Lurdes Gomes | Octávia Santos | Maria Natércia Pais | Giselda Antunes (Pessoa) | Maria Natália Santos | Francis Matias | Maria de Lurdes Costa.

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Notas do editor:

(*) Vd., postes de:^

18 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23275: (In)citações (206): Maria Ivone Reis (1929-2022), a primeira enfermeira paraquedista que eu conheci, em 1967, no Porto (Rosa Serra)

16 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23267: In Memoriam (435): Maria Ivone Reis, Major Enfermeira Paraquedista Reformada (1929-2022), falecida no dia 15 de Maio de 2022

13 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21764: (De)Caras (168): Maria Ivone Reis, major enfermeira paraquedista reformada, faz hoje 92 anos e é uma referência para outras outras mulheres e para nós, seus camaradas: excertos de um seu depoimento, publicado em 2004 na Revista Crítica de Ciências Sociais - Parte I

13 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21766: (De)Caras (169): Maria Ivone Reis, major enfermeira paraquedista reformada, faz hoje 92 anos e é uma referência para outras outras mulheres e para nós, seus camaradas: excertos de um seu depoimento, publicado em 2004 na Revista Crítica de Ciências Sociais - Parte II (e última)

5 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8998: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (28): Comemoração dos 50 anos dos cursos de 1961 das Tropas Pára-quedistas (Rosa Serra / Maria Arminda)

26 de agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6900: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (20): Uma foto histórica: as Alferes Arminda e Ivone, em Angola, Negage, Agosto de 1961

5 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6535: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (18): As primeiras mulheres portuguesas equiparadas a militares (5): Maria Ivone Reis (Rosa Serra)

11 de maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4318: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (10): Ivone Reis, Anjo da Guarda na Guiné, Angola e Moçambique (António Brandão)

20 de fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3914: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (1): Uma brincadeira (machista...) em terra dos Lassas (Mário Fitas)

sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26240: Notas de leitura (1752): O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (5) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Outubro de 2024:

Queridos amigos,
O que este autor nos permite conhecer é que a ocupação é débil, os efetivos militares irrisórios, as rebeliões eclodem aqui e acolá, muitas vezes associadas à recolha do imposto da palhota; a indefinição das fronteiras vai permitindo a intromissão da França e dos seus comerciantes, com todos os inconvenientes de uma presença portuguesa sempre diluída; Abdul Injai, a quem se prometera um regulado no Oio, anda por ali a roubar e matar, é deportado para S. Tomé, regressará e pôr-se-á ao serviço de Oliveira Muzanty nas operações do Cuor, será mesmo nomeado régulo desta região, onde também provocará desgraça; o governador Soveral Martins deixou currículo minguado na Guiné, ao contrário de Muzanty que se lança em operações militares e, como veremos adiante, com resultados seguros; haverá a expulsão de negociantes estrangeiros; há um ministro que decide mandar vadios para a Guiné e propõe a criação de um quadro de polícias para os vigiar, parece um quadro de revista.

Um abraço do
Mário



O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (5)

Mário Beja Santos

Convém recordar que Oliveira Muzanty fizera parte da delegação portuguesa para a delimitação de fronteiras em 1904. Teve a oportunidade de revelar a sua valentia quando alguns régulos se recusaram a colaborar, as tropas francesas reagiram com 50 atiradores senegaleses que intimaram os insubmissos. Oliveira Muzanty foi atacado perto do Cabo Roxo, a coluna de Oliveira Muzanty e do seu colaborador, o tenente Fortes, reagiram com sucesso, e a missão de demarcação de fronteiras continuou.

Estamos agora na governação do capitão Carlos d’Almeida Pessanha, tomou posse em fevereiro de 1905, Lapa Valente, o governador interino, e em diferentes momentos, é posto em causa sobre a sua tomada de posição sobre o regime de concessões de terrenos; Almeida Pessanha não teria as mesmas preocupações que Lapa Valente relativamente a companhias estrangeiras. Escreve para Lisboa dizendo que a Guiné seria por muito tempo um encargo para a metrópole. A Guiné tinha “suficientes elementos próprios de desenvolvimento”, mas era preciso aproveitá-los devidamente; caso contrário “as vizinhas possessões francesas sufocar-nos-ão; é mister, portanto, que, feita a delimitação, saibamos aproveitar o pouco que nos resta da Senegâmbia".

A cobrança de impostos de palhota decorria sem grandes atritos. Alegando razões de saúde, Almeida Pessanha parte para o reino, Lapa Valente, Chefe do Estado-maior, assume novamente o cargo de governador interino. Restabelece-se o comércio no Oio, aparentemente estavam dissipadas as mais graves hostilidades. Ocorrem desacatos na Costa de Baixo, Lapa Valente denuncia a sua impossibilidade de acorrer em ajuda dos comandantes militares. A força militar da província resumia-se ao tempo a 157 oficiais e praças, 23 em Bolama, 24 em Farim, 15 em Bissau, 12 em Geba, 10 em Cacheu, 1 em Buba e 4 em Cacine. O governador interino aproveita para tecer as suas considerações quanto às guerras havidas em Bissau, Oio, Jufunco e Churo, não houvera ocupação das regiões batidas, agravara-se a situação económica da província, era tudo difícil na praça de Bissau e nulo o domínio no Oio, no Jufunco e no Churo. Almeida Pessanha regressa e parte pouco depois. É por este tempo que Abdul Injai obriga a tomar medidas. Era um chefe seruá, tinha servido como auxiliar na campanha do Churo, fora-lhe prometido um regulado no Oio, região que ele atacava por meio de razias, nas suas operações roubava e matava os indígenas. Almeida Pessanha manda-o prender, será enviado para S. Tomé, no início da governação de Oliveira Muzanty. Acontece que por ocasião da visita do príncipe real D. Luiz Filipe àquela província, em junho de 1907, Abdul recebeu do príncipe permissão para regressar à Guiné, irá então auxiliar o mesmo Oliveira Muzanty nas campanhas de Badora e Cuor, vindo a ser por este feito régulo do Cuor.

Temos agora a governação de Oliveira Muzanty, é nomeado em 8 de junho de 1906, tinha terminado havia pouco chefiar a comissão de delimitação de fronteiras, possuía um bom conhecimento da província. O novo governador tinha o propósito de dotar a administração de um caráter mais acentuadamente civil, decide que os seis comandos militares iam ser substituídos por residências, queria uma companhia de atiradores indígenas, o esquadrão de dragões indígenas e a companhia mista de artilharia de montanha foram extintos.

Muzanty começa a preparação das operações militares, requisita, logo no início de 1907, 250 carabinas Kropatcheck e 250 mil cartuchos. Volta a expulsar Graça Falcão, que andava a envenenar os régulos da região de Cacheu. Este turbulento ex-alferes viaja para Lisboa com bilhete de ida e volta. Tendo sido notada hostilidade na receção dos impostos na ilha Formosa, forma-se uma expedição, morre o régulo e o feiticeiro, queimam-se palhotas, pouco depois os habitantes das povoações queimadas apresentam-se pedindo perdão.

Acontecimento maior tinha sido a brutalidade com que o régulo Infali Soncó tratara o comandante militar de Geba, Muzanty escreve para Lisboa dizendo que não tinha possibilidade de tomar medidas por dispor apenas de 30 a 40 praças, não havia uma canhoneira a funcionar, era fundamental dar uma lição a Infali Soncó (régulo do Cuor), pede uma força de 500 praças europeias durante um período máximo de 4 meses e apoio de canhoneiras. Antes de partir para Lisboa elabora um relatório em que critica querer-se substituir uma soberania efetiva fazendo manobras com os variados elementos indígenas. Havia que ser exemplar nas atitudes de insubmissão, os maus-tratos a que fora sujeito o comandante militar de Geba impunham uma lição muito séria.

Em junho de 1907 ocorre um facto insólito, chega à Guiné um grupo de vadios, o ministro recomenda que eles sejam distribuídos pelas várias circunscrições e presídios na proporção que o governador entendesse. O pior é que o ministro quer enviar mais vadios para a Guiné, a oposição em Bolama é total. Em setembro, agrava-se a situação na região do Geba, o régulo de Badora revolta-se e alia-se ao régulo da região do Cuor, cortam a linha telegráfica de Bafatá a Buba. As relações entre o Governo e a Companhia Francesa da África Ocidental e Comércio Africano degradam-se. Enquanto isto se passa, Muzanty trabalha em Lisboa na organização de uma grande expedição à Guiné, é projetada a sua realização de janeiro a maio de 1908, conta-se com uma força expedicionária, duas companhias europeias de infantaria, uma bateria de artilharia e uma companhia da Marinha. Em Lisboa fazem-se contas ao custo da operação, uma campanha prevista em três fases: operações na ilha de Bissau, no Oio, e contra os povos Manjacos da Costa de Baixo, previa-se a maior resistência no Oio. Houvera como que um esquecimento para a importância das operações no Geba, sem perda de tempo, logo que regressar à Guiné, Muzanty prepara uma expedição que liquida qualquer resistência na região do Xime, fica ainda por resolver o problema do régulo do Cuor. É então que se prepara um conjunto de operações na região revoltada de Quínara, haverá muito tiroteio, em Lisboa pede-se a Angola para formar uma companhia indígena para destacar para a Guiné, sem resultado, quem vai fornecer uma companhia indígena será Moçambique. A situação em Lisboa é perturbada pelo regicídio que ocorreu em 1 de fevereiro de 1908. Continuam os preparativos para as operações, as fundamentais serão as da margem direita do rio Geba, é nessa altura que entra em cena José Rodrigues de Mello, veio de Cabo Verde e passará à história como o primeiro fotógrafo militar português, todo o seu trabalho na Guiné está consagrado em livro.


Armando Tavares da Silva
Imagens tiradas pelo primeiro fotógrafo militar português, José Rodrigues de Mello
Régulo de Fulas e seus Ministros
Teatro de Bolama
Costume de europeus estrangeiros. Aperitivo (antes do jantar)

(continua)
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Notas do editor

Vd. post de 29 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26213: Notas de leitura (1750): O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (4) (Mário Beja Santos)

Último post da série de2 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26226: Notas de leitura (1751): A Guiné Que Conhecemos: as histórias sobre unidades do BCAV 2867 (2) (Mário Beja Santos)