quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26441: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (13)

Foto 99 > Agosto de 1970 > Olossato > João Moreira
Foto 100 > Agosto de 1970 > Olossato > Homem Grande
Foto 101 > Agosto de 1970 > Olossato > João Moreira
Foto 102 > Setembro de 1970 > Bissau > Regresso de férias: ?, Carvalho, ?, Sargento da Força Aérea, João Moreira, ?, ?. Penso que é na esplanada do Café Bento, conhecido como 5.ª REP, com amigos do Carvalho, que era o furriel enfermeiro da minha companhia.
Foto 103 > Setembro de 1970 > Olossato > Furriéis Xico Silva e João Moreira e Alferes Pimentel. Para estarmos todos no bar e messe de oficiais e sargentos, devia ser dia de festa ou aniversário de alguém, porque no dia a dia os furriéis tomavam as refeições numa outra sala.
Foto 104 > Setembro de 1970 > Olossato > Furriel João Moreira, Alferes Pimentel e Silva, Furriel Canteiro e Soldado Mourinho
Foto 105 > Setembro de 1970 > Olossato > Furriel Carvalho, 2.º Sargento Severo, Furriéis Justino, Silva, João Moreira e Alferes Pimentel.
Foto 106 > Setembro de 1970 > Olossato > Furriéis Justino, Silva, Soldado Mourinho, Furriel João Moreira, Alferes Pimentel e Furriel Canteiro.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 23 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26418: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (12)

Guiné 61/74 - P26440: (De) Caras (225): Encontro de inimigos de ontem, em Fulacunda, julho de 1974 (Henk Eggens, médico neerlandês, cooperante na Guiné-Bissau, 1980/84)






Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª C/BART 6520/72, 1972/74) > Julho de 1974 > Pormenor de foto de grupo: visita do bigrupo de Bunca Dabó, do PAIGC, ao quartel e tabanca de Fulacaunda, e ao porto fluvial (que ficava a 2 km de distância). Na foto, o alf mil Jorge Pinto, em farad nº 2, completamente desarmado, faz o papel de antitrião... Descontraído... Os "iniumigos de ontem" quiseram ir ver o porto fluvial...


Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



Guiné-Bissau > s/l> s/d > O Comandante das FARP Quemo Mané (Canjabel, região de Quínara, c. 1932 - Moscovo, 1985). Fonte: Plataforma Casa Comum / Fundação Mário Soares > Arquivo Amílcar Cabral... Pasta 05248.000.024. Reproduzido com a devida vénia...

Citação:
(1966-1973), "Quemo Mané", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43764 (2022-2-19)



1. Mensagem enviada por Henk Eggens (*),



O dr. Henk Eggens, neerlandês, médico,
cooperante na Guiné-Bissau
(Fulacunda e Bissau, 1980/84)



Data - quinta, 9 jan 2025 , 12:40
Assunto - Encontro de inimigos

Olá,  Luís,

Já desde o final do ano passado queria responder-te e agradecer pelos links para as fotografias e textos que dizem respeito a Fulacunda, Guiné-Bissau.

Fiquei olhando para as fotografias que mostram os encontros entre soldados do exército português e os guerrilheiros do PAIGC. Além da qualidade boa das fotografias em si, fiquei pensando no efeito mental deste encontro; deve ter sido emocional e confuso para ambas as partes. Vejo os portugueses relaxados, sem armas, e os do PAIGC tensos e, como escreveste, "armados até aos dentes" com RPG e AK.(**)

Fiquei pensando sobre a mudança de paradigma que deve ter acontecido nas mentes de todos os presentes. Encontrar pessoas que queriam te matar pouco tempo antes do encontro. Acho, mas não conheço, que deve existir artigos, teses e livros sobre este fenómeno que deve marcar pessoas no mundo inteiro quando a guerra acaba e os inimigos se encontram pela primeira vez. Tens conhecimento destas publicações?

Vejo as notícias da Síria nestes dias onde deve acontecer o mesmo.

Numa outra entrada no teu blogue vi a referência a um comandante do PAIGC, Quemo Mané. Este foi o governador da região de Quínara e meu vizinho durante minha estadia em Fulacunda (1980-1982). Havia rumores sobre a sua crueldade durante a luta. A história sobre o 'julgamento revolucionário' no blogue ilustra bem estes rumores de então. Tive pouco contacto com ele, mas ainda assim metia medo nas pessoas e em mim na altura. (***)

Abraços,
Henk

PS- Admito que deixo meu app IA corrigir os meus textos portugueses por erros ortográficos.

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 28 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26209: Ser solidário (275): Quatro anos como médico cooperante (1980-1984), em Fulacunda e em Bissau (Henk Eggens, neerlandês, consultor internacional em saúde pública, reformado, a viver em Santa Comba Dão)

(**) Vd. poste de 18 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26278: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (31): Jorge Pinto (ex-alf mil, 3.ª C / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74) - Parte I

(***) Último poste da série > 28 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26206: (De) Caras (225): Duas fotografias, girândola e fastígio das recordações (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26439: Historiografia da presença portuguesa em África (462): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, de janeiro a agosto de 1894 (20) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Outubro de 2024:

Queridos amigos,
Temos vindo a encontrar ao longo dos anos bem curiosos diagnósticos de situação em termos de higiene e saúde pública, recordo os irrepreensíveis e minuciosos relatos do Dr. Damasceno Isaac da Costa. Encontra-se agora neste ano de 1894 este precioso documento assinado pelo chefe do serviço de saúde, que conhece in loco as situações e quando não as conhece baseia-se nos relatórios dos respetivos delegados de saúde. Acresce dizer que este ano de 1894 revela-se politicamente um tanto inócuo, vão aparecer uns atos de submissão, aparentemente a ilha de Bissau entrou em acalmia, praticamente não se fala em sublevações na região de Geba nem em Cacheu. A economia não está risonha, o reinado do rei D. Carlos iniciou-se numa situação financeira crítica, o dinheiro escasseia e há políticos em Lisboa que até sonham com a criação de uma empresa majestática para a Guiné, que evite despesas ao Estado.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, de janeiro a agosto de 1894 (20)

Mário Beja Santos

Folheando os boletins deste ano, compete dizer em primeiro lugar ao leitor que a publicação está em muitíssimo mau estado, o boletim devia vir dobrado para o continente, não só está partido como o papel é muito frágil para desfazer-se. Da leitura feita entre janeiro a agosto, regista-se certa sensaboria, há muitos despachos e muitas entradas e saídas, excecionalmente aparecem autos de submissão após rebeliões, pelo que tomei a decisão de me centrar numa matéria que se revela rica, dada a qualidade dos relatórios sobre o serviço de saúde na Guiné. É chefe deste serviço César Gomes Barbosa, que escreve na perfeição. Após nos apresentar o hospital e a farmácia central de Bolama e o depósito de medicamentos, resolve fazer uma apresentação de Bolama, é um olhar muito interessante:
“O solo de toda a ilha é argilo-silicioso e argilo-ferruginoso, formando uma planície baixa coberta de vegetação, sem florestas, nem bosques, e rodeada à beira-mar por arvoredo (tarrafo) cujos troncos ficam mergulhados em água salgada do rio. Não existe nesta ilha animais selvagens. Corre apenas haver a onça e o lobo. O interior dela tem aqui e acolá espalhadas umas pequenas tabancas, de Brames, Fulas, Mandigas, Papéis e Manjacos que agricultam os terrenos a seu modo de batata, milho, feijão, milhinho e algum arroz, géneros de que se servem para a sua alimentação e mancarra que vendem em troca, a maior parte das vezes a partir de europeus tais como aguardente, pólvora, tabaco, artigos de vestuário.
As praias que limitam a povoação constituem os maiores e mais nocivos pântanos de toda a ilha e a elas se devem, decerto, grande parte da insalubridade desta capital. São praias que em parte do dia oferecem uma superfície extensa à exalação maremática e em que o Sol ardente ativa quotidianamente, fornecendo o calor para a decomposição das matérias orgânicas de germinação ou cultura dos micróbios.”


O autor volta-se agora para o quadro da saúde pública, irá falar do quinino:
“É o sulfato de quinina em doses nunca inferiores a 800 centigramas, mas que ascendem a 2, 3, 4 e 5 gramas diárias, o medicamento por excelência. Nunca atingi a dose de 4 gramas de sulfato de quinina na minha clínica. Durante o acesso febril de uma intermitente simples quotidiana terçã, quartã, etc. que muitas vezes se complica de embaraço gástrico ou intestinais, é seguida a prática racional de administrar evacuantes, vomitórios ou purgantes, conforme a complicação, sem se administrar a quinina. Após os efeitos de qualquer dos evacuantes sobrevém uma calma relativa que se aproveita para provocar a transpiração que pouco tarde. É no intervalo das pirexias (febres), que se administra o quinino. Esta regra, porém, não pode ser tomada como constante. O médico é muitas vezes obrigado a determinar o uso de sal químico durante o acesso febril. Esperar os intervalos das pirexias seria muitas vezes a condenação do doente. O médico é muitas das vezes obrigado a determinar o uso do sal químico durante o acesso febril, como antitérmico, quando a elevação da temperatura é grande e prolongada. (…) A minha prática de 8 anos em localidades paludosas leva-me a admitir e a usar com frequência a quinina durante o acesso febril. Deste uso tenho apenas que me felicitar. Nas febres intermitentes a temperatura axilar é muitas vezes elevada a 41 e 41,5 sem que, após ela, o doente ligue a menor importância ao que o doente sofreu. Estas febres assim deterioram facilmente o organismo e produzem com poucas repetições a anemia palustre, quando o paciente menos a espera.”

Faz seguidamente uma exposição sobre as formas gravíssimas de paludismo com a morte de todos os doentes, começa pela febre perniciosa a que se segue a febre biliosa hemoglobinúrica; apresenta o quadro das situações mais frequentes de doenças que levam à hospitalização: a diarreia, a disenteria, a doença do sono, as ténias, as ascárides lombricoides e as doenças de pele, as úlceras e a varíola. Continuando, faz uma síntese da higiene e polícia sanitária:
“De Bolama, Bissau, Geba e Buba, falo com conhecimento pessoal; de Cacheu e Farim apenas farei as referências dos delegados de saúde. Higiene tem sido uma palavra mais ou menos respeitada ou ridicularizada na Guiné, consoante a ilustração da câmara e das comissões principais. É certo que todas delas falam porque têm um pelouro de higiene, não é menos certo que cada vereador é um higienista especial, quando lhe incumbe os cuidados do pelouro relativo. Não supunham os vereadores das câmaras municipais da Guiné que esta especialidade lhes pertence. O que noto aqui observei-o durante 7 anos em Cabo Verde.”

Continuamos a falar do relatório do serviço de saúde da Guiné português durante o ano de 1891 publicado no Boletim Official ao longo de 1894. César Gomes Barbosa envereda agora por amplas descrições do Estado de lugares da Guiné. Começa por Cacheu.

Após localizar Cacheu, diz o seguinte:
“De janeiro a julho servem-se os habitantes de Cacheu da água colhida em dois poços abertos nos pântanos do Sul, de junho a dezembro a água é colhida em duas fontes que existem à entrada do mato e são a Inglesa e a Salanca. São estas águas, a meu ver, de má qualidade, não se devendo nunca servir de poços abertos dos pântanos e devendo usar-se com os cuidados precisos as que se colhem nas fontes Inglesa e da Salanca, fazendo filtrar ou melhor, ferver e arejar. Nesta vila manifestam-se todas as formas de paludismo, desde a mais ligeira até às febres remitentes, biliosa e perniciosa, o que confirma o meu juízo de pouco salubre. O solo de Cacheu é argiloso, com mistura de sílica. Desta natureza do terreno se compreende já a sua insalubridade, cercado de pântanos, salgados e doces abastecidas de água de má qualidade num espaço cercado de paliçada, esta vila não me merece o conceito de mais salubre que a povoação de Bolama.

De Cacheu e Farim, que não conheço ainda e que são banhados pelo rio de S. Domingos apenas repito o que tem sido dito. O cemitério de Cacheu é como o descrevem os delegados de saúde, uma porção de terreno ao Sul da vila, sem resguardo, cita numa pequena elevação do solo a que fica subjacente o pântano em que se encontram os poços de água que os habitantes da água fazem uso.
Manifestam os delegados de saúde o receio que as águas dos poços possam vir inquinada de produtos de decomposição cadavérica, não me parece justificado este receio perante a dar-se de que há muito em Cacheu deveria experimentar estes funestos resultados.
O cemitério não deve continuar no local onde hoje se fazem os internamentos, por ser a área muito pequena e estar muito próximo da praça. Convém que se termine aí com a inumação e que se construa um cemitério em local mais afastado.”


E o chefe do serviço de saúde irá seguidamente falar de Farim, Bolama e Geba.

Forte de Cacheu, finais do seculo XIX
Soldados da Companhia de Caçadores 508 com prisioneiros, na Guiné-Bissau, durante a Guerra Colonial. Fotografia retirada do site Lugar do Real, com a devida vénia
Marginal de Bissau. Ao fundo: a corveta NRP Honório Barreto, ao serviço da Marinha Portuguesa. Este tipo de embarcações atuou em missões de soberania e apoio de fogo nas águas de Angola, Guiné, Moçambique e Cabo Verde. Imagem retirar do Lugar do Real, com a devida vénia
Ponte-cais do Pidjiquiiti Correia e Leça, cerca de 1890

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 22 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26413: Historiografia da presença portuguesa em África (461): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, de 1892 para 1893 (19) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P26438: Os 111 históricos do nosso blogue, que agora passam a "senadores" (3): Júlio Benavente, ex-fur mil, CCS/BCAV 1905 (Teixeira Pinto, fev 1967/nov 1968), natural de Póvoa, a viver em North Providence, Rhode Island, EUA


Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > CCS/ BCAª 1905 (1967/68) > O Júlio e a sua viola (1)


Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > CCS/ BCAV  1905 (1967/68) > O Júlio e a sua viola (2)




Guiné > Bissau > Restaurante "Solar dos 10"> 15 de novembro de 1968> "Três povoenses nesta fotografia, ao fundo o Verissimo, ao seu lado direito o Zé António Canha,e ao seu lado esquerdo eu e ao meu lado de camisa escura um rapaz de Vialonga de que não me lembro o nome. O esto e malta era da minha companhia.Esta foto foi tirada em Bissau no Solar dos 10 no dia 15/11/1968, e eu ja estava em Bissau a espera do Uige para regressar a Portugal"



Fotos (e legendas): © Júlio Benavente  (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



1. O Júlio Benavente, ex-fur mil, CCS/BCAV 1905 (Teixeira Pinto, fev 1967/nov 1968), é um dos 111 históricos do nosso blogue (*). Tem poucas referências, é verdade, mas foi dos primeiros camaradas da Guiné a juntar-se à nossa tertúlia (*).

Recordemos a sua mensagem de  apresentção (*):

Amigo Luis:

Somos quase da mesma idade, estive na Guiné em 67/68 e que saudades desse tempo, embora pareça um paradoxo, pois como se pode ter saudades duma coisa como foi o tempo de guerra ?!...

Mas lá aprendemos o que é a camaradagem que nos juntou ateé hoje, mesmo sem contacto pessoal... E como ficamos putos novamente quando falamos com alguém que também lá esteve, na Guiné!...


Júlio Benavente, hoje

O meu nome é Julio Benavente, fui furriel miliciano na CCS do BCAV 1905, de Fevereiro 1967 até Novembro de 1968.

Hoje vivo no Estado de Rhode Island, na cidade de North Providence, nos Estados Unidos da América.

Um abraço, camarada, e obrigado por esta oportunidade de reviver. (---)


2.  Fomos à sua página do Facebook "resgatar" algumas fotos do seu álbum.  São também uma "prova de vida". Ele continuar a sua terra de oirgem: é natural de Póvoa de Santa Iria, Vila Franca de Xira. Emigrou para os EUA, onde trabalhou na indústria de ferramentas e moldes. Vive no Estado de Rhode Island,em North Providence, onde há uma importante cpomunidade portuguesa ou de origem portuguesa.

Desejamos-lhe saúde e longa vida. Gostámos de revisitar a sua página. E incentivamo-lo a aparecer mais vezes no nosso blogue.

O Júlio é o único representante do BCAV 1905, se não erramos. Vou pedir ao régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, o João Crisóstomo (Queens, Nova Iorque)   que o contacte... 

Júlio, manda notícias frescas. Mas está feita a prova de vida. (**)

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(*) Vd, postes de:

3 de maio de 2006 > Guiné 63/74 - P720: Tabanca Grande: Dos Estados Unidos com saudades dos velhos camaradas (Júlio Benavente, CCS/BCAV 1905, 1967/68)

Guiné 61/74 - P26437: Parabéns a você (2346): Luís Graça, Fundador, Administrador e Editor deste Blogue, ex-Fur Mil API da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) e Vírgílio Teixeira, ex-Alf Mil SAM da CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e S. Domingos, 1967/69)

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Nota do editor

Último post da série de 22 de Janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26411: Parabéns a você (2345): Rogério Freire, ex-Alf Mil Art MA da CART 1525 (Bissorã, 1966/67) e Virgínio Briote, ex-Alf Mil Cav da CCAV 489 e Alf Mil CMD, CMDT do Grupo de Comandos "Os Diabólicos" (Cuntima e Brá, 1965/67)

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26436: A extinção dos Conselhos Administrativos dos batalhões de reforço no CTIG (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, Chefe do CA, BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - II (e última) Parte



Foto nº 3 > Guiné > Região de Cacheu > São Domingos Guiné > 22 de fevereiro de 1969 > Local e cena de ‘fuga’. Pista de São Domingos.  Pista, cobertura de passageiros, torre de controlo, avião Dornier dos TAGP, o jipe  que me transportou, o jipe do Comandante, o jipe  do administrador de Posto, outras viaturas, e personagens do filme.


Foto nº 4 >  Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > 22 de fevereiro de 1969 > A avioneta DO – Dornier dos TAGP, levanta voo em ‘fuga’, a caminho de Bissau... Local, pista de São Domingos...


Foto nº 5 > Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > 22 de fevereiro de 1969 > Uma vista aérea do aquartelamento. Pode ver-se a pista, as instalações do Comando e CCS, as instalações da CART 1744, a última vista geral que eu foquei, ambígua, nostálgica, com muito stress.



Foto nº 6> 
Guiné > Bissalanca > 28 de fevereiro de 1969 > Local e cena da ‘fuga’: aeroportoo de  Bissalanca. Na placa da pist, à esquerrda,  pode ver-se um avião da TAP, Boeing 707, e  à direita a sala de embarque.



Foto nº 7 > O Avião TAP B707, algures ao largo do Senegal, nos céus de África, em 28 de fevereiro de 1969. Pode ver-se a Asa do Avião, o Mar azul a terra de areia branca, talvez, costa do Senegal.


Foto nº 8 > Lisboa > Aeroporto da Portela > 29 de junho de 1968 > A minha chegada (no primeiro período de férias).  A minha família. Eu levo uma grande mala, ao lado a minha mãe com um saco de documentos da TAP, atrás a minha irmã Filomena com uma mala branca, e no final de tudo a minha namorada Manuela.
 



Foto nº 12 > Porto > Ponte da Arrábida > 17 de junho de 2019, 17h35 >  A subida às entranhas da Ponte da Arrábida - 65 metros, 162 escadas, 18 andares


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


A EXTINÇÃO DOS CONSELHOS ADMINISTRATIVOS (CA)  DOS BATALHÕES DE REFORÇO (BR) 
NO CTIG - II (e última) Parte (*)

por Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933 
(Nova Lamego e São Domingos, set 67 / ago 69)



Virgílio Teixeira, Vila do Conde, 
ex-alf mil SAM, Chefe do CA,
 BCAÇ 1933 
(Nova Lamego e São Domingos,
 set 67 / ago 69)
 



IV – A MINHA FUGA DE SÃO DOMINGOS


... Tenho de ir de férias antes do encerramento das contas! 

Começo logo a pensar que tenho de arranjar forma de ir de férias ainda no 1º trimestre de 1969. Não posso ficar ali e não sei quando e como vou encerrar tudo, começo a imaginar coisas e a o filme começa a desenhar-se.

Fui preparando tudo sem dar nas vistas, em janeiro ainda fui a Bissau entregar as contas na Chefia
Chefia de Serviço de Contabilidade e Administração   de Contabilidade, e ainda deu para mais uns passeios a Safim, Nhacra, mergulhos na piscina e saborear uns petiscos até arranjar boleia num Dakota.




Foto nº 2 -Bilhete de avião, emitido pelos TAGP - Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa, com data de 22/2/1969. Viagem São Domingos-Bissau, em Dornier. Valor: 224$00.


Em fevereiro de 1969 estou a planear as minhas férias. Marquei junto da secretaria que depois ia a despacho do comandante. Veio assinada a autorização, agora sei que ele nem sabia o que estava a assinar.

Marquei a viagem na TAP, era a 26 de fevereiro, depois nos TAGB, comprei o bilhete, tudo isto passava pelo nosso Sargento e representante do batalhão em Bissau. Já tenho os bilhetes e está tudo pago (Foto 2).

E vou realmente de férias, mas as cenas que se seguem fazem lembrar o ambiente de tensão no filme "Casablanca" entre Bogart e Ingrid Bergman (10).


V – UMA SEMANA À ESPERA DA SAIDA

Foi uma semana de ansiedade, como se compreende, dado se tratar de um "fugitivo", mesmo que legalizado, andei várias vezes a consultar o QG – Pessoal, para saber se estava tudo bem.

Eu não me lembro exatamente de tudo por razões que são evidentes, estava sempre à espera que fossem ter comigo à messe de Santa Luzia, para me apresentar no QG.

Hoje sei o que isso é, sofrer por antecipação, por isso tentei distrair-me após ir prestar as contas do mês findo na Chefia do Serviço de  Contabilidade, e por lá andei, tinha lá vários colegas do Porto, e se houvesse alguma coisa eles diziam.

No dia do embarque, ou no dia anterior, entregam-me a Guia de Marcha ou de autorização de saída, não sei bem como era.

Este pesadelo durou até à hora de fecharem as portas do avião da TAP. Finalmente estou no céu e mais ninguém me pode impedir de gozar as minhas férias (Foto 6)

A viagem corre normalmente. Já estou na costa de África, bonitas paisagens que já antes tinha visto mas não as apreciei como agora (Foto 7).

Mais à frente sobrevoamos a Costa da Mauritânea, areia e mar sm fim, lugar especial para uma grande idade e um resort de luxo.  E estamos em Portugal, já vi tudo desde o Algarve até Lisboa, os contornos do Sul até Lisboa, já antes vistos e não apreciados. 

Hoje ironicamente lembro-me, embora sem justificação, daquele colega de bordo no UIGE, que o vieram buscar na hora da partida.

E assim cheguei a Lisboa, lá estava a minha namorada com a minha irmã casada e o meu cunhado, que acompanharam a minha Manuela, porque a sua mãe não deixava a menina ir sozinha. Tenho uma foto, mas não sei delas, andam por aí perdidas (Foto nº 8) (a minha primeira licença de férias, em 29 de junho de 1968).

E com surpresa vejo que está tudo diferente, o ambiente pesado. Durante o voo aconteceu um tremor de terra, que não senti no avião, como é natural, era o dia 28fev69. Falou-se muito mas eu estava noutra onda.



Eu e a Manela, Porto,
Praia da Foz, julho de 
1968

VI – AS MINHAS FÉRIAS DE LICENÇA MILITAR


As férias passam rápido, não tendo tempo a perder, tenho de aproveitar os tempos livres.

A minha namorada estava a trabalhar, não tinha férias nessa época, aproveitei para tirar partido máximo dos 35 dias que tinha pela frente.

Não sendo este um assunto importante para tratar aqui, resta-me lembrar que no dia 18 de março de 1969, pedi a minha namorada em casamento, e ofereci-lhe um anel com a inscrição da data, ficamos portante noivos...e até hoje.

E no dia 4 de abril regressei à minha guerra, com saudades, mas passou rápido, tinha uma tarefa muito importante pela frente.

VII – O FECHO DE CONTAS DO MEU BATALHÃO

Quando regressei ao CTIG, i no dia 5 de abril de 1969, fui apresentar-me ao QG, e logo me informaram 
que devia seguir para o ‘600’ ( era um quartel onde estacionavam as companhias que faziam a segurança do QG).  Nessa altura estava lá a fechar as contas também o meu amigo do Porto, o alferes Ruas, do BCAÇ 1911. Passou-me o testemunho com uma guia de entrega de material, uma burocracia totalmente inútil, deviam pensar que ia trazer as mesas de trabalho para casa (Foto 9).


Foto nº 9 > Guia de entrega de material do BCAÇ 1911 à comissão liquidatária do BCAÇ 1933: uma mesa,  5 cadeiras (!)...


Durante as minhas férias todos o arquivo e material deixado em S. Domingos, encontrava-se lá num pequeno cubículo que me destinaram. Estava lá a aguardar-me apenas um furriel amanuense, e um cabo escriturário do CA.

Não deixo de registar que todos os meus bens pessoais não foram devolvidos para a minha nova sede, ficou tudo, incluindo uma motorizada Honda que nunca mais a vi. Também tinha outra em Bissau na nossa arrecadação, e também lá ficou sem ser entregue a minha arma G3 e cartucheiras, bem como muita farda militar e civil. 

Ainda pensei que um dia me vinham acusar de ter desviado o material de guerra, e ainda hoje continuo a pensar o que teria sido feita à minha G3, só pode ter sido entregue por alguém no depósito de armas.

Ficaram, pelo menos à guarda de um elemento do CA, os meus três caixões carregados de bebidas que fui juntando ao longo da comissão, um espólio de se tirar o chapéu. Viria a recebê-lo no RAL 1 de V.N. de Gaia, uns meses depois. Intacto.

Agora estava mais perto da Chefia de Contabilidade para eventuais dúvidas, que parece não tive, nem foram precisas. Não levou muito tempo, trabalhei arduamente no meu trabalho e funções e acabei tudo ainda em 10 de maio de 1969. E tudo aprovado.

No dia 9 de maio, porque sobrou das contas apenas $50 centavos (!), tive de o ir depositar no Banco Nacional Ultramarino em Bissau, em nome da Comissão Liquidatária do BCAÇ1933, com sede no SPM 4568 (Foto 10).



Foto nº 10 > Comprovativo do depósito de 50 centavos (!), no BNU, em Bissau, em nome da comissão liquidatária do BCAÇ 1933. com data de 9 de maio de 1969.


E finalmente a 10 de maio de 1969 faço a entrega formal de toda a documentação, livros, arquivos e demais papelada na Chefia de Contabilidade, dentro dos caixotes fechados e lacrados, sendo tudo aprovado e finda a minha função no CTIG. Entregue com a Guia dessa data, em duas folhas, numeradas 
(Foto 11)(Vd. Nota 10).







Foto nº 11 > Lista da documentação entregue pela comissão liquidatária do BCAQÇ 1933 â Chefia do Serviço de Contabilidade e Administração do QGCTIG, Santa Luzia

E assim fiquei "desempregado", estava livre para regressar, mas o Comando do Batalhão entendeu que devia de regressar junto com os restantes. Colocaram-me nos Adidos para gerir não sei quê, talvez o sector da alimentação que nada sabia sobre isso.

Depois meti baixa ao Hospital Militar 241, fui para a Psiquiatria, estive internado cerca de 15 dias, no mês de maio de 1969, e depois passei à medicina internma.  

Acabei por ter alta, colocaram-me no CA dos Adidos em Brá, como adjunto do CC do CA, e por aí fiquei até ao dia do meu embaque.

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Nota final:

Isto é o resumo desta actividade, desta minha missão no CTIG.

Espero ter contribuido de algum forma para um cabal esclarecimento desta guerra que poucos conhecem, mas agora poderão perceber um pouco mais. Assim desejo, pois este trabalho levou-me um mês de pesquisa de tanta coisa de que já nem eu me lembrava.

Notas de rodapé que anexei, poderão ser extensos, mas são esclarecedores quer para os leitores quer para mim.

Foi um trabalho que nunca tinha feito sobre nenhum tema em particular. Obrigado por tudo

©  Virgílio Teixeira (2025)

(Revisão / fixação de texto: LG)


21 de janeiro de 2025
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 Notas do autor:


(10) A adrenalina sobe, e nesse período ainda faço a viagem louca de Sintex para Susana e Varela, já aqui transcrita, tudo para não me encontrar com o Coronel Renato Xavier,   o novo comandante do meu batalhão.

Chega o dia 22 de fevereiro, da minha viagem na DO dos TAGB.

O coração bate apressado, e penso lá comigo:

– E se o comandante não assina a Guia de Marcha?

Faz-me lembrar o outro que vieram buscar ao Uíge na hora da partida . Não tinha nada a recear, estava tudo legal do meu ponto de vista.

Manhã cedo vou ao gabinete do comandante, digo para o que vou ali, e levo a Guia de Marcha que o tenente Godinho da Secretaria me deu. Acho que nem leu e assinou de cruz. Eram umas 8 horas da manhã.

Tenho o saco com algumas coisas, deixo tudo, exceto uma das minhas camaras Konica.

A outra fica entregue a uma das pessoas do meu CA, para tirarem umas fotos da minha saída e quando já fosse no ar na avioneta DO.

Passado uns tempos, não sei quanto tempo, mas pareceu-me uma eternidade, ouço a avioneta a fazer-se à pista, e como eu todos ouvem, incluindo o comando.

Apanho um jipe e chego a tempo de fotografar a chegada da DO, bonita, parecia um pássaro às cores. Era a minha imaginação. A DO está no seu ponto de paragem, o piloto não desliga os motores, descarregam os sacos de correio e pouco mais. Despeço-me de alguns companheiros e estou pronto para entrar na DO (foto 3)

Cumprimento o piloto, um profissional da aviação civil, já conhece tudo pois faz muitas viagens destas, uma vez pelo menos estive na pista com ele, noutra situação. Estou eufórico e preocupado e com razão!

Vejo a chegar a alta velocidade e no meio do pó que deixava para trás, um jipe que trava com todas as ganas junto à DO. Era o comandante Xavier!

A seguir há um diálogo de loucos que ainda hoje me lembro tantas vezes. Dirige-se a mim, e pergunta logo:

– Para onde vai? 

O piloto já se apercebeu que não me vai levar para Bissau. Respondo que vou para Bissau e depois para a Metrópole, gozar as férias a que tenho direito. 

– Não pode ir !!! – diz ele com os olhos esbugalhados.

– Eu tenho a Guia de Marcha que o meu comandante assinou há pouco.

– Não interessa, é preciso fechar e encerrar as contas, conforme Nota do QG.

– Mas agora já tenho aqui a avioneta dos TAGB para me levar já paguei e também já paguei o transporte na TAP.

– Não interessa, não pode sair daqui!

Isto é uma eternidade em 5 minutos, palavra puxa palavra e eu disse que tenho de ir. Meto um pé dentro do habitáculo, ele agarra-me o braço, já não sei bem o que mais se passou.

O piloto manda um aviso com os motores a trabalhar e a poeirada no ar.

– Tenho de levantar voo agora  
– e vira-se para mim como a dar-me um sinal, "ou sai ou entra". 

A atitude que tomo é a normal, o Xavier agarra mais o braço, a seguir eu dou-lhe um empurrão e ele larga o braço. Entro. As portas fecham. O piloto dá meia volta e faz-se à pista. E num espaço pequeno arranca e levanta, já estou no ar (Foto 4).

Bato uma chapa lá de cima – a ultima visão de São Domingos   
–, não se vê a cara do Xavier. Vou a caminho e começa novo pesadelo (Foto 5).

– E se depois de chegar a Bissau, quando me for apresentar no QG e têm lá um rádio a pedir a minha suspensão de embarque e até uma detenção?

Afinal era um "fugitivo legal", e assim acaba esta estória "cabraliana", aquilo a que chamei de "A minha fuga de S.Domingos".

Isto mais parece um filme da fuga dos 6 presos de Alcochete! Ou as fugas do Papillon naquele livro e filme inolvidável. Ambos verdadeiros.


(11)  Neste período ainda fui muito útil a dois colegas meus da mesma função.

O já falado Ruas,  do BART 1911, que não conseguia fechar as suas contas por ter dinheiro em excesso, e pediu-me se podia dar uma ajuda:  o saldo foi transferido para o meu CA que foi colmatar eventuais faltas. 

O problema eram as verbas de pensões que sobravam, dos militares
que morrem, dos feridos e evacuados e tudo se perde na confusão, não há informática, é tudo à mão, o que torna tudo mais difícil. O fecho de contas não pode ser aceite, com saldos em aberto que não se sabe a quem pertence. Ele lá resolveu tudo e embarcaram ainda em maio.

Também acontece o mesmo com o meu homónimo do BCAV 1915, o tal que fomos render em Nova Lamego, era o alferes Fragateiro, que nunca nos relacionámos bem, talvez por causa da passagem de testemunho em outubro de 1967. Apesar disso vejo algumas fotografias em Bissau na 5ª REP, juntamente com outros, mas nunca fomos amigos.

Apesar disso também o safei no 600, ele soube do Ruas que tinha resolvido comigo os seus problemas, e ele vem ao meu encontro pedir o mesmo. Feito tudo da mesma forma e ele sem sequer me agradeceu,  embarcou também em maio, e assim o meu Batalhão ficou a ser o mais antigo no CTIG. 

Para terminar esta saga, não deixo de lamentar que,. passados tantos anos depois de chegar, venho a encontrá-lo nos Centros de Saúde à porta das salas do médico, ele era, portanto, delegado de propaganda médico, no Porto, e quase não falávamos, aliás nunca falámos da Guiné. Mal-agradecido. 

Também soube pelo meu adjunto, e amigo do Instituto Comercial do Porto, o furriel Pinto Rebolo, já falecido, que ele não ia à bola comigo, não sei ainda quais são os seus motivos, mas julgo que ficou mal na fotografia e só veio embora com o seu batalhão devido à minha ajuda, ou entáo por não ter seguido estudos superiores (complexos...).

O Pinto Rebolo estava na mesma atividade que o Fragateiro, delegado de propaganda médica, e encontravam-se sempre nos mesmos locais. Mais tarde o Pinto formou-se em Direito, foi advogado e tinha escritório próprio na Rua de Camões onde o visitei várias vezes, mas também o encontrava em Vila do Conde. 

Depois como a advocacia não dava o que ele queria, deixou de exercer e continuou na propaganda médica até se reformar. Morava no Porto, mesmo perto da minha casa, de solteiro, ao redor do Regimento de Engenharia 2, do Vale Formoso, vindo a falecer por graves problemas devido ao seu excesso de peso que sempre teve. Era conhecido na vida académica do Porto, como o Pinto Rebola (e bola).

(12) Neste periodo andei primeiro perdido por Bissau, eu já não tinha o meu poder, senti-me abandonado e sem motivações para continuar a trabalhar.

Todo o pessoal, quer do meu CA quer de outros Batalhões, foram colocados noutros serviços fixos do CTIG.

A minha primeira tarefa foi nos Adidos, foi um tempo terrivel, ali passavam todos os militares, marados, apanhados do clima, doentes do Hospital, os que chegavam de férias e os que partiam, os que chegavam em rendição individual, tudo ia parar àquele chamado "Depósito",

O primeiro dia que me calhou de Oficial de Dia, era um mundo de cerca de 1000 militares que entravam e saiam, assisti como era normal ao primeiro rancho do almoço.

Quando dou por ela, estava tudo aos gritos, protestando contra o rancho. Atiram-se para cima das mesas e pontapeteiam tudo, estava a acontecer aquilo a que se chamava um levantamento de rancho, não num quartel da metrópole mas no ambiente de loucos na Guiné.

Fico sem saber o que fazer, não estava preparado para isso, mas não desanimo, embora estivesse  como o burro no meio da ponte. Com a ajuda de alguém menos protestativo, lancei o grito do Ipiranga, e pedi a todos que não me arranjassem problemas, pois não tinha solução para os seus legitimos protestos.

Não faço ideia do que era a comida nem as razões do protesto, penso hoje que naturalmente era um modo de os militares vindos do mato de fazerem chegar o seu grito de revolta sobre tudo e todos. Mas eu não tinha nada a ver com isso, estava ali chegado e caído de paraquedas.

As hostes acalmaram e correu tudo bem até final, mas o inevitável "susto" ficou... E  ainda teria outro no terceiro ou quarto dia de viagem no Uíge a caminho da liberdade perdida .

Foi assim que arranjei forma de juntar alguns outros problemas de saúde (oftalmologia, estomtologia...),.  acabando por dar baixa na Psiquiatria, com base numa "cura de sono". 

E era verdade, não conseguia dormir, não por medo, mas devido aos milhões de baratas que pululavam por aquelas barracas de madeira cheias de fendas e aqueles repugnantes bichos passearem por cima de nós. Ficou marcada esta passagem, eu não tinha instalações adequadas à minha situação, ficava nas barracas comuns. Por isso algumas vezes ficava em Santa Luzia no Biafra, sempre era tudo mais seleccionado. E outras vezes ia para o Grande Hotel de Bissau, para junto do Spinola e afins.

Quando tive alta, fui parar como adjunto no CA do Quartel dos Adidos, função que me recusei aceitar quando fico nomeado para CC do CA dos Adidos, que pela fama era um caso bicudo, pois a maioria dos que ali exerceram esta função nunca regressava dentro dos prazos, pois as suas contas eram complicadas com os movimentos de entradas e saidas e processamento das verbas de alimentação em particular. Pois como todos os que passaram por alí sabem que uma percentagem razoável não tinha as refeiçóes nos Adidos pois comiam em restaurantes de
Bissau, e estas refeiçoes que não se faziam, eram na mesma debitadas.

Alguém de dizia que era um bom lugar para ganhar muito dinheiro, é natural, mas eu queria era regressar à minha parvónia.

No CA dos Adidos ajudei alguma coisa o CC, mas não era responsável pelo todo, e por ali fiquei até final da comissão.

Mas permanecia sempre como um Oficial do BC1933, a única unidade que tive no CTIG, a titulo de emprestado.

Regressei em 10 agosto 1969, recebi o titulo de passagem à disponibilidade, assinado pelo Comandante do RI15, com data de 1 de Setembro de 69, dizendo que... "passa à disponibilidade a partir de 2 amanhã (dia 2 de setembro)".

Ainda usei o meu cartão em diversos actos miitares até ao dia da sua extinção.

Pronto, eu por cá ando... Aproveito para explicar que mandei uma foto,  a última (nº 12), que apanhei por aí, diz respeito a uma aventura que fiz ainda nos anos da pandemia e antes do problema oncológico.

É uma subida na Ponte da Arrábida, por baixo do tabuleiro, no Arco que liga o Porto a Gaia. É um negócio turístico, e eu passei por lá e aproveitei.

Foi uma aventura para mim, já tinha 78 anos pelo menos, vinha de uma rota de fotografias que fui fazer ao Bairro do Aleixo, no Porto - o maior bairro de consumo e tráfego de droga que existia. (...) Depois saí para a marginal do Douro, percorrendo quilómetros a pé, e dei com aquela subida do arco e não resisti. Estava demasiado cansado mas a adrenalina não me abandonou. Foi um espetáculo impressionante. Não tenho fotos lá de cima, deixei os operadores cá em baixo com a camara para me fotografarem.

É tudo muito seguro, a probabilidade de cair cá abaixo é quase nula. Coisas da vida que não voltam a acontecer mais.

Neste periodo andei meses a fotografar o Porto e as suas entranhas, que nunca tinha visto. Fiz mais de 10 mil fotos.

PS - O meu pedido de desculpas pela extensão do depoimento...

©  Virgílio Teixeira (2025)

(Revisão / fixação de texto: LG)

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 27 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26434: A extinção dos Conselhos Administrativos dos batalhões de reforço no CTIG (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, Chefe do CA, BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte I

Guiné 61/74 - P26435: Memórias de um "Serrote" (Fernando Carolino, ex-alf mil, 3ª C/BART 6520/72, Fulacunda, "Os Serrotes", 1972/74) (1) Periquito, de rendição individual, e confuso logo à chegada a Bissau, em relação à pragmática da tropa...




Guiné > Bissau > Agosto de 1974 > Sem legenda: "Confeitaria", café-esplanada... Av da República  (hoje Av Amílcar Cabral)  (?)... O Jorge Pinto tem uma foto igual, tirada uns dois ou três dias da regresso da 3ª C/BART 6520/72.  


Foto: © Fernando Carolino (2025). Todos os direitos reservados, [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. O Fernando Carolino  já aqui publicou,  há uns largos anos (*), um poste com fotos do seu álbum, relativas a Fulacunda, onde fez a sua comissão de serviço, como alf mil, de rendição individual, na 
3.ª CART/BART 6520/72, "Os Serrotes" (Fulacunda, 1972/74)

Afinal,ele é contemporâneo (e conterrâneo!) do nosso Jorge Pinto, também ele alf mil, desta subunidade, e membro da nossa Tabanca Grande.

Fernando Carolino,
setembro de 1973
O Fernando Carolino, que é natural de Alcobaça, mas vive em Valado de Frades, Nazaré, mandou-nos, através do seu cunhado, o Juvenal Amado, um primeiro texto e fotos da Guiné. 

Estou a aguardar o seu OK em relação à sugestão que lhe fiz para criar uma série com o seu nome, e à sua aceitação do nosso convite (que já vem de 2016) para integrar a Tabanca Grande.

Para já vamos publicar um primeiro texto, nesta série, com título provisório, "Memórias de um Serrote". Também já lhe sugerimos outros títulos: 

(i) "Em rendição individual, colocado no fim do mundo (Fernando Carolino, ex-alf mil, 3ª C/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)";

(ii) "Des(a)venturas de um alferes miliciano (Fernando Carolino, 3ª C/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)";

(iii) "Memórias de Fulacunda (Fernando Carolino, ex-alf mil, 3ª C/BART 6520/72, 1972/74)".

 Recorde-se que a 3ª C/BART 6520/72 publicava um jornal de caserna, mensal, "O Serrote", de que era diretor o Jorge Pinto. 


Periquito, de rendição individual, e confuso logo à chegada a Bissau,
 em relação à pragmática da tropa...

por Fernando Carolino



Primeiro episódio de uma passagem pela Guiné

Pleno inverno, talvez novembro, muito frio em Lisboa, quando embarquei em avião da TAP rumo à Guiné.

Ia em rendição individual, preencher o lugar deixado “vago” por outro alferes miliciano no aquartelamento de Fulacunda, que seria para mim na altura um qualquer fim de mundo.

Chegado o aparelho voador ao aeroporto de Bissau, porta aberta e vamos sair. O impacto do ar exterior deixou-me quase em choque: o corpo ficou de imediato molhado com a roupa a colar-se ao corpo, numa sensação de enorme desconforto.

Refleti: será que vou aguentar isto…. ?

Lá fui andando de indumentária número dois (ou um) com sapato fino, boné de pala e galões de alferes a condizer.

Levava comigo uma guia de marcha que mencionava QG e Fulacunda,  se bem me lembro, mas que eu não sabia bem o que eram ou onde as encontrar.

Fui seguindo de mala de viagem na mão, não sabendo bem para onde, esperando encontrar talvez um militar que me pudesse dar uma ajuda.

Não era difícil afinal encontrar militares. Havia muitos pela rua para onde quer que olhasse. Mas, comecei a sentir-me deslocado: é que todos que vi estavam vestidos de camuflado e eu com fatinho “chique”. 

Senti-me terrivelmente mal, a ponto de decidir imediatamente alterar a situação. Lá consegui encontrar uma espécie de “café”, entrei, devo ter pedido qualquer coisa para beber (não me lembro), e procurei uma casa de banho para mudar de farda. Abstenho-me de descrever a qualidade ou o estado do local.

Mudei-me e voltei para a rua muito mais confiante. Estava como todos os outros: fato de
trabalho…quer dizer de combate.

Percorridos uns poucos metros parou junto de mim uma viatura da PM. Mostraram intenção de falar comigo e parei. Pediram-me a identificação e mostrei-lhes tudo o que tinha, nomeadamente a guia de marcha. Logo verificaram que se tratava de um oficial, fizeram a respectiva continência e… de forma muito correcta informaram: 

− O meu alferes desculpe mas está em trânsito, não está de serviço, e não pode por isso estar de camuflado.

Não queria acreditar! 

− Acabei de mudar-me agora mesmo − expliquei. 

− Pois, mas não pode. Se quer ir para o QG é melhor vir connosco na viatura.

−  Pois então calha bem. Não terei que ir a pé para um sítio que não sei onde fica.

E lá fomos. Chegados ao local, apresentações num gabinete, explicação da situação e, em pouco tempo tudo se resolveu. O superior hierárquico ali presente decidiu: 

− Como o senhor é novo aqui, fica de oficial de dia e, estando de serviço,  já a farda fica a condizer.

E assim já não tive que voltar a mudar de indumentária.

Foi um primeiro episódio de uma longa estadia por terras da Guiné.

Gostaria que todos os episódios que se seguiram fossem tão pacíficos.

(Revisão / fixação de texto: LG)

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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 17 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15761: Memória dos lugares (334): Fulacunda (Fernando Carolino, ex-alf mil, 3.ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74; natural de Alcobaça, a viver em Valado dos Frades, Nazaré)